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A comunicação e sua diversidade sob aspectos gerais

Sabemos que vivemos em um pais grande, cuja constituição histórica abarca


diversidade cultural: temos em nosso legado os portugueses, espanhóis, italianos, africanos,
povos indígenas, dentre outros.

Nossa diversidade, entretanto, não está ligada somente a cultura ou regionalidade,


mas temos no Brasil grandes diferenças sociais.

Tudo isso influi para a o que vou chamar de “formação linguística do indivíduo” pois o
lugar onde vive define como ele se comunica e, consequentemente, sua maneira de ver o
mundo.

Tratando primeiro de linguagem, temos nesse tema uma complexidade muito


significativa:

Sabemos que o domínio da língua tem


estreita relação com a possibilidade de plena
participação social, já que é por meio dela que o homem
se comunica, tem acesso à informação, expressa e
defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de
mundo, produz conhecimento. (BRASIL, 1997)

A maneira de comunicar-se de um indivíduo tem muito a ver com a posição social que
ele ocupa, com sua regionalidade (pois essa temática também agrega a comunicação aspectos
específicos), com as informações as quais ele foi exposto, com o contexto histórico, ou seja, com
o meio onde vive: O uso da língua não está atrelado apenas a um sistema de regras, mas também
modalidade de comunicação.

Durante a ditadura militar por exemplo, a comunicação foi uma dar armas usadas pelo
governo afim de trabalhar o consciente do indivíduo, através de estratégias que faziam uso de
formas verbais e não verbais para transmitir uma ideia, instaura-la. Seu vocabulário era
carregado de grande carga ideológica.

Neste contexto histórico, o regime militar determinava o que chegava a conhecimento


da população em todos os âmbitos, inclusive culturais. Manifestações contrarias ao regime
militar não eram aceitas.

Aqueles que eram contrários a ditadura militar, usavam diversos artifícios linguísticos
para que sua mensagem fosse passada sem censura. A consequência era que uma apenas uma
parte da população tinha acesso as críticas feitas a ditadura, por exemplo, músicas que eram
divulgadas a todos, eram compreendidas apenas por uma minoria. Essa diferença de percepção
se dá devido a realidade sócio-econômico-cultural aos quais os envolvidos estavam submetidos.

Independente do “lado”, a mensagem geralmente era feita afim de defender os


interesses de uma pequena parcela da sociedade. De um lado estavam os apoiadores da
ditadura com seu discurso nacionalista e totalitário, do outro estavam os opositores com seus
ideais de “igualdade e democracia”, quando na realidade, apesar da mudança de formato,
também tinham seus interesses em mente.

Vemos como é amplo o conceito de comunicação e o quanto ele abarca. De acordo


com as teorias de Bakhtin e de Mead a linguagem ocupa papel central na constituição, no
desenvolvimento e na formação do sujeito enquanto um ser social e individual. Em ambos, o
sujeito se torna um indivíduo no processo de interação social, mediado fundamentalmente pela
linguagem.

Nesta linha de raciocínio, a linguagem parte do singular, o indivíduo, e abrange o


plural, que seria o meio onde ele está inserido, o momento histórico do qual ele participa, a
classe social que ele ocupa. O meio também é resultado do conjunto de pessoas que o formam,
o que, a grosso modo, podemos chamar de linguagem local. A classe econômica também
influencia, tal qual é influenciada. Tudo isso interfere na linguagem e na maneira como ela é
passada.

Temos atualmente uma grande liberdade ao nos comunicarmos. Somos expostos a


várias ideias, sotaques, culturas, ambientes, realidades, etc. temos acesso a linguagem das mais
variadas formas. Podemos ver através de uma música por exemplo, parâmetros sócio-
econômicos-culturais. Com isso, o falante tem o benefício de perceber o uso da linguagem em
sua diversidade, e apender com ela.

Essa diversidade abrange a totalidade do que diz respeito a linguagem e comunicação.


De acordo com Bernstein, a pluralidade das formas linguísticas tem papel validar a compreensão
do significado: “Se um código é restrito, isso não significa que a criança seja não-verbal, nem
que seja num sentido técnico, linguisticamente carente, pois possui a mesma compreensão
tácita do sistema de regras linguísticas de qualquer outra criança” (BERNSTEIN, 1982, p. 27).

Apesar dessa verdade, temos que a diversidade, embora tão presente em todos os
contextos existentes, é relativizada. Assim como na época da ditadura, os aspectos econômicos,
sociais e culturais ainda tecem a maneira de definir certo e errado.

Temos de um lado o que é ensinado na escola, e o que é realidade para o falante. Ele
estará sujeito a regionalidades, disposição social e cultural. O que torna o processo de
comunicação muito complexo. Embora ainda tenhamos muito preconceito, estamos ampliando
cada vez mais o horizonte para as variedades linguísticas.

O papel da escola também é fundamental para que a diversificação linguística seja


compreendida: “A escola se ocupa necessariamente da transmissão e do desenvolvimento de
ordens de significação universalistas. A escola ocupa-se em tornar explícitos – e em elaborar
através da linguagem – os princípios e operações que se aplicam a objetos [...] e a pessoas [...].
O primeiro grupo de crianças [da classe média] através de sua socialização, já é sensível às
ordens simbólicas da escola ao passo que o: segundo [da classe trabalhadora] é muito menos
sensível às ordens universalistas da escola. (BERNSTEIN, 1982, p. 26-7)”

Thaise Silva Ramos – Pedagogia – Comunicação e Expressão : Desafio colaborativo

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