João era um homem sombrio e antipático, mas para Marta ele
parecia um autêntico cavalheiro. Por fim, um dia ele a convidou para jantar. Marta sentiu uma intensa felicidade. Vestiu-se da maneira mais atraente. Mas quando, nervosa, se dirigia ao restaurante combinado, começou a duvidar da finalidade do encontro e um medo terrível de fazer um papel ridículo.
Vejamos qual poderia ser o resultado se o autor mostrasse,
em vez de dizer:
João tinha sempre um semblante sombrio. Ante qualquer pergunta,
respondia com monossílabos ou simplesmente se fazia de surdo. Jamais olhava nos olhos de seu interlocutor, e sua mão suada se afrouxava como uma esponja quando se via obrigado a estreitar a mão de um novo companheiro de trabalho. Sua vida se repartia entre sua casa, o escritório e, nos fins de semana lia jornais atrasados em seu sofá de toda a vida e a beber cervejas diante da televisão. João não agradava a ninguém, exceto a Marta, que via nele um autêntico cavalheiro. Por fim, um dia ele a convidou para jantar. Marta ruborizou-se ao escutar suas palavras; o coração bateu com força e não pode evitar que um sorriso inseguro assomasse a seus lábios. Engoliu em seco e acertaram o encontro. Duas horas antes do encontro Marta tomou banho com sais perfumados; logo, aplicou-se uma máscara hidratante. Penteou-se durante muito tempo os cabelos, ainda que finalmente tenha optado por um simples apanhado. Pintou os olhos, ajeitou os cílios, pintou os lábios e pôs uma saia justa e uma blusa de seda algo transparente, a qual reservava para as grandes ocasiões. Dentro de um táxi, a caminho do restaurante, recolocava no lugar uma mecha de cabelo, alisava a saia e a todo momento tirava da bolsa um espelho para retocar os lábios. De repente, quando faltava apenas uma quadra para chegar ao restaurante, passou pela sua cabeça a idéia de que João talvez quisesse falar de trabalho. Ao sair do táxi observou, no reflexo de uma vitrine, que sua saia era demasiado justa e a blusa excessivamente transparente.