Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
da natureza
o desafio das sobreposições
organização
Fany Ricardo
novembro, 2004
Terras Indígenas & Unidades de Conservação O Instituto Socioambiental (ISA) é uma as-
sociação sem fins lucrativos, qualificada como
da natureza – o desafio das sobreposições
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
Instituto Socioambiental, novembro de 2004 (Oscip), fundada em 22 de abril de 1994 por pessoas
com formação e experiência marcante na luta por
Organização: Fany Ricardo direitos sociais e ambientais. Tem como objetivo defender bens
Editoras: Fany Ricardo e Valéria Macedo e direitos sociais, coletivos e difusos, relativos ao meio ambiente,
ao patrimônio cultural, aos direitos humanos e dos povos. O
Equipe de editores adjuntos: Cintia Nigro, Cristina Velásquez,
ISA produz estudos e pesquisas, implanta projetos e programas
Fernando L. B. Vianna e Marcos Rufino que promovam a sustentabilidade socioambiental, valorizando
Cartografia: Laboratório de Geoprocessamento/ISA (coordenação: a diversidade cultural e biológica do país.
Alicia Rolla) Para saber mais sobre o ISA consulte: www.
Capa: Beto Ricardo e Vera Feitosa
socioambiental.org
Foto da capa: Vista aérea da aldeia Demini, TI Yanomami, AM. Foto
cedida pelo autor: Valdir Cruz Conselho Diretor: Neide Esterci (presidente), Enrique Svirsky
(vice-presidente), Beto Ricardo, Carlos Frederico Marés,
Projeto gráfico: Vera Feitosa Laymert Garcia dos Santos, Márcio Santilli, Nilto Tatto, Sérgio
Edição de imagens: Valéria Macedo Leitão, Sérgio Mauro [Sema] Santos Filho.
Editoração: Vera Feitosa e Ana Cristina Silveira Diretor executivo: Sérgio Leitão
Revisão: Eugênio Vinci Diretor executivo adjunto: Nilto Tatto
Colaboradores: Edna Amorim dos Santos, Tigê Castro Sevá, Cláudio Coordenadores de Programas e Atividades Permanentes:
Aparecido Tavares, Eduardo Utima , Diego Queirolo, Uirá Felippe Adriana Ramos, Alicia Rolla, André Villas-Bôas, Ângela
Galvão, Beto Ricardo, Fany Ricardo, Márcio Santilli, Maria
Garcia, Leila Maria Monteiro, Ângela Galvão, Cícero Cardoso
Inês Zanchetta, Maria Isabel Pedott, Marina Kahn, Marussia
Augusto, Fernando F. Paternost, Rosimeire Rurico Sacó, Marta Whately, Nilto Tatto e Rodolfo Marincek.
Azevedo, Luiz Santos, Pedro Fittipaldi, Neide Esterci, Marina Kahn,
Apoio institucional:
Sérgio Mauro (Sema) de Souza Filho. ICCO – Organização Intereclesiástica para Cooperação ao
Agradecimento pela cessão de imagens: Roberto Linsker, Araquém Desenvolvimento
Alcântara, Maria Inês Ladeira, Fausto Pires, Miriam Prochnow, NCA – Ajuda de Igreja da Noruega
Cloude Correia de Souza, Tibério Alloggio, Patrícia de Mendonça São Paulo (sede)
Rodrigues, Luiz Cláudio Marigo, João Paulo Capobianco, Adriana P. Av. Higienópolis, 901
01238-001 São Paulo – SP – Brasil
Felipim, Carlo Zacquini, Milton Guran, Fred Bastos/Rio Terra, Thiago tel: 0 xx 11 3660-7949 / fax: 0 xx 11 3660-7941
Beraldo, Ana Laura Junqueira, Jesco von Puttkamer/acervo IGPA- isa@socioambiental.org
UCG, Beto Ricardo, Valéria Macedo. Brasília (subsede)
SCLN 210, bloco C, sala 112
70862-530 Brasília – DF – Brasil
tel: 0 xx 61 349-5114 / fax: 0 xx 61 274-7608
Apoio ao Programa Monitoramento de Áreas Protegidas/Povos isadf@socioambiental.org
Indígenas no Brasil, do ISA e a esta publicação: S. Gabriel da Cachoeira (subsede)
Rua Projetada 70 - Centro
Caixa Postal 21
69750-000 São Gabriel da Cachoeira – AM – Brasil
tel: 0 xx 97 471-2182/1156/2193 / fax: 0 xx 97 471-1156
isarionegro@uol.com.br
Nosso agradecimento especial a todos os autores desta publicação e Terras Indígenas & Unidades de Conservação da
a todos os membros do ISA que, direta ou indiretamente, contribuíram natureza : o desafio das sobreposições /
para sua realização. Agradecemos ainda a Adriana Calabi, Adriano organização Fany Ricardo. -- São Paulo : Instituto
Jerozolimski (Pingo), Ana Cinardi (Fatma), Analucia Hartmann, Socioambiental, 2004.
Antonio José D. Molina Daloia, Associação de Defesa Etnoambiental
ISBN 85-85994-31-2
– Kanindé, Associação Flora Brasil, Cláudio Paiva, Daniel Cohenca,
Diogo Queirolo, Fernando Fernandez, Fiona Watson, Flávio Wiik,
Florencia Ferrari, Jennifer Tierney, Jo de Oliveira (CCPY), Kimyie 1. Áreas de conservação de recursos naturais
Tomasino, Luzinalva Leite, Marc J. Dourojeanni, Marcelo Piedrafita, 2. Índios na América do Sul - Brasil 3. Meio ambiente I.
Maria Rosário Gonçalves de Carvalho, Marina Fonseca, Mauro Ricardo, Fany.
Almeida, Milene Maia, Patrícia Mesquita, Paulo Cordeiro, Paulo
Kageyama, Paulo Nogueira Neto, Rogério do Pateo, Rui Murietta,
Silvio Coelho dos Santos, Vânia Fialho, Viviane Gonçalves, Wallace
de Deus Barboza, Wigold Bertoldo Schaffer. 04-7757 CDD-980.3
MATA ATLÂNTICA
Um pouco sobre a Mata Atlântica João Paulo R. Capobianco............................................................................. 159
Os Pataxó e o Monte Pascoal
Razão indigenista e razão conservacionista desafiadas no sul da
Bahia Fernando (Fedola) L. B. Vianna............................................................................................................. 163
boxe: Termo de acordo entre as comunidades pataxó do entorno do PNMP e o governo
da República Federativa do Brasil........................................................................................................... 168
Políticas oficiais de conservação ambiental: nova modalidade de subordinação
dos índios? Sheila Brasileiro........................................................................................................................ 169
Respeitar a vida e o ser humano: a preservação do meio ambiente com e pelos índios
evita a definitiva condenação da biodiversidade Jean-François Timmers..................................................... 174
boxe: Projeto Monte Pascoal: síntese e resultados................................................................................. 187
Depoimento: Críticas e apoios ao Plano de Gestão Compartilhada.............................................................. 188
Atividades econômicas dos Pataxó de Barra Velha Felipe Bannitz de Paula Machado......................................... 192
A importância das Unidades de Conservação de Proteção Integral e as comunidades
Pataxó no extremo-sul da Bahia Paulo Cezar Mendes Ramos...................................................................... 197
Monte Pascoal: proteger a Mata Atlântica e melhorar a qualidade de vida
dos Pataxó Renato Paes da Cunha e Maíza Ferreira de Andrade........................................................................ 203
O que saiu na imprensa................................................................................................................................. 206
Mapas das sobreposições, cômputos e listagens das Terras Indígenas e Unidades de Conservação
federais e estaduais no Brasil ....................................................................................................................... 589
Siglário........................................................................................................................................................... 687
No contexto atual, é possível identificar a relevância itinerário, que não vai ao encontro de prognósticos cer-
crescente de pautas ambientais e a legitimação de um teiros, tampouco fórmulas generalizáveis. Antes, busca a
mundo pluriétnico em políticas públicas, na destinação de compreensão dessa problemática por meio de abordagens
recursos e nas legislações de Estados Nacionais e fóruns históricas, jurídicas, antropológicas, políticas, econômicas
internacionais. O reconhecimento de direitos territoriais, e ecológicas relativas a TIs e UCs, que integram a primeira
políticos e sociais aos povos nativos vem ocorrendo paula- parte do livro.
tinamente, com o desmantelamento dos sistemas coloniais Na segunda parte, composta por capítulos agrupados
a partir das últimas décadas do século XX e, na América nos segmentos “Amazônia” e “Mata Atlântica”, a intenção
Latina, com o crescimento de movimentos de resistência foi fazer o mapeamento dos casos mais emblemáticos de
às ditaduras e a implementação de regimes democráticos. sobreposições entre TIs e UCs incidentes no Brasil, por
A ECO 92 (Conferência das Nações Unidas sobre meio de uma abordagem múltipla, em que representantes
Meio Ambiente e Desenvolvimento, sediada no Rio de dos principais grupos de interesse expressam suas ver-
Janeiro) pode ser considerada como um divisor de águas sões dos conflitos, de modo que o leitor possa conhecer
no que diz respeito à abordagens de questões ambientais as motivações que mobilizam os diferentes agentes envol-
e sociais de forma integrada, que configura a síntese do vidos no contexto em questão. Ao final de cada capítulo,
paradigma socioambiental. Pode também ser identificada há ainda uma edição de trechos do que foi publicado na
(1)
como um marco de emergência da biodiversidade como imprensa a respeito do caso.
categoria-chave na contemporaneidade, como aponta a Por fim, na última parte do livro encontram-se os mapas
geógrafa Bertha Becker, em grande medida pela crescente de todos os casos de sobreposição entre TIs e UCs no
degradação e escassez de bens primordiais à vida do país, bem como listagens de todas as Terras Indígenas
planeta, tais como a água (que vem sendo chamada de o e Unidades de Conservação (federais e estaduais) em
“ouro azul” do século XXI) e o ar (associado ao problema terras públicas brasileiras. Esse conjunto de informações
das mudanças climáticas devido às emissões de carbono resulta de um trabalho que vem sendo realizado há cerca
(2)
e desmatamentos decorrentes do modelo industrial de de duas décadas pelo Instituto Socioambiental (ISA),
produção); assim como em razão da expansão da indús- sob coordenação de Fany Ricardo. A formação de uma
tria da biotecnologia e os mercados a ela associados. E, ampla rede de colaboradores em todo o país, bem como
ainda, pela atuação de movimentos e campanhas que o acúmulo de informações sistematizadas e georreferen-
fazem convergir bandeiras ambientais e sociais (incluindo ciadas ao longo desses anos, possibilitaram a elaboração
as relativas a minorias étnicas) com a crítica ao modelo desse consistente material de consulta e nos encorajaram
de produção e distribuição de bens e poder sob a égide a adentrar o terreno acidentado, muitas vezes convertido
da chamada globalização. em campo minado, das sobreposições. Longe de esgotar
Ainda assim, o equacionamento de justiça social e o tema, a intenção foi proporcionar uma visão panorâmica
equilíbrio ambiental não se constitui uma operação sim- dessa problemática no país, que pode vir a contribuir para
ples. E quando se trata de um cenário multiétnico, esses
conceitos não podem ser tomados em sentido unívoco.
Os casos de Unidades de Conservação (UCs) criadas * Antropóloga, coordenadora do Programa Monitoramento de Áreas Protegi-
das/Povos Indígenas no Brasil do ISA.
em áreas de ocupação de populações nativas configuram ** Antropóloga, pesquisadora do Programa Monitoramento de Áreas Protegi-
um exemplo emblemático de sobreposição de diferentes das/Povos Indígenas no Brasil do ISA.
1
valores, tradições e concepções, configurando por isso Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente de 2002, o Brasil possui a
um desafio socioambiental. maior cobertura de florestas tropicais do mundo e situa-se no topo dos países
com maior biodiversidade possuindo entre 15 e 20 % das 1,5 milhões de
Tal é o desafio a que se propõe esta publicação: espécies descritas na Terra, cerca de 55 mil espécies de plantas superiores
mapear os conflitos e avançar na reflexão a respeito das (22% do total mundial), 524 espécies de mamíferos, 1.677 de aves, 517 de
sobreposições entre terras destinadas a diferentes usos anfíbios e 2.657 de peixes.
2
Em período anterior à existência do ISA, fundado em 1994, essa pesquisa
no Brasil, particularmente Unidades de Conservação e era realizada em uma das ONGs que deram origem ao Instituto, o Cedi (Centro
Terras Indígenas (TIs). Para tanto, percorre um longo Ecumênico de Documentação e Informação).
8
Termo cunhado pelo antropólogo Bruce Albert.
9
Mesmo a distinção entre natureza e cultura, fundamento das sociedades
ocidentais (e, eminentemente, da idéia de proteção integral dos recursos
naturais), não vigora nesses mesmos termos entre sociedades ameríndias,
conforme aponta o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro em vários artigos.
10
Nos termos do antropólogo Clifford Geertz.
Freqüentemente, a discussão acerca da sobreposição indígenas de modo a liberar os seus territórios tradicionais
entre Terras Indígenas (TIs) e Unidades de Conservação para a ocupação colonial. Diferentes – e até antagônicas
(UCs) desce ao nível da acusação, como se houvesse – etnias eram reunidas em diminutas áreas comuns, ge-
uma intenção deliberada da área ambiental em suprimir ralmente constituídas de terras fracas e desinteressantes
direitos indígenas ou dos índios e organizações que os para a agricultura, em que não havia a menor condição
apóiam para inviabilizar a conservação da biodiversidade. de preservar os seus usos e costumes tradicionais, ou
E é curioso observar que a polêmica omite o fato concreto prover condições satisfatórias para a sua subsistência. A
de que são as frentes de grilagem de terras e ligadas à política indigenista integracionista de então considerava os
extração predatória de recursos naturais que esbulham índios como sujeitos provisórios de direito, que acabariam
em escala tanto as UCs quanto as TIs. Enquanto am- assimilados pela “comunhão nacional”.
bientalistas e indigenistas se digladiam, os seus inimigos Vale notar que alguns dos Parques Nacionais (Parna),
objetivos avançam. quando foram criados, como os do Araguaia (1959), Monte
Esta aparente contradição começa a se estabelecer Pascoal (1961) e o do Pico da Neblina (1979), abrigavam
a partir de meados dos anos 1960, resultando na espe- aldeias indígenas. Os documentos que subsidiaram a
cificação dos conceitos de Unidades de Conservação e criação do Parna do Araguaia, por exemplo, destacavam
Terras Indígenas, que veio a se consolidar na segunda a presença indígena como argumento adicional a justificar
(1)
metade dos anos 1970. Nos tempos do IBDF (Instituto a sua criação. Esta presença não era, então, considerada
Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, antecessor do um obstáculo para a política de conservação.
Ibama), que promoveu a criação de boa parte das atuais Por sua vez, no início dos anos 1960, quando o gover-
UCs, o foco principal da sua atuação era, de um lado, a no federal começou a demarcar terras em maior extensão
proteção da natureza genericamente definida – o concei- para a proteção de povos indígenas, já no embalo dos
to de biodiversidade ainda não havia emergido –, e, de trabalhos realizados pelos irmãos Villas-Bôas e outros
outro, o “desenvolvimento florestal”, que se valeu, entre sertanistas na Fundação Brasil Central, lançou mão da
outros mecanismos, da criação de Reservas Florestais e figura jurídica de Parque Nacional constante do Código
Florestas Nacionais com vistas à sua exploração futura. Florestal para criar o Xingu. Os indigenistas aplaudiram
a iniciativa e não viram, então, uma intenção do poder
Precursores do ambientalismo valeram-se das categorias
público em esbulhar direitos indígenas.
de manejo então disponíveis para proteger áreas com en-
demismo significativo ou de rara beleza natural. À época,
ainda não se falava em Unidades de Conservação, mas, Inclusão de novas categorias: proteção
ambiental e comunidades
sim, em Parques Nacionais e “Reservas Equivalentes”,
categoria mais abrangente e que, eventualmente, poderia Os tempos mudaram e a legislação ambiental incorpo-
incorporar objetivos e demandas que hoje se percebem rou a perspectiva da preservação da biodiversidade e con-
como conflitantes. templou diferentes categorias de manejo para as Unidades
Por outro lado, a política de demarcação de Terras
Indígenas do antigo Serviço de Proteção ao Índio (SPI, * Filósofo, coordenador da campanha “SOS Nascentes do Xingu” e membro
antecessor da Funai) também se assentava numa lógica do Conselho Diretor do ISA.
1
de Reservas, para as quais eram transferidos os grupos Veja artigo de Henyo Trindade Barretto F. nesta publicação. (n. e.)
Se a legislação brasileira fosse cumprida à risca, os casos de sobre- O grupo reuniu-se pela primeira vez em 23/11/2000 e discutiu propostas
posição de Terras Indígenas (TIs) e Unidades de Conservação (UCs) para compatibilizar as sobreposições entre TIs e Florestas Nacionais
deveriam estar ao menos com as diretrizes para solução estabelecidas (Flonas). A proposta teve como pressupostos: a) a adoção de um re-
desde janeiro de 2001. gime de gestão compartilhada, no qual a concessão para a exploração
A Lei nº 9.985, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de da Flona seria do Ibama, mas dependente de anuência prévia do(s)
Conservação (SNUC), publicada em 18/07/2000, estabeleceu que “os povo(s) indígena(s) que habitam a área sobreposta; e b) que os custos
órgãos federais responsáveis pela execução das políticas ambiental da elaboração do projeto seriam ressarcidos pela renda gerada pela
e indigenista deverão instituir Grupos de Trabalho para, no prazo de comercialização da produção. De fato, a proposta de resolução ficou
180 dias a partir da vigência desta Lei, propor as diretrizes a serem inócua porque estabelecia que na área sobreposta pode-se fazer tudo
adotadas com vistas à regularização das eventuais superposições entre que a categoria Flona permite, mas sempre com autorização dos índios.
áreas indígenas e Unidades de Conservação”. Ou seja, na prática, tratava a sobreposição como TI, e mesmo neste
caso, a dificuldade de consenso foi evidente. A resolução nem chegou
Para dar efetividade ao previsto no SNUC, em outubro de 2000 foi criado
a ser levada ao plenário.
um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) (Portaria nº 261 MMA/MJ)
composto por representantes dos ministérios do Meio Ambiente e da Na terceira reunião, antes de iniciar a discussão sobre as outras
Justiça, do Ibama e da Funai, além da 4ª e da 6ª Câmaras do Ministério categorias de UCs, sugerimos que o GT promovesse um seminário
Público Federal, responsáveis respectivamente pelas áreas de meio para que os representantes dos campos ambientalista e indigenista
ambiente e povos indígenas. O grupo extinguiu-se em 30/12/2000 sem pudessem ter consciência de seus respectivos pressupostos teóricos.
concretizar nenhum avanço em relação ao tema. A idéia era que os ambientalistas explicassem aos índios os funda-
mentos da idéia de ter que “cercar” áreas para conservá-las e que os
Ao mesmo tempo, em 14/11/2000, o Conselho Nacional de Meio Am-
índios explicassem aos ambientalistas porque os Guarani não eram
biente (Conama) realizou uma reunião extraordinária exclusiva para dis-
nem brasileiros nem paraguaios, mas Guarani.
cutir o tema e criou um GT para acompanhar e subsidiar o GTI, formado
pelas entidades ambientalistas do Conama, pela Rede Pró-Unidades O GT só voltou a se reunir em abril de 2001, para o seminário. Foi
de Conservação, pelo Instituto Direito por Um Planeta Verde, Instituto proposta uma pauta enfocando os direitos territoriais indígenas; a
Socioambiental (ISA), Associação Brasileira de Entidades Estaduais importância das UCs como instrumentos de política de conservação
e Meio Ambiente (Abema), Conselho Indigenista Missionário (Cimi), da biodiversidade e os fundamentos da biologia da conservação que
Associação Nacional de Apoio aos Índios (Anaí) e pelas organizações orientam a existência das UCs de Proteção Integral. Por problemas
indígenas Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordes- de equacionamento de agendas, o seminário nunca foi realizado e o
te, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), Articulação dos Povos e GT expirou.
Organizações Indígenas do Sul (Apois), Conselho de Articulação dos Em 2003, nova solicitação de criação de GT para tratar do tema foi
Povos e Organizações Indígenas do Brasil (Capoib) e Coordenação das apresentada ao Conama. A Câmara Técnica de Unidades de Conser-
Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). A composição vação e demais áreas protegidas criou o grupo, embora houvesse uma
do grupo foi feita de forma paritária entre representantes de “organi- discussão anterior que apontava que esse tema deveria ser tratado
zações vinculadas à defesa das causas indígenas” e de organizações na nova Câmara Técnica de Biomas e Gestão Territorial, onde, não
“vinculadas à causa ambiental”, como frisou o então ministro do Meio por acaso, os representantes indígenas têm assento. Esse grupo não
Ambiente, José Sarney Filho, ao encaminhar a discussão sobre a chegou a se reunir, tendo em vista o entendimento partilhado entre
composição do grupo. O viés de indigenistas “contra” ambientalistas MMA e Ibama de que a competência para tratar do tema não é do
marcou todas as atividades do grupo, inviabilizando a convergência e Conama, sendo necessário criar novo GTI com o objetivo de atender
a construção de soluções. ao disposto no SNUC.
Já na abertura da reunião, o ministro deixou clara sua visão sobre o Para contribuir de forma definitiva na resolução dos impasses criados
assunto. Embora se referindo de forma mais genérica à perspectiva em áreas de sobreposição, o governo federal deveria estabelecer
de que “teoricamente não deveria haver outra alternativa de proteção algumas diretrizes genéricas e instituir um GT de mediação de conflito
à cultura indígena que não estivesse ligada à preservação de recursos que atue no caso a caso, dando a cada uma das situações soluções
naturais”. (...) e lembrando que há “esforços exemplares de conservação sob medida.
conduzidos por algumas comunidades com as quais temos, inclusive,
projetos comuns”, o ministro afirmou que “a realidade é que estamos
perdendo biodiversidade devido à atuação predatória de certos gru-
pamentos indígenas em suas áreas de direito e em áreas legalmente
protegidas”. * Jornalista, coordenadora do Programa de Política e Direito
Socioambiental do ISA.
Referências bibliográficas
LEITÃO, Sergio. “Presença humana em Unidades de Conservação: é pos-
sível?”. In: LIMA, A. O direito para o Brasil socioambiental. Porto
Alegre, Instituto Socioambiental e Sergio Antonio Fabris Editor, 2002.
_________ & ARAÚJO, Ana Valéria. Parecer sobre superposição entre Terras
Indígenas e Unidades de Conservação – o caso do Alto e Médio
Rio Negro. São Paulo, mimeo, 1996.
Santilli , Márcio. “As Terras Indígenas e as Unidades de Conservação: a
proposta de RIRN é direito e vantagem para os índios”. In: RICAR-
DO, B. Povos Indígenas no Brasil 1996-2000. São Paulo, Instituto
Socioambiental, 2001.
Silva, José Afonso da. “Terras tradicionalmente ocupadas pelos índios”. In:
Santilli, J. (org.). Os direitos indígenas e a constituição. Porto
Alegre, Núcleo de Direitos Indígenas e Sergio Antonio Fabris Editor,
1993.
a
_________. Curso de Direito Constitucional Positivo. 16 edição. São Paulo,
Malheiros Editores, 1999.
Souza Filho, Carlos Frederico Marés de. Espaços Ambientais Protegidos
e Unidades de Conservação. Curitiba, Editora Universitária Cham-
pagnat, 1993.
A confusão jurídica e conceitual provocada pela sobreposição dos lagos, e a posse permanente sobre suas terras tradicionais.
limites de UCs com TIs tem gerado a seguinte dúvida: os índios podem O direito de usufruto exclusivo se destina a assegurar aos índios
ser responsabilizados criminalmente pela prática de condutas lesivas meios para a sua sobrevivência e reprodução física e cultural. Vê-se,
ao meio ambiente? portanto, que a Constituição protege o modo de vida tradicional dos
Antes de mais nada, é preciso esquecer a idéia – totalmente equivocada povos indígenas, e que suas atividades tradicionais, desenvolvidas
e sem fundamento jurídico – de que os índios são penalmente inimputá- e compartilhadas ao longo de gerações, e reproduzidas segundo
veis e, portanto, não respondem pela prática de quaisquer crimes. Não usos, costumes e tradições indígenas, estão claramente excluídas da
há nada no ordenamento jurídico brasileiro – seja na Constituição, seja possibilidade de aplicação das normas incriminadoras previstas na
no Código Penal, seja no Estatuto do Índio em vigor – que autorize tal Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98). Atividades tradicionais como
entendimento. Nos termos do Código Penal, só são penalmente inim- caça, pesca e extrativismo, ainda que realizadas mediante o emprego
putáveis os menores de 18 anos e os autores de crimes que, em função de técnicas, métodos, petrechos ou substâncias não permitidas pela
de “desenvolvimento mental incompleto ou retardado”, eram, ao tempo legislação ambiental, estão isentas das penas cominadas aos crimes
da prática do crime, inteiramente incapazes de entender o caráter ilícito ambientais. Diversas são, entretanto, as conseqüências penais quando
do fato ou determinar-se de acordo com esse entendimento. A lei penal se tratar de atividades não-tradicionais, que deverão se submeter à
prevê ainda a chamada semi-imputabilidade, permitindo a redução da legislação ambiental.
pena quando o autor do crime é parcialmente capaz. Nas palavras de Fernando Mathias Baptista:
Obviamente, uma eventual dificuldade dos índios de compreender o “Na medida em que a exploração (de recursos naturais) se dê de
caráter criminoso de algumas condutas punidas pelas nossas leis não acordo com os usos e costumes dos povos indígenas, não estão eles
se deve ao seu “desenvolvimento mental incompleto ou retardado”, mas obrigados a cumprir com as normas e padrões ambientais exigidos
sim a diferenças étnicas e culturais. Entretanto, muitos juízes criminais para a população não indígena, pois a Constituição respalda seus
aplicam analogicamente aos índios tal norma penal, entendendo que usos e costumes como legítimos e reconhecidos pelo Estado brasilei-
os índios – “quando isolados ou ainda não integrados”, por não serem ro. Caso passem a explorar seus recursos naturais de forma diversa
capazes de entender o caráter ilícito de sua conduta, são inimputáveis. do que dita suas tradições e costumes de manejo, então passariam
Segundo tal entendimento jurisprudencial, quando se tratar de índios a estar sob o crivo da legislação ambiental, devendo observar as
“aculturados” ou “integrados”, e, portanto, capazes de entender a ilici- restrições ambientais para cada atividade pretendida (2002: 186)”.
tude de sua conduta, os mesmos são imputáveis, e, portanto, podem Deve ser salientado que a prática, pelos índios, de atividades não-
ser responsabilizados criminalmente. Quando se tratar de índios “em -tradicionais, tais como pesca comercial, exploração florestal etc., sem o
vias de integração”, ou seja, semi-imputáveis ou parcialmente capazes cumprimento da legislação ambiental enseja não só a responsabilidade
de compreender o caráter ilícito de sua conduta, é comum os juízes criminal – quando estiver caracterizado algum dos crimes ambientais
criminais exigirem laudo pericial (antropológico) para aferir o grau de previstos na Lei 9.605/98 ou em outras leis penais – como também a
consciência do índio acerca do caráter ilícito de sua conduta. responsabilidade civil e administrativa pelos danos ambientais. A res-
O Estatuto do Índio em vigor (Lei nº 6.001/73), entretanto, em seu art. ponsabilidade civil implica a obrigação de reparar os danos ambientais
56, dispõe apenas que, no caso de condenação criminal de índio, a provocados pela conduta ilícita ou indenizá-los e a responsabilidade
pena deverá ser atenuada e na sua aplicação o juiz “atenderá ao grau administrativa implica a imposição de penalidades administrativas pelo
de integração do silvícola”. Ou seja, tudo o que Estatuto do Índio permite órgão ambiental, tais como multas, embargos, interdição etc., através
é uma atenuação da pena, principalmente quando se tratar de índio de processo administrativo que se instaura com a lavratura de auto de
“não-integrado”, determinando ainda que as penas de prisão devem infração pela fiscalização ambiental.
ser cumpridas em regime de semi-liberdade, na sede da Funai mais Outra questão é a caracterização do crime previsto no art. 40 da Lei
próxima à aldeia indígena. Ou seja, o que o Estatuto do Índio admite é de Crimes Ambientais: aquele que causar dano direto ou indireto às
a atenuação da pena quando ficar evidenciado que o índio, em função Unidades de Conservação ou ao seu entorno está sujeito a pena de
de diferenças culturais, não pode compreender o caráter criminoso do reclusão de um a cinco anos. Se há uma superposição dos limites de
ato que praticou. Unidades de Conservação sobre terras tradicionalmente ocupadas por
Entretanto, a possibilidade de responsabilização criminal de índios por índios, não há como alegar que os índios, ao praticarem atividades
crimes ambientais suscita questões bem mais complexas, principal- tradicionais incompatíveis com a natureza da Unidade de Conserva-
mente quando há sobreposições de Territórios Indígenas e Unidades ção – por exemplo, caçar ou pescar, ou coletar plantas ou sementes
de Conservação. dentro de um Parque Nacional ou Reserva Biológica cujos limites
A Constituição reconhece aos índios sua organização social, costumes,
línguas, crenças e tradições e os direitos originários sobre as terras
que tradicionalmente ocupam. Assegura ainda aos índios o direito de * Promotora de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e sócia-
usufruto exclusivo sobre as riquezas naturais do solo, dos rios e dos -fundadora do ISA.
Como se sabe, Portugal colonizou o Brasil e consi- seu domínio. Em razão disso, durante praticamente os
derou todas as suas terras como de domínio português. dois primeiros séculos da nossa história, não foram feitas
Começavam aí problemas para os índios, que só iriam se sequer considerações sobre a necessidade de se asse-
agravar com o decorrer dos anos e a consolidação do pro- gurar aos povos indígenas quaisquer direitos territoriais.
cesso de colonização. Do Brasil colônia até os dias atuais, Simplesmente não se cogitava dar aos “conquistados”
este artigo traça um brevíssimo panorama da história do nenhum direito. Só com o Alvará Régio, de 1º de abril de
reconhecimento e regularização das Terras Indígenas (TIs) 1680, é que Portugal reconhece que se deve respeitar a
no país, pretendendo fazer uma leitura não só das leis e atos posse dos índios sobre suas terras, por serem eles os seus
administrativos que regeram e regem esses processos, mas primeiros ocupantes e donos naturais.
principalmente dos distintos momentos políticos em que isso Infelizmente, esse Alvará foi muito pouco respeitado,
se deu. A idéia é que se possa perceber, para além das visto que as terras indígenas foram sendo objeto de um
considerações jurídicas, os pressupostos e os objetivos de continuado e sistemático processo de esbulho por parte
legisladores e formuladores de políticas em cada época, dos colonos, que, muitas vezes, contavam com o apoio
bem como os impactos e conseqüências de seus atos, explícito – senão estímulo – das autoridades da época
dando conta da origem dos conflitos até hoje existentes. ou, no mínimo, com a sua omissão. Um exemplo de apoio
Como o período que se pretende abranger é por si só explícito foi a edição da Carta Régia de 02/12/1808, que
muito longo, e para evitar uma leitura por demais cansativa, declarava como devolutas as terras que fossem “conquista-
o texto limita-se a análises bastante gerais dos períodos das” dos índios nas chamadas Guerras Justas, intentadas
colonial, imperial ou mesmo da primeira fase da República, pelo governo português contra os povos indígenas que
deixando para se fixar na legislação mais recente, a partir da não se submeteram ao seu domínio no Brasil. A condição
Constituição de 1967. Por ser fundamental à compreensão de devolutas permitia que as terras indígenas fossem
da situação atual dos direitos territoriais indígenas, deu-se concedidas a quem a Coroa Portuguesa quisesse, já que
certamente maior atenção ao texto da Constituição Federal por terra devoluta pressupunha-se uma terra de domínio
de 1988, que revolucionou os padrões de tratamento até público sem nenhuma destinação específica. A praxe de
então concedidos aos índios pelo direito brasileiro, bem considerar as terras que eram tomadas aos índios como
como ao Decreto nº 1.775/96 que ora regulamenta o pro- devolutas fez escola em nosso país e explica, em grande
cedimento de regularização das Terras Indígenas. parte, muitos dos conflitos que se prolongam até hoje.
A Constituição de 1988 agrega forte conteúdo ambien- Todas as demais tentativas da Coroa de ordenar a
tal ao conceito de TIs no país e o Decreto nº 1.775/96 por ocupação dos índios sobre as suas terras serviram muito
sua vez abre a possibilidade de que a situação ambiental mais como uma forma de segregar os índios em espaços
das terras ocupadas pelos índios integre o rol dos assuntos territoriais ínfimos, liberando grandes extensões de suas
a serem investigados quando da sua demarcação, o que terras de ocupação tradicional para o processo de coloni-
até então não era feito. Este texto faz ao final uma análise zação. Foi o caso do que se chamou Aldeamento: áreas
de alguns desses aspectos, bem como dos avanços pós- onde eram reunidas comunidades indígenas sob a admi-
1998 e desafios ainda por vir. Com isso, busca reduzir nistração de ordens religiosas (especialmente de jesuítas)
o enfoque distorcido que muitas vezes é dado às TIs no e que seguiam o chamado Regimento das Missões, de
país, tentando contribuir para um melhor entendimento do 1686, visando em especial facilitar o trabalho de “assis-
seu conceito e de sua importância no contexto brasileiro. tência religiosa”, ou catequese. Ao Aldeamento sucedeu
o chamado Diretório dos Índios, criado pelo Marquês de
A origem do caos Pombal em 1757 e extinto em 1798, marcando o processo
Referências bibliográficas
ANAIS do “Seminário Bases para uma Nova Política Indigenista”, organizado
pelo Departamento de Antropologia do Museu Nacional. Rio de
Janeiro, 1999.
Araújo, Ana Valéria. “Defendendo direitos socioambientais – a experiência
do Instituto Socioambiental na defesa dos direitos dos povos e do
meio ambiente”. In: Dora, D. D. (org.). Direito e mudança social.
Rio de Janeiro, Ford Foundation e Editora Renovar, 2003.
_________e Leitão, Sérgio. “Direitos Indígenas: Avanços e impasses pós-
1988”. In: Souza Lima, A. C., e Barroso-Hoffmann, M.
(orgs.). Além da Tutela – bases para uma nova política indigenista
III. Rio de Janeiro, Laced/Contracapa, 2002.
Cunha, Manuela Carneiro da. Os direitos dos índios - Ensaios e documentos.
São Paulo, Editora Brasiliense, 1987.
Leitão, Sérgio. “Natureza jurídica do Ato Administrativo de reconhecimento
das Terras Indígenas – A Declaração em Juízo”. In: Santilli, J.
(org.). Os direitos indígenas e a constituição. Porto Alegre, Sergio
Antonio Fabris Editor e Núcleo de Direitos Indígenas, 1993.
Magalhães, Edvard Dias (org.). “Legislação Indigenista Brasileira e normas
correlatas”. Brasília, Fundação Nacional do Índio, 2002.
Problemas de terra continuam no foco central do Tal desvirtuamento é grave, especialmente se conside-
noticiário desalentador que a mídia divulga a respeito ramos que, apesar das diferenças entre o conceito jurídico
dos índios no Brasil. Infelizmente, o público continua mal de Terra Indígena, tal como está posto na Constituição, e a
informado por notícias que apenas denunciam tensões, compreensão antropológica dos fundamentos da ocupação
sem as remeter a uma história continuada de conflitos, cuja e territorialidade indígena, há evidentes intersecções e
trajetória é não só muito bem documentada, como fundada possibilidades de articulação. Senão vejamos: o artigo 231
nas próprias contradições da política indigenista brasileira. reconhece aos índios “os direitos originários sobre as terras
O comentário que segue não se aterá à análise desses que tradicionalmente ocupam”; o texto constitucional tam-
conflitos, nem à discussão dessas contradições, mas tra- bém indica que tal ocupação tradicional deve ser lida atra-
tará de outras tensões, que surgem na intersecção entre vés das categorias e práticas locais, ou seja, levando-se
o conceito jurídico de Terra Indígena e a compreensão em conta os “usos, costumes e tradições” de cada grupo.
antropológica da territorialidade concebida e praticada por Logo, uma Terra Indígena deve ser definida – identificada,
(1)
diferentes grupos indígenas. Territorialidade, como vere- reconhecida, demarcada e homologada – levando-se em
mos, é uma abordagem que não só permite recuperar e conta quatro dimensões distintas, mas complementares,
valorizar a história da ocupação de uma terra por um grupo que remetem às diferentes formas de ocupação, ou apro-
indígena, como também propicia uma melhor compreen- priações indígenas de uma terra: “as terras ocupadas em
são dos elementos culturais em jogo nas experiências de caráter permanente, as utilizadas para suas atividades
ocupação e gestão territorial indígenas. Como exercício, produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos
proponho distinguirmos entre os conceitos que sustentam ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias
as três formulações indicadas no título. a sua reprodução física e cultural”.
Parece, de fato, essencial evidenciar que o enfoque da Os antropólogos têm respondido a esses parâmetros
mídia nos conflitos entre índios e ocupantes não-indígenas através de sua participação nos processos de identificação,
procura quase sempre caracterizar como provas de sua nos termos da Portaria nº 14/1996 do Ministério da Justiça.
“aculturação” o engajamento dos índios em atividades Nesses relatórios, eles procuram evidenciar a existência de
antes monopolizadas pelos não-índios ou sua articulação diferentes lógicas espaciais que, em cada caso específico,
à economia regional. Por exemplo, atividades de criação promovem determinadas articulações entre essas distintas
de gado, de garimpagem etc... são apresentadas como dimensões de uma Terra Indígena. Mas, por outro lado, os
aspectos incongruentes com seus direitos territoriais. antropólogos também se interrogam teoricamente sobre a
Temos aqui um problema na compreensão da dimensão existência de conceitos indígenas a respeito de território,
cultural envolvida na territorialidade indígena: a imagem de limite, de posse etc... buscando por eventuais corres-
romântica de índios nomadizando por amplos territórios pondências entre categorias locais e noções ocidentais que
intocados domina ainda a visão da população brasileira
acerca dos “usos, costumes e tradições” indígenas. Dos
* Antropóloga, docente do Departamento de Antropologia Social da
índios que não estiverem correspondendo a essa imagem, FFLCH-USP e coordenadora do NHII-USP (Núcleo de História Indígena
diz-se que perderam sua tradição. Índios estes que acabam e do Indigenismo)
1
por serem responsabilizados pelos conflitos que a mídia Agradeço a Nadja Havt, pelas profícuas discussões que mantivemos ao
longo de muitos anos sobre a temática aqui tratada, assim como suas valiosas
documenta, como se as causas das tensões brotassem
análises da territorialidade Zo´é, algumas delas incorporadas no presente texto
do interior da condição de índio. (ver referências na bibliografia).
O termo “populações tradicionais” já foi incorporado, há também definidas pelo seu conhecimento aprofundado da
algum tempo, à linguagem e ao discurso de antropólogos, natureza e de seus ciclos e pela noção de território ou es-
biólogos, engenheiros florestais e de outros profissionais paço onde se reproduzem econômica e socialmente (Die-
da área socioambiental. Mais do que isso, a articulação gues, 2001). As características da categoria são, portanto,
entre povos indígenas, populações tradicionais e conser- suficientemente amplas para abranger desde seringueiros
vação ambiental e a idéia de que essas populações de- até castanheiros, babaçueiros, caiçaras, pescadores ar-
veriam ser consultadas e envolvidas em políticas públicas tesanais etc. Há, entretanto, relativamente poucos dados
de conservação ambiental ganharam força principalmente sobre a totalidade das populações tradicionais brasileiras.
(1)
na segunda metade dos anos 1980, a partir de iniciativas A população indígena total no Brasil hoje é de cerca de
como a Aliança dos Povos da Floresta, que reunia índios, 400 mil, e há cerca de 220 povos indígenas (ISA, 2003),
seringueiros, castanheiros e outras populações tradicionais tendo a Fundação Cultural Palmares identificado 1,2 mil
amazônicas, cujo modo de vida estava ameaçado pela comunidades (FCP, 2002).
exploração predatória dos recursos naturais, provocada Entre os cientistas sociais e ambientais, a categoria
principalmente pela abertura de rodovias e pastagens “populações tradicionais” já é relativamente bem aceita e
destinadas às fazendas de agropecuária. definida. Ainda que alguns antropólogos apontem as difi-
O extrativismo foi “redescoberto como uma atividade culdades geradas pela forte tendência à associação com
não predatória, uma possível via de valorização econômi- concepções de imobilidade histórica e atraso econômico
ca da Amazônia” (Aubertin, 2000: 28), e fortalecido pelo (Little, 2002) e considerem o conceito “problemático” em
movimento social liderado por Chico Mendes pela criação face da forma diversificada e desigual com que os seg-
das Reservas Extrativistas, que procurava promover o ca- mentos sociais se inserem na Amazônia socioambiental
samento entre conservação ambiental e reforma agrária. (Esterci, Lima e Léna, 2002), a categoria “populações
Os projetos de conservação – como o Programa Piloto tradicionais” tem sido bastante reconhecida em sua di-
de Proteção das Florestas Tropicais Brasileiras (PPG7) mensão política e estratégica. Entretanto, o direito ainda
– passaram a considerar as Reservas Extrativistas como dá os primeiros passos, bastante tímidos, na formulação
uma via de desenvolvimento sustentável e socialmente de uma definição – jurídica – de “populações tradicionais”.
eqüitativo para a Amazônia (Almeida, 2000), e uma alter- Afinal, o que são as populações tradicionais e a que têm
direito, segundo o ordenamento jurídico brasileiro? O que
nativa ao modelo de exploração predatória.
dizem as nossas leis sobre as populações tradicionais?
Os povos indígenas e quilombolas guardam caracte-
Conforme já dito, o Direito brasileiro faz uma clara distinção
rísticas semelhantes às das populações tradicionais, tanto
entre os povos indígenas, as comunidades quilombolas e
no tocante ao manejo e uso compartilhado dos recursos
as populações tradicionais, do ponto de vista do reconhe-
naturais existentes em seus territórios quanto no que diz
cimento de seus direitos.
respeito aos conhecimentos, inovações e práticas cole-
tivas, relevantes para a conservação e a utilização sus-
Direitos indígenas
tentável da biodiversidade. Entretanto, do ponto de vista
Aos povos indígenas, a Constituição dedica todo um
jurídico, há uma clara distinção entre os povos indígenas,
capítulo, onde são reconhecidos aos índios sua organiza-
os quilombolas e as populações tradicionais, principal-
mente em relação ao reconhecimento constitucional de
direitos territoriais especiais. * Promotora de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal
A categoria “populações tradicionais” está relacionada e sócia-fundadora do ISA.
1
ao uso de técnicas ambientais de baixo impacto, e a for- Em 2000, o Ministério do Meio Ambiente, por meio de sua Secretaria de
Coordenação da Amazônia, e o ISA, celebraram um convênio para dar início
mas eqüitativas de organização social e de representação
ao projeto “Mapeamento das Populações Extrativistas da Amazônia”. Vide, a
(Almeida e Cunha, 2002). As populações tradicionais são respeito, o artigo de Ludmila Moreira Lima (2002).
Ecológicas e Parques Nacionais) e a sua indenização ou Ou seja, entre os objetivos do SNUC estão não ape-
compensação pelas benfeitorias existentes. Os quilom- nas a conservação da biodiversidade como também a
bolas (e os povos indígenas) não estão sujeitos a serem conservação da sociodiversidade, dentro de um contexto
removidos de seus territórios tradicionais – ainda que que privilegia a interação do homem com a natureza, e as
mediante indenização e reassentamento em outro local interfaces entre diversidade biológica e cultural. Trata-se da
– a fim de viabilizar a criação de Unidades de Conser- incorporação, por este instrumento jurídico, de paradigmas
vação de Proteção Integral nas quais sua permanência socioambientais.
não seja permitida. No mesmo sentido, as diretrizes do SNUC apontam
No caso dos povos indígenas, a possibilidade de serem não apenas para a criação de um conjunto de Unidades
removidos de seus territórios tradicionais é expressamente de Conservação com amostras representativas dos
(8)
vedada pela Constituição, salvo, ad referendum do Con- diferentes ecossistemas brasileiros como também para
gresso Nacional, “em caso de catástrofe ou epidemia que a necessidade da participação efetiva das populações
ponha em risco sua população, ou no interesse da sobe- locais na criação, implantação e gestão das Unidades de
rania do país, após deliberação do Congresso Nacional,
garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo 8
Art. 231, parágrafo 5º da Constituição.
que cesse o risco”. Apesar de não haver dispositivo cons- 9
Art. 4º da Lei nº 9.985/2000.
Referências bibliográficas
ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. “Os quilombos e as novas etnias: é
necessário que nos libertemos da definição arqueológica”. In: LEI-
TÃO, S. (org.). Direitos territoriais das comunidades negras rurais.
Documentos do ISA n. 5. São Paulo, Instituto Socioambiental, 1999.
ALMEIDA, Mauro. “Apresentação”. In: EMPERAIRE, L. (org.). A floresta em jogo:
o extrativismo na Amazônia central. São Paulo, Unesp, IRD, 2000.
_________ e CUNHA, Manuela Carneiro. Enciclopédia da Floresta: o Alto Juruá:
práticas e conhecimento das populações. São Paulo, Companhia
das Letras, 2002.
ANDRADE, Tânia (org.). Quilombos em São Paulo: tradições, direitos e lutas.
São Paulo, Imesp, 1997.
_________ ; PEREIRA, Carlos Alberto Claro; ANDRADE, Márcia Regina de Oli-
veira (eds.). Negros no Ribeira: reconhecimento étnico e conquista
do território. São Paulo, Fundação Instituto de Terras do Estado de
São Paulo José Gomes da Silva, 2000. (Cadernos Itesp, 3)
AUBERTIN, Catherine. “A ocupação da Amazônia: das drogas do sertão à
biodiversidade”. In: EMPERAIRE, L. (org.). A floresta em jogo: o
extrativismo na Amazônia central. São Paulo, Unesp, IRD, 2000.
DIEGUES, Antônio Carlos e ARRUDA, Rinaldo S.V. Saberes tradicionais e
biodiversidade no Brasil. Brasília, Ministério do Meio Ambiente, 2001.
ESTERCI, Neide; LIMA, Deborah; LÉNA, Philippe (eds.) “Diversidade sociocul-
tural e políticas ambientais na Amazônia: o cenário contemporâneo”.
Apresentação. Boletim Rede Amazônia - diversidade sociocultural e
políticas ambientais. Rio de Janeiro, ano 1, n. 1, 2002.
ISA (Instituto Socioambiental). Website Povos Indígenas no Brasil (www.
socioambiental.org/povind), 2003.
LEUZINGER, Márcia Diegues. “A presença de populações tradicionais em
Unidades de Conservação”. In: LIMA, André (org.). O direito para o
Brasil socioambiental. São Paulo, Instituto Socioambiental e Porto
Alegre, Sergio Fabris Editor, 2002. pp 301-318.
LIMA, Ludmila Moreira. “Retrospectiva das atividades desenvolvidas no con-
texto da pesquisa Mapeamento das Populações Extrativistas da
Amazônia Legal”. In: Esterci, N.; Lima, D. e Léna, P. Boletim
Rede Amazônia - diversidade sociocultural e políticas ambientais,
ano 1, n. 1, 2002.
LITTLE, Paul E. Territórios sociais e povos tradicionais no Brasil: por uma
antropologia da territorialidade. Brasília, UnB, Departamento de
Antropologia, 2002.
MERCADANTE, Maurício. “Uma Década de Debate e Negociação: a História
da Elaboração da Lei do SNUC”. In: Benjamin, A. H. (org.).
Direito Ambiental das Áreas Protegidas, Rio de Janeiro, Forense
Universitária, 2001.
Após um longo processo envolvendo pré-confe- que não contemple a presença indígena nas sobreposi-
rências estaduais, escolha de delegados e reuniões ções. Na visão deles o território é apenas UCs, ou seja,
preparatórias, 75 indígenas estiveram na I Conferência não reconhecem os nossos direitos indígenas ao usufruto
Nacional do Meio Ambiente, que aconteceu em Brasília, exclusivo das nossas terras tradicionais e imemoriais,
entre 28 e 30/11/2003. Do nosso ponto de vista, a Con- conforme garante a Constituição brasileira.
ferência Nacional do Meio Ambiente foi um marco ímpar Num dos grupos temáticos de Biodiversidade e Áreas
para os povos indígenas, pois possibilitou a discussão Protegidas colocamos (Azelene Kaingáng e eu) a proposta
em torno das dificuldades enfrentadas pelos mesmos, para discussão, porém fomos massacrados e derrotados,
bem como de conquistas importantes para a solução com exceção de nossos dois votos o resto foi unânime-
de algumas demandas graves, como o fato de não po- mente contrário. Numa das defesas contrárias chegaram
dermos usufruir das nossas riquezas, transformando- a acusar os índios de grandes destruidores do meio e
-as em recursos que nos dêem autonomia política e que se tal proposta passasse seria um retrocesso para a
econômica, mesmo de forma sustentável, como sempre questão ambiental no país. Devo confessar que os nervos
fizemos milenarmente. ficaram à flor da pele. Porém, na seqüência, tinha uma
Entre os vários pontos discutidos durante a conferên- outra proposta que ia na mesma direção e, numa segunda
cia, tivemos grandes conquistas, bem como pudemos de tentativa, com a ajuda de Waptokware (Deus) e uma defesa
forma coletiva protagonizar junto à sociedade brasileira que me emocionou, pois não sei como as palavras saíram,
não-índia a construção e o fortalecimento do Sistema conseguimos aprová-la com 2/3 dos delegados oficiais
Nacional de Meio Ambiente (Sisnama), outrora muito presentes no grupo. Isso possibilitou a proposta ir para a
distante de nós. fase seguinte, ‘a Plenária Temática, onde foi aprovada por
Seguem abaixo os principais pontos conquistados unanimidade. Desta forma, não foi preciso remeter para a
de forma democrática pelos povos indígenas, os quais Plenária Final da conferência.
esperamos que se tornem políticas públicas, pois acha- 2. Criação de um fundo específico para a proteção e
mos da mais alta relevância para o bem-estar de nossas conservação da biodiversidade em TIs, como forma
comunidades: de compensação aos serviços ambientais prestados
1. Revogação dos atos normativos que criam Unidades por esses territórios ao país.
de Conservação em sobreposição com Terras Indí- 3. Criação de uma política específica de ecoturismo
genas, respeitando os direitos originários dos povos para as TIs.
indígenas e garantindo os meios necessários para a 4. Urgência na regularização fundiária de todos os
conservação da biodiversidade e uso sustentável dos territórios indígenas e das comunidades tradicionais,
recursos naturais. contemplando os pedidos de ampliação de áreas que
Esta foi talvez a mais importante conquista dos povos ainda não estão reconhecidas oficialmente.
indígenas na conferência, na medida em que sempre
tentamos discutir este problema, para nós, principalmente
no Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), sem * Indígena do povo Xerente, engenheiro florestal e gestor ambiental,
nenhum sucesso, já que a ala mais radical dos ambienta- representante dos povos indígenas no Conselho Nacional do Meio Ambiente
listas, bem como alguns seguimentos de instituições go- (Conama), diretor administrativo do Warã Instituto Indígena Brasileiro, vice-
-presidente do Conselho Deliberativo da Coordenação das Organizações
vernamentais, sempre preferiram discutir numa perspectiva Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).
A verdadeira origem do movimento ambientalista não é questão pacífica • necessidade de capacitação nas áreas de captação de recursos,
entre os estudiosos do assunto. Segundo José Augusto Pádua (1997), jurídica e institucional;
o ambientalismo não nasceu nos Estados Unidos nem na Europa, como • predominância de ações voltadas para o conservacionismo, educação
se supunha, mas nas periferias, no Caribe, Índia, África do Sul, Aus- ambiental, denúncias e ativismo político.
trália e América Latina, onde se praticou a exploração colonial intensa
Preservacionismo, conservacionismo
e predatória. No Brasil, o autor esclarece que o ambientalismo surgiu
e socioambientalismo
no século XIX como reação ao colonialismo, o que se demonstrou
pela atuação de alguns pensadores, como José Bonifácio, que se Note-se que as pesquisas citadas demonstram que há acentuada ên-
preocupava com o impacto da exploração do meio ambiente sobre a fase do movimento ambientalista brasileiro nas atividades da área de
economia, e Joaquim Nabuco, que alertava sobre o esgotamento da conservação e preservação ambiental, o que se explica pela diversidade
fertilidade dos solos no Rio de Janeiro, a decadência das monoculturas de biomas existentes no país, e a riqueza de sua biodiversidade. A fim
do Nordeste, o aumento do flagelo da seca, denunciando, já naquela de se poder entender esse fenômeno, vale a pena discorrer sobre os
época, a ganância da indústria extrativista da Amazônia. conceitos de preservação e conservação ambiental dentro do movimen-
to ambientalista. Os preservacionistas são aqueles que propõem que se
No século XX constituiu-se o movimento ambientalista no Brasil como o
mantenha um ambiente isolado, intocado, para garantir a perenidade,
conhecemos hoje. Segundo Eduardo Viola (1997), na década de 1970
a perpetuidade de um bem ambiental, sendo contrários a qualquer tipo
manifestou-se um ambientalismo confinado, em grande medida reduzi-
de presença humana em áreas especialmente protegidas; já os con-
do a grupos na estrutura do Estado. Na década de 1980 o movimento
servacionistas também priorizam a proteção integral dos ecossistemas,
passou a integrar as ONGs, universidades, mídia e empresas, além das
mas admitem seu uso eventual, de forma controlada e racional, pois
agências estatais. E, na década de 1990, com a abertura da economia
seu objetivo primordial é garantir a preservação da espécie humana.
brasileira, passou a ser influenciado pelas ONGs transnacionais e pela
Segundo Pádua e Lago (2001), “o conservacionismo é a luta pela
agenda internacional, incorporando preceitos e objetivos condizentes
preservação do ambiente natural, ou de partes e aspectos dele, contra
com a sustentabilidade da vida no planeta.
as pressões destrutivas das sociedades humanas”. Essas duas linhas
Diversas foram as formas pelas quais o movimento ambientalista de pensamento estritamente voltadas para a proteção da natureza,
procurou ampliar seu espaço de influência além da simples militância, marcadas pela busca do isolamento de áreas protegidas, passaram
partindo das ruas para os gabinetes. Na década de 1980 foram eleitos a encontrar resistência de uma nova vertente, o socioambientalismo,
alguns parlamentares cuja origem se encontra no movimento ambien- caracterizada pela busca da compatibilização da presença humana em
talista. Além da representação no Legislativo, o movimento passou a áreas especialmente protegidas, reconhecendo os dados da realidade
participar no âmbito do Executivo, principalmente nos Conselhos do e as necessidades culturais e de sobrevivência física desses grupos,
Meio Ambiente ou assumindo postos no governo. A formação de redes
visando primordialmente a promoção do desenvolvimento sustentável
de atuação também foi outra forma encontrada pelo movimento para
das sociedades, com respeito aos ecossistemas. Essa nova vertente
ampliar sua participação e influência, e, ainda, penetrar o tecido social.
abandonou posições mais radicais e conservadoras, mantidas pelas
Uma vez traçada em breves linhas a evolução histórica do movimento visões conservacionista e preservacionista.
ambientalista, é importante destacar sua situação atual e os principais
Foi possível observar na década de 1990 e início deste século uma evo-
desafios encontrados na busca de um novo paradigma de desenvolvi-
lução do pensamento ambientalista numa direção que busca congregar
mento para o país. Com base em pesquisas realizadas na década de
a sustentabilidade dos ecossistemas com a sobrevivência digna das
1990 pela Mater Natura e pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF)
populações neles instaladas historicamente, conhecido como o enfoque
sobre o perfil do movimento ambientalista brasileiro, e também pela
“socioambiental”. Essa tendência também congrega elementos de justi-
Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo, através do seu
ça social com o objetivo da proteção ambiental, e aproxima o movimento
Programa de Apoio às ONGs (Proaong), sobre o movimento em São
ambientalista dos outros movimentos que lutam pelo desenvolvimento
Paulo, pode-se concluir que o movimento ambientalista, representado
econômico mais justo. Expoentes desse enfoque são Chico Mendes,
por diferentes ONGs, indivíduos e grupos não-institucionalizados, atuan-
líder do movimento dos seringueiros e dos ambientalistas, e também
tes em diferentes setores, apresenta as seguintes características gerais:
Marina Silva, oriunda do mesmo grupo. A organização de populações
• baixo nível de profissionalização, revelado pela dificuldade em tradicionais, como os seringueiros, quilombolas, catadores de coco e
manutenção de quadros de profissionais e pela alta dependência de
trabalho voluntário;
• falta de capacitação para levantamento de recursos financeiros e alta *Advogada, mestre em Direito Internacional (American University, Wa-
dependência de doações de associados ou de recursos provenientes shington College of Law), mestre em Ciência Ambiental
de projetos de cooperação internacional; (Universidade de São Paulo) e secretária executiva do Instituto
Pró-Sustentabilidade (Ipsus).
A idéia de reservar determinados espaços para a premissa. Casos de Parques que tiveram suas paisagens
proteção do meio ambiente remonta, na sociedade oci- significativamente modificadas desde seu estabelecimento
dental, aos meados do século XIX, se considerarmos mostram como os processos geradores e mantenedores da
que os primeiros Parques Nacionais – como Yellowstone, biodiversidade são dinâmicos. O exemplo da presença das
nos Estados Unidos, por exemplo – possuíam, além da Acácias (Acacia tortilis) nas savanas africanas é emblemá-
preservação das paisagens sublimes, esse objetivo. A tico. Essas árvores, em forma de guarda-chuva, compõem
idéia de proteger determinados espaços para conservar parte do nosso imaginário sobre a África. Há fortes evidên-
recursos naturais estratégicos, porém, é bem mais an- cias, entretanto, que a despeito de sua atual visibilidade, a
tiga. Reservas reais de caça já aparecem nos registros presença dessas árvores nas savanas não é “natural”: elas
históricos assírios de 700 a.C. Os romanos já se preo- não estavam ali há cem anos, ou não eram tão freqüentes.
cupavam em manter reservas de madeira que visavam, Sua presença em grandes áreas de savana parece ser o
dentre outros produtos, à construção de navios. Na Índia, resultado direto do aparecimento da peste bovina na África,
reservas reais de caça foram estabelecidas no século em torno de 1895, uma conseqüência da introdução de
III (Colchester, 1997). Os senhores feudais destinavam gado na região. A doença causou índices de mortalidade
porções significativas de suas florestas a reservas de catastróficos entre os ungulados nativos (veados, alces,
madeira, de caça e de pesca (Larrère e Nougarède, bisões, girafas etc.) e introduzidos (gado bovino). Seus
1993). Os poderes coloniais na África, ao longo dos dois efeitos sobre os ecossistemas foram complexos e uma
últimos séculos, também destinaram certos espaços das conseqüências foi a propagação dessas árvores, antes
para a conservação de determinados recursos naturais, restritas a certas áreas, que se espalharam rapidamente
criando, inclusive, reservas para a caça. por locais onde anteriormente seu estabelecimento era
Ao longo do século XX, as áreas protegidas foram limitado pela combinação entre herbivoria e fogo. Mais
se consolidando como espaços de conservação de bio- tarde, os ungulados nativos desenvolveram resistência à
diversidade e, na maioria dos casos, caracterizando-se peste bovina e as vacinas empregadas lograram controlar
como áreas sem populações humanas. A adoção desse a doença entre os animais domésticos. Como conseqüên-
modelo – espaços protegidos e a obrigatória exclusão das cia direta do aumento de suas populações, esses animais
voltaram a suprimir o estabelecimento das árvores em
populações humanas – baseia-se, entretanto, em pelo
forma de guarda-chuva, devorando as plantas jovens.
menos duas premissas que me parecem equivocadas. A
Desta forma, poucas árvores se estabeleceram nos últimos
primeira delas é a idéia de que as paisagens resultantes
cinqüenta anos. Como resultado, há, hoje, poucas árvores
da biodiversidade que se almeja conservar são estáticas,
jovens para substituir aquelas, de idade entre sessenta a
ou seja, não se modificam ao longo do tempo. A segunda
oitenta anos, que estão morrendo, e a paisagem está se
premissa relaciona-se com o chamado “mito da natureza
intocada” (Denevan, 1992; Diegues, 1994).
O estabelecimento de algumas áreas protegidas e a
* Mestre em Ecologia e colaboradora no tema Biodiversidade no Instituto
posterior modificação das paisagens, objetos originais da Socioambiental.
1
proteção, ilustram o possível equívoco contido na primeira Citado em Thongmak e Hulse, 1993.
asseguram a continuidade da biodiversidade dificil- de uma imensa dívida social, riscos para a própria manuten-
mente podem ser mantidos na escala das Unidades ção da biodiversidade, como mencionado acima.
de Conservação e a devastação das áreas fora dessas Um bom exemplo desse tipo de risco é a destruição do
unidades seguramente comprometerá o futuro da bio- conhecimento humano sobre a utilização de espécies, bem
diversidade dentro das áreas protegidas. ilustrado pelo caso da produção de mandioca: de origem
A desconsideração de ferramentas importantes para amazônica, a mandioca é cultivada hoje em toda a região
a conservação da biodiversidade, parte delas relacio- tropical e subtropical do planeta e é a cultura de base de
nada com o conhecimento e o uso que as populações cerca de 500 milhões de agricultores. O Brasil, segundo
tradicionais fazem dos recursos naturais, coloca em maior produtor, depois da Nigéria, produz cerca de 23 mi-
xeque parte dos processos que mantêm a diversidade lhões de toneladas por ano. A demanda por esse produto
biológica e, em última instância, podem comprome- vem crescendo e, assim, paralelamente à cultura tradicional
ter a proteção do meio ambiente. Esse é o caso, por da mandioca, praticada por pequenos agricultores e popu-
exemplo, da exclusão das populações tradicionais das lações tradicionais, vem surgindo uma cultura com fortes
terras a serem conservadas – ou o reverso da moeda: insumos tecnológicos e mecanizada. Esse tipo de cultura de
a exclusão de áreas obrigatoriamente ocupadas, como mandioca está fundamentado em um pequeno número de
as Terras Indígenas, do Sistema Nacional de Unidades variedades, aquelas que atendem as demandas do mercado.
de Conservação e das estratégias de manutenção da Entre as populações indígenas da Amazônia, no entanto, é
biodiversidade. A exclusão das populações gera, além grande o número de variedades cultivadas; alguns povos do
A proteção da biodiversidade e o uso sustentável dos recursos naturais Considerando essas experiências e informações acumuladas na execu-
existentes nas Terras Indígenas têm a maior importância estratégica ção de projetos no âmbito do MMA, e a expectativa de reformulação da
para os projetos de futuro dos povos indígenas no Brasil. Embora política indigenista através da implementação de programas regionais
inexistam programas governamentais que atuem consistentemente e temáticos-estratégicos no âmbito da Funai, esse termo de referência
nessa interface entre os direitos indígenas e as políticas ambientais, especifica providências com vistas à formulação de um Programa para
as discussões envolvendo esses temas vêm sendo progressivamente a Proteção da Biodiversidade e Uso Sustentável de Recursos Naturais
incorporadas à agenda dos órgãos públicos e das organizações indí- em Terras Indígenas, a ser implementado em regime de parceria entre
genas brasileiras, especialmente na região amazônica. do MMA e a Funai.
Seja pela expressão quantitativa das Terras Indígenas – 12,42% da ex- Vale ressaltar que a questão em tela apresenta diferenças relevantes
tensão total do território nacional e 21% da extensão total da Amazônia entre os biomas, especialmente entre a Amazônia e os outros e deve
Legal brasileira –, pela variedade ou singularidade dos ecossistemas ser considerada de forma distinta. Assim essa proposta apresenta uma
que abrigam, ou pela situação de relativa preservação dos seus recur- linha de atuação específica para Amazônia e linhas de trabalho para
sos naturais, elas devem ser consideradas como componente funda- os outros biomas. Essa proposta versa também sobre a necessidade
mental de uma estratégia nacional para a questão da biodiversidade. de consulta aos povos indígenas e a possibilidade de se implantar
Do ponto de vista dos índios, na medida em que avançam os processos alguns projetos pilotos, em diferentes biomas, que permitissem, ao lado
oficiais de reconhecimento e demarcação das terras, as demandas de da consulta, a formulação de uma proposta mais sólida de programa.
gestão se vão colocando num primeiro grau de prioridade. Há terras Propõe-se que a formulação do programa seja feita em três etapas,
significativamente afetadas pela ação de terceiros que promovem descritas a seguir:
desmatamentos, exploração predatória de madeiras, minérios, e outros 1ª etapa - Formulação de uma proposta preliminar
recursos nelas existentes. Há visível esgotamento de determinados
Identificação preliminar de áreas prioritárias:
recursos indispensáveis à sobrevivência ou à reprodução do modo
tradicional de vida de muitos povos indígenas, relacionados às suas • elaboração de uma lista qualificada das Terras Indígenas com pesqui-
atividades de caça, pesca e coleta de frutos, raízes, fibras e outros sas científicas já realizadas, a partir da análise detalhada dos resul-
recursos naturais. Há práticas e conhecimentos tradicionais indígenas tados do seminário de avaliação de áreas e ações prioritárias para
essencialmente associados a recursos naturais das suas terras. Há, a conservação da biodiversidade nos biomas brasileiros, realizado
ainda, interesse dos povos indígenas em apoio oficial para a fiscalização no contexto do Pronabio, recuperando todas as indicações de áreas
das suas terras e para a preservação a longo prazo desses recursos prioritárias, mesmo as não sobrepostas e excluídas do mapa final;
para as futuras gerações. • elaboração de uma lista qualificada de Terras Indígenas já priorizadas
Assim, a preservação e o uso sustentável dos recursos naturais é o tema para a realização de pesquisas científicas, a partir de indicações do
básico que se desdobra das experiências acumuladas no decorrer da mesmo seminário e de publicações especializadas e de consultas
execução de projetos dos poderes públicos, com o apoio da cooperação eletrônicas ou telefônicas a instituições e pesquisadores;
internacional e que dispõem de componentes indígenas, como o PPG7, • qualificação dos casos de sobreposição de Terras Indígenas com
Prodeagro e Planafloro. As demarcações e projetos demonstrativos Unidades de Conservação para a identificação de modalidades e
realizados apontam para a necessidade de um plano, em escala de casos potencialmente exemplares de soluções;
política pública, que viabilize a incorporação dessas terras, na medida • identificar área para projeto piloto de conservação de biodiversidade
do interesse e da iniciativa dos seus próprios ocupantes, na política na Amazônia, de recuperação na Mata Atlântica e de conservação
nacional de proteção à biodiversidade. e recuperação no Cerrado e/ou na Caatinga, considerando os
Outros projetos executados no âmbito do Ministério do Meio Ambiente seguintes critérios:
(MMA), como o Pronabio, no contexto da avaliação de áreas e ações - prioridade para a conservação da biodiversidade;
prioritárias para a conservação da biodiversidade no Brasil, arrolam
- interesse e compreensão das populações locais acerca do
várias Terras Indígenas e providências específicas entre elas. Por
programa;
outro lado, há dezenas de casos não resolvidos de sobreposições
entre Terras Indígenas e Unidades de Conservação, alguns dos quais - existência de organizações indígenas que possam com ou sem
a produzir crises nas relações entre os órgãos responsáveis, índios e parcerias desenvolver o projeto.
outros grupos sociais ocupantes ou interessados, sem que uma política Elaboração dos critérios e metodologia para a realização
consistente promova a soma de esforços requerida para a preservação da consulta:
e conservação da biodiversidade.
1
Proposta formulada pelo ISA e enviada ao Ministério do Meio Ambiente
em 2003.
Os princípios e diretrizes para a implementação da Política Nacional da nativas já teria sido estimado em 43 bilhões de dólares.
o
Biodiversidade, estabelecidos no Decreto n 4.339/2002, incorporam Entretanto, os sistemas de conhecimento e as expressões da criativida-
o chamado componente intangível da biodiversidade, que envolve os de das nossas populações tradicionais não são protegidos pelo sistema
conhecimentos, inovações e práticas de povos indígenas, quilombo- de propriedade intelectual – concebido e desenvolvido para proteger
las e outras comunidades locais, relevantes para a conservação e a os chamados conhecimentos “novos”, individualmente produzidos, e
utilização sustentável da diversidade biológica. O Decreto – editado não os conhecimentos coletivos, transmitidos oralmente às novas e
pelo governo FHC às vésperas da Rio+10 – estabelece, entre seus sucessivas gerações, sem um marco temporal definido. Ao contrário,
objetivos, um regime legal de proteção aos direitos intelectuais coletivos o sistema de propriedade intelectual permite a monopolização e a
de povos indígenas, quilombolas e outras comunidades locais, com a privatização, através das patentes e outros mecanismos, de conheci-
sua participação. mentos coletivamente produzidos e limita a circulação de informações.
Trata-se da implementação do artigo 8 (j) da Convenção da Diversidade A criação de um regime legal de proteção aos conhecimentos tradi-
Biológica, que determina que os países devem “respeitar, preservar e cionais associados à biodiversidade ainda se encontra em fase de
manter o conhecimento, inovações e práticas das comunidades locais elaboração no ordenamento jurídico brasileiro. Atropelando diversas
e populações indígenas com estilos de vida tradicionais relevantes à propostas legislativas em tramitação no Congresso Nacional, o governo
conservação e utilização sustentável da diversidade biológica”, bem (1)
FHC editou, em junho de 2000, uma medida provisória regulando o
como “incentivar sua mais ampla aplicação com a aprovação e parti- acesso ao patrimônio genético e ao conhecimento tradicional associado.
cipação dos detentores desses conhecimentos, inovações e práticas”, Tal MP estabelecia, genericamente, algumas garantias aos detentores
e “encorajar a repartição justa e eqüitativa dos benefícios” oriundos de de conhecimentos tradicionais, mas sem grande efetividade prática.
sua utilização.
A ministra Marina Silva, ao assumir o comando do Ministério do Meio
Na mesma linha caminhou a Lei do SNUC (9.985/2000), que reconhece Ambiente, optou por resgatar o processo legislativo interrompido pelo
a necessidade de proteger os recursos naturais necessários à subsis- (2)
governo FHC com a edição da MP. O Conselho de Gestão do Patri-
tência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhe- (3)
mônio Genético criou, então, uma Câmara Temática de Legislação,
cimento e sua cultura, e promovendo-as social e economicamente. A lei com o objetivo de formular uma nova proposta de lei, a ser encaminhada
do SNUC criou duas categorias de Unidades de Conservação de Uso pelo Poder Executivo ao Congresso Nacional.
Sustentável: a Reserva Extrativista e a Reserva de Desenvolvimento
A referida Câmara Temática de Legislação dividiu os seus trabalhos em
Sustentável, especificamente destinadas a abrigar populações tradi-
dois grupos: um Grupo de Trabalho sobre Acesso a Recursos Genéticos
cionais e a proteger os meios de vida e a cultura dessas populações.
Tais instrumentos legais têm forte inspiração socioambiental, e apontam
para o reconhecimento de que a biodiversidade não se sustenta sem
* Promotora de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e sócia-
a sociodiversidade e sem a preservação das práticas culturais, sociais
-fundadora do ISA.
e econômicas das populações tradicionais. Orientam-se pela preocu- 1
Tratava-se da Medida Provisória nº 2052, que foi reeditada sucessivas
pação de assegurar as condições de reprodução física e cultural das
vezes, sendo que atualmente encontra-se em vigor a Medida Provisória nº
populações tradicionais, e de promover a continuidade da produção 2.186-16/2001.
dos conhecimentos, práticas e inovações relevantes à conservação da 2
A Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), com
diversidade biológica. Protegem duas faces de uma mesma moeda: a assessoria dos advogados do Instituto Socioambiental, propôs Ação Direta
o componente tangível – os recursos biológicos – e o intangível – os de Inconstitucionalidade contra a referida Medida Provisória, por inconstitu-
conhecimentos associados aos mesmos – da biodiversidade. cionalidade de seus artigos 10 e 14. O art. 14 previa a possibilidade de que,
em caso de “relevante interesse público”, fosse dispensada a necessidade
Tais conhecimentos vão desde formas e técnicas de manejo de recursos de autorização dos índios para acesso a recursos genéticos em suas terras,
naturais, métodos de caça e pesca, até conhecimentos sobre sistemas e o art. 10 permitia que a pessoa de “boa fé” que estivesse explorando
ecológicos e espécies com propriedades farmacêuticas, alimentícias conhecimento tradicional associado até 30/06/2000 pudesse continuar ex-
e agrícolas. Adquiriram particular importância para a indústria da plorando, sem o atendimento das normas legais. Antes mesmo que o STF
julgasse a referida ação, o próprio governo FHC editou uma nova versão da
biotecnologia, principalmente de produtos farmacêuticos, químicos e MP, excluindo tais artigos.
agrícolas. Há estimativas de que dos 120 princípios ativos atualmente 3
Órgão coordenador das políticas para a gestão do patrimônio genético, com
isolados de plantas, e largamente utilizados na medicina moderna, poderes para deliberar sobre autorização de acesso ao patrimônio genético.
75% têm utilidade identificada pelos sistemas tradicionais. Segundo A sua composição foi definida pelo Decreto nº 3.945/2001. Tal Decreto prevê
Vandana Shiva (2001), o uso do conhecimento tradicional aumentaria apenas a participação de órgãos governamentais, mas, na gestão Marina
Silva, diversos representantes de organizações da sociedade civil foram
a eficiência de reconhecer as propriedades medicinais de plantas em
convidados a participar de suas reuniões. O Conselho é vinculado à Secretaria
mais de 400%, e o valor corrente no mercado mundial para plantas de Biodiversidade e Florestas, do Ministério do Meio Ambiente.
medicinais identificadas graças às pistas dadas pelas comunidades
4
Até o momento de redação deste artigo: janeiro de 2004.
Conceito, classificação e manejo pécies e seus habitas naturais. Como resultado, a maioria
de áreas protegidas das áreas de reconhecida beleza cênica e paisagística no
mundo está sob a proteção de Parques Nacionais ou de
O preâmbulo da Convenção das Nações Unidas So-
outras Unidades de Conservação.
bre Diversidade Biológica enfatiza que é essencial para a
A tabela abaixo mostra o número de áreas protegidas
proteção da diversidade biológica a conservação in situ
criadas em determinados períodos no Brasil e no mundo:
dos ecossistemas e habitats naturais e a manutenção e
recuperação de populações viáveis de espécies no seu
(2)
ambiente natural. Áreas protegidas
A Convenção de Biodiversidade define área protegida Período No mundo No Brasil*
como “uma área definida geograficamente que é destinada, Antes de 1900 37 0
ou regulamentada, e administrada para alcançar objetivos 1930-1939 251 3
específicos da conservação”. De forma mais ampla, a Co- 1940-1949 119 0
missão de Áreas Protegidas da União Internacional para 1950-1959 3189 3
a Conservação da Natureza (UICN) conceitua Unidade de 1960-1969 573 8
Conservação (UC) como “uma área de terra ou mar dedica- 1970-1979 131 11
da à proteção e manutenção da diversidade biológica e de 1980-1989 781 58
recursos naturais e culturais associados e manejados por 1990-2000 ** 41
instrumentos legais ou outros meios efetivos” (IUCN, 1993).
Fontes: Reid and Müller, 1989 - Diegues, 1993, Ibama, 2004.
A respeito da conservação in situ, o artigo 8º da Con- *As áreas protegidas registradas na tabela acima referem-se àquelas criadas pelo
venção da Biodiversidade recomenda que cada parte governo federal, não estando incluídas as áreas municipais ou estaduais.
** Não foram encontrados dados precisos referentes à criação de novas Unidades de
contratante deve, na medida do possível: (a) estabelecer Conservação no mundo no período de 1990/2000.
um sistema de áreas protegidas com medidas especiais
necessárias para a conservação da diversidade biológi- A expansão do número de áreas protegidas, especial-
ca. Essas áreas são manejadas para fins diversos, que mente depois de 1970, é explicada pela crescente preocu-
incluem pesquisa científica, proteção da vida selvagem, pação global com a significante perda de biodiversidade e
conservação de espécies e de ecossistemas, manutenção a vasta destruição das florestas tropicais (Diegues, 1993).
de serviços ambientais, turismo, lazer e cultura (Gastal, Outra importante razão para o aumento de áreas protegi-
2002: 34). das no mundo pode ser encontrada na obtenção facilitada
Não há dúvida de que a criação de áreas protegidas, de crédito e no suporte financeiro para projetos de conser-
como Parques Nacionais e Reservas Biológicas, vem vação ambiental fomentados por agências internacionais
sendo reconhecida como de fundamental importância e órgãos de cooperação (Ghimere, 1991).
para a conservação da diversidade biológica no planeta.
Isso significa que a proteção dos recursos naturais está * Subprocurador-Geral da República.
1
concentrada, cada vez mais, em espaços geográficos Este texto é uma adaptação atualizada, inédita em língua portuguesa, de dois
delimitados e reduzidos, onde ainda se mantêm, mais ou capítulos da dissertação de mestrado defendida pelo autor junto à Universidade
de Bristol (Reino Unido), com o título original Legal Aspects of the Presence of
menos dependendo do caso, intocados pelas atividades Traditional Peoples on Protected Areas.
2
humanas (Wilson 1988, apud Brandon e Wells, 1993). Também conhecida como Convenção da Biodiversidade (UN, 1992, ILM,
De fato, as estratégias de conservação biológica têm vol. 31: 818-841), firmada no Rio de Janeiro em 1992, por ocasião da Confe-
rência Global sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, e assinada por 181
consolidado a idéia de se estabelecer um complexo sis- países, dos quais 168 já a ratificaram, incluindo o Brasil, através do Decreto
tema de Unidades de Conservação para proteger as es- Legislativo nº 02/94.
como as áreas protegidas eram (modelo clássico) como as áreas protegidas estão se tornando
trechos de terra “reservados” e administrados com in- com diferentes ecossistemas, geridas com as comuni-
tenção de se proteger dos impactos da população dades locais, para elas e em alguns casos por elas; e
(aceitando mais os visitantes do que as comunidades geridas com objetivos também sociais e econômicos, além
locais). da conservação e da recreação.
criadas com maior ênfase nas aparências do que no fun- estabelecidas por razões científicas, econômicas e cul-
cionamento dos sistemas naturais; relacionam-se mais turais, com justificativas mais complexas; relacionam-se
com os remanescentes e menos com processos e com também com processos e com reabilitação; concebidas
a restauração; implementadas separadamente, uma por como parte de sistemas (nacionais, regionais e interna-
uma, e manejadas como “ilhas”, sem atenção ao entorno. cionais), redes e conjuntos (mosaicos, corredores etc.).
administradas por governos centrais, ou definidas a geridas por vários parceiros (diferentes níveis de gover-
partir desses, manejadas por especialistas em recursos nos, comunidades locais, indígenas, setor privado,
naturais e tratadas como uma atividade tecnocrática. ONGs etc.), com capacidades múltiplas e como parte de
políticas públicas – requerendo sensibilidade, consultas
e decisões astutas.
manejadas de forma reativa,com perspectivas de curto geridas com perspectivas de longo prazo, de forma
prazo, muito voltadas aos turistas e pouca consideração adaptativa, com processos de aprendizagem, com me-
com outros atores sociais (inclusive as comunidades canismos participativos e com atenção voltada também
locais), além de não proceder a consultas e não prestar para as comunidades locais e suas necessidades.
informações à sociedade.
sustentadas pelas instituições públicas (ou seja, indi- sustentação e busca por diferentes fontes de recursos,
retamente pelo contribuinte); vistas como ativos das como complemento à dotação orçamentária; vistas
instituições nacionais, com as considerações nacionais também como um ativo da sociedade e das comunidades
prevalecendo sobre as locais; preocupação e responsa- locais; e ainda como “questão” com responsabilidades e
bilidade exclusivamente nacionais. obrigações também internacionais.
Princípio 1 Princípio 3
Povos indígenas e outros grupos “tradicionais” têm uma intensa relação Os princípios da descentralização, participação, transparência e pres-
com a natureza e um profundo conhecimento a seu respeito. Em geral tação de contas devem ser tomados em consideração em todos os
tais grupos sociais têm contribuído de maneira significativa para a assuntos relacionados com os interesses mútuos das áreas protegidas
manutenção de muitos dos mais frágeis ecossistemas da Terra através e dos povos indígenas e outros grupos “tradicionais”.
dos seus sistemas “tradicionais” de práticas sustentáveis no uso dos Diretrizes: As autoridades, mecanismos e processos de decisão co-
recursos naturais e do respeito à natureza baseado em suas culturas. munitários devem ser reconhecidos e respeitados na legislação e nas
Dessa forma, não se supõem conflitos inerentes entre os objetivos das políticas nacionais – mesmo que isso demande adaptações legais ou
áreas protegidas e a presença de povos indígenas ou outros grupos institucionais. A gestão compartilhada deve ocorrer por meios formais
“tradicionais”, seja no seu entorno ou em seu interior. Ao contrário, que reconheçam os direitos e responsabilidades, como acordos e pla-
estes devem ser reconhecidos como parceiros iguais e de pleno direito nos. Avaliações mútuas de desempenho devem ser encorajadas. Novas
na elaboração e implementação de estratégias de conservação que Unidades de Conservação em áreas indígenas devem ser estabele-
afetam suas terras, territórios, águas, mares costeiros e outros recursos cidas somente com manifestação voluntária de aceitação ou acordo.
ou ambientes naturais, e em particular quanto ao estabelecimento e O estabelecimento de novas áreas protegidas deve incluir pesquisa
gestão de áreas protegidas. participativa, acordos sobre a definição da Unidade de Conservação,
Diretrizes: Onde as áreas protegidas estão sobrepostas a áreas indíge- mecanismos de prestação de contas, implementação compartilhada
nas deve-se procurar acordos entre as partes para estabelecer objetivos de plano de manejo, incluindo outros interessados, mecanismos de
comuns, definir responsabilidades e apoiar a definição da gestão e de resolução de conflitos e ações para o desenvolvimento das capacidades
regulamentos. Deve haver consistência entre os acordos e as políticas das organizações e comunidades indígenas.
nacionais de proteção ao patrimônio natural e cultural. A elaboração de
Princípio 4
planos de manejo e o monitoramento e avaliação dessas áreas deve
incorporar o conhecimento tradicional, juntamente com outros sistemas Os benefícios associados com as áreas protegidas devem ser com-
do conhecimento. Um sistema de áreas protegidas deve considerar partilhados de forma completa e eqüitativa com os povos indígenas e
a ampla gama de objetivos, facilitando o atendimento dos interesses outros grupos “tradicionais”, com o devido reconhecimento dos direitos
de diferentes grupos sociais e garantindo o alcance dos objetivos de de outros atores sociais legitimamente envolvidos ou interessados.
conservação da natureza. Diretrizes: Os governos devem garantir a defesa efetiva dos territórios
contra ameaças externas, apoio e proteção legal, consolidação dos
Princípio 2 territórios, apoio para a gestão das comunidades e ações de capaci-
Os acordos definidos entre as instituições de conservação da natureza tação de longo prazo. Os governos devem implementar sistemas de
e gestão de áreas protegidas e os povos indígenas e outros grupos
“tradicionais” para o estabelecimento e gestão de áreas protegidas
que afetem suas terras, territórios, águas, mares costeiros ou outros
recursos naturais devem ser baseados no completo respeito pelos a comunicação a respeito das áreas protegidas através do mundo – o que
direitos desses povos relativos ao tradicional ou sustentado uso de suas era impossível com os inúmeros sistemas nacionais e subnacionais. Ele é
áreas e recursos naturais. Ao mesmo tempo, tais acordos devem ser baseado sobretudo em diferentes conjuntos de objetivos para cada categoria
baseados no reconhecimento pelos povos indígenas e outros grupos de Unidade de Conservação. Indireta e implicitamente, no entanto, há uma
“tradicionais” de sua responsabilidade na conservação da diversidade gradação em termos da restrição ou permissividade de uso do espaço e dos
recursos naturais (seguindo a seguinte ordem: I, II, III, VI, IV e V). A maioria
biológica, integridade ecológica e recursos naturais existentes nessas das categorias desse sistema internacional de classificação explicitamente re-
áreas protegidas. conhece a possibilidade de sua ocupação ou uso por comunidades indígenas
Diretrizes: O estabelecimento de novas Unidades de Conservação em e locais. O sistema como um todo tem potencial para acomodar uma gama
áreas indígenas deve ser baseado no reconhecimento dos direitos variada de tipos de áreas protegidas, inclusive em relação ao nível de inter-
venção humana, de forma que tanto os direitos dos povos indígenas e outros
coletivos das comunidades a elas relacionadas. Os acordos devem grupos “tradicionais”, como os objetivos de conservação da natureza podem
contribuir para assegurar os direitos dos povos indígenas e definir ser respeitados. (Baseado também no conhecimento do tradutor-autor).
as responsabilidades das partes na conservação da natureza e uso 5
Embora os princípios tenham sido traduzidos, ainda que com alguma liber-
sustentado dos recursos naturais da área. Devem ser respeitados os dade e redução, estas foram relativamente pequenas. Já para as diretrizes,
direitos das comunidades sobre suas áreas, tais como em relação ao assim como para os textos introdutórios e de fechamento, a simplificação
adotada foi bem mais significativa.
uso sustentado, participação na gestão de instituições e autoridades
comunitárias, reivindicação de consentimento previamente informado
A biologia da conservação pode ser considerada uma ecológicos de que são parte”. (ICBP – Conselho
ciência multidisciplinar ou uma área de investigação cujas Internacional para a Proteção das Aves)
teoria e pesquisa estão voltadas para o entendimento e “A totalidade de gens, espécies e ecossistemas
minimização dos fatores que contribuem para a perda da de uma região e do mundo”. (Estratégia Global
biodiversidade. Seus objetivos podem ser sintetizados de Biodiversidade)
como: a) entender os efeitos da atividade humana nas “Diversidade biológica significa a variabilidade de
espécies, comunidades e ecossistemas e b) reintegrar organismos vivos de todas as origens, compre-
espécies ameaçadas ao seu ecossistema funcional. In- endendo, dentre outros, os ecossistemas terres-
corpora disciplinas como a biologia populacional, taxono- tres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos
e os complexos ecológicos de que fazem parte;
mia, ecologia e genética, agregando áreas não biológicas
compreendendo ainda a diversidade dentro de
como legislação, política e ética ambiental, antropologia,
espécies, entre espécies e de ecossistemas”.
sociologia e geografia. Assim, a biologia da conservação (Convenção sobre Diversidade Biológica, artigo 2)
busca determinar as melhores estratégias para proteger
Biodiversidade refere-se ao número de diferentes ca-
espécies raras, conceber reservas naturais (Unidades
tegorias biológicas (riqueza), à abundância relativa dessas
de Conservação em sentido estrito), iniciar programas
categorias (eqüitabilidade) e inclui: a variabilidade ao nível
de reprodução para manter a variabilidade genética e
local (diversidade alfa), a complementaridade biológica
harmonizar as preocupações conservacionistas com
entre habitats (diversidade beta) e variabilidade entre
as necessidades do povo e governos locais (Primack e
paisagens (diversidade gama).
Rodrigues, 2001).
A biodiversidade se manifesta em todos os níveis de
Os primeiros esforços em biologia da conservação
organização dos seres vivos (das células aos ecossiste-
no Brasil se deram nos anos 1960, mas apenas a partir
mas) e diz respeito a todas as espécies (vegetais, animais
da década de 1980 é que se encontram as primeiras
e microrganismos). Portanto, não há um nível considerado
tentativas realmente ancoradas em premissas oriundas
“correto” para se medir a biodiversidade.
da ecologia e das ciências naturais, que definiram uma
Uma alta diversidade se traduz imediatamente em
agenda estruturada de pesquisa e aplicação (Fonseca e
maior número de relações de alimentação, parasitismo,
Aguiar, 1995).
(1)
Soulé (1985) aponta os pressupostos nos quais se simbiose e inúmeras outras formas possíveis de intera-
fundamenta a biologia da conservação. Eles delineiam ções ecológicas. A diversidade é fundamental para que
temas relevantes para esta área de investigação e definem se possam enfrentar as modificações ambientais, pois
muitas das abordagens teóricas e práticas que afetam as quanto maior a diversidade, maior a opção de respostas
Unidades de Conservação (UCs): da natureza a estas modificações (Milano, 2001).
A diversidade de organismos é positiva.
Em 7% do planeta Terra, estão aproximadamente
A extinção prematura de populações e espécies é
50% das diferentes formas de vida. A distribuição dos
negativa. seres vivos no planeta não é homogênea nem estática.
A complexidade ecológica é positiva.
Também não o são a forma e composição da Terra. Ao
A evolução é positiva.
longo do tempo o planeta sofreu alterações que resultaram
A diversidade biológica tem valor em si.
no desenho dos continentes, mares e oceanos que hoje
conhecemos. Os organismos, por sua vez, se movimenta-
Biodiversidade ram na superfície da Terra expandindo ou contraindo sua
área de distribuição, substituindo ou sendo substituídos
Biodiversidade é um termo científico conhecido em
(Ross, 1998).
todo o mundo, mas ainda não é bem compreendido, pos-
suindo diversos enunciados (Lewinsohn, 2001):
* Maria Cecília Wey de Brito é engenheira agrônoma, doutoranda em Ciên-
“A variedade total de vida na Terra. Inclui todos os cia Ambiental pelo Procam-USP.
1
genes, espécies, e ecossistemas, e os processos Citado por Primack e Rodrigues (2001).
tração de florestas a pequenos núcleos mais ou menos Além destas causas, McNeely aponta que
isolados, obrigando os organismos que dependiam destas “a perda da biodiversidade é devida, sobretudo,
florestas a se refugiarem nestas “ilhas” ou “refúgios”. As a fatores econômicos, especialmente aos baixos
regiões da Terra mais distantes do Equador (zonas tem- valores econômicos dados à biodiversidade e às
suas funções ecológicas – como a proteção de ba-
peradas e frias) sofreram mais com o avanço e recuo das
cias hidrográficas, ciclagem de nutrientes, controle
geleiras, enquanto as zonas tropicais guardaram condições
da poluição, formação dos solos, fotossíntese, e
climáticas tais que permitiram a existência destas ilhas, ou evolução – do que depende o bem estar da huma-
refúgios, por longos períodos de tempo. Estas regiões são nidade. Portanto, virtualmente todos os setores da
as mais ricas em biodiversidade no planeta. sociedade humana têm interesse na conservação
A evolução das espécies define a variedade e plura- da diversidade biológica e no uso sustentável de
lidade de seres vivos que encontramos hoje. Sabemos seus recursos biológicos”. (1994: 8)
Referências bibliográficas
BRASIL. SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza,
Lei nº 9.985 de julho de 2.000. Brasília, Ministério do Meio Ambiente,
Secretaria de Biodiversidade e Florestas, Diretoria do Programa
Nacional de Áreas Protegidas, 2000.
BRASIL. Primeiro Relatório Nacional para a Convenção sobre Diversidade
Biológica. Brasília, Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos
Hídricos e da Amazônia Legal, Coordenação Geral de Diversidade
Biológica, 1998.
BRITO, M.C.W.; JOLY, C.A.. “Infra-estrutura para Conservação da Biodiversi-
dade”. In: JOLY C. A; BICUDO, C. E. M. (orgs) Biodiversidade no
Estado de São Paulo, Brasil – Síntese do conhecimento no final do
século XX. São Paulo, Fapesp, v. 7, 1999.
DRAMSTAD, W.E.; OLSON, J.D.; FORMAN, R.T.T. Lanscape Ecology. Princi-
ples in Landscape Archicture and Land-Use Planning. Washington,
Island Press, 1996.
FERNANDEZ, Fernando. O Poema Imperfeito. Curitiba, Editora da UFPR, 2000.
FONSECA, Gustavo A. B; AGUIAR, Ludmila M. de S. “Enfoques Interdisci-
plinares para a Conservação de Biodiversidade. A experiência do
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo
da Vida Silvestre da UFMG”. In: FONSECA, Gustavo A.B; SCHMINK,
Marianne; PINTO, Luiz Paulo S.; BRITO, Fausto (eds.) Abordagens
Interdisciplinares para a Conservação da Biodiversidade e Dinâmica
do Uso da Terra no Novo Mundo. Belo Horizonte, Conservation
International do Brasil, 1995.
FONSECA, Gustavo A. B; SCHMINK, Marianne; PINTO, Luiz Paulo S.; BRITO,
Fausto (eds.). Abordagens Interdisciplinares para a Conservação da
Biodiversidade e Dinâmica do Uso da Terra no Novo Mundo. Belo
Horizonte, Conseravtion International do Brasil, 1995.
FONSECA, Gustavo A. B, et al. Relatório do grupo de trabalho temático: Con-
tribuição para estratégia de conservação in situ no Brasil. Brasília,
Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia
Legal, Programa Nacional de Diversidade Biológica, 1998.
LEWINSOHN Thomas Michael. “A evolução do conceito de biodiversidade”.
http://www.comciencia.br. Acessado em 10/06/2001.
MCNEELY, J.A. “Critical Issues in the Implementation of the Convention on
Biological Diversity”. In: KRATTIGER, A.F.; MCNEELY, J.; LESSER,
W.H.; MILLER, K.R.; HILL, Y.; SENANAYAKE, R. (eds.). Widening
Perspectives on Biodiversity. Gland, The World Conservation Union
and International Academy of Environment, 1994.
METZGER, Jean Paul. “Estrutura da Paisagem e Fragmentação: Análise
Bibliográfica”. In: Anais da Academia Brasileira de Ciências. Depar-
tamento de Ecologia Geral, Instituto de Biociências, Universidade
de São Paulo, 1998.
METZGER, Jean Paul. O que é Ecologia da Paisagem. São Paulo, Biota
Neotropica, vol 1 n. 1 e 2, 2001.
MILANO, Miguel S. “Unidades de Conservação – Técnica, Lei e Ética para a
Conservação da Biodiversidade”. In: BENJAMIN, Antônio Herman
(org.) Direito Ambiental das Áreas Protegidas – o regime jurídico
das Unidades de Conservação. São Paulo, Editora Forense Uni-
versitária, 2001.
PRIMACK, Richard B.; RODRIGUES, Efraim. Biologia da Conservação. Lon-
drina, Gráfica Editora Midiograf, 2001.
RICKLEFS, Robert E. A Economia da Natureza. 3ª ed. Rio de Janeiro, Editora
Guanabara Koogan, 1996.
ROSS Jurandir L.S. (org.). Geografia do Brasil. São Paulo, Editora da Univer-
sidade de São Paulo, 1998.
SILVA, José Maria Cardoso da; TABARELLI, Marcelo. “Tree species impoverish-
ment and the future flora of the Atlantic Forest of Northeast Brazil”.
In: Nature, v. 4, março 2000.
Como você sintetizaria sua trajetória em que o então presidente da República, com a anuência dos
órgãos ambientais do Estado, sobretudo no ministros da Agricultura, Transportes, Interior e Casa Civil,
que diz respeito à criação de Unidades de autorizou a construção de uma rodovia que atravessaria
Conservação? a Ilha do Bananal, no Parque Nacional do Araguaia, para
Bem, eu comecei a trabalhar na seção de Parques escoamento de divisas. Havia uma grande pressão dos
Nacionais do ex-IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvol- fazendeiros do entorno para o uso do Parque para o gado,
vimento Florestal) em princípios de 1968. Fui diretora de o que é absolutamente ilegal. O fogo era anual. Assim, eu
Parques e Fauna Silvestre por 14 anos. Graças a uma não poderia suportar, como Diretora Nacional de Parques,
excelente equipe, foi na minha época que se começou o que começassem a derrocada final do Parque Nacional do
Projeto Tartarugas Marinhas (Tamar), o Centro de Anilha- Araguaia, o primeiro proposto no Brasil, por Rebouças em
mento de Aves Migratórias (Cemave), o Projeto do Peixe 1876. Fui trabalhar na Companhia Energética de São Paulo
Boi Marinho, o de grandes carnívoros, da capivara, do (Cesp) em 1982, no governo Montoro, com Goldemberg,
jacaré, entre outros. No que se refere à criação de UCs, o que foi uma bênção.
até meados da década de 1970, o Brasil possuía somente
um Parque Nacional na Amazônia: o Parque Nacional Quais os principais avanços, lacunas e
da Amazônia, e nenhuma área protegida marinha. Em problemas da Lei do SNUC? E em relação
1979, 1980 e 1981, através do trabalho da diretoria que ao tema das sobreposições?
felizmente eu era a responsável, se criou a maioria dos O que menos gosto na Lei do Sistema Nacional de
Parques Nacionais e Reservas Biológicas da Amazônia, Unidades de Conservação (SNUC) é o excesso de ca-
como, por exemplo, os Parques: Pico da Neblina, Pacaás tegorias de manejo para se atingir os mesmos objetivos.
Novos, Cabo Orange, Jaú e as Reservas Biológicas de A lei do SNUC é de 2000, enquanto desde 1979, com
Trombetas, Lago Piratuba, Guaporé e Jaru. Além disso, a publicação da primeira etapa do plano do Sistema de
foram criados o Parque Nacional da Serra da Capivara na Unidades de Conservação, se propugnava por uma lei.
Caatinga, a primeira reserva marinha do país: Atol das Ro- A primeira minuta foi encomendada à Funatura pelos ex-
cas, e a Reserva Biológica de Una, na Mata Atlântica. Ainda -IBDF e ex-Sema. Depois ela sofreu muitas alterações no
em 1979, o presidente da República aprovou o primeiro próprio Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama),
plano do Sistema Brasileiro de Unidades de Conservação. e outras tantas mais significativas no Congresso Nacio-
Quando fui presidente do Ibama, foram criados o Parque nal, até sua promulgação (Lei nº 9985 de 19 de julho de
Nacional da Serra Geral e cinco Reservas Extrativistas. 2000). O sistema estabelece, no nível federal, categorias
De uma forma ou outra, também participei da criação do de manejo divididas em dois grupos com características
Parque Nacional do Pantanal Matogrossense, da Serra específicas: Unidades de Proteção Integral e Unidades de
da Canastra, da Chapada Diamantina e do estadual de Uso Sustentável, sendo cinco de uso indireto dos recursos
Carlos Botelho, além de muitas RPPNs (Reserva Particular naturais, quais sejam: Estação Ecológica, Reserva Bioló-
do Patrimônio Natural). Mesmo fora do governo, na Fun- gica, Parque Nacional, Monumento Natural e Refúgio de
dação Pró-Natureza (Funatura), conseguimos a criação Vida Silvestre; e sete categorias de uso direto dos recursos
do Parque Nacional Grande Sertão Veredas, no Cerrado. naturais, que são: Área de Proteção Ambiental, Área de
Relevante Interesse Ecológico, Floresta Nacional, Reserva
O que ocasionou sua demissão do IBDF? Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvi-
O Parque Nacional do Araguaia determinou minha mento Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio
saída do IBDF, após 18 anos de trabalho na área, isto por- Natural. Muitas categorias de manejo têm objetivos bem
O processo de ocupação não-indígena da região de entorno do Parque como enfoque principal a criação de gado. Para se ter uma idéia, a
Indígena do Xingu remete aos anos 1940, quando o governo de Getúlio Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, ONG que
Vargas criou a Marcha para Oeste. Seu objetivo era desbravar uma presta serviços ao Funbio e à ONU, revela que até 1985 foram aprova-
parte do Brasil, até então desconhecida e isolada do contexto nacional, dos pela Sudam 950 projetos em toda a Amazônia. Desses, 631 eram
e realizar obras de infra-estrutura para permitir sua ocupação por não- de pecuária. Além disso, 44% dos créditos da Sudam eram destinados
-índios e integrar economicamente o Centro-Oeste às regiões Norte e a essa atividade, somando US$ 700 milhões até 1985. No total, o
Sul. Paralelamente, o governo organizou a Expedição Roncador-Xingu, governo financiou a compra de 8,4 milhões de ha de terras em toda
cuja missão era abrir o caminho e realizar o reconhecimento das áreas a Amazônia, sendo que o tamanho médio das fazendas beneficiadas
ocupadas pelos povos indígenas. A expedição era subordinada à Fun- pela Sudam era de 24 mil de hectares.
dação Brasil Central (FBC), criada no mesmo ano, 1943, cuja meta era Empreendimentos desse porte estavam associados a desmatamentos
estabelecer núcleos populacionais. em larga escala. Para se ter uma idéia, dados do Inpe mostram que a
A partir de 1946, a FBC começou a se instalar na região leste do Mato área desmatada no Mato Grosso passou de 920 mil ha, em 1975, para
Grosso e iniciou-se o trabalho dos irmãos Villas-Bôas, indigenistas 6 milhões de hectares, em 1983.
integrantes da Expedição Roncador-Xingu. A missão dos Villas-Bôas Projetos de colonização
era contatar grupos indígenas que vivessem nos locais onde seriam
O outro eixo da estratégia de ocupação e desenvolvimento da região
implementados os núcleos de desenvolvimento e deslocá-los com
foi a política de colonização, que era dirigida pelo Incra e contava com
o objetivo de protegê-los das frentes de expansão. Essa missão se
incentivos fiscais da Sudam. Essas iniciativas foram implementadas nas
estendeu pela década de 1950 e início dos anos 1960, sendo acom-
décadas de 1970 e 1980, destinadas ao assentamento de pequenos
panhada por uma forte campanha para demarcar e proteger as Terras
produtores do Sul, para a produção de lavouras alimentares (arroz,
Indígenas da região, com forte oposição do governo do Mato Grosso
milho e mandioca) e o desenvolvimento da pecuária bovina.
e dos fazendeiros do estado. A demarcação do Parque Indígena do
Xingu aconteceria em 1961. Os projetos de colonização, principalmente os de caráter privado,
tornaram-se marcos importantes na formação de muitas cidades. A
A Sudam e os grandes empreendimentos
organização dos trabalhadores rurais e pequenos proprietários do
Logo após o Golpe Militar de 1964, o presidente Castello Branco Rio Grande do Sul em torno das cooperativas era um padrão de co-
instituiu a Operação Amazônia, estratégia que visava introduzir um lonização na região. O grande atrativo eram os lotes de 400 hectares
modelo de desenvolvimento econômico na região, com base em que recebiam. No Rio Grande do Sul, o tamanho médio da pequena
obras de infra-estrutura – como a abertura de rodovias –, incentivos propriedade era de 2,5 hectares. Mas se essa estratégia garantiu o
fiscais e créditos à iniciativa privada. Entre as diretrizes estabelecidas, sucesso dos colonos pioneiros, o mesmo não se repetiu com os que
merece destaque a criação da Superintendência de Desenvolvimento vieram depois, pois não se repetiu o incentivo expressivo do governo
da Amazônia (Sudam), em 1966, que até o final dos anos 1980 seria o federal. Empobrecidos e com dívidas dos empréstimos, a maioria
principal norteador da ocupação da região a leste do Xingu por grandes dos colonos desistiu do projeto, voltando para suas terras de origem
projetos agropecuários. ou tornando-se assalariados nas áreas próximas. Esses pequenos
Além da Sudam, outros programas federais foram implantados na produtores acabaram vendendo seus lotes para os grandes proprie-
região, como o PoloAmazônia (em 1966), a Superintendência de De- tários. Assim, no final da década de 1970, os projetos de colonização,
senvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco – em 1967), o Programa de muitos deles malsucedidos, já começavam a ser pressionados pelos
Integração Nacional (PIN – em 1970), o PoloCentro (em 1975) e o Po- grandes empreendimentos agropecuários da região, que buscavam
loNoroeste (em 1981). O governo federal viabilizou ainda a construção comprar novas áreas para a sua expansão, contando ainda com os
da rodovia BR-163, fator decisivo para a formação de várias cidades financiamentos concedidos pela Sudam.
a oeste do Parque Indígena. Em 1977 aconteceu a divisão territorial
e administrativa do antigo estado do Mato Grosso, que deu origem ao
estado do Mato Grosso do Sul.
O sistema de estímulo ao latifúndio agropecuário funcionava basi-
camente por meio de financiamentos concedidos pelo governo para
empresas que estavam dispostas a ocupar e produzir na região, tendo * Jornalista e colaborador do ISA.
Nos últimos trinta anos, os “índios” no Brasil deixaram regiões Nordeste, Leste e Sul do país, nas quais primeiro
de ser uma categoria social “em extinção”, meras “víti- se instalaram os colonizadores e onde hoje vive a imen-
mas” dos impactos inevitáveis do desenvolvimento, para sa maioria dos brasileiros. Aí os índios estão confinados
alcançar a condição de importantes parceiros potenciais em terras bastante reduzidas e fragmentadas (40% da
do chamado “desenvolvimento sustentável”. Ocorreu uma população indígena do país, com 1,36% da extensão das
profunda mudança no paradigma sobre o futuro das socie- Terras Indígenas reconhecidas).
dades nativas contemporâneas, devido a um processo sin- Nas regiões Centro-Oeste e Norte (Amazônia Legal),
gular de articulação das demandas indígenas com outros a situação é bastante diferente neste aspecto (60% da
segmentos organizados e emergentes da sociedade civil população, com 98,64% da extensão das terras). Aí es-
brasileira, que teve início nos movimentos de resistência tão localizadas a quase totalidade das Terras Indígenas
democrática à ditadura militar nos anos 1970, com apoio extensas e contínuas.
internacional, e se prolongou, metamorfoseando-se, aos Há exceções em ambas macro-regiões, ou seja, casos
dias de hoje.(1) A história revelou surpresas. Um certo discrepantes no Centro-Sul como, por exemplo, o dos
protagonismo indígena associado aos movimentos de Kadiweu, que contam com expressivos 538.536 ha numa
redemocratização que romperam o ciclo da ditadura mili- região em que as demais etnias (como os Guarani e os Te-
tar resultaram pouco a pouco numa perspectiva otimista rena) ficaram confinadas em microterritórios fragmentados;
sobre o futuro dos índios, expresso num novo patamar de na Amazônia, há casos de confinamento e fragmentação,
direitos formalmente reconhecidos na Constituição Fede- como o dos Mura e parte dos Ticuna, ou contingentes
ral de 1988. Seguiu-se um aumento significativo do ritmo indígenas em cidades, a despeito dos seus povos terem
de reconhecimento de direitos territoriais pelo governo obtido reconhecimento dos seus direitos territoriais de
federal, com a demarcação de Terras Indígenas extensas forma adequada.
e contínuas, sobretudo na Amazônia.(2) Essa diferença básica de padrão de territorialidade,
associada ao jogo de interesses de diferentes atores da
Terras Indígenas e alternativas de chamada “sociedade envolvente”, propicia um elenco bas-
desenvolvimento: oportunidades tante diferenciado de riscos e oportunidades econômicas
desigualmente distribuídas para os povos indígenas no Brasil dos últimos anos. O que
Quando se fala em alternativas e oportunidades eco- importa reconstruir para alguns povos, para outros importa
nômicas para povos indígenas hoje no Brasil, há que se formular. Povos em situação de confinamento em territórios
distinguir duas situações basicamente diferentes, decor- reduzidos ou espaços fechados à circulação tradicional
rentes do padrão de territorialidade: povos que desfrutam têm baixa interface com estratégias ambientalistas, por
de territórios extensos e contínuos, nos quais podem
reproduzir formas tradicionais e neo-tradicionais de ocu- * Antropólogo, coordenador do Programa Rio Negro do Instituto
pação; e povos que vivem em situação de confinamento Socioambiental.
ou descontinuidade territorial, o que os obriga à explora- 1
Esse processo está bem documentado na série Povos Indígenas no Brasil,
publicada desde 1980 pelo Cedi (Centro Ecumênico de Documentação e
ção intensiva dos recursos naturais e a venda da força
Informação) e, a partir de 1996, pelo ISA.
de trabalho. Esta última situação é mais freqüente nas 2
Esse assunto é abordado por Ana Valéria Araújo nesta publicação. (n. e.)
Referências bibliográficas
ALBERT, Bruce & RICARDO, Beto. Etnopolítica e ambientalismo na Amazô-
nia: as organizações indígenas e o desenvolvimento sustentável. 10
Nesse aspecto, não se tem, necessariamente, uma relação linear entre con-
Relatório técnico-científico final do projeto de pesquisa ISA/CNPq/ tato e degradação ambiental nas áreas indígenas (Ver Godoy, Wikie e Franks,
IRD, mimeo, 2002. 1997). Na sua redução da problemática da sustentabilidade ecológica à fixação
_________ . “Associações indígenas e desenvolvimento sustentável na Amazô- local das populações indígenas, os projetos de desenvolvimento etnoambientais
nia brasileira”. In: RICARDO, Beto (org.). Povos Indígenas no Brasil tendem, geralmente, a ocultar a contribuição dos fenômenos de mobilidade
1996-2000. São Paulo, Instituto Socioambiental, 2001, pp. 197-203. sócio-espacial e de acesso a recursos monetários de origem extra-locais na
ALMEIDA, Rubem Thomas. Do desenvolvimento comunitário à mobilização renda indígena (aposentadorias rurais, salários retribuindo atividades locais ou
política: o projeto Kaiowá-Ñandeva como experiência antropológica. não, bem como empreendimentos econômicos urbanos ou de intermediação
Rio de Janeiro, Contracapa, 2001. entre aldeias e cidades) (Cf. Léna, 2000).
O artesanato de arumã ocupa lugar central na vida da Bacia do Içana (Oibi), a Federação de Organizações
dos povos indígenas do Rio Negro. Objetos utilitários Indígenas do Rio Negro (Foirn) e o Instituto Socioambien-
feitos de arumã, tais como tipiti (espremedor de massa tal (ISA), artesãos indígenas hoje vendem sua produção
de mandioca), peneiras, abanos, balaios e cestos de di- diretamente para o mercado em grandes centros urbanos
ferentes formas e tamanhos são peças indispensáveis na como São Paulo e Rio de Janeiro, sem intermediários e
economia de subsistência, principalmente na preparação com valor cultural e ambiental agregados. Esta parceria
de alimentos à base de mandioca. Cestos decorados com representa uma oportunidade econômica inédita para a
ricos desenhos gráficos são comercializados por artesãos região, onde historicamente os povos indígenas foram
Baniwa há décadas. escravizados ou explorados por mecanismos extorsivos,
O arumã tem um papel importante no ciclo de agri- onde caça, pesca e produtos agrícolas e extrativistas (às
cultura e manejo agroflorestal, já que duas das principais vezes explorados de forma não sustentável) eram tro-
espécies de arumã utilizadas no artesanato fazem parte da cados a preços ínfimos por bens industrializados, numa
regeneração natural de florestas em roças e capoeiras. O cadeia de endividamento sem fim. Por esses e outros
arumã também destaca a relação entre gêneros: objetos motivos, Arte Baniwa é um projeto piloto de alto destaque
de arumã são fabricados quase que exclusivamente por no Programa de Desenvolvimento Indígena Sustentável
homens e usados principalmente pelas mulheres no pro- da Foirn para o médio e alto Rio Negro (Ricardo & Fer-
cessamento, cozimento, armazenamento e apresentação nando, 2001).
de alimentos à base de mandioca (farinha, beiju, tapioca). O extrativismo de produtos florestais não madeireiros
Antes da evangelização cristã, o aprendizado das técnicas vem sendo implementado como alternativa econômica
do artesanato de arumã era um elemento fundamental no sustentável e modelo para conservação de florestas
longo período de reclusão e jejum de meninos adolescen- tropicais (Anderson, 1992). Entretanto, a sustentabilida-
tes, culminando no ritual de iniciação masculina. Apesar de de econômica nem sempre resulta em sustentabilidade
abandonarem, como resultado da evangelização, quase ambiental (Hall & Bawa, 1993). Estudos científicos são
todos os elementos rituais e religiosos das cerimônias necessários para determinar padrões de uso sustentável
tradicionais, o artesanato tradicional de arumã foi manti- e desenvolver sistemas de manejo (Nepstad & Schwart-
do praticamente intacto. Nas palavras de Mário, artesão zman, 1992). Embora o projeto Arte Baniwa represente
Baniwa septuagenário do rio Içana, testemunha dessas uma experiência pioneira que oferece benefícios econô-
mudanças culturais: “Nunca podemos deixar o artesanato. micos e culturais, também pode vir a acarretar impactos
Sem o artesanato não podemos viver.” ecológicos e socioeconômicos ainda não completamente
Há décadas, comunidades indígenas da região comer- conhecidos. Por exemplo, o projeto vem provocando
cializam cestaria de arumã para o mercado regional por extração mais constante e intensa de matéria-prima.
meio de diferentes intermediários. Nos anos 1970 e 1980, Estima-se que a venda de cerca de 15.600 peças de
por exemplo, houve grande procura para o artesanato de artesanato entre 1998 e 2002 (Calil, 2002) resultou na
arumã na cidade colombiana de Mitu. Comerciantes (cha- extração de aproximadamente 250 mil talos de arumã nas
mados localmente de regatões) viajavam pela região de
barco comprando artesanato nas comunidades em troca de
bens como anzóis, sal, roupa, sabão etc. Através do projeto * Glenn H. Shepard Jr., Inpa; Maria Nazareth F. da Silva, Inpa;
Arte Baniwa, uma parceria entre a Organização Indígena Armindo Feliciano Brazão, Oibi; Pieter van der Veld, ISA.
xima a foz do rio Ayarí, também de fé predominantemente habitantes da região do igapó vêm explorando alternativas
católica e representando uma minoria política dentro da econômicas para suprir suas necessidades. Dessa forma,
associação indígena Oibi. O quarto grupo social importante o diverso mosaico de ambientes resulta numa distribuição
da região é representado pelos Coripaco, um grupo étnico desigual de recursos naturais importantes entre as comu-
do alto rio Içana encontrado principalmente na Colombia, nidades, tais como terras adequadas para a agricultura,
cujo idioma é uma língua muito próximo ao Baniwa, e cuja recursos de pesca e de produtos florestais, incluindo o
maioria pratica a fé evangélica. Apesar de terem suas arumã. O acesso a recursos escassos e o intercâmbio de
próprias divisões tradicionais, os Coripaco são tratados recursos entre diferentes aldeias é governado por alianças
como uma única fratria dentro do sistema de parentesco de matrimônio, relações políticas e regras tradicionais de
dos Baniwa. hierarquia e parentesco entre as fratrias. O resultado é
A região contém um mosaico de diversos tipos de so- um complexo contexto socioambiental, no qual o mosaico
los e de vegetação (veja Figura 1). O solo predominante de ambientes naturais é sobreposto ao mosaico social
é de areia branca, pobre em nutrientes e pouco propenso de relações econômicas e políticas. De acordo com essa
à agricultura. Nesses solos nasce uma vegetação baixa sobreposição e interdependência de fatores ambientais
conhecida como campinarana e chamada localmente de e socioculturais, a sustentabilidade da exploração de um
caatinga. Na matriz de caatinga ocorrem manchas de flo- recurso como arumã não pode ser abordada somente em
resta de terra firme pequenas e irregulares com solos argi- termos ecológicos.
losos bem drenados e propensos à agricultura indígena. Os
solos argilosos são particularmente escassos no território Arumã: um recurso socioambiental
dos Dzawinai perto da boca do rio Ayarí, onde ocorre uma Arumã, nome de origem Tupi, refere-se a um conjunto
região de lagos e florestas de igapó inundadas sazonal- de espécies de ervas do gênero Ischnosiphon (maran-
mente. Esta região é muito rica em recursos de pesca, táceas) que ocorre amplamente nos trópicos úmidos da
mas quase não tem solos adequados para a agricultura e América. Todas as espécies de Ischnosiphon são ervas
carece de fontes viáveis de arumã. Os Dzawinai e outros com rizoma (caule subterrâneo) que produzem conjuntos
touceira (Mesquita et al., 2003). Nakazono (2000) também Densidade por 100 m2: ~ 21 touceiras
documenta o aumento de mortalidade como resultado de ~ 35 talos maduros
~ 139 talos total
extração excessiva para I. polyphyllus, e recomenda a
retirada de no máximo 50% dos talos. Na fase atual de Resultado de corte total (300 m2): 46 talos cortados
104 talos maduros
pesquisa, experimentos de corte estão sendo implantados
e acompanhados a longo prazo a fim de avaliar o impacto Poapoa em cabeceira de igarapé sem pressão de
de diferentes regimes de corte sobre a sobrevivência e corte (Plot 1)
crescimento das touceiras. Experimentos de plantio tam-
Densidade por 100 m2: ~ 11 touceiras
bém foram implantados e estão sendo continuamente mo-
~ 36 talos maduros
nitorados visando avaliar o manejo agronômico de arumã ~ 75 talos total
e estudar o crescimento e estabelecimento de touceiras
Resultado de corte total (700 m2): 0 talos cortados
(Van der Veld, 2001; Mesquita et al., 2003). Tanto na im- 251 talos maduros
plantação dos experimentos de corte e plantio como nos
censos de populações de arumã, o vocabulário Baniwa
(Tabela 2) está sendo utilizado na classificação dos talos Tabela 4: Halepana (I. obliquus): densidade e
para fins de análises. impacto de corte (Trindade)
Levantamentos ecológicos rápidos foram realizados
Halepana em capoeira sob pressão de corte
em oito arumãzais em ambientes naturais e antropizados
(Plots 5 e 8)
em Santa Rosa e Trindade a fim de documentar de forma
preliminar: (1) tamanho, forma e extensão dos arumãzais; Densidade por 100 m2: ~ 38 touceiras
~ 60 talos maduros
(2) densidade de arumã de diferentes espécies em diferen-
~ 286 talos total (todas classes)
tes condições ambientais; e (3) impacto de corte e capaci-
Resultado de corte total (500 m2): 391 talos cortados
dade regenerativa das touceiras (Shepard et al., 2001). Os
301 talos maduros
levantamentos foram feitos em transectos lineares de 50 x
2m que atravessavam o arumãzal, perpendiculares a um Halepana em cabeceira de igarapé sob pressão de
transecto central de mesmo tamanho. Para cada espécie corte (Plot 6)
de arumã, o número de touceiras e o número de talos para Densidade por 100 m2: ~ 10 touceiras
as diferentes categorias de classificação Baniwa foram ~ 16 talos maduros
quantificados. Os dados do censo permitem comparar a ~ 39 talos total
densidade e a abundância relativas das duas principais Resultado de corte total (400 m2): 27 talos cortados
espécies de arumã em diferentes ambientes (Tabelas 3 65 talos maduros
e 4). Também foi possível observar de forma preliminar o
Halepana em capoeira velha sem pressão de corte
efeito da extração de arumã em touceiras que mostravam
(Plot 7)
evidência de corte (Tabela 5). A relação entre o número
de talos cortados (resultado de exploração passada) e Densidade por 100 m2: ~ 24 touceiras
~ 35 talos maduros
o número de talos maduros (que estariam prontos para
~ 123 talos total
serem explorados no presente) oferece uma primeira ava-
Resultado de corte total (100 m2): 0 talos cortados
liação da sustentabilidade dos níveis atuais de exploração
35 talos maduros
nesses arumãzais.
Legenda:
Art 1:Produção de arumã para comércio
Art 2: Produção de arumã p/ uso doméstico
Art 3: Outra produção artesanal
Caça/Pesca: atividades de caça e pesca
Palm: Coleta de frutos de palmeira
Roça 1: Derrubada e queima de roça nova
Roça 2: Manutenção da roça
Alm 1: Preparação de alimentos de mandioca
Alm 2: Preparação de outros alimentos
Casa 1: Construção e manutenção da estrutura
Casa 2: Afazeres domésticos dentro e ao redor
Social: Atividades sociais, religiosas ou de lazer
Doença: Tempo p/ resolver problemas de saúde
Pesq: Participação nas atividades de pesquisa
Figura 4: Uso do tempo em Santa Rosa e Trindade: comparação entre fev/2001 e fev/ 2003
Legenda:
Art 1:Produção de arumã para comércio
Art 2: Produção de arumão p/ uso doméstico
Art 3: Outra produção artesanal
Fora ($): Fora da comunidade p/ atividade econômica
Fora (lagos): Fora da comunidade p/ pescar nos lagos
Caça/Pesca: atividades de caça e pesca na comunidade
Palm: Coleta de frutos de palmeira
Roça 1: Derrubada e queima de roça nova
Roça 2: Manutenção da roça
Alm 1: Preparação de alimentos de mandioca
Alm 2: Preparação de outros alimentos
Casa 1: Construção e manutenção da estrutura
Casa 2: Afazeres domésticos dentro e ao redor
Social: Atividades sociais, religiosas ou de lazer
Doença: Tempo p/ resolver problemas de saúde
Pesq: Participação nas atividades de pesquisa
Objeto Nome Baniwa Talos por peça Peças por ano Talos por ano
Tipiti tirolipi 12-18 4-10 50-180
Atorá tsheeto 0* 10-20 0*
Paneiro dzawithida 0* 5-15 0*
Abano kadoitsipa 10-20 4-6 40-120
Peneira fina (beiju) dopitsi 15-20 2-6 30-120
dopitsi matsokapoka
Peneira grossa (farinha) olopema, 10-12 1-4 10-50
urutu (grande, para massa oolooda 25-50 1-2 25-100
de mandioca)
Urutu (pequeno, para oolooda 5-10 0.5-2 0-20
sabonete, anzol etc.)
Balaio walaya 15-30 0.5-1 10-30
Comatá ttiroli 15-30 0.5-2 10-60
Objetos e embalagens (pirimitsiarona, 5-40
miscelâneas wepone...)
* O atorá é feito de outros materiais como cipó (dapi, okaana) ou miolo de Total, uso de arumã por família 200-700
arumã (poapoa ilirhapi) talos por ano
Comunidade de 10 famílias 2.000-7.000
talos por ano
Tamanhos
Somatório (S) Largura (L) No de talas No de talas No de talos No de talos
dos tamanhos média de por dúzia por talo* por dúzia por dúzia
da dúzia de talas (2S/L) (N) (2S/LN)* segundo
artesãos
37/35/33/30/27/24 372 cm 0,4 cm 1.860 P: 11 (4-23) P: 169 (80-465) P: 150-300
H: 19 (12-33) H: 98 (56-155) H: 100-150
30/28/22/20/18/16 270 cm 0,4 cm 1.350 P: 11 (4-23) P: 123 (59-338) P: 100-200
“Modelo Tok & Stock” H: 19 (12-33) H: 71 (41-112) H: 80-100
* Valor da média dos cálculos (veja Tabela 8); valores mínimo e máximo em parênteses.
Tabela 10: Evolução de produção do projeto Arte Baniwa para Tok & Stock
Arte e conhecimento da vida nossa história de origem é aquela que nasceu para ajudar o
homem baniwa na sua sobrevivência na floresta e, portan-
Entre o povo Baniwa, desde sua origem mitológica,
to, conforme dizem os mais idosos, que a utilizaram desde
esta prática de conhecimento de transformar fibra de
sua origem há milhares de anos, são respostas a partir da
arumã em utilidade indispensável para cozinha e bene-
vivência na prática, que é a forma tradicional baniwa de
ficiamento de mandioca brava, que chamamos hoje em
descobrir e conhecer mais profundamente cada coisa em
língua portuguesa de Arte, é uma herança histórica deixada
seu meio. O arumã pode, mas não vai acabar.
pelo Criador: balaios (walaya), urutus (ooloda), jarro (ka-
Mas como o mundo de hoje está preocupado com
xadadali), comatá (ttiiroli), tipiri (ttirolipi), peneira (dopitsi),
questão de sustentabilidade do meio ambiente e proteção
abano (kadoitsipa), paneiro (dzawithida) e muitos outros
da biodiversidade da Amazônia, a pesquisa da sustenta-
feitos com outro material.
bilidade do arumã foi indispensável e muito importante
A Arte em português significa muita coisa: música,
quando se pensa trabalhar ou explorar espécie que habita
dançar, trabalhar, construir casa etc. A Arte em Baniwa
na floresta, que vai explicar dos detalhes que precisa ser
seria Yanhekethi, que significa “conhecimento da vida
entendida por consumidores, que fazendo manejo, cul-
para sobreviver”.
tivando e utilizando da forma tradicional, a espécie não
Este conhecimento da vida para sobreviver os nossos
antepassados a transmitiam, e fazem ainda hoje, na forma vai acabar.
oral e na prática de geração para geração. Essa transmis- Os próprios produtores também precisam conhecer
são com oralidade e prática era feita pelos pais em casa, e começar praticar esse manejo e plantio da planta. Pois
no trabalho, e existia treinamento específico para homens com o trabalho que agora volta para uso tradicional e mais
e mulheres em jejum, conhecido também como formação intensamente na produção para geração de renda, certa-
e transformação indispensável da adolescência (menino mente isto aumenta uso de mais plantas para produção,
e menina para homem e mulher), pronto para formar a o que pode em longo prazo levar o arumã à diminuição ou
família e enfrentar a vida no mundo. Dessa maneira foi acabar, com o qual os artesãos não concordam, quando
feito para que a arte da vida fosse permanentemente viva se fala assim os deixam um pouco irritados.
e vivida pelo povo. Não podemos mais produzir sem saber antes quem
A “Arte Baniwa” é um projeto que gera renda para vai comprar ou para onde vamos vender os nossos arte-
artesãos diretamente nas comunidades. Atualmente nós sanatos, como trabalhavamos anteriormente, que trazia
temos 218 artesãos trabalhando. Depois que começamos prejuízo e as comunidades não ficavam satisfeitas.
este projeto, no final de 1999, já vendemos 1.759 dúzias O mercado é muito importante. Já faz muito tempo que
de urutus, no total de 21.108 peças para São Paulo. O a arte indígena está no Brasil. Mas nunca foi valorizada
dinheiro que entra diretamente para artesãos já soma algo e muito menos apreciada ou utilizada pelos próprios bra-
em torno de 100 mil reais. No rio Içana, a arte baniwa é sileiros. Missionários, pesquisadores ou comerciantes as
trabalho de quase todos os homens e algumas mulheres, compravam para vender para outros países, museus ou
porque é indispensável para sobrevivência de uma famí- simplesmente como curiosidade, contando história a nosso
lia a presença delas na cozinha e no beneficiamento da respeito como irracionais e do passado. Isto prejudicou e
mandioca brava que é a nossa tecnologia. ainda hoje prejudica. Porque ficamos com essa imagem, e
até de preguiçosos, como afirmam alguns que não aceitam
Sustentabilidade do arumã indígenas como pessoas e como povo.
Classificação e manejo
Esta atividade de amostra e classificação botânica foi
apresentada pelos pesquisadores. As amostras foram co-
lhidas durante a viagem de pesquisa nas comunidades. As
plantas colhidas foram levadas para Instituto Nacional de
Pesquisa da Amazônia (Inpa), no Herbário. O pesquisador
Glenn Shepard fez uma demonstração de como é feito com
as plantas recolhidas no herbário para sua identificação
científica e botânica. Isso para poder explicitar o objetivo da
saída das plantas do local para Manaus. Ouvida e enten-
dida a importância, depois foi feita uma carta autorizando
a classificação e identificação botânica das plantas pelos
artesãos, capitães, lideranças e os participantes em geral
da oficina. As plantas coletadas são aquelas que fazem
parte do processo da confecção, acabamento e armaze-
namento dos produtos feitas com fibra de arumã.
Manejo é uma maneira e atividade muito importante
para preservação das espécies sem tirá-las do seu habitat.
Agronomia é um estudo que se faz para ver possibilidade
de plantar o arumã na roça com objetivo de facilitar a
A Amazônia contemporânea tem sido regida por dife- cesso foi acompanhado de uma dependência crescente
rentes paradigmas de “desenvolvimento”,(1) cujas frontei- dos comerciantes, sobretudo a partir da segunda metade
ras ao mesmo tempo se sobrepõem e estão em confronto do século XVIII.
dinâmico. Para efeito de análise, podemos identificar três: Nesse contexto, antes mesmo da Abolição, a escra-
aquele cuja gesta remonta à ocupação não-indígena na vidão indígena, ou mesmo africana, era menos vantajosa
região e que tem como principal emblema o sistema de do que o esquema do chamado “barracão”. Devido à
aviamento; o que é hoje chamado de modelo predador e dispersão natural dos produtos florestais explorados, os
que está pautado pelo desenvolvimentismo impulsionado “patrões” preferiam estabelecer relações clientelistas com
pelo regime militar; por fim, o modelo socioambiental, moradores ao longo dos rios e igarapés da região, e mantê-
cujo marco fundador remonta a ECO-92 e que procura -los sob controle por meio da dívida. Esse procedimento
associar preocupações sociais e ambientais.(2) Uma série revelou-se muito mais econômico do que a compra de
de conflitos e negociações marca a interação entre essas escravos ou, ainda, a necessidade de recapturar escravos
diferentes matrizes na contemporaneidade, sendo pos- fugitivos.
sível, porém, identificar historicamente seus respectivos Esse modelo, que perdurou durante séculos, acarre-
períodos de formação. tou uma profunda dependência por parte dessas popu-
lações em relação aos objetos manufaturados, uma vez
Personalismo e assimetria sob a égide que elas deixaram de produzir ou controlar a maior parte
do aviamento dos bens necessários à sua reprodução material, inclusi-
O aviamento pode ser sintetizado como uma forma de ve, em certas épocas e lugares, parte dos seus próprios
dominação baseada num código de honra que tem como alimentos. Óleo, balas, pólvora, armadilhas, produtos de
cerne a dívida, de modo que bens materiais e serviços ferro, entre outros, eram obtidos através do aviamento.
são redistribuídos pela classe que detém as riquezas em Outra característica desse sistema é que, no extrati-
troca de fidelidade, trabalho, apoio em casos de conflito, vismo, não era preciso investir trabalho prévio, já que
entre outros. Sua orientação econômica é a extração de os produtos de primeira necessidade eram fornecidos
bens e produtos primários para levá-los aos mercados pelos patrões ou então eram extraídos diretamente da
nacionais e internacionais. O sistema de aviamento pas-
sou a pautar práticas e representações, efetivamente, a
* Geógrafo e sociólogo, é pesquisador do IRD (Institut de Recherche pour le
partir do final do século XVIII. Até então, os missionários Développement).
tinham o controle da força de trabalho indígena. Com a 1
O uso de aspas é justificado não tão somente pelo uso anacrônico da pala-
diminuição do poder conferido às missões – que culminou vra (aplicação a um período em que o conceito não era usado e o fenômeno
não objetivado) mas também por causa da revisão crítica radical da noção,
na expulsão dos missionários por decisão do Marquês
atualmente em curso entre acadêmicos e alguns dos próprios agentes do
de Pombal em 1769 –, foi possível uma atuação mais “desenvolvimento”.
proeminente dos colonos, resultando numa indiferencia- 2
Nenhum destes tipos existe de forma “pura”: às vezes o “modelo predador”,
sob pressão de políticas públicas e da sociedade civil, incorpora elementos
ção crescente das etnias indígenas, que passaram a ser
característicos do assim chamado “desenvolvimento sustentável” (tentativa de
tratadas sob a designação genérica de tapuios. Boa parte acordo entre as forças econômicas e as exigências ambientais); o aviamento
desses grupos foi perdendo paulatinamente as condições dificilmente pode ser encontrado hoje na sua forma histórica, embora os laços
de dependência pessoal estejam se reestruturando de diversas formas e o
para sua reprodução cultural, substituindo inclusive seus
próprio socioambientalismo é levado a incorporar lógicas de mercado cujas
respectivos idiomas pelo uso da Língua Geral. Esse pro- conseqüências são imprevisíveis.
Índios e Parques
Os direitos dos indígenas devem ser plenamente reconhecidos e res- freqüência as invasões de áreas naturais legalmente destinadas à
peitados, mas também necessita sê-lo a riqueza biológica do Brasil. preservação permanente da diversidade e da integridade do patrimô-
Não se pode, em nome de um certo grau de culpa coletiva, assumido nio genético do País, para as quais é previsto que serão “a alteração
pelas gerações presentes, em face dos abusos inaceitáveis do passado, e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer
conceder privilégios descabidos e tolerar atos ilegais, em detrimento utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem
do patrimônio natural da Nação. sua proteção”, conforme estabelecido no artigo 225 da Constituição
Desde o início da colonização portuguesa, os povos indígenas existen- Federal e regulamentado pela Lei no 9.985, de 2000, que instituiu
tes na vasta porção do continente sul-americano, que hoje constitui o o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. Os
Brasil, foram vítimas de agressões, usurpação de terras, escravidão e, parques nacionais e estaduais têm sido especialmente vítimas desses
mais recentemente, freqüente e indesculpável descaso. Sem dúvida, desmandos inaceitáveis, cometidos com o incentivo de determinadas
em épocas passadas, tais tratamentos indignos para seres humanos ONGs, o apoio da Funai e a repetida complacência dos demais órgãos
eram a conduta usual dos colonizadores, tanto nas Américas, quanto governamentais responsáveis.
na África, Ásia e Austrália, e em todas essas regiões fatos profunda- Dentre múltiplos exemplos, que poderiam ser mencionados, destaca-
mente lamentáveis, que hoje nos horrorizam, constam fartamente mos o Parque Nacional de Monte Pascoal, a maior área remanescente
dos registros históricos. Em alguns casos, populações inteiras foram da Mata Atlântica no Nordeste, há anos ocupada e degradada pelos
deliberadamente exterminadas. índios Pataxó; o Parque Nacional do Araguaia, na ilha do Bananal,
No decorrer dos séculos, aos poucos, os direitos dos povos indígenas criado inicialmente com cerca de 2 milhões de hectares e sucessiva-
foram sendo mundialmente reconhecidos e suas ricas e diversificadas mente reduzido para atender a reivindicações dos indígenas; o Parque
culturas passaram a ser respeitadas, estudadas e valorizadas, embora Nacional do Descobrimento, com extraordinária riqueza biológica, criado
possam ainda subsistir eventuais condutas injustas das sociedades, que no sul da Bahia há aproximadamente dois anos e recentemente invadi-
se intitulam civilizadas. Via de regra, porém, desde há algum tempo, do; o Parque Nacional de Superagüi, no litoral do Paraná, ocupado há
o problema na verdade se inverteu, em decorrência de um certo grau anos, sem qualquer solução; e o Parque Estadual da Ilha do Cardoso,
de culpa coletiva assumido pelas gerações presentes, em face dos em São Paulo, preciosidade ecológica em que coexistem diferentes
abusos inaceitáveis do passado. Hoje, são fatos comuns no mundo tipos de ecossistemas da Mata Atlântica. Nestes dois últimos exemplos,
a concessão de privilégios descabidos a populações indígenas e a os invasores sequer brasileiros são e, sim, índios Guarani que falam
tolerância a atos ilegais, muitas vezes, pelo menos no caso brasileiro, espanhol e são procedentes da Argentina.
em detrimento do patrimônio natural da Nação. As áreas naturais sob proteção integral totalizam extensão, que não
A Constituição Federal, em seu artigo 231, reconhece aos índios atinge 5% do território nacional, muito menos portanto do que as terras
“direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam” indígenas, e nelas reside a maior esperança de podermos preservar
e determina que “as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios expressivas parcelas da biodiversidade brasileira, compromisso solene
destinam-se à sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusi- do País ao ratificar a Convenção da Diversidade Biológica. Elas são
vo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos neles existentes”. A rigor, santuários ecológicos de valor inestimável, onde se abrigam os restos
uma interpretação tendenciosa do texto constitucional permitiria admitir- dos ecossistemas naturais da Nação. Protegê-las intransigentemente
-se que qualquer área do território nacional poderia ser considerada é um dever de todos nós.
terra indígena, posto que até o Descobrimento os povos autóctones o Os direitos dos indígenas devem ser plenamente reconhecidos e res-
ocupavam indistintamente. peitados, mas também necessita sê-lo a riqueza biológica do Brasil,
A totalidade das terras destinadas hoje às Reservas Indígenas já hoje em continuado processo de empobrecimento, no qual se inclui a
abarca uma área gigantesca, superior a 10% do território nacional, cuja negligência com que o Poder Público encara a ocupação das nossas
extensão total corresponde a cerca de 3,4 vezes a superfície do estado preciosas unidades de conservação por grupos esparsos da população
de São Paulo. Mesmo assim, repetem-se com alarmante e crescente indígena. [Ibsen de Gusmão Câmara, Agência Estado, 03/09/2003]
O cenário do capítulo que se inicia é caro à consci- relatos e análises de pesquisadores da sua realidade,
ência nacional: a chamada Costa do Descobrimento, no ajudam a verificar que o histórico de tensa relação com o
extremo-sul da Bahia, local dos primeiros encontros entre órgão governamental responsável pela gestão do PNMP
colonizadores portugueses e nativos da América; ali – as- – IBDF, seguido pelo Ibama – e a recente ocupação
sim aprendemos a pensar os brasileiros –, começamos a do PND fazem parte de um quadro mais amplo. Nele
construir-nos como país. vêm se somar espoliação territorial, tensão, também,
Espacializada nessa região de tanta importância sim- com fazendeiros e jagunços da região, convívio nem
bólica para a história do Brasil, a situação apresentada sempre fácil com setores de movimentos de sem-terra,
nas próximas páginas é a da atual coexistência entre, aumento do fluxo turístico regional e da demanda por
de um lado, índios Pataxó em luta por terras e melhores artesanato de madeira, e, sobretudo, uma persistente
condições de vida e, de outro, duas UCs de Proteção In- indefinição quanto à revisão dos limites da TI Barra Ve-
tegral que abrigam alguns dos mais valiosos fragmentos lha, de responsabilidade – administrativamente falando,
florestais da combalida Mata Atlântica brasileira: o Parque considerado o vigente ordenamento jurídico-institucional
Nacional do Descobrimento (PND), criados às vésperas brasileiro – da Funai.
das comemorações dos 500 anos e o Parque Nacional
Monte Pascoal (PNMP), que, de existência mais antiga e Os Pataxó e o Monte Pascoal
controversa que o primeiro, imbrica-se na história Pataxó O PNMP foi oficialmente criado em 1961, com 22.500
recente com maior destaque do que aquele. ha de extensão (Decreto nº 242, de 29/11). Tratou-se do
Os artigos autorais, depoimentos indígenas, fotos, momento culminante de um processo que remonta, entre-
mapas e reprodução de notícias de jornal que o leitor tanto, a 1939 e 1940, quando o governo federal nomeou
encontra a seguir tratam, em suma, tanto de uma gente uma comissão para reconstituir o local e as condições
para quem a insistência na implementação de UCs de precisas em que se deu o “Descobrimento” do Brasil (Maia
Proteção Integral na região em que vive pode ser um es- & Timmers, s/d; Grünewald, 2001: 119-120). Resultou daí
torvo – na medida em que implica limitações ao exercício o Parque Monumento Nacional Monte Pascoal, criado pelo
de seu usufruto da terra –, como de frágeis reservatórios
governo estadual da Bahia em 1943 (Decreto nº 12.729,
de vida natural e beleza cênica que, é possível denunciar,
de 19/04) e que, embora tenha chegado a ser demarcado,
estariam indevidamente invadidos e impactados pela ação
nunca foi de fato implantado – documentos do próprio
humana. Não há dúvida, assim, de que o retrato a seguir
órgão ambiental do governo federal mencionam, por
exibido é de aparente conflito socioambiental: de que lado
exemplo, o fato de toda sua parte oeste ter sido invadida
posicionar-se, dos direitos indígenas ou da proteção da
por plantios de café e cacau na década de 1950 (IBDF,
biodiversidade? A conciliação é possível?
1979 e Ibama, 1995 apud Maia & Timmers, s/d).
Por detrás do dilema, entretanto, um olhar mais atento
Finque-se o “marco zero” de criação do PNMP em
é capaz de encontrar outra coisa como “pano de fundo” do
1939, 1943 ou 1961, fato é que já se encontravam índios
capítulo: umas tantas mazelas que marcam a formação
Pataxó na região antes dele. Pois, apesar das incerte-
brasileira, tais como concentração brutal da posse da
zas que cercam a mais remota história Pataxó – como
terra, desigualdade social e opressão dos setores des-
é comum quando se trata de povos indígenas –, alguns
possuídos, desarticulação de políticas governamentais
de seus capítulos mais recentes parecem não acarretar
setoriais e precariedade do aparato jurídico-institucional
que regula as temáticas ambiental e indígena – em si sós
* Antropólogo e pesquisador do Programa Monitoramento de Áreas Protegi-
e nas interfaces entre ambas. das/Povos Indígenas do ISA, até 2004. Atualmente assessor
Com efeito, as notícias de jornais a respeito dos de políticas públicas da GTZ junto aos Projetos Demonstrativos dos
Pataxó ao longo das últimas décadas, assim como os Povos Indígenas/MMA.
As referências históricas à ocupação indígena na sor do Ibama), relativizada, e algumas áreas de capoeira
região onde se localiza a Terra Indígena (TI) Barra Velha seriam “liberadas” para o uso dos Pataxó (Sampaio, 1996:
remontam a 1816, quando da passagem do viajante Wied- 10-11). Essa alternativa, contudo, não equacionou as de-
-Neuwied pela área (Agostinho, 1981: 71). A instituição mandas produtivas desses índios. A partir da construção
da aldeia de Barra Velha, por ordem do presidente da da BR-101, em 1973, viram-se constrangidos a se engajar
província da Bahia, em 1861, reuniu grupos de Pataxó, periodicamente em atividades econômicas recentemente
Maxacali, Botocudo e Kamakã que aí viveram praticamente implantadas na região ou a migrar para outros locais, pro-
isolados até meados do século XX (Carvalho, 1977), quan- cesso que deu origem a diversos núcleos mais recentes de
do da criação do Parque Monumento Nacional de Monte ocupação pataxó no entorno do Monte Pascoal, tais como
Pascoal, pelo Decreto nº 12.729, de 19/04/1943, assinado Mata Medonha, Imbiriba, Coroa Vermelha, Corumbauzinho
pelo governo da Bahia. A despeito da unidade não ter sido e Trevo do Parque.
implantada, os índios relatam que foram postos marcos Em 1977, perante as constantes reivindicações dos
no local por representantes do Estado, ocasião em que Pataxó, o Departamento de Antropologia da Universida-
se iniciaram os primeiros constrangimentos aos Pataxó. de Federal da Bahia celebrou convênio com a Funai, no
O Parque Nacional de Monte Pascoal (PNMP) foi âmbito do Programa de Pesquisa Povos Indígenas na
criado pelo Decreto nº 242, de 29/11/1961, malgrado as Bahia, para promover estudos de identificação do terri-
reivindicações dos índios ali concentrados – desde então tório tradicionalmente ocupado pelos Pataxó de Barra
referidos unicamente pelo etnônimo Pataxó –, junto ao Velha. Os relatórios resultantes desses estudos (Carvalho,
então Serviço de Proteção ao Índio (SPI), de terem asse- 1977 e Agostinho, 1981) reconheceram a existência, em
gurados seu direitos à terra. Os critérios que nortearam a consonância com a memória social do grupo e com as
sua delimitação ressaltaram a necessidade de “proteção referências históricas disponíveis, de limites bem definidos
do sítio histórico do Monte Pascoal e da preservação de daquele território: os cursos dos rios Caraíva e Corumbau,
uma faixa quase intocada da Mata Atlântica que se estende a norte e sul respectivamente; a costa, a leste; e o Monte
desde as bases da famosa montanha até a costa, onde se Pascoal, a oeste. Segundo estimou Sampaio, “uma real
encontram, igualmente dignos de preservação, alguns dos reconstituição do território dos Pataxó que lhes permitisse
mais extensos e ricos manguezais de todo aquele litoral” retomar seus tradicionais processos produtivos, isto é,
(Sampaio, 1996: 10). aqueles vigentes até 1960, implicaria subtrair ao Parque
cerca de 14 a 16 mil dos seus 22.500 hectares, reduzindo-
O Parque e as atividades produtivas -o apenas às áreas imediatamente em torno e a oeste do
indígenas Monte Pascoal, possibilidade explicitamente colocada
Conseqüência imediata da instalação do PNMP, a como inaceitável pelo IBDF, tanto pela redução drástica
restrição às atividades produtivas dos Pataxó – proibidas da área sob sua administração, quanto pela perda da faixa
nas áreas de ocupação tradicional que, a partir de então, costeira do Parque, valorizada pela presença do que seria
passaram a estar inseridas no perímetro do Parque – pro- o único ecossistema de manguezais associados à Mata
vocou o êxodo de muitas famílias indígenas para outras
áreas. Com a criação da Funai, em 1967, tal proibição
seria, mediante acordo informal com o então Instituto
* Antropóloga, doutoranda em Ciências Sociais da UFBA, analista pericial do
Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF, anteces- Ministério Público Federal na Bahia.
Referências bibliográficas
AGOSTINHO, Pedro. “Condicionamentos ecológicos e interétnicos da locali-
zação dos Pataxó de Barra Velha”. In: BRUNETTI, Almir C. (org).
Homenagem a Agostinho da Silva – Tulane Studies in Romanics
Languages and Literature, v. 10. New Orleans, 1981.
ARRUDA, Rinaldo. “Territórios Indígenas no Brasil: aspectos jurídicos e so-
cioculturais”. In: SOUZA LIMA, A. C. & BARROSO-HOFFMANN,
M. (orgs.) Etnodesenvolvimento e políticas públicas: Funai bases
para uma nova política indigenista. Rio de Janeiro, Contra Capa
Livraria/Laced, 2002.
CARVALHO, Maria R. G. de. Os Pataxó de Barra Velha: seu subsistema
econômico. Salvador, 1977. Dissertação de mestrado. Faculdade
de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA.
CIMI EUNÁPOLIS. Do jeito que o Ibama quer?. Eunápolis, mimeo, 2003.
SAMPAIO, José Augusto L. Breve história da presença indígena no extremo
sul baiano e a questão do território Pataxó do Monte Pascoal.
Salvador, mimeo, 1996.
SANTOS, Carlos Alexandre B. P. dos. Informação n. 15 - DID/FUNAI - Terra
Indígena Barra Velha. Brasília, 1997.
VERDUM, Ricardo. “Etnodesenvolvimento e mecanismos de fomento do
desenvolvimento dos povos indígenas: a contribuição do Subpro-
grama Projetos Demonstrativos (PDA)”. In: SOUZA LIMA, A. C. &
BARROSO-HOFFMANN, M. (orgs.) Etnodesenvolvimento e políticas
públicas: Funai bases para uma nova política indigenista. Rio de
Janeiro, Contra Capa Livraria/Laced, 2002.
WIED-NEUWIED, Maximiliano. Viagem ao Brasil. São Paulo, Melhoramentos,
1958 [1815-17].
A situação do Monte Pascoal é um caso exemplar Terra Indígena (TI). As conseqüências do acordo foram
para tratar da questão da convivência de populações tra- catastróficas tanto para os índios quanto para o meio am-
dicionais com o meio ambiente, muitas vezes abordada biente. Criou-se uma fronteira longitudinal de 30 km entre
de modo equivocado. Desconhecimento, preconceitos e o Parque e as aldeias, cortando florestas e mananciais,
inverdades permeiam este assunto complexo desde bem sem que a raiz do conflito tivesse sido sanada.
antes da criação do Parque Nacional do Monte Pascoal Assim, nas décadas seguintes ao acordo IBDF/Funai,
(PNMP), até em relação à origem e história dos índios as relações conflituosas continuaram a existir. Culminaram,
Pataxó, perpetuando mágoas e mal-entendidos que impe- em agosto de 1999, com a retomada do PNMP e a expul-
diram ações concretas por décadas, com conseqüências são dos representantes locais do novo órgão ambiental
dramáticas tanto para os índios quanto para a biodiversi- do governo federal – o Ibama – pelos índios.
dade da área.
A partir do século XIX, os Pataxó – que comprova- Compromisso pataxó com a conservação
damente vivem nas florestas do extremo-sul da Bahia, do Monte Pascoal
incluindo o Monte Pascoal, há pelo menos trezentos anos
Na visão da maioria dos índios, a questão ambiental
– perderam progressivamente seus territórios tradicionais
sempre foi apenas pretexto para perseguição e explora-
em razão da pressão crescente de fazendeiros de cacau,
ção, em continuidade com o que tinham vivenciado nos
pecuaristas e madeireiros. Em 1951, esses conflitos re-
séculos passados, na sua relação com os não-índios. Do
sultaram num grande massacre dos índios, pela polícia
lado oposto, do ponto-de-vista de muitos brancos, nos
militar da Bahia – evento marcante na história recente
órgãos ambientais e na região, os Pataxó não passam de
dos Pataxó, ao qual voltaremos a nos referir. Dez anos
caboclos “aculturados”, astutos e preguiçosos, tentando
depois, na criação do Parque Nacional (Decreto no 242, de
aproveitar-se de seu estatuto de minoria para conseguir
29/11/1961), as famílias que não tinham fugido da região
vantagens e explorar impunemente os recursos do PNMP.
depois do massacre foram removidas e confinadas numa
Contradizendo esta perspectiva, na retomada do
área arenosa de 210 ha, na beira da praia, imprópria para
PNMP, os Pataxó das aldeias do entorno do Monte co-
agricultura. Voltaram clandestinamente para o PNMP, por
locaram o seguinte: “o Monte Pascoal sempre foi nosso.
razões de sobrevivência: a fim de colher o que sobrava
Queremos preservá-lo e mostrar ao Brasil e ao mundo que
de suas roças, tirar piaçava para artesanato e apanhar
somos capazes de preservar o Parque melhor que o Iba-
caranguejos no mangue. Mas os Pataxó eram continu-
ma”. Até hoje, cinco anos depois, não foram criadas novas
amente perseguidos, e foram várias vezes maltratados
aldeias, nem abertas roças dentro da área do Parque.(1)
pelos guardas do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento
Florestal (IBDF).
Desde então, multiplicaram-se os conflitos, o que obri-
* Biólogo, membro da ONG Associação Flora Brasil (Itamaraju/BA) e consul-
gou o IBDF e a Funai negociarem quanto à divisão da área tor da Diretoria de Áreas Protegidas do MMA; trabalha desde 1999
do Parque em duas fatias longitudinais. Desse modo, a na proposta de gestão compartilhada do Monte Pascoal com os Pataxó.
faixa norte do PNMP, totalizando 8.627 ha, foi cedida pelo 1
Com exceção de um pequeno núcleo na margem esquerda do rio Corumbau,
em janeiro de 2004, devido à pressão de especulação imobiliária do turismo no
IBDF para o uso dos índios (acordo entre Funai e IBDF,
povoado Corumbau e à mudança natural da foz do rio, erodindo sua margem
14/07/1980) e viria, em 1991, a ser homologada como direita.
selvagem”, vivendo espontaneamente em harmonia com estudos detalhados, desde a década de 1950, mostram
a natureza. Trata-se apenas da sobrevivência de uma que populações tradicionais desenvolveram estratégias
população marginalizada e empobrecida material e cul- conscientes para passar a seus descendentes recursos
turalmente em decorrência da colonização. Seus modos conservados. Práticas de recuperação da fertilidade de
tradicionais de uso dos recursos foram inviabilizados pela solos, manutenção de biodiversidade e proteção dos
drástica redução do seu território e pela quase total des- mananciais foram amplamente documentados nos trópi-
truição dos ecossistemas de Mata Atlântica da região onde cos (Colchester, 1993). O autor pondera: “Não há de se
vivem. Destruídos por quem? Não pelos índios. concluir ingenuamente que todos os sistemas tradicionais
Não existe, na verdade, atividade humana que não de usos de recursos são indiscutivelmente sustentáveis
gere impacto – e as populações tradicionais e indígenas e não criticáveis, mas que são muito mais diversificados,
não fogem à regra, mesmo que este impacto seja leve ou complexos e sutis que os implantados por agentes exter-
moderado (Colchester, 1993; Roué, 1996; GTZ, 2003). nos” (Colchester, 1993).(4)
Várias pesquisas mostram que populações tradicionais
pré-históricas causaram a extinção de espécies. Também Redução e degradação do espaço vital
há evidência científica de que populações tradicionais con- Infelizmente, pela destruição ambiental generalizada
temporâneas exploram recursos de forma não-sustentável dos biomas do mundo, com exceção – por enquanto – da
e causam a perda de espécies.(3) Amazônia, e a proporcional redução do espaço vital das
Nesta perspectiva, as atividades dos povos tradicio-
populações tradicionais, essas estratégias seculares
nais e populações indígenas refletem principalmente seus
não têm mais como se manter de forma sustentável.
objetivos individuais e os de suas famílias em curto prazo,
Precisam adaptar-se a um novo e assustador contexto,
podendo levar, se necessário, à superexploração de seus
de sobrevivência em ambientes degradados e espaços
recursos. A sustentabilidade dos recursos dependeria
reduzidos. Qualquer impacto, mesmo leve, deixa de ser
mais da baixa densidade populacional e da deficiência
absorvido pelo ecossistema, quando a densidade popu-
de aparato tecnológico do que de atitudes conscientes
ou mecanismos culturais endógenos. O desaparecimento
de recursos naturais, considerados inesgotáveis, seria
atribuído mais a fatores “metafísicos” do que aos próprios
3
Especialmente pela caça, mas, mesmo o uso de produtos florestais não-
-madeireiros afeta o ambiente: a coleta excessiva de certos frutos leva à
atos (Olmos et al., 2001).
escassez, afetando provavelmente também populações de animais frugívoros
Não cabe, no entanto, numa visão preconceituo- que dependem deles (Arnt, 2000; Olmos et al., 2001).
sa, atribuir às populações tradicionais apenas atitudes 4
Vale ressaltar sistemas de classificação do ambiente muito precisos e a alta
diversidade de plantas e frutas cultivadas por populações indígenas (mais de
inconseqüentes decorrentes de visão restrita. Vários
quarenta espécies de mandioca e um número ainda maior de milhos).
1
Processo nº 08620.001411/2001, publicado no DOU em 11/03/2002.
Edvaldo Brás Pataxó* – cacique da aldeia Corumbau- José Ferreira** - Cacique da aldeia Barra Velha
zinho
O que o sr. tem a dizer sobre a gestão
Qual a sua opinião sobre essa disputa compartilhada?
envolvendo o Ibama e a luta de vocês, O que estou vendo é que muita coisa mudou para
pela demarcação do Monte Pascoal? melhor! E outras coisas ainda precisam melhorar. O Ibama
Na minha opinião, eu entendo que é uma área indíge- prometeu fazer roça para os índios, para fazê-los deixar
na, que é patrimônio dos nossos antepassados e que hoje de procurar estas madeiras para o artesanato. Mas é tanta
nós estamos aos poucos nos apoderando dessa terra. E gente para um órgão só cuidar, e um tratorzinho só pra dar
o que vejo da parte do Ibama é que ele quer se meter e conta de todo mundo. Então, esse tratorzinho uma hora
continuar com os erros do passado... que esses direitos vai fazer a roça de um, e faz, outra hora vai fazer a roça
nunca pertenceram a eles, mas que sempre quiseram de outro e quebra, levando um mês lá parado. Porque o
mandar dentro de uma Terra Indígena, fazer o que querem ganho deles aqui é o artesanato. Desde que eles para-
dentro de nossa terra, sem nenhuma comunicação com os ram, estão passando por privações e eu estou sentindo
índios, que são os donos. E, dessa forma, eu nunca achei que se não adiantar mais um pouco para desenvolver as
por bem a proposta do acordo, empurrado goela abaixo roças, eles vão voltar com o artesanato de novo. E esse
pelas autoridades do governo. Na verdade, uma parceria ponto é que eu não quero que aconteça, que eles voltem
nós podemos aceitar. Mas cada um na sua parte. Pois, ao trabalho de artesanato porque se eles voltarem não
dentro de nossas aldeias, só nós é que mandamos. Nós só vão sair mais.
poderemos aceitar qualquer coisa do Ibama ou de qualquer Eu acho que o Ibama e a Funai estão no mesmo barco
órgão combinado com a gente, com as lideranças. Alguma e se escorando um no outro. É aquela história: na casa de
coisa que eles estão fazendo sem o nosso conhecimento duas mulheres uma espera pela outra. Está na hora de
por lá, nós vamos desmanchar. É o que temos visto: pega sentar Ibama e Funai juntos, índios juntos, e procurar ver
uma pessoa, sem o nosso conhecimento, por fora, dá or- o que é que está errado para nós botarmos no caminho.
dens, promete o emprego e ilude alguns. Eu não concordo Para que assim os dois não fiquem esperando um pelo
bem com isso. Porque nós já fomos muito massacrados outro e também que o índio não fique de braços cruzados
pelo Ibama. E, dessa forma, eu não concordo de ter compa- esperando que deus mande do céu o que eles precisam.
nheiros nossos trabalhando para o Ibama, empregados do Ele só manda a chuva, que está caindo.
Ibama, depois de ter passado tanto sofrimento. Queremos, O IBDF não deixava o índio cortar uma vara sequer,
sim, manter a nossa preservação e cuidado no Monte, mas pegar um caranguejo ali no mangue, porque de onde o
coordenado pela Funai, independente do Ibama. Vou falar índio vivia era do mangue, sabe? Cansei de ver o IBDF
a verdade mesmo: o Ibama parece nossos inimigos, pisa olhar e derramar samburá de caranguejo dos índios, e os
em nós, maltrata e engana, feito antigamente, quando batia índios ficarem nervosos com eles. O IBDF queria matar os
nos índios... quando encontrava um índio com uma caça, índios de fome dentro da terra deles, e isso foi levado até
pegava e batia no rosto do índio com aquela caça. Essa Brasília em relatório. O Ibama, hoje, já tem outro sentido,
é a verdade e a dor que marca, e ficou até hoje. Então, é melhor do que o IBDF.
ele fica lá no seu canto, e deixa a gente em nossa terra,
com a ajuda da Funai. E em relação ao desmatamento para atividades
de artesanato?
Então, você acha que a demarcação vai resolver Eu já posso meter o dedo todo dentro do fogo pelo
de vez esse problema? grupo de Barra Velha. Posso dizer para você que se todos
Na verdade, a gente espera que esse relatório de dona estivessem iguais, já tinha era acabado com o problema
Maria do Rosário [referência ao relatório antropológico a de artesanato e desmatamento de madeira. Os índios
ser concluído pelo GT da Funai]..., que foi um relatório que de Barra Velha são o único grupo que não estão mais
nós que pedimos e lutamos por isso; pedimos que fosse mexendo em mata.
dona Maria pois ela é a pessoa em quem confiamos, é do Às vezes vêm pessoas de fora caçar dentro da área,
nosso coração. E, depois que essa terra for demarcada, botar armadilha, tirar madeira de lei escondido, para poder
Capítulos de uma história Também havia o envio mensal de cestas básicas, até que
econômica pataxó a semeadura fosse concluída.
A realidade econômica dos Pataxó resulta de um Nessa época, as atividades agrícolas eram desenvol-
processo histórico conturbado, em que determinadas vidas sem a utilização de nenhum tipo de agrotóxico. A
intervenções estatais tiveram profundo impacto sobre a terra apresentava altos níveis de fertilidade natural, ligada
cultura e a estrutura produtiva pataxó. ao sinergismo dos complexos ecossistemas encontrados
A primeira delas foi a criação do PNMP, em 1961, quan- na Mata Atlântica. Além disso, a biodiversidade de tais
do os Pataxó foram proibidos de plantar e caçar. Assim ecossistemas gerava o habitat ideal para os predadores de
passaram cerca de trinta anos, sobrevivendo de coleta e possíveis pragas. O conhecimento sobre o habitat garantia,
venda de piaçava, às escondidas dos guardas florestais, como esperado, a auto-suficiência alimentar da família
para a vila vizinha de nome Caraíva. As palhas eram troca- camponesa e altos níveis de sustentabilidade.
das por comida, roupas e também por bebidas alcoólicas. A técnica de plantio utilizada era o pousio (descanso).
A rotinização da aquisição desses produtos teve um forte Estruturada no preparo da terra através da queimada
impacto no estilo de vida dos Pataxó, tornando-os muito da mata, tal técnica é extremamente sustentável se não
parecidos a uma comunidade rural pobre e afastando-os há pressão demográfica, ou seja, se o tempo de pousio
da sustentabilidade. possibilitar a recuperação natural da mata nativa. Com
No ano de 1951, registra-se um grande massacre grandes populações, a escassez de terra pode forçar os
– mortes, espancamentos e estupros –, praticado pela agricultores a diminuir o tempo de pousio, o que resulta
Polícia Militar contra os Pataxó. Novamente, sérias con- em um processo de empobrecimento do solo e até de-
seqüências em termos de enfraquecimento cultural e eco-
nômico atingiram o povo nativo: fugindo do massacre, os * Economista formado pela FEA/USP.
Pataxó foram obrigados a esconder sua identidade, com 1
O presente artigo apresenta um panorama histórico e econômico dos Pataxó
com base em um exercício de observação da realidade de suas aldeias atuais,
medo de serem assassinados caso fossem reconhecidos
especialmente a de Barra Velha, durante uma estadia de seis meses. Mesmo
como índios. A alternativa encontrada foi o trabalho nas sem um contato direto com o Ibama, Funai e ONGs que atuam na região, foi
fazendas próximas. Depois de cerca de seis anos nesse iniciada uma ajuda sistemática a algumas famílias e lideranças que buscam
uma melhoria da qualidade de vida do povo pataxó. Comercialização de arte-
estado de dispersão, a aldeia Barra Velha começou a ser
sanato, construção de casas tradicionais, disponibilização de roupas, livros,
reconstituída, embora os Pataxó seguissem sem poder sementes, minhocas, conhecimentos agroecológicos e o estudo supracitado
usar a terra para o plantio e para a caça. marcaram a parceria criada entre o autor e o povo pataxó. O enfoque adotado
pelo estudo privilegiou as práticas agrícolas. Várias informações e idéias que
Foi nos anos 1970, com a ajuda da Funai, que os são apresentadas decorrem de entrevistas realizadas com indivíduos pataxó e
Pataxó retomaram as práticas agrícolas, em escala sufi- com funcionários da Funai e Ibama locais. A conclusão do estudo possibilitou
ciente para abastecer as aldeias. O apoio da Funai, além às lideranças pataxó reafirmarem a necessidade do povo pataxó fortalecer sua
produção agrícola e o processo de transição de modelos agrícolas incentivado
da garantia jurídica de liberdade de uso da terra, consistiu pelo Ibama e, assim reduzirem a extração madeireira para a confecção de
em disponibilizar insumos importantes para o inicio do artesanato.
trabalho: ferramentas em geral – como machado, facão,
2
Modelo agrícola intensivo em insumos industrializados tais como agrotóxicos,
combustíveis fósseis e mecanização erosiva.
enxada e um tacho para o feitio de farinha de mandioca – 3
Modelo tecnológico que seja socialmente justo, economicamente viável e
e sementes de feijão, milho, fava, abóbora, entre outras. ecologicamente sustentável.
Em meados dos anos 1980, os índios aumentaram discussões entre conservacionistas e antropólogos. Num
a pressão sobre as terras do Parque Nacional do Monte dos extremos, estão os preservacionistas ou conservacio-
Pascoal (PNMP). Na ocasião, por meio de um acordo nistas, que defendem a manutenção de áreas exclusivas
tácito entre o hoje extinto Instituto Brasileiro de Desen- para a conservação da biodiversidade. No outro extremo,
volvimento Florestal (IBDF), a Funai e lideranças pataxó, alguns antropólogos e indigenistas que, baseados no ar-
grande parte desse Parque passou a ser considerada gumento de que os índios e outras populações tradicionais
como Terra Indígena (TI), quando se implantou um “pi- têm coexistido com a floresta sem destruí-la, defendem a
cadão” rasgando mecanicamente a floresta e dividindo existência de populações tradicionais, principalmente os
as duas áreas. índios, em qualquer categoria de manejo de UCs (Diegues,
Em 1986, o chefe do PNMP percebeu a intenção dos 1998; Schwartzman, 2001).
índios em tomar toda a área, o que viria a ocorrer em agos- Para permitir um melhor entendimento sobre a ques-
to de 1999, quando o Parque já estava sob a administração tão, é importante construir uma base de informações
do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos que considere: as normas legais vigentes, incluindo o
Naturais Renováveis (Ibama). Todos os prédios (sede, SNUC; a importância das UCs de Proteção Integral para
centro de visitantes etc.) foram tomados pelos Pataxó, in- a estratégia global da conservação da natureza; o que
cluindo os equipamentos e um veículo. Recentemente, no é biodiversidade, sua importância e as possíveis conse-
início de 2004, grupos pataxó que habitam Cumuruxatiba qüências de sua perda; os processos ecológicos operan-
invadiram as terras do Parque Nacional do Descobrimento tes nos fragmentos remanescentes da Mata Atlântica; os
(PND). No município de Pau Brasil, sérios conflitos vêm processos que determinam a extinção das espécies; e
ocorrendo pela disputa de terras entre Pataxó e produtores as implicações das ações dos Pataxó para as UCs no
da região. O Parque Nacional do Pau Brasil até o momento extremo-sul da Bahia.
encontra-se sob a gerência do Ibama, embora já tenha Os índios localizados no extremo-sul da Bahia são os
havido tentativa de um grupo pataxó em se apossar de atuais descendentes dos Pataxó. Entretanto, essa popu-
terras daquele Parque. lação pouco guardou de suas origens. Com uma história
Pretende-se aqui, neste artigo, contribuir para que seja de degeneração cultural e de empobrecimento, corrompe
dada uma solução harmônica para o conflito existente entre e destrói o que defende como seu patrimônio natural, que
índios e UCs, focalizando os conflitos entre os Pataxó e os são as últimas áreas importantes de Mata Atlântica do sul
Parques Nacionais situados na Costa do Descobrimento da Bahia, o PNMP e o PND. Em razão da omissão dos
– para que sejam estabelecidas as condições necessárias Ministérios do Meio Ambiente e da Justiça, do Ibama e da
que garantam a integridade dos ecossistemas envolvidos Funai, instituições promotoras e executoras das políticas
naquelas UCs e para que a população indígena possa
restabelecer condições de vida dignas e manter vivas suas
crenças e sua cultura. * Engenheiro florestal, funcionário do IBDF e Ibama desde 1975, onde,
Esse não é um assunto de simples entendimento nem dentre outras atribuições, foi chefe da Divisão de Parques Nacionais
e do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios
de simples solução, e já vem sendo motivo de calorosas Florestais – Prevfogo.
Uma das principais preocupações ambientais tem Esta situação gera um falso conflito entre ambienta-
sido a conservação da biodiversidade, principalmente em listas, que defendem a proteção da biodiversidade, e os
países como o Brasil, que é uma das mais importantes indigenistas, que trabalham em defesa das comunidades
nações megadiversas do planeta, devido a sua riqueza e indígenas. Na verdade, ambos os segmentos estão en-
a sua dimensão territorial. Como estratégia para isso, tem- volvidos com as duas causas, mas, por falta de políticas
-se adotado a criação de Unidades de Conservação (UCs) públicas comuns e pela postergação de resolução de
ambiental com o intuito de proteger espaços territoriais situações concretas, as divergências de estratégias se
especialmente definidos, onde se encontram determina- tornam mais marcantes.
dos ecossistemas, espécies de fauna silvestre raras e de O que precisa ser revisto é o conceito de área protegida
paisagens e patrimônios naturais de beleza significativa. como sendo destinada exclusivamente à conservação da
O Brasil vem adotando essa política desde os anos biodiversidade e dos recursos naturais, sem a presença
1940, com a instituição de várias outras modalidades de humana. Esta concepção vem sendo contestada, espe-
UCs, que estão definidas na nova lei que estabelece o cialmente em regiões habitadas por populações que, ao
Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC, longo de sua história, vêm tendo um papel fundamental na
Lei nº 9.985/2000) nos níveis de governo federal, estadual proteção dos ecossistemas. O que os torna exploradores
e municipal. Entretanto, muitas dessas UCs não estão dos recursos naturais, em escala maior do que o ecossis-
devidamente implementadas, têm gestão deficiente, re- tema suporta, é a necessidade de sobrevivência e a opção
cursos humanos e financeiros insuficientes e problemas pela inserção no mercado local, altamente demandante de
fundiários não resolvidos. produtos florestais.
Esta questão se torna mais dramática na Mata Atlântica,
As sobreposições e o conceito que está bastante ameaçada e requer um cuidado extra-
de área protegida ordinário para a proteção dos seus 7,5% remanescentes.
A criação de UCs vem se dando muitas vezes sem
uma discussão adequada com a população diretamente O caso Monte Pascoal
envolvida, comprometendo o principal objetivo da medida A necessidade de conservação da biodiversidade da
governamental. As comunidades locais a vêem como uma Mata Atlântica e a importância de se criarem melhores
intervenção indevida, e isso dificulta o entendimento da condições de vida para a população indígena é crucial
importância da conservação dos ecossistemas. O proble- no extremo-sul da Bahia. Nesta região, desde a época
ma se agrava quando a UC é criada em locais habitados da chegada dos colonizadores europeus, vivem índios
por populações tradicionais, em especial por comunidades de várias etnias e que foram identificados como Pataxó,
indígenas. Essas comunidades vêem sua sobrevivência segundo registros datados do século XVIII.
ameaçada devido à “intervenção ambiental”, pois não é A vida em grupo e a constante movimentação estão
dada a elas nenhuma alternativa que viabilize sua vida e entre as características culturais dos Pataxó, as quais fo-
sua cultura em detrimento do uso dos recursos naturais. ram se alterando ao longo do tempo. Com a colonização,
Hoje, no Brasil, existem diversos casos de UCs em foram aldeados e encurralados pela restrição territorial, que
sobreposição a Terras Indígenas (TIs), conforme mos-
trado pela presente publicação. O Poder Público tem se
* Engenheiro, coordenador executivo da ONG Grupo Ambientalista da Bahia
mostrado incapaz de resolver tal situação, tanto de parte (Gambá).
do órgão ambiental como do indigenista. ** Jornalista, assessora de comunicação do Gambá.
Acordo para não desmatar Pataxó decidem desocupar o Parque Desmatamentos preocupam
O Superintendente do Ibama, Célio França, Prevaleceu o poder da persuasão do cacique Os desmatamentos ocorridos no entorno das
em uma reunião realizada com os líderes da Manoel Santana. Depois de invadirem o aldeias pataxó estão preocupando o Cimi. A
reserva indígena dos pataxó combinou com Parque Nacional de Monte Pascoal, os índios devastação acontece em maior escala em
os índios uma operação mútua, no sentido de pataxós deixaram a área pacificamente para propriedades de fazendeiros capixabas que se
que estes parassem de retirar a madeira e, em esperar uma resposta do governo federal à limitam à leste com a aldeia de Mata Medonha,
contrapartida, o órgão ambientalista atenderá fome, miséria e doenças que afligem a tribo. em Sta.Cruz Cabrália, onde ainda restam áreas
algumas necessidade básicas da reserva. Os Pataxós queixam-se da inércia da Funai. remanescentes de Mata Atlântica. (A Tarde,
Ficou acertada a abertura pacífica da estrada (A Tarde, 22/03/1993) 24/11/1995)
da aldeia para os funcionários do Ibama para
que possa haver uma melhor fiscalização. O
Cimi denuncia a expulsão de Pataxó Recuperação do Parque
Ibama se comprometeu reformar uma viatura O Cimi denunciou ontem, através de relatório, Numa parceria entre o Ministério do Meio Am-
da Funai para que ela fique à disposição da a expulsão de índios pataxós do Parque N biente, Ibama e o Grupo Ambientalista da Bahia
reserva indígena, e vai examinar uma solução acional de Monte Pascoal, em conseqüência (Gambá), o Parque Nacional começa a ser
para que a madeira já derrubada pelos índios da devastação ilegal provocada por madeirei- beneficiado pelo Plano de Ação Emergencial,
seja leiloada dentro da própria reserva por ros capixabas em Corumbau, no município do que visa a sua revitalização e busca soluções
preços justos. (A Tarde, 06/03/1990) Prado. (A Tarde, 18/05/1993) para alguns problemas registrados na área (A
Tarde, 21/03/1997).
Desmatamento e fome Índios flagrados extraindo madeira
Mesmo depois do acordo com o Ibama, eles Os índios pataxós estão desmatando nova- Incêndio destrói Parque Nacional
continuam com a prática de promover quei- mente o Parquede Monte Pascoal. O crime Pelo menos 50 ha de Mata Atlântica foram
madas para abertura de áreas para cultivo de ecológico foi descoberto por agentes do Ibama destruídos por um incêndio que começou no
mandioca, retirando antes as madeiras nobres que flagraram três índios extraindo madeira início do mês no Parque Nacional de Monte
e vendendo a preços irrisórios para donos de no interior da reserva. Os índios confessaram Pascoal. O fogo foi provocado pelos índios
serrarias de Itabela e Itamaraju, municípios que usam a matéria-prima na produção de
pataxós. (O Globo, OESP e CB, 10/01/1998)
vizinhos à reserva. Os Pataxó explicam que artesanato. (A Tarde, OESP e CB, 12/11/1993)
vendem a madeira para não morrerem de fome Posseiros e desmatamento
Petrobrás vai proteger o Parque
e criticam a omissão da Funai, que deixa a Pataxós da aldeia Corumbauzinho, no muni-
tribo passar fome e necessidades. (A Gazeta, A preservação e fiscalização dos 14 mil hecta-
cípio de Prado, exigem do Incra a retirada de
18/03/1990) res do parque, que está a cargo do Ibama, vai
famílias sem-terra assentadas na área. Se-
contar a partir dessa semana com a parceria
gundo as lideranças indígenas de Monte Pas-
Madeira apreendida na Bahia da Petrobrás para executar um plano emer-
coal, os posseiros estão devastando a mata e
gencial de três meses. O projeto vai incluir
Seis caminhões carregados com cerca de negociando seus lotes. (A Tarde, 21/11/1998)
um levantamento preliminar para identificar as
100 metros cúbicos de madeira nobre retirada
irregularidades fundiárias da área, o relaciona- Funai X Ibama
ilegalmente do Parque Nacional de Monte Pas-
mento com as comunidades limítrofes, a fauna
coal foram apreendidos pela PF durante uma Já que a ordem é governo brigar contra go-
e a flora da região. (JB, 05/03/1994)
operação encerrada ontem na região. A madei- verno, o Ibama mandou inscrever a Funai no
ra foi cortada pelos índios da Reserva Pataxó, Cadin, o cadastro de caloteiros da União. O
Pataxó ocupam área do Parque da área em patrimônio natural da humanidade Parque ainda é restrito aos índios
pela Unesco (Organização das Nações Unidas
Cerca de 300 Pataxó tomaram ontem o Parque para Educação, Ciência e Cultura). (A Gazeta Na entrada do Monte Pascoal o acesso não
Nacional de Monte Pascoal inconformados e Diário do Comércio, 27/08/1999). é permitido a brancos e estranhos. O local é
com suas limitações territoriais. Segundo fechado com uma corrente, vigiada 24 horas
carta do Conselho de Caciques Pataxó, “é Índios reivindicam posse do Parque por pataxós. A Justiça determinou a desocupa-
impossível falar em comemorações dos 500 de Monte Pascoal ção mas a ordem não foi executada, os índios
anos de invasão de nossa terra sem lembrar temem que ela aconteça após a festa dos 500
Pressionar o governo a ceder aos índios as
do sofrimento e violência contra os povos in- anos. (Gazeta de Alagoas, 22/04/2000)
terras do Monte Pascoal e exigir da Funai a
dígenas até os dias e hoje”. (A Tarde e Diário
constituição de um grupo técnico para realizar Governo quer saída dos Pataxó
do Comércio e Indústria, 20/08/1999)
estudos de identificação e delimitação da TI
Procuradores da República, representantes
Aumenta a ocupação Corumbauzinho foram uma das principais
da Funai, MMA e Ibama se encontrarão em
reivindicações de índios que estiveram, ontem,
Índios pataxós de 14 aldeias localizadas no Brasília para mais uma reunião para discutir os
em Salvador, representando 36 tribos de todo
sul e extremo sul do estado intensificaram direitos dos Pataxós sobre o Monte Pascoal.
o país. (A Tarde, 02/09/1999)
a ocupação da sede da reserva florestal do A reunião deve acontecer dia 24 de outubro
Parque Nacional de Monte Pascoal. Vestidos Impasse preocupa governo da Bahia na 4ª câmara de Coordenação e Revisão da
a caráter, com corpos pintados, portando bor- Procuradoria Geral da República, que trata das
O Governador da Bahia, César Borges, não
duna, tacape e maracá e entoando cânticos de questões ambientais. O Governo quer a saída
está nada satisfeito com a atuação do governo
guerra, mais de 300 famílias se instalaram no dos Pataxó dos limites do parque e o retorno
federal sobre o impasse criado com a invasão
local e ficaram aguardando a chegada da co- do controle administrativo da UC ao Ibama.
de índios pataxós ao Parque de Monte Pas-
ordenadora do Parque, Carmen Florêncio. Os (Gazeta do Povo, 20/10/2000)
coal. Segundo ele, esse problema ganhará
índios fizeram barreiras na entrada da reserva
grandes proporções se o Governo não tomar Pataxó negam sair do Parque
e se revezam na guarda, enquanto aguardam
providências logo. Ibama e Funai tentam che-
famílias que chegam de outro lugares. (A Caciques, lideranças e membros das comuni-
gar a um acordo com os índios, mas no próprio
Tarde, 22/08/1999) dades das aldeias pataxós do Monte Pascoal,
Ministério do Meio Ambiente é reconhecida a
Barra Velha, Meio da Mata, Boca da Mata,
Funai propõe co-gestão dificuldade para solucionar o caso. (Jornal do
Trevo do Parque, Aldeia Nova e Guaxuma,
Commércio, RJ, 03/09/1999)
Representantes de 14 tribos Pataxó, que desde Cahy, Corumbauzinho e Águas Belas negaram
quinta-feira ocupam o Parque do Monte Pasco- Índios mantêm invasão que estejam se preparando para abandonar o
al, deverão responder hoje a contra-proposta Monte Pascoal, ocupado há mais de um ano.
O governo espera que estejam concluídas na
apresentada pela Funai, que inclui a co-gestão Um abaixo-assinado, com cerca de 200 assi-
próxima semana as negociações entre repre-
da área do parque e terras indígenas localiza- naturas, foi divulgado pelos pataxós, depois
sentantes da Funai e o grupo de índios Pataxó
das em seu entorno. A Funai disse ter oferecido de tomarem conhecimento do “Manifesto de
que invadiu, há cerca de duas semanas, a área
um projeto agrícola, além de treinamento (pelo Repúdio às tentativas de negociação do Monte
da reserva ecológica do Parque Nacional de
Ibama) de 40 líderes como guias turísticos e Pascoal”. (A Tarde, 26/10/2000)
Monte Pascoal. (Jornal de Brasília e O Liberal,
na área de fiscalização e controle do parque.
04/09/1999) Ibama tenta evitar que fogo atinja
(A Tarde, 24/08/1999)
Pataxó invadem propriedade no e Luta Pataxó com representantes da Funai, A briga entre índios e fazendeiros por disputa
Incra e Ministério Público Federal (6ª Câmara). de terra, na região do Parque Nacional do Mon-
Prado
Além dos antigos problemas relacionados com te Pascoal, resultou na morte de José Geraldo
Aproximadamente 30 famílias Pataxó fizeram a disputa de terras envolvendo fazendeiros, os Morais, 36 anos, segurança da Associação dos
uma retomada na madrugada de hoje em índios agora estão tentando resolver a questão Fazendeiros. (A Tarde, 11/12/2002)
fazenda na margem do rio Caí, área que es- dos trabalhadores rurais sem-terra assentados
tava sob o domínio do fazendeiro Normando dentro de uma reserva pataxó. (Correio da Mais mortes
Carvalho. (Porantim, 01/09/2002) Bahia, 05/10/2002) O trabalhador rural João Batista de Jesus, 24
anos, foi assassinado à queima-roupa na noite
Índios voltam a ocupar o Parque Vaqueiro é assassinado
do dia 1º de janeiro. João Batista morreu na
Depois que a Justiça Federal de Ilhéus O conflito entre índios e proprietários rurais, hora, vítima de cinco disparos, que o atingi-
concedeu, na semana passada, uma liminar na região do Parque Nacional do Monte Pas- ram principalmente na cabeça. João Batista
Aldeia guarani Pindoty, Pariquera Açu, SP. (Maria Inês Ladeira, 1999)
Valéria Macedo*
Os atuais conflitos decorrentes da presença de co- aqueles que os vêem nas vias e praças públicas, não raro
munidades Guarani em Unidades de Conservação (UCs) sua imagem é associada à mendicância, aculturação, pro-
de Proteção Integral da Mata Atlântica estão inequivoca- veniência estrangeira, falta de higiene e alcoolismo. Sob
mente associados ao histórico da ocupação das regiões esse olhar desavisado, trata-se de uma “cultura invisível”,
Sul e Sudeste do Brasil, que têm como saldo a destruição em contraste com a suntuosa “cultura material” de outros
de cerca de 93% da Mata Atlântica e a expropriação, de- povos indígenas tomados como emblemas da indianidade
sagregação social ou extermínio de boa parte dos povos no senso comum, seja pela configuração de suas aldeias,
indígenas que aqui viviam. Dentre os remanescentes de pela riqueza de sua arte plumária, pela exuberância de
áreas florestadas, menos da metade está protegida por seus rituais, pelas marcas que imprimem nos corpos,
UCs, sendo que muitas destas só foram criadas depois ou por habitarem a longínqua e supostamente intocada
da atuação incisiva de ambientalistas, que conseguiram floresta amazônica, entre outros aspectos.
reverter situações adversas, como a iminência da cons- Na perspectiva dos Guarani, entretanto, é sobretudo na
trução de uma usina nuclear, no exemplo da Juréia, além vida religiosa que vão ao encontro de sua identidade. Can-
da falta de recursos e vontade política na resolução de tos, danças e enunciados sagrados costumam ocorrer coti-
problemas fundiários, entre outros. Nesse cenário, não se dianamente na opy guaçu (“casa de reza”), tendo início no
pode chegar a um bom termo sem relevar a importância poente e podendo durar várias horas. No que diz respeito à
e a história dessas Unidades de Conservação, tampou- cosmologia, cabe destacar o complexo profético-migratório
co sem considerar a trajetória e as particularidades dos da busca da Terra sem Mal (Yvy Marãey), o paraíso aonde
Guarani. para se chegar é preciso atravessar a “grande água” e cuja
paisagem é identificada com formações rochosas e mata.
Tão longe, tão perto Esse é o mote para as migrações de famílias guiadas por
um líder espiritual no sentido Oeste-Leste.
Os grupos Guarani de maioria étnica Mbyá ou Nhan-
Além das migrações, há entre as famílias guarani uma
deva(1) que habitam as regiões Sul e Sudeste do Brasil(2)
grande mobilidade pelas aldeias dispersas nessa região,
(e partes da Argentina, Paraguai e Uruguai) têm um his-
em razão de matrimônios, visitas a parentes, fissões po-
tórico de contato com a sociedade envolvente que pode
líticas, assembléias, trocas econômicas e outras formas
ser caracterizado a um só tempo como muito próximo e
de intercâmbio. Essa notável “capacidade de desterri-
muito distante. Isso porque nunca deixaram de cultivar
sua diferença cultural em relação aos juruá (os “brancos”),
preferindo viver apartados e de acordo com seu teko, seu
modo de ser. Assim, na maioria das aldeias só se fala a lín- * Antropóloga, pesquisadora do Programa Monitoramento de Áreas Protegi-
das/Povos Indígenas do Instituto Socioambiental.
gua guarani no cotidiano, sendo raros os casamentos com 1
Os grupos identificados como Guarani que vivem no Brasil são classificados
não-indígenas. Ocorre que a região em que habitam vem pela literatura etnográfica em três subgrupos: Kaiowá (ou Pai-Tavyterã),
a ser a mais populosa e urbanizada do país. E, sobretudo Nhandeva (ou Xiripá ou Tupi) e Mbyá, com base em diferenças dialetais (da
família lingüística Tupi-Guarani), costumes, localização, histórico do contato,
a partir da década de 1970, com o crescente escassea-
aspectos cosmológicos e rituais (Ladeira, 2003). A localização, a história e a
mento das matas e proliferação das cercas – acentuados conjuntura em que se encontram os Guarani Kaiowá e parte dos Nhandeva
pela especulação imobiliária e grilagem de terras na região que habitam no MS são bastante específicas, de modo que o conteúdo deste
texto, a despeito de fazer menção aos Guarani, refere-se somente aos grupos
litorânea –, boa parte dos grupos guarani passou a habitar
que habitam a região Sul e Sudeste do país.
diminutas áreas (sendo a maioria insuficiente ou inadequa- 2
No Brasil, os Guarani Mbyá e Nhandeva estão nos estados de RS, SC, PR,
da para as atividades tradicionais de plantio, caça e coleta) SP, RJ. Os Kaiowá e grande parte dos Nhandeva também estão no MS (e
Bolívia). Segundo Ladeira, em artigo neste capítulo, no Brasil estima-se que
próximas a centros urbanos e rodovias, onde vendem seu
existam cerca de 20 mil Kaiowá, 8 mil Nhandeva e 7 mil Mbyá.
artesanato e por vezes espécimes da Mata Atlântica. Entre 3
No modelo Tupi-Guarani, a família extensa mbyá é composta pelos filhos e
genros/netos de um homem em posição de pai/sogro (Ladeira e Azanha, 1988).
Em 1998, uma das famílias Guarani Mbyá que estavam no Parque Es- públicos, o meio acadêmico e as ONGs envolvidas. Particularmente, os
tadual da Ilha do Cardoso (Peic) deslocou-se para a Estação Ecológica órgãos públicos que lidam com a questão têm posições, muitas vezes,
de Juréia-Itantins (EEJI), também Unidade de Proteção Integral criada diametralmente opostas.(2)
em área habitada por comunidades caiçaras há mais de um século. A polêmica ocupação humana na EEJI recentemente incrementada com
Apenas pouco mais de 5% da EEJI são de domínio do Estado, passa- o caso da ocupação Guarani se arrasta, novamente, na anomia das
dos quinze anos da data de sua criação. Para encaminhar a questão políticas públicas, deixando que o tempo mais uma vez se encarregue
sobre os Guarani, foram realizadas reuniões entre representantes do destino da população. Enquanto isso, a possibilidade de resolvê-la
de órgãos públicos, como a Secretaria do Meio Ambiente, Ministério vem sendo delineada a partir do conselho consultivo de gestão da EEJI
Público Estadual (Promotoria de Justiça de Iguape e Procuradoria recém-constituído, que conta com a participação de representantes e
Geral do Estado - PGE) e Ministério Público Federal (Procuradoria da lideranças locais.
República de Santos).(1) Foi solicitado ao Instituto de Terras do Estado
de São Paulo (Itesp) a indicação de terras devolutas que pudessem ser
* Membro do Programa Xingu, do ISA, realizou sua pesquisa de mestra-
apresentadas aos Guarani como alternativa na constituição de aldeia.
do em Ecologia na EEIJ.
Porém, a despeito do Vale do Ribeira ser de origem “inteira devoluta”, 1
Representação 08123-03.0100/98-18 e 134012000146/2001-71 na Procu-
o órgão alegou que não havia grandes extensões devolutas vagas ou radoria da República no município de Santos, MPF. Para tal, indicou-se uma
indevidamente ocupadas. ação conjunta entre a PGE e Funai para identificação, avaliação e aprovação
Em 2000, dezoito famílias Guarani Nhandeva, provenientes da TI de áreas devolutas ou particulares, fora da EEJI, com objetivo de criar uma
Bananal (no município de Peruíbe) chegaram à Esec, ocupando o reserva indígena.
2
Segundo a promotora de Justiça Milene Comployer (em apresentação no
Itinguçu, área particularmente crítica em relação a conflitos fundiários
seminário promovido pela PGE-SP “Proteção da Biodiversidade e Populações
desde a década de 1970, e hoje objeto de desapropriação e alvo de Indígenas”, em 02/04/2004), um documento expedido pela Procuradoria da
quadrilhas de palmiteiros. Novas reuniões foram realizadas entre República foi interpretado pela polícia ambiental como proibição de qualquer
aqueles órgãos estaduais e federais preocupados com os possíveis interdição à extração e comércio de palmito-juçara por parte dos índios
conflitos entre índios e posseiros e com o transporte e a venda ilegal na EEJI. Já o Ministério Público Estadual proibiu a extração para além do
de palmito pelos Guarani, os quais vinham sendo ameaçados pelos suficiente para sua subsistência, em razão da exploração de mão-de-obra
indígena pela indústria de beneficiamento de palmito.
palmiteiros, segundo a Funai. Ainda sem solução, este caso tem acir-
rado os conflitos entre moradores, a administração da UC, os órgãos
Este artigo procura traçar a atuação da Fundação espacial, geograficamente delimitada, para o levantamento
Nacional do Índio (Funai), especificamente da Coordena- sistemático de informações primárias, atualizadas, levan-
ção Geral de Identificação e Delimitação (CGID), no que tadas com a finalidade de subsidiar a análise da demanda
concerne a regularização fundiária das Terras Indígenas fundiária, o planejamento e a execução das identificações
Guarani Mbyá, demonstrando primeiramente a divisão e delimitações.
administrativa intitulada Áreas Etnográficas, em seguida o Foram definidas 17 Áreas Etnográficas: I) Brasil Central
Corredor Mbyá e por último as sobreposições entre Terras (Jê); II) Mato Grosso do Sul; III) Paraná/Sul; IV) Corredor
Indígenas e Unidades de Conservação. Mbyá; V) Minas/Bahia; VI) Nordeste; VII) Pindaré/Belém;
A Funai trabalha atualmente com cerca de 612 Ter- VIII) Xingu; IX) Karib/Guiana; X) Madeira/Tapajós; XI) Ro-
ras Indígenas. A extensão total dessas terras alcança raima; XII) Rio Negro; XIII) Solimões; XIV) Juruá Purus;
aproximadamente 106.592.447 hectares, equivalentes a XV) Acre; XVI) Rondônia; XVII) Mato Grosso.
12,52% da extensão do território nacional. A população
indígena soma cerca de, segundo dados da Funai, 400 Corredor Mbyá
mil indivíduos, distribuídos entre 215 etnias, falantes de
A Área Etnográfica IV, denominada Corredor Mbyá,
aproximadamente 170 línguas distintas do idioma oficial.(1)
foi delineada num espaço que abarca parte do território
O procedimento administrativo de reconhecimento
Guarani ao longo de um corredor litorâneo que começa no
oficial das Terras Indígenas está sob orientação da Dire-
estado do Espírito Santo e passa pelo Rio de Janeiro, São
toria de Assuntos Fundiários (DAF/Funai), que, por meio
Paulo, Paraná, Santa Catarina e finalizando no Rio Grande
da CGID, executa a identificação e delimitação de Terras
do Sul. “A característica do contato interétnico nessa faixa é
Indígenas através da criação de Grupos Técnicos, de
bastante variável em suas diferentes latitudes, mas alguns
acordo com o Decreto no 1.775, de 08 de janeiro de 1996.
aspectos lhe são comuns como, por exemplo, a interface
A CGID, atualmente, trabalha administrativamente com a
desse território com pressões da especulação imobiliária
noção de Áreas Etnográficas,(2) cada uma coordenada por
da faixa costeira, a proximidade a áreas urbanas e suas zo-
um antropólogo que executa levantamentos preliminares
nas de expansão; a também proximidade ou sobreposição
e estudos prévios na área sob sua coordenação. Esses
a Unidades de Conservação; os impactos da ampliação da
estudos são definidos por critérios preestabelecidos rela-
BR-101 e a presença da indústria do turismo” (Schettino,
cionados às ameaças à integridade dos povos indígenas
2000: 18). Esse espaço é habitado por cerca de 12 mil
e de suas terras.
Guarani Nhandeva e Mbyá. No ano de 2001 foi realizado
Áreas Etnográficas
O objetivo das Áreas Etnográficas, segundo Schettino
* Carlos Alexandre B. Plínio dos Santos, antropólogo, foi coordenador da
(2000), é sistematizar a compilação de informações preli- Área Etnográfica Corredor Mbyá (CGID/DAF/Funai), até 2003, quando
minares à formação dos GTs, através do levantamento de redigiu este texto.
dados etnográficos em cada situação específica de terras
1
Segundo dados do Instituto Socioambiental são aproximadamente 220 povos,
que falam mais de 180 línguas diferentes (ver website ISA).
a serem trabalhadas e no contexto regional em que essas 2
O conceito de Áreas Etnográficas adotado baseia-se no trabalho do antropó-
terras se inserem. Dessa maneira foi definida uma base logo Júlio Cezar Melatti (1983).
17 Tekohá Anhetete Guarani Nhandeva Ramilândia PR 1.744 163 Homologada, dec. s/nº
D’Oeste de 28/07/2000
18 Guarani Guarani Mbyá Parati RJ 213 18 Registrada. Port. Decl. Parque Nacional
Araponga nº 494 de 14/07/1994. Serra da Bocaina
Dec. de homologação
s/nº de 03/07/1995.
Reg. SPU em 1996
19 Guarani de Bracui Guarani Mbyá Angra dos Reis RJ 2.128 239 Registrada. Port. Decl.
nº 151 de 30/03/1994.
Dec. de homologação
s/nº de 03/07/1995
20 Parati-Mirim Guarani Mbyá Parati RJ 79 95 Registrada. Port. Decl.
nº 437 de 30/06/1994.
Dec. de homologação
s/nº de 05/01/1996.
Reg. SPU em 1996
22 Água Grande Guarani Mbyá Camaqua RS Desapropriada pelo
governo estadual
22 Cacique Doble Kaingang Cacique Doble RS 4.426 569 Registrada. Dec. de
Guarani Mbyá homologação s/nº de
27/03/1991. Reg. SPU
em 1994
23 Campo Bonito Guarani Mbyá Torres RS 25 A Identificar
24 Cantagalo Guarani Mbyá Porto Alegre RS 286 159 Em Identificação
Viamão
25 Capivari Guarani Mbyá Palmares RS 43 15 Registrada. Port. Decl.
do Sul nº 407 de 13/08/1999.
Dec. de homologação
s/nº de 19/04/2001
26 Guarani Barra Guarani Mbyá Maquine RS 2.266 100 Registrada. Port. Decl.
do Ouro Riozinho nº 499 de 10/07/1998.
Sto. Antonio Dec. de homologação
da Patrulha s/nº de 19/04/2001.
Reg. SPU em 2002
27 Guarani de Águas Guarani Mbyá Arambaré RS 230 40 Declarada. Port. Decl.
Brancas nº 104 de 13/02/1996
28 Guarani Votouro Guarani Mbyá São Valentim RS 717 94 Registrada. Dec. de
homologação s/nº de
11/12/98. Reg. SPU
em 2001
29 Guarita Kaingang Tenente Portela RS 23.406 4.700 Registrada. Dec. de
Guarani Mbyá Miraguaí homologação s/nº de
Erval Seco 04/04/1991. Reg. SPU
Redentora em 1994
30 Irapuá Guarani Mbyá Caçapava do Sul RS Em Identificação
31 Nonoai Kaingang Nonoai RS 18.808 3.200 Em Demarcação.
Guarani Mbyá Rio dos Índios Port. Decl. nº 136/69
Planalto
Gramado dos
Loureiros
32 Pacheca Guarani Mbyá Camaqua RS 1.852 20 Registrada. Port. Decl.
nº 304 de 17/05/1996.
Dec. de homologação
s/nº de 01/08/2000.
Reg. SPU em 2001
59 Guarani da Guarani Mbyá São Paulo SP 26 250 Em revisão. Dec. de ho- PES Serra do
Barragem mologação nº 94.223 de Mar e APA Capi-
14/07/1987. Reg. SPU vari-Monos
em 1987
60 Guarani do Guarani Mbyá Mongaguá SP 4.372 48 Registrada. Port. Decl. PES Serra do
Aguapéu nº 411 de 22/06/1994. Mar
Dec. de homologação
s/nº de 09/09/1998
61 Jaraguá Guarani Mbyá São Paulo SP 2 30 Em revisão. Dec. de ho-
mologação nº 94.221
de 14/07/1987. Reg.
SPU em 1987
62 Juréia Guarani Mbyá Iguape SP 0 11 A Identificar. Dec. de ho- Estação Ecológ.
mologação nº 94.222 Juréia – Itatins
de 14/07/1987
63 Krukutu Guarani Mbyá São Paulo SP 26 233 Em revisão. Reg. SPU PES Serra do
em 1987 Mar e APA Capi-
vari-Monos
64 Peruíbe Guarani Nhandeva Peruíbe SP 480 60 Registrada. Dec. de ho-
mologação s/nº de
16/05/1994
65 Piaçaguera Guarani Nhandeva Peruíbe SP 2.795 55 Identificada
66 Pindoty Guarani Mbyá Pariquera-Açú SP 86 A Identificar
67 Ribeirão Silveira Guarani Mbyá São Sebastião SP 948 259 Em revisão. Dec. de ho- PES Serra do
Guarani Nhandeva Santos mologação nº 94.568 Mar
de 08/07/1987. Reg.
SPU em 1987
68 Rio Branco Guarani Mbyá Itanhaém SP 2.856 64 Registrada. Dec. de ho- PES Serra do
Itanhaém Guarani Nhandeva São Paulo mologação nº 94.224 Mar
São Vicente de 14/07/1987. Reg.
SPU em 1998
69 Rio Branquinho Guarani Mbyá Cananéia SP 52 A Identificar
de Cananéia
70 Serra do Itatins Guarani Mbyá Itariri SP 1.212 94 Registrada. Dec. de ho-
mologação nº 94.225
de 14/07/1987. Reg.
SPU em 1987
71 Itaóca Guarani Mbyá Mongaguá SP 533 103 Em identificação
Guarani Nhandeva
72 Kuara Poty Guarani Mbyá Pariquera-Açú SP 12 A identificar
73 Paraíso Guarani Nhandeva Itariri SP 51 A Identificar Estação Ecológi-
ca Juréia – Itatins
74 Peguaoty Guarani Mbyá Sete Barras SP 104 A Identificar PES de Intervales
75 Ypaum Yvyty (Ilha Guarani Mbyá Cananéia SP 30 A Identificar PES Ilha do
do Cardoso) Cardoso
76 Iuty Guaçú Guarani Mbyá Ubatuba SP 19 A Identificar PES Serra do
(Renascer) Mar
77 Uru Ity Guarani Mbyá Itariri SP 59 A Identificar
Miracatu
78 Ereity Guarani Mbyá Cananéia SP 20 A Identificar
79 Xambioá Karajá Araguaína TO 3.326 226 Registrada. Port. Decl.
Guarani Mbyá TD nº 13 de 10/11/1961.
Dec. de homologação
s/nº de 03/11/1997.
Reg. SPU em 1998
Abordar o panorama atual das UCs enquanto áreas e no Paraguai. Essa imensa floresta heterogênea,
que devem ter sua diversidade biológica protegida e com que ocupava uma superfície superior a 1.000.000
propostas para sua conservação, é uma contribuição ne- de quilômetros quadrados, somente no Brasil
(cerca de 12 % da superfície do País),(3) embora
cessária. Por outro lado, destacar o modo de vida tradicio-
hoje muito reduzida e fragmentada, justifica uma
nal indígena como um dos principais fatores de pressão e denominação comum que a considere na sua
impactos em UCs, num cenário em que crimes ambientais totalidade”. (Ibsen de Gusmão Câmara, 1996:18)
impunes são praticados cotidianamente, demonstrando a
Constituindo a segunda maior formação de floresta
inoperância das nossas instituições, é, no mínimo, cons-
tropical da América do Sul, a Mata Atlântica desenvolvia-
trangedor (e estranho).
-se em toda a costa nordeste, sudeste e sul do Brasil,
A nosso ver, quanto mais espaços nos meios de co-
cobrindo terrenos de formação muito antiga, com uma faixa
municação se concedem a essa postura, nos termos em
de largura variável, que em direção ao interior abrangia
que se mantém, mais retrocessos teremos em relação às
formações florestais na Argentina e do Paraguai. “Esta
políticas e ações de conservação ambiental e à uma ética
ampla distribuição geográfica, sobre solos diferenciados,
social. Ao contrário, debates e maior visibilidade deveria
aliada a uma série de formações montanhosas litorâneas,
ser dada à caótica e não resolvida situação fundiária das
cria condições ambientais de diferentes temperatura, in-
UC de uso indireto, tais como os altos valores exigidos
solação, nichos específicos e adaptações decorrentes de
nas ações de desapropriação, a sobreposição de títulos
distintas eras geológicas que fazem dela uma das florestas
privados, o não reconhecimento dos direitos dos seus
de maior diversidade biológica de todo o planeta” (Oliveira
antigos ocupantes e outras questões graves e volumosas
Costa, 1997: 9).
que impedem a implantação dessas unidades.
Sobre o território Guarani:
A Mata Atlântica e a sociedade Guarani: “Antes da chegada dos europeus, a grande
territórios retalhados(2) família, ou a nação Tupi-Guarani ocupava uma
vasta região que, de maneira descontínua descia
As considerações expostas neste artigo não preten- pelas costas do Oceano Atlântico desde a desem-
dem dar conta da realidade complexa das sociedades bocadura do Amazonas até o estuário Platino,
indígenas e da Mata Atlântica no país. Restringem-se estendendo-se rumo ao interior até os contrafortes
andinos, especialmente em volta dos rios”. (Ruben
a alguns aspectos da realidade da sociedade Guarani,
B. Saguier, 1980: IX).
que hoje é a maior população indígena na área de Do-
“Os guaranis ocupavam a porção do litoral compre-
mínio Mata Atlântica. Entretanto, refletem e projetam
endida entre São Paulo e o Rio Grande do Sul; a
situações vivenciadas em outras regiões do continente partir daí, estendiam-se para o interior até os rios
sul-americano. Paraná, Uruguai e Paraguai. As aldeias indígenas
distribuíam-se ao longo de toda a margem oriental
O que dizem as fontes...
do Paraguai e pelas duas margens do Paraná. Seu
Sobre a área de Domínio Mata Atlântica:
“(...) na época do descobrimento do Brasil, uma co-
bertura florestal praticamente contínua, ainda que
muito diversificada em sua constituição fitofisionô- * Antropóloga, coordenadora do Programa Guarani do CTI, mestre em Antro-
mica e florística, estendia-se ao longo da costa, do pologia Social pela PUC de São Paulo e doutora em Geografia Humana pela
Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, com FFLCH – USP.
amplas extensões para o interior, cobrindo a quase 1
Este artigo é baseado em informações advindas de pesquisas e ações realiza-
totalidade dos estados do Espírito Santo, Rio de das em 25 anos de trabalhos do CTI (Centro de Trabalho Indigenista) voltados
Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, além à regularização e conservação ambiental de Terras Guarani.
de partes de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e
2
Por ser minha área específica de conhecimento, as informações sobre a
sociedade Guarani são mais detalhadas do que as relativas à Mata Atlântica.
Mato Grosso do Sul e de extensões na Argentina 3
A extensão precisa seria 1.350.000 km2 (Inpe e SOS Mata Atlântica, 2002).
Parques, Reservas Biológicas, Estações Ecológicas desmatamento, retirada, transporte e venda de palmito,
e outras Unidades de Conservação (UCs) de Proteção orquídeas e bromélias, independente de seu grau de in-
Integral cobrem menos de 5% do território brasileiro, em- tegração e relacionamento com a economia de mercado
bora critérios internacionais recomendem um mínimo de e a sociedade maior. Isto dá carta branca para que toda
10%. Comparativamente, Terras Indígenas ocupam cerca sorte de dano ambiental seja cometido, sem mencionar
de 11% do país, incluindo cerca de 20% da Amazônia. O violações a áreas de domínio público.
estado de São Paulo tem apenas 3% de sua área sob a Quando grupos indígenas ocupam Unidades de Con-
proteção legal (mesmo que não efetiva) de UCs, embora servação de Proteção Integral e iniciam atividades de sub-
13,9% do estado seja recoberto por vegetação nativa (Brito sistência ditas tradicionais, os objetivos das UCs deixam
2000, Zorzetto et al., 2003). de ser cumpridos, já que a agricultura e o uso do fogo
A Mata Atlântica já ocupou o equivalente a 1,35 milhões “tradicionais” podem degradar seriamente os ambientes, e
de km2, mas hoje é um dos biomas mais ameaçados e com a caça e o extrativismo podem afetar a abundância e den-
a maior concentração de espécies em perigo por ter sido sidade populacional das espécies exploradas, causando
reduzida a 7,3% de sua extensão original (Fundação SOS sua extinção ecológica ou mesmo total.
Mata Atlântica & Inpe 2002). A maior parte das florestas Segundo a Constituição Federal: “incumbe ao poder
existentes está em estágio inicial/médio de sucessão público (...) definir, em todas as unidades da Federação,
vegetal, ocupando áreas antes degradadas por desmata- espaços territoriais e seus componentes a serem espe-
mentos ou poluição. Não há Mata Atlântica em excesso, cialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão
especialmente florestas maduras, para podermos dispor permitidas somente através de lei, vedada qualquer
para outros fins que não a conservação de sua biota e utilização que comprometa a integridade dos atributos
serviços ambientais, como o vital abastecimento de água que justificam sua proteção”. A Carta Magna é clara em
das grandes cidades do Sudeste. determinar que a utilização das Unidades de Conservação
O território de algumas UCs paulistas apresenta ou Áreas de Proteção Ambiental só poderá ser feita de
sobreposição parcial ou total com terras ocupadas por modo que não comprometa a totalidade dos atributos que
grupos Guarani ao longo da faixa florestada das serras justificam a proteção desses espaços. É bastante claro
do Mar, Paranapiacaba e Itatins. Esta sobreposição é que populações humanas subsistindo do extrativismo,
resultado de diferentes processos e constitui um dos caçando e convertendo florestas em roças e sapezais
maiores problemas para a conservação da biodiversi- são contraditórias com as finalidades das Unidades de
dade no que é um dos maiores remanescentes de Mata Conservação de Proteção Integral.
Atlântica no planeta. Há pouca esperança de que as UCs na Mata Atlân-
Em contraste ao Sistema Nacional de Unidades de tica ocupadas por “populações tradicionais” abrigarão
Conservação (Lei nº 9985/00), a Constituição Federal sua biodiversidade original no futuro, já que a exploração
(artigo 231) reconhece aos índios o direito de ocuparem
qualquer terra que alegarem ser de ocupação tradicional. *
Biólogo, consultor ambiental [end: Largo do Paissandu 100/4C, 01034-010,
A remoção dos grupos indígenas de suas terras é vedada, São Paulo (SP)].
a menos que haja epidemia ou catástrofe que ponha em **
Bióloga, mestranda do programa de Pós-Graduação em Ecologia de Agro-
risco a população. Além disso, a prática corrente (embora ecossistemas, Esalq-USP, Piracicaba (SP).
***
Biólogo, docente do Departamento de Ecologia da Universidade Estadual
legalmente questionável) é de eximir os índios de qualquer
Paulista [end: C.P. 199, 13506-900, Rio Claro (SP)], e pesquisador do Insti-
tipo de penalização por crimes ambientais, tais como caça, tuto de Biologia da Conservação (IBC), Campinas (SP).
ga
no
o
o
cu
tia
u
observadas.
uc
gi
ur
xa
tin
ca
ja
cu
bu
ac
ei
cu
tu
qu
ja
Os dados nos dão evidências claras que a abundân- e grande quantidade de recursos para os animais (como
cia de mamíferos no Peic é intimamente relacionada à frutos). Essa baixa abundância é provavelmente resultante
distância das habitações humanas mais próximas e que da atividade de caça por caiçaras, de pessoas vindas do
os ocupantes do Parque, tanto índios como caiçaras, têm continente e dos Guarani. Estudos em florestas neotro-
um impacto negativo bastante evidente. A taxa de avista- picais mostram que a caça de subsistência, mesmo em
mentos de mamíferos cinegéticos no Peic é bastante baixa áreas de baixa densidade humana (1 habitante/km2) pode
quando comparada com outras áreas da Mata Atlântica extinguir espécies localmente e reduzir drasticamente
(Tabela 1). Roedores de grande porte como cutias, e os un- (>80%) a biomassa de vertebrados (Peres, 2000). A Ilha
gulados (queixadas, catetos e veados) são extremamente do Cardoso se insere neste padrão.
raros no Peic em comparação a outras áreas. Mesmo áreas Devido à alta produtividade anual de frutos, especial-
altamente fragmentadas (mas sem populações “tradicio- mente de palmeiras em algumas áreas, a Ilha do Cardoso
nais”) possuem maiores abundâncias de mamíferos que poderia abrigar uma abundância de aves e mamíferos
a Ilha do Cardoso, com área bastante superior à maioria muito superior à atual caso fosse controlada a caça por
das UCs da Mata Atlântica. caiçaras, índios e outros invasores. A retirada predatória do
O fato da área de estudo ser uma ilha só agrava a palmito-juçara pelos caiçaras e índios também tem efeito
situação pois, apesar de ser possível a passagem de sinérgico nas populações de aves e mamíferos cinegéticos,
animais terrestres pelo estuário, a taxa de recolonização pois estes na maioria são frugívoros.
das espécies terrestres de Mata Atlântica em ambientes Das espécies cinegéticas amostradas, apenas o bugio
insulares é baixa. Associando-se a caça a esse fato, a (Alouatta guariba) e cutias (Dasyprocta leporina) possuem
chance de permanência das espécies na ilha é reduzida. populações mínimas viáveis na Ilha do Cardoso (ou seja,
É patente o conflito entre a manutenção de populações maiores que quinhentos indivíduos; Franklin, 1980), sendo
humanas no Parque e a biota que este deveria proteger, e que muitas das espécies raras e ameaçadas necessita-
que a UC não está sendo gerenciada de forma a cumprir rão de manejo em um futuro próximo (como jacutingas e
as funções para as quais foi criada. queixadas) se esperamos que o Parque não sofra mais
extinções locais.
Conclusões e proposições É uma demonstração de esquizofrenia social o fato
O Parque Estadual Ilha do Cardoso pode ser consi- dos índios do Peic possuírem auxílio de entidades e
derado uma “floresta quase vazia” (Redford, 1992) devido benefícios da sociedade envolvente, tais como cestas
à baixa abundância de espécies de aves e mamíferos básicas distribuídas regularmente e aposentadorias pelo
cinegéticos, apesar de haver ambiente florestal adequado INSS (dificilmente formas tradicionais de subsistência), e
O viver do Guarani na Mata Atlântica Nós sabemos que é preciso que tenha proteção da
Mata Atlântica, das árvores, dos passarinhos, dos animais
Muitos anos atrás, antes de 1500, não se falava em
que existem nela. Precisa ter cuidado. Mas também tem
território brasileiro, de território da Argentina, de território
que ter cuidado com a vida do Guarani. Porque é na mata
do Paraguai. Antes da colonização era uma única terra
que ocorre a vida do Guarani. Sem a mata ele não conse-
vista pelo Guarani. Ao longo deste processo da coloni-
gue viver. Tem de pensar dos dois lados. Não só defender a
zação portuguesa e espanhola, houve um processo de
parte ambiental mas também preservar a cultura indígena.
mudança no convívio do Guarani. Houve esta divisão
Manter o viver do Guarani.
de país e estado. No interior de cidades, a gente vê que
Hoje nós, Guarani, não temos exploração muito grande
houve uma mudança muito grande nos últimos cem,
da Mata Atlântica. Eu quero dizer bem claro que a gente
cinqüenta anos. Na vida do Guarani também houve mu-
vê no litoral que se houvesse uma lei que protegesse a
dança muito rápida.
natureza não haveria loteamento, aterro poluindo o rio...
A partir da Constituição de 1988 também houve a de-
então são estas coisas que deveriam ser observadas.
marcação da Terra Indígena. Houve movimento. Só que
Não só observar a questão do Guarani na Mata Atlântica.
nessa época só existia pedaço da Mata Atlântica. A gente
Muitas vezes a gente vê em volta da rodovia, da estrada
conhece... no interior de São Paulo, no interior de Minas,
Rio-Santos, que o pessoal tira terra para fazer aterro para
no Rio de Janeiro, Espírito Santo, por toda parte houve
condomínio, hotéis, pousadas... e ninguém fala nada. Isto
destruição da Mata Atlântica. Restou muito pouco para
é porque eles pagam imposto, pagam dinheiro, então eles
o Guarani poder sobreviver. Então há uma necessidade
podem. Agora, o Guarani não tem dinheiro, aí que começa
dos ambientalistas reconhecerem que não são os índios
a crítica, porque ele não oferece nada para ninguém. Mas
Guarani que estão acabando com a Mata Atlântica. Mas
que há, sim, uma necessidade de sobreviver. o Guarani quer sobreviver.
Parece que é o índio Guarani que está acabando com
Tekoa porã
a Mata Atlântica. Mas eu tenho certeza de que isto não é
verdade. Por que hoje eu moro numa reserva que tem 948 Tekoa bom é tekoa porã, onde nós podemos viver
hectares, uma área já demarcada em 1987, e nós temos numa aldeia, viver tranqüilo, com felicidade, sem proble-
rio, nós temos água, nós temos árvore, nós temos vários mas. Ter as plantações de subsistência, milho sagrado,
trabalhos de preservação do meio ambiente. milho do guarani, plantar batata-doce, mandioca, plantar
Na nossa aldeia Ribeirão Silveira temos um projeto de melancia, plantar fumo, erva chimarrão, tudo aquilo para
manejo e reflorestamento de palmito-juçara, palmito açaí, alimentar a população Guarani numa aldeia tekoa. A gente
palmito pupunha. Nós temos um projeto desenvolvido não consegue viver sem a mata, sem uma água boa, um
junto com o Ministério do Meio Ambiente. Conseguimos rio. Se um dia acabar com a Mata Atlântica... acaba a vida
um recurso no Ministério do Meio Ambiente. Nós estamos do Guarani e também do não-Guarani. Isto é que tem de
fazendo o plantio do palmito. Não só de palmito, também ser entendido. Hoje a gente quer ter felicidade, viver tran-
espécies de helicônia, várias espécies de plantas nativas... qüilo, viver na aldeia, cuidar das crianças, cuidar da roça,
Hoje nós temos viveiros organizados onde produzimos cuidar da casa, manter nosso jeito de viver.
mudas, sementes para reflorestamento e também comer- Quando índio Guarani caça alguma coisa o homem
cialização.(1) branco já pensa que o Guarani está acabando com a
caça. Quem realmente acabou? Esta pergunta fica: quem
Cuidados com a vida realmente acabou com a mata, quem realmente acabou
O Guarani se fortalece culturalmente na mata virgem. com as caças, com os pássaros, exploração de minérios,
Nós, Guarani, conhecemos muito sobre a Mata Atlântica, águas... onde teve grandes indústrias? O Guarani nunca
identificamos as árvores, identificamos os pássaros, iden- teve essas coisas. O Guarani quer um pedaço de terra
tificamos os animais que vivem nelas. Existem remédios
naturais. Nós conhecemos muitas coisas, segredos da
natureza. 1
Sobre este projeto, ver artigo de Maurício Fonseca.
Para traduzir no cotidiano as diretrizes traçadas no plano de manejo, além da atuação de pes-
quisadores e funcionários, a administração conta com duas instâncias fundamentais: o comitê de
apoio à gestão (que inclui representantes das comunidades caiçaras) e o grupo interinstitucional
(voltado para a questão indígena).
Em que contexto você passou à diretoria Qual tem sido o papel do Comitê de Apoio
do Parque? à Gestão do Parque?
Eu fui convidado a administrar o Parque Estadual Nosso comitê segue na íntegra os anseios do SNUC,
Ilha do Cardoso em virtude dos trabalhos de manejo de na medida em que busca dar uma inserção regional às
recursos naturais e envolvimento com comunidades que Unidades de Conservação e um comprometimento da
fazia na região desde o final de 1992. Assumi o cargo população local. A partir do momento que se tem esse
em 97, numa situação muito favorável. Primeiro, porque conselho, as decisões, muitas delas de cerceamento de
havia recursos, pois estávamos sendo beneficiados com atividades por se tratar de uma UC, não recaem apenas
o PPMA (Projeto de Preservação da Mata Atlântica); sobre o diretor, o que resulta em um nível de gestão com-
segundo, tinha sido iniciado o processo de elaboração partilhada e, portanto, muito mais respaldada. Inclusive,
do Plano de Gestão Ambiental, que é a primeira fase do houve vários casos em que a minha opinião individual
Plano de Manejo. era diferente daquela decidida pelo comitê e a decisão
coletiva foi seguida.
Como foi o processo de confecção do Plano A composição do comitê inclui um representante de
de Manejo? cada comunidade da Ilha: Itacuruçá, Camboriú e Foles,
O processo seguiu uma metodologia em fases. Pri- Marujá, Enseada e Pontal; entidades governamentais: o
meiro foi feito o Plano de Gestão Ambiental, basicamente Parque, o Ibama, a prefeitura de Cananéia, a Câmara,
com a sistematização de dados secundários e oficinas o Instituto de Pesca e a Polícia Ambiental; não-governa-
com comunidades locais e entidades que interagiam com mentais: SOS Mata Atlântica, Gaia Ambiental, Pastoral
o Parque. Esse processo começou em 1997 e foi forma- dos Pescadores e Colônia dos Pescadores. Todos esses
lizado em 1998, quando foram estabelecidas diretrizes atores são comprometidos com a Unidade, o que é um
gerais e prioridades. Passamos os anos de 1999 e 2000 agente facilitador; além do fato de termos recursos e o
só implementando e monitorando a situação do Parque Plano de Manejo.
por meio de relatórios bimestrais. Em 2000 começamos
a discutir o Plano de Manejo novamente, com base em Desde que você assumiu a diretoria do
todo o conhecimento prático acumulado na primeira fase Parque, como tem sido sua atuação em
e o complemento de informações primárias. relação aos Guarani?
Eu acho essa dinâmica ideal: elaborar uma proposta, Em 1995, 1996, foi realizada uma Audiência Pública
colocá-la em prática, monitorá-la, calibrá-la e chegar a um aqui em Cananéia na qual foi definido pela Procuradoria
documento, que terá que ser revisto. O Plano de Manejo Geral da República que os índios tinham direito de perma-
foi aprovado em 2001 pelo Consema (Conselho Estadual necer na Ilha do Cardoso. A partir desse pressuposto, e
de Meio Ambiente) e, em 2006, será atualizado. É bem ainda com o Plano de Gestão Ambiental no forno, quando
diferente de um Plano de Manejo elaborado por uma assumi, em 97, pensei em montar um Grupo Interinstitu-
firma de consultoria contratada. A maioria dos técnicos cional para discutir a questão indígena no Parque. Para
tem receio quando se fala de Plano de Manejo, parece isso, convidei o CTI (Centro de Trabalho Indigenista), a
que será uma bíblia que terá que ser seguida ad eternum. Funai, a comunidade guarani, e a idéia era chamar mais
Existe um mito de que é preciso chegar num documento atores. Ainda em 1997, fizemos algumas reuniões para
ideal. Mas eu discordo, para mim os Planos de Manejo discutir como seria esse grupo e, em 1998, formalizamos
devem ser dinâmicos e toda Unidade de Conservação tanto o Grupo Interinstitucional como o Comitê de Apoio
deveria ter um. à Gestão.
Os índios não têm assento no Comitê de Apoio à O que você diz a sua atuação junto aos
Gestão? Guarani em relação à conservação,
A Funai, num primeiro momento, chegou a exigir isso. ao objetivo do Parque?
Mas com o passar do tempo foram vendo que se tratam Eu acho que o Parque não promoveu interferências
de diferentes universos de discussão entre os Guarani e culturais. Não interferiu nas artes de caça, nem nas áreas
os ocupantes tradicionais. As reuniões do Comitê já são de roça. O Parque interferiu sim em algumas questões
extremamente carregadas. Se a gente fosse entrar nas específicas, por exemplo na venda de bromélia. Um caso
questões dos índios, ia ser muito mais complicado. Os muito pontual. Ou o deslocamento de cachorros para a
Guarani chegaram até a participar de algumas reuniões sede do parque, que é pontual também. Vendo a questão
do Comitê e viram que não era o caso. As reuniões do só por essa ótica dos índios estarem no Parque e a situ-
Grupo Interinstitucional seguem a mesma dinâmica das ação estar criada, o quadro está mais ou menos apazi-
reuniões do Comitê. E, apesar de serem coisas paralelas, guado. Agora, vendo por uma ótica ambiental, a presença
a gente avisa qualquer decisão relevante do Grupo para de índios que fazem atividade de caça periodicamente
o Comitê e vice-versa. em uma Unidade de Conservação, dentro de padrões
culturais resguardados, eu acho que há uma intervenção
Como se dá o monitoramento do uso dos grande, sim. Em contrapartida, os índios já denunciaram
recursos naturais pelos Guarani no Parque? caçadores. Os Guarani estão numa área relativamente
Temos um material muito bom sobre a ocupação gua- limitada e há caçadores em todas as áreas. Eu acredito
rani na Ilha. Foram feitas várias reuniões, utilizadas fotos que se não houvesse essa defaunação extra, mas só a dos
aéreas e fomos a campo para identificar exatamente onde índios, seria muito menos impactante. Mas é um fato que,
eles estão. A roça é tema de uma pesquisa específica do para a gestão do Parque, seria menos desgastante se os
CTI, feita pela Adriana Felipim.(1) Em relação à caça e ex- índios não estivessem na Ilha. Só de conflito de barco, de
tração de produtos vegetais, raramente houve problemas, cachorro, de caça, de argumentar com pesquisadores...
como retirada de palmito e bromélia, que foram resolvidos diminuiria bastante o estresse da administração.
no Grupo. Em geral não há extração para comercialização,
à exceção de matéria-prima para o artesanato, e não há Como é a relação das comunidades
caça que não seja para consumo interno. caiçaras com os índios?
Uma estratégia que eu, como administrador do Parque, No início foi muito conflitante. De repente, em uma
utilizo, é envolver todos os atores, tanto os ambientalistas Ilha que tinha comunidade tradicional, chega um grupo de
como os antropólogos. E para isso é fomentada a pesquisa índios e faz o que quer: caça, desmata... Mas acho que
com pesquisadores que são críticos em relação à presença foram se acostumando com a estadia dos Guarani aqui
indígena, como Mauro Galetti e Fábio Olmos.(2) O Mauro e foi virando rotina vê-los andando de barco, cruzando a
Galetti tem alunos de pós-graduação na área de fauna cidade.
e dispersão de sementes numa região próxima à aldeia
guarani. Isso é muito legal porque a gente não fica só 1
Ver artigo dessa autora neste capítulo. (n. e.)
com a visão do CTI e podemos dosar um pouco mais as 2
Ver artigo dos autores neste capítulo. (n. e.)
Desde quando vocês moram no Marujá? plantou roça de mandioca tranqüilamente. Em 1985 houve
Minha família veio para a Ilha do Cardoso mais ou a primeira intervenção da polícia florestal. Antes a gente
menos em 1950. Eles vieram do Vale do Itajaí, mas pro- fazia manejo florestal, tirava madeira para construir as
vavelmente já conheciam o litoral daqui, porque andavam casas, tirava palha para a cobertura. Na década de 1980
muito para cá, para lá, principalmente da pesca. E daí começou a ter um pouco mais de repressão nas comuni-
numa daquelas enchentes eles vieram embora para a dades de pescadores. Mas na parte interna da Ilha desde
Praia do Meio, como chama a Ilha do Marujá. Já havia 1962 a polícia começou a impedir o pessoal de fazer roça
aqui famílias que eram descendentes de índios com por- em mata, a pressionar, até que um terço da população
tugueses: os Neves, Pereira, Barboza... Mas os Oliveira da Ilha saiu. E nós, que já tínhamos uma atividade mais
e os Cardoso não. Minha esposa é da comunidade do pesqueira do que agrícola, conseguimos resistir.
Camboriú. Em Camboriú e Foles estão os descendentes
E quando apareceu o turismo?
dos índios com portugueses. Na Enseada da Baleia e no
Pontal já é diferente. Depois de 1977, 1978, começaram a aparecer os
turistas e os moradores começaram a se organizar para
Quantas famílias compõem a comunidade do recebê-los. Alguns fizeram sanitários para a área de cam-
Marujá? ping, outros fizeram quartos para aluguel.
No Marujá a gente tinha aproximadamente trinta famí- Em 1986, o IF (Instituto Florestal) queria abolir o
lias na década de 1950. A população não cresceu muito negócio de camping, aí eu batalhei para que não aconte-
nesses anos. Hoje somos 51 famílias. cesse isso. Por duas razões: primeiro, porque o pessoal
que acampa geralmente não pode pagar um quarto. E,
A pesca sempre foi a principal atividade segundo, porque a juventude que acampa hoje é o futuro
de vocês? hóspede da pousada. A partir de 1993 começamos a im-
Até 1950, o pessoal vivia muito mais da lavoura. Eu plantar pequenas áreas de camping nos quintais das várias
sou de 1939 e o único comércio de pescado que tinha famílias como uma forma de distribuição de renda, pois
era a tainha, que o pessoal salgava para vender. Depois só uns dois ou três da comunidade tinham muitos quartos
de 1960 começaram a aparecer alguns barcos que iam lá para receber os turistas.
buscar tainha fresca. E só na década de 1970 começou
mesmo o comércio do pescado. Até 1976, o cação, que Como é a organização política da comunidade?
hoje tem um comércio extraordinário, era difícil colocar Há quase cinco anos temos a Associação dos Mo-
no mercado. radores do Marujá. Eu sou um dos fiscais. No resto da
Havia um intercâmbio de morador da Ilha do Cardoso Ilha tem as associações da Enseada da Baleia, Pontal,
que plantava no continente e morador do continente que Itacuruçá e Camboriú. São seis pequenos grupos, sendo
fazia rancho para pescar tainha na Ilha. Mas também tinha que Camboriú e Foles têm uma organização só.
gente que plantava na própria Ilha do Cardoso. Eu mesmo
plantei vários arrozais. A produção de mandioca e arroz Como foi a participação de vocês na elaboração
era comercializada. Feijão, cará e batata-doce eram mais do Plano de Manejo?
para o consumo. Desde 1993 nós já tínhamos uma proposta de Plano
A pesca e lavoura eram feitas uma no intervalo da de Manejo no Marujá. Nós vínhamos há vinte anos pedindo
outra. Da década de 1970 em diante a gente começou que o Estado tivesse regras claras para que todo mundo
viver mais da pesca porque o comércio ficou mais aberto soubesse seus direitos e obrigações. E o Estado não teria
e começamos a ter restrição para o cultivo no Parque. feito até hoje se não fosse o dinheiro da KFW [agência
O Parque é de 1962, mas na verdade até 1985 a gente alemã de cooperação internacional que destinou fundos
Como é os moradores lidam com as restrições E como está a questão dos proprietários não-
de viverem em um Parque? -tradicionais?
Nas outras comunidades é mais complicado, eles O Marujá parece um pouco com o Superagui. Tem
acham que estão na Ilha do Cardoso de 1950 e não uma coisa muito séria que são as casas de veranistas.
querem restrição alguma. Mas os do Marujá estão acos- No Marujá um quarto das casas é de veranistas. E o pro-
tumados já. blema que eu venho debatendo é por que o Estado não
entra com processo de reintegração de posse. A maioria
E como é a relação com os Guarani?
absoluta chegou depois do Parque. E são os caras que
Algumas queixas do morador tradicional são no senti- estão criando problemas. Tem dois mandatos de segu-
do de que o índio caça, o índio desmata, e ele não pode. rança. Teve várias reformas clandestinas e em uma delas
Então eu digo que não adianta criticar o índio, nós temos morreu um cidadão do Ariri.
é que ampliar nossos direitos. Antes a gente caçava muito
por aqui. Até porque aconteceu um desequilíbrio com o Como o senhor vê a possibilidade de remoção
Parque: quando o morador plantava as roças de mandioca, dos moradores tradicionais do Parque?
arroz, feijão, os animais, principalmente paca, cotia e porco Na última oficina do Plano de Gestão fase II, que foi
do mato, aumentaram substancialmente porque tinham um aqui mesmo em Cananéia, uma das coisas mais difíceis
habitat mais rico. Quando esse terço de moradores saiu, foi discutir o direito do filho do morador tradicional em
os animais começaram a migrar da Ilha para o continente, construir porque está inserido no Plano de Gestão. Foi uma
eu presenciei pelo menos duas vezes cateto e queixada fa- briga de foice, mas nós fizemos valer. Tem a proposta do
zendo isso. Eram roças pequenas e não existiam grandes SNUC, agora aquilo lá é um balaio de gato porque o artigo
desmatamentos. A gente consumia só uma meia dúzia de 28 diz que para retirar o morador tem que ser de comum
itens. No mercado a gente comprava só querosene para a acordo; como o acordo não vai existir... Eu acredito que o
iluminação, sal e sabão uma vez ou outra para lavar roupa. Estado e o IF queiram cada vez mais uma aproximação
E daí o pessoal trabalhava menos, fazia roça menor. Só do morador porque é uma coisa que está dando resultado
com a presença do turista, do pessoal do mundo urbano, e esses moradores foram a razão da conservação da Ilha
que os moradores tradicionais começaram a ter radinho de sem dúvida nenhuma. Unidade de Conservação onde não
pilha, depois televisão, aí começou aumentar o consumo tem morador não tem vigilância. É muito mais fácil para o
e o trabalho. Estado administrar as UCs com moradores tradicionais do
Hoje temos autorização para fazer pequenas roças, que deixar a unidade aberta. A fiscalização é tremenda-
seguindo o Plano de Manejo. E também está inserido o mente deficiente em todas as Unidades e o lugar que está
manejo florestal. É claro que eu tenho que solicitar para o dando certo é exatamente onde tem morador tradicional.
Conselho aprovar se quiser tirar madeira para uma cerca, Com esse terço de moradores que saiu da Ilha a entrada
umas taquaras, material para artesanato. As pequenas de caçador e palmiteiro é muito mais freqüente.
roças que existem hoje são só de mandioca e umas hor- [Entrevista realizada por Cristina Velasquez e Valéria Macedo em
tinhas no quintal. Antes não tinha divisa entre uma casa agosto de 2003].
3. Que, se os Guarani têm, em última instância, a Serra – Funai e, no caso, Instituto Florestal –, assim como
do Mar como seu território, e esta é alvo constante de de- entre ambientalistas e indigenistas;
predação e perda de biodiversidade, por que não pensar o corporativismo presente nas instituições indige-
com urgência soluções conjuntas para este impasse? Por nistas e ambientais;
que não reservar outras áreas para as populações indí- a setorialização das políticas públicas;
genas, antecipando novas ocupações e otimizando assim a inoperância e fragilidade destas instituições, en-
como acontece no Parque Estadual da Serra do Mar e as lacunas de conhecimento sobre a biodiversidade
Em agosto de 2002, por meio da Portaria nº 735/ para depois serem construídos em outras partes dentro
PRES/Funai, publicada no DOU nº 151, de 07/08/2002, do território.
começaram os estudos de identificação e delimitação dos No final dos anos 1940, o sr. Xapé (Odair Castro) e
novos limites das Terras Indígenas Krukutu e Barragem, seu grupo familiar fixaram-se no local da aldeia Barragem
denominadas, após os trabalhos, como TI Tenondé Porã, e, até hoje, seus descendentes, filha, genro e netos, vi-
com três glebas: Barragem, Krukutu e Djejy-ty, de acordo vem nesta aldeia, sendo sua neta professora na escola
com a solicitação dos Guarani Mbyá, que optaram pela ali existente.
unificação delas.(1) Atualmente estas terras encontram-se O antigo cacique da aldeia de Barragem, o sr. Nivaldo
na fase administrativa de revisão de limites, aguardando Martins da Silva, relatou à antropóloga Maria Inês Ladeira,
assinatura do presidente da Funai.(2) do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), as dificuldades
A TI Tenondé Porã, habitada pela etnia Guarani Mbyá, enfrentadas por seu grupo naquela aldeia no início dos
foi identificada com uma superfície de 9 mil ha e sua anos 1960, quando sua avó Vitalina era a liderança.
população é composta de 432 mulheres e 384 homens, “Conta do tempo em que se instalaram na Barragem e do
perfazendo um total de 816 pessoas (Censo 2002). Está
localizada no Distrito de Parelheiros, abrangendo áreas
dos municípios de São Paulo, São Bernardo do Campo e
São Vicente (SP). * Carlos Alexandre B. Plínio dos Santos, antropólogo, coordenou o GT de
identificação dos novos limites da TI Tenondé Porã.
1
Segundo comunicação pessoal de Roberto Resende, responsável pela
Contexto histórico da ocupação
avaliação ambiental no laudo de identificação da TI Tenondé Porã, as três
dos Mbyá na região glebas, a despeito de estarem unidas em uma única TI, são descontínuas,
correspondendo, respectivamente, às duas aldeias e uma terceira área em que
Em 1902, o historiador Benedito Calixto registrou,(3) atualmente mora um casal Guarani, junto a indivíduos não-indígenas. (n. e.)
justamente na região onde se encontra a TI Tenondé Porã, 2
Até a finalização deste texto, em maio de 2004.
a presença dos Guarani Mbyá, relatando sua cultura e
3
“Os antigos habitantes da aldeia Itariry faziam as suas sortidas para o inte-
rior, subindo o curso do Rio Guanhanhã que deságua no Rio Itariry: dahi em
seus deslocamentos da Serra do Mar para as aldeias do seguida até São Lourenço; subiam a serra e tomando o rumo oeste, trans-
Rio Branco de Itanhaém, Bananal e Itariri, todas no litoral punham os sertões que medeiam os municípios de Piedade, Pilar, Lavrinhas
sul de São Paulo (Ladeira, 2000). e Apiahy, atravessando nesse ponto o Valle do Taquary que confirma com o
Rio Verde, onde existe o principal núcleo de aldeamento, como já referimos.
Na década de 1910, o etnólogo Curt Nimuendajú (...) suas viagens para o Rio Verde, são feitas por outro itinerário: ou seguem
(1987: 105) relatou(4) o seu encontro com um grupo gua- pelo Rio Branco de Itanhaém, subindo a serra até Santa Cruz dos Parelheiros
rani vindo da fronteira do Brasil com o Paraguai, rumo a e dahi a Santo Amaro, onde tomam a estrada geral até Sorocaba e Faxina;
ou descendo pelo Rio Juquiá, seguem até Xiririca e dalli a Itapeva da Faxina,
“Terra sem Males”, na região de São Paulo, às margens que dista apenas doze léguas de São João Baptista e do Rio Verde. (...) São
do rio Tietê. A aldeia da Barragem está exatamente na estes, pois, os pontos por elles preferidos para os seus trajectos, entre esses
rota dos Guarani. As trilhas interligam ainda hoje as dois núcleos, um no litoral e outro no interior, ambos isolados dos centros
populosos” (Calixto, 1904).
aldeias, o que demonstra que até um passado recente 4
“Em maio de 1912 encontrei, para surpresa minha, o acampamento de um
toda a região das aldeias Barragem, Krukutu, Bananal, pequeno grupo de Guarani a apenas 3 km a oeste de São Paulo num pântano
Itariri e Rio Branco deviam compor, em conjunto, um único às margens do Tietê. Eram autênticos índios da floresta, com o lábio inferior
perfurado e arcos e flechas, sem conhecimento do português e falando apenas
território indígena. Entre estas aldeias construíram vários algumas palavras de espanhol. (...). Eles queriam atravessar o mar em direção
acampamentos temporários de caça e moradia sazonal, ao leste.(...) Assim, depois de me comunicar com o Inspetor de Índios em São
servindo durante algum tempo como pequenas aldeias Paulo, que me deu carta branca, eu disse àquela gente que eles poderiam
seguir sua viagem; eu os acompanharia, como eles já me haviam pedido
e, com o passar dos anos, foram sendo abandonados reiteradas vezes. Três dias depois, a noite, estávamos na Praia Grande (...).”
Conclusão
A TI Tenondé Porã está localizada numa região que os
Mbyá reconhecem como território Guarani. Pesquisadores
registram-nos desde o começo do século passado neste
espaço, que durante muito tempo ficou despovoado.
Ultimamente os Mbyá vêm sofrendo com a pressão
urbana, que surge por meio de loteamentos, mineração,
empreendimentos governamentais e Unidade de Conser-
vação. Esta pressão atinge diretamente a sua terra o seu
modo de ser.
A nova delimitação da TI Tenondé Porã poderá ame-
nizar vários problemas enfrentados pelos Mbyá, inclusive
a fome, pois terão espaço suficiente para cultivarem suas
pequenas roças familiares, além de uma área bem maior
que a anterior para realizarem atividades extrativistas.
Referências bibliográficas
ALMEIDA, Arilza N. Relatório antropológico da Terra Indígena Guarani
Barra do Ouro. Proc. Funai nº 4201/88, 1993. pp. 30-31.
CALIXTO, Benedito. Algumas notas e informações sobre a situação
dos sambaquis de Itanhaém e Santos. Revista do Museu
Paulista, São Paulo, USP, s. n., 1904.
GUIMARÃES, Paulo M. Superposição de Unidades de Conservação
em terras tradicionalmente ocupadas por índios. Brasília,
Conselho Indigenista Missionário, mimeo, 2000.
LADEIRA, Maria Inês. Comunidades Guarani da Barragem e do Krukutu
e a Linha de Transmissão de 750 kv Itaberá – Tijuco Preto III:
Relatório de Interferências. São Paulo, 2000.
———— et al. Índios no Estado de São Paulo: resistência e transfi-
guração. São Paulo, Ed. Yankatu, 1984.
NIMUENDAJÚ, Curt. As lendas da criação e a destruição do mundo
como fundamentos da religião dos Apapocúva-Guarani. São
Paulo, Hucitec, Edusp, 1987.
OLIVEIRA, Maria Bernadete. As Terras Indígenas da Barragem e do
Krukutu e o Rodoanel Mário Covas – Trecho Sul: relatório.
s. l., s. ed., 2000.
SARKIS, Juliana Costa. Relatório do levantamento fundiário realizado
na Terra Indígena Tenondé Porã. Brasília, Funai/DAF/DEF,
2003.
No início dos anos 1990, o governo e a prefeitura de e elegeram seus representantes, em maio de 2002. Os
São Paulo esboçaram uma ação integrada de controle conselheiros tomaram posse em agosto do mesmo ano,
e fiscalização ambiental, no chamado SOS Mananciais, com a tarefa de elaborar um Plano de Gestão para a área,
uma tentativa de racionalização da gestão das bacias além do seu Zoneamento Ambiental.
hidrográficas dos reservatórios Billings e Guarapiranga,
bem como dos rios Capivari e Monos. Ampliação das TIs e a polêmica no
Embora a iniciativa não tenha logrado sucesso, ficou Conselho Gestor da APA
a percepção da necessidade de um sistema de gestão
O processo de ampliação das TIs foi desencadeado
compartilhada e da abertura de espaços de discussão e
com a elaboração de um Termo de Ajustamento de Condu-
articulação, pois um arranjo institucional bastante com-
ta (TAC), firmado entre o Ministério Público Federal, Furnas
plexo, e muitas vezes confuso, não vinha sendo capaz
e Ibama, em 2000. O TAC prevê, como compensação
de conter a ocupação urbana desordenada, com graves
pelos danos ambientais causados por Furnas durante a
conseqüências socioambientais.
implantação de uma linha de transmissão de energia, a
Vale lembrar que nesta região se configura um am-
aplicação de recursos financeiros em diversas ações na
plo mosaico de áreas protegidas por distintos diplomas
região, incluindo a ampliação das TIs. O subsídio técnico
legais, muitas vezes sobrepostas, destacando-se a Área
para justificar a inclusão da ampliação no TAC foi dado
de Proteção aos Mananciais, as Terras Indígenas (TIs),
por um amplo estudo realizado pelo Centro de Trabalho
as Áreas Tombadas (Condephaat) da Cratera e da Mata
Indigenista (CTI).
Atlântica, e o Parque Estadual da Serra do Mar (núcleo
Pela Funai o processo teve início com a instituição,
Curucutu).
pela Portaria n° 735/Pres, de 05/08/2002, do GT respon-
Neste contexto foi idealizada, no âmbito da Secretaria
sável pelos estudos fundiário, antropológico e ambiental,
Municipal do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) de São
subsidiários à proposta de ampliação, atendendo ao dis-
Paulo, a criação de uma Unidade de Conservação de Uso
posto no Decreto Federal n° 1775/96.
Sustentado. Após um longo processo técnico-político, a
Os membros do GT visitaram a SVMA, em busca de
Área de Proteção Ambiental (APA) do Capivari-Monos foi
informação e material cartográfico, no que foram atendi-
criada, em junho de 2001, tendo como justificativas o fato
dos. Contudo, foram requisitados a participarem de uma
da área reunir características tais como a presença de
reunião do Conselho Gestor da APA para esclarecimentos
fragmentos significativos de Mata Atlântica, mananciais de
sobre a sua atividade e sobre o processo de ampliação.
importância metropolitana e áreas de potencial interesse
Mas o GT apresentou-se refratário à idéia, alegando que
arqueológico, além do patrimônio cultural representado
isso poderia prejudicar o andamento do trabalho.
pelas populações indígenas Guarani das aldeias Tenondé
Visando garantir a articulação entre as políticas pú-
Porã e Krukutu.
Antes mesmo da promulgação da APA, a população foi blicas para a região, a SVMA solicitou à Administração
mobilizada em torno da idéia, fruto de um bem-sucedido Executiva Regional de Bauru, da Funai, em outubro de
trabalho de educação ambiental por meio de oficinas e reu- 2002, informações sobre:
niões locais, chegou-se à montagem de um pró-conselho 1. Estratégias de controle e manejo a serem adotadas
gestor, com representantes de várias instituições gover- nas áreas a serem anexadas ao território indígena.
namentais e da população, incluindo das comunidades
indígenas. * Sociólogo do Departamento de Educação Ambiental e Planejamento da
A partir da aprovação da lei os esforços foram cana- Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) da Prefeitura de São
Paulo.
lizados para implantar um Conselho Gestor para a APA.
** Engenheiro agrônomo, mestre pelo Instituto de Geociências da USP e
Entidades da sociedade civil foram cadastradas pela SVMA membro do Núcleo de Geoprocessamento da SVMA.
O objetivo deste artigo é recuperar os acontecimen- recursos naturais; de garantir a participação dos índios
tos e as tratativas que culminaram na ação judicial de em todas as fases dos processos decisórios relativos a
reintegração de posse(1) movida pela Fundação Florestal temas comuns à comunidade indígena e ao Parque Esta-
contra a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o “grupo dual Intervales; de assegurar a continuidade do projeto de
indígena” Guarani, que ocupa área inserta no Parque apoio às práticas tradicionais sustentáveis desenvolvido
Estadual Intervales,(2) município de Sete Barras, sul do pelo CTI,(6) de comprometer a Fundação Florestal com o
estado de São Paulo. esclarecimento aos pesquisadores em relação à presença
Em meados de fevereiro do ano 2000, o Ministério Pú- dos índios, de modo a preservar o cotidiano da comunidade
blico Federal foi procurado por funcionários da Fundação e de continuidade das visitas monitoradas à Cachoeira do
Florestal com o objetivo de dar tratamento institucional Quilombo, vetado o trânsito de turistas nas áreas ocupadas
à presença indígena naquela Unidade de Conservação, pela comunidade indígena.
constatada no início do mesmo ano. Com vistas a forma- O modelo adotado pelas instituições para conduzir
lizar os resultados da aproximação e do diálogo iniciado a questão baseou-se na criação de espaço extrajudicial
entre a Secretaria do Meio Ambiente, a Fundação Florestal, habilitado a reunir informações, discutir as tensões e
o órgão ministerial, a Funai e o Centro de Trabalho Indi- propor soluções para problemas específicos relativos à
genista (CTI),(3) a Procuradoria da República no município gestão das relações entre a comunidade Guarani e a ad-
de Santos instaurou um procedimento administrativo(4) no ministração do Parque Estadual Intervales. Não obstante
âmbito do qual foram realizadas três reuniões interinstitu- a existência desse fórum, pouco mais de um ano após
cionais de trabalho.(5) constatada a reocupação da área pelo grupo indígena, a
O resultado desses três encontros de trabalho foi Fundação Florestal, no início de 2001, requereu em juízo
registrado em atas assinadas por todos os participantes, a reintegração da posse da área contra a Funai e o chefe
consignando um conjunto de compromissos expressos político guarani.
por cada uma das instituições em relação à questão. Os A Fundação Florestal alegou, na petição inicial, ser
compromissos basearam-se nos princípios de respeitar proprietária e administradora do Parque Estadual Interva-
e assegurar a presença da comunidade Guarani; de
reconhecer a Funai como interlocutora principal para en-
caminhamento de ações e troca de informações relativas * Antropóloga, doutoranda em Ciências Sociais pela Universidade Estadu-
al de Campinas e analista pericial em Antropologia no Ministério Público
à assistência aos índios; de realizar ações coordenadas Federal.
e adotadas após amplo diálogo entre as partes e a co- 1
Ação de Reintegração de Posse nº 2001.61.04.005759-2, em tramitação na
munidade Guarani, evitando ações em duplicidade; de 4ª Vara Cível Federal de Santos-São Paulo.
adotar as providências necessárias com vistas a garantir
2
O Parque Estadual Intervales foi criado pelo Decreto Estadual nº 40.135/95.
3
Organização não-governamental com atuação aldeia Peguaoty, onde desen-
a assistência adequada aos membros da comunidade volve projeto de apoio a práticas tradicionais de subsistência.
Guarani, atuando em colaboração e sob concordância 4
Representação nº 1.34.012.000084-2000-17, autuada na Procuradoria da
República no município de Santos.
do órgão indigenista federal, especialmente no que tange 5
As reuniões foram realizadas em 16/03, 31/03 e 29/08 de 2000, nas quais
à saúde e à subsistência do grupo; de zelar para que os estiveram presentes representantes do Ministério Público Federal, da Fundação
índios não sejam molestados; de respeitar a autonomia Florestal, do Grupo de Trabalho Indigenista da Secretaria de Estado do Meio
Ambiente, da Funai e do CTI.
da comunidade indígena, especialmente nos aspectos 6
Projeto denominado “Conservação Ambiental de Terras Guarani e Apoio às
relativos à definição de áreas de roças e ao usufruto dos Atividades Tradicionais de Subsistência”.
7
A realocação da comunidade para outra área não foi descartada pela Funai,
desde que anuída pela comunidade.
8
Antonio José Donizetti Molina Daloia, procurador da República.
9
Foram apresentados dois trabalhos periciais em Antropologia para subsidiar
Casa em construção na aldeia Peguaoty, em Sete as argumentações do procurador no processo: as Informações Técnicas nº
Barras, SP. (Maria Inês Ladeira, 1999) 11/2002, de 23/03/2002 e nº 13/2003, de 29/05/2003.
A Fundação para a Conservação e a Produção Flores- Intervales (PEI), criado pelo Decreto Estadual nº 40.135,
tal do Estado de São Paulo (Fundação Florestal), criada de 8 de junho de 1995.
em 1986, é uma instituição pública vinculada à Secretaria Localizado no sudoeste do estado, entre os vales dos
do Meio Ambiente e que tem por objetivo contribuir para rios Paranapanema e Ribeira de Iguape, esse Parque é
a conservação, o manejo e a ampliação das florestas no uma das mais importantes reservas de Mata Atlântica do
território paulista. Com esse fim, apóia, promove e executa sudeste brasileiro, distinguindo-se por apresentar com-
ações integradas para o desenvolvimento sustentável, a ponentes faunísticos e florísticos originais preservados.
conservação ambiental, a proteção da biodiversidade e a O Parque Intervales, diferentemente da maioria das
recuperação florestal. Unidades de Conservação do estado de São Paulo, tem
A implementação de projetos de desenvolvimento sus- a sua situação fundiária equacionada nos seus 42.704,27
tentável junto a comunidades locais que utilizam recursos hectares, pois suas terras foram adquiridas pelo governo
naturais renováveis tem beneficiado segmentos vulnerá- estadual visando integrar o patrimônio de constituição da
veis da população, tais como quilombolas, agricultores Fundação Florestal.
familiares e pescadores artesanais. Essas iniciativas, de- No PEI, já foram identificadas 363 espécies de aves,
senvolvidas pela Fundação Florestal, em sua maior parte sendo pelo menos 117 endêmicas da Mata Atlântica. Des-
concentram-se no entorno de Unidades de Conservação sas, destacam-se 19 espécies globalmente ameaçadas de
do Vale do Ribeira, região mais pobre do estado de São extinção, segundo critérios da União Internacional para a
Paulo e que detém o maior continuum de Mata Atlântica Conservação da Natureza. Também foram registradas 84
que restou no país, sendo foco de conflitos decorrentes do espécies de mamíferos, 29 de répteis, 48 de anuros e pelo
extrativismo clandestino de recursos naturais. menos 31 espécies de peixes de água doce.
São exemplos de projetos bem-sucedidos o “Repo- Juntamente com os Parques Estaduais vizinhos, Car-
voamento do Palmiteiro Juçara no Bairro Rio Preto, Sete los Botelho e Turístico do Alto Ribeira (Petar), compõe
Barras”, o “Manejo Sustentável de Plantas Medicinais Na- o “Fragmento de Paranapiacaba”, uma área vital para
tivas da Mata Atlântica em Comunidades Remanescentes a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica. A
de Quilombos no Vale do Ribeira” e o “Ordenamento da integridade da floresta nesse continuum assegura a so-
Produção de Ostras no Mangue do Estuário de Cananéia”, brevivência de várias espécies criticamente ameaçadas,
este último premiado na Rio+10, em Johannesburgo como o muriqui (Brachyteles arachnoides) e a jacutinga
(2002), como alternativa sustentável para combater a (Pipile jacutinga). Além disso, é uma das poucas áreas
fome e a miséria. naturais a apresentar populações de grandes predadores
Portanto, a Fundação tem, no bojo de suas atividades, que necessitam de amplas extensões, como a onça pin-
a preocupação de estabelecer, de uma forma equilibrada tada (Panthera onça).
e harmoniosa, a coexistência do homem com a natureza. A diversidade de espécies encontradas no Intervales
está relacionada não apenas à extensão do Parque e ao
Conservação ambiental e proteção da continuum formado com as Unidades adjacentes, mas
biodiversidade em Intervales também à combinação de vegetação bem conservada,
Com relação à conservação ambiental e à proteção da gradiente altitudinal amplo e ao relevo acidentado.
biodiversidade, a atuação da Fundação Florestal compre-
ende prioritariamente a administração do Parque Estadual * Engenheira florestal, diretora executiva da Fundação Florestal.
Este texto trata da experiência vivida nos anos de 1995 características totalmente inadequadas à ocupação antró-
e 1996, como diretora de estudos ambientais da Fundação pica. Os solos sobre o complexo granítico são de pouca
do Meio Ambiente (Fatma) de Santa Catarina, quando se profundidade, a declividade é acentuada e há muitos
iniciou a reformulação do processo de implantação do blocos de rocha, sendo local muito suscetível à erosão e
Parque Estadual da Serra do Tabuleiro. Esta Unidade de onde já houve ocorrência de deslizamentos.
Conservação de Proteção Integral foi criada em 1975 e Segundo informações dos antropólogos que tratavam
contou com a iniciativa e o apoio dos pesquisadores dr. pe. da questão, uma pequena área no referido morro é local
Raulino Reitz e Roberto M. Klein, que desde a década de de referência para o povo Guarani Mbyá (Litaiff e Darella,
1960 lutavam para proteger a natureza local. Após diver- 2000) e, por isso, visitada durante suas andanças, visto
sas anexações e desanexações de terras, hoje o Parque seu hábito nômade. Até 1994 havia apenas uma única
possui cerca de 90 mil hectares, dos quais o governo de família indígena morando no local, que se recusava a
Santa Catarina indenizou pouco mais de 10%. estabelecer-se em área indígena, conforme a orientação
O Parque abrange área de sete municípios catarinen- da Funai. O ponto era respeitado e tido como sagrado, no
ses (Palhoça, Santo Amaro da Imperatriz, Águas Mornas, entanto, em 1995, havia mais de setenta índios ocupando
São Bonifácio, São Martinho, Imaruí e Paulo Lopes) e o local, invadindo novas áreas e retirando por completo a
inclui terras da Marinha situadas entre a foz dos rios cobertura vegetal do Morro dos Cavalos para o cultivo de
Massiambú e do Embaú, além de seis Ilhas. Protege milho e mandioca, principalmente. As moradias eram bar-
cinco das seis formações florísticas de Santa Catarina racos cobertos de lona preta, sem qualquer infra-estrutura,
(Restinga, Floresta Ombrófila Densa em diferentes altitu- cercadas de lixo e valas para drenagem de águas servidas,
des, Matinha Nebular, Campos de Altitude e Floresta com com aspecto de favela. Os cães de estimação estavam
Araucárias), a formação geológica de cordões arenosos doentes e as crianças brincavam neste meio totalmente
semicirculares do quaternário e uma rica e diversa fauna. insalubre. A BR-101 torna o local perigoso e com intenso
Além disso, as serras, com seus mananciais hídricos, nível de ruído, além de propiciar o acesso à bebida aos
fornecem água ao abastecimento da Grande Florianó- índios e a prostituição às índias. Destaca-se que nas pro-
polis (capital estadual). ximidades e fora da Unidade de Conservação já havia um
Ao final do ano de 1995, a Procuradoria da Repú- grupo Guarani alocado em área plana e distante da BR,
blica mobilizou a Procuradoria do Estado, a Fundação mais adequada aos usos agrícolas, porém com tamanho
do Meio Ambiente, o Departamento de Antropologia da insuficiente para todo grupo.
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Fun- Durante aquela vistoria, da qual participei como repre-
dação Nacional do Índio (Funai) e a imprensa local para sentante da Fatma, o espantoso foi verificar a aceitação
tratar da ocupação de índios Guarani em área do referido e, pior, a insistência dos setores representantes dos inte-
Parque e considerada como de preservação permanente
segundo parâmetros estabelecidos no Código Florestal.
* Bióloga, mestre pela Faculdade de Geografia da UFSC, doutora pela Fa-
A área situa-se às margens de trecho sinuoso da BR-101,
culdade de Engenharia Florestal da UFPR, atualmente na função de técnica
no Morro dos Cavalos, município de Palhoça, e apresenta em biodiversidade no WWF-Brasil.
12
A importância da discussão e negociação entre índios Guarani e Fatma é
enfatizada por Analúcia Hartmann, procuradora da República em Santa Cata-
rina, e Ana Cimardi, diretora de Estudos Ambientais da Fatma.
Cada vez mais vêm se intensificando, dentro da ampla Se é possível, nesses estudos e registros, reconstruir
gama de assuntos que tratam do tema biodiversidade, os um pouco do passado histórico e pré-histórico e verificar
trabalhos que relacionam o papel das práticas de manejo indícios de que este ambiente tenha sido manejado, é
(pretéritas e atuais) utilizadas pelos mais diferentes povos praticamente impossível elencar com precisão quais se-
na conservação e geração da diversidade de recursos riam, de fato, os grupos indígenas de filiação lingüística
fitogenéticos. Tupi-Guarani que foram objeto dessas descrições.
Estudos realizados na região amazônica, como os de No caso específico dos Guarani, o fato destes terem
Balée (1989; 1992), já apontam que vários ambientes, sido descobertos em épocas, circunstâncias e localidades
classificados em função de sua estrutura e composição totalmente adversas, dificultou, por muito tempo, a pos-
florística como “primários”, podem ser herança de um sibilidade de se fazer uma distinção clara, com base em
sistema manejado durante séculos e séculos por práticas dados históricos, de “todos aqueles pertencentes a este
como a agricultura de corte e queima, coleta e remaneja- grupo indígena”, de seus “locais ocupados e manejados”,
mento de espécies nativas, entre outras. bem como de seu real “território” (Meliá, 1997).
Assim como a região amazônica, as áreas pertencen- De uma maneira geral, os falantes da língua Guarani
tes ao que chamamos hoje de Domínio Mata Atlântica tam- se apresentavam identificados nas fontes documentárias
bém foram habitat original de diversos grupos indígenas históricas com diferentes nomes que lhes eram atribu-
que há muito ocupavam e modificavam ambientes através ídos, principalmente, em função dos diferentes locais
de suas práticas de subsistência. onde tinham sido descobertos (Meliá, 1997). Aranchãs,
Evidências etno-históricas e arqueológicas a este Chandris ou Chandules, Carios ou Carijós, Tapes, To-
respeito podem ser observadas em estudos e registros batí, Guarambaré, Itatí, Chiriguaná, Mbyasá, são alguns
relacionados, especialmente, aos povos de filiação lin- desses nomes (Scatamacchia, 1984; Schmitz, 1991;
güística Tupi-Guarani e seu vasto domínio por todo leste Meliá,1997).
da América do Sul. Na Arqueologia, trabalhos como os No Brasil, em meados do século XX, a nação Guarani
de Schmitz (1991) e Scatamacchia (1984; 1993-1995) contemporânea presente em território brasileiro passa a
discutem a hipótese da existência de duas rotas migra- ser classificada em três grandes grupos: Mbyá, Nhandeva
tórias ligadas à tradição Tupi (com distribuição mais para e Kaiowá (Schaden, 1974). As diferenças que geraram
o norte do país, baseando sua subsistência no cultivo da a classificação apontada por Schaden se viam notadas
mandioca) e à tradição Guarani (ocupando uma posição no dialeto, costumes e práticas rituais de cada grupo
meridional, cultivadores de milho) que vieram a se encon- Guarani. Posteriormente, em função de outros trabalhos
trar na costa atlântica brasileira num tempo muito anterior etnográficos como os de Ladeira (1992; 2001), pôde ser
à chegada dos colonizadores europeus. notado que as diferenças entre os pertencentes da nação
Documentos produzidos nos séculos XVI e XVII, como Guarani também se expressavam na forma de ocupação
por exemplo os de José de Anchieta, Jean de Léry, Hans e apreensão territorial.
Staden, Nunez Cabeza de Vaca, August Saint-Hilaire, Nos dias de hoje, com o auxílio dessas e outras pro-
apontam para as práticas agrícolas autóctones desses duções bibliográficas, já é possível abordar as formas de
povos, a diversidade de plantas domesticadas cultivadas
*Adriana Perez Felipim é engenheira agrônoma do CTI (Centro de Trabalho
e espécies nativas de uso indígena em áreas de Domínio
Indigenista/Programa Guarani) e mestre em Ciências Florestais pela Esalq/
Atlântico. USP.
A convivência com a mata é fundamental para a Unidades de Proteção Integral (Parques Estaduais e uma
constituição dos Guarani como povo. É na floresta onde Estação Ecológica). Ao enfrentar essa questão, é preciso
encontram o Tekoa, um lugar apropriado para viver confor- partir do princípio de que a preservação do bioma Mata
me o Ñande Reko, sua forma tradicional de ser. As leis e Atlântica é essencial para a sobrevivência das tradições
práticas referentes ao manejo e apropriação dos recursos culturais guarani. Assim sendo, ao invés de posições
naturais correspondem às normas da boa vida, Teko Porá, polarizadas, o ideal seria que se desenvolvessem ações
que rege também a dimensão religiosa. e programas que permitissem de um lado a presença
Na visão guarani, todos os componentes da natureza desses povos – que é constitucionalmente legitimada(1)
são integrados e interdependentes, constituindo expres- – e que ela não resulte num processo predatório. Com
sões de uma mesma essência e destinados a criar e o suporte de políticas públicas e recursos, assim como
manter a vida. A convicção de que os recursos naturais alianças consolidadas com organizações governamentais
foram colocados à disposição dos homens por Ñanderu e não-governamentais, é possível garantir uma forma de
(Deus) e de que os homens devem viver em harmonia com ocupação não predatória, em que se incluam restrições,
a natureza são determinantes nas formas de apropriação na medida em que os Guarani compreendam que elas são
e exploração desses recursos pelos Guarani. benéficas para eles mesmos.
Tradicionalmente, a sobrevivência das comunidades Para além da questão indígena, os municípios onde
guarani está baseada em atividades extrativas, na agricul- essas aldeias estão localizadas possuem várias áreas
tura de subsistência, na caça e no artesanato. Os Guarani que sofrem restrições legais referentes à exploração
praticam sistemas de cultivo associados, combinando econômica de recursos naturais ou mesmo ocupação
múltiplas espécies de plantas nativas, frutíferas, ornamen- territorial, em função da legislação ambiental. São mu-
tais, espécies de milho avaxi, mandioca, cana-de-açúcar, nicípios localizados no litoral norte e sul (Ubatuba, São
erva-mate nativa, batata-doce, entre outras. Sebastião, Bertioga, Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe) e
A despeito de preservarem seus costumes, as aldeias Vale do Ribeira (Itariri, Miracatu, Sete Barras, Pariquera-
guarani do estado de São Paulo têm enfrentado, em graus -açu, Iguape e Cananéia).
variados, dificuldades crescentes para manter suas formas Em razão das restrições ambientais, estes municí-
tradicionais de subsistência. As Terras Indígenas possuem pios têm necessidade de desenvolver formas de manejo
áreas insuficientes para garantir a reprodução de seu sustentado dos recursos naturais. Em comum, possuem
modo de vida tradicional. Grande porção das florestas foi ainda a vocação para o turismo, principalmente nas mo-
devastada em decorrência da exploração irregular, pelos dalidades de ecoturismo e turismo cultural. Isso porque ali
não-índios, de palmito, plantas medicinais e ornamentais,
caça e madeiras. Algumas áreas indígenas também sofrem
a invasão de grileiros e posseiros. E há, ainda, muitas * Historiador, coordenador do Núcleo de Assuntos Indígenas (NAI) do Centro
de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal (Cepam)/ Fundação
áreas de aldeias guarani que não estão oficialmente re- Prefeito Faria Lima.
conhecidas como Terra Indígena. 1
Os direitos reconhecidos aos povos indígenas na Constituição Federal são
Boa parte das aldeias guarani no estado de São Paulo reiterados pela Constituição do Estado de São Paulo, que ainda define, em
seu artigo 283, que uma lei específica disporá sobre as formas de proteção
localiza-se em áreas de preservação permanente, sendo
do meio ambiente nas áreas contíguas às reservas e áreas tradicionalmente
algumas em áreas de proteção de mananciais e outras em ocupadas por grupos indígenas.
Direito e moral nas discussões sobre da moral, se compreendidos os valores que estão sendo
direitos humanos confrontados, pois suas conclusões – díspares em muitos
casos – servirão para justificar uma determinada solução
O debate acerca da presença indígena em Unidades
para o problema perante a sociedade em geral. Assim,
de Conservação – ou da criação destas sobre territórios
quando vemos que informações sobre a presença históri-
indígenas, dependendo do ponto de vista –, tema central
ca de determinado povo indígena na região “sob disputa”
do livro no qual se insere este artigo, já vem de longa data
vêm sendo utilizadas por ambas as partes da contenda
e tem, como se sabe, repercussões nos mais diversos
para construírem seus argumentos e para justificarem
campos do conhecimento.
suas posições, logo percebemos que há um princípio
Do ponto de vista ecológico discute-se a sustentabili-
ético que diz ser justo garantir o território apenas àqueles
dade da existência de populações humanas consumidoras
que ali já se encontravam, que “sempre” estiveram ali.
diretas de recursos naturais – pois praticantes da caça, da
Como muitos dos conflitos socioambientais, o referente
pesca, da agricultura e de outras atividades com impactos
à presença indígena em UCs de Proteção Integral está
sobre a fauna e flora – em áreas fisicamente limitadas e
calcado na disputa de valores, de concepções morais
consideradas de importância para a preservação de bens
sobre a natureza e sobre sua utilidade para a sociedade,
ambientais escassos em outras regiões. Do ponto de
e isso fica claro em qualquer texto que aborde o assunto.
vista sociológico e antropológico, questiona-se a idéia de
Sendo, portanto, um debate essencialmente ético, em-
“natureza intocada”, aventando-se que os ecossistemas
bora alimentado por elementos técnicos e científicos, seria
locais foram moldados pela presença humana ao longo
impossível que não tivesse transbordado para o campo
das gerações – e vice-versa – levantando a questão de
do Direito. A ligação entre ética e direito, ou entre moral e
se há razão de se preservar um ambiente sem a popu-
direito, é estudada há séculos por filósofos e juristas que,
lação que o habita e com ele interage, e estudando os
embora possam se alinhar a correntes teóricas distintas,
impactos que as limitações impostas pela criação de uma
conjugam a idéia de indissociabilidade entre ambos. Tanto
área protegida traz para um determinado sistema social.
o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado
Do ponto de vista histórico discute-se, notadamente no
quanto o direito dos povos indígenas a sua autodeter-
caso dos Guarani, a presença imemorial de determinado
minação e à sobrevivência física e cultural são direitos
povo em tal ou qual região para justificar ou afastar o seu
subjetivos incluídos no campo dos Direitos Humanos de
direito ao território declarado como área ambientalmente
terceira ou quarta geração,(1) pois de titularidade coletiva
protegida.
Embora os discursos mais comumente ouvidos orbitem
os aspectos acima citados, é inegável que, no que tange
* Advogado, mestre em Direito Econômico pela Faculdade de Direito da
à problemática da presença humana em Unidades de USP, integrante do Programa Política e Direito Socioambiental do ISA.
Conservação, as principais discussões são travadas no 1
Os Direitos Humanos de primeira geração são aqueles que se referem às
campo da ética. Boa parte dos argumentos levantados liberdades públicas, consagrados nas primeiras cartas constitucionais, típicos
por aqueles que se debruçam sobre o problema são do Estado liberal, e que tentam delimitar um campo de liberdade do indivíduo
perante o Estado (liberdade de expressão, liberdade de associação, liberdade
fundamentados em preceitos morais, mesmo quando se de ir e vir etc.). São, portanto, direitos de titularidade individual oponíveis contra o
propõem a analisá-lo de forma “técnica”. As discussões Estado. Os direitos humanos de segunda geração, surgidos com a contestação
sobre a anterioridade da presença humana em determi- socialista aos princípios do liberalismo, são aqueles que exigem ações concre-
tas do Estado para conseguir diminuir as desigualdades sociais, que tentam
nada região, ou da íntima relação entre biodiversidade e garantir a todos condições dignas de vida (direito à moradia, direito à educação,
sociodiversidade, só fazem sentido se analisadas à luz direito à saúde etc.). São, portanto, direitos de titularidade individual exigidos
Cíntia Nigro*
“Nós não utilizamos o termo ‘meio ambiente’, é uma expressão sensíveis. A partir de então, aumentou a presença não-
de outra gente, é uma expressão dos brancos. O que vocês -indígena na região Sul, acentuando-se as disputas e os
chamam de ‘meio ambiente’ é o que sobra do que vocês conflitos com os representantes das agências de contacto
destruíram.” (Xamã Davi Copenawa Yanomami, A Outra da sociedade nacional. Essas agências e agentes, oficiais
Margem do Ocidente)
e não-oficiais, acabam compelindo os Xokleng para o atual
território catarinense.
Configuração do contato Xokleng Ocupantes de um território que compreendia desde
Povo caçador coletor, de acentuada mobilidade es- as proximidades de Porto Alegre (RS) até Curitiba (PR),
pacial, composto por pequenos grupos locais distribuídos os Xokleng experimentaram uma redução territorial
em um território histórico de dimensões consideráveis, substancial, em que o maior dos seus subgrupos acabou
ocupante de terras nas bordas do planalto, matas subtro- circunscrito ao centro-norte de Santa Catarina no final da
picais e litoral, os Xokleng desenvolveram, anteriormente década de 1840 (Urban, 1978). Esse processo acarretou
ao processo de contacto com os não-índios, determinadas alterações no padrão de ocupação tradicional, represen-
formas de ocupação. Esse padrão de ocupação do terri- tando uma reconfiguração territorial. Com a limitação
tório esteve ancorado em uma conjugação de fatores que das áreas disponíveis e a conseqüente diminuição dos
lhes possibilitaram acesso a fontes de recursos e técnicas recursos, as possibilidades dos indígenas reproduzirem a
diferenciadas: a caça de animais, a coleta de mel, palmito subsistência grupal nos moldes tradicionais reduziram-se
e frutos silvestres, a conservação de alimentos vegetais drasticamente.
como o pinhão, e a agricultura de coivara em pequena Em conseqüência do movimento de conquista territorial
escala. por parte dos não-índios, e da clara tentativa de extermí-
Na conformação desse cenário, a intensa mobilida-
de espacial desponta como característica distintiva da
cultura grupal. Tal mobilidade produz(iu) regularmente * Antropólogo, coordenador do Grupo Técnico, nomeado pelas Portarias
tantos pequenos deslocamentos, intra e entre aldeias 923/PRES/97 e 583/PRES/98 Funai, responsável pela elaboração do
Reestudo da TI Ibirama La Klãnõ dos povos Xokleng, Guarani e famílias
constitutivas da Terra Indígena Ibirama La Klãnõ, como Kaingang.
deslocamentos extensos externos à área reservada pelo 1
Denominados na literatura antropológica como Aweikoma, Bugre, Botocudo,
estado de Santa Catarina na década de 1920. Ambos os Kaingang, Socré, Shokleng, Xokrê, Xokrén, presentemente os indígenas têm
tipos de deslocamentos espaciais podem ser caracteriza- valorizado o termo La Klãnõ (Rakranò, Cf. Urban,1978) como autodesignação.
Os Xokleng pertencem ao tronco lingüístico Macro-Jê. Na condição de grupo
dos enquanto processos de territorialização, produtores com acentuada mobilidade espacial, os Xokleng percorriam, separados ou em
de desterritorialização e reterritorialização, dependentes grupos locais, longas distâncias nas excursões de caça e coleta. As disputas
de conjunturas históricas, relacionados a fatores de di- entre diferentes grupos, conforme atesta a literatura etnológica, eram comuns.
Essas disputas faccionais foram responsáveis por uma série de arranjos or-
mensões faccionais e econômicas acentuadas na cultura ganizatórios. Greg Urban (1978) produziu uma análise que recuperou para os
tradicional xokleng.(1) Xokleng a idéia do dualismo na estrutura social, modelo característico atribuído
Esse modelo de organização social teve vigência plena aos povos e sociedades Jê. Baseado na tradição oral produziu uma reconsti-
tuição da história política indígena, evidenciando que o proto-sistema xokleng,
nos séculos XVII e XVIII e meados do século XIX. O modo composto por dois grupos originários de perambulação, que representavam
de vida xokleng, no período, não experimentou alterações cada um uma patrimetade, conformava-se aos padrões Jê.
Referências bibliográficas
BARTH, Fredrik. Introduction in ethnic groups and boundaries. London, George
Allen & Unwin, 1969.
BENSUSAN, Nurit. “Sobreposição entre terras indígenas e unidades de con-
servação”. In: Povos indígenas no Brasil (1996-2000). São Paulo,
Instituto Socioambiental, 2000.
CMMAD (Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento). Nosso
futuro comum. Rio de Janeiro, Editora da Fundação Getúlio Vargas
(FGV), 1988.
CUNHA, Manuela Carneiro da. Os direitos dos índios. São Paulo, Brasiliense,
1986.
GALVÃO, Eduardo. “Áreas culturais indígenas no Brasil: 1900-1959”. In: En-
contro de sociedades: índios e brancos no Brasil. Rio de Janeiro,
Paz e Terra, 1978.
GIANINNI, Isabelle Vidal. “Sociedade e meio ambiente: um estudo de caso”. In:
MAGALHÃES, A. C. (org.) Sociedades indígenas e transformações
Ambientais. Belém, NUMA/UFPA, 1995, pp. 61-78.
HENRY, Jules. Jungle people: Kaingang tribe of highlands of Brazil. New York,
Vintage Books, 1941.
LADEIRA, Maria Inês. Espaço geográfico guarani-mbya: significado, constitui-
ção e uso. São Paulo, Departamento de Geografia da FFLCH/USP,
2001. Tese de Doutorado.
LEITE, Jurandir Carvalho Ferrari. “Uma proposta para o monitoramento e
análise das terras indígenas”. In: Atlas das terras indígenas do
Nordeste. Rio de Janeiro, PETI/ Museu Nacional, 1993.
LIMA, Antônio Carlos de Souza. Um grande cerco de paz: poder tutelar, india-
nidade e formação do Estado no Brasil. Petrópolis, Vozes, 1995.
_________. Os relatórios antropológicos de identificação de terras indígenas
da Fundação Nacional do Índio: notas para o estudo da relação
entre antropologia e indigenismo no Brasil (1968-1995). Rio de
Janeiro, mimeo, 1997.
Como se deu o processo de criação da ONG O primeiro manifesto elaborado pela Apremavi intitula-
Apremavi? va-se “Estão matando os animais, a floresta e os índios” e
Fundada em 09 de julho de 1987, na cidade de Ibirama foi amplamente divulgado na região, no estado e no país.
(SC), a Apremavi surgiu da preocupação em relação às Posteriormente a Apremavi coletou dados e informações
conseqüências futuras da destruição insensata do meio que ajudaram a embasar uma Ação Civil Pública, respon-
ambiente, que vinha sendo promovida pelas indústrias sabilizando a Funai e o Ibama pela devastação da Reserva
madeireiras da região, em especial na Terra Indígena e exigindo a sua recuperação. Esta Ação, impetrada em
Ibirama (então conhecida como Reserva Indígena de 1987, ainda não foi concluída.
José Boiteux), onde, no auge do processo de devastação, Para se ter uma idéia da gravidade do processo ocorri-
chegavam a sair cerca de 350 caminhões carregados de do na época é interessante transcrever um trecho do livro
madeira nativa por dia. Quanto vale uma semente de árvore nativa? de Wigold
Com esses objetivos, as principais ações da Apremavi B. Schaffer (1988):
estão voltadas para o planejamento de propriedades e “Quem devastou a Reserva Indígena de Ibirama?
paisagens – apoiado na recuperação de áreas degra- Quantos milhões de sementes maduras foram des-
dadas e de matas ciliares, na agricultura orgânica, e no perdiçadas, perdidas para sempre? O que levou as
enriquecimento de florestas secundárias – para a educa- pessoas a cometerem tamanho crime ecológico?
ção ambiental, a intervenção junto às políticas públicas Quantas sementes e plantas foram coletadas pelos
e a conservação da biodiversidade, através do estímulo devastadores? Quanto valiam as milhares de canelas,
e apoio à criação de parques e reservas e da ação em de perobas, de sassafrás e tantas outras espécies,
torno das mudanças climáticas. Importante ressaltar que constituindo um excelente banco de sementes, que
as atividades desenvolvidas nas propriedades rurais são foram exterminadas em pouco mais de 5 anos?
realizadas com a observância da legislação ambiental, Quem acompanhou de perto essa destruição, sendo
especialmente o Código Florestal (Lei nº 4.771/65) no ecologista ou não, não terá dificuldade em concluir
que tange às áreas de preservação permanente e re- que foi a ganância, a corrida pelo lucro fácil e ime-
serva legal. diato e o completo desconhecimento e desrespeito
para com o meio ambiente e para com os índios, que
Quais as principais lutas da Apremavi no Vale do levou os homens a destruírem a floresta com tanta
Itajaí desde a sua criação? voracidade (..).
(...) Com isso, a Reserva Indígena com todo o seu
A luta para conter o desmatamento foi o grande carro
patrimônio em madeiras nobres produtoras de se-
chefe e, neste sentido, o processo de devastação da Terra
mentes igualmente nobres, desapareceu para sem-
Indígena Ibirama foi o mais traumático. Uma pequena
pre. Não a terra, essa continua lá, agora coberta de
ONG recém-fundada, sem recursos e trabalhando em
samambaias, cipós, arvoretas destroncadas e sem
bases voluntárias, não tinha condição de fazer frente às
valor econômico, ferida no seu íntimo pela perda
ações criminosas levadas a cabo na época, principal-
da cobertura venerável e valiosa, ferida em sua
mente porque as respostas dos órgãos governamentais
superfície por máquinas destruidoras comandadas
competentes, Funai e Ibama, eram absolutamente ine-
por homens ainda mais destruidores, que rasgaram
xistentes ou até coniventes com o processo exploratório
caminhos, demoliram morros, arrasaram nascentes
da floresta que acabou dilapidando um patrimônio natural
importantíssimo e comprometendo a sobrevivência dos
próprios índios. * Associação de Preservação do Meio Ambiente do Alto Vale do Itajaí
A floresta amazônica
O bioma Amazônia está inserido em nove países da América do Sul: Bolívia,
Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e
Venezuela. Aproximadamente 60% da floresta amazônica encontra-se no
Referência bibliográfica
CAPOBIANCO, João Paulo et al. (orgs.). Biodiversidade na Amazônia Brasileira: avaliação e
ações prioritárias para a conservação, uso sustentável e repartição de benefícios.
São Paulo, Estação Liberdade, Instituto Socioambiental, 2001.
1
Para cada área (polígono) identificada no seminário foi atribuído um grau de prioridade em função
de suas características e do grau de risco a que estão submetidas e foram recomendadas ações do
poder público no sentido de sua conservação e/ou uso sustentável (Capobianco, 2001).
2
Sobre estas áreas aplica-se a legislação florestal que determina a proteção das reservas legais e
áreas de preservação permanente, Código Florestal, Lei federal nº 4.771/65.
Este capítulo trata de uma situação peculiar, na qual majoritariamente nas TIs do alto rio Negro já demarcadas
sete Terras Indígenas (TIs), 14 Unidades de Conservação e homologadas.
(UCs) federais e duas estaduais – situadas no noroeste As UCs da região foram criadas em diferentes contex-
dos estados do Amazonas e de Roraima, fronteira do Brasil tos ao longo dos últimos 25 anos, todas elas sobrepostas,
com Venezuela e Colômbia – sobrepõem-se de maneira total ou parcialmente, às TIs descritas acima.
extremamente complexa. O Parque Nacional (Parna) do Pico da Neblina, a mais
Para entender esse quadro, que resulta de uma ex- conhecida UC da região, foi criado em 1979, ainda pelo
tensa seqüência de atos do Governo Federal, é preciso, Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF),
em primeiro lugar, destacar que as sete TIs acima men- órgão ambiental que precedeu o Ibama. Até o presente,
cionadas compõem duas situações distintas. Situadas esta UC não chegou a ser implantada, uma vez que seu
no Amazonas, a oeste da região, encontram-se cinco TIs regimento, como prescrevia o Decreto de Criação, ou seu
contíguas (Alto Rio Negro, Médio Rio Negro I, Médio Rio Plano de Manejo (cf. SNUC), não chegaram a ser elabora-
Negro II, Rio Téa e Rio Apapóris, homologadas em 1998), dos e postos em prática. Aparentemente, em seu processo
as quais juntas totalizam mais de dez milhões de ha. de criação não foi levada em consideração a existência de
Trata-se uma grande extensão de terras tradicionalmente seis comunidades Yanomami no interior de seus limites,
ocupadas por 22 etnias pertencentes à área cultural co- tampouco de comunidades ribeirinhas de outros índios
nhecida na literatura antropológica como “Alto Rio Negro”. existentes em sua porção que alcança a margem direita
Já a segunda situação é constituída pela TI Yanomami, do rio Negro. Mais tarde, com o reconhecimento das TIs
localizada tanto no estado do Amazonas como em Rorai- da região, sua extensão de cerca de 2,2 milhões de ha
ma, totalizando mais de 9 milhões e 600 mil ha. Esta terra terminou por ser sobreposta em mais de 60% por áreas
foi homologada em 1991 e é destinada ao uso exclusivo ocupadas por comunidades indígenas.
dos povos Yanomami. Em contexto muito diferente foram criadas as outras
Esses dois casos correspondem às mais extensas 13 UCs federais hoje existentes na região. Trata-se de
terras reconhecidas pelo Estado a grupos indígenas no um conjunto de Florestas Nacionais (Flonas) criadas em
país, em processos que envolveram avanços e retrocessos 1989-1990 pelo presidente José Sarney, no contexto de im-
e cuja finalização levou mais de quinze anos. Medidas que plantação do projeto Calha Norte, programa de inspiração
visaram a redução de tais TIs concretizaram-se através militar destinado a promover a colonização do extremo nor-
da criação de UCs. Esse é um dos motivos que justifica te do país. Assim, se a criação do Parna se justificava em
o tratamento integrado das TIs do alto rio Negro e a TI grande medida pela conservação de seus ecossistemas
Yanomami no presente capítulo. de altitude (o Pico da Neblina é o ponto mais alto do país
É preciso destacar ainda um terceiro caso, localizado e situa-se em uma área definida como refúgio ecológico),
exatamente entre os dois primeiros, que hoje parece ser as Flonas já se inscrevem em um momento de definição
o exemplo mais significativo dos impasses que decorrem das áreas a serem efetivamente destinadas aos índios na
da sobreposição entre TIs e UCs. Trata-se da TI Balaio, faixa da fronteira, remetendo à reafirmação da tutela militar
identificada por um Grupo Técnico (GT) criado pela Funai sobre a Amazônia e sobre os órgãos governamentais que
e aprovada por seu presidente em agosto de 2002, totali- ali exerciam suas ações (Santilli, 1990).
zando 255.823 ha. As providências para o reconhecimento Nessa época, a terra Yanomami estava invadida por
dessa terra vêm sendo tomadas pela Funai em função do milhares de garimpeiros, cujos empresários pressionavam
fato de que alguns grupos indígenas oriundos da bacia o governo pela liberação da área para a mineração. Foi
do rio Uaupés vêm, há cerca de trinta anos, se instalando
às margens da rodovia BR-307, aberta entre São Gabriel
da Cachoeira e Cucuí nos anos 1970. Assim, a TI Balaio, * Antropóloga, coordenadora do Programa Monitoramento de Áreas Protegi-
embora adjacente à TI Yanomami, é ocupada por índios das/Povos Indígenas no Brasil, do ISA.
Baré, baniwa, Tukano, Desana, entre outros, que vivem ** Antropólogo, coordenador-adjunto do Programa Rio Negro, do ISA.
Na área em que as figuras jurídicas Terra Indígena e aldeia do Maiá também se cindiu. Alguns Wawanawëteri
Parque Nacional se sobrepõem, na região do rio Cauaburis mudaram-se para o igarapé Inambu, fundando uma nova
e afluentes, estão localizadas seis comunidades Yanoma- aldeia. Um outro grupo já havia descido para as proximi-
mi – Ariabu, Maturacá, Maria Auxiliadora, Nazaré, Maiá e dades do antigo posto da Funai no baixo Cauaburis e,
Inambu –, onde habitam cerca de 1,3 mil pessoas. Essas apesar de não terem permanecido ali, os Yanomami ainda
comunidades surgiram da fissão e expansão territorial de possuem roças nesse local.(1)
dois grupos, os Masiripiwëiteri e os Wawanawëteri, que Assim, no decorrer do último século, os Masiripiwëiteri
chegaram ao Cauaburis, vindos do Orinoco, no início do e Wawanawëteri ocuparam a região do Cauaburis, plan-
século passado. Esse processo de expansão chegou tando, coletando, pescando, caçando, construindo casas
ao seu limite na década de 1920, quando os Yanomami e acampamentos. Apesar de manterem suas aldeias
passaram a confrontar-se cada vez mais com regionais nas mesmas localidades há mais de quatro décadas e
que exploravam áreas contíguas. Em meados de 1940, das últimas fissões terem ocorrido na década 1970, os
com o objetivo de pôr fim aos conflitos entre Yanomami Yanomami ainda exploram as localidades cultivadas no
e regionais, funcionários do Serviço de Proteção ao Índio passado. As roças antigas, cujos frutos atraem animais,
(SPI) deram início aos trabalhos de pacificação dos Ya- são locais privilegiados para as caçadas que antecedem
nomami da região do Cauaburis. Os sertanistas tentaram os ritos fúnebres Yanomami. Além disso, durante um
estabelecer contato, deixando presentes nos caminhos período do ano, os Yanomami das comunidades de Ma-
utilizados pelos indígenas. Mas os Yanomami recusaram turacá e Ariabu dividem-se em pequenos grupos e partem
os objetos e bloquearam os caminhos com galhos para para sítios onde eles têm roças e onde a caça é mais
sinalizar que não desejavam se relacionar com os brancos abundante que nas imediações da missão salesiana. As-
(Giacone, 1949: 121-2). sim, os Yanomami procuram contornar os problemas
Em 1952, uma expedição dirigida pelo padre salesiano decorrentes da sedentarização pela ocupação sazonal
Antônio Góis conseguiu contactar jovens caçadores nas de outras áreas.
proximidades do canal de Maturacá. Dois anos após este
primeiro encontro, o pe. Góis fundou a Missão Nossa Efeitos da presença missionária na
Senhora de Lourdes no canal de Maturacá, dando início organização sociopolítica dos Yanomami
ao processo de sedentarização dos grupos Yanomami da região do Cauaburis
da região do Cauaburis. Em 1956, os Masiripiwëiteri Por décadas, a missão em Maturacá serviu como pólo
abandonaram a maloca no sopé do Pico da Neblina e de atração, levando a população Yanomami da região
mudaram-se para as proximidades da missão. Alguns a concentrar-se em suas imediações. Nesse processo,
Wawanawëteri também se transferiram para Maturacá, indivíduos de outros grupos foram incorporados aos
atraídos pela missão. Outros permaneceram nas imedia- Masiripiwëiteri. Os primeiros moradores da região de Ma-
ções do rio Maiá. turacá passaram a ser designados pelo termo periomi, e
Atualmente, existem no canal de Maturacá duas gran- as populações vizinhas incorporadas ao grupo local, pelo
des aldeias, Maturacá e Ariabu, e algumas casas dispersas termo kasiteri. Com a emergência de conflitos, o grupo
que formam a comunidade de Maria Auxiliadora. No local,
está concentrada uma população de, aproximadamente,
850 pessoas. Na década de 1970, a comunidade de Ariabu * Doutora em Antropologia Social pela UnB. Desenvolve pesquisa entre
os Yanomami desde 1996. É professora de Antropologia Social no
cindiu-se, dando origem à aldeia de Nazaré, próximo ao
Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Sergipe.
Posto Indígena da Funai, na foz do Iá. No final da mesma Trata-se de um pequeno agrupamento, anexo à aldeia Wawanawëteri do
1.
década, após vários óbitos por malária e tuberculose, a Maiá, que é conhecido como Serrinha.
Crônica de uma expropriação “ecológica” quanto tendenciosa, afirmando que os Yanomami seriam
(1988-1990) beneficiados com uma área de mais de 8 milhões de
hectares, “correspondendo a quatro vezes a superfí-
A reivindicação do reconhecimento oficial dos direitos
cie do estado de Sergipe”. Entretanto, a divulgação da
territoriais Yanomami – cuja população é avaliada hoje no
configuração topográfica, bem como dos fundamentos
Brasil em 13.600 pessoas(1) – foi objeto de uma persisten-
jurídico-administrativos efetivos dessa delimitação foram
te campanha conduzida pela Comissão Pró-Yanomami
deixados na penumbra. Isso, em primeiro lugar, porque a
(CCPY) desde 1978.(2) Porém, em 1987, a área Yanomami
área de 8.216.925 ha supostamente concedida aos Yano-
foi invadida por dezenas de milhares de garimpeiros e en-
mami representava, em realidade, uma redução de 13%
volvida num catastrófico quadro de violências (agressões
do território reconhecido como de ocupação deste grupo
armadas, casos de tortura e massacres), de degradação
indígena pela Funai desde 1985,(6) ainda assim excluin-
ambiental (poluição e desestruturação do curso dos rios,
do do seu perímetro várias comunidades indígenas. Em
desmatamentos) e de calamidade sanitária (epidemias
segundo lugar, porque essa área, longe de ser contínua,
de malária, gripe e sarampo; doenças venéreas e tuber-
constituía-se num quebra-cabeça formado de 21 áreas
culose). A ampla divulgação desses fatos dramáticos na
separadas, regidas por regulamentos diferentes e, na
imprensa do mundo inteiro causou, no fim dos anos 1980,
maioria dos casos, contraditórios ao reconhecimento dos
uma recrudescência da mobilização de entidades não-
direitos territoriais Yanomami.
-governamentais, nacionais e internacionais, em favor
Longe de oferecer uma legalização efetiva das terras
da imediata desintrusão das terras Yanomami e de sua
Yanomami, a Portaria nº 160 propunha, portanto, um
demarcação na forma de uma área extensa e contínua,
também dedicada à preservação ambiental.(3)
Finalmente, em 10 de agosto de 1988 foi anunciada
* Antropólogo, pesquisador do IRD (Institut de Recherche pour le
em Brasília, pelo presidente da Funai, a elaboração de Développement), vice-presidente da CCPY e colaborador
uma portaria de delimitação das terras Yanomami. Esta do ISA.
Portaria, de n° 160, foi por fim assinada em 13 de setem- ** Geógrafo, pesquisador do CNRS (Centre National de la Recherche Scien-
tifique), pesquisador visitante no CDS-UnB.
bro e, curiosamente, reformulada em 18 de novembro 1
O censo do Distrito Sanitário Yanomami (Funasa-RR, julho de 2003) soma
sob forma da Portaria nº 250.(4) Na ocasião, o ministro do 14.044 pessoas, incluindo cerca de quatrocentos índios Ye’kuana estabelecidos
Interior apresentou essa medida como uma resposta à na Terra Indígena Yanomami (três aldeias ao longo dos rios Auaris e Uraricoera,
em Roraima).
comunidade nacional e internacional preocupada com a 2
Alguns projetos não-governamentais de demarcação parcial da área Yano-
proteção dos Yanomami e a preservação de seu habitat, mami já tinham sido elaborados no fim dos anos 1960. Ver Taylor & Ramos
bem como uma realização histórica da política indigenista (1979: 113-115).
3
Ver Ricardo (1991: 159-193).
e ambiental brasileira.(5) 4
Os textos destas Portarias (e todos os textos que marcaram o conturbado
processo de demarcação e homologação da TIY) podem ser consultados no
A Terra Indígena Yanomami (TIY) na Portaria nº 160: site da CCPY: www.proyanomami.org.br/doc_of/doc_oficiais.htm.
uma delimitação dúplice 5
Correio Braziliense, 26/08/1988.
6
Portaria da Funai nº 1817/E, de 08/01/1985, que delimitava o território efeti-
A delimitação das terras Yanomami foi então divulgada vamente ocupado pelos Yanomami (9.419.108 ha) na perspectiva da criação
pela Funai numa campanha de mídia tão sensacionalista de um “Parque Indígena Yanomami”.
projetos têm por origem antigas áreas do Incra, abertas quadro 1 - Projetos de colonização sob
numa época em que as parcelas atribuídas aos colonos responsabilidade do Iteraima em 1997
eram de 100 ha por família, e que, provavelmente, a su- Município Nº de Nº de Agricultores
perfície deste lote padrão tenha diminuído pela metade projetos lotes residentes
desde então, é possível propor uma estimativa de cerca Amajari 3 610 200
de 450 mil ha para a zona agrícola administrada pelo Ite- Alto Alegre 3 467 375
raima no oeste de Roraima. Essa estimativa se confirma Mucajaí 6 2 857 1 410
pelas medidas oriundas da análise de imagens de satélite Iracema 4 1 238 580
recentes da região. Assim, somando com os 332.500 ha Caracaraí(44) 1 ? ?
administrados pelo Incra, chegamos hoje a um total de Total 17 5 172 2 565
aproximadamente 800 mil ha ocupados pela colonização Fontes: Diagnóstico de Roraima, Seplan - Secretaria do Planejamento de RR apud
agrícola na margem direita do rio Branco, dos quais pelo Iteraima, 1997.
mapa 3
Os Yanomami constituem uma sociedade de caçado- Uma narrativa mítica ensina que os brancos devem
res-coletores e agricultores da floresta tropical do norte também sua existência aos poderes demiúrgicos de Oma-
da Amazônia cujo contato com a sociedade nacional é, na ma. Conta-se que foram criados a partir da espuma do
maior parte do seu território, relativamente recente. Suas sangue de um grupo de ancestrais Yanomami levado por
terras cobrem, aproximadamente, 192.000 km², situados uma enchente após a quebra de um resguardo menstrual
em ambos os lados da fronteira Brasil-Venezuela na região e devorado por jacarés e ariranhas. A língua “emaranhada”
do interflúvio Orinoco-Amazonas (afluentes da margem desses forasteiros lhes foi transmitida pelo zumbido de
direita do rio Branco e esquerda do rio Negro). Remori, o antepassado mítico de uma grande abelha cor
Formam um amplo conjunto lingüístico e cultural com- de cobre, comum nas praias dos rios maiores.
posto de quatro subgrupos que falam línguas da mesma Para chegar a esta inclusão dos brancos numa hu-
família (Yanomae, Yanõmami, Sanöma e Ninam). A po- manidade comum, ainda que oriunda de uma criação “de
pulação total dos Yanomami, no Brasil e na Venezuela, é segunda mão”, os antigos Yanomami tiveram que viver
hoje estimada em 28 mil pessoas. um longo tempo de encontros perigosos com esses es-
No Brasil, a população yanomami é aproximadamen- tranhos, que passaram finalmente a chamar de napëpë
te de 13.600 pessoas, repartidas em 250 comunidades (“inimigos, estrangeiros”). De fato, a primeira visão que
(censo da Fundação Nacional de Saúde de junho de tiveram dos brancos foi de um grupo de fantasmas ya-
2003). A Terra Indígena Yanomami, que cobre 9.664.975 nomami, retornando de suas moradias nas “costas do
ha (96.650 km²) de floresta tropical, é reconhecida por sua céu”, com o escandaloso propósito de voltar a morar no
alta relevância em termos de proteção da biodiversidade mundo dos vivos.
amazônica e foi homologada por um decreto presidencial
em 25/05/1992. Os antigos Yanomami
Uma vez estabelecido enquanto conjunto lingüístico,
Os Yanomami e os brancos
os antigos Yanomami teriam ocupado a área das cabe-
Yanomae thëpë significa, na lingua dos Yanomami ceiras do Orinoco e Parima há cerca de um milênio, e ali
orientais, “seres humanos”. Essa expressão se opõe às iniciado o seu processo de diferenciação interna (há 700
categorias yaro (animais de caça) e yai (seres invisíveis anos) para acabar desenvolvendo suas línguas atuais.
ou sem nome), mas também a napë (inimigo, estrangeiro, Segundo a tradição oral yanomami e os documentos
“branco”). Os Yanomami remetem sua origem à copulação mais antigos que mencionam esse grupo indígena, o centro
do demiurgo Omama com a filha do monstro aquático histórico do seu habitat situa-se, assim, na Serra Parima,
Tëpërësiki, dono das plantas cultivadas. A Omama é divisor de águas entre o alto Orinoco e os afluentes da
atribuída à origem das regras da sociedade e da cultura margem direita do rio Branco. Essa é ainda a área mais
yanomami atual, bem como a criação dos espíritos au- densamente povoada do seu território.
xiliares dos xamãs, os xapiripë (ou hekurapë). O filho de
Omama foi o primeiro xamã. O irmão ciumento e malvado
* Antropólogo, pesquisador do Institut de Recherche pour le Développement
de Omama, Yoasi, é a origem da morte e dos males do
(IRD), vice-presidente da Comissão Pró-Yanomami (CCPY) e colaborador
mundo. do ISA.
A área cultural do Alto Rio Negro é composta pelas geral, o nheengatu, embora em algumas comunidades do
seguintes etnias: Baniwa, Kuripako, Maku, Baré, Wareke- alto Xié fale-se Werekena.
na, Arapaso, Bará, Barasana, Desana, Karapanã, Kubeo, A maior parte do Noroeste Amazônico é constituída
Makuna, Mirity-tapuya, Pira-tapuya, Siriano, Tariana, Tuka- por terras da União (Terras Indígenas e um Parque Na-
no, Tuyuka, Wanana, Tatuyo, Taiwano, Yuruti (as duas últi- cional). A população indígena atual é majoritária, consti-
mas habitam só na Colômbia). Somavam, segundo dados tuindo pelo menos 90% do total, embora os mais de dois
de 2000, 31.625 pessoas no Brasil, 26.281 na Colômbia séculos de contato e comércio entre os povos nativos e
e 7.290 na Venezuela. os “brancos” tenha forçado a ida de muitos índios para
No que diz respeito a fatores como distribuição geo- o Baixo Rio Negro ou para as cidades de Manaus e Be-
gráfica, línguas faladas e organização social, tais etnias lém, bem como levado pessoas de outras origens a se
podem ser divididas em quatro conjuntos: estabelecerem ali.
1) Etnias da bacia do Uaupés: Arapaso, Bará, Bara- No Brasil, as etnias do Alto Rio Negro se encontram
sana, Desana, Karapanã, Kubeo, Makuna, Miriti-tapuya, em oito Terras Indígenas – cinco delas homologadas e
Pirá-tapuya, Siriano, Tariana (outrora falavam Aruak e contíguas, uma homologada mas não contínua, uma ainda
algumas comunidades ainda o fazem), Tukano, Tuyuka, a identificar, uma aprovada pela Funai e uma em estudos
Wanano, Taiwano, Tatuyo, Yuruti. Em sua maioria, falam de identificação – situadas nos municípios amazonenses
línguas da família Tukano Oriental. Os grupos Tukano são de São Gabriel da Cachoeira, Japurá e Santa Isabel.
patrilineares e exogâmicos, isto é, os indivíduos pertencem
ao grupo de seu pai e falam a sua língua, mas devem se História recente
casar com membros de outros grupos, idealmente falantes O ano de 1970 foi um marco importante para a história
de outras línguas. Populações proveniente dessa região recente da Amazônia brasileira. O governo federal, então
migraram e atualmente estão presentes na calha do rio controlado pelos militares, anunciou publicamente o Plano
Negro, nas cidades da região (São Gabriel da Cachoeira, de Integração Nacional (PIN), um programa de obras de
Santa Isabel) e na estrada que liga São Gabriel a Cucuí infra-estrutura com o objetivo de integrar geopoliticamente
(TI Balaio). a região ao resto do país.
2) Maku: localizam-se predominantemente nas regi- Entre 1972 e 1975 as primeiras iniciativas do PIN
ões interfluviais ao longo de uma linha de direção geral apareceram na chamada “Cabeça do Cachorro”, com a
noroeste-sudeste, desde o rio Guaviare, na Colômbia, ao instalação de postos da Funai e a chegada de militares
Japurá, no Brasil, cortando a bacia do Uaupés. do Batalhão de Engenharia e Construção, assim como
3) Baniwa: habitantes do Içana e seus afluentes, e no trabalhadores de empresas contratadas para a abertura
altoYaviari, afluente do baixo Uaupés. Falantes de língua da BR-307 (estrada que liga São Gabriel da Cachoeira a
da família Aruak. Organizam-se em sibs e fratrias patrili- Cucuí) e de um trecho da rodovia Perimetral-Norte (BR-
neares exogâmicos.
4) Etnias do rio Xié e do alto rio Negro: Baré e Wa-
* Antropólogo do Programa Rio Negro, do ISA.
rekena [ou Werekena]. Habitam a região de fronteira entre
** Antropólogo, coordenador do Programa Rio Negro e membro do Conselho
Brasil, Venezuela e Colômbia. A maioria é falante da língua Diretor do ISA.
A área etnográfica denominada Noroeste Amazônico dia 23/08/2002, reconheceu os estudos de identificação da
se estende sobre todos os lados da fronteira entre o Brasil, TI Balaio, acolheu a proposta de superfície e determinou
Colômbia e Venezuela, representada por uma linha que, a publicação do Resumo do Relatório Circunstanciado,
nos mapas, toma a forma da conhecida “cabeça de ca- Memorial Descritivo, Mapa de Delimitação e o Despacho
chorro”. O principal rio que corta a área é o rio Negro, um no Diário Oficial da União e no Diário Oficial do Estado do
afluente do Amazonas que, antes de entrar no Brasil, tem Amazonas, conforme dispõe o § 7º do art. 2º do Decreto
o nome de Guainía e separa a Colômbia da Venezuela; no nº 1775/96.
seu alto curso. Ele recebe, pela margem direita, o Içana No dia 23 de janeiro de 2003, após o término do prazo
e o Uaupés (chamado Vaupés na Colômbia). Atualmente, do contraditório e sem ter havido manifestações contrárias
a categoria área etnográfica é amplamente utilizada pela à proposta de superfície da TI Balaio, a Presidência da
Funai, especialmente no auxílio das tomadas de decisões Funai encaminhou o processo de identificação e delimi-
e nas ações específicas do procedimento administrativo tação ao Ministério da Justiça e aguarda, desde então,
de regularização fundiária. manifestação superior.
Os grupos que habitam a Terra Indígena (TI) Balaio Porém, três meses depois de findar o prazo para con-
dividem-se em falantes das famílias Tukano Oriental e testação da TI, o ex-funcionário do Ibama em São Gabriel
Aruak. Entre os primeiros, estão os Tukano, os Desana, da Cachoeira, responsável pelo Parque Nacional do Pico
os Kobewa, os Pira-Tapuya e os Tuyuka. Os grupos fa- da Neblina, enviou um documento diretamente ao Ministé-
lantes de línguas da família Aruak são os Baré, Kuripako, rio da Justiça com argumentos contrários à regularização
Tariano e Baniwa. da Terra Indígena Balaio.(2) Supõe-se, então, que esse
documento é o motivo da paralisação no procedimento
Reconhecimento oficial demarcatório, pois ainda não houve resposta oficial à
A superfície da TI Balaio, situada no município de São denúncia, nem o seu encaminhamento às instâncias que
Gabriel da Cachoeira, proposta pelo Grupo Técnico de poderação esclarecer as dúvidas quanto ao direito origi-
Identificação e Delimitação responsável pelos estudos, nário dos grupos indígenas habitantes da TI Balaio.
soma uma área total de 255.823 ha. Aproximadamente
95% de sua extensão localiza-se no Parque Nacional do Localização atual das aldeias
Pico da Neblina (PNPN). Sobrepõe-se também à Reserva Na TI Balaio existem atualmente cinco aldeias. A
Biológica Estadual Morro dos Seis Lagos, criada onze anos aldeia Miuá, localizada no quilômetro 47 da rodovia BR-
depois do Parque, pelo Decreto Estadual nº 12.836, de 307, Perimetral Norte, somava na época dos estudos de
09/03/1990, que incide totalmente no PNPN e nos limites identificação cerca de treze índios distribuídos em duas
identificados da TI Balaio.
O procedimento administrativo de regularização fun-
diária(1) da TI encontra-se, no momento, em fase de iden- *Antropóloga e coordenadora do GT da Funai que fez os estudos de identifi-
cação da TI Balaio.
tificação, ou seja, o Despacho do presidente da Funai nº 1
Ver texto de Ana Valéria Aráujo nesta publicação.
114, de 22/08/2002, publicado no Diário Oficial da União do 2
Veja os argumentos no boxe neste capítulo.
A região do Alto Rio Negro, além de ser a morada de qualidade de responsável pela gestão do Parque Nacional
dezenas de povos indígenas, conserva uma biodiversidade (Parna) Pico da Neblina e das Florestas Nacionais (Flonas)
pouco conhecida ainda, mas que se reputa valiosíssima situadas na região da “Cabeça do Cachorro”, vem tentando
pelas condições peculiares de solo, relevo, água e clima controlar e monitorar a extração e o uso dos recursos na-
que acolhem um mosaico de paisagens naturais de pro- turais por terceiros, especialmente no Parna, priorizando a
vável endemismo. aplicação de mecanismos de comando e controle através
Do ponto de vista geopolítico, o território do Rio Negro do exercício de seu poder de polícia.
também é importante: situa-se em uma região de fronteira Essa seria a atitude esperada de qualquer órgão
trinacional (Brasil-Colômbia-Venezuela) com forte presen- público cuja atribuição funcional é zelar pela integridade
ça das Forças Armadas, paulatinamente intensificada nas dos atributos ecológicos da UC sob sua gerência. Mas
últimas décadas em função dos conflitos guerrilheiros e não exatamente no caso do Rio Negro. As UCs situadas
da questão da coca na vizinha Colômbia. nessa região têm seus limites geográficos largamente
A história de ocupação não-indígena na região do Rio sobrepostos sobre territórios indígenas reconhecidos e
Negro remete a uma sucessão de relações protagonizadas demarcados formalmente pelo Estado brasileiro, ou cujo
por diferentes atores sociais ao longo do tempo, tais como processo de reconhecimento está em curso. Ou seja, estão
garimpeiros, regatões, missionários, militares, “patrões” e longe de serem áreas “desabitadas”, ou “sem interferência
outros agentes, cujos desdobramentos para os povos nati- humana”, como requer a figura do Parque Nacional; em
vos incluíram doenças epidêmicas, violência, escravidão, contrário, são territórios indígenas tradicionais, extensi-
descimentos, divisão interna das comunidades, alcoolismo vamente manejados por dezenas de povos indígenas e
e prostituição. cujos limites extrapolam até mesmo a fronteira nacional
O passivo histórico de destruição e morte que o pa- brasileira, estendendo-se sobre a Amazônia colombiana
drão de ocupação das fronteiras causou junto aos povos e venezuelana.
indígenas no Rio Negro (como de resto em outras regiões Daí principalmente a origem do conflito surgido entre
das Américas) tem como força motriz a luta pela posse órgão ambiental e as comunidades indígenas na região: a
de terras e pelo uso dos recursos naturais. Garimpeiros disputa pelo controle do uso dos recursos naturais em uma
disputam os veios de ouro, patrões disputam os lucros dada região. Outro foco de conflito diz respeito ao turismo
do extrativismo predatório e escravo, militares disputam feito pelo Ibama à revelia dos indígenas no Parna Pico
palmo a palmo com os indígenas a ocupação do território da Neblina e à omissão do órgão ambiental em combater
contra os inimigos da pátria. outros atores sociais que exploram recursos naturais ile-
É importante ter em mente esse histórico para que a galmente em detrimento do usufruto garantido aos povos
situação de sobreposição entre as Terras Indígenas (TIs) indígenas (tais como garimpeiros, piabeiros, piaçabeiros).
e Unidades de Conservação (UCs) no Rio Negro possa Essas ações/omissões levaram desconfiança e desgaste
ser analisada para além de sua face meramente jurídica, às relações entre técnicos do Ibama e comunidades indí-
atentando para a legitimidade da presença indígena na genas ao longo das últimas duas décadas.
região no que diz respeito à antiguidade da sua ocupação Do ponto de vista fundiário, a esquizofrenia típica da
e dos processos históricos a que essas populações foram máquina estatal permite que haja mais de uma destinação
sujeitas. e status jurídico para uma mesma porção territorial. E o
fisiologismo e corporativismo não raro característicos dos
O Ibama no contexto local órgãos ambiental e indigenista impermeabilizam qualquer
Nas duas últimas décadas, um novo ator social passou possibilidade de cooperação positiva.
a ganhar importância: o Ibama, órgão ambiental responsá-
vel pelas UCs federais existentes na região do Rio Negro. A * Advogado, coordenador-adjunto do Programa de Política e Direito Socio-
administração do Ibama em São Gabriel da Cachoeira, na ambiental do ISA.
formas de administrar os recursos naturais do território. de tomada de decisões: uma gestão eficaz depende em
Pouco importa qual o rótulo jurídico-burocrático que se grande parte de os atores sociais se sentirem incluídos,
dê (embora possa haver rótulos mais ou menos apropria- reconhecidos, envolvidos, enfim responsáveis pelo proces-
dos): a gestão do território indígena, acima de tudo, é a so. Para tanto, decisões devem ser compartilhadas com
chave de leitura que deve orientar a busca de soluções os povos indígenas, devem contar necessariamente com
compartilhadas para a sobreposição, chave esta que já se seu pleno aval e controle, para que tenham capilaridade
vislumbra no próprio texto legal do SNUC.(6) e legitimidade dentro da esfera jurídica consuetudinária
Diretrizes para uma gestão socioambiental de cada povo indígena, e portanto para que possam se
Do que foi até agora colocado, há duas pedras funda- traduzir em ações concretas. Da mesma forma, quando
mentais sobre as quais é possível estabelecer princípios circunstâncias ambientais exigirem inovações na prática
orientadores para uma gestão socioambiental da região local, estas mudanças devem ser concebidas, projetadas
do Rio Negro: a primeira, colocada no início do texto, é e implementadas pelos povos indígenas, com apoio e
a legitimidade histórica, social e moral da presença dos incentivo do Poder Público.
povos indígenas. A outra pedra basilar é a gestão do ter- Garantia do uso tradicional pelos povos indígenas
ritório como chave de leitura para atingir nosso objetivo. dos recursos naturais existentes no território: tão caro aos
A partir dessas fundações, arriscaria elencar alguns povos indígenas quanto o direito à terra revela-se o direito
pilares que poderiam ser erguidos visando a construção de de poder usá-la tradicionalmente. Trata-se de um direito
uma agenda de cooperação positiva entre povos indígenas constitucionalmente garantido, mas além disso, de uma
e órgão ambiental no Rio Negro. São eles: condição para a própria permanência e vida dos povos
Soberania e autodeterminação dos povos indíge- indígenas em seu território. Órgãos ambiental e indigenista
nas sobre seus territórios: o respeito pela soberania das devem reconhecer e garantir o uso tradicional dos recursos
decisões e pelo direito de autodeterminação dos povos naturais existentes no território, estabelecendo políticas de
indígenas em construir seus projetos de vida, prioridades e incentivo e cooperação científica que permitam, dentro de
caminhos dentro de seus territórios são elementos cruciais um quadro de demandas estabelecido pelos indígenas,
para o sucesso, a longo prazo, de qualquer iniciativa de
gestão de uma UC onde há presença indígena. Mais, são 6
SNUC, Art. 26. “Quando existir um conjunto de unidades de conservação de
direitos reconhecidos internacionalmente e incorporados categorias diferentes ou não, próximas, justapostas ou sobrepostas, e outras
ao ordenamento jurídico brasileiro a partir da ratificação áreas protegidas públicas ou privadas, constituindo um mosaico, a gestão do
conjunto deverá ser feita de forma integrada e participativa, considerando-se os
da Convenção 169 da OIT.
seus distintos objetivos de conservação, de forma a compatibilizar a presença
Qualquer decisão sobre a criação ou ampliação de da biodiversidade, a valorização da sociodiversidade e o desenvolvimento
Unidades de Conservação sobre territórios indígenas deve sustentável no contexto regional”.
Não fomos nós que acabamos com muitas entrado muita gente de São Gabriel – mais miserável –
das riquezas do Parque Nacional para tirar cipó, para pescar peixes ornamentais, para tirar
caranã. Nós brigamos com essa gente também. Não foi o
O administrador do Ibama em São Gabriel da Cacho-
Ibama que defendeu a área.
eira até meados de 2002 levava turistas, de preferência
estrangeiros, para o Pico da Neblina, e isso nunca foi
O Parque Nacional e “os homens que
questionado. Nós não temos nenhum controle de quantos
realmente sempre viveram lá”
turistas entraram e do que foi feito com a renda. Do Iba-
ma em São Gabriel não vem nenhum benefício para nós. Depois mudou o funcionário do Ibama em fins de
Mais tarde, esse funcionário criou a Fundação Uaupés e 2002, chegou um novo, que era um técnico. O que não
começou a angariar fundos no Ministério do Meio Ambiente deu para entender é por que ele mandou tomar as redes
em Brasília, na Embratur, e em nenhum momento prestou de índios, as malhadeiras, e tocou fogo. Aquilo tinha um
contas. E depois ele passou a levar, também, garimpeiros. custo, e essa atitude criou uma inimizade enorme. Muitos
Ele tem sido comprador de ouro dos garimpeiros. Às vezes, índios de São Gabriel e mesmo do Parque Nacional do
para fazer negócio por baixo do pano, levava os garimpei- Pico da Neblina vieram se queixar: “olha, o Ibama está
ros à noite até o Iá Mirim [rio à altura do quilômetro 85 da fazendo isso, isso e isso”. Ou então, ele apreendia o bicho
estrada para Cucuí]. Isso é ilegal. Ele era aplicador de lei de casco, jogava metade, outra metade era para fazer
e estava fazendo o contrário. farra. Não estava correto isso. Esse novo funcionário do
Também tem a história da Funai em São Gabriel. Ti- Ibama alegava que era ilegal, que não era para matar
nha um chefe de posto em Maturacá que levava cachaça os peixes do Parque, que tinha que cumprir a lei. Mas
e outras mercadorias para revender aos garimpeiros que isso ele fazia somente com os índios, com os caboclos.
estavam ali dentro. Havia uma conivência muito grande Havia outros comerciantes grandes com quem ele não
entre alguns funcionários da Funai e do Ibama, levando fazia isso. Foi por esta razão que nós tivemos desenten-
centenas e centenas de garimpeiros. Isso tudo na década dimento. Era necessário. Eu falei com a Marina [Silva,
de 1980. Nessa época, o Parque do Pico da Neblina foi ministra do Meio Ambiente] para ele sair, porque estava
muito ferido. Botijões de gás que até hoje estão lá nos ficando tenso. Ou ela ficava conosco ou com ele. E aqui
garimpos, contaminação ecológica, mercúrio... Os garim- [em Manaus] também nós falamos, falamos com o Marcus
peiros levaram dinamite para matar peixe e acabaram com Barros [presidente do Ibama]. Infelizmente, essa tensão
muita quantidade de peixe. piorou quando veio também a reclamação dos Yanomami,
Então, não fomos nós que acabamos com as riquezas a queixa deles contra o Ibama local. Então, eu percebi que
que estão dentro do Parque Nacional. Foram os funcio- ele estava incapacitado de defender o Parque Nacional
nários da Funai e do Ibama , através de seus garimpei- do Pico da Neblina.
ros. E a vida para nós ficou muito cara. Hoje, estamos Eu acho que o Parque, qualquer Terra Indígena ou
dependendo de rios que não têm peixe; a caça também qualquer Reserva Extrativista precisam de homens que
foi espantada. realmente sempre viveram lá. Quando o funcionário do
Nós pensávamos que a Funai e o próprio Ibama pu- Ibama alega que a gente veio de Pari Cachoeira, isso é
dessem ter um melhor acompanhamento junto com as uma provocação. Nós temos um outro lado da história.
comunidades indígenas que se instalaram ao longo da Porque muito antes da chegada dos brancos, aquilo [a
estrada para Cucuí [BR-307]. O Ibama de fato compro- região onde está a TI Balaio] era um canal para não remar
meteu-se conosco a expulsar os garimpeiros, as pessoas as corredeiras de São Gabriel. Era paraná. Subindo o rio
que viessem tirar cipó, os piabeiros. Acho que foi só para Cauaburi, penetrando no rio Iá até as cabeceiras... Daí,
testar a nossa reação. Nós cumprimos a palavra, e ele era arrastar [a embarcação] e encontrar com o rio Demiti;
nunca mais fiscalizou. Ele começou a impor que a gente e depois descer pelo Demiti e varar lá perto da fronteira
não derrubasse roça porque era um Parque Nacional, que [entre Brasil e Venezuela]. Então, esse caminho nós conhe-
a gente não matasse anta, não matasse caça de modo cíamos já antigamente. Por isso todas aquelas capoeiras
geral ou peixe, para a gente não vender esses produtos antigas hoje estão cheias de cerâmica; eram dos nossos
no mercado. Só que, ao longo de todo esse tempo, tem antepassados que ali viveram e morreram.
A sobreposição territorial discutida neste capítulo é reais: a eminente perda de nossa soberania nacional em
uma daquelas situações cuja compreensão só acontece áreas de fronteira com países limítrofes e a internaciona-
quando abandonamos a cena local em função do contexto lização da Amazônia que estaria em pleno curso. O boxe
mais amplo que a comporta. O grande problema a ser en- de Márcio Santilli, neste capítulo, intitulado “Os índios e a
frentado aqui está no fato de que este caso específico de fronteira” talvez nos devolva um pouco da lucidez perdida
sobreposição está, com o perdão do trocadilho, também a respeito do assunto.
sobreposto a algumas “graves” e candentes questões que Não entendamos, portanto, a sobreposição entre o
se passam em Roraima. Questões que afetam, de uma Parque Nacional do Monte Roraima e a TI Raposa/Serra
só vez, o meio ambiente e os direitos indígenas, e cuja do Sol como um fenômeno isolado, que faça sentido em si
densidade e reverberação política fazem a sobreposição mesmo. Uma das orientações editoriais desta publicação,
entre a Terra Indígena (TI) e o Parque Nacional (Parna) a propósito, é a de ultrapassar o debate jurídico e adminis-
parecer picuinha. trativo do fato consumado, deslocando, assim, o foco da
A primeira destas questões é, certamente, o tenso e atenção para os desafios e impasses que a sobreposição
conturbado processo de homologação da Terra Indígena de áreas protegidas produz em relação à conservação e
Raposa/Serra do Sol (TI RSS), com suas idas e vindas, defesa que queremos: da natureza e da biodiversidade,
prazo sobre prazo, e um Grupo de Trabalho após outro. A mas também do patrimônio sociocultural dos índios e sua
segunda questão está no fato de Roraima se constituir na integridade física. Para que o leitor, contudo, não pense
sede política, logística e ideológica do combate às áreas que perdemos o fio da meada, façamos, primeiramente,
protegidas no Brasil, sejam elas Unidades de Conservação uma aproximação às áreas sobrepostas.
ou Terras Indígenas. Uma espécie de “império do mal”
para ambientalistas e indigenistas de todos os matizes. O conflito da sobreposição
Talvez o Mato Grosso, com os seus capitães da soja, seja Um dos pontos culminantes da topografia do país, com
o único estado capaz de ameaçar a posição de Roraima 2.875 metros de altitude, o Monte Roraima é parte do re-
como sede desse império. pertório mitológico dos índios e, de certo modo, também de
Estas questões, a bem da verdade, se sobrepõem à nosso imaginário literário. Essa mesa de arenito de dimen-
sobreposição em foco de maneira a quase impedir que sões colossais – são aproximadamente 40 km2 –, ladeada
vejamos a área do Parque e da TI. Estão entrelaçadas por fendas produzidas pelo vento e pela ação mecânica
entre si como também a algumas outras tantas que, no da água, é denominada “madre de todas las águas” pelos
entanto, fogem do escopo desta apresentação de caso. índios Pemón da Venezuela. Essa formação geológica
Julgamos necessário abordá-las porque afetam direta- ocupa um lugar relevante sobretudo na cosmologia e no
mente a posição conflituosa dos atores sociais envolvidos universo simbólico dos Ingarikó e Macuxi, no Brasil. Eles
na sobreposição como também qualquer possibilidade a consideram o lugar de morada de Macunaíma, entidade
futura de síntese socioambiental que promova, em uma mítica imortalizada, mas recriada, no modernismo literário
mesma equação, a defesa do meio ambiente e dos direitos de Mário de Andrade. Mesmo a maneira como o Ocidente
indígenas. Em outras palavras, estamos lidando com um tomou consciência do Monte Roraima – ainda no Renas-
fenômeno de sobreposição territorial cujo enigma exige, cimento, como personagem da literatura de viagens – nos
para sua decifração, que estabeleçamos suas relações remete à forma e à dinâmica dos mitos. No final do século
sociológicas mais amplas com a política local – seja ela XVI, sir Walter Raleigh, aventureiro e escritor protegido por
a política dos índios ou a dos não-índios. Como se não Elizabete I, liderou uma expedição em parte do império
bastasse, o enigma envolve ainda a presença fantasma-
górica de alguns temas que de tanto ouvirmos falar – pela
* Antropólogo e pesquisador do Programa Monitoramento de Áreas Protegi-
boca e pela pena de inflamados debatedores que alternam das/Povos Indígenas no Brasil do ISA, até 2004. Atualmente é pesquisador
entre a fantasia e o besteirol – quase acreditamos serem do Cebrap.
A solução da sobreposição
Os textos a seguir situam-se em posições distintas
quanto à precedência dos atos normativos que instituí-
ram ambas as áreas protegidas. Um lamenta que a Funai
ignore, no processo de demarcação da Terra Indígena, a
existência do Parque Nacional, criado por Decreto presi-
dencial e que, portanto, deteria um estatuto legal inapelá-
vel. Outro questiona o Ibama por ignorar o longo processo
de demarcação da TI, que, apesar de não ter recebido a
assinatura presidencial de homologação, teria precedência
constitucional sobre o Parna por constituir Terra Indígena
demarcada. São textos que, no entanto, propõem repen-
sar o problema da sobreposição já consumada para além
das tensões internas à burocracia estatal e das disputas
jurídicas que potencialmente possam ocorrer. Ambos
exploram algumas possibilidades para que o entrave da
sobreposição possa ser minimizado, quando não revertido,
em favor da defesa da natureza e da cultura.
Enzo Lauriola, que participou de missão da Funai
para esclarecer o significado de um Parque Nacional
aos índios, aponta, por exemplo, para a necessidade de
diálogo entre os diferentes atores sociais e institucionais
envolvidos, como também para a incorporação, pela
autoridade ambiental, da perspectiva cultural indígena
na definição das regras internas do Parna – perspectiva
que, a seu modo, constitui uma forma nativa de manejo.
Fernando Scardua, que atuou na elaboração do Plano de
Manejo do Parque, por sua vez, observa que propostas de
co-gestão da área se fazem presentes no Plano de Manejo
e deveriam, portanto, serem postas em ação. Sugere ainda
que o instrumento de ordenamento territorial constituído
pelo Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) possa ser
mobilizado também no estabelecimento de critérios de uso
nas áreas sobrepostas. De certo modo, os textos deste
capítulo dialogam entre si quando recusam deter-se ex-
clusivamente sobre a dimensão jurídica e administrativa
do entrave ou sobre os males suscitados pela sobreposi-
ção à preservação da natureza e aos direitos indígenas
de usufruto de seu território. Como que compartilham a
percepção de que a superação da questão passa pela
articulação política. A composição entre os segmentos
De tempos em tempos se repõe na mídia o tema da demarcação de fundiária, é imprescindível para a redução dos conflitos, especialmente
Terras Indígenas nas regiões de fronteira. Jornalistas, militares e espe- em faixa de fronteira.
cialistas são chamados a identificar riscos para a soberania nacional, Um exemplo claro disso, e mais recente, é o da Terra Indígena Yano-
geralmente no bojo de crises específicas que pipocam em momentos mami. Enquanto a terra ainda não estava demarcada e, sobretudo,
de tomada de decisão sobre demarcações, ou pela falta de ação dos quando se tentou demarcá-la em “ilhas” para “liberar” a maior parte da
poderes públicos responsáveis. No entanto, cada vez que volta o tema, sua extensão para a prática do garimpo predatório, computaram-se mais
não há preocupação em recuperar a memória das crises anteriores, de dois mil índios mortos em decorrência de conflitos diretos, da malária
verificar o que resulta dos processos respectivos ao longo do tempo. e de outras doenças. Dezenas de milhares de garimpeiros brasileiros
O caso de Roraima é emblemático. Os Ingarikó, Macuxi e Wapixana invadiram a área, inclusive em território da Venezuela, provocando
vivem na região de fronteira entre o Brasil e Guiana desde tempos incidentes diplomáticos. E o Brasil praticamente não ganhou nada
imemoriais. Etnias aparentadas, elas estão em áreas contíguas situa- com as muitas toneladas de ouro extraídas e contrabandeadas dali.
das na Guiana e na Venezuela. É fartíssima a documentação histórica O caso tornou-se um escândalo planetário, produzindo notícias e ma-
disponível sobre a presença destes povos desde que se iniciou o nifestações de indignação no país e em todo o mundo dito civilizado.
processo de colonização. Pois bem, a área foi demarcada em 1992, apesar da forte objeção
Quando, há cem anos, se deram as difíceis negociações internacionais das mesmas forças políticas que agora se opõem à homologação
para a definição deste trecho da fronteira, a presença destes povos e de Raposa/Serra do Sol. Ainda ocorrem invasões esporádicas e em
manifestações de lealdade dos seus chefes ao Estado brasileiro foram pequena escala, assim como ainda há muito a fazer em termos de
elementos importantes para que a região de Raposa/Serra do Sol, en- políticas públicas para os Yanomami, mas já não se tem a sangria
tão chamada de “área do contestado”, integrasse o território nacional, desatada dos anos anteriores, nem cobranças sobre o governo, nem
enquanto as pretensões territoriais da Grã-Bretanha se estendiam até conflitos tumultuando a fronteira ou dificultando o trabalho dos pelotões
o rio Cotingo. Joaquim Nabuco, em seu livro O Direito do Brasil, registra do Exército que lá se encontram instalados.
essa passagem. Seria de toda justiça que os especialistas brasileiros A Constituição brasileira define que as Terras Indígenas são bens da
em geopolítica, se tivessem memória histórica, reconhecessem isso, União, assim como estabelece a competência das Forças Armadas na
em vez de teorizar sobre hipóteses estratégicas limítrofes, em que proteção da fronteira. Não há margem de dúvida quanto à estabilidade
potências internacionais se apropriariam de Terras Indígenas frontei- jurídica com que estas terras integram o território nacional. E quanto
riças para impor a desintegração territorial do país. No geral, há mais às situações de fato, é a ausência ou a indefinição das demarcações
de cem Terras Indígenas situadas em faixa de fronteira e oficialmente que abrem espaço para a ocorrência de conflitos, com implicações
reconhecidas pelo Estado brasileiro, o que não justifica o recurso à para a defesa nacional. A homologação de Raposa/Serra do Sol ainda
tese neste caso específico. E dadas as circunstâncias do caso, este poderá provocar protestos de interesses contrariados em nível local,
recurso chega a ser cínico. mas é medida indispensável e urgente para restabelecer a justiça e a
A doutrina estratégica brasileira mais sábia sobre índios na fronteira foi tranqüilidade nessa parte da fronteira do Brasil.
formulada pelo marechal Cândido Rondon – cuja mãe era descendente
* Filósofo, membro do Conselho Diretor do ISA.
de índios Bororo – forjada com base na sua experiência de vida, com
a mão na massa. Em seu livro Muralhas dos Sertões ele caracteriza
a importância que políticas indigenistas positivas, inclusive para a
demarcação das Terras Indígenas, têm para assegurar a tranqüilidade
e a segurança nas regiões de fronteira. Ou seja, ao contrário do que
dizem vários especialistas recém-consultados pela mídia, a demarcação
das Terras Indígenas, como elemento de ordenamento da estrutura
O modo pelo qual o Parque Nacional do Monte Ro- com suas formas tradicionais de uso dos recursos naturais
raima (PNMR) está sendo implementado mostra, de um e apropriação do espaço.
lado, como as políticas de conservação da natureza podem Os Ingarikó representam o maior grupo indígena da
entrar em conflito com os direitos e as políticas de pre- região Serra do Sol, com uma população de aproxima-
servação da diversidade cultural. Por outro lado, levanta damente mil pessoas, distribuída em oito comunidades.
a questão da pertinência de políticas de conservação Pertencem ao grupo etno-lingüístico Kapón, da família
da natureza fundadas na implementação (de cima para Karib, e habitam tradicionalmente as serras da região
baixo) de modelos técnicos baseados na exclusão do nordeste de Roraima, dos dois lados da fronteira com a
homem para promover a sustentabilidade. Estas questões República Cooperativista de Guiana (ex-Guiana Inglesa) –
apresentam características específicas em realidades onde o grupo denomina-se de Akawaio e onde se registra
como a Amazônia brasileira, raramente correspondentes sua maior população: 7.760 indivíduos (Forte, 1990, apud
às representações normativas amplamente difundidas da Sousa Cruz, 2000) – e com a Venezuela – onde sua popu-
natureza como espaço livre da presença humana, e, ao lação é aproximadamente de quinhentas pessoas (Masony,
contrário, povoadas por grupos humanos, como os povos 1987, apud Sousa Cruz, 2000).
indígenas, que dependem diretamente da apropriação e
do uso da natureza, não só para sua sobrevivência física, A história do Parque e o processo
mas também para sua identidade cultural e organização de implementação
social.
O PNMR existe no papel desde início dos anos 1990.
Este caso mostra também como, na falta de regulari-
Na época do Decreto de criação, em 1989, o processo de
zação fundiária – ao invés de representar uma oportuni-
demarcação da TI estava em andamento. Duas pequenas
dade para aliviar os conflitos existentes através da busca
áreas indígenas distintas tinham sido preliminarmente
de novos meios de manejar a natureza enquanto bem
identificadas na região, uma das quais, a Terra Indígena
comum –, o argumento ecológico pode ser apropriado
Ingarikó, demarcada em 13 de junho de 1989. A área do
pelos atores sociais e usado como arma em conflitos
Parna foi definida às margens da área Ingarikó, e o Decreto
de natureza política, contribuindo para amplificá-los e
de criação foi assinado apenas 15 dias depois, em 28 de
agravá-los, afastando assim ainda mais a possibilidade
junho de 1989. O processo de reconhecimento da Terra
de soluções sustentáveis.
Indígena continuou nos anos seguintes, atravessando
ásperos conflitos políticos e legais, terminando em 1998
A área e as populações locais com a demarcação em área contínua da Raposa/ Serra
A parte setentrional da TI Raposa/Serra do Sol (TI do Sol – que, no entanto, aguarda assinatura presidencial
RSS), a região Serra do Sol é de montanhas, coberta por de homologação.(2)
ecossistemas de cerrado e floresta, habitada por grupos Entre o segundo semestre de 1999 e o início de 2000,
étnicos Ingarikó, Patamona e Macuxi. O PNMR, também o Ibama iniciou o processo de implementação do Parna,
localizado na parte setentrional desta região, estende-se utilizando recursos de compensação ambiental pagos pela
pela maior parte de sua área florestal. Assim como o resto
da TI RSS, a área incluída no Parque Nacional (Parna)
representa, para os índios da região, área tradicional de * Socioeconomista do Meio Ambiente, doutor em Políticas de Desenvolvi-
ocupação, apropriação e uso dos recursos naturais, as- mento Sustentável (Universidade de Bari, Itália) e pesquisador em Etnobio-
logia (Inpa/RR).
segurando sua própria sobrevivência, cultura e estilo de 1
“Não” nas línguas ingarikó e macuxi.
vida. O Parque introduz regras e atividades contrastantes 2
Até o fechamento deste texto, em maio de 2004. (n. e.)
Habitação no interior do Parna da Serra do Divisor, AC. (Cloude Correia de Souza, 2003)
Cristina Velásquez*
Uirá Felippe Garcia**
Com beleza cênica extraordinária, alta importância sua área, e, a somar-se com os Nawa(7) – que reivindica-
biológica e diversidade social, o Parque Nacional da ram oficialmente reconhecimento de identidade indígena
Serra do Divisor (PNSD) reúne elementos emblemáticos a partir de 1999 –, a reserva está em contato com cinco
do eterno dilema no paradigma da proteção integral em grupos indígenas: Nukini, Ashaninka, Poyanawa e Arara,
florestas tropicais: a presença humana. Considerada no entorno, e os Nawa em seu interior, na porção norte.
uma área de importância primordial na conservação da Além dos povos indígenas, existiam à época da criação
biodiversidade devido às suas características sui generis, do Parque 72 “propriedades particulares”, algumas regis-
marcada pela existência de diferentes espécies endêmi- tradas como “fazendas” e outras como “seringais” (Plano
cas de toda a região amazônica e espécies ameaçadas de Manejo, 1998).(8)
de extinção, a região onde se localiza o PNSD, também A trajetória percorrida ao longo desses anos pela equi-
conhecida pelos acreanos como Serra do Moa, (2) foi pe de gestão do PNSD – o Ibama, a ONG norte-americana
considerada, segundo os resultados do Seminário de TNC (The Nature Conservancy) e a ONG brasileira SOS
Macapá(3), área prioritária e estratégica para a conser- Amazônia(9) – aponta que, inicialmente, todas as estraté-
vação da biodiversidade no âmbito nacional. Uma marca gias desenhadas estavam calcadas em ações essencial-
da região é o fato de possuir um ecossistema que abriga mente preservacionistas, priorizando a proteção do rico
o encontro de formações geológicas da fronteira andina patrimônio ambiental ali existente. Para isso, a principal
Peru-Brasil responsáveis por uma grande diversidade estratégia residia em afastar da região toda e qualquer
de espécies vegetais e animais, o que tem, portanto,
chamado a atenção de diversos especialistas do Brasil * Engenheira florestal e pesquisadora do Programa Monitoramento de Áreas
e do mundo para investimentos na área da pesquisa Protegidas do Instituto Socioambiental.
ambiental.(4) ** Antropólogo e pesquisador do Programa Monitoramento de Áreas Protegi-
das do Instituto Socioambiental.
Com uma área de 843.012,28 ha (6.050 km²),(5) o
1
Gostaríamos de iniciar fazendo um agradecimento a Marcelo Piedrafita por
PNSD está localizado na região amazônica do Alto Juruá sua inestimável colaboração neste capítulo, por meio de consultoria e indicação
e seu território pode ser identificado como marco divisor do material editado na seção “O que saiu na imprensa”.
entre as bacias do rio Ucayali, no Peru, e do Juruá, no
2
O PNSD é formado por quatro blocos de relevo: Serra da Jaquirana, Serra
do Moa, Serra do Juruá-Mirim e Serra do Rio Branco.
Brasil, possuindo a única cadeia de montanhas do Acre. 3
Seminário Consulta de Macapá, realizado em 1999 por um consórcio de ONGs
Esta é limitada ao norte pela Terra Indígena (TI) Nukini e, sob coordenação geral do ISA, no âmbito do Programa Nacional da Diversidade
ao sul, pela TI Kampa do Rio Amônea (dos Ashaninka) e Biológica do MMA, para a “Avaliação e identificação de ações prioritárias para
a conservação, utilização sustentável e repartição dos benefícios da biodiver-
pela Resex do Alto Juruá. Criado em 1989 e reconhecido sidade da Amazônia brasileira”.
há cerca de quinze anos por sua importância ambiental, o 4
O texto de David Cleary, neste capítulo, faz uma síntese da situação ecológica
Parque recebeu investimentos internacionais para auxiliar e social do Parque.
5
Os municípios abrangidos pelo PNSD com a percentual da UC em cada
seu processo de gestão ambiental, elaboração de seu um deles são: Cruzeiro do Sul (23,1%), Mâncio Lima (57,2%), Marechal
Plano de Manejo e definição de ações prioritárias para a Thaumaturgo (5,1%), Porto Walter (37,2%) e Rodrigues Alves (34,1%) (Plano
proteção de sua riqueza ambiental. Com isso, avanços de Manejo, 1998).
6
Eduardo V. Barnes, em artigo neste capítulo, analisa o funcionamento do
foram conquistados no que diz respeito à formulação do Conselho Gestor do Parque, apontando avanços e impasses no que diz respeito
Plano de Manejo da unidade, finalizado no ano de 1998 a participação efetiva dos que nele têm assento.
e, mais adiante, na formação de seu conselho gestor, me-
7
Identificados no Plano de Manejo (1988) como Comunidade Novo Recreio.
8
Este capítulo conta com uma entrevista com a ONG Pesacre, relatando a
canismo de apoio à gestão de unidades de conservação experiência desenvolvida no primeiro projeto de assentamento sustentável da
estabelecido no ano de 2000, pela Lei do Sistema Nacional Amazônia, o PDS São Salvador, que pode vir a ser uma alternativa para as
de Unidades de Conservação (SNUC).(6) famílias que optarem pela saída do Parque mediante indenização.
9
A SOS Amazônia foi convidada a participar do capítulo, mas infelizmente
O Parque foi criado em uma região que, na data de sua não foi possível o envio de artigo tampouco as respostas à entrevista que
criação, possuía pelo menos quatro etnias em contato com fizemos via internet.
Referências bibliográficas
ALMEIDA, Mauro Barbosa & CARNEIRO DA CUNHA, Manuela.
“Introdução”. In: Almeida, M.B. & Carneiro da Cunha, M.
(orgs). Enciclopédia da Floresta. O alto Juruá: práticas e
conhecimentos das populações. São Paulo, Companhia
das Letras, 2002.
CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Antropologia do Brasil: mito, história,
etnicidade. São Paulo, Brasilense/Edusp, 1986. 13
Ver detalhes na seção “O que saiu na imprensa”, ao final do capítulo.
Um exemplo desses conflitos pode ser percebido no de Belém, Manaus e de centros urbanos localizados ao
reordenamento territorial promovido pelo governo brasi- longo do rio Solimões (AM), os quais subiam o curso do
leiro com a criação de Terras Indígenas (TIs) e Unidades rio Juruá para comercializarem com a população nativa.
de Conservação (UCs), dando origem a um “mosaico” de Esses exploradores trocavam bens industrializados por
áreas sob administração federal. Dentro desse mosaico, “produtos florestais” que tinham grande demanda no mer-
na margem esquerda do alto rio Juruá, destaca-se a cado regional, como a salsaparrilha, a copaíba, o pirarucu,
“iminente” sobreposição do Parque Nacional da Serra do a carne de caça, a pele de animais silvestres, os ovos e
Divisor (PNSD) com as TIs Nawa e Nukini.(1) a gordura de tartaruga, a castanha e a baunilha (Aquino
O Parque Nacional foi criado em 1989 com superfície & Iglesias, 1994: 6).
de 843.012,28 ha e a TI Nukini foi identificada e delimitada Durante as últimas décadas daquele século e a pri-
em 1977, reestudada em 1984 e demarcada e homologada meira do século XX, com a ocupação da região pela frente
em 1991, com superfície de 27.263,81 ha, sem sobrepor- extrativista da borracha, os povos indígenas da região,
-se à área do Parque. A partir de 2000, os Nukini, com juntamente com os seringueiros, em geral oriundos do
uma população aproximada de 500 indivíduos, passaram nordeste brasileiro,(3) foram incorporados na empresa
a reivindicar a ampliação de sua terra. No mesmo ano, os seringalista. Na historiografia da região há diversas men-
Nawa, cerca de 300 pessoas, começaram a reivindicar a ções ao período das “correrias”, quando muitos povos
regularização fundiária da terra que ocupam. indígenas foram dizimados ou submetidos aos trabalhos
Os limites reivindicados da TI Nawa(2) incidem inte- nos seringais. Há nessas fontes historiográficas infor-
gralmente em parte da área norte do PNSD, enquanto a mações sobre os Nukini e sobre um povo denominado
reivindicação de ampliação da TI Nukini, nos seus limites Nawa, cuja autodenominação era desconhecida. Ambos
norte e oeste, acaba por sobrepor a área oeste da terra estavam localizados na margem esquerda do alto Juruá,
com outra parcela do limite norte do Parque. Essas su- sendo a última referência aos Nawa datada de fins da
perposições podem ser analisadas em uma perspectiva década de 1930, quando a empresa seringalista passava
antropológica por meio das discussões teóricas associadas por fortes crises.
à territorialidade, as quais são fundamentadas em dados Do ano de 1912 até a 2ª Guerra Mundial, essa empresa
etnográficos e consideram o contexto histórico de confor- viveu momentos de crise devido ao aumento da oferta de
mação de territórios. Portanto, para analisar os primórdios
da sobreposição entre o PNSD e as TIs Nawa e Nukini, pri- * Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da
meiramente, empreenderei uma contextualização histórica Universidade de Brasília.
para, em seguida, analisar os conflitos sociais, ambientais 1
Utilizo o termo “iminente” por entender que a sobreposição das TIs com
e fundiários existentes. o PNSD ocorrerá efetivamente após a regularização fundiária das terras
ocupadas tradicionalmente pelos Nawa e Nukini. Assim, não discuto aqui a
polêmica de serem os territórios indígenas bens da União mesmo anteriormente
A ocupação humana do alto Juruá ao início do procedimento administrativo de demarcação, o que implica em
diversas interpretações da Lei nº 6.001/73, art. 231 da Constituição Federal
Ao longo de séculos povoada por grupos indígenas das e do Decreto nº 1.775/96.
famílias lingüísticas Pano, Aruak e Arawá, a região do alto 2
O nome dessa TI pode ser alterado, caso seja de interesse dos Nawa, durante
o procedimento administrativo de demarcação da Terra.
Juruá passou a ser ocupada também, na segunda metade 3
Muitos dos seringueiros foram para a região fugindo da seca de 1877 no
do século XIX, por exploradores e comerciantes vindos Nordeste, estabelecendo-se em várias colocações e estradas de seringa.
O Parque Nacional Serra do Divisor (PNSD) é o único das áreas contíguas, como do PNSD, sugerem que esta
exemplo, na região oeste da Amazônia brasileira, de Uni- deve ser uma região a ser considerada relevante nesse
dade de Conservação (UC) que combina ecossistemas aspecto. Desse modo, a existência de um complexo de
típicos de altitudes baixas e intermediárias. Trata-se da áreas protegidas no lado brasileiro da fronteira, tendo o
única UC que oferece garantia de proteção a este tipo PNSD como núcleo, assume uma importância especial.(2)
complexo e único de ecossistema de transição.
Ao norte, o Parque faz fronteira com os limites da área Vegetação
demarcada do grupo indígena Nukini, inserida num ecos- Em relação à diversidade da vegetação, os dez tipos
sistema de várzea, típico da região sudoeste do estado de floresta existentes no PNSD apresentaram uma média
do Amazonas. Ao sul e sudeste, o Parque faz fronteira de 158 espécies em 10 cm de diâmetro por hectare, na
com a área demarcada dos Kashinahuá e com a Reserva avaliação ecológica desenvolvida pelo SOS Amazônia
Extrativista (Resex) do Alto Juruá, com uma extensão e pela Nature Conservancy.(3) Comparado a sítios de
de 506.186 ha, habitada por cerca de 6 mil pessoas que planície na Amazônia, informações disponíveis sugerem
realizam a extração da borracha, pesca e caça de sub- que o PNSD está entre os mais ricos locais em relação à
sistência e agricultura de pequena escala. O Parque está, diversidade biológica já verificada na Amazônia brasileira,
portanto, no centro de um arco de áreas protegidas que especialmente quando são feitas comparações detalhadas
se estendem do sudeste do Amazonas até o sul do Acre, entre tipos de matas.(4) Mais uma vez, esses dados são
cuja totalidade alcança uma área de mais de 2 milhões
de hectares. A posição estratégica do PNSD nesse arco,
ligando as águas do rio Môa, ao norte, com as dos rios * Antropólogo, é diretor da seção Amazônia da ONG The Nature
Juruá, Tarauacá e Envira, ao sul, é essencial para a for- Conservancy (TNC).
mação de um complexo regional de áreas protegidas, que
1
Tradução: Ana Beatriz Miraglia.
2
Avaliar a importância comparativa dos níveis de biodiversidade e de endemis-
juntas formam um corredor florestado, protegendo todos mo encontrados no Parque é, como geralmente acontece em relação à região
os principais ecossistemas da parte oeste da Amazônia amazônica, dificultado em decorrência da ausência de informações de campo
brasileira, estando quase todos representados no Parque. e de um conjunto suficientemente variado de sítios comparáveis. No entanto,
existem informações sobre localidades da região subtropical dos Andes, como
No que diz respeito aos limites transnacionais, metade o Parque Nacional (Parna) Manu, que faz parte da lista de Patrimônios Naturais
da borda oeste do PNSD está localizada na fronteira Peru- Mundiais da Unesco, e de UCs semelhantes localizadas na Colômbia (Chocó),
-Brasil, demarcada e estabelecida num tratado de 1908. Equador (Rio Napo) e Venezuela (San Carlos). Uma outra possibilidade de
comparação é com dados de ecossistemas de baixas altitudes de planícies
O lado peruano da fronteira está entre as seções menos inundadas amazônicas, como o Parna de Iquitos no Peru, sítios em Rondônia,
conhecidas da bacia Amazônica, onde não há Unidades ou ainda áreas ao redor de Manaus.
de Conservação, mas, ao mesmo tempo, não há também
3
Publicado no Plano de Manejo do Parque. Esse nível de diversidade de
espécies é menor que o verificado no Parna Manú, onde a média é 174, as-
nenhum estabelecimento humano permanente conhecido sim como, em relação ao parque colombiano Chocó, é de 258 (embora esta
ou estradas construídas. O contato com a cidade peruana estimativa tenha sido feita com base apenas em um único estudo), o que é
esperado dado os excepcionais altos níveis de biodiversidade encontrados na
mais próxima, Pucallpa, é exclusivamente aéreo. Sujeita a
região subtropical dos Andes. Por outro lado, é maior que as médias verificadas
incursões esporádicas de madeireiros e outros explorado- para alguns ecossistemas subtropicais andinos localizados em altitudes mais
res, os principais habitantes dessa extensa região, cerca baixas, como p. ex., no rio Napo no Equador e em San Carlos na Venezuela,
onde as médias por hectare são 153 e 75 respectivamente.
de 8 milhões de hectares, são pequenos grupos indígenas 4
Apenas um estudo de campo, realizado num sítio de planície, numa reserva
não contactados. florestal próxima a Manaus, registrou uma densidade maior de espécies de
Não há informações científicas sobre os níveis de árvores por hectare do que aquela registrada no PNSD, enquanto este ultra-
passa de forma considerável a mais alta densidade de espécies de árvores
biodiversidade e de endemismo dos ecossistemas do
jamais identificadas por hectare nos estados de Rondônia e Pará, na Amazônia
lado peruano da fronteira, mas todas as informações brasileira.
Referências bibliográficas
BROWN, K. Diversidade biológica máxima no alto Rio Juruá: origens,
avaliação, utilização e gestão, e o papel dos povos tradicio-
nais na sua conservação. Mimeo, 1995.
CALOURO, A. “Riqueza de mamíferos de grande e médio porte do
Parque Nacional da Serra do Divisor (Acre, Brasil)”. Revista
Brasileira de Zoologia, 16 (2), pp. 195-213, 2000.
VOSS, R. & EMMONS, L. “Mammalian diversity in neotropical lowland
rainforests: a preliminary assesment”. Bulletin of the American
Museum of Natural History, 230, pp. 1-155, 1996.
No campo das políticas públicas socioambientais estão Nesse cenário, há um amplo conjunto de grupos so-
em cena a gênese e o desenvolvimento dos (1) espaços ciais e categorias fundiárias em disputas relacionadas a
territoriais especialmente protegidos (Constituição Federal, conflitos territoriais e socioambientais relativos a formas
1988) ou áreas protegidas (Unidades de Conservação e regras dos diferentes usos dos recursos ambientais e
e Terras Indígenas)(1) e das (2) arenas ou instâncias apropriação espacial (Correia, 2004). Nesse sentido, a
interinstitucionais (Barnes, 2003). Estas últimas, utopica- Serra do Divisor se constitui como um espaço de suporte
mente delineadas como espaços públicos (Arendt, 1987), dos distintos modos de produção e organização social dos
envolvem o Estado (representado por agências federais, povos indígenas (Nawa, Nukini, Asheninka, Poyanaua,
estaduais e municipais dos poderes Executivo, Legislativo Arara), seringueiros, pequenos agricultores rurais, barran-
e Judiciário), a sociedade civil organizada juridicamente, queiros, pastores, fazendeiros, madeireiros, comerciantes,
unidades sociais ou grupos étnicos (povos indígenas, ambientalistas e indigenistas. Há, portanto, a sobreposição
seringueiros, populações tradicionais, agricultores e pe- de territórios sociais e estatais, configurando “cosmogra-
cuaristas) e as agências transnacionais (governamentais, fias” pautadas em conjuntos de saberes e rotinas ambien-
supra-governamentais e não-governamentais). tais, ideologias e identidades, engendradas coletivamente
No extremo ocidental do estado do Acre (AC), fronteira e situadas historicamente (Little, 2001 e 2002).
com o Peru, numa formação geológica denominada Serra
do Divisor (ou Contamana), região do alto rio Juruá, há um Gênese do Conselho Consultivo do PNSD
mosaico de terras da União: Unidades de Conservação
Quando da aprovação da Lei nº 9.985, de 18/07/2000,
(UCs),(2) Terras Indígenas (TI),(3) além de projetos fundiários
que implementou o SNUC, instrumento do arcabouço
de assentamento rural (Projeto de Colonização),(4) Projetos
jurídico do Estado brasileiro para regulação ambiental,
de Assentamento (PA)(5) e Projeto de Desenvolvimento
ficou formalizada a obrigação do poder público promover
Sustentável (PDS).(6)
a criação de conselhos consultivos ou deliberativos, para
O Parque Nacional da Serra do Divisor (PNSD), UC
a gestão das UCs. Pelo SNUC, estes espaços públicos
de Proteção Integral (SNUC, 2000), juridicamente nasce
em 1989, com o Decreto nº 97.839, com uma superfície de
843.012,28 ha, localizado nas terras da margem esquerda * Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da
Universidade de Brasília (UnB).
do rio Juruá, perpassando cinco municípios: Cruzeiro do
1
De acordo com a Lei nº 4.771 de 15/09/1965 (Código Florestal). Além disso, a
Sul, Mâncio Lima, Marechal Thaumaturgo, Porto Walter Constituição Federal de 1988 garante aos índios direitos fundiários e titularidade
e Rodrigues Alves. Desde a gênese burocrática, o PNSD sobre as terras tradicionalmente ocupadas, sendo áreas “imprescindíveis à
teve como órgão executor o Ibama. Desde então, insere-se preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e a sua
reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições”.
na miríade dos conflitos socioambientais (fundiários, eco- 2
Parque Nacional da Serra do Divisor e Reserva Extrativista do Alto Juruá.
nômicos, políticos e ambientais) entre índios, posseiros, 3
Nukini, Poyanawa, Nawa, Arara do Amônia, Arara do Igarapé Humaitá, Kampa
ribeirinhos, barranqueiros, pequenos pastores/criadores, do rio Amônia, Jaminawa do Igarapé Preto, Jaminawa/Arara do Rio Bagé,
Kaxinawá/Ashaninka do Rio Beru do Rio. As Terras Indígenas dos Nawa e
abarcando um universo de 9.082 pessoas, agrupadas em Arara do Amônia estão em processo de reconhecimento oficial.
522 famílias (3.115 pessoas) no interior do PNSD e 996 4
Santa Luzia.
5
São Pedro, Pavão, Tracuá, Rio Azul, São Domingos, Amônia, Iucatan, Nova
famílias (5.967 pessoas) habitantes do entorno imediato
Cintra, Havaí, Paraná dos Mouras, Vitória, Treze de Maio, Taquari.
(Plano de Manejo 1998: 5;169-170). 6
São Salvador.
Referências bibliográficas
ARENDT, Hannah. A Condição Humana. Rio de Janeiro, Forense, 1987.
BARNES, Eduardo Vieira. O Conselho Consultivo do Parque Nacional
da Serra do Divisor: Resoluções e Conflitos Socioambientais
no Alto Juruá. Monografia (Especialização em Resolução de
Conflitos Socioambientais) - Programa de Pós-Graduação
do Centro de Desenvolvimento Sustentável, Universidade
de Brasília, 2003.
BERNARDO, Maristela. “Políticas Públicas e Sociedade Civil”. In:
BURSZTYN, Marcel (Org.). A Difícil Sustentabilidade: Política
energética e conflitos ambientais. Rio de Janeiro: Editora
Garamond, 2001. p.41-57.
BRASIL. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis. Gerencia Executiva Regional do Acre. Núcleo de
Educação Ambiental. Parque Nacional da Serra do Divisor:
Conselho Consultivo - Um espaço para o diálogo. Rio Branco,
mimeo, 2001.
CORREIA, Cloude. O Parque Nacional da Serra do Divisor e as Terras
Indígenas Nawa e Nukini.
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DO BRASIL. Oficina de formação e
Consolidação do Conselho Consultivo da Unidade de Con-
servação Parque Nacional da Serra do Divisor – Alto Juruá.
Rio de Janeiro, mimeo, 2002.
LIMA, Edilene Coffaci de. Perícia Antropológica Sobre o Parque Nacio-
nal da Serra do Divisor (Rios Moa e Azul) – Acre. São Paulo,
mimeo, outubro de 1993.
A ONG Pesquisa e Extensão em Sistemas Agroflorestais do Acre está voltada para formas de
uso sustentável dos recursos naturais em benefício das populações tradicionais da região, como
a experiência-piloto do Projeto de Desenvolvimento Sustentável São Salvador, no entorno do
Parque Nacional da Serra do Divisor.
Qual é o histórico de envolvimento do Pesacre com o apoio do Prodetab/Bird, W. Alton Jones Foundation,
com a região em que se encontra o Parque Usaid, Willian and Flora Hewllet Foundation e do Programa
Nacional Serra do Divisor (PNSD) e qual o seu Sociedade Natureza/IIEB.
principal foco de trabalho?
Visto que o PDS São Salvador se delimita com
Essa história tem início em 1998, em razão de duas
o PNSD e com as TIs Nukini e Poyanawa, qual
demandas simultâneas que nos foram apresentadas. A
a relação estabelecida entre as comunidades
primeira delas, apresentada pela ONG SOS Amazônia,
indígenas e os assentados?
procurava solução para a presença de famílias no PNSD
por meio da criação de um assentamento que pudesse Já existia uma relação de vizinhança entre os mora-
receber as famílias que desejassem sair do Parque em dores do São Salvador e os Nukini, contudo a partir de
função do seu processo de regularização fundiária. Para 2002 suas respectivas representações têm tratado de
isto a SOS e o Ibama demandavam do Incra a arrecadação, assuntos relativos a exploração da caça em uma gleba
ou desapropriação, de áreas próximas ao Parque para vizinha – Timbaúba, que é terra da União –, utilizada e
implementar este assentamento. A SOS Amazônia defen- pretendida pelas duas comunidades. Mesmo a Funai
dia que esta transferência não incorresse nos problemas tendo incluído esta gleba na ampliação da TI Nukini, as
comuns aos projetos de colonização, ou seja, em locais duas comunidades continuam discutindo a proposta de
com falta de infra-estrutura, serviços, recursos naturais etc. um manejo integrado dos recursos na região. As regras
Ao mesmo tempo a Embrapa (Empresa Brasileira de de uso sustentável dos recursos naturais e manejo da
Pesquisa Agropecuária) estava disposta a colocar em caça de subsistência no assentamento vêm sendo base
prática uma nova proposta metodológica para criação de para discussão das duas comunidades. Entretanto este é
assentamentos sustentáveis, observando os aspectos um acordo que está apenas começando a ser elaborado.
social, econômico e ecológico. A idéia era oferecer uma A relação do PDS São Salvador com os Poyanawa
alternativa aos assentamentos convencionais que não também inclui a questão da caça na área sul do assenta-
fixam a família no campo e causam enormes prejuízos mento. Ocorre que existem alguns moradores não-índios
socioambientais. Na proposta constava o envolvimento na fronteira entre as duas áreas que supostamente estão
dos beneficiários na construção desse novo modelo de explorando os estoques de caça dos Poyanawa, que de-
assentamento, ainda sem nome para definir sua categoria. nunciaram o fato ao Conselho Gestor do Assentamento.
Como a idéia/proposta previa o envolvimento dos be- A partir daí, as comunidades começaram a discutir a vigi-
neficiários, a Embrapa, SOS Amazônia e Incra procuraram lância e fiscalização daquela área comum.
uma instituição que pudesse apoiá-los para envolver os
moradores/beneficiários neste processo. O Pesacre foi, Quais os principais eixos norteadores do projeto
então, convidado para participar do desafio por ter méritos e como se deram as etapas?
e reconhecimento no estado pelo uso e difusão de meto- O projeto objetiva definir e desenvolver mecanismos
dologias participativas de pesquisa e extensão. O Pesacre e instrumentos inovadores para criação de assentamen-
e a Embrapa elaboraram o projeto “Modelo de Assenta- tos rurais sustentáveis para a Amazônia Ocidental, que
mento Rural Sustentável para a Amazônia Ocidental”. A respeitem a especificidade cultural da região, baseado
proposta feita pela comunidade, contudo, se enquadrava num planejamento integrado e participativo, utilizando
na recém-criada categoria Projeto de Desenvolvimento estudos de recursos naturais (solos, vegetação, recursos
Sustentável (PDS), criada pelo Incra e, em função disto, o
assentamento foi oficialmente decretado nessa categoria.
* Eduardo Amaral Borges, coordenador técnico (em exercício); Vangêla do
Para que essa proposta fosse implementada contamos Nascimento, assessora técnica.
Valéria Macedo*
No início dos tempos, os Inÿ – como se auto-identifi- cultural teve curso em razão do estreitamento dos vínculos
cam os grupos Karajá, Javaé e Xambioá, sendo os dois com a sociedade nacional. Sobretudo para os Karajá da
primeiros habitantes da Ilha do Bananal – eram seres aldeia de Santa Isabel, a proximidade ao hotel teve entre
imortais que viviam no fundo do Araguaia. A vida era plena seus desdobramentos surtos de tuberculose, malária e
de fartura e sem interdições, com uma única exceção: ja- alcoolismo, bem como exploração do trabalho indígena
mais poderiam passar pelo buraco luminoso que havia na e discriminação por parte da população não-indígena.(4)
superfície da água. Uma transgressão a essa regra levou Muito antes desses empreendimentos, contudo, a
um grupo até as praias do Araguaia. Encantados com o presença de “brancos” na Ilha já vinha ocorrendo desde
novo lugar, pediram ao Criador para ali morarem. O preço pelo menos o início do século XX, principalmente a partir
a ser pago por tal escolha seria, segundo o demiurgo, a de 1930, quando suas pastagens naturais passaram a ser
perda da imortalidade. E assim foi, eles preferiram a con- ocupadas para criação de gado por colonos estabelecidos
dição de mortais para então viverem na Ilha do Bananal. às margens do rio Araguaia, em frente à Ilha do Bananal.
A natureza exuberante dessa que é a maior ilha flu- No diapasão da política integracionista em relação aos
vial do mundo, com cerca de dois milhões de hectares índios, concatenada com o modelo desenvolvimentista(5)
(ver boxe “Riquezas naturais da Ilha do Bananal”), ex- hegemônico no período militar, procurou-se combater a
pressa em uma das versões do mito de origem de seus miséria em que os índios se encontravam, em razão do
habitantes indígenas (ver boxe “Notas sobre os Karajá contato, por meio de projetos agrícolas alheios aos padrões
e Javaé”), também não passou indiferente aos brancos. nativos de manejo, com recursos provenientes do Plano
Tanto é que, em razão das belezas naturais do local, o de Integração Nacional, e do incentivo à criação de gado
Parque Nacional do Araguaia foi dos primeiros propostos e aluguel das pastagens por parte do órgão indigenista,
no Brasil, por André Rebouças, em 1876, e, ainda em como registram jornais na década de 1970.(6)
1849, Wanderbilt Duarte de Barros reconheceu na Ilha
“elementos recomendáveis à proteção por parte do poder
público (...), pois além da flora e da fauna há a assinalar * Antropóloga, pesquisadora do Programa Monitoramento de Áreas Protegi-
nela a presença de indígenas que emprestariam particular das/Povos Indígenas do ISA.
destaque a um parque nacional”.(1)
1
Trecho citado por Henyo T. Barretto Filho em artigo nesta publicação (Barros,
1952: 30-31).
O Parque, contudo, foi criado um século adiante, em 2
Como citado por Ney Maciel em artigo neste capítulo, ao visitar a Ilha, JK
1959, abrangendo toda a Ilha e no bojo da chamada Ope- a teria definido como “um paraíso de caça e pesca” (Lima Filho, 1998: 131).
ração Bananal, por razões que transcendiam as belezas
3
Durante a gestão de Juscelino Kubitschek, o hotel começou a ser construído
pela Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco). Antes
“naturais”, dentre as quais muitos incluíam os “silvícolas”. de sua conclusão, a obra foi transferida para o governo de Goiás e, em 1964,
No governo de Juscelino Kubitschek, a ilha foi incluída na foi arrendada para a empresa de turismo Ciclone Hinterland Ltda, sendo inaugu-
rada no ano seguinte, rebatizada de Hotel John Kennedy. No início do governo
estratégia de levar o “desenvolvimento” àqueles rincões
militar o hotel costumava receber, entre seus hóspedes, muitos militares, que,
do país, que passaria a contar com incentivos governa- segundo Lima Filho (1988), faziam do local refúgio de Brasília e pescavam
mentais à pecuária, à agricultura, à indústria extrativista, soltando explosivos nos rios internos da ilha do Bananal. Após alguns anos o
hotel foi fechado e posteriormente incendiado pelos índios.
ao transporte fluvial e, no caso do Bananal, ao turismo.(2) 4
Trechos de algumas das notícias que davam conta desses fatos estão editadas
Nos anos seguintes à criação do Parque, em seu inte- na última seção deste capítulo.
rior foram construídos, próximo à cidade de São Félix do 5
Sobre o desenvolvimentismo, ver artigo de Philippe Léna nesta publicação.
6
Como mostra uma das notícias, citada na seção “O que saiu na Imprensa”
Araguaia, uma pista de pouso asfaltada, uma escola, uma
deste capítulo: “Além do cacique carajá Maluaré, mais 22 índios da tribo estão
base aérea militar (FAB), um hospital, um prédio adminis- doentes, com tuberculose, segundo constataram recentemente oficiais-médicos
trativo e o Hotel JK.(3) E, se o contato dos índios da Ilha do da FAB numa viagem de inspeção em Santa Isabel do Morro, na ilha do Bananal.
(...) Durante a entrevista coletiva que concedeu anteontem, o presidente da Fu-
Bananal com os “brancos” remonta ao século XVI, pelas
nai, General Bandeira de Melo, exibiu um saco de arroz produzido, segundo ele,
missões jesuíticas e depois pelas Bandeiras paulistas, foi pelos próprios carajás e ressaltou que as ‘aldeias e postos da ilha do Bananal
na década de 1960 que uma incisiva desagregação social e estão num surto de desenvolvimento cada vez maior’. Contou o General que
O Parque Nacional do Araguaia está em região de transição dos dois codorna e perdiz, o mutum, os anus, as garças, a ema, a seriema, entre
maiores biomas do Brasil: Amazônia e Cerrado, constituindo-se em centenas de outras espécies. Dentre os répteis destacam-se a tartaruga
extensa planície, formada por sedimentos do quaternário e inundada amazônica, o tracajá, o jacaré-açu, o jacaretinga, a surucucu, a jibóia,
periodicamente, em quase toda sua extensão, pelas cheias do Araguaia iguanas etc. Entre os peixes, os mais conhecidos são: o pirarucu, o
e de seu braço menor, o Javaés, com exceção das partes mais altas tucunaré, o jaú, a arraia pintada, as piranhas, o surubim, o pintado, a
onde predominam as formações amazônicas, como, por exemplo, a piraíba, traíras etc.
mata do lago do Mamão, na parte sul do Parque, com seus 94 mil Por toda esta fartura é que o Parque vem sendo saqueado, tanto em
hectares. Seus rios e demais cursos de água são permanentes, emol- termos de comércio ilegal – em especial do pirarucu, da tartaruga, das
durados por panoramas belíssimos, em especial o rio Mercês, graças araras –, como pelo uso das pastagens e conseqüentemente do fogo,
à beleza de suas praias de areias claras. Abriga mais de trinta lagos e para o gado da região, bem como pela cobiça à Mata do Mamão, que
lagoas, com fauna aquática extremamente rica. Quanto à vegetação, é a mata mais expressiva, no sul do Parque.
predominam os campos cerrados, englobando, ainda, cerradão, matas
Embora suas terras sejam de domínio público, o futuro deste Parque,
ciliares, matas de iguapó e floresta tropical.
um dos maiores do Cerrado, devido aos seus problemas, em geral de-
Devido à riqueza de ambientes, abriga muitas espécies da fauna e correntes da falta de implementação e de decisões políticas adequadas,
muitas ameaçadas de extinção, raras ou endêmicas. Entre os mamí- é extremamente incerto, correndo-se um sério risco de o país perder
feros são mais expressivos: o tamanduá-bandeira, o lobo guará, o tatu toda riqueza biótica ali encontrada.
canastra, o cachorro do mato vinagre, a onça, a ariranha, a lontra, o
cervo do Pantanal, a suçuarana, os gatos do mato, a queixada, o caitetu,
* Engenheira agrônoma, especialista em áreas protegidas,
o veado mateiro, o veado catingueiro, a anta, a capivara, a irara, além vice-presidente da Funatura (Fundação Pró-Natureza) e membro
dos botos dulcícolas dos gêneros Inia e Sotalia. Das aves encontram- do Conselho da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza.
-se a arara azul, a harpia ou gavião real, outros gaviões, os tucanos, a
Inÿ é a autodenominação geral dos povos de língua Karajá e pode ser relativamente isolados até o início do século XX. Um contato maior
traduzido como “gente”, “ser humano”. Os Inÿ podem ser discernidos só ocorreria após a fundação de pequenas cidades a leste da Ilha do
em três subgrupos: Karajá, Javaé e Xambioá (também conhecidos Bananal, nas primeiras décadas do século XX, por mineradores de
como Karajá do Norte). Tanto “Javaé” como “Karajá” são nomes de cristal, e a penetração e ocupação da ilha por pequenos criadores de
provável origem Tupi-Guarani que lhes foram atribuídos no contato gado bovino a partir dos anos 1930.
com outros grupos indígenas e não-indígenas. Os Javaé e Karajá O contato produziu uma união política entre o subgrupo Karajá e os Ja-
autodenominam-se também Itya Mahãdu, que significa “o Povo do vaé que não existia antes. Um fato notável, apontado por antropólogos
Meio”. Os três subgrupos são culturalmente semelhantes, embora que trabalharam com os grupos Karajá, é que, apesar dos problemas
haja algumas diferenças, e falam diferentes dialetos da língua Karajá, sérios e ameaças advindas do contato com a sociedade nacional, eles
pertencente ao tronco lingüístico Macro-Jê. têm mostrado uma surpreendente capacidade para lidar com essas
Desde tempos imemoriais, os Inÿ habitam o vale do rio Araguaia, novidades mantendo aspectos fundamentais da cultura tradicional,
principal afluente do rio Tocantins, que nasce na serra dos Caiapós, entendida aqui como um conjunto de pensamentos e práticas flexíveis
situada na divisa entre Goiás e Mato Grosso do Sul. Com seus 2 mil km capazes de dialogar com o novo sem desfigurar-se. Justamente nas
de extensão, o Araguaia forma em seu médio curso a Ilha do Bananal, aldeias onde a pressão do contato é maior, como Santa Isabel, dos
a maior ilha fluvial do mundo, no estado do Tocantins, junto à fronteira Karajá, e Canoanã, dos Javaé, é que têm surgido os mais importantes
de Mato Grosso, considerada pelos Karajá e Javaé como o lugar mítico líderes no que diz respeito à relação com a sociedade nacional.
de onde surgiram. Organização social
O subgrupo Karajá sempre habitou as margens do rio Araguaia, seja Antes do contato, e atualmente ainda em algumas aldeias, os mora-
do lado oeste da Ilha do Bananal ou no alto curso do rio, mais recente- dores de uma aldeia eram basicamente grandes famílias extensas
mente; os Xambioá associam-se ao baixo curso do rio, ou seja, ao norte organizadas em torno de seu fundador (hawa wèdu ou “dono da aldeia/
do Tocantins; os Javaé, por sua vez, costumavam viver no interior da lugar”) e de seus descendentes. A liderança local era dividida apenas
Ilha do Bananal e ao longo do rio Javaés e seus afluentes da margem com os chefes ou condutores de rituais, como o ixýtyby (“pai do povo”);
direita, situando-se atualmente apenas nas margens do rio Javaés. com os responsáveis pela condução de tarefas coletivas não-rituais,
No Brasil colonial, desde o século XVI, várias levas de bandeirantes como o ixýwèdu (“dono do povo”); e os iòlò, título de honra que o(a)
chegaram à região do rio Araguaia à procura de índios para escravi- primogênito(a) herda do pai ou mãe que for iòlò e que transmite uma
zar. O rio Araguaia sempre foi o canal preferido de navegação dos série de direitos e prerrogativas. Cabe aos iòlò a tarefa básica de
exploradores que chegaram à região, com exceção do fim do século interferir nos conflitos entre famílias, sendo sua palavra respeitada
XVIII. Em comparação aos Karajá e Xambioá, os Javaé permaneceram por toda a comunidade. Após o contato, surgiu um novo tipo de líder,
o especialista nas relações com os não-índios, que deve dominar a
língua portuguesa e entender os mecanismos de funcionamento das
várias esferas da sociedade nacional. Em muitos casos, o novo tipo de
líder é um descendente de iòlò ou do hawa wèdu.
A disposição espacial tradicional da aldeia é baseada em uma oposi-
ção assimétrica entre uma ou mais fileiras de casas ao longo do rio,
associadas ao mundo feminino e das famílias extensas, e a Casa dos
Homens, do lado “do mato”, associada ao mundo masculino e ritual.
Embora hoje em dia muitos jovens casais prefiram morar em casas
menores e separadas, a regra da residência uxorilocal e o “pagamento
pela vagina” da esposa (tykòwy) ainda formam a base da organização
social. Quando se casa, o homem tem que viver na casa da esposa,
submetendo-se à autoridade dos sogros e tendo que prestar serviços a
estes por um longo período da vida, pescando, caçando, plantando etc.
Cosmologia
Na cosmologia Inÿ, a vida em sociedade é o preço que os seres
humanos tiveram que pagar pela curiosidade de conhecer o novo.
Habitavam o fundo do Araguaia, um lugar mágico e fechado, onde
as pessoas não morriam nem trabalhavam, o tempo não passava,
Quando se fala da superposição da área do Parque são nulos, pois papéis não criam direitos contra os direitos
Nacional do Araguaia (PNA) às Terras Indígenas na Ilha do de populações indígenas secularmente estabelecidas no
Bananal, no sudoeste do Tocantins, geralmente confundem- local.
-se dois problemas. O primeiro diz respeito à posse da terra. Para remediar tal situação absurda estabeleceu-se,
De quem é a Ilha? Quem tem direito legal de permanecer mais de dez anos depois, uma nova área para o PNA. Um
nela? Os índios ou o Ibama? Esse é o problema mais fácil segundo Decreto presidencial, nº 68.873, de 05/07/1971 e
de ser resolvido. O outro é o que diz respeito à preservação retificado pelo Decreto nº 71.879, de 01/03/1973, reduziu a
do meio ambiente. Como proteger e ao mesmo garantir o área do PNA para o terço norte da Ilha, onde se situavam
uso da área? Esse é o problema mais complexo. e se situam atualmente as aldeias Boto Velho (Javaé) e
Macaúba (Karajá). O restante da Ilha, seus dois terços
O que é do homem... inferiores, foi destinado à criação do Parque Indígena do
Araguaia (PIA), de acordo com o Decreto nº 69.263, de
Os Karajá e Javaé vivem na Ilha do Bananal e no
22/09/1971.
seu entorno comprovadamente desde pelo menos 1600.
Seguindo a linha do Decreto nº 47.570, o de nº 68.873
Todo esse território pode ser considerado terra tradicional
também não reconheceu a existência de índios na parte
desses grupos indígenas.
norte da Ilha do Bananal, de modo que o PNA continuou
Apesar desse fato ser de conhecimento público, dada
instalado em área densamente ocupada por grupos indí-
a importância desses grupos indígenas na região, em
genas. Como a existência dessas e outras aldeias na área
1959 foi assinado um decreto presidencial (nº 47.570,
era de conhecimento público, parece não terem sido feitos
de 31/12/59) que criou o Parque Nacional do Araguaia,
estudos de campo, ou simples coleta de informações a
subordinado à Seção de Parques Nacionais do Serviço
partir de Brasília, para a elaboração desses decretos que
Florestal do Ministério da Agricultura e que se destinava
seguidamente tentavam usurpar Terras Indígenas para a
à proteção ambiental.
instalação de um Parque Nacional.
A área do PNA englobava então a totalidade da Ilha
Os conflitos entre Instituto Brasileiro de Desenvolvi-
habitada na época por cerca de 2,5 mil índios Javaé e
mento Florestal (IBDF) e a população da aldeia Macaúba,
Karajá, além dos Avá-Canoeiro ainda sem contato com
ainda incluída em área do PNA e impedida de maneira in-
brancos e índios, divididos em aproximadamente dez al-
sólita pelos fiscais do órgão de fazer roças, construir casas,
deias, que recebiam assistência do Serviço de Proteção
pescar e comercializar o peixe no seu território tradicional,
aos Índios (SPI) através de quatro Postos Indígenas (PI).
no entanto, forçaram uma nova revisão dos decretos que
Alguns desses postos existiam desde 1927!
estabeleciam as áreas do PNA e PIA.
Esse Decreto, assim, declarou de forma equivocada a
Em 1980, um terceiro Decreto Presidencial, nº 84.844,
inexistência de grupos indígenas na Ilha do Bananal, indo
de 24/06/1980, alterou as áreas dos dois parques. A aldeia
contra todas as Constituições brasileiras que reconheciam
de Macaúba passou a fazer parte do território do Parque
o direito dos índios sobre os territórios que ocupavam.
Indígena do Araguaia. Vestiu-se um santo despindo-se
Tal decreto foi aplicado juntamente com a Lei Estadual nº
outro. Essa nova delimitação também é insatisfatória,
2.370, de 17/12/1958, que autorizava o governo do estado
pois os Karajá de Macaúba ainda reivindicam parte de
de Goiás a doar a Ilha do Bananal à União para criar um
seu território tradicional, onde se inclui a área denominada
Parque Nacional.
Utaria Wyhyna, que permaneceu fora da área definida.
Em uma canetada, esse “descuido” das autoridades
Mais grave: a aldeia Javaé de Boto Velho, estranhamen-
goianas e federais fez uma área indígena transformar-se
em Parque Nacional. Os Karajá e Javaé passaram da
condição de proprietários à condição de “invasores”. * Historiador e antropólogo, coordenou o GT da Funai encarregado da
Identificação e Delimitação da TI Inãwébohona em 1998. Professor de An-
O PNA, portanto, sofre de um grave vício de origem.
tropologia e História da Arte na Fundação Armando Álvares Penteado (SP) e
Aos olhos da legislação brasileira, os atos de sua criação consultor do Instituto Ecológica (TO).
Conflitos históricos com o órgão ambiental tínhamos adotado uma posição de não ter conversa com
o Ibama e de repente eles quiseram uma aproximação
No passado, o trabalho do IBDF acabou causando
com a gente. Até então era uma relação de hostilidade.
vários conflitos, pois não deixavam caçar, pescar e viver
Em outras épocas, houve até ameaças de expulsão por
como nosso povo vive. Os mais velhos falavam: “meus
parte do Ibama, no caso da aldeia Boto Velho.
filhos, como é que alguém vem e diz o que pode e o que
Hoje está sendo discutida essa Gestão. A destinação
não pode fazer na nossa terra?”. Eu me lembro de um
do dinheiro é discutida entre Ibama, Funai, organizações
episódio em que o pessoal do IBDF matou um cachorro
indígenas e as lideranças tradicionais das comunidades
de um Karajá da aldeia Macaúba. Os Karajá ficaram
indígenas. Mas ela ainda está em fase de construção.
revoltados e queriam invadir o IBDF, pois o cachorro é
um companheiro na hora da caça. Posteriormente, com
a transformação do órgão em Ibama, o relacionamento
Desafios pós-demarcação
ainda piorou. A linguagem na esfera do Ministério e da Como a Ilha do Bananal está demarcada, homologada
administração superior do Ibama é uma coisa, agora na e registrada, o desafio agora é o que vamos fazer no pós-
linguagem de relacionamento de campo o tratamento é -demarcação. Está em questionamento o nosso projeto de
outro e os fiscais são muito brutos. Não têm respeito, não vida. No âmbito do PDPI, por exemplo, estamos discutindo
têm sensibilidade e não têm compreensão dos direitos a possibilidade da gente fazer um microdiagnóstico de
originários de nosso povo. Chegam ao absurdo de coibir a potenciais econômicos passíveis de serem explorados
entrada de material para a construção de escola, alegando pelos povos indígenas. Isso se depara com a falta de
que não se pode construir escolas em território do Ibama. política pública clara por parte do governo em termos de
Mas o território era nosso! Essas coisas chegaram a um desenvolvimento econômico e de desenvolvimento como
ponto que o nosso pessoal tomou a decisão de mandar o um todo, que inclui a questão do ecoturismo, da agricultura
Ibama embora há um ou dois anos. O pessoal se reuniu e da educação. O amadurecimento de toda essa discus-
e os colocou para fora da sede. são necessariamente passa pelo processo educacional,
Houve um entendimento do nosso povo de que a Ilha incluindo capacitação e qualificação, quem sabe por meio
do Bananal é do povo Karajá e do povo Javaé e não do da implantação de um programa mais abrangente. Na
Ibama. O tempo que a gente mora aqui é tão antigo que falta de uma política clara que atenda às necessidades do
a gente não consegue contar. Então nossa sobrevivência nosso povo, muitos estão fazendo besteira para atender
depende do que tem dentro do Bananal, seja na mata, às suas necessidades imediatas. Partimos do princípio
seja no rio. A administração do Ibama chamou a polícia de que nosso território é rico, as terras e lagos são bons,
federal e o nosso pessoal enfrentou. Ainda bem que não agora quem é que vai dar suporte para o manejo?
houve choque e a polícia recuou, com a interferência da
Procuradoria da República. E hoje o Ibama está fora da Escassez de recursos e de alternativas
Ilha do Bananal.
O número de peixes antigamente era muito maior.
Mas já foi ainda menor por conta das invasões. Quando
Gestão compartilhada?
saiu a primeira leva de posseiros do Bananal, os peixes
Hoje o Ibama está assinando uma coisa chamada se recuperaram. A questão está sub judice. Tem a primeira
Gestão Compartilhada, com recursos oriundos de medida leva que saiu e outro grupo, que está lá na ponta da ilha,
compensatória da Usina Hidrelétrica de Lajeado.(1) Foi de- entrou com recurso. Inclusive, acho que agora houve
signada uma parte no valor de mais de R$ 1.600.000,00 uma sentença judicial para tirá-los. Na área dos Javaé,
e o Ibama gastou 70% sem qualquer conhecimento ou
participação dos índios. Eu, pessoalmente, acho que essa
questão de Gestão Compartilhada é uma armadilha. Nós 1
Atualmente nomeada como UHE Luis Eduardo Magalhães. (n. e.)
Qual a razão das queimadas recorrentes no Agropecuária de Pium, em que estipularam o valor do
interior da Ilha do Bananal e quais iniciativas têm aluguel em R$ 2,00 cabeça/mês, muito abaixo do preço
sido tomadas para combater o problema? normal cobrado na região, aproximadamente R$ 7,00 ca-
São duas as principais causas das queimadas no beça/mês. Isso vem incentivando, e muito, a comunidade
interior do Parna Araguaia: do entorno, em especial grandes fazendeiros de Pium e
• incêndios de origem natural: durante a época do ano Cristalândia, a arrendarem tais áreas. Alguns fazendeiros
em que a pluviosidade na região declina, a vegetação da do entorno, ex-retireiros da Ilha, que saíram em 1999 pela
Ilha, ressecada, encontra-se propícia à propagação de Ação Civil Pública, estão contra esse aluguel, já que o gado
incêndios florestais. Algumas tempestades de raios podem, passa pelas suas propriedades e prejudica seu patrimônio.
então, desencadear esses incêndios; Outros se mostram interessados, porém preocupados em
• propositais, realizadas pelas comunidades indígenas colocarem seu rebanho e posteriormente não conseguirem
Javaé e Karajá para o aluguel das áreas de pastagens. retirá-los, já que não existe nenhum documento formal que
Ocorre que uma das principais fontes de renda para essas legalize esse aluguel.
comunidades, depois da pesca, é o aluguel de pastagem Para lidar com essa situação, foi feita uma reunião
para os pecuaristas. Normalmente essas queimadas fogem com o Ministério Público Federal (MPF), Funai/AER de
do controle e invadem a área do Parque. Gurupi (TO), e Ibama/Gerex de Palmas (TO) e Parna
Visando o combate às queimadas, realiza-se anual- Araguaia, com o objetivo de realizar uma campanha de
mente a capacitação de brigadistas nos municípios do en- conscientização, que foi feita pelo Parque e pelo Núcleo
torno do Parque para posterior contratação temporária no de Educação Ambiental da Gerex-TO, envolvendo em
período mais crítico do ano (julho a novembro). Ressalta-se especial os Sindicatos dos Produtores Rurais da região.
que muitos índios já foram capacitados e, quando neces- O principal enfoque da campanha foi esclarecer a comu-
sário, são solicitados formalmente à Funai para participar nidade de que essa atividade é ilegal e que podem ser
do combate. Entretanto, em 2004 não foram realizados penalizados conforme a legislação vigente. Porém essa
os cursos de brigadistas nem contratadas as brigadas de campanha não surtiu o efeito desejado e o gado continua a
combate a incêndios florestais para a UC, em função dos adentrar a área sobreposta. Como não temos como manter
problemas ocorridos durante o ano de 2003. uma barreira constante na área de entrada e não existem
Além disso, anualmente vêm sendo realizados cursos cercas nos retiros, o gado vem circulando livremente na
de Agentes Ambientais Voluntários, que visam incentivar e área. Ao sobrevoar a área do Parque, observamos a pre-
dar apoio aos trabalhos de educação ambiental, buscando sença constante do gado. Porém não podemos quantificar
conscientizar as comunidades no que se refere à questão ao certo quantas cabeças estão presentes. As aldeias
do uso indiscriminado do fogo, entre outros. Ressaltamos indígenas necessitam, urgentemente, de alternativas de
que a presença da comunidade indígena nesse tipo de renda, só assim esse problema será minimizado. Conforme
capacitação é de vital importância para a mudança de sua já apontava o Plano de Manejo:
mentalidade em relação ao fogo. “As ocupações humana e animal da Ilha alteram o
ecossistema e a vegetação, prejudicando o solo e
Como está o problema da pecuária no Parque? criando condições propícias para a proliferação de do-
Aproximadamente quantas cabeças existem em
seu interior? * Selma Cristina Ribeiro (analista ambiental e chefe do Parna Araguaia), Ale-
Os Javaé da aldeia Boto Velho reiniciaram recente- xandre Marques (biólogo/analista ambiental), Caubi Soares da Silva (técnico
ambiental), Gesolino Vieira Xavier (técnico ambiental), Alberto Pires da Silva
mente o arrendamento de pastagens para os fazendeiros. (técnico ambiental), José Juracy B. dos Santos (técnico ambiental), José
Esses índios realizaram uma reunião durante a Exposição Tocantins dos Santos (técnico ambiental).
Referências bibliográficas
LIMA FILHO, Manuel Ferreira. Pioneiros da Marcha para o Oeste: memória
e identidade na fronteira do médio Araguaia. Brasília, UnB, 1998.
Tese de Doutorado em Antropologia Social.
PLANO de Manejo do Parque Nacional do Araguaia. Ibama, 2001.
Pensar situações de sobreposição de Terras Indígenas fico da colônia se intensificou a partir do final do século
e Unidades de Conservação, entes fundiários criados e XVIII, levando o governo colonial a inaugurar uma política
geridos pelo Estado nacional, sobre territórios indígenas de aproximação com os grupos indígenas da região do
no Brasil se constitui um desafio. Tais situações são cata- Araguaia, resultando na criação de “presídios”, colônias
lisadoras de um processo conflituoso entre instituições e militares e aldeamentos ao longo dos rios Araguaia e
grupos, possuidores de organizações internas próprias, a Tocantins, que viabilizaram a navegação e prepararam o
partir de concepções diferenciadas de uso e controle de terreno para a frente pecuária que se iniciaria no século
recursos naturais. seguinte. A conseqüência imediata dessa política nas
Neste artigo abordo uma dessas situações. Especifi- sociedades indígenas da região, e na Karajá e Javaé em
camente a que se faz presente na Ilha do Bananal, onde particular, foi a redução de seu território e uma grande
existem duas Terras Indígenas (TIs): a Terra Indígena perda populacional.
Inãwebohoná e a Terra Indígena Parque do Araguaia; e Como parte destas frentes de expansão, a partir do
uma Unidade de Conservação (UC) de Proteção Integral: século XIX viajantes e funcionários governamentais man-
o Parque Nacional (Parna) do Araguaia. Tais instrumentos tiveram contatos permanentes com várias sociedades
de ordenação territorial foram criados sobre aquele que indígenas na área, destacando-se Francis Castelnau em
é considerado o lugar mítico de onde surgiram os grupos 1844, Spinola em 1879 e Paul Ehrenreich em 1887, que
indígenas Karajá e Javaé.(1) percorreram o Araguaia municiando a sociedade brasileira
Tal situação se constitui como uma sobreposição de em expansão com informações relativamente seguras so-
territorialidades, que envolve a esfera normativa, fundi- bre a região. Foi também nessa época, 1876, que André
ária, e a das próprias práticas sociais, todas vinculadas Rebouças(3) propôs a criação de um Parque Nacional na
ao controle efetivado pelos grupos indígenas e pelos Ilha do Bananal, assinalando “a presença de indígenas que
órgãos indigenista e ambientalista federais sobre a Ilha emprestariam particular destaque a um parque nacional”
do Bananal. Compreendê-la requer voltar o olhar para (Barros, 1952: 31).
uma dimensão que privilegie valores, sentimentos e sim- No início do século XX, as terras no interior da Ilha
bolismos que estes atores sociais coletivos ali presentes começaram a ser procuradas por criadores de gado,
atribuem ao lugar, ou à sua “natureza”, ou ainda, aos seus
recursos naturais.
* Antropólogo, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia
A ocupação do território indígena karajá e javaé e sua Social da Universidade de Brasília.
incorporação ao sistema econômico e político do país, 1
Os grupos Karajá e Javaé que ocupam a Ilha do Bananal fazem parte de um
através de movimentos demográficos e econômicos que grupo falante da língua Karajá, tronco Macro-Jê, e estão situados ao longo do
rio Araguaia há pelo menos quatrocentos anos. Os Karajá que habitam a Ilha
o adentraram a partir de meados do século XVI sob a
do Bananal vivem principalmente nas aldeias localizadas na parte ocidental da
forma de diversas “fronteiras” (frentes de expansão, fren- ilha. Os Javaé ocupam principalmente a margem do rio Javaés, que contorna
tes pioneiras ou frentes econômicas), estiveram sempre a ilha em seu lado oriental. Para saber mais sobre a história do grupo, sua
organização social e sua cosmologia, ver Petech (1987); Toral (1999); Rodrigues
associadas às atividades de expansão capitalista e à
(1999); Lima Filho (1998).
construção de espaços econômicos regionais vinculados 2
Ver, por exemplo, Martins (1997); Lima Filho (1998); Oliveira (1995); Little
ao mercado.(2) Iniciado com os bandeirantes, que escravi- (1996).
3
André Rebouças foi o primeiro a propor a criação de Parques Nacionais no
zavam índios e buscavam “drogas do sertão” – o látex e
Brasil, sendo tal proposta baseada diretamente na experiência norte-americana
a castanha –, o interesse econômico pelo centro geográ- de Yellowstone.
Referências bibliográficas 14
Cidadania conceituada como o pertencimento passivo e ativo de indivíduos
ARNT, Ricardo A. “Um artifício orgânico” In: ARNT, R. A. e Schwartzman, em um Estado-Nação com direitos e obrigações universais em um específico
S. Um artifício orgânico: transição na Amazônia e ambientalismo nível de igualdade. (Janoski, apud Hogan & Vieira, 1992)
(1985-1990). Rio de Janeiro, Rocco, 1992, pp. 93-123. 15
Esta demanda pode ser observada tanto nos processos administrativos de
BARROS, Wanderbilt D. “Parques Nacionais do Brasil”. Série documentária ambos os órgãos quanto nas reuniões entre indígenas e agentes dos órgãos
no1. Rio de Janeiro, Ministério da Agricultura/Serviço de Informação federais, constantes na cotidianidade de um conflito dessa natureza. Há que
Agrícola, 1952. se levar em conta também a forma como os Karajá e Javaé estão se insernido
BROMLEY, Daniel W. “Property Relations and Economic Development: The no contexto dos sistemas políticos mais amplos – como a atual tentativa de
other land reform”. Word development. 17(6), pp. 867-871, 1989. eleger representantes em Câmaras Municipais e mesmo na criação de asso-
CORRÊA, Roberto L. ”Territorialidade e corporação: um exemplo”. In: Santos, ciações que tentam representar a população indígena nas reivindicações de
M.; Souza, M.A. e Silveira, M.L. (orgs.). Território, globalização e terra e outras, relacionadas principalmente à saúde e educação da população
fragmentação. São Paulo, Hucitec, 2002. indígena da Ilha.
16
Respectivamente artigos 225 e 231 da Constituição Federal de 1988.
Desde quando existe o Conjaba? Quais suas Como estão os recursos pesqueiros na Ilha
principais atividades? do Bananal? A pesca comercial é uma das
O Conjaba foi criado no dia 11 de abril de 1999 e regis- atividades do povo Javaé para garantir sua
trado em 18 de fevereiro de 2002. As principais atividades sobrevivência?
são criar um centro para desenvolvimento de projetos nas Os recursos pesqueiros estão bem, existe bastante
áreas de educação, saúde, nutrição e direitos indígenas, peixe, só que desde 1997 os índios não pescam mais.
com respeito à tradição, à cultura, aos costumes e às festas Com o fechamento da Copesca (Cooperativa de Pesca
tradicionais, para o desenvolvimento de um trabalho de do Povo Javaé da Ilha do Bananal), eles pescam só para
subsistência na agricultura e agropecuária, e um trabalho consumo. A Copesca foi criada em 1991 com a ajuda da
de parceiros para preservação ambiental do Parque Indíge- Funai, mas depois ela não ajudou mais, os índios saíram
na do Araguaia – Ilha do Bananal – a serem concretizadas e fechou. Agora os índios estão querendo pescar de novo
nas comunidades Javaé, buscando melhorar as condições e vão apresentar projeto para o Ibama.
de vida dos índios que ali habitam:
• reivindicar os direitos e promover o intercâmbio com Já foi feito algum projeto de manejo para que a
outros acadêmicos no nível nacional e internacional; pesca não prejudique a sobrevivência de todas
• buscar recursos junto aos governos federais, esta- as espécies de peixes da região?
duais, municipais e ONGs; Não, mais estamos pretendendo elaborar o projeto.
• administrar os recursos naturais do PQARA, nas juri-
dições Javaé, que compreendem aguadas, pastagens Como está a relação dos índios da Ilha do
e tráfego nas estradas de terceiros. Bananal com a nova diretora do Ibama?
Até agora não tivemos contato com a nova diretora, só
Há aluguel de pastagens para os brancos na TI quando teve a reunião na Lagoa da Confusão e nada mais.
Inãwébohona? O dinheiro do aluguel fica com as
lideranças ou é dividido por toda a comunidade? E como é a relação com o pessoal da Funai?
O dinheiro fica só com as lideranças, ou seja, com A relação com a Funai nem é boa nem é ruim.
cada arrendatário.
Como anda o processo de Gestão
Como os Javaé e Karajá têm enfrentado o Compartilhada da Ilha?
problema das queimadas em suas terras? Nós temos vontade de trabalhar, mas até agora não
Para os Javaé, o problema é sério, os índios já fizeram temos nenhuma resposta concreta.
capacitação, Prevfogo, mas não adiantou, pois não temos
estrutura para combater o fogo. Ainda existem brancos morando na Ilha? Como é
a relação deles com os índios?
Atividades de turismo na Ilha acontecem com Sim, existe porque os índios alugam o pasto natural,
a autorização dos índios? Há projetos de para o seu sustento, e a relação com os brancos é mais
ecoturismo envolvendo as comunidades ou menos.
indígenas?
[Entrevista realizada via e-mail por Valéria Macedo em março de
Sim, com a autorização do cacique. Agora estamos 2004].
discutindo para que a entrada na área indígena seja com
a autorização da nossa Organização Conjaba, e estamos
com projetos de ecoturismo, para ser apresentado à Funai
e outros órgãos envolvendo todas as comunidades.
O projeto resulta de uma parceria entre universidade, ONGs e o Ibama, buscando monitorar o
processo de reprodução de tartarugas-da-amazônia e tracajás na Ilha do Bananal e entorno.
Esses quelônios sofrem o impacto da predação intensa por parte da população indígena e não-
indígena, bem como da fauna local.
O que é e como vem sendo desenvolvido Cantão, localizado no sudoeste do estado do Tocantins e
o Projeto Quelônios na Ilha do Bananal? região Centro-Oeste do Brasil. Pesquisas conduzidas pelo
O Projeto é realizado em conjunto entre a Universida- projeto investigam influências de fatores bióticos e abió-
de Federal do Tocantins (UFT), Instituto Ecológica (ONG ticos no sucesso da reprodução das espécies. Podemos
sediada em Palmas) e Instituto Earthwatch (ONG ameri- ressaltar a influência da temperatura na determinação
cana), e conta com acompanhamento do Centro de Con- sexual dos filhotes. A maioria das espécies de quelônios,
servação e Manejo de Répteis e Anfíbios (RAN/Ibama), por exemplo, tem a determinação sexual dependente de
que é a agência ambiental brasileira responsável pelas fatores ambientais, podendo-se salientar a temperatura de
populações de quelônios na região amazônica. Da UFT, incubação dos ovos e também a umidade.
participam professores e alunos dos cursos de zootecnia,
medicina veterinária, geografia, ciências com habilitação O que os estudos sobre a população de tracajá
em matemática, biologia e engenharia ambiental. no Parque Nacional do Araguaia e entorno têm
O objetivo do projeto é contribuir com a preservação revelado sobre a predação desses animais?
da população dos quelônios, notadamente da tartaruga-da- Que fatores têm contribuído para isso?
-amazônia (Podocnemis expansa) e tracajá (Podocnemis Tanto a tartaruga-da-amazônia quanto o tracajá sofrem
unifilis). Com base em Pritchard & Trebbau (1984), existem predação por parte dos seres humanos, conforme já men-
32 espécies de quelônios no Brasil. Uma das principais cionado, apesar de no Parna e no seu entorno existir uma
famílias de quelônios é a Pelomedusidae. Em todo mundo base do RAN/Ibama e também a fiscalização do órgão,
existem 24 espécies dessa família (Pritchard & Trebbau, o que colabora para diminuir muitíssimo essa predação,
1984) distribuídas pela América do Sul, África, Madagas- trabalhando com os procedimentos de marcação e acom-
car, em algumas das Ilhas Seychelles e no Oceano Índico panhamento das ninhadas dessas espécies.
(Ernst & Barbour, 1989). Dois gêneros de Pelomedusidae Existem também os predadores naturais tanto dos
são encontrados no Brasil com um total de cinco espécies. ovos, quanto dos filhotes e adultos. Os ninhos de tracajás
Destes, os mais significativos são a tartaruga-da-amazônia são facilmente predados por aves, pois seus ovos são su-
e o tracajá, que são encontradas nas regiões Norte e perficiais (ficam aproximadamente a 15 cm da superfície).
Centro-Oeste do país. Além dos seus inimigos naturais, Os filhotes de ambas as espécies podem ser predados
tais grupos sofrem uma predação intensa da população também por peixes carnívoros, como por exemplo a pira-
humana interessada em sua carne, ovos, óleo (usado nha. Os adultos de tracajás são muitas vezes predados
para cosméticos, sabão e produtos medicinais) e casco pelos jacarés e os da tartaruga-da-amazônia pelas onças.
(usado para adornos). Os relatos de Smith (1979) desta
predação por parte dos índios e outras populações ribei- Qual a concepção e como tem se dado a
rinhas ilustra o significado sociocultural destes animais e experiência de montagem de um “Criatório
sua importância econômica para a população brasileira Conservacionista” de quelônios no rio
que vive na região da Amazônia brasileira. Formoso do Araguaia?
A estratégia básica do projeto segue o trabalho desen- Em 26/08/1996, o Ibama criou a Portaria nº 070, que
volvido pelo RAN/Ibama, que é identificar e monitorar as normatiza a criação em cativeiro de Podocnemis expansa e
covas dos quelônios e os períodos de incubação e eclosão
para proteger as fêmeas prontas para a desova e seus
filhotes da predação. * Adriana Malvásio, professora doutora adjunta e diretora de pesquisa da
Universidade Federal do Tocantins (UFT); Giovanni Salera Júnior, pesquisador
O projeto é realizado no rio Javaés, que corre entre
do Instituto Natureza do Tocantins (Naturantins) e mestrando do Curso de
o Parque Nacional do Araguaia e o Parque Estadual do Ciências do Ambiente da UFT.
Rondônia é um estado curioso. Quando olhamos o objetivos dessa Unidade de Conservação. E muito da
mapa político do Brasil, com os fragmentos da federação natureza presente nesse ecossistema de transição ainda
formando os contornos mais diversos, encaixados uns aos está por ser conhecido.
outros como peças de um quebra-cabeça disforme – que Na contrapartida da humanidade ali presente, tam-
foge do formato retangular daqueles que costumamos pouco podemos afirmar que conhecemos os seus índios.
montar –, lá vemos Rondônia. Sem mar, com bordas fron- Para a etnologia brasileira, Rondônia encerra um universo
teiriças que são tão generosas com a Bolívia quanto com sociocultural cuja cobertura etnográfica ainda não alcan-
duas outras peças do quebra-cabeça que lhe são vizinhos, çou a densidade que ela logrou obter em outras regiões.
Mato Grosso e Amazonas, Rondônia parece acuado. A despeito do mérito das pesquisas já realizadas entre
Como se fosse um encaixe de última hora, um corredor de alguns de seus povos, o conhecimento acerca de muitos
passagem na fronteira oeste do país, conectando a região outros é ainda incipiente. Mesmo os Uru-Eu-Wau-Wau e
Centro-Oeste ao mundo mágico-florestal amazônico em Amondawa são pouco conhecidos, se nos ativermos ao
sua parte mais ocidental. parco volume de estudos que a eles se referem: uma única
Em termos políticos, Rondônia é realmente um esta- dissertação de mestrado e alguns artigos que podemos
do muito novo. Ganhou esse estatuto apenas em 1982, contar nos dedos de uma só mão. E o que não dizer dos
quando deixou de ser o Território Federal do Guaporé, índios isolados que, felizmente ou não, estão apartados
criado em 1943, a partir de um desmembramento do do contato com os não-índios e sua sociedade. A TI em
estado do Amazonas. Foi rebatizado com o nome Ron- foco neste capítulo é um exemplo da ocorrência desses
dônia ainda quando era um Território Federal, em 1952. isolados. Até o presente momento, as equipes da Frente de
É o único estado que homenageia um brasileiro, alçado Contato Guaporé confirmaram a presença de dois povos
ao imaginário nacional como um bravo herói, um mare- isolados em seu interior: um grupo Tupi-Kawahib, vivendo
chal de grande comando e disciplina na exploração do na extremidade nordeste da área, e um outro grupo mais
Brasil mais que profundo – estudando as fronteiras e ao sul da TI, composto provavelmente por dezenas de
instalando postes telegráficos –, mas também de alma indivíduos. Em uma expedição realizada em março de
generosa quando realizou o primeiro contato com muitos 2000, a mesma Frente de Contato colheu informações que
povos indígenas, promovendo uma forma de pacificação sugerem a possibilidade de que exista um terceiro povo
não-violenta, muito distante daquela tradicionalmente indígena isolado na TI, mais especificamente na região
conhecida no país antes dele. da Serra do Tracuá.
No entanto, o sentimento de estranheza que Rondônia Paradoxalmente, foi a soma de tantos desconhecimen-
desperta – estranheza para o forasteiro, é claro – talvez tos que conduziu segmentos distintos do Estado brasileiro
não possua nenhuma razão objetiva. O enigma de Rondô- a realizar duas intervenções territoriais de grande impacto
nia talvez esteja no fato de sabermos muito pouco sobre nessa região ao longo das duas últimas décadas, e que
o que se passa por lá. Os recursos naturais da região, a nos interessam mais diretamente aqui. A primeira dessas
sua biodiversidade e a complexidade de suas formações intervenções diz respeito à natureza, e começou a ser
geológicas oferecem farto material inédito à investigação planejada em 1978, quando a abertura da BR-364 prometia
científica. O texto, neste capítulo, acerca da natureza tornar ainda mais caótico o povoamento acelerado e desor-
presente na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau e no Parque ganizado de Rondônia. Os seus ecossistemas já sofriam
Nacional de Pacaás Novos nos dá uma boa idéia disso. fortes pressões antrópicas mesmo antes da “avalanche”
Mesmo a criação do Parque Nacional em questão deu-se populacional, orientada no sentido leste-oeste, disparada
em função da necessidade de proteger, além de duas
espécies vegetais raras, “uma amostra representativa do
* Antropólogo, pesquisador do Programa Monitoramento de Áreas Protegi-
ecossistema de transição entre o Cerrado e a Floresta das/Povos Indígenas no Brasil, do ISA, até 2004. Atualmente é pesquisador
Amazônica”, conforme afirma o Ibama ao apresentar os do Cebrap.
A história recente desses índios tem nos mostrado conflitos entre índios e não-índios. A partir de 1958, os não-
que a permanência de um povo indígena dentro de uma -índios organizaram várias expedições punitivas. Aldeias
Unidade de Conservação não significa a sua inevitável inteiras foram massacradas com verdadeiros requintes
degradação, a despeito do que pensam alguns. No caso de crueldade, nos quais os ditos “civilizados” executaram
particular do Parque Nacional de Pacaás Novos, criado em mulheres, crianças e homens (Kanindé, 2002).
1979, a sua preservação tem sido obtida graças à presença Os técnicos do Instituto Brasileiro de Desenvolvimen-
dos índios Uru-Eu-Wau-Wau em seu interior. to Florestal (IBDF) informam, em setembro de 1984, ter
A TI Uru-Eu-Wau-Wau é administrada pela Fundação localizado, por meio de sobrevôo na região, a existência
Nacional do Índio por meio da Administração Regional de três aldeamentos com várias malocas no interior do
de Porto Velho, tendo extensão de 1.867.117,80 ha e Parque Nacional de Pacaás Novos, com a distância de
perímetro de 865 km. Possui quatro Postos Indígenas: aproximadamente sete quilômetros entre si.
PI Comandante Ari, PI Trincheira, PI Jamari e PI Oro-win.
E três Postos Indígenas de Vigilância: PIV do Alto Jaru Os que usam jenipapo
(aldeia do Arimã), PIV Linha 623 (aldeia do Paiajub), e
A população da TI Uru-Eu-Wau-Wau é composta por
PIV Bananeira. Há ainda um Posto Indígena não-oficial
vários subgrupos Kawahib – língua da família Tupi-Gua-
chamado São Luiz, onde mora um grupo da etnia Oro-win,
rani, do tronco Tupi – como: Jupaú, Amondawa e Urupain.
localizada na margem do rio de mesmo nome e assistida
Encontram-se distribuídos em seis aldeias, nos limites
pela Administração Regional de Guajará Mirim. Esta, no
da Terra Indígena, por questões de proteção e vigilância.
entanto, não tem portaria administrativa para chefia de
Além das etnias acima identificadas, há presença de índios
Posto Indígena ou para auxiliar de enfermagem, ficando
isolados, como os Parakuara e os Jurureís, assim como
os índios prejudicados no atendimento.
dois grupos cujos nomes são desconhecidos, um deles no
A homologação da demarcação da Terra Indígena
sudoeste (no médio do rio Cautário) e outro no centro da
Uru-Eu-Wau-Wau se deu por meio do Decreto Presiden-
TI (no igarapé Água Branca).
cial no 275, de 29 de outubro de 1991, com o objetivo de
Os Jupaú traduzem sua autodenominação como “os
garantir a integridade física e cultural do grupo Uru-Eu-
que usam jenipapo”. A denominação “Uru-Eu-Wau-Wau”
-Wau-Wau, Amondawa e Urupain. Os registros oficiais de
foi dada aos Jupaú por outros índios com os quais tiveram
localização de malocas datam de 1976, quando três delas
algum contato. Após o contato, no início dos anos 1980,
foram localizadas entre as cabeceiras do rio Branco do
ocorreu um decréscimo populacional significativo nesses
Cautário e Sotério, próximo à Serra dos Pacaás Novos.
grupos. Cerca de 2/3 foram eliminados em razão de con-
Uma outra maloca foi localizada próxima ao igarapé Souza
flitos e das sucessivas doenças que assolavam as aldeias,
Coutinho, na cachoeira do Mutum.
principalmente as infecto-respiratórias. Nos anos seguintes
A partir de 1909, começam a ser registrados diversos
a 1993, houve uma pequena retomada no crescimento
conflitos entre os índios e ocupantes brancos que inten-
populacional, em parte pela demarcação, fiscalização e
sificam sua presença na região (ver cronologia neste
capítulo). Muitos desses conflitos resultam em mortes de vigilância da TI. No ano de 1995, a população da TI pas-
ambos os lados (Leonel, 1988: 79). sou a ser de 114 pessoas; em 2000 era de 160 pessoas;
Em 1946, é feita a primeira proposta de criação do em 2002 era de 168 pessoas; atingindo a marca de 180
território indígena para o governo brasileiro, que foi infor- em 2003. O povo Amondawa destaca-se entre as etnias
mado da presença de índios nas bacias dos rios Jamari inseridas na TI com o maior crescimento populacional,
e Floresta, até a Serra dos Pacaás Novos. Essa proposta
obteve parecer favorável em novembro do mesmo ano.
* Historiadora, mestranda em Desenvolvimento Regional pela Fundação
Alguns anos se passaram sem que a Terra Indígena
Universidade Federal de Rondônia (Unir). Membro do Conselho Deliberativo
fosse criada, o que contribuiu para a continuidade dos da Kanindé – Associação de Defesa Etnoambiental.
Referências bibliográficas
IBAMA, Plano de manejo do Parna Pacaás Novos. Brasília, 1984.
KANINDÉ, Associação de Defesa Etno-Ambiental. Diagnóstico etno-
-ambiental Uru-Eu-Wau-Wau. Porto Velho, 2002.
LEONEL, Mauro. Relatório de avaliação e para urgente demarcação
das terras dos índios Uru-Eu-Wau-Wau. s/l, mimeo, 1984.
______. “A avaliação do meio-ambiente e da situação dos índios
isolados no programa Poloroeste”. in Anais da XVI reunião
brasileira de antropologia, Campinas, 1988.
1957 – Ocorre novo ataque no alto Jamari, no seringal de Marçal 1974 – Ocorre nova morte no seringal Canaã. O seringal Palestina,
Touceiro. Os índios matam um seringueiro e outra aldeia é massacrada. no baixo São Miguel, é atacado pelos índios.
1958 – São organizadas expedições punitivas pelos seringalistas, 1975 – Continuam as invasões no Território Indígena e os ataques
que localizam uma aldeia na região do rio Floresta e provocam um aos seringais.
massacre no seringal Canaã, no qual morre “Pezinho”, seringueiro 1976 – É flechado nas cabeceiras do rio Floresta o caçador Vicente
que fora viver com os índios na década de 1940. Os índios atacam Marques Paiva. Um seringueiro é morto e dois são feridos no seringal
as colocações de São Luís, Abacateiro e seringal Porto Novo, onde é São Tomé. É constatada a presença indígena e solicitada à Funai uma
morto a flechadas o seringueiro Francisco Mateus. expedição para contatar os índios e evitar conflitos.
1962 – Os seringalistas donos dos seringais Canaã e Santa Cruz 1977 – Os índios continuam atacando os seringais São Tomé e
organizam expedições punitivas, objetivando o extermínio dos índios São Luiz, rios São Miguel, Jamari, Urupá, Jaru, Candeias e Sotério. A
que atacavam os seringais. Garimpeiros são atacados nos contrafortes abertura de estradas, os assentamentos do Incra, ação das mineradoras
do Parecis e nascentes do rio Pacaás Novos. e agropecuárias na região acirram as tensões. Diante da situação, o
É impossível se falar de paisagens em Rondônia sem área e são constituídos pelo complexo Gnaissico-Migmatito
fazer referências às suas serras de onde descem cacho- Jaru, de idade paleoproterozóica à mesoproterozóica em
eiras majestosas e rios de águas cristalinas. As serras dos torno de 1,75 bilhões de anos e 1,57 bilhões de anos. Do
Pacaás Novos e dos Uopianes correspondem ao centro período mesoproterozóico, encontra-se a Suíte Intrusi
distribuidor das águas de pelo menos 12 importantes sub- va Alto Candeias (CPRM, 2000). A seqüência de rochas
-bacias hidrográficas de Rondônia. Possui mais de 2.100 metamórficas-vulcânicas e sedimentares Nova Brasilândia,
nascentes cartografadas. também do mesoproterozóico localiza-se na porção centro-
Em termos de biodiversidade, a região entre as serras -oeste e sul-sudoeste da área e tem idade em torno de 1,1
dos Pacaás Novos e dos Uopianes representa, prova- bilhões de anos. A Formação Nova Floresta (rochas vul-
velmente, a área menos conhecida de todo o estado de cânicas) aparece no rebordo da Serra dos Pacaás Novos
Rondônia. Esta mesma região parece englobar uma área e os Younger Granites de Rondônia aparecem dentro da
de transição ecológica, com um papel significativo na dis- Suíte Intrusiva Alto Candeias. Ambos são de idade meso
tribuição biogeográfica, pouco estudada. Neste cenário, a proterozóico neoproterozoica (em torno de 967-1.098 mi-
Terra Indígena (TI) Uru-Eu-Wau-Wau e o Parque Nacional lhões de anos), assim como a Formação Palmeiral (rochas
de Pacaás Novos representam uma área desconhecida sedimentares) que constitui a Serra dos Pacaás Novos e
cientificamente, em Rondônia. Uopianes (CPRM, 2000). Esta diversidade geológica se
Neste estudo, apresentamos uma síntese dos resulta- traduz em grande riqueza mineral, o que explica o assédio
dos dos estudos de meio físico realizados na área. de garimpeiros e mineradoras na região.
Na evolução do relevo da área, de acordo com Bahia
Aspectos geológicos (1997), as associações faciológicas mostram que a sedi-
mentação ocorrida durante o mesoproterozóico na borda
Os Uru-Eu-Wau-Wau são privilegiados. Possuem em
oeste do Craton Amazônico iniciou em ambiente fluvial,
suas terras atrativos paisagísticos ímpares. A Serra dos
mudando depois para condições marinhas e voltando final-
Pacaás Novos se distingue por conter o ponto mais elevado
mente para ambiente fluvial. Apesar de não detectarmos
do estado, o Pico do Tracoá, com 1.230 m de altitude; a
sedimentos marinhos, estes podem estar ocultos na parte
Serra do Uopianes possui altitudes não superiores a 600
inferior dessa formação.
m. As paisagens são diversificadas e o relevo ora se apre-
Esta área está situada, em termos geomorfológicos,
senta em forma de colinas, ora sob forma de chapadas
no domínio dos Planaltos Residuais do Guaporé, tendo
tabulares e relevos residuais (inselbergs), onde se encon-
a sudeste e nordeste o Planalto Dissecado Sul da Ama-
tra a maior densidade de cavernas. A cobertura vegetal
zônia. Está localizada entre a Depressão Interplanáltica
nos topos dessas serras se diferencia do seu rebordo em
da Amazônia Meridional e o Pediplano Centro Ocidental
função da constituição geológica e pedológica, associada
Brasileiro, de acordo com o Radambrasil (1978).
à circulação atmosférica. No topo das serras, onde o solo
Os Planaltos Residuais do Guaporé englobam todos
se apresenta litólico é comum a formação de campos e
os planaltos tabulares, que sobressaem dos terrenos
cerrados e outras formações endêmicas, enquanto que no
rebordo encontramos a floresta tropical aberta a fechada
sobre solos de maior profundidade. * Geógrafa, professora do Departamento de Geografia da Universidade Fe-
Em termos geológicos, por causa da grande extensão deral de Rondônia (Ufro) nas áreas de geomorfologia, cartografia e análise
ambiental.
da área, aparecem vários grupos litológicos. Os terrenos ** Geógrafa, professora do Departamento de Geografia da Ufro nas áreas de
mais antigos localizam-se na porção norte e nordeste da planejamento ambiental, análise e gestão ambiental e fotointerpretação.
cachoeiras do Bom Destino, do Desengano, da Esperança, As principais fitofisionomias florestais na área são a
do Cujubim, entre outras. Floresta Ombrófila Aberta, a mais extensa, seguida da
O rio Jamari é considerado estratégico para os interes- Floresta Ombrófila Densa, Contato Savana/Floresta e
ses do estado de Rondônia, pelo fato de ter nele instalada Sa-vana Arborizada.
a Usina Hidrelétrica de Samuel, no município de Jamari. No levantamento florístico realizado em quatro bacias
O fato de ter suas nascentes dentro da Terra Indígena e da área foram identificadas e catalogadas 79 espécies,
do Parque Nacional dos Pacaás Novos contribui de modo 69 gêneros, em 39 famílias dentre herbáceas, lianas e
decisivo para a proteção deste manancial. epífitas. As famílias mais ocorrentes são: Rubiaceae, com
As sub-bacias dos rio Urupá, Jaru e Muqui deságuam dez gêneros e 14 espécies; Fabaceae, com sete gêneros
no rio Ji-Paraná. O rio Urupá nasce nos campos do e sete espécies; Myrtaceae, com dois gêneros e quatro
Comandante Ari entre as serras dos Pacaás Novos e espécies; Orquidaceae, com quatro gêneros e quatro es-
do Mirante. O rio Jaru nasce na Serra do Mirante a 590 pécies; Heliconiaceae, com um gênero e três espécies; e
m de altitude e deságua na bacia do rio Ji-Paraná. O Melastomataceae, com dois gêneros e quatro espécies.
rio Muqui nasce na Serra Moreira Cabral, em altitudes É importante destacar que algumas delas como Alibertia
próximas a 350 m e possui bonitas corredeiras dentro da cf. edulis (Rubiaceae), Maxillaria cf. amazônica Schlt.
Terra Indígena. Estas sub-bacias atravessam as áreas (Orquidaceae), Piper cf. baccans Miq. (Piperaceae), Wal-
mais densamente povoadas de Rondônia, apresentando teria cf. ferruginea A. St. Hil (Sterculiaceae) e Byrsonima
sérios problemas ambientais e reduzida área de mata cf. crassifolia Kunth. (Malpighiaceae) encontram-se em
ciliar em todo percurso. confrontação com amostras coletadas por outros pesqui-
O rio São Miguel nasce na Serra dos Uopianes e na sadores para reconhecimento, e há a possibilidade que
Serra Moreira Cabral. Apresenta inúmeras corredeiras estas sejam novas espécies.
em seu trajeto. Deságua no rio Guaporé e no seu percur- Os Uru-Eu-Wau-Wau e Amondawa utilizam-se dos
so banha o município de São Miguel do Guaporé. O rio recursos naturais de forma controlada. As espécies
Cautarinho e o São Domingos encontram-se na porção mais utilizadas são itaúba, castanheira e freijó, para
sudoeste da área da Terra Indígena e nascem na Serra fazer tábuas para as instalações necessárias. Usam
do Uopianes. Deságuam no rio Guaporé, próximo ao mu- também muita palha de babaçu e imbira para esteios
nicípio de Costa Marques. e amarrações de habitações. Da floresta, retiram tudo
o que precisam para a manutenção de sua saúde. São
Os recursos florestais grandes conhecedores de plantas medicinais. Atualmen-
Kaa‘yra é como os Uru-Eu-Wau-Wau chamam o mato. te estão aprendendo a fazer a coleta de copaíba para
Ywá significa árvore, os seus galhos são ygwirá, as folhas venda, bem como a coleta de sementes de mogno e de
são kapyra, as flores são pytyra e os frutos, ywá‘ía. outras árvores comerciais.
O Parque Nacional (Parna) de Pacaás Novos está e prendendo invasores junto com a polícia há mais de
sendo preservado graças aos indígenas, que por muitos dez anos.
anos têm defendido essa área. Hoje fazem vigilância e Felizmente, a situação está mudando e os órgãos
buscam parcerias com os órgãos públicos e ONGs. Os públicos começam a dar sinais de mudança. O que an-
povos indígenas sabem que dependem dos recursos do tes era visto como conflito agora está se transformando
ambiente para manutenção do seu modo de vida e por em oportunidade. O Programa de Desenvolvimento do
este motivo têm interesse em sua preservação. Assim, Ecoturismo da Amazônia Legal (Proecotur), conhecendo
os Jupaú nos mostram a possibilidade da permanência as belezas cênicas da área, resolveu financiar o Plano
harmônica de um povo indígena dentro de uma Unidade de Manejo do Parque. Entretanto, para a entrada dos
de Conservação. pesquisadores, o Ibama pediu autorização da Funai e
O fato da Terra Indígena (TI) Uru-Eu-Wau-Wau ser as negociações tiveram início. Foi realizada uma reunião
sobreposta ao Parna de Pacaás Novos era motivo de entre ambos órgãos e a Kanindé, quando foi proposto um
desavença, com a Funai e o Ibama disputando quem Termo de Cooperação Técnica entre as instituições, que
teria mais poder na área e qual o decreto de criação está sendo analisado pelos departamentos jurídicos do
que teria mais valor, afinal o Parque havia sido criado Ibama e da Funai.
primeiro, mas a Constituição diz que são nulos docu- Também estão previstos cursos de capacitação na
mentos emitidos sobre TIs. Nenhum dos dois órgãos área ambiental com os chefes de Postos Indígenas, por
queria ceder ou negociar, desconhecendo a realidade e demanda da Funai, que contarão com o apoio do Ibama
os objetivos institucionais um do outro. Representantes e da Kanindé. Em relação ao Plano de Manejo, serão
do Ibama acreditavam que a Funai não se preocupava realizadas reuniões em cada aldeia e depois uma todas
com a conservação da biodiversidade. Representantes as comunidades, a fim de ter seu consentimento prévio
da Funai achavam que o Ibama não se interessava pelos para a reelaboração do documento. Se este definir que a
direitos das comunidades indígenas. melhor forma de condução da sobreposição é a gestão
Por isso, a sobreposição era vista como um problema compartilhada, esta deverá envolver as comunidades
e os envolvidos somente viam solução dividindo as áreas. indígenas, ONGs que trabalham na área, Ibama e Funai.
Conseqüentemente, a área ficava abandonada, pois o Para além dessa possibilidade, algumas ações con-
Ibama não arriscava investir receando que depois tudo juntas já vêm sendo realizadas, como a que envolveu
virasse TI; a Funai rechaçava qualquer iniciativa externa Funai, Ibama, Polícia Ambiental e Kanindé na apreensão
com medo de modificar o modo de vida indígena. E o fato de um caminhão e dois tratores que estavam retirando
é que nenhum dos dois órgãos possui infra-estrutura e mogno da área sobreposta. Outras nove operações de
pessoal suficientes para atenderem à demanda de apoio vigilância em conjunto foram feitas. Geralmente o Ibama
e proteção. Na falta do Estado, madeireiros, garimpeiros colabora com carros, barcos, equipamentos de campo,
e sem-terras vinham constantemente invadindo a área. conhecimento técnico para perícia e autuação; a Funai
Quem vem amenizando a crise, apoiando a Funai e a com carros, barcos, motores, combustível e alimentação
Funasa no cuidado da comunidade indígena são as enti- e conhecimento de operações de campo; os indígenas
dades não-governamentais: Coordenação da União das com o etnoconhecimento; a Kanindé, quando possível,
Nações Indígenas de Rondônia (Cunpir), Kanindé – As- envia colaboradores, além de fornecer combustível e
sociação de Defesa Etnoambiental, Conselho Indigenista alimentação.
Missionário (Cimi), entre outras. A Kanindé também vem
trabalhando na proteção da área, montando expedições * Analista ambiental do Parque Nacional de Pacaás Novos.
Ultimamente, a administração do Parque tem apoia- integridade física e cultural dos índios isolados, dos Jupaú
do as comunidades indígenas fornecendo transporte. A e Amondawa.
Funai, por sua vez, vem recebendo os analistas e fiscais Caso a gestão compartilhada se efetive, é preciso
do Parque em suas barreiras. Os índios têm acompanha- pensá-la numa perspectiva biorregional, ou seja, no
do expedições do Ibama. A Kanindé, a Funai e o Ibama contexto da região ao qual está inserida. Nesse sentido,
trouxeram um técnico agrícola para auxiliar a aldeia do já existe uma Portaria Interinstitucional Ibama/Funai no
Alto Jamari na produção de milho e farinha. Com isso, âmbito do Corredor Ecológico Guaporé-Itenez-Mamoré.
puderam melhorar o sistema de produção desde a lava- Ainda, é necessário levar em conta a situação do entor-
gem da mandioca, secagem e no armazenamento, a fim no, principalmente, a Funai e o Incra devem solucionar
de certificar o produto, que faz sucesso na região. Uma urgentemente a situação fundiária da região conhecida
parceria da Kanindé com os índios também extrai copaíba como Burareiro.
como alternativa de renda e o Ibama estuda uma forma de Por fim, cabe lembrar que os índios são soberanos
apoiar a comercialização da produção. Assim, podemos nessa área, com total liberdade de ação. Não se deve
ver a parceria se consolidando nas atividades. tentar restringir sua liberdade de ação, mas propor acordos
Mesmo assim, passamos dificuldades com a falta de e delegar-lhes responsabilidades.
diárias para campo, de recursos para operações e de
pessoal para integração. Ainda existe muito por fazer e
só estamos conseguindo algum resultado porque estamos
nos unindo, caso contrário a situação estaria muito pior.
Trata-se de uma área total com mais de 1.867.000 ha, com
oito servidores no Parque e seis na TI, o que equivale a
mais de 100 mil ha por servidor. Portanto, entendemos
que, numa situação de órgãos abandonados e sucatea-
dos, a sobreposição vem sendo uma forma de melhorar
a proteção da biodiversidade e do território dos índios. A
área foi considerada prioritária para preservação pelo Zo-
neamento Econômico Ecológico do estado, devido à sua
biodiversidade. Também o Probio/MMA a classifica como
área extremamente alta para conservação.
Assim, entendemos que o GT previsto no SNUC para
resolver a questão da sobreposição deva estudar uma
alternativa, como a possibilidade de desenvolver uma
unidade mista, por exemplo um Parque Nacional Indígena.
Os índios já explicitaram que querem desenvolver junto
com o Ibama e a Funai atividades de proteção da área,
visando a preservação da fauna, flora, meio físico e da
Cristina Velasquez*
Há pelo menos quatro sobreposições de Terras In- mente de seu interesse em receber apoio material e legal
dígenas no perímetro da Reserva de Desenvolvimento para fiscalizar seus lagos de pesca, reservados por elas
Sustentável (RDS) Mamirauá. Em sua área focal,(1) no rio mesmas e contando apenas com o incentivo da Prelazia
Solimões, a Reserva se sobrepõe a duas áreas indígenas: de Tefé, como os artigos também relatam.
a TI Jaquiri e a TI Porto Praia. Na margem direita do rio A área de Mamirauá se sobrepôs inteiramente à Terra
Japurá, parte de Mamirauá também é área de uso dos Mi- Indígena Jaquiri, declarada em 1982 e demarcada em
ranha da TI Cuiú-Cuiú, que se encontra fora dos limites de 1987, como informa Faulhaber. A criação da RDS Mami-
Mamirauá e dentro da RDS Amanã, Unidade de Conserva- rauá não provocou reação negativa por parte dos índios
ção vizinha. O mesmo ocorre em relação à TI Marajaí dos de Jaquiri. Tal como as comunidades não-indígenas, o
Mayoruna, e a TI Tupã Supé, dos Ticuna, localizadas na interesse dos Kambeba de Jaquiri se deu em função
margem direita do Solimões. Parte do território explorado do apoio à fiscalização oferecido por Mamirauá. Como
pelos Mayoruna fica fora dos limites formais de Mamirauá. relata Faulhaber, inicialmente houve mesmo frustração
Há ainda outras sobreposições, com a TI Uati-Paraná e porque Mamirauá não evitou, de imediato, a invasão de
com a TI Acapuri de Cima, em parte da área demarcada seus lagos por peixeiros. Recentemente, Jaquiri aderiu ao
mas não implantada de Mamirauá (conhecida como “área programa de Ecoturismo de Mamirauá, sendo a primeira
subsidiária”). Estas sobreposições não são mencionadas comunidade indígena a se beneficiar diretamente de um
nos artigos deste bloco. programa de alternativa econômica oferecido pelo Instituto
A criação desses territórios diferenciados se deu de Desenvolvimento Mamirauá (IDSM). A sobreposição
em datas distintas e resultaram em diferentes situações de Mamirauá e Jaquiri pode ser qualificada como uma
em que a Unidade de Conservação se sobrepôs à Terra sobreposição não conflituosa.
Indígena, ou a Terra Indígena se sobrepôs à Unidade de Este não é o caso da Terra Indígena Porto Praia,
Conservação. Legalmente, tal distinção é irrelevante, pois identificada após Mamirauá. Importa situar esta crono-
os índios possuem direito originário às terras que tradicio- logia para acompanhar o significado que a sucessão de
nalmente ocupam. Porém, neste caso a cronologia das acontecimentos teve para os moradores da região. Antes
sobreposições importa para entender seus diferentes re- de ser identificada pela Funai, a área de Porto Praia era
sultados locais, particularmente com relação a Porto Praia. reconhecida como uma comunidade – denominação geral
Mamirauá foi decretada em 1990 como Estação Eco- dos assentamentos humanos na região, associada a outro
lógica pelo governo do estado do Amazonas. O projeto de trabalho de promoção social desenvolvido pela Prelazia
implantação ignorou a definição de categoria de proteção de Tefé e o Movimento Eclesial de Base (MEB) local. As
integral e, ao invés de excluir, envolveu a população resi- comunidades de Aiucá, Cauaçu e Miraflor compunham a
dente. A adoção de um novo modelo de gestão implicou vizinhança de Porto Praia. As relações de vizinhança inclu-
posteriormente a necessidade de sua adequação legal, íam o uso comum de um território extenso de exploração
levando à criação de uma nova categoria de Unidade
de Conservação de Uso Sustentável, como descrevem
* Antropóloga, sócia-fundadora da Sociedade Civil Mamirauá; sócia
os artigos de Pires, Queiroz e Reis. Dado que o modelo do Instituto Socioambiental; doutora pela Universidade de Cambridge
proposto para Mamirauá dependia da aceitação local, é e professora da Universidade Federal de Minas Gerais.
preciso reconhecer o papel do conflito em torno da pesca 1
A RDS Mamirauá foi dividida em uma área “focal” com 260 mil ha, onde se
desenvolvem as atividades-piloto de pesquisa e extensão e as operações para
na aceitação da RDS pela maioria da população local.
manutenção da reserva, e uma “área subsidiária”, para a qual será estendida
As comunidades aceitaram o projeto em razão principal- futuramente a experiência piloto efetuada na área focal.
Um dos principais fatores que diferenciam as Reservas da por ser utilizados. Sua presença como manejadores
de Desenvolvimento Sustentável (RDS) de outras Unida- responsáveis dos recursos naturais seria a garantia de
des de Conservação (UCs) de uso direto é a aplicação perpetuação desses recursos e de outros componentes
da pesquisa científica aos princípios de envolvimento da importantes da biodiversidade.
população local e de gestão participativa da própria Uni- Esta situação implica colocar em pleno funcionamento
dade de Conservação dos recursos naturais renováveis os conceitos de manejo dos recursos naturais dessas
existentes em seu interior e nas suas áreas imediatamente Unidades de Conservação em níveis de sustentabilidade,
circundantes. A pesquisa científica está posta como o especialmente executado com base comunitária. Ocorre
principal instrumento de consolidação das técnicas de uso que as técnicas de manejo sustentado implicam, por sua
do espaço e dos recursos naturais dentro do contexto de vez, a existência ou disponibilidade de conhecimento
conservação da biodiversidade, que, em última análise, acerca de diversos aspectos da biologia dos recursos
é a função precípua de uma Unidade de Conservação. naturais e de outros componentes da biodiversidade
O modelo ou abordagem de conservação preconizada (especialmente seus processos ecológico-evolutivos),
na experiência de Mamirauá considera que o uso susten- acerca de fatores ambientais condicionantes à sobre-
tado do ambiente atua tanto como promotor da efetiva vivência e manutenção desses componentes da biodi-
proteção e conservação da biodiversidade local, como versidade, e acerca dos próprios modos, tradicionais ou
também da mitigação de sérios problemas sociais que não, de exploração de toda essa diversidade biológica.
enfrentam aquelas comunidades que habitam a área desde Tais conhecimentos e saberes podem ser obtidos a partir
muito. A permanência das populações humanas locais no do conhecimento tradicional daquelas populações, mas
interior da unidade nunca foi colocada em dúvida, e ao também devem ser corroborados, corrigidos, quando
contrário de ser entendida como uma fonte de problemas, necessário, ou mesmo produzidos quando inexistentes,
conforme os paradigmas de conservação vigentes ainda pelos métodos da pesquisa científica.
em meados da década de 1980, era e é entendida como Daí se compreende por que a construção de um sóli-
parte fundamental da solução para o problema maior. do programa de pesquisas científicas sempre esteve no
Por um lado, em determinados ecossistemas ama- alicerce do “modelo de RDS” proposto. Para a compreen-
zônicos de alta produtividade, densidade humana pro- são do real papel da pesquisa científica em Mamirauá, é
porcionalmente maior e com um consolidado histórico de necessário oferecer um breve relato da implantação dos
exploração, é quase impossível identificar extensas áreas programas científicos nesta experiência de uso susten-
com relevância biológica e alto valor ambiental que ainda tado. Enquanto outros autores fazem neste volume um
estejam inabitadas. Por outro lado, a ausência de morado- relato da experiência mais ampla de Mamirauá e da sua
res em determinado local terminaria por facilitar a ação de relação com as populações locais, neste artigo pretende-
agentes invasores que potencialmente poderiam causar -se dar mais evidência ao componente científico dessa
danos irrecuperáveis aos componentes da biodiversidade experiência e como esse componente interage com os
local. Assim, os moradores locais, ligados àquela área por moradores que estão envolvidos nos processos de gestão
vínculos históricos, familiares e de tradição, poderiam con- participativa.
tinuar a viver nos seus assentamentos habituais e desfrutar
dos benefícios oferecidos pelos mesmos recursos naturais
*Biólogo, é diretor técnico-científico do Instituto de Desenvolvimento Susten-
tradicionalmente explorados, ou mesmo por aqueles ain- tável Mamirauá.
Mamirauá (de 1990 até 1995). Os esforços de pesquisa de estudos a respeito das populações humanas que
ambiental do período estavam voltados para: habitam Mamirauá.
• O levantamento da biodiversidade local, especialmen- Os levantamentos iniciais foram constituídos por um
te naqueles grupos taxonômicos sob maior impacto da censo demográfico e uma amostragem socioeconômica
presença ou permanência humana na área protegida. com base domiciliar para todas as comunidades internas
• O levantamento das informações básicas necessá- da Área Focal. Foram investigados aspectos históricos
rias como subsídios aos planos de uso sustentado dos dos assentamentos locais (comunidades, vilas, sítios
principais recursos econômicos do local. etc.), bem como aspectos e particularidades da cultura
• A realização de pesquisa básica em ecologia e local. Estudos de saúde, nutrição e de antropologia física,
evolução de fauna e flora de ambientes tropicais, que foram desenvolvidos para apoiar e complementar os sócio-
apresentassem ampla repercussão em segmentos da -econômicos anteriores.
comunidade científica nacional e internacional, e com Em momentos posteriores a este também se realiza-
boa penetração nas mídias brasileira e estrangeira. ram levantamentos epidemiológicos, de saúde comunitá-
As principais atividades de pesquisa desse período ria, saúde bucal, saúde reprodutiva etc. Intensas investi-
organizavam e armazenavam as informação coletada em gações sobre os padrões de uso dos recursos naturais
Bancos de Dados construídos e mantidos pela Coorde- locais, bem como seu mapeamento, foram desenvolvidos
nação de Bancos de Dados. Esta coordenação também neste segundo momento da primeira fase.
encarregou-se de estabelecer posteriormente um Sistema Todas essas atividades denotam um claro direciona-
de Informação Geográfica (SIG) para Mamirauá, tarefa mento dos esforços de pesquisa, voltados para:
que desde então tem sido uma das preocupações centrais • Levantamentos demográficos e do estado social e
deste grupo. biológico das populações humanas locais.
• Descrições dos padrões do uso do solo e dos recur-
Participação comunitária sos naturais por estas populações.
Concomitante ao estabelecimento das pesquisas • Pesquisas sobre aspectos socioculturais que in-
ambientais, uma Coordenação de Participação Comu- fluenciam a distribuição espacial dos assentamentos
nitária foi formada, e incluiu principalmente as ações humanos locais, o histórico de sua mobilidade, bem
de extensão comunitária. Mas seu principal foco foi a como o padrão de uso dos recursos naturais do local.
articulação política das lideranças locais, especialmente Os esforços de pesquisa descritos para essa fase
das comunidades de Mamirauá, o seu envolvimento estavam completamente direcionados para a elaboração
e sua participação no processo de planejamento da de um Plano de Manejo de Mamirauá que fosse inclusivo
implementação da Unidade de Conservação. Esta e participativo, mas que também fosse apoiado em sólida
coordenação também organizou um grande número informação científica. Da mesma forma que o observado
lação local.(14) Alguns agentes missionários diziam que a a recusar esta identidade. Assim como o termo caboclo é
afirmação de etnia indígena por alguns grupos tem como motivo de embaraço para os portadores.(15)
interesse primeiro, assegurar a posse e a autonomia sobre A população regional, de modo geral, guarda tanto
um território através da sua delimitação. a herança indígena quanto a carga de preconceitos que
3 - As ações desenvolvidas na RDSM somam-se aos se abateu contra ela, estigmatizada no processo de colo-
ideais e propósitos protecionistas de forma geral. Os índios nização. O “índio” da região de Mamirauá não expressa
puderam participar e opinar, desde o início, sobre o zone- uma cultura distinta do ribeirinho, não possui um modo
amento e medidas de manejo para Mamirauá. Nas Áreas de vida diferente ou em oposição a ele. Não se quer com
Indígenas localizadas dentro ou no entorno da Reserva, o isto desconhecer os casos em que os remanescentes de
direito de autodeterminação está reconhecido e as ativida- povoamentos indígenas se assumem como tal e persistem
des só são realizadas com assentimento, como foi o caso com seu padrão de vida.
dos programas de saúde e educação ambiental, de alguns 7 - Os Ticuna ou Tukuna do médio Solimões, assim
levantamentos científicos e da fiscalização. Desde que foi como a maioria dos índios dessa região, foram absorvidos
criada a RDS, os grupos indígenas, em geral, reconhecem pela população regional, perdendo os traços culturais ca-
o reforço que essas ações têm representado para suas racterísticos que os distinguiam, outrora, de outros grupos
áreas enquanto unidades protegidas. nativos e podem ser inseridos, a meu ver, na concepção
4 - Se, de um lado, as medidas de proteção funcionam de “populações tradicionais” adotada por Cunha & Almeida
como inibidores da depredação do ambiente por alguns (2001).(16) A maioria das áreas Ticuna estão demarcadas
indivíduos, por outro, podem representar obstáculos (no no alto Solimões, nas regiões fronteiriças de Tabatinga,
caso da demarcação) para os agentes protecionistas ex- Benjamin Constant, Jutaí, Amaturá, São Paulo de Oliven-
ternos mais atuantes. ça, onde reúnem mais de cem aldeias e 30 mil habitantes.
5 - Alguns dos moradores ribeirinhos afetados pela
(17)
O grupo de Porto Praia se considera descendente de
proposta da TI Porto Praia se sentiram francamente con-
trariados com a possibilidade de ter que abandonar suas 14
Situações semelhantes foram encontradas no Alto Solimões por Roberto
posses ou de serem forçados, para continuar usufruindo Cardoso de Oliveira (1964: 143), que discute a questão da manipulação da
identidade (“índio”, “não índio”, “caboclo civilizado”) pela população regional em
do direito de habitá-las, a assumir a identidade Ticuna. Os função de seus interesses econômicos ou pessoais. O autor aborda a questão
que o fizeram relataram, à época, terem sido apanhados a partir do conceito de “fricção interétnica” e das representações ideológicas
de surpresa. que a população faz dos índios para a sua própria conveniência.
15
Deborah Lima (1992) faz um estudo pormenorizado sobre o caboclo na
6 - Apesar da origem indígena inegável dos moradores região, importante para a compreensão dos significados e usos que o termo
da região, ela é alvo de preconceito, sendo vista de forma adquire a partir do contexto histórico e social.
constrangedora para a maioria que, por razões históricas
16
Manoela Carneiro da Cunha e Mauro Almeida discutem o termo e fornecem
um enfoque para a categoria no artigo “Populações Tradicionais e Conservação
e culturais, prefere esconder a etnia. O processo de ex- Ambiental”, definindo populações tradicionais como grupos que têm em comum
ploração e perdas culturais advindas do contato pelo qual uma trajetória de baixo impacto ambiental e a disposição de manter um pacto,
os grupos locais passaram sob as culturas dominantes ou seja, de “comprometer-se a uma série de práticas, em troca de algum tipo
de benefício e sobretudo de direitos territoriais” (2001).
condicionou-os, muitas vezes, para a sua própria proteção, 17
Revista Brasil Indígena. (2001: 1-8)
A discussão de problemas relacionados à sobreposi- social relacionados com a política agrícola, extrativista
ção de Terras Indígenas (TIs) e Unidades de Conservação e ambiental. Em tais movimentos, essas categorias são
(UCs) no Médio Solimões implica considerar, dentro de apresentadas, ainda que indiretamente, em contraposição
uma perspectiva histórica, as redes sociais subjacentes às aos proprietários dos barcos pesqueiros e dos frigorífi-
relações entre a política indigenista e a política ambiental, cos, e, diretamente, em relação aos intermediários que
no sentido de esclarecer formas de mobilização relacio- atuam a serviço de tais proprietários, considerados como
nadas à emergência de diferentes identidades sociais e “invasores”, tais como os pescadores e atravessadores,
das instâncias de participação de índios e não-índios que relacionados com mecanismos de intervenção dentro do
vivem do trabalho agrícola e extrativo. sistema de exploração e comercialização dos produtos
Em toda a Amazônia, a exploração do trabalho humano agrícolas e extrativos, mediante mobilização da força de
e dos recursos naturais, ao longo da história da coloni- trabalho.
zação, tem sido exercida por intermédio do sistema de Os movimentos sociais implicam a intervenção de me-
aviamento, o que tem eternizado a presença de relações diadores, tais como os representantes indígenas e agentes
de sujeição-dominação, exercida através de vínculos pater- de mobilização social dos segmentos ribeirinhos, que se
nalistas acionados em proveito dos detentores dos meios apresentam na relação com representantes do poder local,
de produção mediante vínculos de clientela constituídos como prefeito, vereadores etc.
historicamente.(1) Não obstante, aqueles que vivem na A relação entre atores manifesta-se portanto dentro
floresta e na beira do rio lutam para dispor de um lugar no de um campo político constituído regionalmente, terreno
qual sua sobrevivência seja garantida, em conflitos sociais das ideologias étnicas e de dominação, que constituem
caracterizáveis como identitários, uma vez que implicam o pano de fundo, o interdiscurso, que informa os planos
o aparecimento de identidades sociais associadas a as- governamentais, a política indigenista, os movimentos
pirações territoriais. étnicos e os movimentos de reivindicação territorial
Deste ponto de vista, não se trata do estudo formal por não-índios. Tais ideologias étnicas e de dominação
da sobreposição de entidades espaciais vazias, encara- tornam-se visíveis através de termos estigmatizadores
das como meros artefatos construídos conforme projetos através dos quais os índios são caracterizados como
ambientais, indigenistas, ou para atender a demanda de “preguiçoso”, “cachaceiro”, “ladrão”. Estes termos são
grupos autocentrados. Trata-se, antes de tudo, de pensar a exemplos de uma visão, constituída no processo histórico
significação de tais lugares para aqueles que neles vivem, de conquista colonial, que representou a subjugação dos
em termos dos efeitos da relação entre a política indige- povos, pré-colombianos. Tal visão funciona como uma
nista e a política ambiental no processo de emergência justificativa que os índios não sejam considerados como
de categorias e redes sociais, dentro de uma perspectiva dignos dos direitos de cidadania, em igualdade de condi-
histórica do estudo dos conflitos identitários e ambientais ções com outros que sejam considerados como legítimos
e das instâncias de participação social (Faulhaber, 2001). representantes da etnia nacional, tal como os membros
As categorias sociais relacionadas com as identidades das famílias que detêm o controle do acesso aos recursos
indígenas mostram-se quando representantes de movi- econômicos e políticos. Nestas condições, até os dias
mentos de reivindicação territorial indígena apresentam-
-se como Ticuna, Cambeba, Miranha; enquanto que as
* Antropóloga, pesquisadora titular do Museu Goeldi (PA).
identidades sociais referem-se às categorias de pescador, 1
Sobre o sistema de aviamento, veja artigo de Philippe Léna nesta publicação.
agricultor, produtor rural, em movimentos de mobilização (n. e.)
Cristina Velasquez*
A experiência desenvolvida pelos gestores, parceiros No caso das Flonas, mesmo sendo uma categoria de
e populações tradicionais da Floresta Nacional (Flona) do UC de Uso Sustentável, esse processo foi bastante com-
Tapajós permite-nos refletir sobre o caminho construído e plicado, pois sua justificativa – um misto de produtividade
repensar estratégias para esse grande desafio socioam- florestal em terras públicas com localização estratégica
biental que as Unidades de Uso Sustentável, em especial de áreas para reserva madeireira para o desenvolvimento
as Flonas, representam. Acompanhar e desenvolver da Amazônia – nunca ficou clara para as populações
mecanismos apropriados a essas áreas florestais e seus tradicionais que ali se encontravam. Somado a isso, a
habitantes é sem dúvida o grande desafio. forma com que os órgãos públicos competentes se po-
Por três décadas, A Floresta Nacional do Tapajós vem sicionavam deixou como herança um lastro de conflitos
sendo palco de uma longa e desafiadora história. Como sociais e ambientais negativos que ainda perduram e que
um “laboratório vivo”, tem atraído grandes esforços e es- só trouxeram perda de tempo e dinheiro, e, sobretudo,
tabelecido parcerias entre grupos ambientalistas, ONGs desfocaram suas ações dos objetivos para os quais foram
e governo para a realização de projetos e avanços na criadas: a conservação ambiental e o manejo florestal
área socioambiental, tendo conquistado espaço como um sustentável.
importante modelo para a gestão ambiental compartilhada A posição autoritária com que estes espaços foram
no Brasil. impostos excluía todo e qualquer envolvimento dos
É fato que desde sua criação, em 1974, o contexto grupos sociais locais, vistos então como obstáculos ao
político do país mudou muito, bem como a conotação desenvolvimento da produção madeireira conservando o
dada à criação de áreas para a conservação ambiental, ambiente e a biodiversidade. Desde a década de 1970,
especialmente as chamadas de uso sustentável, que muito se caminhou no reconhecimento das populações
outrora se encontrava assentada muito mais em bases na Flona como parceiras nesta empreitada, que é, sem
dúvida, a chave para avançar na tentativa de garantir a
desenvolvimentistas para a Amazônia do que focadas na
integridade ambiental da área e transformá-la em unidade
conservação ambiental propriamente dita, reconhecendo
modelo.
sua grande biodiversidade e importância. No entanto,
A compreensão legal de coexistência entre popu-
desde aquela época parte das populações e comunidades
lações tradicionais e a conservação ambiental para a
tradicionais que habitavam nos perímetros dessas UCs
gestão compartilhada destas áreas são conceitos que
desde muito antes de sua criação vem lutando para ga-
têm se desenvolvido a passos lentos no Brasil, tendo
rantir a perpetuidade de suas famílias em seus locais de
conquistado avanços tímidos, embora significativos, nos
origem. Compreender como uma terra habitada há muitas
últimos anos.
gerações, tendo ou não título de propriedade, pode, de uma
Para a Flona doTapajós, compreender que o manejo
hora a outra, transformar-se em Unidade de Conservação,
florestal e a conservação ambiental sem a participação
que exclui do local todo e qualquer morador em prol da
dos grupos sociais são ineficazes, que planejar juntos é
proteção ambiental ou do manejo florestal com concessão
a única maneira de construir uma gestão saudável para
a terceiros, talvez continue sendo um capítulo difícil de ser
a área e reconhecer que estas comunidades possuem
compreendido dentro da história desses grupos sociais.
saberes específicos essenciais para o desenvolvimento
Resíduos do processo de criação das UCs brasileiras
de estratégias e ações para a conservação ambiental, fo-
do passado, que via de regra desconsiderava a presença
ram sem dúvida lições aprendidas durante esse período.
de populações, são geradores de grandes conflitos fundi-
ários e desentendimentos seculares em grande parte do
território nacional para muitas comunidades tradicionais * Engenheira florestal e pesquisadora do Programa Monitoramento de Áreas
brasileiras. Protegidas do ISA.
Hoje, a Flona do Tapajós é reconhecida pública e Esse quadro tem gerado uma série de conflitos inter-
legamente como uma Unidade de Conservação, atraindo nos dentro do movimento social na região, na medida em
projetos e investimentos governamentais nacionais, como que reconfigura as bases do acordo de uso dos recursos
o ProManejo, entre outros, além de contar com o apoio naturais que vem sendo construído, assim como divide
de projetos de ONGs locais. A UC tem sido vista como esforços na luta pelo direito compartilhado de acesso à
modelo no Brasil para o desenvolvimento de programas terra. Uma vez reconhecida como indígena, a comunidade
de manejo florestal comunitário, ainda que com desafios tem direito ao usufruto exclusivo da terra para atividades
a serem superados. tradicionais, diferentemente do uso regulado de uma Uni-
Buscamos, por meio dos textos que compõem este dade de Conservação de uso direto.
capítulo, contar um pouco da história desta unidade, seus A iniciativa de reivindicar o reconhecimento oficial de
principais conflitos e desafios vistos sob óticas distintas identidade indígena em parte se deve à evidente inabili-
mas por vezes complementares, que permitem eviden- dade dos órgãos públicos em assegurar às populações
ciar os principais percalços do caminho pelos quais essa tradicionais acesso a seus direitos básicos e a premente
experiência se constituiu. necessidade de regularização fundiária, dentre outras
Permite ainda observar a complexidade dinâmica necessidades básicas. Por guardar em si tantos desafios
típica de uma área que tem o desafio de ser conservada e possibilidades, o caso Flona do Tapajós é, sem dúvida,
e produtiva ao mesmo tempo, tendo ainda como principal alvo de reflexões fundamentais para a construção de novas
impasse a regularização de sua situação fundiária sem referências para a gestão das Flonas no Brasil.
deixar de contemplar a diversidade e origem de sua
população, formada por colonos, ribeirinhos e índios,
entre outros.
Além disso, traz à luz importantes elementos para a
compreensão de questões advindas da retomada da identi-
dade indígena por algumas comunidades de descendentes
de índios que habitavam a região. Recentemente, com o
apoio de entidades que desenvolvem trabalhos junto a es-
tes grupos, três das 26 comunidades moradoras da Flona
do Tapajós assumiram a identidade indígena e requereram
a demarcação de suas terras. Tal fenômeno também tem
sido observado na Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns,
localizada na margem esquerda do rio.
A “emergência” de comunidades indígenas na região diria? Lembrei-me de quando chegara naquele povoado
do baixo rio Tapajós e rio Arapiuns transformou-se em um pela primeira vez. Isso também faz parte desta história.
desafio de compreensão em vários sentidos. Já são dez Desenvolvendo o trabalho de campo da minha pes-
povos (Tupinambá, Arapium, Maytapu, Arara Vermelha, quisa de iniciação científica sobre os “caboclos do rio
Tapajó, Tupaiu, Kumaruara, Cara Preta, Munduruku e Bo- Tapajós”, fui até a comunidade de Takuara, na margem
-rary) vivendo em quarenta povoados (Vaz, 2003 e Ioris, direita desse rio. Meu plano era fazer uma entrevista com
2003), a maioria dentro da Reserva Extrativista (Resex) o conhecido “curador Laurelino”. Era janeiro de 1995, e
Tapajós-Arapiuns e da Floresta Nacional (Flona) do eu estava concluindo a graduação em Ciências Sociais na
Tapajós, nos municípios de Santarém e Belterra, res- UFRJ. Encontrei um homem de quase 80 anos, cabelos
pectivamente. São três as comunidades no município de brancos, já cego, fala mansa, que demonstrava profundo
Aveiro. E cada vez mais outros grupos dessa região têm conhecimento sobre a história e a vida de quem vive nas
aparecem reivindicado o reconhecimento de identidade comunidades ribeirinhas da região. Conversamos muito
indígena. São índios mesmo? Por que “apareceram” só sobre sua trajetória, seus saberes ligados ao dom da
agora? Só estão querendo terra? Como serão as demar- cura, que lhe tinham dado tanta fama. Gravamos quatro
cações dentro da Resex e da Flona? Para muita gente horas intercaladas de entrevista. Voltei ainda a visitar seu
seria melhor que esses índios não existissem, mas a Laurelino um ano depois, e gravamos mais meia hora de
verdade é que eles estão lá, organizados, orgulhosos da conversa. Esse material foi muito útil para as conclusões
sua identidade étnica e exigindo suas terras demarcadas. da minha primeira pesquisa. Uma das principais lições
Aqui vamos nos ater apenas a realidade das aldeias de que aprendi foi que não existiam caboclos no rio Tapajós,
Takuara, Bragança e Marituba – todas da etnia Mundu- pois os moradores detestavam ser assim classificados.
ruku –, na Flona Tapajós. Seu modo de vida era caracteristicamente indígena, mas
Foi durante uma das tantas reuniões sobre a situação quando eu perguntava se eram índios, a resposta era
fundiária da Flona do Tapajós, na comunidade de Tauari, sempre um sonoro “Não, somos civilizados”. Ou no máximo
em meados de 1998, que seu Guilherme Floriano, um dos alguém dizia “sou descendente de índios”. Aparentemente
líderes da comunidade de Takuara, chamou-me e falou não se via nenhuma tendência a um reavivamento étnico
“Nós já somos índios. O Raimundo Carpinteiro, meu irmão na comunidade. Por isso a minha surpresa com aquela
mais velho, foi lá na Funai em Itaituba, falou pra eles que decisão.
nós éramos índios, e pediu a carteira de índio para nós. No primeiro semestre de 1998, seu Laurelino faleceu.
Eles mandaram este documento atestando que nós somos Foi uma comoção geral na pequena comunidade de
índios”. E me mostrou uma folha de papel onde o adminis- Takuara. Um dos seus filhos veio a Santarém, me pediu
trador regional da Funai afirmava que a comunidade de cópias das fitas com a entrevista, pois eles pretendiam
Takuara tinha grandes possibilidades de ser reconhecida ouvir novamente a voz do seu líder espiritual. Depois eu
como indígena, e que deveriam aguardar os estudos soube que as famílias se reuniam ao redor do gravador
antropológicos que aquele órgão providenciaria, para dar e escutavam as fitas repetidas vezes. Causou profunda
uma palavra final sobre sua identidade. reflexão em todos os trechos em que seu Laurelino diz que
Seu Guilherme parecia muito alegre ao dar-me aquela
notícia. E eu de fato fiquei surpreso e também muito con-
tente, dizendo imediatamente: “vamos fazer uma festa * Fundador do Grupo Consciência Indígena (GCI) e do Comitê Latino-Ameri-
cano de Solidariedade (CLAS), é assessor do movimento indígena
para comemorar?” Ele concordou e acertamos a data: no Vale do rio Tapajós. Professor de Sociologia na UFPa/Santarém, realiza
19 de dezembro de 1998. Takuara indígena, ora, quem pesquisas sobre as comunidades indígenas da região.
A Floresta Nacional (Flona) é uma Unidade de Con- com a ampliação do número de representantes atualmente
servação (UC) da categoria de uso sustentável, e tem previstos na composição do Conselho.
como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos Atualmente são desenvolvidos na Flona Tapajós pro-
recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase jetos de pesquisa promovidos pelo programa LBA, Ipam,
em métodos para a exploração de florestas nativas (Lei UFPA, Museu Goeldi, Embrapa, o que resultou na publi-
nº 9.985/2000-SNUC). A lei define ainda que as terras de cação de cerca de seiscentos títulos de cunho científico,
uma Flona são de posse e domínio públicos, de modo que incluindo revistas científicas, dissertações de mestrado e
as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser doutorado e monografias e notas técnicas.
desapropriadas, sendo somente reconhecida e admitida O Ibama, com apoio financeiro do Itto (Organização
a permanência de populações tradicionais que a habitam Internacional de Madeiras Tropicais), executa desde 1999
quando de sua criação, de acordo com o Plano de Manejo, um projeto de manejo florestal para produção sustentada
e regulamentada por contrato através da Cessão de Direito de madeira industrial, com o objetivo de instalar um modelo
Real de Uso. para Flonas na Amazônia.
A Floresta Nacional do Tapajós foi criada pelo Decreto A Flona recebe boa parte de seu aporte financeiro
nº 73.684, de 19/02/1974, com área aproximada de 545 mil e apoio à gestão através do Projeto ProManejo, com
ha na região oeste do Pará, nos municípios de Belterra, recursos oriundos de doação do PPG7 (Programa Piloto
Rurópolis, Aveiro e Placas. Faz limite com o rio Tapajós a para Conservação das Florestas Tropicais do Brasil). O
leste, a oeste com a rodovia BR-163 (160 km), ao norte ProManejo também apóia projetos produtivos de manejo
em linha seca perpendicular à BR-163 no km 50, e ao sul florestal comunitário, fortalecimento das organizações
com o rio Cupari. locais, controle do fogo e a capacitação de agentes am-
A população em seu interior está distribuída em trinta bientais voluntários na Flona. Está ainda articulando ações
comunidades, totalizando cerca de 11 mil pessoas em 2 de educação ambiental no ensino formal fundamental no
mil famílias. Às margens do rio Tapajós está a maior parte município de Belterra e junto às comunidades da Flona.
dos residentes, considerados povos tradicionais, distribu- Está também executando junto à gerência da Flona um
ídos em vinte comunidades que vivem da agricultura de programa de ecoturismo que levou à capacitação de
subsistência e extrativismo vegetal. comunitários para a recepção do turista e a inauguração,
A Flona Tapajós possui um Conselho Consultivo criado em 2002, de uma trilha destinada ao turismo. Ademais,
desde de 2001, conforme previsto na Lei do SNUC, sendo promove convênios com ONGs locais para viabilizar ações
hoje constituído de representantes do governo federal, es- de saúde e pesquisa na Flona.
tadual e municipal, de ONGs, bem como de comunidades A gerência da Flona Tapajós possui hoje um quadro
da Flona e entorno. Tem por objetivo promover a gestão de quinze funcionários, tendo recebido substancial reforço
e planejamento da Flona Tapajós de forma participativa, desde novembro 2002, quando quatro técnicos aprovados
contribuindo para uma política de desenvolvimento social em concurso passaram a integrar os seus quadros.
e conservação de recursos naturais. É política do órgão
o aumento da participação comunitária no processo de
gestão da Flona, através do Conselho Consultivo, inclusive * Engenheiro agrônomo, chefe da Flona do Tapajós.
A Floresta Nacional (Flona) do Tapajós, desde a sua O instrumento para organizar o uso racional da Flona
criação, protagonizou uma longa história de conflitos é o Plano de Manejo, que é o documento elaborado pelo
socioambientais envolvendo uma grande diversidade de Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
atores nos níveis local, nacional e internacional. Trata-se Naturais Renováveis (Ibama) com a participação das co-
da primeira Flona criada na Amazônia, através do Decreto munidades, ONGs e órgãos públicos. Por meio dele, são
n° 73.684 de 19/02/1974 do presidente Emílio Médici, com estabelecidas as regras de uso da Flona: onde e quais
uma área aproximada de 600 mil ha na margem direita do atividades poderão ser exercidas; a forma e os limites
rio Tapajós, nos municípios de Santarém, Aveiros e Ruro- de ocupação da terra; como será o aproveitamento dos
polis. Em 1996, com a criação do município de Belterra, a recursos naturais e a gestão da Unidade de Conservação.
maior parte da Flona passou a pertencer a esse município. A Floresta Nacional é de posse e domínio públicos,
Antes da criação da Flona já havia moradores em seus sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites
limites. Pesquisas realizadas na área dão indícios de que devem ser desapropriadas de acordo com o que dispõe a
existiam moradores naquela área há pelo menos duzentos lei. Nas Florestas Nacionais é admitida a permanência de
anos, o que não foi considerado no ato de criação. populações tradicionais que a habitem desde antes de sua
Além das comunidades tradicionais, o município de criação, em conformidade com o disposto em regulamento
Aveiro, com uma população de 15.546 pessoas, ficou e no Plano de Manejo da unidade.
dentro da área oficial da Flona, portanto com muitas res- Desde sua origem, o conceito de Flona foi voltado
trições de desenvolvimento. A exclusão desse município para a exploração de madeira, tentando incorporar idéias
do perímetro da UC está prevista, mas, mesmo assim, de manejo florestal que vinham acontecendo na Europa e
haverá uma área limitada para sua expansão. na América do Norte. A diferença substancial é que nestes
As Flonas integram o Sistema Nacional de Unidades continentes praticamente não existem mais “populações
de Conservação (SNUC, 2000) e são definidas como tradicionais” nas florestas. Além disso, as florestas nos
Unidades de Uso Sustentável. São descritas pela lei como países do Norte são biomas com características bem di-
áreas com cobertura florestal de espécies predominante- ferentes das Florestas Tropicais, sendo a maioria florestas
mente nativas e têm como objetivo básico o uso múltiplo homogêneas, com poucas espécies e formadas para
sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, produção industrial de madeira.
com ênfase em métodos para exploração sustentável de Ao importar este conceito, a idéia de Flona desconsi-
florestas nativas. Outros objetivos se referem à mineração, derou primeiramente a possibilidade de populações tra-
proteção de recursos hídricos, manejo de fauna silvestre, dicionais morarem na floresta. Em sua concepção básica
turismo e recreação ao ar livre. Mas a principal razão de as Flonas são uma mistura de conservação e preservação
ser das Flonas é a exploração de madeira. com exploração industrial de madeira. Só recentemente,
A gestão da Flona hoje é garantida por um Conselho com a nova Lei do SNUC, foi aceita a possibilidade da pre-
Consultivo, presidido pelo Ibama e constituído por repre-
sentantes de órgãos públicos, de organizações da socie-
dade civil e, quando houver, de populações tradicionais * Coordenador da ONG Projeto Saúde e Alegria, que desenvolve trabalhos
de apoio a processos participativos e integrados de desenvolvimento comu-
residentes. nitário global e sustentado na Amazônia.
1993 – Elaborado estudo socioeconômico das comunidades da 2000 – Entra em vigor a Lei nº 9985/00 (SNUC), que admite a pre-
Flona do Tapajós pelo Ibama. sença de populações ribeirinhas no interior das UCs de Uso Sustentável.
1995 – Apresentação do Projeto de Lei nº 794 pelo deputado Nicias 2001 – Apresentada emenda ao Projeto de Lei nº 794, assegurando
Ribeiro, propondo a exclusão de todas as vilas e povoados contidos às comunidades ribeirinhas o Direito Real de Concessão de Uso, tendo
nos limites da Flona. em vista o disposto na lei do SNUC.
– Apresentado Projeto de Lei no 939, substituto do anterior, dos de- 2001 – Criação do Conselho Gestor da Flona do Tapajós por meio
putados Hilário Coimbra e Giovanni Queiroz, especificando a exclusão da Portaria nº 84 de 29/06/2001.
do município de Aveiros, de 48 lotes de colonos assentados pelo Incra, 2002 – As comunidades criam a Comissão Fundiária da Flona do
da comunidade de São Jorge e de áreas ocupadas pelas comunidades Tapajós.
ribeirinhas do Tapajós. 2004 – As comunidades criam a Federação das Organizações das
– Criado o GT da Flona do Tapajós, composto pelo Ibama, Incra, Comunidades Tradicionais da Floresta Nacional do Tapajós.
Prefeitura Municipal de Santarém, STR de Santarém, PSA, GDA, CPT,
Alicia Rolla*
Fany Ricardo**
As informações aqui contidas, detalhadas com mapas indígenas. No caso de UCs de Proteção Integral, em tese
e instrumentos legais das Terras Indígenas e Unidades de impossibilitariam a utilização dos recursos naturais por
Conservação, são o resultado de mais de duas décadas parte das comunidades indígenas que manejam o territó-
do Programa Monitoramento de Áreas Protegidas no Brasil rio de forma tradicional e que têm seu direito assegurado
do Instituto Socioambiental.(1) pela Constituição. Em casos de UCs de Uso Sustentável
Iniciado com o monitoramento das Terras Indígenas, – como as Flonas, que são áreas para exploração empre-
este trabalho permitiu a inclusão dos índios no mapa no sarial –, há restrição no direito de usufruto exclusivo dos
Brasil. Aprimorado com ferramentas informatizadas de índios, previsto constitucionalmente, criando problemas
cartografia e bancos de dados relacionais a partir de 1990, e conflitos.
foi possível a ampliação do trabalho com a inclusão das Outros casos de sobreposição, não tratados nesta
Unidades de Conservação, terras militares e reservas publicação, são os de UCs criadas sobre outras UCs, tais
garimpeiras na Amazônia Legal brasileira, assim como as como unidades estaduais que se sobrepõem a unidades
informações sobre vegetação, desmatamento e projetos federais (como a Rebio Estadual Morro dos Seis Lagos,
de infra-estrutura e desenvolvimento oficiais. Em seguida, criada sobre o Parna do Pico da Neblina), e mesmo entre
este monitoramento ampliou-se para o território nacional. unidades federais (como a Flona do Pau-Rosa, que se
A análise espacial dessas terras com destinações es- sobrepõe em parte ao Parna da Amazônia).
pecíficas revelou-se uma ferramenta privilegiada na defesa Quase todas essas sobreposições são herança das
dos direitos coletivos e difusos dos povos indígenas e do últimas quatro décadas do século XX, quando os Parques
meio ambiente. Para além da simples localização, permi- abordados neste livro foram criados, muitas vezes sem
tiu por exemplo a comprovação do efetivo papel das TIs o devido conhecimento da área e sua ocupação huma-
na conservação ambiental, através da análise dos dados na. Este foi um tempo também em que os direitos das
de desmatamento na Amazônia.(2) Segundo estes dados, populações tradicionais não eram considerados, sendo
em 2001 a Amazônia tinha 20,9% de desflorestamento inclusive os índios de pouco contato considerados como
(59.689.342 ha). Mas ao analisar este número em relação parte integrante da natureza a ser conservada.
às áreas protegidas, verificou-se que nelas estavam ape-
nas 1,96% do desmatamento, ficando os restantes 18,96%
sob responsabilidade das áreas privadas ou públicas não * Analista de Geoprocessamento, coordenadora de Geoprocessamento do
protegidas. Considerando apenas o desmatamento ocor- ISA.
** Antropóloga, coordenadora do Programa Monitoramento de Áreas Protegi-
rido dentro das áreas protegidas (2.531.652 ha), apenas
das/Povos Indígenas do ISA.
1,14% da área protegida por Terra Indígena foi desmata- 1
A pesquisa foi iniciada pelo Centro Ecumênico de Documentação e Informação
da, enquanto esses valores ficaram em 1,47% nas UCs (Cedi), antecessor do ISA, em 1983, ano em que foi divulgada pela primeira
federais e 7,01% nas UCs estaduais. vez uma listagem das TIs contendo o nome da área, povo, censo, município,
situação jurídica e extensão. A listagem e os mapas das terras, desenhados a
mão a partir das coordenadas dos decretos e portarias, foram publicados no
Flagrando sobreposições livro Aconteceu - Povos Indígenas no Brasil 1983 (Cedi, 1984).
A partir de 1986, estas listagens foram transformadas num banco de dados
Uma das primeiras observações decorrentes do uso específico para monitorar a situação das Terras Indígenas no Brasil. De 1986
das informações espacializadas foi a verificação de que a 1990, as discussões, concepção e elaboração do banco de dados foram
realizadas em parceria com pesquisadores do Projeto Estudo sobre Terras
várias destas áreas apresentavam sobreposição entre si, Indígenas no Brasil do Museu Nacional/UFRJ.
revelando a fragilidade nos procedimentos de criação de 2
Dados do Projeto de Estimativa do Desflorestamento Bruto da Amazônia
UCs e na destinação de terras públicas. (Prodes), do Inpe/MCT, que avalia apenas as áreas de floresta da Amazônia.
Estes dados foram disponibilizados na íntegra pela primeira vez em 2002. Um
Entre os casos flagrantes de incompatibilidade encon- resumo da análise realizada pelo ISA pode ser encontrado em http://www.
tram-se Ucs criadas em terras onde vivem comunidades socioambiental.org/esp/novogov/ppt/img0.html.
3
Até o final da redação deste texto, em setembro de 2004.
sobreposição página
(ha)
AM 5.186 TI Betânia Esec Jutaí-Solimões 605
AM 29.315 TI Diahui Flona de Humaitá 606
AM 5.322 TI Inauini-Teuini Flona Mapiá-Inauini 607
AM 66.609 TI Inauini-Teuini Flona do Purus 607
AM 176.757 TI Itixi-Mirati* RDS Piagaçu-Purus 608
AM 1.883 TI Jaquiri RDS Mamirauá 602
AM 47.959 TI Médio Rio Negro II Parna do Pico da Neblina 604
AM 3.871 TI Porto Praia RDS Mamirauá 602
AM 31.117 TI São Domingos do Jaca- Esec de Jutaí-Solimões 605
pari e Estação
AM 13.370 TI Uati-Paraná RDS Mamirauá 602
AM 515.980 TI Yanomami PES Serra do Araçá 609
AM 599.396 TI Yanomami Flona do Amazonas 609
AM 1.001.144 TI Yanomami Flona do Amazonas PES Serra do Araçá 609
AM 1.131.728 TI Yanomami Parna do Pico da Neblina 609
BA 8.936 TI Barra Velha Parna de Monte Pascoal 594
CE 82 TI Lagoa da Encantada Resex do Batoque 595
MT 187.826 TI Enawenê-Nawê Esec Iquê 610
PA 90.593 TI Andirá-Marau Parna da Amazônia 611
PB 405 TI Potiguara Arie Manguezais da Foz do 596
Rio Mamanguape
PB 1.145 TI Potiguara de Monte Mor Arie Manguezais da Foz 596
do Rio Mamanguape
RJ 213 TI Guarani Araponga Parna da Serra da Bocaina 597
RO 14.022 TI Igarapé Lourdes Rebio Jaru 612
RO 31.300 TI Karitiana Flona Bom Futuro 613
RO 5.229 TI Kaxarari Florsu Rio Vermelho (D) 614
RO 411.802 TI Massaco Rebio Guaporé 615
RO 718 TI Rio Mequéns Florsu Rio Mequéns 616
RO 10.107 TI Rio Omerê Florsu Rio Mequéns 616
RO 732.935 TI Uru-Eu-Wau-Wau Parna Pacaás Novos 617
RR 116.332 TI Raposa/Serra do Sol Parna do Monte Roraima 618
RR 2.786.523 TI Yanomami Flona de Roraima 609
SC 360 TI Ibirama - La Klãnô Rebio Sassafrás 598
SC 3.309 TI Ibirama - La Klãnô Arie Serra da Abelha 598
SC 1.777 TI Morro dos Cavalos PES Serra do Tabuleiro 599
SP 950 TI Boa Vista do Sertão PES Serra do Mar 600
do Pró-Mirim
SP 1.979 TI Guarani do Aguapeú PES Serra do Mar 600
SP 108 TI Peruíbe PES Serra do Mar 600
SP 4.881 TI Ribeirão Silveira PES Serra do Mar 600
SP 2.502 TI Rio Branco PES Serra do Mar 600
(do Itanhaém)
TO 364.356 TI Inãwébohona Parna do Araguaia 619
(Boto Velho)
*
O parágrafo único do art 1º. do decreto 23.723 afirma que: “Ficam excluídas dos limites da RDS Piagaçu-Purus as terras indígenas demarcadas.” A TI Itixi-
-Mirati foi declarada de posse permanente dos índios em 21/09/2004, não tendo sido contestada em seus limites. Optamos por manter aqui a sobreposição até
que a demarcação e homologação ocorram.
Área do polígono
Unidade Extensão SIG Extensão oficial % sobreposta
sobreposto (ha) (ha) (ha)
8.936 TI Barra Velha 8.935 8.627 84,59%
Parna Monte Pascoal 22.559 22.500 33,50%
Área do polígono
Unidade Extensão SIG Extensão oficial % sobreposta
sobreposto (ha) (ha) (ha)
405 TI Potiguara 21.235 21.238 5,00%
Arie Manguezais da Foz do Rio Mamanguape 5.836 5.721 7,00%
1.145 TI Potiguara de Monte-Mor 7594 7.487 5,32%
Arie Manguezais da Foz do Rio Mamanguape 5.836 5.821 6,92%
Área do polígono
Unidade Extensão SIG Extensão oficial % sobreposta
sobreposto (ha) (ha) (ha)
213 TI Guarani Araponga - 213 100,00%
Parna Serra da Bocaina 104.708 100.000 0,20%
Área do polígono
Unidade Extensão SIG Extensão oficial % sobreposta
sobreposto (ha) (ha) (ha)
950 TI Boa Vista do Sertão do Pró-Mirim 950 906 100,00%
PES da Serra do Mar 307.414 315.390 0,31%
4881 TI Ribeirão Silveira 8.373 8.500 58,29%
PES da Serra do Mar 307.414 315.390 1,58%
2502 TI Rio Branco (do Itanhaém) 3037 2856 82,38%
PES da Serra do Mar 307.414 315.390 0,81%
1979 TI Guarani do Aguapeú 4587 4372 43,14%
PES da Serra do Mar 307.414 315.390 0,64%
108 TI Peruíbe 525 480 20,57%
PES Serra do Mar 307.414 315.390 0,04%
Área do polígono
Unidade Extensão SIG Extensão oficial % sobreposta
sobreposto (ha) (ha) (ha)
70.703 TI Jaminawa/Envira 81.080 80.618 87,20%
Flona de Santa Rosa do Purus 228.996 230.257 30,88%
Área do polígono
Unidade Extensão SIG Extensão oficial % sobreposta
sobreposto (ha) (ha) (ha)
19.783 TI Acapuri de Cima 19.783 19.400 100,00%
RDS Mamirauá 1.319.408 1.124.000 1,50%
1.883 TI Jaquiri 1.883 1.820 100,00%
RDS Mamirauá 1.319.408 1.124.000 0,14%
3.871 TI Porto Praia 3.871 4.000 100,00%
RDS Mamirauá 1.319.408 1.124.000 0,29%
13.370 TI Uati-Paraná 113.859 127.199 11,74%
RDS Mamirauá 1.319.408 1.124.000 1,01%
Área do polígono
Unidade Extensão SIG Extensão oficial % sobreposta
sobreposto (ha) (ha) (ha)
240.523 TI Balaio 259.164 255.823 92,81%
Parna do Pico da Neblina 2.245.060 2.200.000 10,71%
37.518 TI Balaio 259.164 255.823 14,48%
Rebio Morro dos Seis Lagos 37.517 36.900 100,00%
47.959 TI Médio Rio Negro II 324.976 316.194 14,76%
Parna do Pico da Neblina 2.245.060 2.200.000 2,14%
Observações:
A Rebio está também 100% sobreposta ao Parna do Pico da Neblina.
Área do polígono
Unidade Extensão SIG Extensão oficial % sobreposta
sobreposto (ha) (ha) (ha)
29.315 TI Diahui 47.817 47.600 61,31%
Flona de Humaitá 483.237 468.790 6,07%
Observações:
O decreto da Flona Mapiá-Inauini cita trechos de limite com a TI Inauini, conforme viria a ser identificada pela portaria de 1992. Posterior-
mente, na delimitação e homologação, os limites da terra foram alterados.
Observações:
O parágrafo único do art. 1º do no Decreto23.723 afirma que: “Ficam excluídas dos limites do RDS Paigaçu-Purus as terras indígenas
demarcadas”. A próxima etapa do processo de regularização da TI Itixi-Mirati é a demarcação física.
Área do polígono
Unidade Extensão SIG Extensão oficial % sobreposta
sobreposto (ha) (ha) (ha)
2.786.523 TI Yanomami 9.607.675 9.664.975 29,00%
Flona de Roraima 2.907.951 2.664.685 95,82%
1.600.540 TI Yanomami 9.607.675 9.664.975 16,66%
Flona do Amazonas 1.858.954 1.573.100 86,10%
1.131.728 TI Yanomami 9.607.675 9.664.975 11,78%
Parna do Pico da Neblina 2.245.060 2.200.000 50,41%
1.517.123 * TI Yanomami 9.607.675 9.664.975 15,79%
PES Serra do Araçá 1.851.394 1.818.700 81,94%
Área do polígono
Unidade Extensão SIG Extensão oficial % sobreposta
sobreposto (ha) (ha) (ha)
187.826 TI Enawenê-Nawê 735.397 742.088 25,54%
Esec de Iquê 190.997 200.000 98,34%
Área do polígono
Unidade Extensão SIG Extensão oficial % sobreposta
sobreposto (ha) (ha) (ha)
20.105 TI Andirá-Marau 791.160 788.528 2,54%
Flona de Pau-Rosa 957.054 827.877 2,10%
90.593 TI Andirá-Marau 791.160 788.528 11,45%
Parna da Amazônia 925.890 864.047 9,78%
Observações:
Não há dúvidas quanto à sobreposição.
Na área da Flona de Pau Rosa existem referências a índios isolados do Parauari. A localização é aproximada.
Área do polígono
Unidade Extensão SIG Extensão oficial % sobreposta
sobreposto (ha) (ha) (ha)
14.022 TI Igarapé Lourdes 202.835 185.534 6,91%
Rebio do Jaru 293.831 268.150 4,77%
Observações:
Embora haja problemas em uma pequena parte da TI, a sobreposição é clara, pois o limite norte da TI é o Igarapé Água Azul, enquanto o
limite sul da Rebio é um afluente do referido igarapé pela sua margem esquerda (neste caso mais ao sul).
Observações:
Não há dúvidas quanto à sobreposição.
Área do polígono
Unidade Extensão SIG Extensão oficial % sobreposta
sobreposto (ha) (ha) (ha)
5.229 TI Kaxarari 145.758 145.889 3,59%
Florsu do Rio Vermelho D 144.178 137.844 3,63%
Área do polígono
Unidade Extensão SIG Extensão oficial % sobreposta
sobreposto (ha) (ha) (ha)
718 TI Rio Mequéns 107.213 107.553 0,67%
Florsu do Rio Mequéns 426.006,36 425.844 0,17%
10.107 TI Rio Omerê 26.266 26.000 38,48%
Florsu do Rio Mequéns 426.006,36 425.844 2,37%
Área do polígono
Unidade Extensão SIG Extensão oficial % sobreposta
sobreposto (ha) (ha) (ha)
364.356 TI Inãwébohona 364.356 376.545 100,00%
Parna do Araguaia 549.988 557.714 66,25%
Alto Rio Purus Kaxinawa Homologada. Reg. CRI e SPU. Manuel Urbano 263.129 1.860 AER/Rio Branco,
Kulina Decreto de 05/01/96 homologa Santa Rosa do Purus 2003
Yaminawa a demarcação. (DOU, 08/01/96)
Alto Tarauacá Isolados do Homologada. Feijó 142.619 - -
Alto Tarauacá Decreto s/nº de 27/10/04 homologa Jordão
a demarcação administrativa.
(DOU, 28/10/04)
Arara do Alto Arara Apolima Em identificação. Marechal Taumaturgo - - -
Juruá Port. Funai nº 1.54 de 21/12/01 cria GT
para realizar estudos e levantamentos de
identificação da TI. (DOU, 04/01/02)
Arara/Igarapé Arara Shawanaua Declarada. Porto Walter 86.700 170 AER/Rio Branco,
Humaitá Port. MJ nº 1.761 de 04/12/02 declara 2003
de posse permanente indigena.
(DOU, 05/12/02)
Cabeceira do Yaminawa Homologada. Reg. CRI e SPU. Assis Brasil 78.512 225 AER/Rio Branco,
Rio Acre Decreto s/nº de 14/04/98 homologa a Sena Madureira 2003
demarcação. (DOU, 15/04/98)
Campinas/Katukina Katukina Pano Homologada. Reg. CRI e SPU. Tarauacá 32.623 250 AER/
Rio Branco, Decreto de 12/08/93 homologa a Cruzeiro do Sul 2003
demarcação. (DOU, 13/08/93) Ipixuna, Guajara (AM)
Igarapé do Kaxinawa Homologada. Reg. CRI e SPU. Tarauacá 12.318 456 AER/Rio Branco,
Caucho Decreto nº 278 de 29/10/91 homologa Feijó 2003
a demarcação. (DOU, 30/10/91)
Jaminawa/Envira Kulina Homologada. Santa Rosa do Purus 80.618 111 AER/Rio Branco,
Ashaninka Decreto s/nº de 10/02/03 homologa Feijó 2003
a demarcação. (DOU, 11/02/03)
Jaminawa do Yaminawa Homologada. Reg. CRI e SPU. Cruzeiro do Sul 25.651 113 AER/Rio Branco,
Igarapé Preto Decreto s/nº de 11/12/98 homologa 2003
a demarcação. (DOU, 14/12/98)
Jaminawa/Arara Arara Shawanawa Homologada. Reg. CRI e SPU. Mal. Taumaturgo 28.926 96 AER/Rio Branco,
do Rio Bagé Yaminawa Decreto s/nº de 11/12/98 homologa Jordão 2003
a demarcação. (DOU, 11/12/98)
Kampa do Igarapé Ashaninka Homologada. Reg. CRI. Tarauacá 21.987 35 AER/Rio Branco,
Primavera Decreto s/nº de 23/04/01 homologa 2003
a demarcação da TI. (DOU, 24/04/01)
Kampa do Rio Ashaninka Homologada. Reg. CRI e SPU. Mal. Taumaturgo 87.205 450 AER/Rio Branco,
Amônea Decreto s/nº de 23/11/92 homologa 2003
a demarcação. (DOU, 24/11/92)
Kampa e Isolados Ashaninka Homologada. Reg. CRI. Feijó 232.795 262 AER/Rio Branco,
do Rio Envira Isolados Decreto s/nº de 11/12/98 homologa 2003
a demarcação. (DOU, 14/12/98)
Katukina/Kaxinawa Kaxinawa Homologada. Reg. CRI e SPU. Feijó 23.474 944 AER/Rio Branco,
Katukina Decreto nº 283 de 29/10/91 homologa Envira (AM) 2003
Shanenawa a demarcação. (DOU 30/10/91)
Kaxinawa da Colô- Kaxinawa Homologada. Reg. CRI e SPU. Tarauacá 105 70 AER/Rio Branco,
nia Vinte e Sete Decreto nº 268 de 29/10/91 homologa 2003
a demarcação. (DOU, 30/10/91)
Kaxinawa do Baixo Kaxinawa Homologada. Reg. CRI. Jordão 8.726 73 AER/Rio Branco,
Jordão Decreto s/nº de 30/04/01 homologa 2003
a demarcação. (DOU, 02/05/01)
Kaxinawa do Ashaninka Homologada. Reg. CRI e SPU. Feijó 127.383 258 AER/Rio Branco,
Rio Humaitá Kaxinawa Decreto nº 279 de 29/10/91 homologa 2003
Kulina a demarcação. (DOU, 30/10/91)
Kaxinawa do Kaxinawa Homologada. Reg. CRI e SPU. Foz do Jordão 87.293 956 AER/Rio Branco,
Rio Jordão Decreto nº 255 de 29/10/91 homologa Mal. Taumaturgo 2003
a demarcação. (DOU, 30/10/91)
Kaxinawa do Se- Kaxinawa Em identificação. Feijó - - -
ringal Curralinho Port. Funai nº 832 de 10/10/01 cria GT
para estudos e levantamentos de identi-
ficação e delimitação. (DOU, 11/10/01)
ALAGOAS
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental, 05/11/2004
Fazenda Canto Xukuru-Kariri Dominial indígena. Reg. CRI. Palmeira dos Índios 372 1.000 Funai, 2003
Registrada em cartório de Palmeira
dos Índios. Adquirida em 1965.
Jiripancó Jiripancó Em identificação. Pariconha 200 1.184 Funasa, 2003
Registrada no municÍpio e comarca de
Água Branca. Port. Funai nº 379 de
19/04/01 cria GT para estudos comple-
mentares de identificação.
(DOU, 24/04/01)
Karapotó Karapotó Reservada. São Sebastião 1.810 502 Funasa, 2003
Decreto de 11/08/92 declara de interesse
social para desapropriação para servir
de habitat aos indios passando a
integrar a RI. (DOU, 12/08/92)
Kariri-Xocó Kariri Xocó Identificada. Aprovada/Funai. Porto Real do Colégio 4.419 1.763 GT/Funai, 2000
Despacho Funai nº 110 de 07/12/01 São Braz
aprova conclusão dos estudos de
identificação da TI. (DOU, 19/12/01)
Mata da Cafurna Xukuru-Kariri Dominial indígena. Reg. CRI. Palmeira dos Índios 117 455 Funai/BSB,
Doação em 1981. Registrada no 1994
CRI em 23/02/81.
Olho D’água Tingui Botó A identificar. Feira Grande - - Sampaio, 1989
do Meio
Sítio Cajazeiras Xukuru-Kariri A identificar. Igaci - - Sampaio, 1989
Tingui-Botó Tingui Botó Dominial indígena. Reg. CRI. Feira Grande 122 209 Funai, 2003
Port. 817/N/83. Reg. CRI em Arapiraca
e Ponciano.
Xukuru-Kariri Xukuru-Kariri Em identificação. Palmeira dos Índios - - -
Port. Funai nº 178 de 19/03/03 cria GT
para estudos de identificação e delimita-
ção da TI (DOU, 20/03/03). Port. nº 329
de 30/04/03 cria GT para levantamento
fundiário na TI. (DOU, 30/04/03)
Wassu-Cocal Wassu Homologada. Reg. CRI e SPU. Joaquim Gomes 2.758 1.560 Funasa, 2003
Decreto nº 392 de 24/12/91 homologa
a demarcação. (DOU, 26/12/91)
AMAPÁ
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental, 05/11/2004
Galibi Galibi do Oiapoque Homologada. Reg. CRI e SPU. Oiapoque 6.689 98 ADR/Macapá,
Karipuna do Decreto nº 87.844 de 1982 homologa a 1993
Amapá demarcação. (DOU, 22/11/82)
Juminá Galibi Marworno Homologada. Reg. CRI e SPU. Oiapoque 41.601 121 ADR/Macapá,
Karipuna do Decreto s/nº de 21/05/92 homologa 1994
Amapá a demarcação. (DOU, 22/05/92)
Tumucumaque Tiriyó Homologada. Reg. CRI. Almeirim (PA) 3.071.067 811 D. F. Grupioni,
Wayana Decreto s/nº de 03/11/97 homologa Óbidos (PA) 1997
Aparai a demarcação. (DOU, 04/11/97) Oriximiná (PA)
Kaxuyana Alenquer (PA)
Akurio (isolados) Vitória do Jari
Uaçá I e II Galibi Marworno Homologada. Reg. CRI e SPU. Oiapoque 470.164 3.142 ADR/Macapá,
Karipuna do Decreto nº 298 de 29/10/91 homologa 1994
Amapá a demarcação. (DOU, 30/10/91)
Palikur
Waiãpi Waiãpi Homologada. Reg CRI e SPU. Vitória do Jari 607.017 666 Funasa, 2003
Decreto de 23/05/96 homologa Pedra Branca
a demarcação. (DOU, 24/05/96) Amapari
Mazagão
Waiãpi do Alto Waiãpi (isolados) A identificar. Pedra Branca - - Gallois, 1990
Amapari Amapari
Mazagão
AMAZONAS
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental, 05/11/2004
Água Preta/Inari Apurinã Homologada. Reg. CRI e SPU Pauini 139.763 255 ADR/Rio Branco,
Decreto s/nº de 03/11/97 homologa 2002
a demarcação. (DOU, 04/11/97)
Alto Rio Negro Bara-Tukano Homologada. Reg. CRI e SPU São Gabriel da 7.999.381 15.600 ISA, 2003
Baniwa Decreto s/nº de 14/04/98 homologa Cachoeira
Maku Hupda a demarcação da TI. Fazem parte da Japurá
Maku Yuhupde TI todas as ilhas localizadas no Rio
Miriti-Tapuia Negro entre a foz do rio Uaupés
Tukano e a foz do rio Xié. (DOU, 15/04/98)
Kuripaco
Tuyuka
Desana
Arapaso
Kubeo
Piratapuia
Tariano
Wanano
Karapana
Maku Dow
Baré
Warekena
Siriano
Makuna
Maku Nadeb
Alto Sepatini Apurinã Homologada. Reg. CRI e SPU Lábrea 26.095 93 Funai, 2003
(Terra dos Decreto s/nº de 03/11/97 homologa
Macacos) a demarcação. (DOU, 04/11/97)
Andirá-Marau Sateré-Mawé Homologada. Reg. CRI e SPU. Maues 788.528 7.376 DSEI Parintins,
Decreto nº 93.069 de 06/08/86 Barreirinha 2002
homologa a demarcação. Parintins
Itaituba (PA)
Aveiro (PA)
Apipica Mura Homologada. Careiro da Várzea 652 68 GT/Funai, 1998
Decreto s/nº de 05/05/03 homologa a
demarcação. (DOU, 05/05/03)
Apurinã BR-317, Apurinã Homologada. Reg. CRI e SPU Boca do Acre 42.198 209 Funai/R.Branco,
km 124 Decreto nº 251 de 29/10/91 homologa a Lábrea 2002
demarcação. (DOU, 30/10/91)
Apurinã do Igarapé Apurinã Declarada. Tapauá 18.270 58 GT/Funai, 1998
São João Port. do MJ nº 615 de 25/07/00 declara
de posse permanente indígena.
(DOU, 26/07/00)
Apurinã do Igara- Apurinã Homologada. Reg. CRI e SPU. Tapauá 96.456 120 GT/Funai, 2002
pé Tauamirim Decreto nº 253 de 29/10/91 homologa
a demarcação. (DOU, 30/10/91)
Apurinã do Igara- Apurinã Declarada. Lábrea 73.000 58 GT/Funai, 2002
pé Mucuim Port. MJ nº 2.582 de 21/09/04 Pauini
declara de ocupação permanente
indígena (DOU, 22/09/04)
Arama/Inauini Isolados do A identificar. Pauini - - Heck, 1986
Arama/Inauini
Ariramba Mura Homologada. Manicoré 10.357 73 Parecer/Funai,
Decreto de 10/12/01 homologa a demar- 1996
cação administrativa. (DOU, 11/12/01)
Balaio Desana Identificada. Aprovada/Funai. São Gabriel da 255.823 350 GT/Funai, 2000
Tukano Despacho da Funai nº 114 de 22/08/02 Cachoeira
Piratapuia aprova as conclusões do estudo da TI.
Tuyuka (DOU, 23/08/02)
Baniwa
Baré
Kuripako
Tariano
Kubeo
Banawa Banawa Yafi Declarada. Tapauá 195.700 100 GT/Ident. Funai,
Port. MJ nº 2.583 de 21/09/04 declara Canutama 1999
de posse permanente indígena.
(DOU, 22/09/04)
Médio Rio Negro I Tukano Homologada. Reg. CRI e SPU. São Gabriel 1.776.138 1.500 ISA, 2003
Desana Decreto s/nº de 14/04/98 homologa a da Cachoeira
Arapaso demarcação. Fazem parte da TI todas Santa Isabel
Tariano as ilhas localizadas no rio Negro entre do Rio Negro
Baniwa a foz do rio Uaupés e a foz do igarapé Japurá
Baré Uainumale. (DOU, 15/04/98)
Piratapuia
Miriti Tapuia
Kuripako
Maku Yuhupde
Maku Dow
Médio Rio Negro II Baré Homologada. Reg. CRI e SPU. São Gabriel 316.194 980 ISA, 2003
Baniwa Decreto s/nº de 14/04/98 homologa da Cachoeira
Tukano a demarcação. (DOU, 15/04/98) Santa Isabel
Tariano do Rio Negro
Piratapuia
Arapaso
Miriti Tapuia
Kuripako
Desana
Méria Isse Homologada. Reg. CRI e SPU. Alvarães 585 45 Lid. indígenas,
Karapanã Decreto s/nº de 04/10/93 homologa 1998
Miranha a demarcação. (DOU, 05/10/93)
Mura
Witoto
Miguel/Josefa Mura Homologada. Reg. CRI. Autazes 1.628 258 Rel. de Identif.,
Decreto s nº de 20/04/01 homologa 1998
a demarcação. (DOU, 23/04/01)
Miratu Miranha Homologada. Reg. CRI. Uarini 13.199 293 Funai, 2003
Mura Decreto nº 390 de 24/12/91 homologa
Witoto a demarcação. (DOU, 26/12/91)
Isse
Karapanã
Muratuba Mura Em identificação. - -
Na Funai consta como terra em
identificação.
Murutinga Mura Em Identificação. Reservada/SPI. Autazes 1.270 316 Funai, 1994
Port. nº 1.816/E de 08/01/85 para iden-
tificação e definição de limites.
Natal/Felicidade Mura Homologada. Reg. CRI e SPU. Autazes 313 97 Funai, 2003
Decreto nº 296 de 29/10/91 homologa
a demarcação. (DOU. 30/10/91)
Nhamundá- Hixkariana Homologada. Reg. CRI e SPU. Oriximiná (PA) 1.049.520 2.218 DSEI Parintins,
Mapuera Karafawyana Decreto nº 98063 de 17/08/89 homologa Faro (PA) 2002
Katuena a demarcação. (DOU, 18/08/89) Nhamundá
Kaxuyana Urucará
Mawayana
Wai Wai
Xereu
Nova Esperança Ticuna Homologada São Paulo de Olivença 20.003 180 GT/Funai, 1998
do Rio Jandiatuba Decreto s/nº de 27/10/o4 homologa
a demarcação.
(DOU, 28/10/04)
Nove de Janeiro Parintintim Homologada. Reg. CRI e SPU. Humaitá 228.777 141 Funai, 1994
Decreto s/nº de 03/11/97 homologa
a demarcação. (DOU, 04/11/97)
Onça Mura Em identificação. Reservada/SPI. Borba 413 - -
Reservada SPI; em revisão pela Funai.
Onça II Mura Em identificação. Manicoré - - -
Port. nº 388 de 31/05/96 cria GT para
estudos antropológicos de identificação
e/ou revisão de limites e complemen-
tares de delimitação. (DOU, 04/06/96)
Pacovão Mura Em identificação. Borba - - -
Port.nº 1.039 de 04/11/99 cria GT para
estudos e identificação da TI.
(DOU, 9/11/99)
Padre Mura Homologada. Reg. CRI e SPU. Autazes 797 22 Funai, 2003
Decreto s/nº de 05/05/03 homologa a
demarcação da TI já homologada com
391 ha em 23/05/96. (DOU, 06/05/03)
Pantaleão Mura Em identificação. Autazes - - -
Consta na lista da Funa. em identificação
Paracuhuba Mura Homologada. Reg. CRI e SPU. Autazes 927 67 Funai, 2003
Decreto nº 310 de 29/10/91 homologa
a demarcação. (DOU, 30/10/91).
Paraná Boá-Boá Maku Nadeb Homologada. Reg. CRI. Japurá 240.545 107 Pozzobon, 1998
(Lago Jutaí) Decreto s/nº de 03/11/97 homologa Santa Isabel
a demarcação. (DOU, 04/11/97) do Rio Negro
Paraná do Arauató Mura Homologada Itacoatiara 5.915 103 Parecer/Funai,
Decreto s/nº de 27/10/04 homologa 1998
a demarcação.
(DOU, 28/10/04)
Paraná do Maquira Mura Em identificação. Itacoatiara - - -
Port. nº 389 de 31/05/96 cria GT para
estudos de identificação e/ou revisão
de limites e complementares de
delimitação. (DOU, 04/06/96)
Paraná do Paricá Kanamari Homologada. Reg. CRI e SPU. Maraã 7.866 60 Lid. indígenas,
Decreto s/nº de 08/09/98 homologa 1998
a demarcação. (DOU, 09/09/98)
Parauari Isolados do A identificar. Maués - - Lino O. Neves,
Parauari Axinim 1986
Patauá Mura Homologada. Autazes 615 47 GT/Funai, 1998
Decreto s/nº de 05/05/03 homologa
a demarcação. (DOU, 06/05/03)
Paumari do Katukina Homologada. Reg. CRI. Tapauá 42.828 53 Funai, 2003
Cuniuá Paumari Decreto s/nº de 03/11/97 homologa
a demarcação. (DOU, 04/11/97)
Paumari do Lago Paumari Homologada. Reg. CRI e SPU. Tapauá 22.970 86 GT/Funai, 1998
Manissuã Decreto s/nº de 05/05/03 retifica os limi-
tes do decreto de 08/09/98 que homolo-
gava a TI, ampliando-a. (DOU, 06/05/03)
Paumari do Lago Apurinã Homologada. Reg. CRI e SPU. Lábrea 118.766 561 GT/Funai, 1998
Marahã Paumari Decreto s/nº de 10/02/03 retifica os
limites constantes no decreto de
08/09/98 que homologou a TI.
(DOU, 11/02/03)
Paumari do Lago Apurinã Homologada. Reg. CRI e SPU. Tapauá 15.792 60 Funai, 2003
Paricá Katukina Decreto s/nº de 08/09/98 homologa
Paumari a demarcação. (DOU, 09/09/98)
Paumari do Rio Paumari Homologada. Reg. CRI e SPU. Lábrea 7.572 46 Funai/R.Branco,
Ituxi Decreto s/nº de 11/12/98 homologa 1993
a demarcação. (DOU, 14/12/98)
Peneri/Tacaquiri Apurinã Homologada. Reg. CRI e SPU. Pauini 189.870 365 Funai/Rio Branco,
Decreto s/nº de 03/11/97 homologa a 2002
demarcação. (DOU, 04/11/97)
Pinatuba Mura Homologada. Manicoré 29.564 458 Parecer/Funai,
Decreto de 10/12/01 homologa a 1996
demarcação. (DOU, 11/12/01)
Pirahã Pirahã Homologada. Reg. CRI e SPU. Humaitá 346.910 179 Funai, 1994
Decreto s/nº de 03/11/97 homologa Manicoré
a demarcação. (DOU, 04/11/97)
Porto Limoeiro Ticuna Em identificação. Santo Antônio do Içá - - -
Port. da Funai nº 130 cria GT para
estudos de identificação da TI.
(DOU, 07/03/03)
Porto Praia Ticuna Homologada. Uarini 4.769 118 GT/Funai, 1999
Decreto s/nº de 19/04/04 homologa
a demarcação. (DOU, 20/04/04)
Recreio/São Félix Mura Homologada. Reg. CRI e SPU. Autazes 251 139 Funai, 1994
Decreto nº 295 de 29/10/91 homologa a
demarcação. (DOU, 30/10/91)
Rio Apapóris Maku Yuhupde Homologada. Reg. CRI e SPU. Japurá 106.960 130 ISA, 2003
Tukano Decreto s/nº de 14/04/98 homologa
Desana a demarcação. (DOU, 15/04/98)
Tuyuka
Rio Bararati e Isolados do A identificar. Apui - - -
Maracanã Bararati Consta no plano de metas da Funai: 87. Sucurundi
Rio Biá Katukina Homologada. Reg. CRI. Jutaí 1.185.791 400 Funai, 2003
Decreto s/nº de 03/11/97 homologa a Carauari
demarcação. (DOU, 04/11/97)
Rio Jumas Mura Homologada. Careiro 9.482 44 GT/Funai, 1997
Decreto s/nº de 27/10/04 homologa
a demarcação administrativa.
(DOU, 28/10/04)
Rio Manicoré Mura Homologada. Manicoré 19.481 52 Parecer/Funai,
Decreto de 10/12/01 homologa a 1998
demarcação. (DOU, 11/12/01)
Rio Pardo Isolados Interditada. Novo Aripuanã 166.000 - -
Port. Funai nº 447 de 11/05/01 restringe Colniza (MT)
ingresso, locomoção, permanência, ex-
ploração da TI por 3 anos, por ser área
de índios isolados. (DOU, 07/06/01)
Rio Tea Maku Nadeb Homologada. Reg. CRI e SPU. Santa Isabel 411.865 360 ISA, 2003
Tukano Decreto s/nº de 14/04/98 homologa do Rio Negro
Desana a demarcação. (DOU, 15/04/98) São Gabriel
Piratapuia da Cachoeira
Baré
Rio Urubu Mura Homologada. Itacoatiara 27.354 374 Parecer/Funai
Decreto s/nº de 27/10/04 homologa 1998
a demarcação. (DOU, 28/10/04)
Riozinho Ticuna Em identificação. Jutaí - - -
Kulina Port. Funai nº 1257 de 05/12/02 cria GT
para primeiros estudos e levantamen-
tos de identificação. (DOU, 11/12/02)
Salsal Mura Em identificação. Manicoré - - -
Port. nº 388 de 31/05/96 cria GT para
estudos de identificação e/ou revisão
de limites e complementares da delimita-
ção. (DOU, 04/06/96)
São Domingos Kocama Identificada. Aprovada/Funai. Jutaí 133.630 428 GT/Funai, 2002
do Jacapari e Despacho da Funai nº 52 de 0/06/03 Tonantins
Estação aprova os estudos de identificação
da TI. (DOU, 17/07/03)
São Francisco Ticuna Declarada. Amaturá 3.033 80 GT/Funai, 1999
do Canimari Port. MJ nº 3.006 de 30/12/02 declara
de posse permanente indígena.
(DOU, 31/12/02)
São Gabriel/São Kocama Em identificação. Santo Antônio do Içá - - -
Salvador Port. da Funai cria GT para estudos de
identificação e delimitação da TI.
(DOU, 25/04/03)
São José Ticuna Em identificação. Manacapuru - - -
Port.Funai para identificação da area.
São Leopoldo Ticuna Homologada. Reg. CRI. Benjamin Constant 69.270 400 Funai, 1987
Decreto s/nº de 12/08/93 homologa a São Paulo de Olivença
demarcação. (DOU, 13/08/93)
São Pedro Mura Homologada. Reg. CRI e SPU. Autazes 726 47 Funai, 2003
Decreto s/nº de 05/01/96 homologa
a demarcação. (DOU, 08/01/96)
São Pedro/ Apurinã Homologada. Reg. CRI e SPU. Lábrea 27.644 66 Funai, 2003
Sepatini Decreto s/nº de 03/11/97 homologa
a demarcação. (DOU, 04/11/97)
São Sebastião Kaixana Declarada. Tonantins 57.700 224 GT/Funai, 1997
Port. MJ nº 709 de 20/04/01 declara Japurá
de posse permanente indígena. Jutaí
(DOU, 23/04/01)
BAHIA
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental, outubro/2004
CEARÁ
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental, 05/11/2004
ESPÍRITO SANTO
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental, 05/11/2004
Caieiras Velha Guarani M’bya Homologada. Reg CRI e SPU. Aracruz 2.997 870 Rocha Freire,
Tupiniquim Decreto s/nº de 11/12/98 amplia a área 1997
da TI que teve a demarcação homolo-
gada pelo Dec. s/nº 88.926 de 17/10/83.
(DOU, 14/12/98)
Caieiras Velha II Tupiniquim Homologada. Aracruz 57 - -
Guarani M’bya Decreto s/nº de 19/04/04 homologa
a demarcação. (DOU 20/04/04)
Comboios Tupiniquim Homologada. Reg CRI e SPU. Aracruz 2.983 287 Rocha Freire,
Guarani M’bya Decreto s/nº de 11/12/98 amplia a área 1997
da TI que teve a demarcação homologa-
da pelo Decreto 88.601 de 09/08/83.
(DOU, 14/12/98)
GOIÁS
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental, 05/11/2004
MARANHÃO
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental, 05/11/2004
Alto Turiaçu Guajá Homologada. Reg CRI e SPU. Centro Novo 530.525 881 Funai, 1989
Tembé Decreto nº 88.002/82 homologa a do Maranhão
Kaapor demarcação. Santa Luzia do Paruá
Araguana
Maranhãozinho
Zé Doca
Centro do Guilherme
Araribóia Guajá Homologada. Reg. CRI e SPU. Amarante 413.288 3.292 Funai, 1994
Guajajara Decreto nº98852 de 22/01/90 homologa do Maranhão
a demarcação como Colônia Indígena. Arame
(DOU 23/01/90) Bom Jesus da Selva
Buriticupu
Awá Guajá Declarada. Centro Novo 118.000 140 Funai, 1994
Port. MJ nº 373 de 27/07/92 declara de do Maranhão
posse permanente. (DOU, 29/07/92). São João do Caru
Zé Doca
Awá Guajá Guajá (isolados) A identificar. (Funai, 1989) Bom Jardim - - -
Bacurizinho Guajajara Homologada. Reg. CRI e SPU. Grajaú 82.432 1.976 Funai, 2000
Decreto nº 88.600 de 09/08/83
homologa a TI. Port. Funai nº 725
de 30/08/01 cria GT para reestudar
os limites da TI. (DOU, 31/08/01)
Cana Brava Guajajara Homologada. Reg. CRI e SPU. Barra do Corda 137.329 3.367 4ª Suer, 1990
Decreto nº 246 de 29/10/91 homologa Jenipapo dos Vieiras
a demarcação. (DOU, 30/10/91) Grajaú
Caru Guajá Homologada. Reg. CRI e SPU. Bom Jardim 172.667 136 Funai, 2003
Guajajara Decreto nº 87843 de 22/11/82 homologa São João do Caru
a demarcação.
Geralda/Toco Kokuiregatejê Homologada. Reg. CRI e SPU. Arame 18.506 118 Funai, 2003
Preto Guajajara Decreto s/nº de 16/05/94 homologa Itaipava do Grajaú
a demarcação. (DOU, 17/05/94)
Governador Gavião Pukobie Homologada. Reg. CRI e SPU. Amarante 41.644 655 Funai, 2003
Guajajara Decreto nº 88.001/82 homologa do Maranhão
Tabajara a demarcação.
Guajá Guajá (isolados) A identificar. São João do Caru - - -
Port. nº 1921/E de 09/08/85 para identi-
ficação e levantamento ocupacional.
Kanela Kanela Ranko- Homologada. Reg. CRI e SPU. Barra do Corda 125.212 833 4ª Suer, 1990
kamekra Decreto 87.960 de 21/12/82 homologa Fernando Falcão
a demarcação. (DOU, 22/12/82)
Kanela-Buriti Kanela Ranko- Em identificação. Barra do Corda - - -
Velho kamekra Port. nº 1.121 de 30/10/00 cria GT
para estudos de identificação.
(DOU, 03/11/00)
Krikati Krikati Homologada. Montes Altos 144.775 538 Funai, 2003
Decreto s/nº de 27/10/04 homologa Sítio Novo
a demarcação. (DOU, 28/10/04) Amarante
do Maranhão
Lageado Novo
Lagoa Comprida Guajajara Homologada. Reg. CRI e SPU. Barra do Corda 13.198 470 Funai, 2003
Decreto nº 313 de 29/10/91 homologa Itaipava
a demarcação. (DOU, 30/10/91) Jenipapo dos Vieiras
Morro Branco Guajajara Homologada. Reg. CRI e SPU. Grajaú 49 136 4ª Suer, 1990
MATO GROSSO
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental, 05/11/2004
São Marcos Xavante Reservada. Reg. CRI e SPU. Barra do Garças 188.478 1.813 Funai/B. do Gar-
(Xavante) Decreto nº 76.215 de 05/09/75. ças, 1996
(DOU, 08/09/75)
Sararé Nambikwara Kati- Homologada. Reg. CRI e SPU. Pontes e Lacerda 67.420 94 Paca, 2001
tawlu Decreto nº 91.209 de 29/04/85 homolo- Vila Bela da Santís-
Nambikwara Kalu- ga a demarcação. (DOU, 30/04/85) sima Trindade
nhwasu Nova Lacerda
Nambikwara Qua-
litsu
Nambikwara Sayu-
likisu
Nambikwara
Uaihlatisu
Serra Morena Cinta Larga Homologada. Reg. CRI e SPU. Juína 147.836 110 Paca, 2001
Decreto nº 98.824 de 15/01/90 homolo-
ga a demarcação. (DOU, 16/01/90)
Sete de Setembro Surui Paiter Homologada. Reg. CRI e SPU. Aripuanã 247.870 920 Kanindé, 2002
Decreto nº 88.867 de 17/10/83 homolo- Cacoal (RO)
ga a demarcação. (DOU, 18/10/83) Espigão D’Oes-
te (RO)
Tadarimana Bororo Homologada. Reg. CRI e SPU. Rondonópolis 9.785 173 Funai/Rondonó-
Decreto nº 300 de 29/10/91 homologa Pedra Preta polis, 1997
a demarcação. (DOU, 30/10/91)
Taihantesu Nambikwara Wa- Homologada. Reg. CRI e SPU. Nova Lacerda 5.372 77 Paca, 2001
susu Decreto de 23/05/96 homologa a demar-
cação administrativa. (DOU, 24/05/96)
Tapirapé/Karajá Karajá Homologada. Reg. CRI e SPU. Santa Terezinha 66.166 384 Funai/Gurupi,
Tapirapé Decreto nº 88.194 de 23/03/83 homolo- Luciara 1994
ga a demarcação. Comodoro
Teresa Cristina Bororo Declarada. Port. MJ nº 299 de Santo Antonio 34.149 358 Funai, 2002
17/05/96 declara de posse permanente do Leverger
dos índios. (DOU, 21/05/96) Rondonópolis
Registrada com 26.237 ha.
Tirecatinga Nambikwara Halo- Homologada. Reg. CRI e SPU. Sapesal 130.575 117 Funai, 2003
tesu Decreto nº 291 de 29/10/91 homologa
Nambikwara Sa- a demarcação. (DOU, 30/10/91)
wentesu
Nambikwara Wa-
kalitesu
Ubawawe Xavante Homologada. Reg. CRI. Novo São Joaquim 52.234 349 Funai, 2002
Decreto s/nº de 30/08/00 homologa a Campinópolis
demarcação fisica. (DOU, 31/08/00) Paranatinga
Umutina Iranxe Homologada. Reg. CRI e SPU. Barra do Bugre 28.120 367 ADR/Funai, 2004
Kaiabi Decreto nº 98.144 de 14/09/89 homolo- Alto Paraguai
Nambikwara ga a demarcação. (DOU, 15/09/89)
Pareci
Terena
Umutina
Urubu Branco Tapirapé Homologada. Reg. CRI. Santa Terezinha 167.533 88 Funai, 2003
Decreto s/nº de 08/09/98 homologa Confresa
a demarcação. (DOU, 09/09/98) Porto Alegre do Norte
Luciara
Utiariti Pareci Homologada. Reg. CRI e SPU. Campo Novo 412.304 245 Funai, 2003
Decreto nº 261 de 29/10/91 homologa Parecis
a demarcação. (DOU, 30/10/91).
Vale do Guaporé Nambikwara Homologada. Reg. CRI e SPU. Comodoro 242.593 452 Paca, 2001
Mamaindê Decreto nº 91.210 de 29/04/85 homolo- Nova Lacerda
Nambikwara ga a demarcação (DOU, 30/04/85)
Hahaintesu
Nambikwara
Negarotê
Nambikwara
Waikisu
Nambikwara
Wasusu
Nambikwara
Alakatesu
Nambikwara
Alantesu
Nambikwara
Erihitaunsu
Nambikwara
Hoskokosu
Wawi Suyá Homologada. Reg. CRI. Querência 150.329 - -
Decreto s/nº de 08/09/98 homologa São Félix do Araguaia
a demarcação. (DOU, 09/09/98)
Zoró Zoró Homologada. Reg. CRI e SPU. Aripuanã 355.789 464 Funasa, 2003
Decreto s/nº 265 de 29/10/91 homologa
a demarcação. (DOU, 30/10/91)
MINAS GERAIS
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental, 05/11/2004
PARÁ
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental, 05/11/2004
Alto Rio Guamá Tembé Homologada. Reg. CRI e SPU. Paragominas 279.897 813 4ª Suer, 1990
Kaapor Decreto s/nº de 04/10/93 homologa Nova Esperança
Guajá a demarcação. (DOU, 05/10/93) do Piriá
Kreje Santa Luzia
Munduruku do Pará
Amanayé Amanayé Em identificação. Reservada/SPI. Goianésia do Pará - - -
Port. nº 640 de 19/06/98 cria GT para
identificar a TI. (DOU, 22/06/98)
PARANÁ
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental, 05/11/2004
Apucarana Kaingang Reservada/SPI. Reg. CRI. Londrina 5.575 690 C. Helm, 1995
Doação - Titulo definitivo em 28/12/53. Tamarana
Ava Guarani/Ocoí Guarani Nandeva Dominial Indígena. Reg. CRI. Foz do Iguaçu 251 215 Funai/BSB,1993
Port. nº 441/77. Planta de demarcação
de 31/07/82. Doada pela Itaipu
Binacional.
Barão de Antoni- Kaingang Homologada. Reg. CRI e SPU. São Jerônimo da 3.751 460 C. Helm, 1995
na I (Gleba I) Guarani Nandeva Decreto nº 285 de 29/10/91 homologa Serra
a demarcação. (DOU 30/10/91)
Boa Vista Kaingang Identificada. Aprovada Funai. Laranjeiras do Sul 7.286 43 Funasa, 2004
Despacho do presidente da Funai
nº 78 de 12/08/04 aprova os estudos
de identificação e delimitação da TI.
(DOU, 13/08/04)
Faxinal Kaingang Homologada. Reg. CRI. Cândido de Abreu 2.043 183 Funai, 1989
Guarani Decreto nº 252 de 29/10/91 homologa
a demarcação. (DOU, 30/10/91).
Dominial Indigena.
Ilha da Cotinga Guarani M’Bya Homologada. Reg. CRI e SPU. Paranaguá 1.701 165 Funai/Curitiba,
Decreto s/nº de 16/05/94 homologa 1998
a demarcação. (DOU, 17/05/94)
Ivaí Kaingang Homologada. Reg. CRI e SPU. Pitanga 7.306 707 Funai, 1989
Guarani Nandeva Decreto nº 377 de 24/12/91 homologa Manoel Ribas
a demarcação. (DOU, 26/12/91)
Laranjinha Guarani Nandeva Homologada. Reg. CRI e SPU. Santa Amélia 284 207 Funai, 1989
Kaingang Decreto s/nº de 03/10/96 homologa
a demarcação. (DOU, 04/10/96)
Mangueirinha Kaingang Dominial indígena. Reg. CRI. Mangueirinha 16.375 1.420 C. Helm, 1995
Guarani M’Bya Doação do Barão de Antonina em 1859.
Reduzida pelo Decreto estadual nº 64
de 02/03/1903. Reduzida em 1949. Pen-
dência judicial no TFR.
Marrecas Kaingang Homologada. Reg. CRI. Guarapuava 16.839 517 Funai/BSB, 1993
Decreto nº 89.495 de 25/03/84 homolo- Turvo
ga a demarcação. Dominial Indígena. Prudentópolis
Palmas Kaingang Identificada. Aprovada/Funai. Abelardo Luz (SC) 3.770 668 GT/Funai, 2000
Despacho da Funai nº 149 de 25/09/02 Palmas
aprova as conclusões dos estudos de
identificação da TI. (DOU, 27/09/02)
Pinhalzinho Guarani Nandeva Dominial indígena. Reg. CRI. Tomazina 593 80 Funai, 1989
Port. nº 810 de 03/10/01 cria GT para
levantamento de benfeitorias construí-
das na TI. (DOU, 04/10/01)
Queimadas Kaingang Homologada. Reg. CRI e SPU. Ortigueira 3.077 365 C. Helm, 1995
Decreto de 23/05/96 homologa a
demarcação. (DOU, 24/05/96)
Rio Areia Guarani M’Bya Homologada. Reg. CRI e SPU. Inácio Martins 1.352 79 Parecer/Funai,
Decreto s/nº de 14/04/98 altera o De- 1995
creto nº 292 de 29/10/91 que homo-
logou a demarcação da TI. Altera a su-
pefície e os limites da TI que era
401 ha. (DOU, 15/04/98)
Rio das Cobras Kaingang Homologada. Reg. CRI e SPU. Nova Laranjeiras 18.682 1.596 Funai, 1989
Guarani M’Bya Decreto nº 290 de 29/10/91 homologa Quedas do Iguaçu
a demarcação. (DOU, 30/10/91) Espigão Alto Iguaçu
São Jerônimo Guarani Nandeva Homologada. Reg. CRI e SPU. São Jerônimo da 1.339 380 Professores indí-
da Serra Kaingang Decreto nº 286 de 29/10/91 homologa Serra genas, 1998
a demarcação. (DOU, 30/10/91)
Tekoha Anetete Guarani Nandeva Homologada. Diamante D’Oeste 1.774 160 R. T. Almeida,
Decreto s/nº homologa a Ramilândia 1997
demarcação. (DOU, 28/07/00)
Tibagy/Mococa Kaingang Homologada. Reg. CRI e SPU. Ortigueira 859 78 Funai, 1989
Decreto de 23/05/96 homologa a
demarcação. (DOU, 24/05/96)
Xetá Xetá Em identificação. Querência do Norte - - -
Port. da Funai nº 1.230 cria GT para Umuarama
estudos e levantamentos de identifi-
cação e delimitação da TI.
(DOU, 12/12/00)
PERNAMBUCO
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental, 05/11/2004
Atikum Atikum Homologada. Reg. CRI e SPU. Carnaubeira da Penha 16.290 3.852 Funai, 2003
Decreto s/nº de 05/01/96 homologa
a demarcação. (DOU, 08/01/96)
Entre Serras Pankararu Declarada. Tacaratu 7.750 1.072 GT/Funai, 2001
Portaria nº 2.579 de 21/09/04 declara Petrolândia
de posse permanente indígena.
(DOU, 22/09/04)
Fazenda Cristo Rei Em identificação. Jatobá - - -
Port.nº 977 de 14/11/03 cria GT para
estudos de identificação da TI.
(DOU, 20/10/03)
Fulni-ô Fulni ô Dominial indígena. Em reestudo. Águas Belas 11.506 2.930 Funai, 2003
Área correspondente a 427 lotes de Itaiba
30 ha cada, distribuidos entre as famí-
lias em 1926. Port. Funai nº 145 de
12/03/03 cria GT para estudos e iden-
tificação da TI. (DOU, 13/03/03)
Kambiwá Kambiwá Homologada. Reg. CRI e SPU. Floresta 31.495 1.378 Funasa, 1997
Decreto s/nº de 11/12/98 homologa Ibimirim
a demarcação. (DOU, 14/12/98) Inajá
Kapinawá Kapinawá Homologada. Reg CRI. Buíque 12.403 500 Parecer/Funai,
Decreto s/nº de 11/12/98 homologa Tapanatinga 1994
a demarcação. (DOU, 14/12/98) Ibimirim
Pankararu Pankararu Homologada. Reg CRI e SPU. Tacaratu 8.337 5.584 Funai, 2003
Decreto nº 94.603 de 14/07/87 homolo- Petrolândia
ga a demarcação. Jatobá
RIO DE JANEIRO
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental, 05/11/2004
Guarani Araponga Guarani M’Bya Homologada. Reg. CRI e SPU. Parati 213 7 Funai/BSB, 1994
Decreto s/nº de 03/07/95 homologa
a demarcação. (DOU, 04/07/95)
Guarani do Bracuí Guarani M’Bya Homologada. Reg. CRI e SPU. Angra dos Reis 2.127 208 Parecer/Funai,
Decreto s/nº de 03/07/95 homologa 1994
a demarcação. (DOU, 04/07/95)
Parati-Mirim Guarani M’Bya Homologada. Reg. CRI e SPU. Parati 79 120 Funai, 1998
Decreto s/nº de 05/01/96 homologa a
demarcação. (DOU, 08/01/96)
Cacique Doble Kaingang Homologada. Reg. CRI e SPU. Cacique Doble 4.426 669 Funai/Passo Fun-
Guarani M’Bya Decreto de 27/03/91 homologa a São José do Ouro do, 2001
Guarani Nandeva demarcação administrativa.
(DOU, 28/03/91)
Cantagalo Guarani M’Bya Declarada. Viamão 286 159 GT/Funai, 1999
Port. MJ nº 1.958 de 27/11/03 declara
de posse permanente indígena.
(DOU, 28/11/03)
Carreteiro Kaingang Homologada. Reg. CRI e SPU. Água Santa 602 239 Funai/Passo Fun-
Decreto s/nº. de 27/03/91 homologa do, 2002
a demarcação. (DOU, 28/03/91)
Guarani Barra Guarani M’Bya Homologada. Reg. CRI e SPU. Maquiné 2.266 49 Identif/Funai,
1993
do Ouro Decreto s/nº de 18/04/01 homologa Caraã
a demarcação fisica. (DOU, 19 04/01) Riozinho
Guarani de Águas Guarani M’Bya Declarada. Arambaré 230 39 Freire (Funai),
Brancas Port. MJ nº104 de 13/02/96 declara 1994
de posse permanente indígena.
(DOU, 14/02/96)
Guarani Votouro Guarani Nandeva Homologada. Reg. CRI e SPU. São Valentim 717 56 Funai/Passo Fun-
Decreto s/nº de 11/12/98 homologa do, 1993
a demarcação. (DOU, 14/12/98)
Guarita Kaingang Homologada. Reg. CRI e SPU. Tenente Portela 23.406 4.000 Funai/Passo Fun-
Guarani M’Bya Decreto s/nº de 04/04/91 homologa Erval Seco do, 2002
Guarani Nandeva a demarcação. (DOU, 05/04/91) Redentora
Inhacorá Kaingang Homologada. Reg. CRI e SPU. Santo Augusto 2.843 672 Funai/Passo Fun-
Decreto s/nº de 27/03/91 homologa São Valério do Sul do, 2002
a demarcação. (DOU, 28/03/91)
RONDÔNIA
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental, 05/11/2004
Igarapé Lage Pakaa Nova Homologada. Reg. CRI e SPU. Guajará Mirim 107.321 235 Funai/G. Mirim,
Decreto nº 86.347 de 09/09/81 homolo- Nova Mamoré 1996
ga a demarcação. (DOU, 10/09/81)
Igarapé Lourdes Gavião Homologada. Reg. CRI e SPU. Ji-Paraná 185.534 500 Funai, 1989
Arara Karo Decreto nº 88.609 de 09/08/83 homolo-
ga a demarcação. (DOU, 11/08/83)
Igarapé Ribeirão Pakaa Nova Homologada. Reg. CRI e SPU. Nova Mamoré 47.863 187 Funai/G. Mirim,
Decreto nº 86.347 de 09/09/81 homolo- 1996
ga a demarcação. (DOU, 10/09/81)
Karipuna Karipuna Homologada. Reg. CRI e SPU. Porto Velho 152.930 6 Funai/BSB, 1998
Karitiana Decreto s/nº de 08/09/98 homologa Nova Mamoré
a demarcação. (DOU, 09/09/98)
Karipuna II/Jaci Isolados A identificar. Guajará Mirim - - Funai, 2003
Paraná
Karitiana Karitiana Homologada. Reg. CRI e SPU. Porto Velho 89.682 171 L. Storto, 1994
Rio Candeias
Rio Branco Arikapu Homologada. Reg. CRI e SPU. São Miguel do 236.137 320 Funai/BSB, 1994
Aruá Decreto nº 93.074 de 06/08/86 homolo- Guaporé
Kanoê ga a demarcação. ( DOU, 07/08/86) São Francisco Gua -
Columbiara poré
Jaboti
Macurap
Tupari
Rio Guaporé Aikana Homologada. Reg. CRI e SPU. Guajara Mirim 115.788 407 Funai/G. Mirim,
Ajuru Decreto de 23/05/96 homologa a de- 1998
Arikapu marcação administrativa.
Aruá (DOU, 24/05/96)
Kanoê
Jaboti
Macurap
Mequem
Tupari
Uari
Rio Mequéns Macurap Homologada. Reg. CRI e SPU. Alto Alegre Parecis 107.553 89 Paca, 2001
Sakurabiat Decreto de 23/05/96 homologa
a demarcação. (DOU, 24/05/96)
Rio Muqui Isolados Em Identificação/Com restrição de uso. Urupaá 55.000 - -
Port. Funai nº 552 de 15/07/96 estabe- Alvorada D’Oeste
lece restrição de uso da área, por dois
anos (DOU, 26/07/96). Port. Funai
nº 785 de 28/07/98 prorroga a restrição
por mais dois anos (DOU, 30/07/98).
Port. Funai nº 9 de 13/01/99 cria GT
para estudos e identificação da TI.
(DOU, 15/01/99)
Rio Negro/Ocaia Wari (Pakaa Homologada. Reg. CRI e SPU. Guajará Mirim 104.064 444 Funai/G. Mirim,
Nova) Decreto nº 86.347 de 09/09/81 homolo- 1996
ga a demarcação. (DOU 10/09/81)
Rio Omerê Kanoê Declarada. Corumbiara 26.000 11 GT/Funai, 1999
Akunsu Port. MJ nº 2.526 de 18/12/02 declara Chupinguaia
de posse permanente indígena.
(DOU, 19/12/02)
Roosevelt Cinta Larga Homologada. Reg. CRI e SPU. Aripuanã (MT) 230.826 502 Paca, 2001
Decreto nº 262 de 29/10/91 homologa Espigão D’Oeste
a demarcação. (DOU, 30/10/91) Pimenta Bueno
Sagarana Pakaa Nova Homologada. Reg. CRI e SPU. Guajará Mirim 18.120 234 Funai/G. Mirim,
Decreto de 23/05/96 homologa a 1996
demarcação. (DOU, 24/05/96)
Sete de Setembro Surui Paiter Homologada. Reg. CRI e SPU. Aripuanã (MT) 247.870 920 Kanindé, 2002
Decreto nº 88.867 de 17/10/83 homolo- Cacoal
ga a demarcação. (DOU, 18/10/83) Espigão D’Oeste
Tubarão/Latundê Aikana Homologada. Reg. CRI e SPU. Chupinguaia 116.613 176 Paca, 2001
Nambikwara La- Decreto nº 259 de 29/10/91 homologa
tunde a demarcação. (DOU, 30/10/91)
Nambikwara Sa-
bane
Uru-Eu-Wau-Wau Uru-Eu-Wau-Wau Homologada. Reg CRI e SPU. Gov. Jorge Teixeira 1.867.117 180 Funasa, 2003
Urupain Decreto nº 275 de 29/10/91 homologa Costa Marques
a demarcação. (DOU, 30/10/91) Guajará Mirim
Seringueiras
Alvorada D’Oeste
Campo Novo Ron-
dônia
Jaru
Mirante da Serra
São Miguel do
Guaporé
Nova Mamoré
Monte Negro
Cacaulândia
Caiçara/Ilha de Xokó Homologada. Reg. CRI. Porto da Folha 4.316 305 Funasa, 2003
São Pedro Decreto nº 401 de 24/12/91 homologa
a demarcação. (DOU, 26/12/91)
TOCANTINS
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental, 05/11/2004
(1)
Segundo o instrumento legal de criação, à exceção das Unidades que abrangem mais de um Estado, e das Ucs que abrangem porções oceânicas (3.128.162 ha de UCs na
plataforma continental estão excluídos desta conta) . Nestes casos, a extensão foi calculada através do SIG/ISA.
(2)
A extensão territorial do Brasil é de 851.487.659 ha, conforme o IBGE.
(3)
A somatória nominal desconsidera o fato de que existem sobreposição entre Ucs e de Ucs sobre Tis, resultando numa superestimação da área efetivamente protegida.
ACRE
Unidades de Conservação
Instituto Socioambiental, novembro/2004
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Esec do Rio Acre Federal Assis Brasil PI 77.500 Decreto 86.061 de 02/06/1981
Sena Madureira
Parna da Serra do Divisor Federal Cruzeiro do Sul PI 846.633 Decreto 97.839 de 16/06/1989
Mâncio Lima**
Arie Seringal Nova Esperança Federal Epitaciolândia US 2.576 Decreto de 20/08/1999
FES do Antimary Estadual Bujari US 57.629 Decreto 46 de 07/02/1997
Flona do Macauã Federal Sena Madureira US 173.475 Decreto 96.189 de 21/06/1988
Flona de Santa Rosa do Purus Federal Santa Rosa do Purus US 230.257 Decreto de 07/08/2001
Flona de São Francisco Federal Sena Madureira US 21.600 Decreto de 07/08/2001
Resex Alto Juruá Federal Marechal Thaumaturgo US 506.186 Decreto 98.863 de 23/01/1990
Resex do Alto Tarauacá Federal Jordão US 151.200 Decreto de 08/11/2000
Tarauacá
Resex do Cazumbá-Iracema Federal Manoel Urbano US 750.795 Decreto de 19/09/2002
Sena Madureira
Resex Chico Mendes Federal Xapuri
Brasiléia** US 970.570 Decreto 99.144 de 12/03/1990
ALAGOAS
Unidades de Conservação
Instituto Socioambiental, novembro/2004
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Esec de Murici Federal Flexeiras PI 6.116 Decreto de 28/05/2001
Murici
Rebio de Pedra Talhada Federal Quebrangulo PI 4.469 Decreto 98.524 de 13/12/1989
Resec de Manguezais da Estadual Barra de São Miguel PI 743 Decreto 32.355 de 03/06/1987
Lagoa do Roteiro Roteiro
Resec do Saco da Pedra Estadual Marechal Deodoro PI 150 Decreto 6.274 de 05/06/1985
Resex Marinha da Lagoa do Jequiá Federal Coruripe US 10.231 Decreto de 27/09/2001
APA do Catolé e de Fernão Velho Estadual Maceió US 5.415 Lei 5.347 de 27/05/1992
Rio Largo
APA da Costa dos Corais Federal Maragogi US 413.563 Decreto de 23/10/1997
Maceió**
APA Marituba do Peixe Estadual Feliz Deserto US 10.900 Decreto 35.858 de 04/03/1988
Penedo**
APA de Piaçabuçu Federal Feliz Deserto US 9.143 Decreto 88.421 de 21/06/1983
Piaçabuçu
APA de Santa Rita Estadual Coqueiro Seco US 8.800 Lei 4.607 de 19/12/1984
Maceió**
Categorias Grupos
APA Área de Proteção Ambiental Parna Parque Nacional PI Proteção Integral
Arie Área de Relevante Interesse Ecológico PES Parque Estadual US Uso Sustentável
Esec Estação Ecológica RDS Reserva de Desenvolvimento Sustentável
FES Floresta Estadual Rebio Reserva Biológica
Flona Floresta Nacional Resec Reserva Ecológica
Florex Floresta Estadual Extrativista Resex Reserva Extrativista
Florsu Floresta Estadual de Rendimento Sustentável RVS Refúgio de Vida Silvestre
Monat Monumento Natural
1
Área segundo Instrumento Legal de Criação ou Instrumento Legal relativo.
* Área calculada pelo Sistema de Informação Geográfica do ISA.
** Abrange mais municípios além dos dois citados como referência.
*** Sem informação.
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Esec do Jari Federal Mazagão PI 227.126 Decreto 87.092 de 12/04/1982
Vitória do Jari
Esec de Maracá-Jipioca Federal Amapá PI 72.000 Decreto 86.061 de 02/06/1981
Parna do Cabo Orange Federal Calçoene PI 619.000 Decreto 84.913 de 15/07/1980
Oiapoque
Parna Montanhas do Tumucumaque Federal Vitória do Jari PI 3.867.000 Decreto de 22/08/2002
Oiapoque**
Rebio de Fazendinha Estadual Macapá PI 193 Decreto 20 de 14/12/1984
Rebio do Lago Piratuba Federal Amapá PI 357.000 Decreto 84.914 de 16/07/1980
Tartarugalzinho
Rebio do Parazinho Estadual Macapá PI 111 Decreto 05 de 21/01/1985
APA do Curiaú Estadual Macapá US 23.000 Lei 431 de 15/09/1998
Flona do Amapá Federal Amapá US 412.000 Decreto 97.630 de 10/04/1989
Ferreira Gomes
RDS Rio Iratapuru Estadual Laranjal do Jari US 806.184 Lei 392 de 11/12/1997
Resex do Rio Cajari Federal Laranjal do Jari US 501.771 Decreto 99.145 de 12/03/1990
Mazagão**
AMAZONAS
Unidades de Conservação
Instituto Socioambiental, novembro/2004
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Esec Anavilhanas Federal Manaus PI 350.018 Decreto 86.061 de 02/06/1981
Novo Airão
Esec Juami-Japurá Federal Japurá PI 745.830 Decreto 88.542 de 21/07/1983
Esec Jutaí-Solimões Federal Jutaí PI 288.187 Decreto 88.541 de 21/07/1983
Santo Antônio do Içá
Parna Amazônia Federal Maués PI 864.047 Decreto 73.683 de 19/02/1974
Parna Jaú Federal Barcelos PI 2.272.000 Decreto 85.200 de 24/09/1980
Novo Airão
Parna Pico da Neblina Federal Santa Isabel do Rio Negro PI 2.200.000 Decreto 83.550 de 05/06/1979
São Gabriel da Cachoeira
PES Nhamundá Estadual Nhamundá PI 28.370 Decreto 12.175 de 07/07/1989
PES Rio Negro Setor Norte Estadual Novo Airão PI 146.028 Decreto 16.497 de 02/04/1995
PES Rio Negro Setor Sul Estadual Manaus PI 157.807 Decreto 16.497 de 02/04/1995
Novo Airão
PES Serra do Araçá Estadual Barcelos PI 1.818.700 Decreto 12.836 de 09/03/1990
PES Sumaúma Estadual Manaus PI 51 Decreto 23.721 de 05/09/2003
Rebio Abufari Federal Tapauá PI 288.000 Decreto 87.585 de 20/09/1982
Rebio Morro dos Seis Lagos Estadual São Gabriel da Cachoeira PI 36.900 Decreto 12.836 de 09/03/1990
Rebio Uatumã Federal Presidente Figueiredo PI 940.358 Decreto 99.277 de 06/06/1990
Urucará**
Resec Sauim-Castanheira Federal Manaus PI 109 Decreto 87.455 de 12/08/1982
APA Margem Direta do Rio Negro - Estadual Iranduba US 566.365 Decreto 16.498 de 02/04/1995
Setor Paduari-Solimões Manacapuru**
APA Margem Esquerda do Rio Estadual Manaus US 586.422 Decreto 16.498 de 02/04/1995
Negro - Setor Aturiá - Novo Airão**
Apuazinho
APA de Nhamundá Estadual Nhamundá US 195.900 Decreto 12.036 de 09/03/1990
Parintins
APA de Parintins-Nhamundá Estadual Nhamundá US 195.900 Decreto 12.836 de 09/03/1990
Parintins
APA Presidente Figueiredo - Estadual Presidente Figueiredo US 374.700 Decreto 12.836 de 09/03/1990
Caverna do Maroaga
Arie Javari-Buriti Federal Santo Antônio do Içá US 15.000 Decreto 91.886 de 05/11/1985
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Arie PDBFF - Proj. Dinâmica B. Federal Manaus US 3.500 Decreto 91.884 de 05/11/1985
de Fragmentos Florestais Rio Preto da Eva
FES de Maués Estadual Maués US 438.440 Decreto 23.540 de 19/07/2003
FES do Rio Urubu Estadual Rio Preto da Eva US 45.691 Decreto 23.993 de 22/12/2003
Flona do Amazonas Federal Barcelos US 1.573.100 Decreto 97.546 de 01/03/1989
Santa Isabel do Rio Negro
Flona Cubaté Federal São Gabriel da Cachoeira US 416.532 Decreto 99.105 de 09/03/1990
Flona Cuiari Federal São Gabriel da Cachoeira US 109.519 Decreto 99.109 de 09/03/1990
Flona de Humaitá Federal Humaitá US 468.790 Decreto 2.485 de 02/02/1998
Flona Içana Federal São Gabriel da Cachoeira US 200.561 Decreto 99.110 de 09/03/1990
Flona Içana-Aiari Federal São Gabriel da Cachoeira US 491.400 Decreto 99.108 de 09/03/1990
Flona do Jatuarana Federal Borba US 837.100 Decreto de 19/09/2002
Flona Mapiá-Inauini Federal Boca do Acre US 311.000 Decreto 98.051 de 14/08/1989
Pauini
Flona Pari-Cachoeira I Federal São Gabriel da Cachoeira US 18.000 Decreto 98.440 de 23/11/1989
Flona Pari-Cachoeira II Federal São Gabriel da Cachoeira US 654.000 Decreto 98.440 de 23/11/1989
Flona de Pau-Rosa Federal Maués US 827.877 Decreto de 07/08/2001
Flona Piraiauara Federal São Gabriel da Cachoeira US 631.437 Decreto 99.111 de 09/03/1990
Flona do Purus Federal Boca do Acre US 256.000 Decreto 96.190 de 21/06/1988
Pauini
Flona Taracuá I Federal São Gabriel da Cachoeira US 647.744 Decreto 99.112 de 09/03/1990
Flona Taracuá II Federal São Gabriel da Cachoeira US 559.504 Decreto 99.113 de 09/03/1990
Flona de Tefé Federal Tefé US 1.020.000 Decreto 97.629 de 10/04/1989
Alvarães**
Flona Urucu Federal São Gabriel da Cachoeira US 66.496 Decreto 99.106 de 09/03/1990
Flona Xié Federal São Gabriel da Cachoeira US 407.936 Decreto 99.107 de 09/03/1990
RDS Amanã Estadual Barcelos US 2.313.000 Decreto 19.021 de 04/08/1998
Coari**
RDS Cujubim Estadual Eirunepé US 2.450.382 Decreto 23.724 de 05/09/2003
RDS Mamirauá Estadual Fonte Boa US 1.124.000 Decreto 12.836 de 09/03/1990
Maraã**
RDS Piagaçu-Purus Estadual Anori US 1.008.167 Decreto 23.723 de 05/09/2003
Tapauá
RDS do Uatumã Estadual Itapiranga US 424.430 Decreto 24.295 de 25/06/2004
São Sebastião do Uatumã
Resex Auatí-Paraná Federal Fonte Boa US 146.950 Decreto de 07/08/2001
Resex do Baixo Juruá Federal Juruá US 187.982 Decreto de 01/08/2001
Uarini
Resex Catuá-Ipixuna Estadual Coari US 217.486 Decreto 23.722 de 05/09/2003
Tefé
Resex do Lago do Capanã Federal Manicoré US 304.146 Decreto de 03/06/2004
Grande
Resex do Médio Juruá Federal Carauari US 253.227 Decreto de 04/03/1997
Resex do Rio Jutaí Federal Jutaí US 275.533 Decreto de 16/07/2002
BAHIA
Unidades de Conservação
Instituto Socioambiental, novembro/2004
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Parna Grande Sertão Veredas Federal Cocos PI 231.000 Decreto 97.658 de 12/04/1989
Parna Marinho de Abrolhos Federal Alcobaça PI 88.249 Decreto 88.218 de 06/04/1983
Caravelas
Parna de Monte Pascoal Federal Porto Seguro PI 22.500 Decreto-Lei 1.202 de
19/04/1943
Parna das Nascentes do Rio Federal Formosa do Rio Preto PI 729.814 Decreto de 16/07/2002
Parnaíba
Parna do Pau Brasil Federal Porto Seguro PI 11.538 Decreto de 20/04/1999
PES de Canudos Estadual Canudos PI 1.321 Decreto 33.333 de 30/06/1986
PES Morro do Chapéu Estadual Morro do Chapéu PI 46.000 Decreto 7.413 de 17/08/1998
PES Serra do Conduru Estadual Uruçuca PI 7.000 Decreto 6.227 de 21/02/1997
Itacaré**
PES das Sete Passagens Estadual Miguel Calmon PI 2.821 Decreto 7.808 de 24/05/2000
Rebio de Una Federal Una PI 11.400 Decreto 85.463 de 10/12/1980
RVS das Veredas do Federal Cocos PI 128.521 Decreto de 13/12/2002
Oeste Baiano Jaborandi
APA Bacia do Cobre/São Estadual Salvador US 2.260 Decreto 7.970 de 05/06/2001
Bartolomeu Simões Filho
APA da Bacia do Rio de Janeiro Estadual Barreiras US 351.300 Decreto 2.185 de 07/06/1993
APA da Baía de Camamu Estadual Camamu US 118.000 Decreto 8.175 de 27/02/2002
Maraú**
APA da Baía de Todos os Santos Estadual Cachoeira US 80.000 Decreto 7.595 de 05/06/1999
Candeias**
APA Caminhos Ecológicos da Estadual Valença US 230.296 Decreto 8.552 de 05/06/2003
Boa Esperança Taperoá**
APA Caraíva/Trancoso Estadual Porto Seguro US 31.900 Decreto 2.215 de 14/06/1993
APA Coroa Vermelha Estadual Porto Seguro US 4.100 Decreto 2.184 de 07/06/1993
APA Costa de Itacaré/Serra Estadual Itacaré US 14.925 Decreto 2.186 de 07/06/1993
Grande Uruçuca
APA Dunas e Veredas do Baixo- Estadual Barra US 1.085.000 Decreto 6.547 de 18/07/1997
Médio São Francisco Pilão Arcado**
APA Gruta dos Brejões/Vereda Estadual João Dourado US 11.900 Decreto 32.487 de 13/11/1985
do Romão Gramacho Morro do Chapéu**
APA de Guaibim Estadual Valença US 2.000 Decreto 1.164 de 11/05/1992
APA das Ilhas de Tinharé e Estadual Cairu US 43.300 Decreto 1.240 de 05/06/1992
Boipeba
APA de Joanes-Ipitanga Estadual Camaçari US 5.022 Decreto 7.596 de 05/06/1999
Simões Filho**
APA do Lago de Pedra do Cavalo Estadual Cabaceiras do Paraguaçu US 30.156 Decreto 6.548 de 18/07/1997
Castro Alves**
APA da Lagoa Encantada Estadual Ilhéus US 11.800 Decreto 2.217 de 14/06/1993
APA da Lagoa Itaparica Estadual Gentio do Ouro US 78.450 Decreto 6.546 de 18/07/1997
Xique-Xique
APA Lagoas de Guarajuba Estadual Camaçari US 230 Resolução 387 de 27/02/1991
APA das Lagoas e Dunas do Estadual Salvador US 1.800 Decreto 351 de 22/09/1987
Abaeté
APA Litoral Norte do Estado da Estadual Conde US 142.000 Decreto 1.046 de 17/03/1992
Bahia Entre Rios**
APA de Mangue Seco Estadual Jandaíra US 3.395 Decreto 605 de 06/11/1991
APA Marimbus/Iraquara Estadual Iraquara US 125.400 Decreto 2.216 de 14/06/1993
Lençóis**
APA da Plataforma Continental Estadual Salvador US 362.266 Decreto 8.553 de 05/06/2003
do Litoral Norte
APA da Ponta da Baleia/Abrolhos Estadual Alcobaça US 34.600 Decreto 2.218 de 14/06/1993
Caravelas
APA do Pratigi Estadual Nilo Peçanha US 32.000 Decreto 7.272 de 02/04/1998
Ituberá**
APA do Rio Capivara Estadual Camaçari US 1.800 Decreto 2.219 de 14/06/1993
APA de Santo Antônio Estadual Belmonte US 23.000 Decreto 3.413 de 31/08/1994
Santa Cruz Cabrália
APA Serra Branca/Raso Estadual Jeremoabo US 67.000 Decreto 7.972 de 05/06/2001
da Catarina
667 Terras Indígenas e Unidades de Conservação da natureza
cont. BAHIA
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
APA da Serra do Barbado Estadual Abaíra US 63.652 Decreto 2.183 de 07/06/1993
Érico Cardoso**
Arie Nascentes do Rio de Contas Estadual Abaíra US 4.771 Decreto 7.968 de 05/06/2001
Piatã
Arie Serra do Orobó Estadual Itaberaba US 7.397 Decreto 8.267 de 06/06/2002
Ruy Barbosa
Flona Contendas do Sincorá Federal Contendas do Sincorá US 11.034 Decreto de 21/09/1999
Flona de Cristópolis Federal Cristópolis US 11.953 Decreto de 18/05/2001
Resex Marinha da Baía do Iguape Federal Cachoeira US 8.117 Decreto de 11/08/2000
Maragogipe
Resex Marinha do Corumbau Federal Porto Seguro US 89.500 Decreto de 21/09/2000
Prado
CEARÁ
Unidades de Conservação
Instituto Socioambiental, novembro/2004
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Esec de Aiuaba Federal Aiuaba PI 11.525 Decreto de 06/02/2001
Esec do Castanhão Federal Alto Santo PI 12.579 Decreto de 27/09/2001
Iracema**
Parna de Jericoacoara Federal Cruz PI 8.416 Decreto de 04/02/2002
Jijoca de Jericoacoara
Parna de Ubajara Federal Ubajara PI 6.851 Decreto 45.954 de 30/04/1959
Tianguá**
PES Marinho da Pedra da Estadual Fortaleza PI 3.320 Lei 12.717 de 05/09/1997
Risca do Meio
APA da Bica do Ipu Estadual Ipu US 3.485 Decreto 25.354 de 26/01/1999
APA Chapada do Araripe Federal Abaiara US 1.063.000 Decreto de 04/08/1997
Araripe**
APA Delta do Parnaíba Federal Barroquinha US 313.800 Decreto de 28/08/1996
Chaval
APA das Dunas da Lagoinha Estadual Paraipaba US 523 Decreto 25.417 de 29/03/1999
APA das Dunas de Paracuru Estadual Paracuru US 3.910 Decreto 25.418 de 29/03/1999
APA do Estuário do Rio Ceará Estadual Caucaia US 2.745 Decreto 25.413 de 29/03/1999
Fortaleza
APA do Estuário do Rio Curú Estadual Paracuru US 882 Decreto 25.416 de 29/03/1999
Paraipaba
APA do Estuário do Rio Mundaú Estadual Itapipoca US 1.596 Decreto 25.414 de 29/03/1999
Trairi
APA de Jericoacoara Federal Cruz US 207 Decreto 90.379 de 29/10/1984
Jijoca de Jericoacoara
APA do Lagamar do Cauípe Estadual Caucaia US 1.884 Decreto 24.957 de 05/06/1998
APA da Lagoa do Jijoca Estadual Cruz US 3.996 Decreto 25.975 de 10/08/2000
Jijoca de Jericoacoara
APA da Lagoa do Uruaú Estadual Beberibe US 2.673 Decreto 25.355 de 26/01/1999
APA do Pecém Estadual São Gonçalo do Amarante US 123 Decreto 24.957 de 05/06/1998
APA do Rio Pacoti Estadual Acarape US 2.915 Decreto 25.778 de 15/02/2000
Aquiraz**
APA da Serra da Aratanha Estadual Guaiúba US 6.448 Decreto 24.959 de 05/06/1998
Maranguape**
APA Serra da Ibiapaba Federal Chaval US 1.592.550 Decreto de 26/11/1996
Granja**
APA da Serra de Baturité Estadual Aratuba US 32.690 Decreto 20.956 de 10/09/1990
Baturité**
Flona Araripe-Apodi Federal Barbalha US 38.262 Decreto-Lei 9.226 de
02/05/1946
Crato**
Flona de Sobral Federal Sobral US 598 Lei 127 de 30/10/1947
Resex do Batoque Federal Aquiraz US 602 Decreto de 05/06/2003
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Esec Águas Emendadas Estadual Brasília PI 10.547 Decreto 771 de 12/08/1968
Esec do Jardim Botânico de Estadual Brasília PI 4.430 Decreto 14.422 de 26/11/1992
Brasília
Parna de Brasília Federal Brasília PI 30.000 Decreto 241 de 29/11/1961
Rebio da Contagem Federal Brasília PI 3.460 Decreto de 13/12/2002
Resec do Gama Estadual Brasília PI 136 Decreto 11.261 de 16/09/1988
Resec do Guará Estadual Brasília PI 194 Decreto 11.262 de 16/09/1988
Resec Ilhas do Lago Paranoá Estadual Brasília PI 3 Lei 1.612 de 08/08/1997
APA da Bacia do Rio Descoberto Federal Brasília US 32.100 Decreto 88.940 de 07/11/1983
APA da Bacia do Rio São Federal Brasília US 84.100 Decreto 88.940 de 07/11/1983
Bartolomeu
APA Bacias do Gama e Estadual Brasília US 25.000 Decreto 9.417 de 21/04/1986
Cabeça-do-Veado
APA Cafuringa Estadual Brasília US 46.000 Decreto 11.123 de 10/06/1988
APA do Lago Paranoá Estadual Brasília US 16.000 Decreto 12.055 de 14/02/1989
APA do Planalto Central Federal Brasília US 504.608 Decreto de 10/01/2002
Arie do Bosque Estadual Brasília US *** Lei 1.914 de 19/03/1998
Arie Capetinga-Taquara Federal Brasília US 2.100 Decreto 91.303 de 03/06/1985
Arie do Cerradão Estadual Brasília US 54 Decreto 19.213 de 07/05/1998
Arie da Granja do Ipê Estadual Brasília US 1.144 Decreto 19.431 de 15/07/1998
Arie Paranoá Sul Estadual Brasília US 54 Decreto 11.209 de 17/08/1988
Arie Parque Juscelino Kubitschek Estadual Brasília US 2.642 Lei 1.002 de 02/01/1996
Arie Santuário de Vida Silvestre Estadual Brasília US 480 Decreto 11.138 de 16/06/1988
do Riacho Fundo
Flona de Brasília Federal Brasília US 9.343 Decreto de 10/06/1999
ESPÍRITO SANTO
Unidades de Conservação
Instituto Socioambiental, novembro/2004
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Parna do Caparaó Federal Ibitirama PI 31.853 Decreto 50.646 de 24/05/1961
Dores do Rio Preto**
Parna dos Pontões Capixabas Federal Águia Branca PI 17.496 Decreto de 19/12/2002
Pancas
PES da Fonte Grande Estadual Vitória PI 218 Lei 3.875 de 31/07/1986
PES de Itaúnas Estadual Conceição da Barra PI 3.150 Decreto 4.967-E de 08/11/1991
PES Mata das Flores Estadual Castelo PI 800 Decreto 3.488-E de 19/03/1987
PES Paulo Cesar Vinha Estadual Guarapari PI 1.500 Decreto 2.993-N de 05/06/1990
PES de Pedra Azul Estadual Domingos Martins PI 1.240 Decreto-Lei 312 de 31/10/1970
Rebio Augusto Ruschi Federal Santa Teresa PI 4.000 Decreto 87.589 de 20/09/1982
Rebio de Comboios Federal Aracruz PI 833 Decreto 90.222 de 25/09/1984
Linhares
Rebio do Córrego do Veado Federal Pinheiros PI 2.392 Decreto 87.590 de 20/09/1982
Rebio do Córrego Grande Federal Conceição da Barra PI 1.504 Decreto 97.657 de 12/04/1989
Rebio de Duas Bocas Estadual Cariacica PI 2.210 Lei 2.095 de 12/02/1965
Rebio de Sooretama Federal Sooretama PI 24.000 Decreto 87.588 de 20/09/1982
Linhares
Resec de Jacarenema Estadual Vila Velha PI 307 Lei 5.427 de 28/07/1997
APA de Conceição da Barra Estadual Conceição da Barra US 7.728 Decreto 7305-E de 13/11/1998
APA Lagoa de Guanandy Estadual Itapemirim US 5.242 Decreto 3.738-N de 12/08/1994
Piúma
APA de Mestre Álvaro Estadual Serra US 2.461 Lei 4.507 de 07/01/1991
APA Paulo César Vinha Estadual Guarapari US 12.960 Lei 5.651 de 26/05/1998
Vila Velha
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
APA do Pico do Goiapaba-Açu Estadual Fundão US 3.740 Decreto 3.796 de 27/12/1994
APA de Praia Mole Estadual Serra US 400 Decreto 3.802-N de 29/12/1994
APA das Três Ilhas Estadual Guarapari US 12.960 Decreto 3.747-N de 12/09/1994
Flona de Goytacazes Federal Linhares US 1.350 Decreto de 28/11/2002
Flona de Pacotuba Federal Cachoeiro de Itapemirim US 451 Decreto de 13/12/2002
Flona Rio Preto Federal Conceição da Barra US 2.831 Decreto 98.845 de 17/01/1990
GOIÁS
Unidades de Conservação
Instituto Socioambiental, novembro/2004
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Parna da Chapada dos Veadeiros Federal Alto Paraíso de Goiás PI 176.570 Decreto 49.875 de 11/01/1961
Cavalcante
Parna das Emas Federal Chapadão do Céu PI 133.063 Decreto 49.874 de 11/01/1961
Mineiros
PES Araguaia Estadual São Miguel do Araguaia PI 4.612 Decreto 5.631 de 02/08/2002
PES de Paraúna Estadual Paraúna PI 30.000 Decreto 5.568 de 18/03/2002
PES dos Pirineus Estadual Cocalzinho de Goiás PI 2.833 Lei 10.321 de 20/11/1987
Pirenópolis**
PES da Serra de Caldas Novas Estadual Caldas Novas PI 12.315 Lei 7.282 de 25/09/1970
Rio Quente
PES da Serra Dourada Estadual Buriti de Goiás PI 30.000 Decreto 5.768 de 05/06/2003
Goiás**
PES Telma Ortegal Estadual Abadia de Goiás PI 166 Lei 12.789 de 26/12/1995
PES de Terra Ronca Estadual Guarani de Goiás PI 50.000 Lei 10.879 de 07/07/1989
São Domingos
APA da Bacia do Rio Descoberto Federal Águas Lindas de Goiás US 32.100 Decreto 88.940 de 07/11/1983
Padre Bernardo
APA João Leite Estadual Anápolis US 78.128 Decreto 5.704 de 27/12/2002
Goianápolis**
APA dos Meandros do Rio Federal Nova Crixás US 357.126 Decreto de 02/10/1998
Araguaia São Miguel do Araguaia
APA das Nascentes do Federal Buritinópolis US 176.159 Decreto de 27/09/2001
Rio Vermelho Damianópolis**
APA dos Pireneus Estadual Cocalzinho de Goiás US 22.800 Decreto 5.174 de 17/02/2000
Pirenópolis**
APA do Planalto Central Federal Padre Bernardo US 504.608 Decreto de 10/01/2002
Planaltina
APA de Pouso Alto Estadual Alto Paraíso de Goiás US 872.000 Decreto 5.419 de 07/05/2001
Cavalcante**
APA da Serra da Jibóia Estadual Nazário US 21.751 Decreto 5.176 de 29/02/2000
Palmeiras de Goiás
APA Serra das Galés e Estadual Paraúna US 30.000 Decreto 5.573 de 18/03/2002
da Portaria
APA da Serra Dourada - Estadual Goiás US 10.511 Decreto 4.866 de 12/02/1998
Dr. Sulivan Silvestre Mossâmedes
APA da Serra Geral de Goiás Estadual Guarani de Goiás US 60.000 Decreto 4.666 de 16/04/1996
São Domingos
Arie Águas de São João Estadual Goiás US 2.650 Decreto 5.182 de 13/03/2000
FES do Araguaia Estadual São Miguel do Araguaia US 8.203 Decreto 5.630 de 02/08/2002
Flona da Mata Grande Federal São Domingos US 2.009 Decreto de 13/10/2003
Flona de Silvânia Federal Silvânia US 467 Lei 612 de 13/01/1949
Parna dos Lençóis Maranhenses Federal Barreirinhas PI 155.000 Decreto 86.060 de 02/06/1981
Santo Amaro do Maranhão**
Parna das Nascentes do Rio Federal Alto Parnaíba PI 729.814 Decreto de 16/07/2002
Parnaíba
PES do Bacanga Estadual São Luís PI 3.075 Decreto 7.545 de 07/03/1980
PES Marinho do Parcel de Estadual Cururupu PI 45.237 Decreto 11.902 de 11/06/1991
Manuel Luís
PES de Mirador Estadual Mirador PI 700.000 Decreto 7.641 de 04/06/1980
Rebio do Gurupi Federal Bom Jardim PI 341.650 Decreto 95.614 de 12/01/1988
Centro Novo do Maranhão**
APA Baixada Ocidental Estadual Anajatuba US 1.775.036 Decreto 11.900 de 11/06/1991
Maranhense - Ilha dos Arari**
Carangueijos
APA Delta do Parnaíba Federal Água Doce do Maranhão US 313.800 Decreto de 28/08/1996
Araioses**
APA da Foz do Rio das Preguiças Estadual Araioses US 269.684 Decreto 11.899 de 11/06/1991
Barreirinhas**
APA das Reentrâncias Estadual Alcântara US 2.680.911 Decreto 11.901 de 11/06/1991
Maranhenses Bacuri**
APA da Região de Maracanã Estadual São Luís US 1.831 Decreto 12.103 de 01/10/1991
APA Upaon-Açu/Miritiba/ Estadual Axixá US 1.535.310 Decreto 12.428 de 05/06/1992
Alto Preguiças Barreirinhas**
Resex do Ciriaco Federal Cidelândia US 7.050 Decreto 534 de 20/05/1992
Imperatriz
Resex de Cururupu Federal Cururupu US 185.046 Decreto de 02/06/2004
Serrano do Maranhão
Resex Marinha do Delta do Federal Araioses US 27.022 Decreto de 16/11/2000
Parnaíba
Resex da Mata Grande Federal Imperatriz US 10.450 Decreto 532 de 20/05/1992
João Lisboa
Resex do Quilombo Frexal Federal Mirinzal US 9.542 Decreto 536 de 20/05/1992
MATO GROSSO
Unidades de Conservação
Instituto Socioambiental, novembro/2004
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Esec de Iquê Federal Juína PI 200.000 Decreto 86.061 de 02/06/1981
Esec do Rio Madeirinha Estadual Aripuanã PI 13.683 Lei 7.163 de 23/08/1999
Esec Rio Ronuro Estadual Nova Ubiratã PI 131.795 Decreto 2.207 de 23/04/1998
Esec do Rio Roosevelt Estadual Aripuanã PI 53.001 Lei 7.162 de 23/08/1999
Esec Serra das Araras Federal Cáceres PI 28.700 Decreto 87.222 de 31/05/1982
Porto Estrela
Esec de Taiamã Federal Poconé PI 11.200 Decreto 86.061 de 02/06/1981
Parna da Chapada dos Guimarães Federal Chapada dos Guimarães PI 33.000 Decreto 97.656 de 12/04/1989
Cuiabá
Parna do Pantanal Mato-Grossense Federal Poconé PI 135.000 Decreto 86.392 de 24/09/1981
PES Águas Quentes Estadual Santo Antônio do Leverger PI 1.487 Decreto 1.240 de 13/01/1978
PES do Araguaia Estadual Cocalinho PI 230.000 Lei 7.517 de 28/09/2001
PES Cristalino Estadual Alta Floresta PI 66.900 Lei 7.518 de 28/09/2001
Novo Mundo
PES Dom Osório Stoffel Estadual Rondonópolis PI 6.422 Decreto 5.437 de 12/11/2002
PES Gruta da Lagoa Azul Estadual Nobres PI 12.513 Lei 7.369 de 20/12/2000
PES do Guirá Estadual Cáceres PI 100.000 Lei 7.625 de 15/01/2002
PES Igarapés do Juruena Estadual Aripuanã PI 227.817 Decreto 5.438 de 12/11/2002
Cotriguaçu
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
PES Mãe Bonifácia Estadual Cuiabá PI 77 Decreto 1.470 de 28/09/2001
PES Massairo Okamura Estadual Cuiabá PI 54 Lei 7.313 de 01/09/2000
PES da Serra Azul Estadual Barra do Garças PI 11.002 Lei 6.439 de 31/05/1994
PES Serra de Santa Bárbara Estadual Pontes e Lacerda PI 157.151 Lei 7.165 de 23/08/1999
Porto Esperidião
PES Serra Ricardo Franco Estadual Vila Bela da PI 158.621 Decreto 1.796 de 04/11/1997
Santíssima Trindade
PES Tucumã Estadual Aripuanã PI 66.475 Decreto 5.439 de 12/11/2002
PES do Xingu Estadual São José do Xingu PI 134.463 Decreto 3.585 de 07/12/2001
Resec Apiacás Estadual Apiacás PI 100.000 Lei 6.464 de 01/06/1994
Resec do Culuene Estadual Novo São Joaquim PI 3.900 Decreto 1.387 de 10/01/1989
Paranatinga
RVS Corixão da Mata Azul Estadual Cocalinho PI 40.000 Lei 7.519 de 28/09/2001
RVS Quelônios do Araguaia Estadual Cocalinho PI 60.000 Lei 7.520 de 28/09/2001
APA das Cabeceiras do Estadual Nobres US 473.411 Lei 7.161 de 23/08/1999
Rio Cuiabá Nova Brasilândia**
APA da Chapada dos Guimarães Estadual Campo Verde US 251.848 Decreto 537 de 21/11/1995
Chapada dos Guimarães**
APA dos Meandros do Rio Federal Cocalinho US 357.126 Decreto de 02/10/1998
Araguaia
APA Pé da Serra Azul Estadual Barra do Garças US 7.980 Lei 6.436 de 27/05/1994
APA Salto Magessi Estadual Sorriso US 7.846 Lei 7.871 de 20/12/2002
Resex Guariba-Roosevelt Estadual Aripuanã US 57.630 Lei 7.164 de 23/08/1999
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Monat da Gruta do Lago Azul Estadual Bonito PI *273 Decreto 10.394 de 11/06/2001
Monat do Rio Formoso Estadual Bonito PI 3 Decreto 11.453 de 23/10/2003
Parna de Ilha Grande Federal Eldorado PI 78.875 Decreto de 30/09/1997
Itaquiraí**
Parna da Serra da Bodoquena Federal Bodoquena PI 76.481 Decreto de 21/09/2000
Bonito**
PES das Matas do Segredo Estadual Campo Grande PI 178 Decreto 9.935 de 05/06/2000
PES das Nascentes do Estadual Alcinópolis PI 30.619 Decreto 9.662 de 09/10/1999
Rio Taquari Costa Rica
PES do Pantanal do Rio Negro Estadual Aquidauana PI 78.303 Decreto 9.941 de 05/06/2000
Corumbá
PES do Prosa Estadual Campo Grande PI 135 Decreto 1.229 de 18/09/1981
PES da Serra de Sonora Estadual Sonora PI 7.914 Decreto 10.513 de 08/10/2001
PES do Rio Ivinhema Estadual Jateí PI 73.345 Decreto 9.278 de 17/12/1998
Naviraí**
APA Estrada-Parque de Estadual Aquidauana US 10.108 Decreto 9.937 de 05/06/2000
Piraputanga Dois Irmãos do Buriti
APA das Ilhas e Várzeas do Federal Itaquiraí US 1.003.059 Decreto de 30/09/1997
Rio Paraná Mundo Novo**
APA Rio Cênico Rotas Estadual Camapuã US 15.441 Decreto 9.934 de 05/06/2000
Monçoeiras Coxim
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Esec de Acauã Estadual Leme do Prado PI 5.196 Decreto 16.580 de 23/09/1974
Minas Novas**
Esec de Corumbá Estadual Arcos PI 304 Decreto 16.580 de 23/09/1974
Esec de Fechos Estadual Nova Lima PI 603 Decreto 36.073 de 27/09/1994
Esec Mar de Espanha Estadual Mar de Espanha PI 187 Decreto 16.580 de 23/09/1974
Esec da Mata do Cedro Estadual Carmópolis de Minas PI 1.087 Decreto 41.514 de 28/12/2000
Esec de Mata dos Ausentes Estadual Senador Modestino PI 490 Decreto 16.580 de 23/09/1974
Gonçalves
Esec de Pirapitinga Federal Morada Nova de Minas PI 1.090 Decreto 94.656 de 20/07/1987
Esec de Sagarana Estadual Arinos PI 2.340 Decreto de 21/10/2003
Esec do Tripuí Estadual Ouro Preto PI 337 Decreto 19.157 de 24/04/1978
Parna do Caparaó Federal Caparaó PI 31.853 Decreto 50.646 de 24/05/1961
Espera Feliz**
Parna Cavernas do Peruaçu Federal Itacarambi PI 56.800 Decreto de 21/09/1999
Parna Grande Sertão Veredas Federal Chapada Gaúcha PI 231.000 Decreto 97.658 de 12/04/1989
Formoso
Parna de Itatiaia Federal Bocaina de Minas PI 30.000 Decreto 1.713 de 14/06/1937
Itamonte
Parna das Sempre-Vivas Federal Bocaiúva PI 124.000 Decreto de 13/12/2002
Buenópolis**
Parna da Serra da Canastra Federal São Roque de Minas PI 200.000 Decreto 70.355 de 03/04/1972
Delfinópolis**
Parna da Serra do Cipó Federal Morro do Pilar PI 33.800 Decreto 90.223 de 25/09/1984
Jaboticatubas**
PES do Biribiri Estadual Diamantina PI 16.999 Decreto 39.909 de 22/09/1998
PES de Grão Mogol Estadual Grão Mogol PI 33.325 Decreto 39.906 de 22/09/1998
PES do Ibitipoca Estadual Lima Duarte PI 1.488 Lei 6.126 de 04/07/1973
Santa Rita de Ibitipoca
PES do Itacolomi Estadual Mariana PI 7.543 Lei 4.495 de 14/06/1967
Ouro Preto
PES da Lagoa do Cajueiro Estadual Matias Cardoso PI 20.500 Decreto 39.954 de 08/10/1998
PES da Mata Seca Estadual Itacarambi PI 10.281 Decreto 41.479 de 20/12/2000
Manga
PES de Nova Baden Estadual Lambari PI 353 Decreto 16.580 de 23/09/1974
PES do Pico do Itambé Estadual Santo Antônio do Itambé PI 4.696 Decreto 39.398 de 21/01/1998
Serro**
PES do Rio Corrente Estadual Açucena PI 5.065 Decreto 40.168 de 17/12/1998
PES do Rio Doce Estadual Timóteo PI 35.970 Decreto-Lei 1.119 de 14/07/1944
PES do Rio Preto Estadual São Gonçalo do Rio Preto PI 10.755 Decreto 35.611 de 01/06/1994
PES Serra da Candonga Estadual Guanhães PI 3.303 Decreto 40.170 de 17/12/1998
PES da Serra das Araras Estadual Chapada Gaúcha PI 11.137 Decreto 39.400 de 21/01/1998
PES da Serra do Brigadeiro Estadual Araponga PI 13.210 Decreto 38.319 de 27/09/1996
Fervedouro**
PES da Serra do Papagaio Estadual Alagoa PI 22.917 Decreto 39.793 de 05/08/1998
Baependi**
PES da Serra do Rola Moça Estadual Belo Horizonte PI 3.941 Decreto 36.071 de 27/09/1994
Brumadinho**
PES da Serra Negra Estadual Itamarandiba PI 13.654 Decreto 39.907 de 22/09/1998
PES de Serra Nova Estadual Rio Pardo de Minas PI 12.658 Decreto de 21/10/2003
PES de Sete Salões Estadual Conselheiro Pena PI 12.521 Decreto 39.908 de 22/09/1998
Santa Rita do Itueto**
PES do Verde Grande Estadual Matias Cardoso PI 25.570 Decreto 39.953 de 08/10/1998
PES Veredas do Peruaçu Estadual Cônego Marinho PI 30.702 Decreto 36.070 de 27/09/1994
Rebio Carmo da Mata Estadual Carmo da Mata PI 86 Decreto 16.580 de 23/09/1974
Rebio da Cascata Estadual Patos de Minas PI 64 Decreto 16.580 de 23/09/1974
Rebio Colônia 31 de Março Estadual Felixlândia PI 5.033 Decreto 16.580 de 23/09/1974
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Rebio Fazenda da Lajinha Estadual Leopoldina PI 68 Decreto 16.580 de 23/09/1974
Rebio Fazenda São Mateus Estadual Ponte Nova PI 377 Decreto 16.580 de 23/09/1974
Rebio da Mata Escura Federal Almenara PI 50.890 Decreto de 05/06/2003
Jequitinhonha
Rebio Santa Rita Estadual Prudente de Morais PI *** Decreto 16.580 de 23/09/1974
Santa Rita do Sapucaí
Rebio São Sebastião Paraíso Estadual São Sebastião do Paraíso PI 248 Decreto 16.580 de 23/09/1974
Rebio da Serra Azul Estadual Jaíba PI 7.285 Decreto 39.950 de 08/10/1998
Rebio Sete Lagoas Estadual Sete Lagoas PI Decreto 16.580 de 23/09/1974
APA Águas Vertentes Estadual Couto de Mag. de Minas US 76.310 Decreto 39.399 de 21/01/1998
Serra Azul de Minas**
APA Bacia Hidrográfica do Estadual Alfenas US 101.600 Lei 13.373 de 30/11/1999
Rio Machado Campestre**
APA Bacia Hidrográfica do Estadual Uberaba US 46.300 Lei 13.183 de 20/01/1999
Rio Uberaba Uberlândia
APA Cachoeira das Andorinhas Estadual Ouro Preto US 18.700 Decreto 30.264 de 16/10/1989
APA da Cachoeira do Tombo Estadual Salto da Divisa US *** Lei 13.370 de 30/11/1999
da Fumaça
APA Carste de Lagoa Santa Federal Lagoa Santa US 35.600 Decreto 98.881 de 25/01/1990
Pedro Leopoldo**
APA Cavernas do Peruaçu Federal Bonito de Minas US 143.866 Decreto 98.182 de 26/09/1989
Cônego Marinho**
APA Fazenda Capitão Eduardo Estadual Belo Horizonte US 260 Lei 13.958 de 26/07/2001
APA Fernão Dias Estadual Brasópolis US 180.373 Decreto 38.925 de 17/07/1997
Camanducaia**
APA Lagedão Estadual Matias Cardoso US 12.000 Decreto 39.951 de 08/10/1998
APA das Lagoas Marginais Estadual Rio Doce US *** Lei 11.832 de 06/07/1995
do Rio Doce Rio Piracicaba**
APA Mata do Krambeck Estadual Juiz de Fora US 374 Lei 10.943 de 27/11/1992
APA Morro da Pedreira Federal Conceição do Mato Dentro US 66.200 Decreto 98.891 de 26/01/1990
Itabira**
APA do Rio Pandeiros Estadual Bonito de Minas US 210.000 Lei 11.901 de 01/09/1995
APA Seminário Menor de Mariana Estadual Mariana US 350 Decreto 23.564 de 11/05/1984
APA Serra da Mantiqueira Federal Aiuruoca US 422.873 Decreto 87.561 de 13/09/1982
Alagoa**
APA Serra de São José Estadual Coronel Xavier Chaves US 4.758 Decreto 30.934 de 16/02/1990
Prados**
APA Serra do Sabonetal Estadual Itacarambi US 82.500 Decreto 39.952 de 08/10/1999
Jaíba**
APA Sul RMBH Estadual Barão de Cocais US 163.000 Decreto 35.624 de 08/06/1994
Belo Horizonte**
FES do Uaimii Estadual Ouro Preto US 4.398 Decreto de 21/10/2003
Flona de Paraopeba Federal Paraopeba US 200 Decreto 1.175 de 10/08/1950
Flona Passa Quatro Federal Passa Quatro US 348 Portaria 141 de 20/02/1968
Flona de Ritápolis Federal Ritápolis US 90 Decreto de 21/09/1999
RDS Veredas do Acari Estadual Chapada Gaúcha US 60.975 Decreto de 21/10/2003
Urucuia
PARÁ
Unidades de Conservação
Instituto Socioambiental, novembro/2004
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Esec do Jari Federal Almeirim PI 227.126 Decreto 87.092 de 12/04/1982
Parna da Amazônia Federal Aveiro PI 864.047 Decreto 73.683 de 19/02/1974
Itaituba
PES de Belém Estadual Ananindeua PI 1.300 Decreto 1.552 de 03/05/1993
Belém
PES Monte Alegre Estadual Monte Alegre PI 5.800 Lei 6.412 de 09/11/2001
PES Serra dos Martírios/ Estadual São Geraldo do Araguaia PI 24.897 Lei 5.982 de 25/07/1996
Andorinhas
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Rebio do Rio Trombetas Federal Oriximiná PI 385.000 Decreto 84.018 de 21/09/1979
Rebio do Tapirapé Federal Marabá PI 103.000 Decreto 97.719 de 05/05/1989
São Félix do Xingu
APA Algodoal-Maiandeua Estadual Maracanã US 2.378 Lei 5.621 de 27/11/1990
APA Arquipélago do Marajó Estadual Afuá US 5.998.570 Constituição, art. 13, parágrafo
Anajás** 2º, de 05/10/1989
APA do Igarapé Gelado Federal Parauapebas US 21.600 Decreto 97.718 de 05/05/1989
APA da Ilha do Combú Estadual Belém US 1.500 Lei 6.083 de 13/11/1997
APA do Lago de Tucuruí Estadual Breu Branco US 568.667 Lei 6.451 de 08/04/2002
Goianésia do Pará**
APA Mananciais de Abastecimen- Estadual Ananindeua US 7.500 Decreto 1.551 de 03/05/1993
to de Água de Belém Belém
APA Paytuna Estadual Monte Alegre US 56.129 Lei 6.426 de 17/12/2001
APA de São Geraldo do Araguaia Estadual São Geraldo do Araguaia US 29.655 Lei 5.983 de 25/07/1996
Flona de Altamira Federal Itaituba US 689.012 Decreto 2.483 de 02/02/1998
Flona de Carajás Federal Marabá US 411.949 Decreto 2.486 de 02/02/1998
Flona de Caxiuana Federal Melgaço US 200.000 Decreto 239 de 28/11/1961
Portel
Flona do Itacaiunas Federal Marabá US 141.400 Decreto 2.480 de 02/02/1998
São Félix do Xingu
Flona de Itaituba I Federal Itaituba US 220.034 Decreto 2.481 de 02/02/1998
Flona de Itaituba II Federal Itaituba US 440.500 Decreto 2.482 de 02/02/1998
Flona de Mulata Federal Alenquer US 212.751 Decreto de 01/08/2001
Monte Alegre
Flona de Saracá-Taquera Federal Oriximiná US 429.600 Decreto 98.704 de 27/12/1989
Flona do Tapajós Federal Santarém US 600.000 Decreto 73.684 de 19/02/1974
Belterra**
Flona do Tapirapé-Aquiri Federal Marabá US 190.000 Decreto 97.720 de 05/05/1989
Flona do Xingu Federal Altamira US 252.790 Decreto 2.484 de 02/02/1998
RDS do Alcobaça Estadual Novo Repartimento US 36.128 Lei 6.451 de 08/04/2002
Tucuruí
RDS do Pucuruí-Ararão Estadual Novo Repartimento US 29.049 Lei 6.451 de 08/04/2002
Tucuruí
Resex Chocoaré - Mato Grosso Federal Santarém Novo US 2.786 Decreto de 13/12/2002
Resex Mãe Grande de Curuçá Federal Curuçá US 37.062 Decreto de 13/12/2002
Resex Maracanã Federal Maracanã US 30.019 Decreto de 13/12/2002
Resex Marinha de Soure Federal Soure US 27.464 Decreto de 22/11/2001
Resex Riozinho do Anfrísio Federal Altamira US 736.340 Decreto de 08/11/2004
Resex de São João da Ponta Federal São João da Ponta US 3.203 Decreto de 13/12/2002
Resex Tapajós-Arapiuns Federal Aveiro US 647.611 Decreto de 06/11/1998
Santarém
Resex Verde para Sempre Federal Porto de Móz US 1.288.717 Decreto de 08/11/2004
PARAÍBA
Unidades de Conservação
Instituto Socioambiental, novembro/2004
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
PES Marinho de Areia Vermelha Estadual Cabedelo PI 231 Decreto 21.263 de 07/02/2000
PES Mata do Xém-Xém Estadual Bayeux PI 182 Decreto 21.262 de 07/02/2000
PES da Pedra da Boca Estadual Araruna PI 157 Decreto 20.889 de 07/02/2000
PES Pico do Jabre Estadual Mãe d’Água PI 500 Decreto 14.834 de 19/10/1992
Maturéia**
Rebio Guaribas Federal Mamanguape PI 4.321 Decreto 98.884 de 25/01/1990
Rebio Guaribas Federal Rio Tinto PI 4.321 Decreto 98.884 de 25/01/1990
Resec da Mata do Pau Ferro Estadual Areia PI 607 Decreto 14.832 de 19/10/1992
APA da Barra do Rio Mamanguape Federal Lucena US 14.640 Decreto 924 de 10/09/1993
Marcação**
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Arie Manguezais da Foz do Federal Marcação US 5.721 Decreto 91.890 de 05/11/1985
Rio Mamanguape Rio Tinto
Flona da Restinga de Cabedelo Federal Cabedelo US 103 Decreto de 02/06/2004
PARANÁ
Unidades de Conservação
Instituto Socioambiental, novembro/2004
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Esec Caiuá Estadual Diamante do Norte PI 1.427 Decreto 4.263 de 21/11/1994
Esec Guaraguaçu Estadual Paranaguá PI 1.150 Decreto 1.230 de 27/03/1992
Esec Guaraqueçaba Federal Guaraqueçaba PI *6.109 Decreto 87.222 de 31/05/1982
Esec Ilha do Mel Estadual Paranaguá PI 2.241 Decreto 5.454 de 21/09/1982
Parna Iguaçu Federal Céu Azul PI 185.263 Decreto 1.035 de 10/01/1939
Foz do Iguaçu**
Parna Saint-Hilaire/Lange Federal Guaratuba PI 25.000 Lei 10.227 de 23/05/2001
Paranaguá**
Parna Superagui Federal Guaraqueçaba PI 33.928 Decreto 97.688 de 25/04/1989
PES Araucárias Estadual Bituruna PI 1.052 Decreto 4.800 de 21/09/1998
Palmas
PES Boguaçu Estadual Guaratuba PI 6.052 Decreto 4.056 de 26/02/1998
PES Bosque das Araucárias Estadual União da Vitória PI 236 Decreto 2.319 de 11/06/1996
PES Campinhos Estadual Tunas do Paraná PI 337 Decreto 31.013 de 25/07/1960
Cerro Azul
PES Cerrado Estadual Jaguariaíva PI 420 Decreto 1.232 de 27/03/1992
PES Graciosa Estadual Morretes PI 1.190 Decreto 7.302 de 24/09/1990
PES Guartelá Estadual Castro PI 799 Decreto 1.229 de 23/03/1992
Tibagi
PES Ilha do Mel Estadual Paranaguá PI 338 Decreto 5.506 de 21/03/2002
PES Lago Azul Estadual Campo Mourão PI 1.749 Decreto 3.256 de 30/06/1997
Luiziana
PES Lauráceas Estadual Adrianópolis PI 27.524 Decreto 729 de 04/06/1979
Tunas do Paraná
PES Mata dos Godoy Estadual Londrina PI 676 Decreto 5.150 de 05/06/1989
PES Mata São Francisco Estadual Cornélio Procópio PI 833 Decreto 4.333 de 05/12/1994
Santa Mariana
PES Pau-Oco Estadual Morretes PI 906 Decreto 4.266 de 21/11/1994
PES Pico do Marumbi Estadual Morretes PI 2.342 Decreto 7.300 de 24/09/1990
PES Pico Paraná Estadual Antonina PI 4.334 Decreto 5.769 de 05/06/2002
Campina Grande do Sul
PES Professor José Wachowicz Estadual Araucária PI 119 Decreto 5.766 de 05/06/2002
PES Roberto Ribas Lange Estadual Antonina PI 2.699 Decreto 4.267 de 21/11/1994
Morretes
PES Serra da Baitaca Estadual Piraquara PI 3.053 Decreto 5.765 de 05/06/2002
Quatro Barras
PES de Vila Rica do Espírito Estadual Fênix PI 354 Decreto 17.790 de 17/06/1955
Santo
PES de Vila Velha Estadual Ponta Grossa PI 3.803 Decreto 1.292 de 12/10/1953
Rebio de São Camilo Estadual Palotina PI 385 Decreto 6.595 de 22/02/1990
APA Escarpa Devoniana Estadual Arapoti US 392.363 Decreto 1.231 de 27/03/1992
Araucária**
APA Guaraqueçaba Estadual Guaraqueçaba US 191.596 Decreto 1.228 de 27/03/1992
APA de Guaraqueçaba Federal Antonina US 283.014 Decreto 90.883 de 31/01/1985
Guaraqueçaba**
APA Guaratuba Estadual Guaratuba US 199.587 Decreto 1.234 de 27/03/1992
São José dos Pinhais**
APA das Ilhas e Várzeas do Federal Diamante do Norte US 1.003.059 Decreto de 30/09/1997
Rio Paraná Icaraíma**
APA do Iraí Estadual Antonina US 11.536 Decreto 1.753 de 06/05/1996
Campina Grande do Sul**
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
APA do Passaúna Estadual Almirante Tamandaré US 16.020 Decreto 458 de 05/06/1991
Araucária**
APA do Pequeno Estadual São José dos Pinhais US 6.200 Decreto 1.752 de 06/05/1996
APA Piraquara Estadual Piraquara US 8.881 Decreto 1.754 de 06/05/1996
APA Serra da Esperança Estadual Cruz Machado US 206.556 Lei 9.905 de 27/01/1992
Guarapuava**
Arie Buriti Estadual Pato Branco US 82 Decreto 7.456 de 27/11/1990
Arie Cabeça do Cachorro Estadual São Pedro do Iguaçu US 61 Decreto 7.456 de 27/11/1990
Toledo
Arie de Pinheiro e Pinheirinho Federal Guaraqueçaba US 109 Decreto 91.888 de 05/11/1985
Arie São Domingos Estadual Roncador US 164 Decreto 7.456 de 27/11/1990
Arie Serra do Tigre Estadual Mallet US 33 Decreto 7.456 de 27/11/1990
FES Córrego da Biquinha Estadual Tibagi US 23 Decreto 4.265 de 21/11/1994
FES do Palmito Estadual Paranaguá US 530 Decreto 4.493 de 17/06/1998
Pontal do Paraná
FES do Passa Dois Estadual Lapa US 276 Decreto 6.594 de 23/02/1990
FES de Santana Estadual Mallet US 61 Decreto 4.264 de 21/11/1994
Paulo Frontin
Flona de Açungui Federal Campo Largo US 729 Portaria 559 de 25/10/1968
Flona de Irati Federal Teixeira Soares US 3.495 Portaria 559 de 25/10/1968
Flona de Piraí do Sul Federal Piraí do Sul US 125 Decreto de 02/06/2004
PERNAMBUCO
Unidades de Conservação
Instituto Socioambiental, novembro/2004
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
APA Área Estuarina dos Rios Estadual Ipojuca US 3.335 Lei 9.931 de 11/12/1986
Sirinhaém e Maracaipe Sirinhaém
APA do Arquipélago Fernando Estadual Recife US *** Decreto 13.553 de 07/04/1989
de Noronha
APA Chapada do Araripe Federal Araripina US 1.063.000 Decreto de 04/08/1997
Bodocó**
APA da Costa dos Corais Federal Barreiros US 413.563 Decreto de 23/10/1997
Rio Formoso**
APA de Fernando de Noronha - Federal Fernando de Noronha US 93.000 Decreto 92.775 de 05/06/1986
Rocas - São Pedro e (Distrito estadual)
São Paulo
APA de Guadalupe Estadual Barreiros US 44.799 Decreto 19.635 de 13/03/1997
Rio Formoso**
APA de Sirinhaém Estadual Rio Formoso US 6.589 Decreto 21.229 de 28/12/1998
Sirinhaém
PIAUÍ
Unidades de Conservação
Instituto Socioambiental, novembro/2004
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Esec Uruçuí-Una Federal Baixa Grande do Ribeiro PI 135.000 Decreto 86.061 de 02/06/1981
Parna das Nascentes do Rio Federal Barreiras do Piauí PI 729.814 Decreto de 16/07/2002
Parnaíba São Gonçalo do Gurguéia**
Parna da Serra da Capivara Federal João Costa PI 100.000 Decreto 83.548 de 05/06/1979
São Raimundo Nonato**
Parna da Serra das Confusões Federal Guaribas PI 502.411 Decreto de 02/10/1999
Canto do Buriti**
Parna de Sete Cidades Federal Brasileira PI 7.700 Decreto 50.744 de 08/06/1961
Piracuruca
Resex Marinha do Delta do Federal Ilha Grande US 27.022 Decreto de 16/11/2000
Parnaíba
APA da Cachoeira do Urubu Estadual Batalha US 3.063 Decreto 9.736 de 16/06/1997
Esperantina
APA Chapada do Araripe Federal Padre Marcos US 1.063.000 Decreto de 04/08/1997
Paulistana**
APA Delta do Parnaíba Federal Cajueiro da Praia US 313.800 Decreto de 28/08/1996
Ilha Grande**
APA do Delta do Rio Parnaíba Estadual Luís Correia US *22.252 Decreto 8.924 de 04/06/1993
Parnaíba
APA da Lagoa de Nazaré Estadual Nazaré do Piauí US Decreto 8.923 de 04/06/1993
São Francisco do Piauí
APA Serra da Ibiapaba Federal Pedro II US 1.592.550 Decreto de 26/11/1996
Piracuruca**
APA da Serra das Mangabeiras Estadual Barreiras do Piauí US 96.743 Decreto 5.329 de 18/02/1983
RIO DE JANEIRO
Unidades de Conservação
Instituto Socioambiental, novembro/2004
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Esec do Paraíso Estadual Cachoeiras de Macacu PI 4.920 Decreto 9.803 de 12/03/1987
Guapimirim**
Esec de Tamoios Federal Angra dos Reis PI 8.450 Decreto 98.864 de 23/01/1990
Parati
Parna de Itatiaia Federal Itatiaia PI 30.000 Decreto 1.713 de 14/06/1937
Resende
Parna da Restinga de Jurubatiba Federal Carapebus PI 14.860 Decreto de 29/04/1998
Quissamã**
Parna Serra da Bocaina Federal Angra dos Reis PI 100.000 Decreto 68.172 de 04/02/1971
Parati
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Parna da Serra dos Órgãos Federal Guapimirim PI 11.800 Decreto-Lei 1.822 de 30/11/1939
Petrópolis**
Parna da Tijuca Federal Rio de Janeiro PI 3.200 Decreto 50.923 de 06/07/1961
PES do Desengano Estadual Santa Maria Madalena PI 22.400 Decreto-Lei 250 de 13/04/1970
São Fidélis
PES do Grajaú Estadual Rio de Janeiro PI 55 Decreto 1.921 de 22/06/1978
PES da Ilha Grande Estadual Angra dos Reis PI 5.594 Decreto 15.273 de 28/06/1971
PES Marinho do Aventureiro Estadual Angra dos Reis PI 1.312 Decreto 15.983 de 27/11/1990
PES da Pedra Branca Estadual Rio de Janeiro PI 12.500 Decreto 2.377 de 28/06/1974
PES da Serra da Tiririca Estadual Maricá PI 2.400 Lei 1.901 de 29/11/1991
Niterói
PES dos Três Picos Estadual Guapimirim PI 46.350 Decreto 31.343 de 05/06/2002
Nova Friburgo**
Rebio e Arqueológica de Guaratiba Estadual Rio de Janeiro PI 3.600 Decreto 7.549 de 20/11/1974
Rebio de Poço das Antas Federal Silva Jardim PI 5.000 Decreto 73.791 de 11/03/1974
Rebio de Praia do Sul Estadual Angra dos Reis PI 3.600 Decreto 4.972 de 02/12/1981
Rebio Tinguá Federal Duque de Caxias PI 26.000 Decreto 97.780 de 23/05/1989
Nova Iguaçu**
Rebio União Federal Casimiro de Abreu PI 3.126 Decreto de 22/04/1998
Macaé**
Resec Jacarepiá Estadual Saquarema PI 1.267 Decreto 9.529-A de 15/12/1986
Resec da Juatinga Estadual Parati PI 8.000 Decreto 17.981 de 30/01/1992
APA da Bacia do Rio São Federal Silva Jardim US 150.700 Decreto de 27/06/2002
João/Mico-Leão-Dourado Casimiro de Abreu**
APA Cairuçu Federal Parati US 33.800 Decreto 89.242 de 27/12/1983
APA Floresta do Jacarandá Estadual Teresópolis US 2.700 Decreto 8.280 de 23/07/1985
APA de Guapi-Mirim Federal Guapimirim US 14.340 Decreto 90.225 de 25/09/1984
São Gonçalo**
APA da Ilha do Camembê Estadual Rio de Janeiro US *** Lei 2.195 de 17/12/1993
APA de Macaé de Cima Estadual Nova Friburgo US 35.037 Decreto 29.205 de 14/09/2001
APA de Mangaratiba Estadual Itaguaí US 22.936 Decreto 9.802 de 12/03/1987
Mangaratiba
APA de Maricá Estadual Maricá US 500 Decreto 7.230 de 23/04/1984
APA Massambaba Estadual Araruama US 7.631 Decreto 9.529 C de 15/12/1986
Arraial do Cabo**
APA do Pau Brasil Estadual Cabo Frio US 9.940 Decreto 31.346 de 07/06/2002
APA da Região Serrana Federal Duque de Caxias US 59.049 Decreto 87.561 de 13/09/1982
de Petrópolis Petrópolis**
APA do Rio Guandu Estadual Nova Iguaçu US *** Lei 3.760 de 07/01/2002
APA do Rio Macacu Estadual Cachoeiras de Macacu US *** Lei 4.018 de 05/12/2002
Itaboraí**
APA Serra da Mantiqueira Federal Resende US 422.873 Decreto 87.561 de 13/09/1982
APA da Serra de Sapiatiba Estadual Iguaba Grande US 6.000 Decreto 15.136 de 20/07/1990
São Pedro da Aldeia
APA de Tamoios Estadual Angra dos Reis US 21.400 Decreto 9.452 de 05/12/1986
Arie Floresta da Cicuta Federal Barra Mansa US 131 Decreto 90.792 de 09/01/1985
Volta Redonda
Flona Mário Xavier Federal Itaguaí US 493 Decreto 93.369 de 08/10/1986
Seropédica
Resex Marinha do Arraial do Cabo Federal Arraial do Cabo US 56.769 Decreto de 03/01/1997
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Rebio do Atol das Rocas Federal Natal PI 36.249 Decreto 83.549 de 05/06/1979
APA Bonfim/Guaraíra Estadual Nísia Floresta US *42.377 Decreto 14.369 de 22/03/1999
Tibau do Sul**
APA Genipabu Estadual Extremoz US 1.881 Decreto 12.620 de 17/05/1995
Natal
APA Piquiri-Una Estadual Canguaretama US *8.433 Decreto 10.683 de 06/06/1990
Espírito Santo**
APA dos Recifes de Corais Estadual Maxaranguape US *152.276 Decreto 15.746 de 06/06/2001
Rio do Fogo**
Flona de Açu Federal Açu US 215 Lei 1.175 de 10/08/1950
Flona de Nísia Floresta Federal Nísia Floresta US 175 Decreto de 27/09/2001
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Esec de Aracuri-Esmeralda Federal Muitos Capões PI 272 Decreto 86.061 de 02/06/1981
Esec Aratinga Estadual São Francisco de Paula PI 5.882 Decreto 37.345 de 11/04/1997
Terra de Areia
Esec do Taim Federal Rio Grande PI 88.304 Decreto 92.963 de 21/07/1986
Santa Vitória do Palmar
Parna de Aparados da Serra Federal Cambará do Sul PI 10.250 Decreto 47.446 de 17/12/1959
Parna da Lagoa do Peixe Federal Mostardas PI 34.400 Decreto 93.546 de 06/11/1986
Tavares
Parna da Serra Geral Federal Cambará do Sul PI 17.300 Decreto 531 de 20/05/1992
São Francisco de Paula
PES Camaquã Estadual Camaquã PI 7.993 Decreto 23.798 de 12/03/1975
PES do Delta do Jacuí Estadual Porto Alegre PI 17.245 Decreto 24.385 de 14/01/1976
Triunfo**
PES de Espigão Alto Estadual Barracão PI 1.332 Decreto 658 de 10/03/1949
PES do Espinilho Estadual Barra do Quaraí PI 1.617 Decreto 23.798 de 12/03/1975
Uruguaiana
PES José Lutzemberger Estadual Torres PI 350 Decreto 21.540 de 28/12/1971
(da Guarita)
PES do Ibitiriá Estadual Bom Jesus PI 415 Decreto 23.798 de 12/03/1975
Vacaria
PES de Itapeva Estadual Torres PI 1.000 Decreto 42.009 de 12/12/2002
PES de Itapuã Estadual Viamão PI 5.567 Decreto 33.886 de 11/03/1991
PES Nonoai Estadual Nonoai PI 17.498 Decreto 658 de 10/03/1949
Planalto
PES Podocarpus Estadual Encruzilhada do Sul PI 364 Decreto 23.798 de 12/03/1975
PES Tainhas Estadual Cambará do Sul PI 4.924 Decreto 23.798 de 12/03/1975
São Francisco de Paula
PES do Turvo Estadual Derrubadas PI 17.491 Decreto 2.312 de 11/03/1947
Três Passos
Rebio do Ibicuí Mirim Estadual Santa Maria PI 575 Decreto 30.930 de 12/11/1982
Rebio de Ibirapuitã Estadual Alegrete PI 351 Decreto 24.622 de 10/06/1976
Rebio Ilhas das Pombas e Estadual Porto Alegre PI *** Decreto 24.385 de 14/01/1976
da Pólvora
Rebio Mata Paludosa Estadual Terra de Areia PI 112 Decreto 38.972 de 24/10/1998
Rebio Mato Grande Estadual Arroio Grande PI 5.161 Decreto 23.798 de 12/03/1975
Rebio de São Donato Estadual Itaqui PI 4.392 Decreto 23.798 de 12/03/1975
Maçambara**
Rebio Scharlau Estadual São Leopoldo PI 50 Decreto 23.798 de 12/03/1975
Rebio da Serra Geral Estadual Maquiné PI 4.846 Decreto 30.788 de 27/07/1982
Terra de Areia
Resec Ilha dos Lobos Federal Torres PI 2 Decreto 88.463 de 04/07/1983
RVS Banhado dos Pachecos Estadual Viamão PI 2.543 Decreto 41.559 de 24/04/2002
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
APA do Banhado Grande Estadual Glorinha US 100.000 Decreto 38.971 de 23/10/1998
Gravataí**
APA do Ibirapuitã Federal Alegrete US 318.000 Decreto 529 de 20/05/1992
Santana do Livramento**
APA Rota do Sol Estadual São Francisco de Paula US 52.355 Decreto 37.346 de 11/04/1997
Terra de Areia**
Flona de Canela Federal Canela US 518 Portaria 561 de 25/10/1968
Flona Passo Fundo Federal Passo Fundo US 1.358 Portaria 561 de 25/10/1968
Flona de São Francisco de Paula Federal São Francisco de Paula US 2.607 Portaria 561 de 25/10/1968
RONDÔNIA
Unidades de Conservação
Instituto Socioambiental, novembro/2004
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Esec Antonio Mujica Nava Estadual Porto Velho PI 18.281 Decreto 7.635 de 07/11/1996
Esec de Cuniã Federal Porto Velho PI 53.221 Decreto de 27/09/2001
Esec de Samuel Estadual Candeias do Jamari PI 71.061 Decreto 4.247 de 18/07/1989
Porto Velho
Esec Serra dos Três Irmãos Estadual Porto Velho PI 99.813 Decreto 4.584 de 28/03/1990
Parna Pacaás Novos Federal Alvorada d’Oeste PI 764.801 Decreto 84.019 de 21/09/1979
Campo Novo de Rondônia**
Parna Serra da Cutia Federal Guajará-Mirim PI 283.612 Decreto de 01/08/2001
PES do Candeias Estadual Porto Velho PI 8.985 Decreto 4.572 de 23/03/1990
PES de Corumbiara Estadual Cerejeiras PI 384.055 Decreto 4.576 de 23/05/1990
Corumbiara
PES de Guajará-Mirim Estadual Guajará-Mirim PI 216.568 Decreto 4.575 de 23/03/1990
Nova Mamoré
PES Serra dos Parecis Estadual Alta Floresta d’Oeste PI 38.950 Decreto 4.570 de 23/03/1990
PES Serra dos Reis Estadual Costa Marques PI 36.442 Decreto 7.027 de 08/08/1995
São Francisco do Guaporé
PES Serra dos Reis A Estadual Costa Marques PI 2.244 Decreto 7.637 de 07/11/1996
Rebio do Guaporé Federal Alta Floresta d’Oeste PI 600.000 Decreto 87.587 de 20/09/1982
São Francisco do Guaporé
Rebio do Jaru Federal Ji-Paraná PI 268.150 Decreto 83.716 de 11/07/1979
Vale do Anari
Rebio do Rio Ouro Preto Estadual Guajará-Mirim PI 46.438 Decreto 4.580 de 28/03/1990
Rebio do Traçadal Estadual Guajará-Mirim PI 22.540 Decreto 4.583 de 28/03/1990
APA do Rio Madeira Estadual Porto Velho US 6.741 Decreto 5.124 de 06/06/1991
Flona do Bom Futuro Federal Ariquemes US 280.000 Decreto 96.188 de 21/06/1988
Porto Velho
Flona do Jamari Federal Ariquemes US 215.000 Decreto 90.224 de 25/09/1984
Porto Velho
Florex Laranjeiras Estadual Cerejeiras US 30.688 Decreto 4.568 de 23/03/1990
Florex Pacaás Novos Estadual Guajará-Mirim US 353.219 Decreto 4.591 de 03/04/1990
Florex Rio Preto-Jacundá Estadual Machadinho d’Oeste US 1.055.000 Decreto 4.245 de 17/07/1989
Florsu Araras Estadual Cujubim US 965 Decreto 7.605 de 08/10/1996
Florsu Cedro Estadual Machadinho d’Oeste US 2.567 Decreto 7.601 de 08/10/1996
Florsu Gavião Estadual Cujubim US 440 Decreto 7.604 de 08/10/1996
Florsu Mutum Estadual Cujubim US 11.471 Decreto 7.602 de 08/10/1996
Florsu Periquito Estadual Cujubim US 1.163 Decreto 7.606 de 08/10/1996
Florsu do Rio Abunã Estadual Porto Velho US 62.219 Decreto 4.577 de 23/03/1994
Florsu do Rio Machado Estadual Porto Velho US 175.781 Decreto 4.571 de 23/03/1990
Florsu do Rio Madeira (A) Estadual Porto Velho US 63.812 Decreto 4.574 de 23/03/1990
Florsu do Rio Madeira (B) Estadual Porto Velho US 51.856 Decreto 7.600 de 08/10/1996
Florsu do Rio Madeira (C) Estadual Porto Velho US 30.000 Decreto 4.697 de 06/06/1990
Florsu do Rio Mequéns Estadual Cerejeiras US 425.844 Decreto 4.573 de 23/03/1990
Colorado do Oeste
RORAIMA
Unidades de Conservação
Instituto Socioambiental, novembro/2004
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Esec de Caracaraí Federal Caracaraí PI 80.560 Decreto 87.222 de 31/05/1982
Esec de Maracá Federal Alto Alegre PI 101.312 Decreto 86.061 de 02/06/1981
Amajari
Esec Niquiá Federal Caracaraí PI 286.600 Decreto 91.306 de 03/06/1985
Parna do Monte Roraima Federal Uiramutã PI 116.000 Decreto 97.887 de 28/06/1989
Parna Serra da Mocidade Federal Caracaraí PI 350.960 Decreto de 29/04/1998
Parna do Viruá Federal Caracaraí PI 227.011 Decreto de 29/04/1998
Flona de Roraima Federal Alto Alegre US 2.664.685 Decreto 97.545 de 01/03/1989
Boa Vista
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Esec de Bracinho Estadual Jaraguá do Sul PI 4.606 Decreto 22.768 de 16/07/1984
Joinville**
Esec de Carijós Federal Florianópolis PI 712 Decreto 94.656 de 20/07/1987
Parna de Aparados da Serra Federal Praia Grande PI 10.250 Decreto 47.446 de 17/12/1959
Parna de São Joaquim Federal Bom Jardim da Serra PI 49.300 Decreto 50.992 de 06/07/1961
Orleans**
Parna da Serra do Itajaí Federal Apiúna PI 57.374 Decreto de 04/06/2004
Ascurra**
Parna da Serra Geral Federal Jacinto Machado PI 17.300 Decreto 531 de 20/05/1992
Praia Grande
PES das Araucárias Estadual São Domingos PI 613 Decreto 293 de 30/05/2003
PES Fritz Plaumann Estadual Concórdia PI 742 Decreto 797 de 24/09/2003
PES da Serra do Tabuleiro Estadual Paulo Lopes PI 87.405 Decreto 1.260 de 01/11/1975
Santo Amaro da Imperatriz**
PES da Serra Furada Estadual Grão Pará PI 1.329 Decreto 11.233 de 20/06/1980
Orleans
Rebio do Aguaí Estadual Meleiro PI 7.673 Decreto 19.635 de 01/07/1983
Nova Veneza**
Rebio da Canela Preta Estadual Botuverá PI 1.899 Decreto 11.232 de 20/06/1980
Nova Trento**
Rebio Marinha do Arvoredo Federal Governador Celso Ramos PI 17.600 Decreto 99.142 de 12/05/1990
Porto Belo**
Rebio do Sassafrás Estadual Benedito Novo PI 5.068 Decreto 2.221 de 04/02/1977
Doutor Pedrinho
APA Anhatomirim Federal Governador Celso Ramos US 3.000 Decreto 528 de 20/05/1992
APA Baleia Franca Federal Garopaba US 156.100 Decreto de 14/09/2000
Laguna**
Arie Serra da Abelha Federal Vitor Meireles US 4.604 Decreto de 28/05/1996
Flona Caçador Federal Caçador US 710 Portaria 560 de 25/10/1968
Flona Chapecó Federal Chapecó US 1.607 Portaria 560 de 25/10/1968
Guatambú
Flona Ibirama Federal Ibirama US 571 Decreto 95.818 de 11/03/1988
Flona Três Barras Federal Três Barras US 4.459 Portaria 560 de 25/10/1968
Resex Marinha do Pirajubaé Federal Florianópolis US 1.444 Decreto 533 de 20/05/1992
SÃO PAULO
Unidades de Conservação
Instituto Socioambiental, novembro/2004
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Esec de Angatuba Estadual Angatuba PI 1.394 Decreto 23.790 de 13/08/1985
Esec de Assis Estadual Assis PI 1.761 Decreto 35.697 de 21/09/1992
Esec de Bananal Estadual Bananal PI 884 Decreto 43.193 de 03/04/1964
Esec Sebastião Aleixo da Silva Estadual Bauru PI 288 Decreto 26.890 de 12/03/1987
(Bauru)
Esec dos Caetetus “Olavo Amaral Estadual Alvinlândia PI 2.179 Decreto 26.718 de 06/02/1987
Ferraz” Gália
Esec dos Chauás Estadual Iguape PI 2.700 Decreto 26.719 de 06/02/1987
Esec de Ibicatu Estadual Piracicaba PI 76 Decreto 26.890 de 12/03/1987
Esec de Itaberá Estadual Itaberá PI 180 Decreto 26.890 de 12/03/1987
Esec de Itapeti Estadual Moji das Cruzes PI 89 Decreto 26.890 de 12/03/1987
Esec de Itapeva Estadual Itapeva PI 107 Decreto 23.791 de 13/08/1985
Esec de Itirapina Estadual Brotas PI 2.300 Decreto 22.335 de 07/06/1984
Itirapina
Esec de Jataí “Conde Joaquim Estadual Luís Antônio PI 9.075 Decreto 18.997 de 15/06/1982
Augusto Ribeiro do Valle”
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Esec Juréia-Itatins Estadual Iguape PI 79.230 Decreto 24.646 de 20/01/1986
Peruíbe**
Esec Mico-Leão-Preto Federal Euclides da Cunha Paulista PI 5.500 Decreto de 16/07/2002
Marabá Paulista**
Esec de Mogi-Guaçu – Prof. Her- Estadual Mogi Guaçu PI 981 Decreto 22.336 de 07/06/1984
mógenes de Freitas L. Filho
Esec do Noroeste Paulista Estadual Mirassol PI 169 Lei 8.316 de 05/06/1993
São José do Rio Preto
Esec de Paranapanema Estadual Paranapanema PI 635 Decreto 37.538 de 27/09/1993
Esec de Paulo de Faria Estadual Paulo de Faria PI 436 Decreto 17.724 de 23/09/1981
Esec de Ribeirão Preto Estadual Ribeirão Preto PI 154 Decreto 22.691 de 13/09/1984
Esec de Santa Bárbara Estadual Águas de Santa Bárbara PI 2.712 Decreto 22.337 de 07/06/1984
Esec de Santa Maria Estadual São Simão PI 113 Decreto 23.792 de 13/08/1985
Esec de São Carlos Estadual São Carlos PI 75 Decreto 26.890 de 12/03/1987
Esec Tupinambás Federal São Sebastião PI 28 Decreto 94.656 de 20/07/1987
Ubatuba
Esec dos Tupiniquins Federal Cananéia PI 43 Decreto 92.964 de 21/07/1986
Peruíbe
Esec de Valinhos Estadual Valinhos PI 17 Decreto 26.890 de 12/03/1987
Esec Xitué Estadual Ribeirão Grande PI 3.095 Decreto 28.153 de 23/04/1957
Parna da Serra da Bocaina Federal São José do Barreiro PI 100.000 Decreto 68.172 de 04/02/1971
Cunha**
PES do Aguapeí Estadual Castilho PI 9.044 Decreto 43.269 de 02/07/1998
Guaraçaí**
PES Alberto Lofgren (Cantareira) Estadual São Paulo PI 174 Lei 10.228 de 26/10/1970
PES de Campos do Jordão Estadual Campos do Jordão PI 8.386 Decreto-Lei 11.908 de
27/05/1941
PES Carlos Botelho Estadual Sete Barras PI 37.644 Decreto 19.499 de 10/09/1982
São Miguel Arcanjo**
PES das Fontes do Ipiranga Estadual São Paulo PI 562 Decreto 52.281 de 12/08/1969
PES das Furnas do Bom Jesus Estadual Pedregulho PI 2.069 Decreto 30.591 de 12/10/1989
PES da Ilha Anchieta Estadual Ubatuba PI 828 Decreto 9.629 de 29/03/1977
PES da Ilha do Cardoso Estadual Cananéia PI 22.500 Decreto 40.319 de 07/07/1962
PES de Ilhabela Estadual Ilhabela PI 27.025 Decreto 9.414 de 20/01/1977
PES Intervales Estadual Eldorado PI 49.000 Decreto 40.135 de 08/06/1995
Iporanga**
PES de Jacupiranga Estadual Barra do Turvo PI 150.000 Decreto-Lei 145 de 08/08/1969
Cananéia**
PES Jaraguá Estadual Osasco PI 493 Decreto 10.877 de 30/12/1939
São Paulo
PES do Juquery Estadual Caieiras PI 1.928 Decreto 36.839 de 05/06/1993
Franco da Rocha
PES do Jurupará Estadual Ibiúna PI 26.250 Decreto 12.185 de 30/08/1978
Piedade
PES dos Mananciais de Campos Estadual Campos do Jordão PI 503 Decreto 37.539 de 27/09/1993
do Jordão
PES Marinho da Laje de Santos Estadual Santos PI 5.000 Decreto 37.537 de 27/09/1993
PES do Morro do Diabo Estadual Teodoro Sampaio PI 33.845 Decreto 12.279 de 29/10/1941
PES Nascentes do Tietê Estadual Salesópolis PI 134.752 Decreto 29.181 de 11/11/1988
PES de Porto Ferreira Estadual Porto Ferreira PI 612 Decreto 40.991 de 06/11/1962
PES Rio do Peixe Estadual Dracena PI 7.720 Decreto 47.095 de 18/09/2002
Ouro Verde**
PES Serra do Mar Estadual Ubatuba PI 315.391 Decreto 10.251 de 30/08/1977
Biritiba-Mirim**
PES Turístico do Alto Ribeira Estadual Iporanga PI 35.884 Decreto 32.283 de 19/05/1958
(PETAR)
PES de Vassununga Estadual Santa Rita do Passa Quatro PI 1.732 Decreto 52.546 de 26/10/1970
PES Xixová-Japuí Estadual Praia Grande PI 901 Decreto 37.536 de 27/09/1993
São Vicente
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Rebio do Alto da Serra de Estadual Santo André PI 336 Decreto-Lei 12.753 de
Paranapiacaba 12/06/1942
Rebio Estação Experimental Estadual Pindorama PI *** Lei 4.960 de 06/01/1986
de Pindorama
Rebio Fazenda Experimental de Estadual Sertãozinho PI *2.372 Lei 4.557 de 17/04/1985
Zootecnia de Sertãozinho
Rebio Mogi-Guaçu Estadual Mogi Guaçu PI 470 Decreto 12.500 de 07/01/1942
APA Rio Batalha Estadual Agudos US *232.652 Decreto 10.773 de 01/03/2001
Bauru**
APA Bairro da Usina Estadual Atibaia US 1.018 Lei 5.280 de 04/09/1986
APA do Banhado Estadual São José dos Campos US *** Lei 11.262 de 08/11/2002
APA Cabreúva Estadual Cabreúva US 26.100 Lei 4.023 de 22/05/1984
APA Cajamar Estadual Cajamar US 13.400 Decreto 4.055 de 04/06/1984
APA Campos do Jordão Estadual Campos do Jordão US 28.800 Lei 4.105 de 26/06/1984
APA Cananéia - Iguape - Peruíbe Federal Cananéia US 202.832 Decreto 90.347 de 23/10/1984
Iguape**
APA Corumbatai, Botucatu Estadual Analândia US 649.256 Decreto 20.960 de 08/06/1983
e Tejupá Angatuba**
APA Haras São Bernardo Estadual Santo André US 35 Decreto 5.745 de 10/07/1987
São Bernardo do Campo
APA Ibitinga Estadual Ibitinga US 64.900 Lei 5.536 de 20/01/1987
APA da Ilha Comprida Estadual Cananéia US 17.527 Decreto 26.881 de 11/03/1987
Iguape
APA Ituparanga Estadual Ibiúna US *** Lei 10.100 de 01/12/1998
Mairinque**
APA Jundiaí Estadual Jundiaí US 43.200 Lei 4.095 de 12/06/1984
APA Mata do Iguatemi Estadual São Paulo US 30 Lei 8.284 de 02/04/1993
APA Morro de São Bento Estadual Ribeirão Preto US 2 Lei 6.131 de 27/05/1987
APA Parque e Fazenda do Carmo Estadual São Paulo US 868 Lei 6.409 de 05/04/1989
APA dos Rios Piracicaba e Estadual Amparo US 387.000 Decreto 26.882 de 11/03/1987
Juqueri-Mirim Analândia**
APA São Francisco Xavier Estadual São José dos Campos US *** Lei 11.262 de 08/11/2002
APA Sapucaí-Mirim Estadual Santo Antônio do Pinhal US 39.800 Decreto 43.285 de 03/07/1998
São Bento do Sapucaí
APA da Serra da Mantiqueira Federal Campos do Jordão US 422.873 Decreto 91.304 de 03/06/1985
Cruzeiro**
APA da Serra do Mar Estadual Guapiara US 488.865 Decreto 22.717 de 21/09/1984
Iporanga**
APA Silveiras Estadual Silveiras US 42.700 Lei 4.100 de 20/06/1984
APA Sistema Cantareira Estadual Atibaia US 249.200 Lei 10.111 de 04/12/1998
Bragança Paulista**
APA Tietê Estadual Tietê US 45.100 Decreto 20.959 de 08/06/1983
APA da Várzea do Rio Tietê Estadual Barueri US 7.400 Lei 5.598 de 06/02/1987
Carapicuíba**
Arie Buriti de Vassununga Federal Santa Rita do Passa Quatro US 150 Decreto 99.276 de 06/06/1990
Arie Cerrado Pé de Gigante Federal Santa Rita do Passa Quatro US 11 Decreto 99.275 de 06/06/1990
Arie da Ilha Comprida Estadual Iguape US *11.749 Decreto 30.817 de 30/11/1989
Arie Ilha do Ameixal Federal Peruíbe US 400 Decreto 91.889 de 05/11/1985
Arie das Ilhas Queimada Peque- Federal Peruíbe US 33 Decreto 91.887 de 05/11/1985
na e Queimada Grande
Arie Mata de Santa Genebra Federal Campinas US 252 Decreto 91.885 de 05/11/1985
Arie Matão de Cosmópolis Federal Cosmópolis US 173 Decreto 90.791 de 09/01/1985
Arie da Pedra Branca Estadual Tremembé US 635 Decreto 26.720 de 06/02/1987
Flona de Capão Bonito Federal Buri US 4.344 Portaria 558 de 25/10/1968
Flona de Ipanema Federal Araçoiaba da Serra US 5.180 Decreto 530 de 20/05/1992
Iperó
Flona de Lorena Federal Lorena US 249 Decreto 24.104 de 10/04/1934
Resex do Mandira Federal Cananéia US 1.176 Decreto de 13/12/2002
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Rebio de Santa Isabel Federal Pacatuba PI 2.766 Decreto 96.999 de 20/10/1988
Pirambu
TOCANTINS
Unidades de Conservação
Instituto Socioambiental, novembro/2004
Categoria Nome Administração Municípios Grupo Área (ha)(1) Instrumento legal de criação
Esec Serra Geral do Tocantins Federal Ponte Alta do Tocantins PI 716.306 Decreto de 27/09/2001
Mateiros**
Monat das Árvores Fossilizadas do Estadual Filadélfia PI 32.152 Lei 1.179 de 04/10/2000
Estado do Tocantins
Parna do Araguaia Federal Lagoa da Confusão PI 557.714 Decreto 47.570 de 31/12/1959
Pium
Parna das Nascentes do Rio Federal Mateiros PI 729.814 Decreto de 16/07/2002
Parnaíba São Félix do Tocantins
PES do Cantão Estadual Caseara PI 90.018 Lei 996 de 14/07/1998
Pium
PES do Jalapão Estadual Mateiros PI 158.885 Lei 1.203 de 12/01/2001
PES do Lajeado Estadual Palmas PI 9.931 Lei 1.224 de 11/05/2001
APA Foz do Rio Santa Teresa Estadual Peixe US 50.784 Lei 905 de 20/05/1997
APA Jalapão Estadual Mateiros US 461.730 Lei 1.172 de 31/07/2000
Ponte Alta do Tocantins**
APA Lago de Palmas Estadual Porto Nacional US 50.370 Lei 1.098 de 20/10/1999
APA Leandro (Ilha do Bananal/ Estadual Abreulândia US 1.678.000 Lei 907 de 20/05/1997
Cantão) Araguacema**
APA dos Meandros do Rio Federal Araguaçu US 357.126 Decreto de 02/10/1998
Araguaia
APA das Nascentes de Araguaína Estadual Araguaína US 15.822 Lei 1.116 de 09/12/1999
Babaçulândia**
APA Serra da Tabatinga Federal Ponte Alta do Tocantins US *32.397 Decreto 99.278 de 06/06/1990
APA Serra do Lajeado Estadual Aparecida do Rio Negro US 121.416 Lei 906 de 20/05/1997
Lajeado**
Resex do Extremo Norte Federal Carrasco Bonito US 9.280 Decreto 535 de 20/05/1992
do Tocantins