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eST-101 / STR-101
INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO
MASTER
EPUSP/PECE
DIRETOR DA EPUSP
JOSÉ ROBERTO CARDOSO
EQUIPE DE TRABALHO
PP – PROFESSOR PRESENCIAL
ALESSANDRA ISABELLA SAMPAIO MARTINS
FILMAGEM E EDIÇÃO
JOSÉ ROBERTO DE SOUZA JUNIOR
GESTÃO TÉCNICA
MARIA RENATA MACHADO STELLIN
APOIO ADMINISTRATIVO
NEUSA GRASSI DE FRANCESCO
VICENTE TUCCI FILHO
“Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou
processo, sem a prévia autorização de todos aqueles que possuem os direitos autorais sobre este
documento”.
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SUMÁRIO
SUMÁRIO
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SUMÁRIO
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Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 1
OBJETIVOS DO ESTUDO
Prover um breve histórico do prevencionismo;
Apresentar a evolução da engenharia de segurança do trabalho;
Discutir o conceito de prevenção e o papel do engenheiro de segurança.
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Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 2
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Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 3
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Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 4
todo o capítulo V, do Título II da CLT, tendo sido incluídas diversas disposições legais,
como as referentes à insalubridade e periculosidade nos locais de trabalho.
Até o início da década de 70, a questão da segurança era tratada unicamente no
âmbito das empresas, sem maiores interferências externas (do governo ou do público). A
partir do início da década de 70, começaram a surgir os primeiros sinais de insatisfação
de algumas parcelas da população, de autoridades governamentais e de alguns setores
da própria indústria, com a ocorrência de acidentes de grande repercussão.
Em maio de 1977, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu o desafio
“saúde para todos no ano 2000”, onde era fixada a meta de que os governos deveriam
proporcionar a todos os cidadãos um nível de saúde que lhes permitisse levar uma vida
social e economicamente produtiva. Em setembro de 1978, a OMS realizou na cidade de
Alma-Ata (República do Cazaquistão), a Conferência Internacional sobre os “cuidados
primários à saúde”, onde na ocasião foi formulada a Declaração de Alma-Ata, um
compromisso assumido por todas as 134 nações participantes:
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Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 5
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Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 6
prevenção.
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Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 7
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Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 8
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Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 9
Outro aspecto que deve ser levado em conta pelo engenheiro de segurança é a
questão econômica. Os líderes de segurança e saúde às vezes sentem-se desanimados
ao descobrir que a alta direção baseia as decisões sobre segurança e saúde em dinheiro.
Mas a realidade nua e crua é que os negócios existem para gerar lucros e tudo o que
uma empresa faz se relaciona, direta ou indiretamente, com os aspectos econômicos.
Os líderes que são “ingênuos” a ponto de pensar que o objetivo humanitário da
segurança e saúde do trabalhador transcende os aspectos mais “frios” dos lucros e das
perdas, devem se fazer a seguinte pergunta: “Até que ponto a atividade de segurança e
saúde é orientada por objetivos humanitários”?
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Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 10
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Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 11
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Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 12
qualquer outro aspecto do trabalho são os supervisores imediatos da linha. Seu contato
direto com os funcionários determina como a tarefa será realizada. Isso mostra que boa
parte do treinamento deveria ser informal e realizada no próprio local de trabalho.
Porém, existe também a necessidade de um treinamento formal, em sala, sobre
os princípios de segurança, normas, reconhecimento de condições perigosas,
gerenciamento de risco e outros assuntos, direcionado principalmente para supervisores.
Nesse caso, o engenheiro de segurança pode oferecer esse treinamento diretamente ou
atuar como suporte, fornecendo informações e recursos de treinamento necessários.
CONSIDERANDO, ainda, que tal Parecer nº 19/87 é expresso em ressaltar que "deve a
Engenharia da Segurança do Trabalho voltar-se precipuamente para a proteção do
trabalhador em todas as unidades laborais, no que se refere à questão de segurança,
inclusive higiene do trabalho, sem interferência específica nas competências legais e
técnicas estabelecidas para as diversas modalidades da Engenharia, Arquitetura e
Agronomia";
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Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 13
CONSIDERANDO, ainda, que o mesmo Parecer concluiu por fixar um currículo básico
único e uniforme para a pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho,
independentemente da modalidade do curso de graduação concluído pelos profissionais
engenheiros e arquitetos;
RESOLVE:
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Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 14
4 - Vistoriar, avaliar, realizar perícias, arbitrar, emitir parecer, laudos técnicos e indicar
medidas de controle sobre grau de exposição a agentes agressivos de riscos físicos,
químicos e biológicos, tais como poluentes atmosféricos, ruídos, calor, radiação em geral
e pressões anormais, caracterizando as atividades, operações e locais insalubres e
perigosos;
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Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 15
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Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 16
1.6 TESTES
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Capítulo 2. A Engenharia de Segurança no contexto Capital-Trabalho 17
OBJETIVOS DO ESTUDO
Discutir os conceitos de organização do trabalho e gestão organizacional;
Ter a compreensão do significado de boas condições de trabalho;
Apresentar algumas das dificuldades no processo de aplicação da organização do
trabalho.
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Capítulo 2. A Engenharia de Segurança no contexto Capital-Trabalho 18
De acordo com Senge (2009), uma organização pode ser compreendida como
sendo o resultado ou o produto de como as pessoas pensam e interagem entre si a fim
de viabilizar objetivos comuns.
A expressão "organização do trabalho" deverá ser compreendida como o meio
ambiente de trabalho e a forma pelas quais as operações e tarefas necessárias para se
realizar as transformações no processo produtivo são concebidas, divididas e atribuídas
aos membros da empresa. Assim sendo, a organização do trabalho pode ser entendida
como a definição da estrutura organizacional, representada pelas relações sociais nos
locais de trabalho, cultura, clima organizacional e a ideologia gerencial empregada para a
coordenação entre os equipamentos, as operações e as pessoas.
Pode-se também entender organização do trabalho como uma maneira em que as
operações necessárias para realizar as transformações no processo produtivo estão
divididas entre os membros de uma organização. Essa definição traz dois conceitos
importantes. O primeiro refere-se à forma como se distribui o poder e se exercita o
controle social no interior da organização. O segundo refere-se aos critérios que são
utilizados para a distribuição e a concepção das tarefas em relação ao seu conteúdo,
significado e complexidade.
Nesse sentido, historicamente há dois modelos de organização do trabalho que
representam muito bem essa forma de como se distribui o controle social dentro da
organização, associado aos critérios adotados para a distribuição e concepção das
tarefas.
Quadro 2.1: Quais os dois modelos de produção que têm destaque quando se trata da
organização do trabalho?
Conforme Marochi (2002), o fordismo teve início em 1914, quando Ford introduziu
o dia de trabalho de oito horas e cinco dólares como recompensa para os trabalhadores
de linha de montagem de carros de Dearbon, em Michigan (EUA). Esta data é apenas
simbólica, pois o fordismo como modo de produção já vinha sendo implantado e
aperfeiçoado ao longo das últimas décadas do século XIX, durante a fase de construção
das ferrovias nos Estados Unidos.
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Capítulo 2. A Engenharia de Segurança no contexto Capital-Trabalho 19
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Capítulo 2. A Engenharia de Segurança no contexto Capital-Trabalho 21
Quadro 2.2: Qual é uma das principais características do toyotismo que se sobressai em
relação ao fordismo?
em equipe é viável.
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Capítulo 2. A Engenharia de Segurança no contexto Capital-Trabalho 22
expor seus pontos de vistas sem o receio de serem punidos por administrações
autoritárias, incapazes de darem respostas concretas às demandas dos trabalhadores.
Suas atribuições resumem-se em apontar ao seu supervisor as condições
inadequadas, restando-lhe a obrigação de continuar executando suas atividades até que
alguma providência seja tomada.
Devemos compreender, entretanto, que ainda que os aspectos técnicos
compareçam com relevância indiscutível, estes não são suficientes para o
equacionamento e a compreensão dos problemas decorrentes das condições de trabalho
inadequadas, pois além dos agentes físicos, químicos e outros presentes nos locais de
trabalho, existem determinantes de ordem social, política, tecnológica e organizacional
que não podem ser negligenciadas pelo engenheiro de segurança do trabalho.
Parâmetros como especificações sobre quais equipamentos serão utilizados no
processo produtivo; como, quando e onde as tarefas serão executadas pelos
trabalhadores; como essas tarefas estarão interligadas e alocadas a cada indivíduo; os
controles gerenciais; a definição da forma de agrupamento dos indivíduos; o sistema de
comunicação, integração e participação nos processos de decisão; a delegação de
autoridade, liberdade e responsabilidades que os trabalhadores terão sobre a execução
das tarefas; a definição dos sistemas de avaliação de desempenho e como as pessoas
serão recompensadas pelo seu trabalho; a preocupação com o comprometimento das
pessoas com o processo produtivo e as relações sociais nos locais de trabalho são cada
vez mais estudadas pela organização do trabalho.
A otimização de todos esses parâmetros pode criar as condições necessárias
para a melhor efetividade do sistema produtivo e, ao mesmo tempo, sua harmonização
poderá proporcionar condições favoráveis à redução de impactos sobre a integridade
física e mental dos trabalhadores. A essa otimização podemos chamar de “gestão
organizacional”, que pode ser definida como uma ação continuada de planejar, organizar
e controlar os recursos disponíveis para alcançar os objetivos estabelecidos pela
organização.
Espera-se que essa ação continuada seja executada de modo que a organização
encontre o equilíbrio entre a perspectiva econômica (que deve assegurar sua
competitividade), a conformidade legal (que deve assegurar sua legalidade no
cumprimento da legislação aplicável), a sua atuação ética (que deve assegurar sua
responsabilidade social na busca do que é correto) e a sua postura política (que deve
assegurar a legitimidade junto às partes interessadas), a fim de criar um ambiente
favorável para a continuidade de suas atividades.
De acordo com Sell (1995), as condições de trabalho englobam tudo o que
influencia o próprio trabalho. Isto inclui: o posto de trabalho, o ambiente de trabalho, os
meios de trabalho, a tarefa, a jornada de trabalho, a organização do trabalho,
alimentação, transporte, as relações entre as pessoas e as relações entre produção e
salário, entre outros.
Portanto, quando se fala em boas condições de trabalho, se quer dizer, mais
especificamente:
meios de produção adequados às pessoas, o que significa o projeto ergonômico dos
equipamentos, dos veículos, das ferramentas e dos dispositivos auxiliares usados no
trabalho, postos de trabalho ergonomicamente projetados (o que inclui bancadas,
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Capítulo 2. A Engenharia de Segurança no contexto Capital-Trabalho 23
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Capítulo 2. A Engenharia de Segurança no contexto Capital-Trabalho 25
e que seus comandos não induzam o operador a cometer erros (apertando, por
exemplo, um botão errado, ou movendo outra alavanca que não aquela que deveria
ser movida para aquele movimento específico da máquina).
práticas de trabalho seguras: engloba a documentação e os procedimentos
operacionais, de maneira que sejam didáticos, que seu conteúdo seja de fácil
entendimento e que sejam, de fato, usados pelos funcionários. Procedimento bonito,
bem escrito, mas que nunca é usado e/ou consultado, não tem valor nenhum!
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Capítulo 2. A Engenharia de Segurança no contexto Capital-Trabalho 28
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Capítulo 2. A Engenharia de Segurança no contexto Capital-Trabalho 29
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Capítulo 2. A Engenharia de Segurança no contexto Capital-Trabalho 30
“(...)
- Por que você faz isso desse jeito?
- Porque é importante. Se você não fizer isso assim, vai ter problemas.
- Mesmo? Que tipo de problemas?
- Bem, problemas de qualidade.
- Qual seria o problema de qualidade? Você confirmou se pode mesmo ocorrer?
- Não tenho certeza absoluta, mas pode perguntar ao supervisor.
- Você não sabe o que aconteceria se você alterasse o método?
- Não, na verdade não, mas alguém me disse para fazer somente desse modo”.
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Capítulo 2. A Engenharia de Segurança no contexto Capital-Trabalho 32
Variedade da tarefa
Análise da tarefa
Variedade de tarefas: quantos tipos diferentes de tarefas são exigidos pela atividade? Os
trabalhadores passam a maior parte de seu tempo desempenhando os mesmos tipos de
tarefas ou eles se deslocam entre tarefas diferentes? A questão não se resume
simplesmente em ter um grande número de tarefas, mas em ter uma variedade de tarefas
que exigem diferentes tipos de habilidades. A fixação de um parafuso e a inserção de
uma mola podem ser consideradas tarefas semelhantes, mas a entrada de dados em um
sistema de computador para gerar um desenho e uma reunião de marketing para
entender quais as exigências para o produto são tarefas muito distintas.
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Capítulo 2. A Engenharia de Segurança no contexto Capital-Trabalho 33
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Capítulo 2. A Engenharia de Segurança no contexto Capital-Trabalho 34
2.3 TESTES
Feedback: item 2.1 - “De acordo com Senge (2009), uma organização pode ser
compreendida ...
2. Quais os dois modelos de produção que têm destaque quando se trata da organização
do trabalho?
a) Modelo fordista e modelo toyotista.
b) Modelo taylorista e modelo de produção em massa.
c) Modelo de alto desempenho e modelo de produção enxuta.
d) Modelo de Henrich e modelo de Fletcher.
e) Modelo de Maslow e modelo de produção em linha.
Feedback: quadro 2.1 - “Quais os dois modelos de produção que têm destaque ...
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Capítulo 3. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte I) 35
OBJETIVOS DO ESTUDO
Prover uma visão macro do conceito de gestão de segurança e saúde no trabalho;
Entender os principais elementos que compõem um processo de gestão.
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Capítulo 3. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte I) 36
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(*) A convenção 174 da OIT (Prevenção de acidentes industriais maiores) define “acidente maior” como: “todo
evento subitâneo, como emissão, incêndio ou explosão de grande magnitude, no curso de uma atividade em
instalação sujeita a riscos de acidentes maiores, envolvendo uma ou mais substâncias perigosas e que
implica grave perigo, imediato ou retardado, para os trabalhadores, a população ou o meio ambiente.”
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Capítulo 3. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte I) 37
Apenas a título de curiosidade, a ISO foi criada em 1947 em Genebra (Suíça) e foi
constituída como uma organização privada sem fins lucrativos, cujo objetivo era publicar
normas internacionais associadas a sistemas de gestão. A ABNT (Associação Brasileira
de Normas Técnicas) é um de seus membros fundadores.
Embora se acredite que a expressão “ISO” seja um acrônimo de International
Standard Organization, na realidade ela originou-se da palavra grega “isos”, que significa
igualdade. Evita-se, com isso, que a organização possua diferentes acrônimos em
diferentes idiomas, já que em inglês a sigla seria IOS (International Organization for
Standardization); em francês seria OIN (Organisation Internationale de Normalisation) e
assim por diante. Dessa maneira, a escolha da sigla ISO reflete seu objetivo, que é a
igualdade (padronização em diferentes culturas).
Essa necessidade de criação e publicação de uma norma de SST se tornou uma
questão fundamental de debate e acordou-se que, com a sua estrutura tripartite e sua
responsabilidade no estabelecimento de normas, a OIT era a entidade mais adequada
para desenvolver normas orientadoras de SST em nível internacional.
Ao fim de dois anos de elaboração e de avaliação internacional, a OIT publicou, em
2001, sua proposta de modelo de gestão de segurança e saúde no trabalho denominado
“Guidelines on occupational safety and health management systems”, o qual é compatível
com o que estabelecem as normas sobre sistemas de gestão da ISO.
O acirramento da competição internacional forçou as organizações a buscarem a
certificação de seus sistemas de gestão para a qualidade como forma de se diferenciar
no mercado. A ideia de certificação se ampliou para o sistema de gestão ambiental e de
segurança e saúde no trabalho.
Dado o interesse de muitas empresas nesse processo, a OHSAS (Occupational
Health and Safety Assessment Serie) 18001 (gestão de SST) foi desenvolvida por um
conjunto de organismos internacionais de normalização (Irlanda, Austrália, África do Sul,
Inglaterra) e por algumas empresas certificadoras (BSI, BVQI, DNV, Lloyds etc.)
Oficialmente foi publicada pela British Standard Institution (BSI) em forma de dois guias:
OHSAS 18001:1999 e 18002:2000, ambos de caráter voluntário, o que significa que cabe
à empresa aderir ou não ao(s) seu(s) conteúdo(s), não sendo obrigatório o seu
cumprimento.
Seguindo essa linha de normas certificáveis de sistemas de gestão de SST, a
ABNT publicou, em dezembro de 2010, a primeira versão da ABNT NBR 18801: “Sistema
de gestão da segurança e saúde no trabalho – requisitos”. Nesse documento, consta na
primeira página um texto que especifica: “Válida a partir de 01/12/11”.
Porém, em 22 de novembro de 2011, a própria ABNT divulgou um documento por
meio do qual decidiu adiar o prazo de entrada em vigor da norma para 01/12/14,
afirmando que antes de 2014 as empresas poderão utilizar a NBR 18801 como uma
espécie de guia para a gestão de SST. De acordo com o diretor técnico da ABNT:
“qualquer um pode implantá-la em sua empresa; só não receberá a certificação pelo
INMETRO”.
O quadro a seguir resume a cronologia de publicação dos documentos relacionados
à gestão de SST:
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Capítulo 3. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte I) 38
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Capítulo 3. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte I) 39
Três condições essenciais se impõem para que o sistema de gestão de SST tenha
sustentação e possa contribuir para a melhoria contínua do ambiente de trabalho.
Primeiro, a necessidade do compromisso e engajamento da alta administração para
com o sistema. Em geral, isso fica explicitado principalmente durante a fase de
concepção e implantação do modelo de sistema de gestão da segurança e saúde no
trabalho.
Segundo, a organização deve criar as condições necessárias para a efetiva
participação dos trabalhadores e dos gestores, provendo a necessária competência
técnica, autoridade e responsabilidades, para que possam intervir no processo produtivo
quando necessário, para que os compromissos com melhores desempenhos de SST
sejam mantidos. Isso pressupõe a capacidade da organização de incorporar à sua gestão
o aprendizado organizacional decorrente das avaliações críticas feitas periodicamente,
confrontar seus pressupostos e crenças, a fim de ajustá-lo à complexidade dos desafios
que têm que enfrentar para gerenciar seus riscos.
Finalmente a compreensão, a importância e os princípios de SST devem ser
incorporados à cultura organizacional como um conjunto de pressupostos que permitam
ter essas questões como sendo um valor fundamental para dar sustentação ao processo
de melhoria contínua, conforme sugere a Figura 4, apresentada a seguir.
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Capítulo 3. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte I) 41
Quadro 3.1: No que consiste o ciclo PDCA (também conhecido como ciclo de melhoria
contínua ou ciclo de Deming)?
PLANEJAR as atividades;
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Capítulo 3. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte I) 42
execução demora muito mais, por conta de todos os imprevistos que surgem e que não
foram discutidos e articulados na fase anterior (de planejamento, que foi eliminada). Ao
trabalhar desse modo, é fácil também admitir que haverá uma série de desvios que
precisarão ser corrigidos, uma vez que tudo foi feito meio que “a toque de caixa”.
Por outro lado, quando se usa bem a fase do “P” e se faz um planejamento
adequado, a execução (D) é mera consequência. Como se deu uma importância
significativa ao “P”, é muito provável que poucos desvios ocorram durante a fase de
execução. E se não há muitos desvios, não há muito o que se corrigir, o que significa que
a fase de verificação (C) também não será muito trabalhosa, assim como a fase de
correção dos poucos problemas identificados (A).
Fica evidente, portanto, que ao se investir em um bom “P” (para que ele se torne
um “PEZÃO”), as demais fases do ciclo serão bem mais fáceis de colocar em prática.
Com um bom PEZÃO, o “D” fica bem pequenino, o “C” fica menor do que normalmente
ficaria se não houvesse um PEZÃO e o “A”, praticamente inexistente. A Figura 5 a seguir
representa esse conceito.
Através dessa figura, é visível que os elementos “P” e “C” são os mais relevantes
no processo de melhoria contínua. Todos têm suas funções, mas garantir um “PEZÃO” e
garantir um bom “C” é dar um grande passo no sucesso de um sistema de gestão.
Para enfatizar a importância de um bom PEZÃO, ou, de maneira mais formal, de
um bom planejamento, cabe mencionar um ditado popular que expressa bem o que pode
acontecer àquela pessoa que não costuma planejar as suas ações na vida. Quem bem
se lembra desse ditado é Brasil (2010): “Quem não sabe o que procura, não entende o
que encontra”. Essa máxima nos chama a atenção para a importância do planejamento e
da gestão das ações no nosso dia a dia!
É importante também comentar que o "A" do PDCA pode ser visto tanto com foco
em ação corretiva quanto com foco em ação de melhoria. Muitas vezes temos algo a
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Capítulo 3. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte I) 43
corrigir, uma vez que se desviou do propósito original. Isso ocorre normalmente no início
de processos, onde não há ainda uma maturidade estabelecida. É comum em empresas
que estão implantando um sistema de gestão e ainda estão numa fase de aprendizado
muito intensa. Porém, depois de um tempo, ocorre uma evolução natural e os desvios
vão perdendo espaço. Restam então oportunidades de refinar o que já está "razoável" ou
bom e nesse sentido, o "A" do PDCA passa a ter o foco de melhoria contínua. O prof.
Sérgio (Higiene A) costuma dizer que depois de um tempo de maturidade, o PDCA (onde
o "A" é ação corretiva) passa a ser chamado de PDCI (onde o "A" dá lugar ao "I", que na
língua Inglesa significa "Improve" - exatamente o conceito de melhoria contínua -
buscando aperfeiçoar e não corrigir).
Foi comentado anteriormente que três condições essenciais se impõem para que
um sistema de SST tenha sustentação e que uma dessas condições é incorporar a
importância e os princípios de SST (ou seja, os valores e crenças da empresa) na cultura
organizacional.
Dada a devida importância a esse tema, o próximo tópico abrange diferentes
aspectos culturais relevantes.
Caso 1: Disney
A Disney World, na Florida, abriu ao público em 1 de Outubro de 1971. Era o maior
parque de diversões do mundo. O Magic Kingdom é o coração da Disney World, razão
pela qual algumas pessoas até chegam a confundir o parque com o próprio Walt Disney
World Resort. Originalmente foi dividido em seis regiões temáticas. Tão logo se adentra
ao parque, já se percebe que está ingressando num mundo mágico, visualizando o
castelo da Cinderela, que fica exatamente no centro do parque.
Connellan (1998) ressalta que a limpeza do parque é crucial. Faz parte daquilo que
torna o lugar verdadeiramente mágico. É tão importante para os funcionários (chamados
de “membros do elenco”) que todos se consideram parte da equipe de limpeza. Por isso,
os 45.000 membros do elenco podem ser considerados funcionários da limpeza. Não há
política instituída, não é uma regra, mas a limpeza do parque faz parte da cultura. Uma
das razões para isso é a iniciativa que os membros do elenco exibem, em todos os
níveis. É uma dessas coisas que simplesmente acontecem. Ninguém fala sobre isso, mas
ninguém pensa em fazer as coisas de outro modo.
Quando cada pessoa se encarrega das coisas, mesmo em uma situação
temporária ou localizada, essa pessoa leva a sério as suas responsabilidades. Ela é
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Capítulo 3. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte I) 45
“dona” de seu emprego, de uma parte do parque ou de uma situação. E isso faz com que
demonstre cuidado e considere o bem-estar dos convidados uma questão pessoal.
Certas coisas ficam arraigadas. É simplesmente a maneira como as pessoas fazem o
que deve ser feito.
Além da limpeza do parque, outros aspectos chamam a atenção para a cultura da
empresa. O carrossel é um dos brinquedos mais tradicionais e tem partes douradas.
Essas partes são pintadas com tinta de ouro 23k. Apesar da empresa acreditar que os
convidados do parque não saibam dessa informação e nem reparem nesse detalhe, a
tinta de ouro é um lembrete para os “membros do elenco”. A tinta os lembra que os
convidados do parque são o que há de mais importante. Às vezes, limpar o carrossel não
é uma tarefa agradável e os membros do elenco precisam ser lembrados do motivo pelo
qual fazem isso: pelas crianças e pelos convidados. A tinta de ouro é um símbolo muito
importante.
Sem lembretes como esse, a empresa acredita que seria fácil dar de ombros,
deixar as coisas pela metade e dar uma desculpa como: “De que adianta prestar uma
atenção fanática aos detalhes se os convidados nem irão perceber?”. Contudo, segundo
eles, o ouro lembra que deve haver um cuidado com os equipamentos, as instalações, os
locais frequentados pelos convidados, porque os clientes são o verdadeiro ouro, a razão
pela qual os membros do elenco estão vinculados a uma empresa bem sucedida. Se não
fosse por eles, não haveria emprego.
Além do carrossel, a cultura da Disney é de fazer de tudo para agradar o convidado
e os membros do elenco levam isso bem a sério. Connellan relata uma passagem em
que foi observado que um casal apareceu e perguntou a um dos membros do elenco a
que horas começava a parada das 15 horas (!!!!!). “Será que existe pergunta mais idiota?”
Mas a reação do “membro do elenco” surpreendeu. Ele sorriu para o casal e disse: “Bem,
a parada começa pontualmente e vocês devem chegar às 14h30 para conseguir um bom
lugar”. O casal sorriu, agradeceu e saiu caminhando.
Se analisarmos, ele não chegou a responder a pergunta feita pelo casal. Fez algo
ainda melhor. Respondeu a pergunta que não fora formulada, aquilo que realmente
queriam saber, mas não conseguiram expressar. Esse “membro do elenco” demonstrou
uma habilidade especial. E uma atitude positiva: acreditar que as pessoas são mais
inteligentes do que parecem e saber que ocasionalmente elas têm dificuldades para se
expressar com clareza.
Além da tinta do carrossel e da parada das 15 horas descrita acima, Connellan
relata algumas outras ocorrências que evidenciam a forte cultura da Disney em servir
bem os convidados.
Em uma das vezes, uma menininha pequena (não foi relatada a idade) estava na
fila para conseguir um autógrafo do Capitão Gancho. Quando chegou sua vez, o Capitão
Gancho sumiu sem dar explicações. Isso a deixou triste na mesma hora e a menina se
pôs a chorar. Ninguém conseguia consolá-la. Assim, ela e seus pais saíram daquela
atração e o pai foi reclamar do comportamento do Capitão Gancho com um membro do
elenco. Ele pediu desculpas e explicou que quando termina o turno de um Capitão, outro
assume o lugar. Teria havido algum desencontro e o novo Capitão Gancho não tomou
seu lugar tão rápido quanto deveria. O membro do elenco perguntou onde a família
estava hospedada e disse que tentaria resolver as coisas para a pequena menina.
Quando a menininha entrou em seu quarto no hotel, encontrou um boneco do Peter Pan
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Capítulo 3. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte I) 46
e um bilhete: “Querida, fiquei triste por saber que hoje o Capitão Gancho foi malvado com
você. Às vezes ele é malvado comigo também. Por favor, volte a nos visitar assim que
puder. Seu amigo, Peter Pan”. Ela ficou muito contente, porque Peter Pan tinha voado
até o seu quarto e deixado um bilhete e um boneco em sua cama.
Em outra circunstância, uma mulher estava com um sorvete de casquinha na mão.
Uma gaivota passou voando baixo e derrubou o sorvete no chão e outras gaivotas
surgiram e pousaram sobre ele. Um “membro do elenco” viu a cena. Imediatamente
acompanhou a mulher até a frente da fila do sorvete e conseguiu um novo sorvete de
casquinha, sem nenhum custo para a convidada. O incidente foi corrigido com rapidez e
eficiência.
Nas duas últimas situações relatadas, um problema foi corrigido. Em um deles, um
membro do elenco causou o problema (Capitão Gancho) e em outro, uma gaivota foi a
responsável. E ambos foram corrigidos com rapidez. A pergunta que fica é: Como é
possível trabalhar assim com inúmeras outras ocorrências similares? Tem-se que
considerar o tamanho do parque e a quantidade de pessoas que circulam por ele
diariamente.
A Disney tem um processo chamado “Serviço de Recuperação” (Service Recovery).
Quando alguma coisa não sai da maneira como alguém espera, os “membros do elenco”
se desdobram para consertar a situação. Eles não querem que ninguém saia do parque
desencantado e por isso é um ponto de honra recuperar o equilíbrio das coisas. A Disney
acredita que isso é vital para manter a fidelidade dos convidados. Também ajuda a
manter a dedicação dos “membros do elenco”, pois lhes dá a oportunidade de consertar
as coisas na hora para um determinado convidado. Como em tudo o que faz, a Disney
dedica muito tempo e energia a uma boa recuperação, o que vale à pena.
Freiberg e Freiberg (2000) relatam duas passagens que deixam evidente a cultura
da Southwest. No primeiro caso, uma mulher sempre viajava com a Southwest, mas
estava decepcionada com todos os aspectos da operação da companhia. Ela não
gostava do fato da companhia não reservar assentos; nem da ausência da primeira
classe; nem de não ter uma refeição a bordo; nem dos procedimentos de embarque; nem
da cor dos aviões; nem dos uniformes esportivos das comissárias ou da atmosfera
casual. Suas cartas com reclamações foram aumentando de volume até que o pessoal
do departamento de relacionamento com o cliente resolveu enviá-las ao presidente, com
uma nota: “Esta é toda sua”. O presidente as leu e em menos de um minuto escreveu a
resposta: “Prezada Sra. Crabapple, sentiremos sua falta. Com amor, Herb Kelleher.”.
Em outro caso, receberam uma carta de reclamação de um cliente de San Diego,
que ameaçava nunca mais voar com a Southwest porque em um dos lavatórios do avião
o rolo de papel higiênico fora colocado de cabeça para baixo, de modo que a ponta solta
saía pela parte de cima do rolo. Ele esbravejava: “Se a Southwest é tão descuidada na
colocação do papel higiênico, como posso confiar em sua manutenção?”. E novamente, o
presidente respondeu: “Que diabos você estava fazendo de cabeça para baixo no nosso
lavatório?”.
Essas duas ocorrências mostram: 1) o atendimento ao cliente não é ligado a regras;
2) nem sempre o cliente está com a razão. Esses são alguns dos alicerces da cultura
organizacional da Southwest Airlines.
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Capítulo 3. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte I) 48
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Capítulo 3. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte I) 50
A norma OHSAS 18001:2007, em seu item 4.2, estabelece que a gerência sênior
(ou a alta liderança) deve definir e autorizar a política de SST e assegurar, em conjunto
com o escopo do sistema de gestão, que essa política:
Seja apropriada à natureza e à escala dos riscos de SST da organização
Inclua um compromisso com a prevenção de incidentes e doenças e com a melhoria
contínua do desempenho e da gestão de SST
Inclua um compromisso para pelo menos cumprir com os requisitos Legais aplicáveis
e com outros requisitos subscritos que estejam associados às condições perigosas
Ofereça a estrutura para uma determinação e revisão dos objetivos de SST
Seja documentada, implantada e mantida
Seja comunicada para todas as pessoas que trabalhem sob o controle da
organização com a intenção de que elas estejam cientes de suas obrigações
individuais associadas às questões de SST
Esteja disponível para as partes interessadas
Seja revisada periodicamente para assegurar que permaneça relevante e apropriada
à organização
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Capítulo 3. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte I) 51
3.5 TESTES
3. Que tipo de oportunidade os diferentes prêmios (como, por exemplo, o PNQ, o Deming
de Qualidade e outros) oferecem às empresas?
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 52
OBJETIVOS DO ESTUDO
Explicar os elementos que compõem os requisitos de planejamento de um sistema de
gestão;
Apresentar exemplos de conceitos de condição perigosa, perigo e risco.
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 53
PLANEJAMENTO
Mediante esses dois parágrafos acima, é preciso comentar sobre uma divergência
de nomenclatura da norma (que originalmente fala em perigo e risco) e dessa disciplina
STR-101, principalmente em relação aos termos perigo, risco e condição perigosa.
De acordo com Eston et al (2010), no Brasil tem-se utilizado os termos perigo e
risco de modo confuso e com deficiente correspondência com o significado dos termos
em inglês.
O termo em inglês hazard, por exemplo, tem sido muitas vezes traduzido por
perigo. Esta tradução se iniciou na área ambiental e se espalhou depois para as áreas de
higiene e segurança. Com isto, se perdeu o conceito fundamental em higiene e
segurança relativo a exposição e a dose, o que torna esta tradução imprópria.
Nas Normas Regulamentadoras (NRs), já se têm exemplos destas
impropriedades. Na NR-10 (Segurança em instalações e serviços em eletricidade) as
palavras surgem com diferentes conceitos associados, mencionando-se risco de contato
e perigos de choque elétrico.
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 54
Quadro 4.1: Em razão dessa mistura de conceitos, como devem ser entendidos os
termos “condição perigosa”, “perigo” e “risco”?
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 55
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 56
Nota: para esse item específico de “análise de risco”, esta disciplina de introdução não se
aprofundará no tema, considerando que o curso de engenharia de segurança tem uma
disciplina de 60h para tratar detalhadamente desse assunto (eST-701: Gerência de
Riscos).
É importante frisar que essa não é uma classificação perfeita de energias, mas é
uma lista sugestiva de nomes para que funcionários de diferentes funções e cargos
possam, através dela, serem ajudados a enxergar e entender as condições perigosas às
quais estão expostos. Uma lista como essa facilita a comunicação com os diferentes
níveis hierárquicos.
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 57
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 58
Figura 8: Relação entre os conceitos de energia, condição perigosa, perigo, consequência e risco.
Fonte: arquivo pessoal.
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 59
Após toda essa discussão, é preciso lembrar que risco se calcula, não se
identifica. Risco é estimado em função da probabilidade de materialização da condição
perigosa em um evento indesejado e da consequência dessa materialização. Assim
sendo, ainda que a norma OHSAS 18001:2007 faça referência à identificação de perigos
e riscos, essa disciplina considera identificação de condição perigosa e análise de risco.
Outro ponto que a norma determina como parte dessa fase de planejamento e,
mais especificamente, desse item 4.3.1, é o gerenciamento de mudanças. A organização
deve identificar as condições perigosas e analisar os riscos associados a essas
mudanças na organização, no sistema de gestão ou em suas atividades, antes de
introduzir tais modificações.
No século V a.C. o filósofo grego Heráclito de Éfeso escreveu uma frase que
marcou o pensamento científico ocidental por sua atualidade e aplicação: “Nesse mundo,
a única coisa permanente é a mudança”. Por isso, não é à toa que nessa última versão
da OHSAS 18001 (2007), um dos pontos de revisão foi justamente a introdução, com
mais ênfase, da gestão de mudanças.
A organização deve também assegurar que os resultados dessas avaliações (das
condições perigosas e dos riscos associados às mudanças) sejam considerados quando
os controles forem determinados. Para a determinação dos controles, considerações
devem ser levadas em conta para reduzir os riscos, de acordo com a seguinte hierarquia:
Eliminação
Substituição
Engenharia
Controles administrativos
Equipamento de proteção individual (EPI)
Esta hierarquia tem sido usada como uma maneira de determinar como implantar
controles efetivos. Uma representação dessa hierarquia, segundo o National Institute for
Occupational Safety and Health (NIOSH), pode ser sumarizada conforme a Figura 9 a
seguir:
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 60
Redução: significa reduzir a condição perigosa (e/ou o risco) a níveis mais “aceitáveis”
Reduzir a exposição do colaborador diante de uma atividade de alto risco
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 61
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 62
Nota: do texto na íntegra, inserido no item 4.1 dessa apostila, foi replicado aqui somente
a parte relacionada diretamente com comportamento humano.
Nas décadas de 60 e 70, uma das qualificações mais valorizadas num funcionário
era o conhecimento especializado para uma determinada função. O importante era a
produção em massa, saber fazer e saber produzir (modelo fordista). Já nos anos 80, a
influência japonesa trouxe a obsessão pela produtividade com qualidade. Não bastava
mais ao trabalhador saber produzir, pois agora ele teria que fazer mais rápido, melhor,
mais barato e com qualidade (modelo toyotista). Maior produção com menor custo era e
continua sendo valorizada em muitos locais, sem uma maior preocupação com a
qualidade de vida, com a saúde e com a segurança de quem produz.
No início dos anos 90, alguns conceitos agregaram-se aos trabalhadores:
desejava-se que eles estivessem aptos a cumprir mais de uma tarefa. Na verdade,
deveriam ser suficientemente capazes de desempenhar várias atividades ao mesmo
tempo, ter uma visão mais abrangente da empresa, sendo multiprofissionais e
multiculturais.
Essa tendência se mantém até os dias atuais e com todo esse acúmulo de
exigências, aumentou também o descontrole emocional, os acidentes de trabalho, o
estresse e outras patologias que diminuem a operacionalidade e o rendimento do
funcionário. Essas transformações trouxeram ao trabalhador as exigências de interagir
com diversas áreas e estar conectado todo o tempo com a empresa.
No entanto, para que essa sinergia seja possível, faz-se necessário garantir a
todos os envolvidos uma habilidade chamada “pensamento sistêmico”. Trata-se da
capacidade de perceber o conjunto como um todo, em vez de se preocupar só com os
mecanismos com os quais se trabalha no dia-a-dia, uma vez que qualquer passo afetará
os outros elementos do sistema.
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 63
Embasado nos fatos acima, Martins (2004) acredita que há indícios suficientes
que reforçam a necessidade de que o comportamento humano precisa passar do simples
raciocínio de causa e efeito para a análise de múltiplos fatores de interação, decidindo
quais riscos são aceitáveis e quais não são e consequentemente, quais as formas para
se evitar os desvios, sejam eles de quaisquer natureza.
O homem apresenta variações no seu modo de agir e pensar e isso deve ser
considerado algo natural. Caso esse comportamento fosse totalmente constante, não
haveria possibilidade de adaptação a novas condições ambientais e de relacionamento
social, o que consequentemente traria alguns problemas, visto as constantes mudanças a
que é submetido dia após dia.
Se o homem for capaz de identificar imediatamente as consequências provocadas
pelos desvios naturais do seu comportamento, ele pode introduzir ações corretivas,
diminuindo a frequência de oscilações que podem levar a erros diversos. Isso quer dizer
que os erros humanos não podem ser estudados isoladamente das condições onde eles
ocorrem. Se as características da tarefa e do ambiente forem organizadas de modo que
as pessoas possam detectar e corrigir imediatamente os seus comportamentos
inadequados, a frequência dos erros tende a diminuir.
De acordo com Veronesi (2002), o ser humano leva ao trabalho uma carga
psíquica, promovendo alterações não só nas atividades como também no ambiente
produtivo. Essa interferência, direta ou indiretamente, transforma alguns locais em
setores com individualidade própria. Devido a isso, intervir nesses ambientes exige dos
profissionais muito mais do que providências técnicas; exige sensibilidade para identificar
todos os aspectos que constituem esse cenário muitas vezes propício à ocorrência de
eventos não desejados.
Kenski (2002) acredita que é importante ter em mente que os desvios fazem parte
do mundo e ocorrem cedo ou tarde. A própria evolução dependeu disso: o ser humano
não estaria aqui se um asteroide não tivesse destruído os dinossauros há 65 milhões de
anos. Portanto, saber como e porque os acidentes acontecem é questão de entender a
dinâmica do que está ao redor e pensar nas consequências de cada ato. Nesse mundo
complexo, cada gesto mínimo implica em uma possibilidade de erros e é preciso aceitar
que podem ocorrer, já que são intrínsecos ao comportamento humano.
O erro humano é tratado frequentemente como uma coleção uniforme de atos
indesejados (os chamados “atos inseguros”). Na realidade, os erros são de diferentes
tipos, ocorrem em diferentes níveis da organização e requerem diferentes medidas
preventivas e corretivas. Sendo assim, entender essas diferenças é fundamental para um
gerenciamento correto e direcionado de suas causas.
Reason e Hobbs (2003) mencionam que quando se trata dessas diferenças, as
barreiras incorporadas aos sistemas têm uma função principal: aumentar a resistência do
sistema em relação à consequência que um erro provocará. Esse é o princípio de que
quando não é possível agir de forma preventiva, deve-se atuar de modo a reduzir os
danos que cedo ou tarde acontecerão. Isso pode ser melhor entendido através da Figura
10 a seguir.
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 64
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 65
1. HAZOP: Abreviação do Inglês para Hazard and Operability Studies. Técnica de análise de risco voltada para segurança de
processos, onde se pode avaliar desvios de variáveis como pressão, temperatura, concentração etc.
2. BTA: Abreviação do Inglês para Bow Tie Analysis. Técnica de análise de risco voltada para avaliação dos controles
existentes (para evitar que o evento ocorra e para reduzir suas conseqüências, caso o evento venha a ocorrer).
3. FMECA: Abreviação do Inglês para Failure Mode Effect and Criticality Analysis. Técnica de análise de risco voltada para a
confiabilidade de sistemas e equipamentos.
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 66
Erros não são intrinsecamente prejudiciais, uma vez que sem eles não há como
adquirir conhecimentos que são essenciais para o desenvolvimento das tarefas e
para a melhoria contínua dos sistemas organizacionais.
Não é possível mudar as condições humanas, portanto deve-se mudar as condições
de trabalho onde as condições humanas estão inseridas. Considerando que um erro
é constituído de duas partes: um estado mental (associado a diversos fatores
intrínsecos ao ser humano que em muitos casos é difícil interferir) e uma situação
(um fator contribuinte para um desvio), para que haja um gerenciamento eficaz, é
preciso analisar essas duas vertentes simultaneamente (ao invés de simplesmente
atribuir culpa a alguém).
Os melhores funcionários podem cometer os piores erros, pois ninguém está imune
e é preciso atuar em toda a cadeia e em todos os níveis hierárquicos existentes
dentro da organização.
Por trás dos erros, sempre há um histórico e isso justifica a importância de se
investigar suas causas, para aprender com elas e evitar a recorrência.
Situações e sistemas são passíveis de serem gerenciados, enquanto que a natureza
humana, em sua essência, não.
Não existe um único caminho correto, visto que diferentes tipos de fatores humanos
ocorrem em diferentes níveis da organização com diferentes culturas e, portanto,
requerem diferentes técnicas de gerenciamento.
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 67
ocasionar algum tipo de erro ao que está sendo executado. A Figura 11 ilustra o processo
descrito acima.
Sequência de rotina
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 68
como alguém pôde ter sido tão irresponsável, tão descuidado, tão incompetente ou ainda
tão estúpido ao fazer aquilo, principalmente quando o erro tem consequências trágicas.
Ao invés dessa postura, é fundamental tentar entender porque as pessoas não fazem o
que elas deveriam fazer. Por que somos tão suscetíveis a culpar as pessoas ao invés da
situação que contribuiu para que aquilo tivesse ocorrido? Ao invés de imediatamente
atribuir culpa à pessoa, deve-se tentar perguntar para alguém porque ela/ele cometeu
aquele erro. Será quase certo que dirá como as circunstâncias forçaram essa pessoa a
agir daquela maneira. De quais circunstâncias essa pessoa pode estar se referindo?
Procedimentos deficientes;
Instrumentação confusa e não apropriada;
Falta de conhecimento suficiente;
Conflito de prioridades;
Rotulagem inadequada;
Comunicação deficiente;
Layout inapropriado;
Tarefas excessivas / sobrecarga mental;
Etc.
Assim, quando se fala em erro humano, é preciso ter em mente que todos eles
envolvem algum tipo de desvio:
1) O plano de ação pode estar totalmente apropriado, mas as ações em si não saem
como planejadas, de forma não intencional;
2) A ação ocorre conforme o planejado, mas o plano em si é inadequado para atingir o
objetivo desejado;
3) A ação desvia intencionalmente do propósito.
Com esses tipos de desvios em mente, é possível entender mais facilmente os
diferentes tipos de erro humano, para então saber como gerenciar cada um deles,
levando em consideração que para cada tipo, ações corretivas diferentes são requeridas.
Em primeiro lugar, os tipos de erro humano podem ser divididos em dois grandes
grupos: os chamados “não intencionais” e os chamados “intencionais”. Os próprios
termos são autoexplicativos quanto ao seu significado.
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 69
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 70
TOT (“Tip Of the Tongue”) ou na “Ponta da Língua” ou “Deu Branco”: quando uma
pessoa se esforça para se lembrar de uma palavra, à medida em que pensa, outras
palavras vão surgindo à mente e vai ficando cada vez mais difícil de recordar.
Uma pessoa vai até a cozinha fazer algo, mas no caminho até lá, seu filho pequeno a
para e pede um abraço de boa noite. Diz que a ama e ela diz para ele dormir bem.
Quando chega na cozinha, para, olha ao redor e se pergunta: “O que é mesmo que
eu vim fazer aqui?”
Equívoco (não intencional): está normalmente associado com tarefas novas e ocorre no
planejamento e/ou formulação da intenção da tarefa (diferentemente dos deslizes e
lapsos, que ocorrem na execução da tarefa). Existe, na verdade, uma falta de
conhecimento para fazer determinada ação. A pessoa acha que está fazendo certo, está
com a melhor das intenções, mas acaba cometendo um erro (de julgamento).
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 71
Essas violações começam com excepcionais e viram rotineiras com o tempo. Por
essa razão, o desafio da gerência não é aumentar os “custos” da violação através de
medidas disciplinares / punitivas, mas aumentar os benefícios percebidos de se estar em
conformidade!!!
Sabotagem (intencional): é uma violação clara das regras com o intuito de prejudicar
alguém ou algum patrimônio. Chega a ser associada com um ato criminoso e por isso
mesmo, a maioria dos autores consagrados nessa área de erro humano (James Reason,
Trevor Kletz, Scott Geller), nem considera sabotagem efetivamente como um tipo de
“erro”.
Tendo em vista os diferentes tipos de erros humanos, classificados em dois
grandes grupos (os “não intencionais” e os “intencionais”), é importante que a
organização saiba como gerenciá-los. Ou, em outras palavras: que medidas devem ser
adotadas para tratar esses erros e, na medida do possível, tentar eliminá-los?
Para que isso seja possível e efetivo, é preciso discutir aquele velho ditado
popular: “Errar é humano”. É mesmo? É mesmo!!!!!!!!!!!!!! Isso é um fato que as empresas
precisam aceitar ao invés de negligenciar, para que possam escolher as ferramentas
certas de gestão.
Tem muita empresa que, sabendo disso, simplesmente cruza os braços e se
mostra totalmente complacente com o fato de que “errar é humano”, acreditando que
cedo ou tarde, um acidente ocorrerá por conta do chamado “ato inseguro”. Outras
organizações, realmente preocupadas com a segurança e com o bem estar e a
integridade física de seus colaboradores, partem desse pressuposto para colocar
controles (lembra da hierarquia de controles?) que diminuam consideravelmente a
probabilidade de erro. Repare que foi dito “erro” e não “ato inseguro”.
O termo “ato inseguro” é genérico e por essa razão, muitas empresas estão
tentando lidar com ele de maneira equivocada. Acham que estão fazendo certo, mas
estão apenas desperdiçando tempo e recursos numa tentativa, muitas vezes frustrada,
de corrigir os problemas que insistem em se repetir.
Repetidas vezes os relatórios de investigação de acidentes que são dados por
concluído apontam, no campo “causa do acidente”, o termo “ato inseguro” e, logo na
sequência, no campo “recomendações”, a questão de “treinamento” e/ou “reciclagem”.
Isso é válido, mas apenas para um determinado tipo de erro humano, não para todos. É
por essa razão que se torna fundamental que as organizações comecem a substituir o
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 72
genérico “ato inseguro” pelo termo “erro humano” em seus diferentes tipos, conforme já
explicado anteriormente. Somente assim é que a gestão dada a cada um deles poderá
ser assertiva, ao invés de ficar desperdiçando tempo e recursos, uma vez que
treinamentos resolvem apenas uma parte dos tipos de erros, mas não todos.
Uma outra razão pela qual esse termo “ato inseguro” deve ser substituído pelo
termo “erro humano” em suas diferentes formas é que, desde o dia 4 de Março de 2009,
a Portaria 84 do Ministério do Trabalho e Emprego eliminou oficialmente esse termo.
Por fim, é cada vez mais frequente encontrar publicações sobre movimentos
contra o termo “ato inseguro”. Durante um fórum sobre acidentes de trabalho organizado
pela Faculdade de Saúde Pública em 2013, foi iniciada uma campanha contra a utilização
desse termo, conforme ilustra a Figura 13 a seguir.
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 73
Deslize / Lapso (não intencional): lembrando que esses tipos de erros ocorrem
normalmente em uma fração de segundos e normalmente durante a execução de tarefas
rotineiras que são feitas no piloto automático, eles estão diretamente relacionados com
falta de atenção, pois quando se está no piloto automático, a pessoa não está com a
atenção voltada ao que ela está fazendo. Ela faz algo com a mente vagando. E diversas
pesquisas indicam que isso é característico do ser humano. Eis a evidência então de que
“errar é humano”. É exatamente nos deslizes e lapsos que esse ditado popular se
encaixa tão bem! Mas se esses erros são causados por uma falta de atenção, adianta
tratá-los com treinamento? Claro que não! Que tipo de treinamento seria esse? Imagine o
instrutor falando durante uma hora para as pessoas prestarem mais atenção ao que
estiverem fazendo das próximas vezes. Isso adianta? Não! Não adianta porque desviar a
atenção e levar a mente para coisas diferentes daquilo que se está fazendo no piloto
automático é inerente ao ser humano e fazemos isso de maneira inconsciente. E se é
inconsciente, é preciso lidar com isso de outra forma. Através de projetos contra “bobeira”
(do termo em japonês, Poka Yoke). Projetos que partem do pressuposto que as pessoas,
mais cedo ou mais tarde, vão errar, já que errar é humano. No dia-a-dia, estamos
acostumados a lidar com uma série desses projetos. Alguns exemplos:
Caixa eletrônico: os bancos fizeram uma pesquisa e perceberam que antigamente a
incidência de esquecimento de cartões nos caixas eletrônicos era alta. Isso porque a
pessoa, enquanto sacava dinheiro, estava com a atenção em outra coisa e fazia
aquilo no piloto automático. Para evitar esse problema, mudaram o projeto das
máquinas. Hoje, depois que o cartão é inserido e o valor a ser sacado e a senha são
digitados, antes que o dinheiro seja liberado aparece uma mensagem imensa na tela
dizendo “retire seu cartão”. Juntamente com essa mensagem, há um aviso sonoro e o
“led” do leitor de cartão começa a piscar. A máquina então chama a atenção da
pessoa, de três formas diferentes, para que ela volte seu foco àquele processo e
então retire o cartão. Só aí o dinheiro é liberado.
Sistema “delete” de equipamentos eletrônicos: seja num sistema operacional de
computador, de máquina fotográfica digital, de filmadora, de aparelho celular, de i-Pod
ou outro eletrônico, cada vez que a opção “delete” é acionada, não se consegue
apagar imediatamente o que se deseja. O sistema sempre pergunta, pelo menos uma
vez: “tem certeza de que deseja apagar?”. E essa operação tem que ser,
obrigatoriamente confirmada, para que se possa excluir algo. Nos sistemas mais
modernos, há ainda um segundo artifício: quando aparece a pergunta “tem certeza de
que deseja apagar?”, os botões de “sim” e “não” aparecem invertidos de posição na
tela (o que antes era “sim” para o botão da direita, virou “sim” para o botão da
esquerda). Isso serve para evitar que, inadvertidamente, agindo de maneira
automática, a pessoa possa apagar algo. Se os botões se invertem de posição,
apenas se ela estiver com atenção naquilo que está fazendo, é que realmente
conseguirá apagar.
Trancamento automático das portas de um veículo: alguns modelos de carros
possuem um sistema em que, quando a velocidade atinge 10 km/h, as portas são
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 74
Equívoco (não intencional): esse tipo de erro está normalmente associado ao fato de que
a pessoa acha que está fazendo certo, está com a melhor das intenções, mas acaba
cometendo um erro (de julgamento). Em outras palavras, significa falta de conhecimento,
habilidade e/ou capacitação. Nesse caso, a melhor ação corretiva realmente é o
treinamento. Foi por essa razão que foi dito antes que treinamento resolve apenas parte
do problema, ou seja, funciona para alguns tipos de erros, mas não para todos. Nesse
caso específico de equívoco, como se trata de conhecimento insuficiente ou capacitação
inadequada / incompleta, é com treinamento que se corrige essa deficiência.
Violação (intencional): lembrando que esse tipo de erro relaciona-se com uma quebra
deliberada de regras e procedimentos, nesse caso não há receita de bolo como nos tipos
de erros anteriores. Para as violações, é preciso tratar caso a caso, entendendo quais
foram os motivos que fizeram a pessoa violar determinada regra ou procedimento. Em
determinadas situações, medidas disciplinares podem resolver. Para outras, talvez o
problema maior esteja em uma decisão errada tomada pela alta liderança e aí outra
medida corretiva se faz necessária (inclusive uma avaliação da cultura organizacional,
que muitas vezes induz à violações).
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 75
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 76
unidade XYZ). Esse programa nada mais é do que um plano de ação que indica como a
organização vai atingir a meta proposta (zero fatalidades). Outras ferramentas para
elaboração de planos de ação (como por exemplo o 5W2H: What; Who; Where; When;
Why; How; How much) também podem ser usadas.
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 77
pessoas só são motivadas quando se usa espaço e tempo. Quanto e em quanto tempo?
Se não se é capaz de mensurar isso, como saber se o objetivo foi atingido?
Coonradt (2008) acrescenta que mesmo metas intangíveis precisam de
indicadores tangíveis. Se o propósito é ser mais paciente, pode-se contar, por exemplo,
quantas vezes uma pessoa levantou a voz no mês. Caso constate que o número está
caindo, é porque sua paciência está aumentando. Não se deve dizer simplesmente “Vou
melhorar no ano que vem”, e sim “Vou chegar a X (número) no ano que vem”.
Ele sugere ainda estabelecer uma recompensa para quando a meta for
alcançada. Todos nós gastamos dinheiro continuamente ao longo da vida – pagando o
supermercado, a escola das crianças, a academia, a diarista, a prestação do
apartamento, o financiamento do carro. Muito animador! Alguma vez você disse à sua
esposa ou ao seu marido que mal podia esperar acabar o jantar para fazer o cheque do
condomínio?
Não existe nada de especial na compra de roupas novas para o trabalho, mas
pode haver se for uma recompensa pela conquista de uma meta. Há aqueles que
preferem adquirir um terno como recompensa a fazer isso apenas para aproveitar uma
liquidação. Ainda que se gaste um pouco mais, toda vez que ele for usado, reforçará o
prazer que a pessoa teve em alcançar o objetivo. Quando a recompensa é tangível,
cumprir uma meta se torna uma experiência desejada, e não uma obrigação – e isso faz
toda a diferença.
Caso você goste de música, pense em comprar um CD depois de alcançar uma
meta. Escreva na capa porque o adquiriu. Quando estiver meio baixo-astral, ouça seus
discos favoritos. Enquanto faz isso, leia o que escreveu nas capas e lembre-se de como
atingiu aqueles objetivos. Você se sentirá bem melhor depois de passar um tempo
fazendo esse tipo de condicionamento. O bom se torna melhor quando celebramos
nossas vitórias. E, se você tiver lembranças tangíveis das suas conquistas, não as
esquecerá!
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Capítulo 4. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte II) 78
4.4 TESTES
2. Assinale a alternativa errada que NÃO representa um dos princípios para gerenciar os
erros humanos.
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Capítulo 5. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte III).
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OBJETIVOS DO ESTUDO
Explicar alguns dos elementos que compõem a parte de execução de um sistema de
gestão;
Dar ênfase ao elemento ”treinamento“ do sistema de gestão, discutindo sua
importância e as armadilhas que as organizações normalmente enfrentam;
Comentar sobre a relevância do papel da liderança na implantação e manutenção de
um sistema de gestão de SST.
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Capítulo 5. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte III).
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pode fazer uso de um recurso conhecido como “Tabela RACI”. Através dessa ferramenta,
torna-se mais fácil enxergar as diferentes funções envolvidas, direta ou indiretamente, na
implantação e manutenção de um ou mais requisitos da norma de gestão (é o famoso
“quem faz o quê”). E esse envolvimento “direto” ou “indireto” é definido pela atribuição de
uma das quatro letras que compõe a palavra “RACI”:
R: Responsible = Responsável (executor; revisor)
A: Accountable = Responsável “máximo” (aprovador final)
C: Consult = Consultado (fornecedor de informações)
I: Inform = Informado (recebedor da informação, estar ciente)
5.1.1 LIDERANÇA
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Capítulo 5. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte III).
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realmente ao ponto de partida. Aprende-se algo. Na pior das hipóteses, nos faz apreciar
o que estávamos fazendo antes (“eu era feliz e não sabia.”).
Chandler e Richardson (2008) acreditam que um bom líder deve ser aquele que
explica à equipe com extrema precisão qual é o placar, quanto tempo ainda resta e qual
será a estratégia baseada naqueles números. Assim, fica muito mais fácil saber quando
se está jogando bem, quando se está vencendo ou quando é preciso virar o jogo.
Quando se está numa posição de liderança, é preciso lidar com o temor oculto da
pessoa liderada. Se o líder não enxerga e não compreende esse medo, terá um trabalho
árduo para estabelecer acordos. E motivação é, sobretudo, estabelecer acordos do tipo
“ganha-ganha”.
No entanto, é difícil motivar as pessoas quando não se tem tempo para falar com
elas. Líderes cujas equipes não correspondem às expectativas estão fazendo coisas
ineficazes o dia inteiro. Em vez de parar e decidir a coisa certa a fazer, eles executam
tarefas erradas cada vez mais rápido, estressando-se com a carga de trabalho. Com
frequência, esses líderes pensam que estão executando tarefas múltiplas, mas na
verdade estão apenas fazendo uma coisa de qualquer jeito e passando rapidamente para
outra, que também será executada de maneira insatisfatória. Em breve estarão
preocupados com todas as tarefas que começaram e deixaram incompletas. E essa
preocupação com todas as coisas que precisam ser feitas é, sem dúvida, a maior
consumidora de tempo e energia.
Não é apenas o fato das pessoas terem todas essas tarefas por fazer que
atrapalha, mas também a preocupação subjacente com elas. A presença disso no
inconsciente consome energia, drena a produtividade e a vitalidade da equipe. Um bom
líder precisa ajudar seus funcionários a concluir as pendências. Mas como conseguir
isso? De acordo com São Francisco de Assis: “Comece fazendo o que é necessário, a
seguir o que é possível e de repente, estará fazendo o impossível”.
Um aluno de turmas anteriores desse mesmo curso de engenharia de segurança
do trabalho (Esdras Serra Braga) comentou durante uma das aulas que quando se trata
do comportamento da liderança, deve-se lembrar que: "Não há nada pior do que um bom
conselho seguido de um mau exemplo"!
Chandler e Richardson (2008) mencionam que, quando se trata de liderança,
ficam impressionados com o número de gerentes que despedem um colaborador por
ineficiência, mas lhe pedem que treine o substituto. Incrível! O gerente passa a liderança
a alguém cujo trabalho é insatisfatório, permitindo que uma situação indesejável continue.
Muitos gerentes transferem a liderança a pessoas erradas, abdicam do papel de técnicos
e passam o resto do seu tempo de supervisão tentando impedir que os colaboradores
cheguem aos extremos fora dos limites.
Esse aspecto de transferir a liderança ou simplesmente deixar de assumir a
responsabilidade pelo ato de liderar pode também ser ilustrado através de uma
passagem ocorrida na empresa Southwest Airlines.
Freiberg e Freiberg (2000) relatam que enquanto um membro da alta
administração da empresa estava no campo, visitando uma das estações de trabalho, um
dos gerentes disse a ele que gostaria de instalar uma caixa de sugestões. O membro da
alta administração respondeu: “Claro que sim. Por que você não a coloca exatamente
nessa parede e depois admite que é um fracasso na sua posição de gerente?”.
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Capítulo 5. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte III).
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Em seguida, explica que a empresa acredita que se um líder tem que instalar uma
caixa para que as pessoas exponham suas ideias, significa que esse líder não está
fazendo o que deveria. Seu dever é ouvi-las e estar disponível para elas pessoalmente e
não através de uma caixa. A Southwest trabalha fortemente para que a maioria de seus
funcionários saiba que pode telefonar para qualquer um dos vice-presidentes e ser
atendido, quase que imediatamente. Sendo assim, a caixa de sugestões é uma fuga do
líder; ela diminui sua responsabilidade de ser acessível para as pessoas e é assim que a
empresa entraria em uma grande encrenca ao não mais responder aos comissários de
voo ou aos agentes de atendimento ao cliente, deixando-os sem acesso a alguém que
pudesse lhes dar respostas e recursos.
Neste caso, a empresa acredita que a atitude invariável dos funcionários seria a
de descontar nas pessoas mais próximas (colegas e clientes), de forma agressiva. Por
isso, os líderes compreendem que precisam passar pelo menos um terço de seu tempo
fora do escritório, andando pela estação de trabalho. Isso não é apenas um exercício de
observação e crítica ao trabalho dos outros; é fazer o trabalho e passar tempo suficiente
para compreender e apreciar realmente as dificuldades que as pessoas enfrentam nas
suas funções. A Southwest Airlines acredita que, quanto melhor um funcionário for
tratado, melhor será o desempenho dele. No entanto, o melhor motivo para tratá-lo dessa
forma é a sincera preocupação com aquele que trabalha para a empresa. A lealdade é
algo que se conquista e não um título. Os verdadeiros líderes estabelecem a base de um
atendimento genuíno, sincero e autêntico.
Todos os líderes devem trabalhar muito para gerar um ambiente de confiança e
apoio mútuo. Um líder que detecta fraquezas em cada um de seus subordinados também
precisa assumir a responsabilidade pelo desenvolvimento destas pessoas e pela
correção dos equívocos que cometem. Não adianta identificar pontos fracos, apontá-los e
recorrer a punições como forma de intimidação, nem esperar que essas fraquezas se
resolvam sozinhas. O líder precisa encontrar esses pontos negativos para corrigi-los,
fortalecendo o sistema como um todo.
De acordo com Helton Luiz Santana Oliveira (engenheiro mecânico e de segurança
do Trabalho; professor nas universidades Petrobras e Federal Fluminense, à época
dessa declaração): “A liderança frequentemente se apropria de resultados como recorde
de produção, lucros extraordinários, mas geralmente não quer se apropriar de resultados
negativos, como acidentes ou danos ambientais. Isto, na verdade, é sim uma
responsabilidade da liderança. Todos os resultados do negócio, positivos ou negativos,
são de responsabilidade dela, porque ela é quem está conduzindo. Se alguma coisa está
acontecendo diferente daquilo que estava previsto, é porque a gestão provavelmente não
está tendo o alcance e a capilaridade que precisa ter. A liderança não precisa ser
especialista, mas deve assegurar que haverá a melhor condução dos negócios, onde
quer que ele aconteça”.
De forma geral, há várias características que um líder deve ter para exercer um
bom papel de liderança. Assim sendo, deve ficar clara a importância da liderança e no
que ela implica.
Muitas empresas têm utilizado o conceito de VFL (Visible Felt Leadership), ou, em
Português, algo como “liderança visível e percebida”. Essa cultura pressupõe que a
liderança deve agir pelo exemplo, se mostrando ativa e realmente engajada nas questões
de SST. Não basta fazer um discurso cativante sobre a importância da segurança e da
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saúde para a empresa e parar por aí. Deve-se praticar o que foi dito, através do
envolvimento constante em atividades e iniciativas ligadas a SST. Isso dá visibilidade da
liderança aos funcionários da empresa, que a percebem como uma liderança que, de
fato, está focada em SST.
Conforme Dee Hock (fundador e vice-presidente do Visa Internacional, na época
dessa declaração): “Controle não é liderança; administração não é liderança; liderança é
liderança e ponto. Se você quer ser líder, invista 50% do seu tempo liderando a si mesmo
– seus próprios objetivos, ética, princípios, motivação, conduta. Invista pelo menos 20%
liderando os que têm autoridade sobre você e 15% liderando seus colegas. Se você não
entende que trabalha para seus supostos subordinados, então não conhece nada sobre
liderança. Conhece apenas tirania”.
A norma OHSAS 18001:2007 define que a organização deve assegurar que todas
as pessoas sob seu controle que realizam atividades que possam impactar os aspectos
de SST, sejam competentes em termos de educação, treinamento ou experiência. Além
disso, a organização deve identificar as necessidades de treinamento associadas com os
riscos e com o sistema de gestão de SST, provendo treinamentos ou executando outras
ações para atender a essas necessidades, avaliar a efetividade desses treinamentos e/ou
das ações tomadas e reter os registros correspondentes.
A Figura 16 a seguir ilustra um exemplo de boa prática para identificar as
necessidades de treinamento, através de uma tabela que indica “quem” será treinado,
“quem” vai oferecer o treinamento e/ou a capacitação, e “o quê” será ensinado (qual o
assunto, qual a abordagem etc).
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Número de
Problema encontrado empresas que
afirmam ter esse
problema
01. Após o treinamento, a equipe volta a cometer os mesmos erros depois 71%
de algum tempo
02. Dificuldade em medir os resultados do treinamento 59%
03. A equipe não sabe como aplicar no dia a dia o que aprendeu 57%
04. Ninguém aplica o que aprendeu 57%
05. O treinamento não consegue mudar o comportamento da equipe 53%
06. Já foram feitos treinamentos antes e eles não funcionaram 51%
07. A equipe está mais interessada no coffee break do que no treinamento 42%
08. A equipe acha que o treinamento é perda de tempo 42%
09. A equipe pensa que sabe tudo e acha que não precisa de treinamento 41%
10. A equipe não assimila a informação 41%
11. A equipe está na sala de treinamento, mas não participa dele 33%
12. Ninguém quer ir ao treinamento 31%
13. Ninguém presta atenção 23%
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aprenderem, serão lançadas à sua própria sorte. Por essas razões, a sessão de
treinamento precisa iniciar com as apresentações e um bate-papo que permitam aos
novos relaxar.
Antes de iniciar um treinamento propriamente dito, o instrutor deve avaliar
qualquer potencial lacuna nas habilidades do funcionário. É claro que essa avaliação do
funcionário deve ser feita bem antes do treinamento em si, pelo supervisor ou outra
pessoa com capacidade e autoridade para fazê-lo, mesmo porque o treinamento foi a
ação definida para sanar uma lacuna. Quem tomou a ação de colocá-lo no treinamento,
em tese, já avaliou suas carências e autorizou sua participação (com todos os custos
envolvidos). Cabe ao instrutor questionar, logo no início, sobre o conhecimento do
conteúdo a ser apresentado, sobre a experiência de cada um e, com base nas respostas
obtidas, ficar atento à capacidade de assimilação dos participantes, ajustando exemplos
e auxiliando na compreensão. Talvez seja preciso diminuir o ritmo ou discutir algumas
habilidades fundamentais, tais como o uso de ferramentas, por exemplo, se aquele que
está sendo treinado tem pouca ou nenhuma experiência com elas.
Contudo, cabe aqui uma palavra de cautela: as pessoas tendem a aumentar a
experiência e a capacitação que têm. Novos contratados podem sentir-se pressionados
por questões relativas a seu histórico profissional e, equivocadamente, acreditarem que
precisam de experiência prévia para conseguir o emprego ou mantê-lo.
A história a seguir, relatada por Liker e Meier (2008), ilustra o que pode acontecer
com novos integrantes:
“Quando tinha 18 anos, fui contratado como auxiliar de solda em uma grande
fazenda da Flórida. Eu nunca havia trabalhado como soldador e estava um tanto quanto
apreensivo a respeito. Minha única experiência com solda incluía as aulas práticas no
ensino médio, que foram bastante limitadas. Eu sabia usar o arco da solda e lidar com a
solda fundida, mas fora isso, minhas capacidades eram mínimas. O soldador da fazenda
foi inteligente o bastante para testar minha habilidade me mandando que soldasse alguns
pedaços de metal e acho que me saí bem, pois ganhei o emprego.
No meu primeiro dia de trabalho, o soldador me perguntou se eu sabia como usar
uma solda de acetileno. Claro que esta habilidade era condição necessária para alguém
que queria ser auxiliar de soldagem, e eu já estava me preocupando, pois se eu não
soubesse usar esse tipo de maçarico, acabaria perdendo o emprego. Além disso, eu
achava que já tinha visto um dos meus professores usando essa solda na escola. Será
que era difícil? E quase que imediatamente, eu respondi: Claro que sim. Então, fui
mandado a um prédio anexo para retirar o eixo de uma carroça. Depois de alguns
minutos (talvez um pouco mais), havia acendido o maçarico para remover o eixo. Percebi
que não se tratava meramente de cortar o eixo, mas de deixar que o metal derretesse
devagar. Não foi difícil constatar que eu não estava fazendo um bom trabalho, e quanto
mais piorava a situação, admitir que eu havia economizado na verdade ficava mais e
mais difícil. Passada cerca de meia hora, o soldador veio averiguar porque eu demorava
tanto. Bastou uma olhada para saber a verdade. Ele perguntou: Você nunca usou um
desses antes, não? Estava com um tom de voz incrivelmente calmo. Não adiantaria mais
esconder minha verdade e acabei confessando: Não. Então o soldador disse: Você
deveria ter dito a verdade! O maçarico é perigoso. Você poderia ter se matado. Cheio da
ignorância da juventude, achei que ele estivesse exagerando. O acetileno explode muito
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fácil. Uma quantidade pequena já é o bastante para causar uma grande explosão. Porém,
sem me sentir convencido do que ele dizia, dei de ombros.
O soldador sugeriu então que fizéssemos uma experiência. Ele me mandou injetar
uma pequena quantidade de oxigênio e de acetileno em um copo de café, desses feitos
de isopor, virado com a borda para baixo e com um furo na base. Ele mandou posicionar
a chama pelo orifício para fazer a ignição. Enquanto preparava a experiência, ele se
escondeu atrás de uma mesa. Naquela hora, achei que ele estava aumentando a
brincadeira, e que a chama apenas faria o copo dar um pulo. Contudo, não tinha tanta
certeza assim, e um tanto temeroso coloquei a chama sobre o buraco no fundo do copo
e.... boom !!! A explosão me derrubou no chão. Fiquei estupefato. Nesse dia, aprendi
duas lições importantes. A primeira delas: o poder de explosão de um copo de café não
se compara ao de um tanque de acetileno cheio. A segunda: não faz mal se você não
sabe como fazer alguma coisa e tiver que pedir ajuda”.
A lição importante para todo instrutor é lembrar que a pessoa que está sendo
treinada talvez não consiga avaliar claramente suas próprias habilidades. O instrutor
nunca deve expor aquele que está aprendendo a uma condição perigosa e precisa
observá-lo de perto durante a execução do trabalho. Nesse exemplo, torna-se evidente a
necessidade de comprovação do domínio do uso de um equipamento pelo aprendiz, para
a sua própria segurança e para a segurança de seus colegas e de toda a organização.
Além do cuidado com o treinamento em si, as organizações também precisam
colocar seu foco sobre a escolha dos instrutores, se eles forem internos. Em boa parte
das empresas, em geral é o melhor colaborador que é incumbido do treinamento, mas
frequentemente o melhor colaborador não é, necessariamente, o melhor instrutor e vice-
versa. Há que se considerar outros fatores, como a didática, por exemplo.
Para a Toyota, durante a seleção de instrutores é preciso considerar as
habilidades necessárias ao trabalho. As habilidades fundamentais são “ensináveis” e
podem ser desenvolvidas com a prática. Uma vez que podem ser aprendidas, as
organizações não precisam encontrar pessoas que já tenham essas habilidades. É
possível desenvolver essas habilidades. A maioria das pessoas pode aprender os
princípios básicos do treinamento. No entanto, as habilidades intuitivas tendem a ser
inerentes em cada indivíduo. É possível fazer emergir o talento em qualquer pessoa, mas
é mais fácil se a matéria-prima estiver presente desde o início.
Um processo de treinamento é composto basicamente por três elementos: 1) a
definição do conhecimento fundamental; 2) a transferência do conhecimento
fundamental; 3) o acompanhamento. Os efeitos cumulativos desses três fatores são
semelhantes ao que se vê no cálculo do rendimento final de um processo. Supondo que
se tenha uma eficiência de 80% em cada um dos três elementos básicos de um
treinamento, a multiplicação destas eficiências (0,8 x 0,8 x 0,8) gera uma eficiência final
de apenas 51%. Com esse número final, torna-se imperativo aperfeiçoar cada um dos
três elementos para dar uma sustentação ao processo de treinamento como um todo.
Muitas vezes se ouve gestores e líderes queixarem-se de que não têm tempo
para irem tão longe no treinamento de seus funcionários. A verdade é que esse intenso
esforço, segundo a Toyota, gera perdas totais do sistema muito menores do que o
método de trabalho que permite aos funcionários aprender as habilidades durante o
trabalho, no seu próprio ritmo. Isso lembra o tema de um antigo comercial de uma
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empresa fabricante de transmissões. A pessoa responsável pelo conserto dizia: “Você vai
me pagar agora ou prefere pagar mais tarde?”. A mensagem do comercial era de que se
a manutenção preventiva não fosse feita, o dano ficaria bastante caro com o passar do
tempo. Infelizmente, muitas pessoas cometem esse erro quando o assunto é o
desenvolvimento de pessoas. Elas acham que se o funcionário está em um posto de
trabalho executando suas tarefas com certo nível de eficiência, ele está gerando um valor
inicial, enquanto que o funcionário que ainda não entrou na linha de montagem (ou em
qualquer outra atividade propriamente dita) por estar em fase de treinamento, não está
contribuindo com qualquer valor. No longo prazo, as perdas serão maiores se os
funcionários não tiverem recebido o nível adequado de treinamento.
A mensagem final em que a Toyota se baseia é que sem essa preparação dos
funcionários, a empresa acabará fazendo aquilo que um número incontável de outras
companhias fez antes: contratar pessoas, mostrar a elas como executar a atividade,
deixá-las sozinhas e depois solucionar problemas repentinos; “apagar os incêndios” que
virão. Com essa abordagem, a empresa não terá pessoas excepcionais e capazes de
concretizar resultados de forma consistente.
Pensando um passo antes do treinamento, está o processo de recrutamento e
seleção. Para esse aspecto, Liker e Meier (2008) acreditam que apenas 10% (ou menos)
de todo o talento é nato. Em outras palavras, o dom natural para o talento responde por
apenas 10% de toda a capacitação de um indivíduo. Exatos 90% ou mais do que se
acredita ser o talento dos funcionários de uma empresa são, na verdade, aprendidos com
esforço, repetição e prática. Por isso, as empresas devem começar com um bom alicerce
– uma pessoa que tenha a capacidade e a vontade de aprender – e então deve
desenvolver os talentos específicos com a repetição do esforço e da prática.
Connellan (1998) relata uma passagem em que uma empresa se questiona sobre
o processo de recrutamento para vagas de Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC).
Essa empresa percebe que deve redefinir o modo como contrata seus funcionários de
atendimento ao cliente, alegando que sempre fez essas contratações por meio de
entrevistas pessoais. Porém, percebeu que seus clientes nunca se defrontam com esses
funcionários, já que o contato se dá por telefone. E sabe-se que há pessoas que causam
boa impressão quando são vistas, mas nem tanto quanto falam ao telefone. Portanto,
daquele dia em diante, a empresa determinou que a primeira entrevista com esses
candidatos de atendimento telefônico seria por telefone. Desse modo, poderia ter com o
candidato o mesmo tipo de contato que o cliente teria.
Outra passagem relatada por Connellan (1998) menciona o “pré-recrutamento”. O
autor cita que tem um amigo que sempre leva muitos cartões de visita onde quer que vá.
Quando alguém lhe presta um bom serviço, seja em um restaurante, um supermercado
ou uma lavanderia, esse amigo dá a essa pessoa um cartão, diz que está sempre
procurando pessoas de valor e avisa que, se um dia a pessoa estiver à procura de
emprego, deve telefonar para ele. Ele diz que conseguiu alguns de seus melhores
funcionários dessa maneira!
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5.3 TESTES
3. Qual o significado da expressão dita pelo filósofo Aristóteles: “As raízes da educação
são amargas, mas o fruto é doce”?
a) O custo de capacitação dos colaboradores é muito alto, mas o retorno financeiro que
ele promove através da sua produtividade compensa.
b) Há muito desperdício em horas de treinamento não produtivas e normalmente quem
arca com o prejuízo são os acionistas .
c) O processo educacional demanda tempo, requer esforço e dedicação, mas ao final da
trajetória existe uma compensação.
d) Existe uma falta de boa vontade por parte das pessoas em serem treinadas, porque
sua supervisão normalmente exige a mesma demanda, apesar dela se ausentar para
aprender.
e) A organização não tem estrutura para identificar as necessidades corretas de
treinamento e muitos cursos não são direcionados a quem deveria realmente fazê-los.
Feedback: item 5.2 – “Em outras palavras, pode-se dizer que o processo...
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Capítulo 6. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte IV). 93
OBJETIVOS DO ESTUDO
Explicar alguns dos elementos que compõem a parte de execução de um sistema de
gestão;
Dar ênfase ao elemento ”comunicação“ do sistema de gestão, discutindo sua
importância e as armadilhas que as organizações normalmente enfrentam;
Comentar sobre os processos motivacionais e de feedback / reconhecimento, como
parte importante para alavancar e manter um bom sistema de gestão de SST.
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Capítulo 6. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte IV). 94
Mais do que isso, está especificado também que deve haver uma consulta aos
contratados sempre que mudanças afetarem a sua segurança e a sua saúde no trabalho
e que por fim, a organização deve assegurar que, quando apropriado, as partes
interessadas externas relevantes sejam também consultadas sobre problemas
pertinentes de SST.
Diante de toda essa determinação da norma, a pergunta que fica é: o que
significa, realmente, o termo “comunicação”? De acordo com a empresa Anglo American
(antiga divisão de metais básicos), em seu manual “Comunicação de segurança - um
guia de boas práticas” publicado em Dezembro de 2009 para uso interno, a palavra
comunicação vem do verbo latino communicare, que significa “tornar algo comum”.
Comunicação é o processo de transferência de informação de um ponto a outro,
compartilhando dados para proporcionar o entendimento.
Desta forma, uma comunicação adequada não significa simplesmente passar
informação. Ela também se refere a compartilhar ideias, motivar as pessoas a interpretá-
las, ouvir o que os outros têm a dizer e dar feedback. Um processo efetivo de
comunicação contribui para aumentar a coesão organizacional e o nível de desempenho,
pois está relacionado à motivação dos empregados. Quando eles se sentem informados
sobre a empresa na qual trabalham, se tornam mais envolvidos com o negócio.
Uma pesquisa publicada pela revista Você S/A na sua edição 11 de 2010 (Guia do
gestor eficiente) mostrou que no dia a dia, problemas de comunicação ocorrem
principalmente quando:
A empresa muda muito suas estratégias e metas;
Há excesso de informação, consumindo o tempo do gestor;
O gestor é técnico, com baixa aptidão para se comunicar;
A “rádio peão” é mais rápida do que o gestor ou a empresa;
A mensagem passa por muita gente até chegar a quem realmente precisa ouvi-la;
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“Eu farei” significa que o empregado está alinhado e comprometido com os objetivos
da empresa.
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Capítulo 6. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte IV). 97
Como segurança é dita como um valor para muitas empresas (e deveria ser
assim, inclusive nas nossas vidas pessoais), ela precisa fazer parte do dia-a-dia. Nesse
sentido, as empresas devem estimular seus colaboradores a pensar em segurança
constantemente, tanto dentro quanto fora do trabalho. Considerando que a repetição e a
consistência ajudam no processo de comunicação, todo funcionário deveria conversar
sobre segurança pelo menos no início de cada turno de trabalho, para tornar o
pensamento em segurança um hábito.
Ao implantar ferramentas de comunicação baseadas em recursos de informática,
é importante lembrar que a parcela de empregados e contratados que não têm acesso ao
computador está “perdendo a voz” ou, em outras palavras, a capacidade de ser ouvida.
Em relação ao uso de e-mail, mesmo que o destinatário envie uma confirmação
de recebimento, isso não significa que a mensagem tenha sido lida com atenção e
assimilada. Se você realmente quer comunicar algo, não use apenas o e-mail e não tire
conclusões precipitadas como “eu mandei um e-mail, então todos estão sabendo”.
Um recurso ao e-mail é configurar o sistema para aparecer uma janela “pop-up”
com informações de segurança logo após a conexão na rede da empresa. É
aconselhável que o conteúdo da janela seja atualizado regularmente para mantê-la
atrativa, caso contrário os usuários fecharão a janela sem ler.
O papel de parede de computador também pode ser usado como um veículo de
comunicação. Contudo, tente variar o tema periodicamente para que a imagem não se
torne apenas decoração.
O protetor de tela é outra ferramenta que pode ajudar a enviar mensagens.
Porém, se a mesma animação permanecer por muito tempo, seu potencial diminui.
Embora o protetor de tela apareça apenas quando o usuário está ausente do
computador, outras pessoas no mesmo ambiente poderão vê-lo e o usuário do
computador também visualizará a animação cada vez que retornar ao seu local de
trabalho.
Um vídeo permite que a força de trabalho assista a alta liderança explicando
informações técnicas (como por exemplo, uma simulação de um acidente), e tem a
vantagem de se sobrepor à barreira da dificuldade da leitura (quando comparado a outros
veículos de comunicação escrita). No entanto, não é aconselhável usar vídeos para
comunicar mudanças. Nesse caso, a comunicação “olho no olho” é mais recomendada,
pois evita boatos e erros de interpretação. É importante também lembrar que enquanto
um vídeo é mostrado, existe pouquíssima interação. De acordo com as necessidades de
comunicação, recomenda-se incluir uma sessão de perguntas e respostas ao final do
vídeo, para tornar o assunto mais claro.
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Capítulo 6. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte IV). 99
informação por meio das palavras. Por isso, combinar a comunicação com o estilo
cognitivo do interlocutor é fundamental para o sucesso, principalmente se a empresa está
tentando chamar a atenção para uma nova ideia, concepção, estilo ou mesmo “valor”
(como no caso, SST).
Nessa linha de raciocínio, ao falar sobre segurança, além de observar o estilo
cognitivo, verifique também se as outras pessoas conhecem o significado correto de
termos como acidente, incidente, erro humano, perigo, risco etc. E atente-se para o fato
de que quando uma mensagem contém termos em inglês que não são familiares aos
colaboradores, ela cria a impressão de que “essa iniciativa não tem nada a ver comigo”.
Na passagem de turnos, os supervisores devem se questionar: como é possível
garantir que os dois turnos (aquele que começa e o outro que termina) estão acessando
todas as informações necessárias? Como se pode verificar se o turno que entra
realmente entendeu a mensagem daquele que está saindo? E mais que isso: deve-se
também prestar uma atenção especial às tarefas não-rotineiras que foram iniciadas por
um turno, mas que serão finalizadas pelo turno seguinte, afinal das contas, aquilo que
foge da rotina também tem condições perigosas associadas e muitas vezes, não há
controles suficientes para gerenciá-las.
Faz-se necessário lembrar que, quando o assunto é comunicação (e mais
especificamente “comunicação de SST”), os trabalhadores precisam ser informados,
compreender a questão e “comprar a ideia” antes de começarem a agir de um jeito
diferente. Os boatos geralmente são provocados por uma falta de informação ou por um
mal entendido. Quando os colaboradores têm dúvidas e a empresa não as responde, o
boato se torna cada vez mais forte porque se conecta com a expectativa das pessoas.
Entretanto, mesmo se as iniciativas de comunicação forem cuidadosamente
planejadas, os canais estiverem adequados para o público alvo e os empregados se
interessarem pelas mensagens, mal entendidos ainda podem ocorrer. Algumas das
principais causas de problemas de comunicação são suposições incorretas (por exemplo,
quando assumimos que sabemos o que o receptor pensa, sem verificar), distrações, falta
de tempo, falta de experiência, de habilidade ou de prática (que acontece quando alguém
foi afastado do trabalho por um longo período), falta de hábito de leitura, mudanças na
rotina (como em um longo período de manutenção programada), mecanismos de envio
de mensagens pouco efetivos, liderança ausente e falta de comprometimento.
No processo de comunicação, existem diferentes dimensões de desempenho. O
nível mais baixo é o da logística: os empregados têm acesso aos canais de
comunicação? Eles têm a oportunidade de usá-los? Por exemplo, um registro de Diálogo
Diário de Segurança (DDS) mostrará que a informação foi fornecida, mas não identifica
se foi absorvida. O segundo nível é o de atenção: os canais de comunicação chamam a
atenção dos empregados? Será que eles entendem as informações que estão
recebendo? Eles consideram as informações confiáveis? O terceiro nível é o de
relevância: a mensagem é significativa e relevante para os empregados? O quarto nível é
o de influência: a comunicação inspira atitudes? Os empregados estão comprometidos?
As mensagens estão contribuindo para mudança de comportamento?
Pensando nesses quatro níveis / dimensões de desempenho em comunicação,
algumas evidências de uma boa comunicação de segurança são:
Gerentes e supervisores conversam sobre segurança regularmente com seus
empregados;
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Capítulo 6. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte IV). 101
Parte 1: Terminologia
Parte 2: Sistema de classificação de perigo
Parte 3: Rotulagem
Parte 4: Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ) –
revisada em Agosto de 2012.
De acordo com uma pesquisa feita pela Occupational Safety and Health
Administration (OSHA), quando se trata de comunicação de condições perigosas, as
violações mais comuns identificadas nas empresas foram:
Falha ao desenvolver e manter um programa escrito;
Falha em manter programas de treinamento;
Falha em garantir que cada embalagem de produto perigoso presente no local de
trabalho exiba um rótulo, esteja identificado ou marcado adequadamente;
Falha na existência de MSDS para cada produto químico;
Falha em manter no local de trabalho cópias das MSDSs.
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Capítulo 6. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte IV). 102
lacuna torna-se ainda muito maior com o “efeito óbvio”. Ocorre que “eu acho que o outro
sabe”, e o outro também acha que sabe e só descobrimos que não era bem assim tarde
demais, quando o acidente já ocorreu. As empresas deviam pensar mais nisso!
6.1.1 MOTIVAÇÃO
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Capítulo 6. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte IV). 103
Herzberg, por outro lado, afirmou na década de 60, que a origem da motivação do
trabalhador para executar suas atividades tinha de ser buscada em uma tarefa que
permitisse criatividade, tivesse significado, permitisse o crescimento profissional e na qual
o trabalhador tivesse interesse em executá-la. Segundo ele, os fatores motivadores
dependem da natureza e do conteúdo das tarefas que o trabalhador executa.
A redefinição dos postos de trabalho e das tarefas a serem executadas pelos
trabalhadores deveria levar em conta os desafios e estímulos para os trabalhadores. A
motivação deveria vir de fatores intrínsecos (ou internos) do trabalho, em vez de fatores
extrínsecos (ou externos) do trabalho. Aos fatores intrínsecos, Herzberg os chamou de
“motivadores do trabalho”.
Aos fatores extrínsecos ou contextuais do trabalho, Herzberg os chamou de
“fatores higiênicos do trabalho” e eles referem-se às condições de trabalho, ou seja, o
salário, os benefícios sociais, o tipo de supervisão existente, as condições físicas do
trabalho, as políticas da empresa, o clima organizacional etc.
De acordo com a teoria de Herzberg, quando os fatores motivacionais são
adequados, eles provocam a satisfação, porém, se inadequados, provocam a
insatisfação do trabalhador. Os fatores higiênicos, por outro lado, quando adequados,
apenas evitam a insatisfação dos trabalhadores.
Apesar da discussão das teorias de Maslow e Herzberg, a pergunta que ainda
persiste é: o que é motivação? Separando a palavra em duas partes, tem-se motiv +
ação. E adicionando a letra “o” à primeira parte, forma-se o motivo. Motivação é um
motivo para agir, uma razão para fazer alguma coisa.
Segundo Coonradt (2008), há três tipos de motivação e elas podem ser ilustradas
através da analogia de um burro e de uma cenoura.
A forma mais comum é o medo. Os pais a utilizam com as crianças, alguns líderes
com seus colaboradores, o tempo todo. Quando uma carroça puxada por um burro pára
ao pé de uma montanha, o medo é motivado pelo homem, que estala o chicote. Às vezes
o animal dá coices ou empaca. Se a montanha é íngreme e a carga é pesada, chega um
ponto em que o burro prefere apanhar a continuar. As pessoas também. Contudo, um
dos maiores problemas com a motivação pelo medo é que é necessário alguém com um
chicote para controlar cada pessoa, o que custa caro.
Outra alternativa é motivar por meio do incentivo. Pendura-se uma cenoura na
ponta de uma vara comprida e a coloca na frente do burro. De acordo com a teoria, ele
será atraído pela cenoura e puxará a carroça até o alto da montanha. No entanto, há
alguns tipos de situações em que a cenoura não funciona e por essa razão as empresas
devem conhecê-las para avaliar bem suas formas de estímulo a seus colaboradores.
A primeira delas é quando o animal não está com fome. Às vezes, quando se tem
um burro que se satisfaz com 1500 cenouras por mês e é transferido para uma posição
em que ganhará 3000 cenouras, ele baixará seu desempenho para deixá-lo no mesmo
nível das suas expectativas e necessidades.
A segunda situação em que a cenoura não dá resultado é quando ela não é
suficiente o bastante. O burro olha para a cenoura, olha para a carga, vê como a
montanha é íngreme e pensa: “Se acham que vou carregar isto montanha acima por esta
porcaria de cenoura, estão muito enganados”. E empaca.
O terceiro provável problema com a cenoura é quando o burro não gosta da
mesma. O vice-presidente de uma empresa mostrou uma TV LCD de 37 polegadas que
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Capítulo 6. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte IV). 104
seria o prêmio para o melhor vendedor do mês. Uma colaboradora disse: “Grande coisa.
Essa TV pode valer uns 4 mil reais. Se eu ganhar, terei que reformar a sala para colocar
a TV e isso me custará 6 mil reais.” No seu modo de ver, aceitar aquela cenoura lhe
custaria caro. Não gostou da cenoura. Outro exemplo é quando um empresário diz:
“Trabalhe duro e eu o promoverei a gerente”. E o colaborador pensa: “Hummmm ....
gerente é uma pessoa que trabalha 30% a mais que os outros.” Não gostou da cenoura.
Portanto, ao definir a cenoura, tenha a certeza que gostarão dela!
Burros podem reagir melhor a chicotadas e cenouras, mas não é esse o caso das
pessoas. Elas respondem melhor às suas próprias metas, caso as tenham. Não é
necessário tratar as pessoas como burros. Alcançar objetivos é uma forma de ganhar, e
todos gostam de vencer. Quem quer realmente triunfar atingindo metas não precisa de
cenouras nem de chicotadas, pois a vitória é sua recompensa. O estabelecimento de
metas orienta a motivação, canalizando-a na direção certa.
A terceira e mais eficaz forma de motivação, a auto motivação, acontece quando
as pessoas têm permissão para escolher as recompensas que desejam, estabelecer as
metas que pretendem alcançar e decidir como atingi-las.
A motivação – isto é, o motivo para a ação – é a troca entre o que se quer e o que
se está disposto a pagar. Quando a ação ultrapassa de longe o motivo, nada acontece. A
chave para a motivação é dar motivos que não pesem mais do que as ações desejadas.
Uma outra analogia pode ser feita através de uma gangorra. Todo mundo tem uma
gangorra imaginária na cabeça. A motivação é um processo de empilhar coisas no lado
do motivo até que o movimento ocorra e a ação se levante do chão.
Os trabalhadores têm que entender os motivos por trás das tarefas que são
solicitadas. Eles devem ajudar a negociar os resultados esperados. Muitas vezes, as
empresas acreditam que enfrentam um problema de comunicação quando tentam
explicar como a alguém, mas a pessoa só quer saber do porquê. No entanto, se as
organizações forem capazes de definir claramente o porquê, alcançarão o resultado
desejado e o “como” surgirá de modo natural.
De acordo com Coonradt (2008), inserir o “porque” na comunicação faz com que
os funcionários passem a exibir desempenhos incríveis. Quando a pessoa se concentra
no resultado final, os obstáculos se diluem no ritmo intenso da preparação. Quanto mais
o líder se torna habilidoso em pintar quadros vivos dos resultados ou dos benefícios
finais, mais os colaboradores se dispõem a se esforçar para conseguir esses resultados.
E da perspectiva de segurança? Por que é importante fazer as tarefas com
segurança? Que implicações uma decisão errada que leva a um acidente pode ter para
os demais colegas e para toda a empresa? Que consequências se têm, a médio e longo
prazo, o não uso de um equipamento de proteção individual? Por que é importante relatar
desvios antes que possam virar um acidente? Qual o motivo de ter que participar dos
diálogos diários de segurança? Por qual razão a política da empresa explicita que
segurança é uma responsabilidade de todos?
Através da lista de porquês mencionada no parágrafo anterior, fica clara a
necessidade e a importância de apresentar aos funcionários da empresa os motivos para
as ações, as justificativas que fazem com que determinado trabalho seja feito. E quanto
mais plausíveis forem essas justificativas, mas fácil será a aceitação do funcionário em
fazer o que tem que ser feito. Mais fácil será envolver a mente e o coração dos
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Capítulo 6. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte IV). 105
colaboradores. Dizer apenas: “Porque sim”; “porque tem que ser assim” não resolve e vai
totalmente contra os princípios que acabaram de ser discutidos.
Jack Welch (ex-CEO da General Electric), acredita que envolver a mente e o
coração das pessoas é o segredo de tudo: “Eu acho que qualquer empresa que tenta
acompanhar as mudanças do nosso tempo tem que descobrir a melhor forma de
estimular a mente de cada funcionário. Se você não pensa o tempo todo em como
valorizar mais cada pessoa, não terá a mínima chance. A única forma de mudar a mente
das pessoas é com persistência.”
Nossa vida é feita de tenho que e quero. Apreciamos as coisas que queremos
fazer, mas não somos motivados por atividades que temos que fazer. Por que tantas
pessoas não gostam do seu ambiente de trabalho? Porque ali suas escolhas são
bastante limitadas – dizem-lhe exatamente o que executar e como. Elas não se divertem
muito. Seu desempenho não é igual ao que teriam se estivessem participando de uma
atividade recreativa que escolheram fazer.
Esse princípio do tenho que e quero também se aplica ao mundo do trabalho:
quanto mais possibilidade de escolha for dada aos seus funcionários – dentro dos limites
do negócio, claro – melhor será o desempenho deles e mais eles gostarão disso.
Levando-se em conta essa discussão, Katcher (1989) enfatiza que quando se fala
em motivação, deve-se acreditar que o homem motivado exibe o comportamento que
quer e quando quer, pois é dotado de sua própria energia, sendo assim capaz de
empreender por si só sua caminhada. Em contrapartida, uma vez que a pessoa não age
por si mesma, faz-se necessária a constante vigilância, caso se queira que um
comportamento desejável não desapareça.
É natural acreditar que é possível “motivar” alguém baseado naquilo que nos
motiva. Primeiramente, é preciso saber que ninguém motiva ninguém. Tem-se que
aprender que o que é bom para um pode não ser para o outro e em função disso, ao se
tratar de motivação, é fundamental que esteja muito claro aquilo que motiva cada uma
das pessoas com as quais se está envolvido.
A motivação é uma força interna, um movimento intrínseco gerado de forma
individual. É o que faz cada um assumir determinados valores em detrimento de outros.
Assim sendo, para provocar motivação pode-se criar recursos que proporcionem ao outro
uma identidade com os seus valores e consequentemente fazer sentir-se motivado. Essa
identidade nada mais é do que mostrar ao outro aquilo que ele precisa, falar o que ele
quer escutar, ou ainda colocar à sua frente aquilo que ele gostaria de ver.
É assim que se dá o processo de grupo. Através da observação do outro, é
possível extrair as necessidades e os fatores de identidade. A partir destes, elabora-se
uma estratégia capaz de fazê-lo motivar-se por algo. A questão é: como identificar tais
necessidades e conseguir essa conexão? Esse é o grande paradoxo das empresas que
frequentemente buscam fórmulas que garantam o máximo de adesão aos programas por
ela implantados. Nesse âmbito, é inegável que existe uma grande dificuldade visto que
nem sempre os valores organizacionais correspondem aos valores individuais e nessas
circunstâncias a conexão não é estabelecida. Por consequência, esses indivíduos
praticam determinadas atitudes somente no trabalho, mas não conseguem incorporar tais
valores. Exemplo disso são os programas de segurança dentro e fora do trabalho.
Aqueles que não vêem a segurança como valor, apenas cumprirão as regras enquanto
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Capítulo 6. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte IV). 106
estiverem a serviço da empresa, mas fora desse ambiente, não darão a mínima para a
segurança, durante os finais de semana, férias, atividades de lazer etc.
Para que um trabalho tenha sentido, Morin (2002) diz que é importante que quem
o realize saiba para onde ele conduz; em outras palavras, é essencial que os objetivos
sejam claros e valorizados e que os resultados tenham valor aos olhos de quem os
realiza. Finalmente, deve-se procurar proporcionar aos trabalhadores os sentimentos de
segurança e de autonomia necessários para seu desenvolvimento.
Dentro desse pressuposto, o profissional de segurança deve desempenhar o
papel de “perguntador fanático”, ou seja, deve ser questionador, identificando todas as
possibilidades e buscando sempre a integração dos fatos. Para atuar nessa função com
melhor aproveitamento, esses profissionais devem buscar o seu autodesenvolvimento,
principalmente no que diz respeito ao trato com outros seres humanos. Esse
desenvolvimento abrange assuntos como: comunicação, inter-relacionamento, trabalho
em equipe, criatividade, liderança, planejamento, entre outros.
Connellan (1998) relata um exemplo interessante sobre o uso de cartões de visita,
que está diretamente relacionado com a importância de estimular as pessoas. Há alguns
anos, começaram a perceber que os funcionários de uma empresa haviam concluído,
com base em experiências anteriores ou da própria empresa, que só os profissionais de
um determinado nível para cima possuíam cartões de visita. Foi quando a empresa
decidiu dar cartões de visita para todos os seus colaboradores. Só que, com essa
decisão, tiveram que definir o que colocariam nos cartões. No início, pensaram em usar
apenas o nome da pessoa ou títulos como: “Gerente de Vendas”; “Assistente
Administrativo”; etc. Mas uma das pessoas envolvidas com essa mudança disse que,
como o presidente da empresa gostava de falar da importância de clientes, por que não
colocar “Gerente de Atendimento ao Cliente” no cartão de todos? E essa idéia foi, de fato,
colocada em prática.
O mais importante dessa iniciativa é que uma atitude simples e barata provocou
uma grande mudança na maneira como os colaboradores dessa empresa começaram a
trabalhar. Esse cartão de visitas é um lembrete constante de que todos precisam se
concentrar em oferecer ao cliente aquilo de que este precisa; até mesmo funcionários
que nunca entram em contato direto com clientes. Na verdade, a empresa acredita que o
cliente é tão importante que, quando um líder encontra com cada um dos novos
funcionários em sua primeira semana de trabalho para explicar a importância dos
clientes, dá a cada um deles uma caixa com seus cartões de visita para que esse foco
sobre o cliente vá se formando desde o primeiro dia.
Com essa iniciativa, é perfeitamente possível fazer essa mesma abordagem para
quaisquer outros valores de uma empresa, incluindo segurança. Para as organizações
que, além de valorizar o cliente, têm também a segurança como um valor, estas podem
criar cartões de visita iguais para todos os colaboradores, independente da função ou
nível hierárquico, com mensagens do tipo: “supervisor de segurança”; “gerente da
integridade física das pessoas”; “coordenador geral da vida humana e do patrimônio” e
assim por diante.
Para finalizar, que a mensagem de Winston Churchill sirva para reflexão: “Antes
de você inspirar a emoção, deve estar permeado desse sentimento. Antes de conseguir
tirar lágrimas dos olhos do povo, seus próprios olhos devem estar molhados. Para
convencê-los, você tem de acreditar primeiro”.
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Não importa o jeito adotado, mas torna-se relevante comemorar as conquistas para
reforçar que a empresa está evoluindo e para incentivar os colaboradores a manterem-se
focados nesse objetivo. Quando você mostra que está preocupado em conhecer a
opinião do seu público alvo e que você usa isso para melhorar o processo, os
empregados se sentem envolvidos e motivados a participar. Às vezes, boas ideias são
ignoradas por causa de uma avaliação descuidada!
Ao invés de iniciar uma intervenção com frases assim, é preciso refletir o que será
dito e como será dito.
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Capítulo 6. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte IV). 109
1- Inicie a abordagem
Para alguns, iniciar uma conversa sobre segurança pode gerar muita ansiedade, com
pensamentos do tipo:
“E se eu escolher mal minhas palavras?”
“E se ele/ela me virar às costas e me deixar falando sozinho?”
“E se ele/ela ficar muito bravo(a) e chateado(a) comigo?”
Para lidar com essas hipóteses que podem paralisar uma intervenção, é melhor
iniciar com uma frase que consiga atrair a atenção da “pessoa alvo” e usualmente
provoca uma risada ou ao menos um clima de relaxamento. A sugestão é dizer: “Essa é
uma pausa segura” (ou algo semelhante). Essa frase costuma gerar uma reação positiva
por demostrar espontaneidade e fazer a “pessoa alvo” parar e prestar atenção em quem
está iniciando o feedback.
2- Dê o feedback
Pesquisas mostram que um feedback com características de crítica é melhor aceito
quando bem explicado e quando fornecido por alguém que tem credibilidade. Se o
feedback não for bem objetivo ou mostrar indícios de crítica pessoal, aumentam as
chances de haver discussões em função do receptor discordar daquele julgamento.
Dessa forma, julgar o comportamento do colega deve ser evitado. Portanto, Frances
recomenda deixar de lado frases como as abaixo, que podem até ser pensadas por quem
está dando o feedback, mas não devem ser ditas:
“É óbvio que ...”
“Você não parece ser da mesma equipe...”
“Isso é falta de cuidado...”
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De acordo com Frances (2011), esses exemplos de afirmação dão uma conotação
de preocupação pessoal com o colega de trabalho e funcionam bem para atrair a atenção
de quem está sendo abordado. Além disso, quando um sentimento de afeição (cuidado)
com outra pessoa é demonstrado, ele deixa de ser questionável. Se um colega olha nos
olhos de outro e diz: “Estou preocupado porque não quero que você se machuque”, a
outra parte não vai questioná-lo se ele está sendo sincero ou não. Ele normalmente
aceita o comentário como verdade, o que evita um conflito ou uma discordância.
Assim, o feedback de segurança com melhor poder de persuasão envolve uma
combinação de linguagem descritiva (incluindo a parte de causa – efeito), seguida de
uma demonstração de cuidado pelo outro.
5- Encerre a abordagem
Há exemplos e casos em empresas que mostram que dar um feedback de segurança
ajuda muito a evitar acidentes. Assim, uma forma de encerrar a conversa é dizendo algo
como: “Eu simplesmente não quero que você sofra nenhum ferimento” ou “Eu desejo que
você termine seu turno bem para voltar para a sua família”.
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Capítulo 6. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte IV). 113
Os simulados visam testar a eficácia das partes mais críticas do(s) plano(s) de
emergência e o processo de planejamento da emergência. Embora os exercícios teóricos
possam ser úteis durante o processo de planejamento, a OHSAS recomenda que os
treinos práticos sejam os mais realistas possíveis para serem efetivos.
Convém que o envolvimento de órgãos externos no planejamento e atendimento a
emergências seja claramente documentado. Sugere-se que tais órgãos sejam informados
sobre as possíveis circunstâncias de seu envolvimento e que recebam essas
informações, se assim desejarem, a fim de facilitar seu envolvimento nas atividades de
atendimento.
Uma boa prática adotada para um planejamento mais consistente de como
responder a cada um dos potenciais cenários de emergência (também chamados de
“condições perigosas de alto potencial”) é fazer uso da estrutura de gestão mostrada na
Figura 20 a seguir.
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Capítulo 6. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte IV). 114
Controles de prevenção: como o próprio nome já diz, tem a função de evitar que um
potencial cenário de emergência se materialize em um acidente real. São os recursos
que a empresa usa para evitar uma tragédia. Treinamentos, procedimentos, simulados,
planos de manutenção periódica podem ser aqui considerados.
Resposta à emergência: é todo o plano para reagir ao evento indesejado que ocorreu.
Inclui todos os recursos citados anteriormente e que auxiliam no atendimento ao requisito
4.4.7 da OHSAS 18001 (brigada, equipamentos de combate, comunicação, hospitais
preparados, abrigos, telefones de emergência etc).
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Capítulo 6. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte IV). 115
6.6 TESTES
a) Verdadeira.
b) Falsa.
Feedback: item 6.1.2 - “Não receber feedback pode ser tão devastador quanto um
feedback negativo”.
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Capítulo 7. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte V). 116
OBJETIVOS DO ESTUDO
Explicar alguns dos elementos que compõem a parte de verificação de um sistema
de gestão;
Dar ênfase ao elemento de investigação de incidentes, não conformidades, ações
corretivas e ações preventivas do sistema de gestão;
Apresentar, dentro do contexto de acidente do trabalho, sua conceituação,
classificação e custos.
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Capítulo 7. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte V). 117
VERIFICAÇÃO
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Capítulo 7. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte V). 118
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Capítulo 7. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte V). 119
Esse é um dos requisitos criados na revisão dessa última versão da norma (2007).
Por isso, algumas empresas ainda têm dificuldade em como atendê-lo.
Uma maneira simples é combiná-lo com o item 4.3.2 e trabalhar em uma única
planilha de controle, onde algumas colunas são específicas para atender o requisito 4.3.2
e outras oferecem as evidências solicitadas por esse requisito de avaliação do
cumprimento.
Um exemplo dessas colunas que evidenciam o atendimento a esse requisito 4.5.2
em específico pode ser visto através da Figura 22 a seguir.
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Capítulo 7. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte V). 120
Quadro 7.1: A Consolidação das Leis da Previdência Social (CLPS) estabelece que :
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Capítulo 7. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte V). 121
Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei (artigo 21):
I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja
contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua
capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua
recuperação;
IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho:
a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa;
b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou
proporcionar proveito;
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Capítulo 7. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte V). 122
c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta
dentro de seus planos para melhor capacitação da mão-de-obra, independentemente do
meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado;
d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer
que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado.
§ 1º Nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação de
outras necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o empregado é
considerado no exercício do trabalho.
§ 2º Não é considerada agravação ou complicação de acidente do trabalho a lesão
que, resultante de acidente de outra origem, se associe ou se superponha às
consequências do anterior.
Usualmente há duas medidas diretamente associadas à estimativa de acidentes
do trabalho: taxa de frequência e taxa de gravidade. Seus cálculos estão definidos na
norma NBR 14280:2001 (Cadastro de acidentes do trabalho).
A taxa de frequência é a medida de ocorrências em relação ao número de horas
trabalhadas. No Brasil, a referência é de 1 milhão de homem-hora trabalhada (HHT) no
período. A taxa de gravidade é a medida que expressa a severidade dos acidentes
ocorridos e é obtida a partir da divisão da soma dos dias perdidos e dos dias debitados,
pelo número de HHT no período, multiplicado por 1 milhão. Os dias perdidos são aqueles
dias efetivamente perdidos em consequência de uma lesão incapacitante, em função de
um acidente. Os dias debitados são valores (definidos em tabelas próprias da NBR
14280) atribuídos por morte, incapacidade para o trabalho e/ou outras perdas.
É importante ressaltar que os países europeus e os Estados Unidos adotam como
referência para o cálculo da taxa de frequência 200.000 HHT ao invés de 1,0 milhão de
HHT. De acordo com Lapa (2006), com a globalização as empresas costumam manter
seus indicadores de origem nos países onde atuam para efeitos comparativos com outras
unidades e com a matriz. Por isso, ao comparar taxas de frequência, é importante
conhecer as respectivas bases de cálculo.
Lapa (2011) ainda ressalta que mais do que esse cuidado, é relevante também
lembrar que algumas empresas adotam, para efeitos estatísticos comparativos, o cálculo
da taxa de frequência não incluindo os acidentes com primeiros socorros, os chamados
“quase acidentes” (ou incidentes), os acidentes de trajeto e os ocorridos fora do trabalho
(os chamados off-the-job), que são tratados de forma separada; outras organizações
incluem nos cálculos tanto as ocorrências com seus funcionários, quanto os eventos
indesejados ocorridos com contratados, indistintamente. Por essa razão, ao comparar
indicadores de desempenho, deve-se conhecer a sua forma de cálculo e avaliar se a
simples comparação é pertinente ou se exige conversão de dados para uma base
equivalente.
Os acidentes do trabalho não têm uma causa única. Trata-se de um evento que
corresponde a um processo ou cadeia de eventos paralelos, que conduzem a uma ou
várias consequências nocivas, tanto para o trabalhador como para os demais fatores da
produção. A compreensão do fenômeno “acidente do trabalho” é importante para o
desenvolvimento das práticas de prevenção.
Correa e Cardoso (2007) mencionam que a história da segurança do trabalho é
rica em teorias que tentam explicar a causalidade dos acidentes. Segundo eles, há a
teoria da transferência de energia, ou seja, os trabalhadores sofrem lesões e os
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Capítulo 7. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte V). 123
equipamentos sofrem danos devido a uma mudança de energia. Para cada mudança de
energia existe uma fonte, um caminho e um receptor. Essa teoria é útil para determinar
as causas da lesão e para a avaliação de energias perigosas e métodos de controle.
A teoria dos “sintomas versus causas” mostra que, se o objeto da investigação é
compreender o acidente, deve-se tomar cuidado para que a pressa não prejudique a
busca das causas raízes em benefício apenas das causas mais óbvias.
O que diz Heinrich com a chamada “Teoria Dominó”? Se um conjunto de
condições perigosas estiver alinhado como um dominó, então um erro humano pode
levar ao início da queda das peças desse dominó.
Essa teoria busca reconstruir a série de eventos que constituem o acidente, mas
as condições perigosas carecem de definições claras, assim como os erros humanos, ou
seja, esses termos representam mais as conclusões do investigador do que a observação
real do fenômeno. Isso significa que diferentes investigadores apresentam diferentes
pontos de vista, devido à falta de critérios previamente estabelecidos. A Figura 23 a
seguir ilustra essa teoria dominó.
O termo erro humano foi usado como exemplo, mas não significa que ele sempre
será o desencadeador da queda das peças do dominó. Na verdade, qualquer energia
fora de controle ou qualquer falha latente pode desencadear o processo. Como Heinrich
já disse (em 1926) 88% das causas dos acidentes são causadas por "atos inseguros"
(que nós, nessa disciplina, substituímos por tipos de erro humano) e 10% por condições
inseguras (que nós, nessa disciplina, chamamos de condição perigosa / falha latente).
Isso significa que na grande maioria das vezes, será um deslize/lapso/equívoco/violação
o iniciador da queda das peças. E se pensarmos que mesmo uma falha latente como um
layout inadequado ou um procedimento mal escrito estão relacionadas a decisões
humanas, então salvo raras exceções, o "ato humano" comumente desencadeia esse
processo. Contudo, o que muitas empresas fazem é dar por concluída a investigação
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Capítulo 7. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte V). 124
Outro modelo sequencial citado foi proposto por Ramsey, segundo o qual uma
pessoa exposta a uma condição perigosa poderia apresentar os seguintes componentes
sequenciais: a) percepção dessa condição perigosa (por meio dos órgãos sensoriais); b)
identificação da condição perigosa (processamento da informação); c) decisão de evitar o
perigo (escolha de alternativa); d) habilidade para evitar o perigo (habilidade motora,
forças, tempo de reação). Assim, qualquer falha em uma dessas etapas contribui para
aumentar a probabilidade de ocorrência do acidente.
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Capítulo 7. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte V). 125
O modelo do “Queijo Suíço” proposto por James Reason diz que os acidentes
ocorrem quando as defesas entre as condições perigosas e os danos são perfuradas.
Quando um evento adverso ocorre, o importante não é quem cometeu o erro, mas como
e porque as defesas falharam. Esse enfoque apresentado por James Reason está
levando as empresas a mudar de atitudes reativas (após o acidente) para ações
proativas. A Figura 25 a seguir ilustra esse modelo.
Trevor Kletz, por sua vez, enfatiza que as organizações devem se preocupar em
mudar as situações com potencial de geração de acidentes e não tentar mudar as
pessoas, mas incorporar nos projetos sistemas capazes de eliminar as oportunidades
para o erro. O autor sintetiza este ponto de vista da seguinte forma: “Dizer que o acidente
é devido à falha humana é tão útil quanto dizer que uma queda é devida à ação da
gravidade”. Os erros são considerados mais como consequências do que como causas,
tendo suas origens não mais apenas na natureza do ser humano, mas em fatores
sistêmicos mais abrangentes. As medidas de segurança baseiam-se no fato de que não
podemos mudar a natureza humana, mas sim as condições sob as quais os seres
humanos trabalham. As falhas ativas não podem ser previstas facilmente, mas as
condições latentes podem ser identificadas e corrigidas antes de um evento adverso. A
compreensão deste fato leva ao gerenciamento proativo ao invés do reativo, baseando-
se no fato de que as falhas humanas podem ser controladas, mas não eliminadas.
Independente de qual seja o método de investigação, deve prevalecer como ideia
fundamental para o engenheiro de segurança do trabalho que a análise de acidentes
deverá sempre identificar as situações em que ocorre o encontro entre a condição
perigosa preexistente no local de trabalho e o indivíduo(s) exposto(s). Essa análise deve,
portanto, identificar os fatores presentes na origem (condição perigosa), bem como os
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Capítulo 7. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte V). 126
Isso será discutido com mais detalhes no capítulo dessa apostila que aborda
modelos de jornada de maturidade em gestão de SST. Será comentado mais sobre a
importância de não apenas atingir um objetivo (como por exemplo, baixar as taxas de
acidente), mas como manter esses índices baixos ou em “zero” (através da vigília
permanente).
Não menos importante é observar que o engenheiro de segurança do trabalho
não deve iniciar a análise de qualquer acidente partindo do pressuposto que houve
negligência, imperícia ou imprudência do trabalhador.
A prática de atribuir culpa do acidente à vítima constitui-se, por um lado, em um
dos dilemas éticos em saúde e segurança do trabalhador e por outro, na necessidade
que empregadores e prepostos têm para fugir das responsabilidades civis e criminais
decorrentes dos acidentes de trabalho.
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Capítulo 7. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte V). 127
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Capítulo 7. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte V). 128
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Capítulo 7. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte V). 129
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Capítulo 7. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte V). 130
7.5. TESTES
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Capítulo 8. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte VI). 131
OBJETIVOS DO ESTUDO
Explicar o último elemento que compõem a parte de verificação de um sistema de
gestão;
Dar ênfase ao elemento de auditoria interna;
Apresentar, dentro do contexto de revisão gerencial, o elemento de análise crítica.
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Capítulo 8. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte VI). 132
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Capítulo 8. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte VI). 133
Quando se fala em auditoria, é preciso que seu conceito fique claro, pois é muito
comum as empresas confundirem auditoria com inspeção. A norma define auditoria como
um “processo sistemático, documentado e independente para obter evidências de
auditoria e avaliá-las objetivamente para determinar a extensão na qual os critérios da
auditoria são atendidos”.
Mas ... qual é a diferença entre auditoria e inspeção? Auditoria verifica
essencialmente um sistema de gestão e a relação entre os elementos desse sistema;
inspeção faz uma análise pontual e não é abrangente o suficiente para avaliar o sistema
como um todo. Avalia normalmente uma área, o uso ou não de EPI, um determinado
requisito da OHSAS 18001:2007, etc.
Analisando desta perspectiva, auditoria é algo mais abrangente e mais completo
quando comparada à inspeção, que denota algo mais pontual, específico.
A própria definição de auditoria também enfatiza a importância de obter
evidências durante o processo. De acordo com a NBR 19001:2002, evidência de
auditoria pode ser definida como “registros, apresentação de fatos ou outras informações
pertinentes aos critérios de auditoria e verificáveis”, podendo ser qualitativa ou
quantitativa. Ou seja, uma evidência de auditoria é algo verificável, baseada em amostras
das informações disponíveis, uma vez que uma auditoria é realizada durante um período
limitado de tempo e com recursos também limitados. Nesse sentido, o uso apropriado de
amostragem está diretamente relacionado com a confiança que pode ser colocada nas
conclusões da auditoria.
Quadro 8.1: Qual é a diferença entre uma auditoria chamada de “primeira parte”,
uma auditoria de “segunda parte” e uma auditoria de “terceira parte”?
independentes.
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Capítulo 8. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte VI). 134
Exemplo de auditoria de terceira parte: organizações como Bureau Veritas, ABS etc.
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Capítulo 8. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte VI). 135
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Capítulo 8. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte VI). 136
Antes de uma auditoria propriamente dita ser iniciada, uma série de providências
devem ser tomadas. Há uma fase que antecipa a auditoria em si, que envolve todo o
planejamento das atividades. Será que dá pra imaginar alguns inconvenientes que
podem acontecer quando esse planejamento não é feito?
A falta de atribuição de responsabilidades entre o time auditor resulta em sobrecarga;
O desconhecimento de regulamentos de SST resulta em uma auditoria incompleta e
sem fundamentos;
O desconhecimento das não-conformidades da auditoria anterior (caso exista) pode
comprometer as constatações de melhorias feitas pela empresa;
Uma reunião de abertura desorganizada pode comprometer a credibilidade do time
auditor;
Uma agenda confusa ou uma total ausência de programação (quem faz o quê,
quando e onde) gera confusão.
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Capítulo 8. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte VI). 137
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Capítulo 8. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte VI). 138
Esse plano deve ser analisado criticamente e aceito pelo cliente a ser auditado,
antes do início da auditoria propriamente dita. Apenas a título de exemplo, a Figura 28 a
seguir ilustra uma típica agenda de uma auditoria.
Nota: uma vez que o intuito da Figura 28 é apenas elucidativo, não foram incluídos na
agenda todos os requisitos da norma OHSAS 18001:2007, mas apenas parte deles, para
facilitar a compreensão.
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Capítulo 8. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte VI). 139
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Capítulo 8. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte VI). 140
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Capítulo 8. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte VI). 141
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Capítulo 8. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte VI). 142
Saídas bloqueadas
Partes móveis sem proteção
Simulados de resposta à emergência (caso haja algum programado)
Atividades de inspeção e amostragem
Atividades de manuseio e transferência de materiais
Trabalho em espaço confinado
Trabalho a quente
Trabalho em altura
Já para o caso das entrevistas, ressalta-se que estas são um dos meios
importantes para coletar informações e convém que sejam conduzidas de maneira
adaptada à situação da pessoa entrevistada. Nesse sentido, o auditor deve considerar o
seguinte:
As entrevistas devem ser realizadas com pessoas de níveis e funções apropriadas e
que executem atividades ou tarefas dentro do escopo da auditoria;
As entrevistas devem ser conduzidas durante o horário normal de trabalho e, onde
possível, no local habitual de trabalho da pessoa que está sendo entrevistada;
Todo o possível deve ser feito para colocar a pessoa entrevistada à vontade, antes e
durante a entrevista;
As razões da entrevista e de qualquer anotação feitas devem ser explicadas;
Entrevistas podem ser iniciadas pedindo para as pessoas que descrevam o seu
trabalho;
Perguntas que influenciam as respostas (isto é, perguntas direcionadas) devem ser
evitadas (ex.: “Você faz inspeção diária?” – perguntas desse tipo induzem a resposta.
Ao invés disso, perguntar: “Com que frequência você faz inspeções?”);
Os resultados da entrevista devem ser resumidos e analisados criticamente com a
pessoa entrevistada;
Deve-se agradecer às pessoas entrevistadas pela sua participação e cooperação.
Outra boa prática que faz parte das atividades durante a auditoria é fazer breves
reuniões diárias – comumente chamadas de “wrap up” (no final do dia ou no início do dia
seguinte) para informar a empresa auditada do andamento do processo, os principais
desvios encontrados, onde aparentemente estão os maiores problemas e os pontos
fortes observados. Essas reuniões têm como objetivo aliviar a ansiedade e tirar um pouco
da expectativa dos que estão sendo auditados.
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Capítulo 8. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte VI). 143
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Capítulo 8. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte VI). 144
19011:2002 (onde está mencionado que “não conformidades podem ser graduadas”) e é
normalmente negociada com o auditado antes da auditoria.
Apenas com o propósito de um maior esclarecimento, a seguir veremos a
interpretação do que significa, respectivamente, não conformidade maior e não
conformidade menor:
Os objetivos da auditoria
O escopo e os critérios da auditoria
A identificação do cliente auditado
A descrição dos membros do time auditor
As datas e locais onde as atividades de auditoria foram realizadas (plano de auditoria)
As constatações da auditoria, muito bem fundamentadas por suas evidências
As conclusões da auditoria
Além dos itens básicos e essenciais, o relatório final da auditoria também pode
conter:
Uma lista de representantes auditados (não muito comum!)
Um resumo do processo de auditoria
Quaisquer áreas não auditadas
Quaisquer opiniões divergentes e não resolvidas entre o time auditor e o auditado
As recomendações para melhoria
Uma declaração da confidencialidade de determinados conteúdos
A lista de distribuição do relatório final
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Capítulo 8. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte VI). 147
Por fim, a OHSAS ainda prevê que os resultados relevantes dessas análises
críticas devem estar disponíveis para comunicação e consulta (item 4.4.3).
Para colocar tudo isso em prática, há uma série de itens que são considerados
como “entradas típicas” dessas revisões gerenciais, ou seja, se convertem numa espécie
de “checklist” cujas discussões têm que passar por cada um deles, a saber:
Estatísticas de incidentes e acidentes;
Resultados de auditorias internas e externas do sistema de gestão da SST;
Ações corretivas tomadas em relação ao sistema, desde a última análise crítica;
Relatórios de emergências (reais ou de simulados);
Relatórios sobre o desempenho global do sistema, elaborados pelo representante da
alta administração;
Relatórios sobre os processos de identificação de condições perigosas e de análise e
controle dos riscos
Adequação da atual política de SST;
Estabelecimento ou atualização dos objetivos de SST, visando a melhoria contínua,
para o próximo período;
Níveis atuais de riscos e eficácia das medidas de controle existentes;
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Capítulo 8. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte VI). 148
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Capítulo 8. Implantação de um Sistema de Gestão de SST (Parte VI). 149
8.3 TESTES
a) Verdadeira.
b) Falsa.
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Capítulo 9. Modelos de Jornada de Maturidade em Gestão de SST
150
OBJETIVOS DO ESTUDO
Apresentar exemplos de modelos de jornada de maturidade em gestão de SST,
discutindo as dificuldades para evoluir no processo.
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Capítulo 9. Modelos de Jornada de Maturidade em Gestão de SST
151
9.1 INTRODUÇÃO
A DuPont é uma companhia com mais de 200 anos de vida. Sua origem data da
concretização do sonho do químico francês, discípulo de Lavoisier, Eleuthère Irénée
DuPont de Nemours, que imigrou para os Estados Unidos e lá fundou uma fábrica de
pólvora negra, no estado de Delaware. Junto com a fábrica, E. I. DuPont instituiu os
princípios de atuação da companhia: as instalações contemplavam alojamentos para os
empregados e suas famílias, além de um projeto arquitetônico inovador para isolar e
conter possíveis explosões.
A cronologia da história DuPont é a seguinte:
1802: Fundação da Companhia;
1811: Primeiras regras de segurança escritas;
1815: Explosão de um moinho de pólvora negra, matando 8 pessoas;
1818: Explosão de grandes proporções, matando 36 pessoas (e ferindo inclusive
membros da família DuPont).
Diante dessas datas, nota-se que mesmo após a criação das primeiras regras
escritas de segurança (1811), ainda assim houve 2 explosões (1815 e 1818), matando e
ferindo diversas pessoas. Por essa razão, após essas 2 explosões a DuPont, mais do
que nunca, percebeu que segurança deveria ser parte integrante dos seus negócios e
praticada o tempo todo. Em decorrência dessas tragédias, a DuPont aprendeu que
segurança deveria ser um valor e por isso, até hoje, é considerada uma empresa
referência em termos de segurança.
Os valores da companhia são amplamente conhecidos:
Compromisso com a segurança, a saúde e o meio ambiente;
Respeito pelas pessoas;
Ética.
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Capítulo 9. Modelos de Jornada de Maturidade em Gestão de SST
152
Essa curva indica que para atingir um estágio de maturidade desejável em gestão
de SST, é preciso estar na fase “interdependente”. Só que não se atinge esse estágio da
noite para o dia. Essa evolução leva tempo.
As organizações iniciam sua jornada de maturidade normalmente no estágio
“reativo”, onde o zero é impraticável. Zero nesse contexto significa “coisa ruim”, “o
indesejado” (ex.: acidente; fatalidade; contaminação; geração de resíduo; emissão de
gases tóxicos; doenças ocupacionais).
No segundo estágio, o “dependente”, a organização apresenta alguns indícios de
evolução, como a preocupação com o cumprimento de regras de procedimentos com
base na figura do supervisor (o medo de ser punido). As pessoas, de uma forma geral,
não acreditam que seja possível trabalhar sem acidentes, sem contaminação ambiental,
sem fatalidades. A crença da organização é que a atividade que desenvolvem é assim
mesmo e que o indesejado acontece cedo ou tarde; acidente é um fato!
À medida que vai se desenvolvendo e ganhando maturidade e aperfeiçoamento
da gestão de SST, a empresa deixa o estágio “dependente” e consegue evoluir para o
estágio “independente”. Nessa fase, o zero já não é mais impossível, ele passa a ser zero
por acaso. Em outras palavras, isso significa que a crença organizacional vê o zero como
possível, mas não sempre. Quando dá, se faz com segurança. Quando a produção fala
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mais alto, aí não dá. Nesse contexto, o “zero” entra como uma prioridade. Tem horas que
a produção permite que se faça com segurança; tem horas que há outras prioridades
mais importantes que a segurança.
O último estágio, o desejado, que implica em um elevado grau de maturidade em
gestão de SST, é o “interdependente”. Nessa fase, o zero não é mais impraticável nem
por acaso; o zero é por escolha! Isso quer dizer que a organização acredita que é
possível trabalhar sempre com segurança, independente da pressão por produção ou
qualquer outra pressão e que se não for para fazer com segurança, então se vende o
negócio, se fecha uma mina, se pára a linha de produção. Ou se faz com segurança, ou
simplesmente não se faz! Essa postura mostra a mudança da segurança de prioridade
para valor. Quando é um valor, ele passa a ser inquestionável e predomina o tempo todo,
independente de outras pressões que existam. Quando ele é apenas uma prioridade, ele
está suscetível às pressões e nem sempre está em primeiro lugar.
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valor; isso não é mais visto como uma prioridade competitiva. Todas as pessoas
expressam isso como: “Essa é apenas a forma como eu faço as coisas”.
Vale lembrar que o termo “resiliência” é um conceito da Física, que se refere à
capacidade de um material sofrer tensão e recuperar seu estado normal. No campo das
relações humanas, é compreendido como um processo que excede a simples superação
de experiências, já que permite ao indivíduo sair fortalecido por elas, superando-as. Há
ainda definições que especificam resiliência como a capacidade que um ser humano tem
de se recuperar psicologicamente quando submetido às adversidades, violências e
catástrofes em sua vida. Esta característica varia em cada indivíduo, o que explica as
diferentes respostas psíquicas observadas em pessoas expostas a fatores estressores
semelhantes.
Além dos cinco níveis do modelo Anglo American, chama a atenção os pilares
“cuidando de mim” e “cuidando dos outros”, que também aparecem na Figura 31. Essa
estrutura faz parte da cultura organizacional e indica que, à medida que se evolui na
jornada e, portanto, se ganha maturidade na gestão de SST, as pessoas dos diferentes
níveis hierárquicos, deixam de se preocupar somente com elas e com seu bem estar, e
passam a se preocupar também com o coletivo, com seus colegas expostos à condições
perigosas. Essa mudança cria um clima cultural de cuidado mútuo, onde todos ganham
se preocupando uns com os outros.
Essa postura pode ser justificada não pela característica de vigília ao outro, mas
pelo fato de que se o colega estiver exposto a uma condição perigosa ou estiver prestes
a tomar uma decisão errada, ele pode colocar em perigo não só a vida dele, mas a de
outros colegas e, dependendo da consequência, provocar danos significativos à
organização de forma geral.
No caso da Anglo American, para se atingir o nível máximo chamado de resiliente,
é preciso trabalhar em 23 elementos, divididos em duas categorias: pessoas e sistemas,
ambos apresentados a seguir.
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Categorias de pessoas:
1. Atitude pessoal em relação ao risco
2. Cuidado e reconhecimento
3. Liderança e comprometimento da gerência
4. Responsabilidade pela segurança
5. Envolvimento dos funcionários e consulta a eles
6. Orientação e tutoria
Categorias de sistemas:
7. Adoção de gerenciamento de risco
8. Planejamento estratégico
9. Gerenciamento de projeto
10. Identificação de condição perigosa de alto potencial
11. Gerenciamento de mudanças
12. Planejamento de funções e tarefas
13. Identificação e relato de condições perigosas
14. Treinamento e competência
15. Comunicação
16. Gerenciamento do conhecimento
17. Manutenção
18. Aquisição
19. Gerenciamento de contratados
20. Investigação e análise de incidentes e acidentes
21. Resposta à emergência
22. Medida de desempenho de segurança
23. Monitoramento e auditoria
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autoavaliação indicar que a empresa encontra-se no estágio “reativo”, ela não pode
estabelecer um plano de ação para se mover diretamente ao estágio “resiliente”. Ela deve
traçar a direção e definir a estratégia para subir até o próximo estágio, que é o
“cumpridor”. As ações propostas são colocadas em prática e requerem um tempo de
maturação até que a empresa, após as mudanças implantadas, atinja um equilíbrio e
tudo esteja funcionando sem desvios ou problemas. Quando isso ocorrer, uma nova
estratégia deverá ser elaborada, dessa vez para elevar o elemento “manutenção” até o
próximo estágio, que é o “proativo”. Assim, o ciclo recomeça colocando as ações
propostas em prática e aguardando um tempo de maturação, para só então dirigir novos
esforços para alcançar o último estágio de maturidade, que é o “resiliente”.
Raciocínio semelhante deve ser considerado para cada um dos elementos da
categoria de “pessoas” e de “sistemas”, até que todos estejam alinhados no último
estágio da jornada. Além desse critério, há uma prioridade a considerar entre os
elementos. Aqueles que estiverem nos estágios mais baixos devem receber atenção
prioritária. Em outras palavras, se há um elemento no estágio “cumpridor” e outro
elemento no estágio “básico”, este que se encontra em um nível mais inferior requer mais
atenção e tem prioridade com relação ao que já se encontra em um estágio mais
avançado.
Prioridade também deve ser dada aos elementos da categoria de “pessoas”. Eles
devem evoluir na jornada antes dos elementos da categoria de “sistemas”, afinal são as
pessoas que fazem o sistema funcionar, definem e implantam as regras de
gerenciamento. Elas devem estar em uma posição equivalente ou superior aos
elementos do sistema. Se o formulário de autoavaliação mostrar que os elementos do
sistema encontram-se à frente dos elementos de pessoas, tem-se uma grande
incoerência. De que adianta ter bons procedimentos escritos e bem definidos, se as
pessoas não vêem a segurança como valor? Se suas atitudes são precárias e elas não
acreditam no sistema? O sistema não vai funcionar adequadamente, porque ele depende
das pessoas, de suas ações e decisões, para que requisitos saiam do papel e sejam
incorporados à rotina de trabalho.
Para que os planos de ação sejam reais e factíveis, recomenda-se que sejam
elaborados considerando-se um intervalo de tempo não superior a dois anos. A razão
disso é que a grande maioria das empresas costuma trabalhar com projeções
orçamentárias anuais ou, no máximo, bianuais. Por isso, seria inviável definir ações para
os próximos cinco ou dez anos, tendo em vista o dinamismo das operações industriais.
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possível atingir um desempenho extraordinário. Desta forma, esse programa usa uma
gama de ferramentas e técnicas para ajudar a organização a envolver diversos níveis
hierárquicos no seu gerenciamento de segurança, saúde e meio ambiente, como uma
parte integral dos seus negócios.
O programa “Hearts and Minds” abrange as mudanças de comportamento das
pessoas, para que trabalhem de forma segura. Esse programa também oferece técnicas
práticas para que as pessoas se sintam confortáveis ao intervir ou mesmo interromper
colegas devido a comportamentos inseguros demonstrados por eles.
Visto de forma abrangente, o modelo de jornada da Shell “Hearts and Minds”
ensina as pessoas das unidades como não se exporem às condições perigosas e como
os grupos de diferentes setores podem se ajudar mutuamente através das ferramentas
desenvolvidas para o programa.
De acordo com o modelo, para se conseguir um elevado grau de maturidade em
gestão de segurança (saúde e meio ambiente também), é preciso estar no estágio
“generativo”, conforme ilustra a Figura 33 a seguir. Mas não se atinge esse estágio da
noite para o dia. Avança-se um degrau de cada vez, em um processo lento e gradativo de
maturidade.
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reativa. Espera-se um evento indesejado ocorrer, para só então se preocupar com ele,
normalmente procurando um culpado.
O terceiro estágio é chamado de “calculista” e nessa fase, a organização se
preocupa em gerenciar as condições perigosas. Se comparado aos dois estágios
anteriores, já é um grande avanço. A empresa deixa de apenas reagir e passa a atuar na
origem dos problemas (as condições perigosas). Nessa fase é comum encontrar
sistemas de gestão sendo implantados ou mesmo usados como alicerces na gestão
efetiva de segurança.
O penúltimo estágio, conhecido por “proativo”, atua de forma intensa na origem
dos problemas, se antecipando a eles. Tudo é feito com o devido planejamento e a
empresa olha para a frente, imaginando o médio e o longo prazo e como os aspectos de
SST se inserem nesse contexto.
O último estágio (o desejado!) é o “generativo”, que expressa SST como valor.
Nessa fase, ou se faz tudo com segurança, ou simplesmente não se faz. Agir de qualquer
forma que não seja com segurança é inaceitável.
De acordo com a Shell, o programa “Hearts and Minds” ajuda a organização a
progredir através de:
1) uma rota definida para o topo, tendo por base uma sólida cultura de gestão;
2) processos e ferramentas que facilitam a mudança de comportamento.
Segundo sua experiência nesse processo, a Shell enfatiza que há uma série de
vantagens ao se subir a escada de maturidade rumo ao degrau “generativo”. A partir do
estágio “proativo”, a carga de trabalho começa a regredir. Isso ocorre porque há um
aumento na confiança pelo que se faz e na qualidade da comunicação, o que ajuda a
realizar um trabalho uma única vez da maneira certa e com pouca supervisão e
retrabalho.
Para que seja possível avançar em direção aos graus mais elevados de
maturidade, é necessário focar em três elementos essenciais:
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uma das maiores causas de acidentes e que nem todas as condições perigosas podem
ser eliminadas. Tendo isso em mente, a empresa precisa criar condições onde o
comportamento seguro se torne um hábito. Além disso, é necessário que se desenvolva
um ambiente de trabalho que ajude a trabalhar de forma segura e que se crie uma cultura
de intervenção que é entendida e aceita por todos.
Assim sendo, o modelo de comportamento seguro da Shell pode ser representado
pela Figura 35 a seguir.
Esse primeiro estágio pode, algumas vezes, ser bloqueado, pois a pessoa não
consegue captar os fatos ao redor em função de aspectos como inexperiência, cansaço,
estresse, gases inodoros, etc.
O segundo estágio é o de “Conhecer”. Para conhecer algo, algumas perguntas
devem vir à tona:
Você entende as condições perigosas?
Quais são elas?
De onde se originam?
Quando se originaram?
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O quarto e último estágio é o de “Executar”. Nessa fase, uma ação (já identificada
no estágio anterior) deve ser escolhida e ponderada.
Através da Figura 35, é possível notar que esses quatro estágios são suportados
por uma base que compreende os termos “olhe, fale e escute”. Isso serve para chamar a
atenção que não se deve ter medo de falar. Ao perceber algo errado, reaja, interfira,
envolva-se e fale. Não seja complacente. Além disso, é preciso também discutir os
problemas e procurar, dentro de um time de trabalho, por novas soluções. Por essas
razões que falar, ouvir e olhar são tão relevantes quando se quer solucionar um
problema.
De acordo com as estatísticas da Shell, 67% das causas dos acidentes estão
associadas ao estágio de perceber e 20% estão associadas ao estágio de conhecer.
Portanto, é possível concluir que 87% da ocorrência dos acidentes (boa parte) é
vinculada aos dois primeiros estágios. Contudo, os programas convencionais de
comportamento seguro das empresas focam apenas nos estágios de planejamento e
execução, que correspondem, juntos, a apenas 13% das causas dos acidentes.
Essa constatação deve servir de alerta para que as organizações se questionem
para onde estão direcionando seus recursos e esforços, pois nem sempre se trabalha
nas verdadeiras causas dos eventos não desejados e depois não se compreende porque
eles voltam a ocorrer.
Para finalizar, a Shell declara que: “A arte de um bom gerenciamento é ter as
pessoas querendo fazer o que a empresa já decidiu que elas devem fazer”. Cabe aos
supervisores, líderes e gestores de uma forma geral, a ajudá-las a fazer o que querem!
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Em outras palavras, tomando por base o modelo da Anglo American, isso significa
que uma unidade que se encontra no nível reativo e almeja alcançar o nível generativo,
levará por volta de 9-15 anos para atingir essa meta. E uma vez atingida, outro desafio
entra em cena: manter-se permanentemente nesse estágio, sem retroceder!
Alguns registros de grandes acidentes evidenciam esse retrocesso por parte de
organizações que eram vistas como referência em termos de gestão de SST e que, de
uma hora para outra, tiveram seus nomes expostos na mídia por causarem mortes e
outros danos.
O acidente da BP (British Petroleum), ocorrido em 2005 em sua refinaria no
Texas, é um exemplo do retrocesso na jornada de maturidade. Até aquela data, a
empresa vinha divulgando, em seus relatórios anuais de sustentabilidade, indicadores
que mostravam considerável avanço em termos de redução significativa no número de
acidentes com e sem afastamento. Depois que o acidente aconteceu, a equipe de
investigação do acidente recomendou que a BP formasse um painel independente para
estudar sua cultura de segurança. Essa recomendação foi realizada e desse estudo
surgiu o “Relatório Baker”, que apresentou as oportunidades de melhoria em relação à
cultura e à gestão de Saúde e Segurança do Trabalho. Entre os pontos identificados, um
deles refere-se à falta de preocupação quanto ao monitoramento dos indicadores de
segurança de processo. Segundo o relatório, até então, a BP sempre havia considerado
indicadores de segurança de pessoas, como taxas de acidente com e sem afastamento,
e se apegou ao fato de que seus funcionários não estavam se ferindo e nem morrendo
para supor, erroneamente, que estavam operando com segurança. Este relatório aponta
que a postura da BP estava equivocada, pois deixava de considerar indicadores de
segurança de processo. Controles instalados na unidade de isomerização (que estava
sendo reiniciada) falharam e isso resultou na geração de uma nuvem de vapor inflamável
que, ao encontrar uma fonte de ignição explodiu e provocou uma série de incêndios
subsequentes.
Para se manter no estágio “resiliente” da jornada de maturidade, o desafio
principal para não retroceder é a vigília permanente, que está diretamente associada ao
termo “manutenção” (dos controles, da cultura de segurança, do cuidado da própria
integridade física, do cuidado com a segurança dos outros etc). Portanto, não bastam
esforços para atingir o objetivo de zero lesão ou de chegar ao estágio “resiliente”; é
preciso se manter nesse estágio.
Independentemente do modelo de jornada de maturidade adotado, o importante é
que todos na organização, nos diferentes níveis hierárquicos, se sintam responsáveis
pelo desempenho em segurança e a tenham como um verdadeiro valor. Sem isso, não
há modelo ou sistema de gestão que seja sustentável.
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9.6 TESTES
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Bibliografia
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BIBLIOGRAFIA
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