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JOÁS DIAS DE ARAÚJO

11/04/1938  -  28/01/2003

Texto lido por Késia de Araújo Seignemartin, 


(filha do Rev. Joás), por ocasião de seu 60° aniversário  em
1998 em Americana-SP e complementado em 2003  após  a
partida do Rev. Joás ao encontro de nosso Pai celestial.

Na primeira carta do apóstolo Paulo  aos Tessalonicenses, ele diz: “Em tudo dai


graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para
convosco ”  é por esse motivo - AÇÕES DE GRAÇA – que

 “... quero trazer a memória o que pode dar esperança....”

  

1. Reverendo Professor Joás  Dias de Araújo, meu pai, 

nasceu na  quente cidade de  Cuiabá, no dia 11 de abril de


1938. Seu pai foi o rev. Augusto José de Araújo,
pernambucano, pastor presbiteriano, de temperamento calmo
e conciliador e querido por tantos quantos foram suas
ovelhas. Dele dizia o rev. Júlio Andrade Ferreira: - O
Augusto... nasceu no Pernambuco, casou-se no Mato Grosso,
estudou em São Paulo, foi pastor na Bahia e agora está
aposentado em Goiás.

     Sua mãe; a nossa querida Vó Raquel, era  bem baixinha,


dinâmica,  gostava de cantar; era uma ótima contralto e fazia
dueto na Igreja com meu pai quando ele ainda era bem
pequeno.   Foi mãe de uma grande família, pois, teve 7
filhos:  Josias; Jonas; João; Joel, faleceu na
infância. Evelina;  Joás e Joarib. Não posso deixar de
mencionar aqui, OTÍLIA, uma moça que foi morar com a
família e que com seu amor e carinho ajudou a criar os filhos
mais novos como uma mãe.

     Dentro desta grande família, meu pai cresceu.  Foi menino


cheio de saúde, levado, arteiro...

     Como passou a infância numa chácara em Cuiabá, tinha


tudo que era bicho: papagaio, cachorro, ovelha, cavalo,
cabra, passarinho, que gostava de caçar e colocar em gaiolas
que ele mesmo fazia.      Andava sempre de cabeça raspada
para a mãe não perceber o cabelo molhado, porque tinha ido
nadar numa  lagoa perto de casa, o que estava proibido pelos
pais. Minha vó o chamava de meu pretinho e ele   gostava de
ir à feira vender chuchu para sua mãe .   Já morando na
Bahía, acompanhou seu pai numa  viajem missionária.  Foi
como “ajudante de tropeiro”, pois, os burros e mulas,  eram o
meio de transporte dos pastores do sertão baiano.  Enquanto
cavalgavam sob o sol quente iam cantando: COM O ROSTO
ALEGRE VOU ANUNCIAR... enquanto  isso; Deus trabalhava
em seu coração,  despertando nele a mesma  vocação de seu
pai .

    Nas paradas,  enquanto o cozinheiro fazia a comida, ele


aproveitava para cuidar dos animais. Foi neste contexto que
cresceu. 
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Em 1952 terminou a 4a. série ginasial. Gostava de escrever


poesias e ler poetas brasileiros.  Com  14 anos foi mandado
para São Paulo, interno no Instituto José Manoel da
Conceição, para fazer o Colegial que o prepararia  para o
Seminário. Lá seu apelido era baiano, pelo sotaque carregado
que trazia dos anos que viveu com a família em Caetité na
Bahia.  Com o passar do tempo sua vocação esfriou e ele
queria então ser advogado,  prestar exame vestibular no
“largo São Francisco” para fazer Advocacia,  até que,  numa
pregação do Rev. Osvaldo Emerich, se rendeu completamente
ao ouvir o hino de apêlo que dizia: “Poderei confiar em
ti ???”...

  

     Terminado o colegial, foi para o Seminário de


Campinas.     Estava com 18 anos; foi o aluno mais novo da
turma de 56. Era magro, esportista, jogava voley,  basquete,
era artilheiro no futebol... continuava escrevendo suas
poesias. Foi nesse período que escreveu   O
SEMINÁRIO, poema que se tornou celebre e ainda hoje
retrata aquela casa de Profetas nos anos 60.  
Enquanto fazia o Seminário, prestou o serviço militar em
Campinas, e trabalhou com a nascente Congregação
Presbiteriana do Jardim Guanabara, da qual, anos depois,
tornou-se seu pastor, e  que se reunia no próprio Seminário
Presbiteriano,  em Campinas. 
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2.   Foi nessa época, , que começou a namorar  Josefina, que


era membro da Igreja  do Jardim Guanabara.    Nos 5 anos
de Seminário, ele não se permitia tirar nota menor que 9.
Namorava estudando grego e hebraico, pois, sempre no dia
seguinte havia a possibilidade de uma prova.    Em Dezembro
de 60, termina seu bacharelado em Teologia e se casa, indo
em seguida para Goiânia se apresentar ao Presbitério
Sudoeste de Goiás, que o ordena, à 15 de janeiro de 1961,
aos 22 anos  de idade.                        

Agora, eram 2.  Como pastor, ordenado e casado, foi


pastorear a Igreja Presbiteriana de Herval Doeste, em Sta
Catarina, numa Igreja que incluía pessoas que
moravam  também em Joaçaba, que ficava do outro lado do
rio do Peixe e era formada por descendentes de Poloneses,
russos, tchecos, alemães, italianos e alguns brasileiros. A
língua falada na cidade era o alemão e o português e a
pequena Igreja estava dividida em dois partidos
políticos: UDN e PTB.  Pastoreou  essa Igreja e outras mais
pela região, como seu pai,  sempre viajando montado à
cavalo ou de trem, ou de carona na carroceria de caminhões
por 1 ano, quando então aceitou o desafio da Junta de
Missões Estrangeiras para ir ser missionário, junto com
minha mãe,  na Venezuela.

             Tiveram que esperar 5 meses, pois um nenê estava


a caminho. Em maio de 62, depois do nascimento do Josué,
partiram os 3  para a quentíssima cidade de  Maracaibo, terra
dos poços de  petróleo da Venezuela.

     O trabalho missionário foi pioneiro. O apartamento em


que morávamos era também usado para todas as reuniões da
Igreja nascente; exceto os Cultos e Escola Dominical, que
eram realizados na “Christi Church”, na Av. Bella Vista.
              Determinado, estabeleceu uma igreja com
colombianos presbiterianos que estavam trabalhando na
cidade. Falando “portunhol”, assumiu o trabalho que lhe foi
entregue.   Muitas almas se achegaram a Jesus, através de
seu ministério dedicado e paciente.  Além dos cultos nos
domingos à tarde na Christ Church, organizou um
congregação no bairro San José, na casa da família Gonçales
e outra em La Pomôna, na casa da família Soares.

     Com o termino de seu período missionário, voltou ao


Brasil em novembro de 1965, coincidindo com a volta dos
rev. Neftalí Vieira e família, e rev. Odair Oliveti e família que
eram missionários  no Chile.

     No retorno ao Brasil,  já éramos 4, pois Késia nasceu em


Maracaibo, durante uma reunião do Presbitério que se reunia
em nosso apartamento.

     Quando descemos  em Viracopos, Campinas; encontramos


toda a Igreja do Jardim Guanabara, Campinas
esperando...  foi então  que meu pai, ficou sabendo que havia
sido eleito pastor daquela comunidade. Assim, no dia 23
janeiro de 66, só com  27 anos,  tomou posse do pastorado
da  Igreja Presbiteriana do Jardim Guanabara, em Campinas,
onde ele trabalhou como seminarista nos anos 1959 e 1960. 

Entretanto a comunidade continuava nas dependências do


Seminário, masjá tinha um terreno. Foi no seu pastorado e
com a participação integral do Conselho da Igreja, que abriu
e organizou 14 pontos de pregação e congregações, que hoje,
Igrejas organizadas, estão aí para testemunhar o trabalho
que foi realizado.   

                   Liderou a construção  do tão sonhado templo.


É  histórica naquela comunidade, “O DIA DA PASSAGEM”,
29 de setembro de 1968,  dia esse em que todos os
membros  saíram do Seminário em caminhada até seu  novo
e definitivo lugar, construído à rua Barbosa da Cunha, 562,
no Jardim Guanabara.
Até hoje, essa data é comemorada pela comunidade. Foi
ainda no pastorado desta Igreja que nasceram Caleb e
Augusto Neto.

      Nos 14 anos que esteve como pastor em Campinas,


também deu aulas no  SEMINÁRIO PRESBITERIANO DO SUL,
de Homilética, Hermenêutica , Exegese do Novo Testamento ,
Religiões Comparadas e Religiões no Brasil..   Foi presidente
por várias vezes do Presbitério, e do Sínodo de Campinas
 

3.   No final de 1979, quando tinha então 41 anos, numa


reunião do ainda Presbitério de Campinas, quando ainda
Americana fazia parte deste Presbitério meu pai, foi
procurado pelo Sr. Domingos Denucci, presbítero da Igreja de
Americana,  com o apêlo: “PASSE A MACEDONIA, E
AJUDE-NOS,   por  UM ANO” !!!   Esta comunidade ia ficar
sem pastor, e precisava de alguém com suas características
pastorais.  Depois de orar só, e com família, resolver aceitar o
desafio de deixar uma Igreja grande, dinâmica, em expansão,
para recomeçar tudo numa comunidade que estava ficando
sem pastor e com grandes problemas... Foi neste contexto
que chegamos em Americana...          Fazia muito calor
naquele 28 de janeiro de 1980, não conhecíamos a cidade
nem as pessoas da Igreja. Meu pai gostava  de lembrar que
no primeiro domingo que aqui passamos, viemos à Escola
Dominical, entramos de mãos dadas com o pedido que Deus
estivesse também segurando as mão de cada um de nós,
dando-nos um espírito de humildade, trabalho, mansidão e
amor para com o povo da Igreja.

     Havia uma grande  expectativa de ambas as


partes.  Neste ano de trabalho, deveriam ser feitas muitas
reuniões, visitas, reorganizações, reconciliações, construções,
encontros, etc... Foi um ano de descobertas de ambas as
partes: novo pastor e nova Igreja...                           

De meu avô Augusto, recebeu uma carta que dizia: ...que o


novo pastorado, seja um estímulo para um consagrado
ministério em Americana.

           Terminou 1980  e o Conselho pediu que continuasse


no pastorado. Os anos foram passando: 1981, 1982,
1990, 1992, 2000, até 28 de janeiro de 2003, quando em
pleno ministério e professorado,  foi chamado para descansar
de suas dores na presença  do Deus dos deuses e Senhor de
senhores. Nosso Pai e criador. Louvado seja nosso Deus e Pai.

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       Paralelamente  ao pastorado da IGREJA PRESBITERIANA


CENTRAL DE AMERICANA, continuou a participar dos
trabalhos conciliares da I P B, como secretário executivo do
Presbitério; como Presidente do Presbitério; como Presidente
do Sínodo. Foi organizador do 1o. ENCONTRO DE CASAIS
COM CRISTO, desta Igreja em 1984.   

            Foi candidato à presidência do Supremo Concilio da


Igreja Presbiteriana do Brasil em 1986. Começou a fazer pós-
graduação em Homilética em São Paulo; Sofreu um enfarte
agudo do miocádio em 1988; foi promovido pela primeira vez
à avô, em 1989, com a chegada do Guilherme. Depois de
tudo isso, ainda conseguiu terminar seu mestrado em
Homilética em 1992. Foi  presidente do Conselho de Pastores
de Americana, por várias vezes. Presidente do Centro
Brasileiro de Estudos Pastorais, o CEBEP, e como tal,
participou como delegado em 1995, da ASSEMBLÉIA do
CONSELHO LATINO AMERICANO DE IGREJAS, no Chile. Hoje
é presidente de honra.                                              Pelo
CEBEP, ainda como presidente, participou de reuniões na:
Costa Rica, Porto Rico, Guatemala, México .   Desde 1997, é o
coordenador Nacional, da I.P.B. para o PLANO MISSIONÁRIO
COOPERATIVO, que tem como meta “plantar 300 novos
templos-escola”, até a ano 2.001 no território brasileiro.  Faz
parte da Comissão da IPB, que trabalha a reaproximação das
IGREJA PRESBITERIANA do BRASIL e IGREJA PRESBITERIANA
INDEPENDENTE. Com todas essas atividades extras e com o
crescimento desta comunidade, foi preciso ajuda e assim
recebeu o reforço do rev. Ailton Gonçalves Dias Filho . Há
anos dá aulas de Homilética, todas às quintas-feiras  no
Seminário Presbiteriano do Sul, em Campinas...  onde
também faz parte do Conselho Editorial da Revista
Teológica,  e até no ano passado,  fez parte do Conselho
Diretor da SPS. como representante dos professores do
Seminário. Tem sido incansável estudioso  da Bíblia, que
prega com convicção e firmeza. Com  todas essas
atividades  continua, há 18 anos consecutivos sendo  pastor
desta Igreja... Neste tempo, quantos ele casou? quantos viu
nascer ? quantos batizou?  De quantos fez a profissão de fé?
quantos já partiram? quantos ouviu o choro e
aconselhou ?  quantos acudiu? quantos visitou ? com quantos
ele chorou por uma perda! ou com quantos deu graças a
Deus por uma vitória? e com quantos orou agradecendo os
anos de vida, ou de casamento ? quantos abençoou ? 1998
completa - 60 anos.  Como pastor,  sem dúvida, uma de
suas maiores alegrias é estar aqui na casa deste Senhor ao
qual  um dia ele resolveu dedicar toda sua vida...

             Minha mãe, meus irmãos, eu e demais parentes aqui


presentes,  podemos testemunhar que meu pai tem pés
bonitos, pois ele é um dos homens que o profeta Isaías falou
no cap. 52:7 “ Quão formosos são sobre os montes os
pés dos que anunciam as boas novas, que faz ouvir a
paz, que anuncia cousas boas, que faz ouvir a salvação,
que diz: O teu Deus reina!”.

 
Homenagem de Josefina Maria Araujo e filhos Josué, Késia, Caleb e Augusto  

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