Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
Aula
1
Apresentação
N
esta primeira aula da disciplina Introdução à Ciência Geográfica, vamos aprender o
que se entende por saber geográfico. Nesse sentido, estudaremos: como esse saber é
essencial para os homens; de que maneira os conhecimentos geográficos servem para
ordenar a superfície da Terra, gerir, explorar, organizar e substituir uma primeira natureza, que
chamamos “intocada”, por uma natureza segunda, entendida como a natureza transformada
pelo homem; e como a Geografia e os saberes geográficos ajudam a compreender as relações
humanas e as inter-relações do homem e do seu entorno, fazendo brotar, na superfície, os
meios humanos, as paisagens, as regiões, os territórios.
Objetivos
Compreender como o saber geográfico se relaciona à
1 aventura humana na Terra.
Você sabia que a geografia tem a idade da humanidade? Caso tenha respondido
positivamente, você deve ter entendido que ela é, como todo saber, a expressão de uma
curiosidade e a resposta a essa curiosidade. Habitante da superfície da Terra, o homem tem,
desde o início dos tempos, procurado saber onde se encontra, conhecer o que existe além
do lugar onde mora, inventariar cada elemento da extensão terrestre, identificar e nomear os
lugares, descrever e conferir representações.
Figura 2 – (a) Cópia de mapas gregos antigos representando o continente Antártico sem gelo; (b) Mapa de
Buache desenhado em 1737
O homem jamais se contentou em apenas observar a Terra. Por meio de uma constante
interação com o meio, ele tem deixado as suas marcas: tira da Terra os elementos essenciais
à sua vida. Com essa intervenção, as sociedades humanas “desnaturam” a superfície da Terra,
o que implica sua transformação.
Com este nosso papo, você já deve estar imaginando que o homem é um agente
geográfico quando ele descobre novos lugares, drena, cultiva, constrói, substitui o meio natural
por um meio artificial, ou melhor, por um meio “humano”.
Depois de ter “escutado”, atentamente, o que disse o professor Milton Santos, você
deve estar percebendo que o saber geográfico está relacionado à análise da paisagem, à
compreensão de seus significados e de seus valores.
Veja que o saber geográfico nasce da forma de olhar que os homens constroem sobre seu
meio, das questões que eles se colocam sobre o sentido de sua presença nesse meio, sobre
as influências que eles sofrem do meio e sobre os efeitos de suas intervenções.
A partir dessa breve exposição, você deve ter percebido que o saber geográfico surge da
curiosidade humana e das interrogações que os homens se colocam diante das possibilidades
e das limitações de suas ações frente às condições do meio; e que suas ações implicam marcas
e um perpétuo conflito entre a realização de suas necessidades e o meio.
Posições e contornos
Os homens desenvolveram esforços consideráveis para poder se situar e ter uma idéia
da forma, dos contornos e da articulação entre os continentes. De diversas maneiras, o
homem enfrentou as difíceis etapas do reconhecimento da Terra; os navegadores foram os
principais descobridores dos limites das terras e dos litorais. Sobre seus barcos, guiados
pelo fio condutor das costas, impulsionados pelos ventos e pelas correntes, esses homens
empreenderam viagens e expedições em direção a terras míticas, imaginárias ou reais. Eles
desenharam os contornos das costas; depois, com seus barcos mediram as distâncias,
a duração das navegações, identifi caram as posições topográfi cas. Deram às terras
descobertas milhares de nomes.
É fundamentar chamar sua atenção para o fato de que o inventário dos lugares
comporta um outro aspecto essencial: aquele de sua denominação. A toponímia é uma etapa
indispensável do conhecimento da superfície da Terra. A Terra torna-se Terra dos homens
quando deixa de ser anônima e é nomeada por eles. Todo lugar nomeado pelo homem torna-se
significativo no sentido forte do termo. Batizar o terreno e cobri-lo de uma camada de nomes
transforma o conhecimento dos lugares em saber coletivo. Desde o instante em que os lugares
têm um nome, eles são integrados a uma grade social de localização. Seu conhecimento
geográfico deixa de ser fechado no círculo estreito das pequenas comunidades e se socializa
para além do local.
A gente ouve falar de vilarejos, de cidades, de montanhas, de reinos que jamais vimos e
que não veremos nunca. A existência, além do que é pessoalmente conhecido, de uma esfera
muito mais ampla e que existe apenas como um universo de palavras tem efeitos múltiplos: ela
suscita, para alguns, uma fascinação por aqueles lugares dos quais ouviram falar; ela alimenta
sua imaginação; ela faz nascer uma necessidade de evasão.
A camada de nomes que constitui a toponímia alarga a esfera dos deslocamentos e das
trocas para além do que foi percorrido pelo indivíduo.
Localização e distribuição
Você já deve estar sabendo que o saber geográfico se particulariza por sua primazia com
os dados de localização. É importante salientar que, além de coletados através de critérios
rigorosos, é necessário que eles sejam cartografados.
O que o geógrafo procura ver na paisagem não é a simples localização deste ou daquele
objeto geográfico particular (fazenda, cidade, capela e outros), mas a distribuição de todos os
objetos de uma mesma espécie (as casas, as cidades, as vilas, a vegetação, as florestas) e as
diversas fisionomias de conjunto que revelam o meio.
O saber geográfico
como totalizador da superfície terrestre
Por sua vez, no século XIX, o nível de descrição da superfície da Terra já permitia uma
visualização de sua totalidade. Além das descrições de lugares particulares, de inventários
sobre as diversas partes da Terra, o saber geográfico segue na direção de compreender os
conjuntos de elementos naturais e humanos e a solidariedade entre seus componentes, numa
dimensão totalizante.
Agora, atenção, pessoal! Chegou o momento mais esperado da nossa aula. Vem aí...
Livro destinado ao ensino superior de Geografia, analisa a evolução dessa ciência desde
a Antiguidade. Para esta aula, merece destaque o capítulo 1.
Escrito por um geógrafo, este livro discute a formação das sociedades e mostra como
cada uma concebeu a natureza à sua maneira. Percorre a história das relações entre o homem
e o meio.
Livro fundamental para qualquer estudante das ciências humanas e sociais e especialmente
para aqueles que estudam a Geografia. Neste livro, o professor Paul Claval discute como nasce
a Geografia Cultural, de que maneira a cultura oferece aos homens os meios de apropriação
dos ambientes e de como estes imprimem aí suas características sociais e culturais. Merece
destaque para nossa aula o capítulo 8 denominado “Orientar-se e reconhecer-se. Marcar, recortar,
institucionalizar e apropriar-se do espaço”. A partir da denominação do capítulo, você já deve ter
percebido o porquê de sua importância para esta aula.
CORRÊA, Roberto Lobato. Região e organização espacial. São Paulo: Ática, 1991.
Este livro é uma coletânea de textos do professor Ruy Moreira, escritos em diferentes
tempos, mas que têm uma coerência interna. Trata de questões da história, da epistemologia e da
ontologia da Geografia. Merece destaque, para o nosso estudo, o texto “A sociedade e suas formas
de espaço no tempo”, dedicado ao esclarecimento de como as formas espaciais se distinguem
no tempo e de que maneiras os seus elementos se articulam e se solidarizam.
Autoavaliação
Identifique no seu município ou na sua comunidade uma história, um fato marcante
1 (pessoal ou coletivo), que poderíamos considerar um fato decorrente da curiosidade
e da aventura do homem e que tenha trazido conseqüências para a geografia do
lugar. Tome como exemplo um assentamento rural, que, a depender de sua história,
é uma aventura e um desejo coletivo que deixa marcas e impressões nos lugares. A
construção de Brasília também mostra como a aventura coletiva e pessoal podem
marcar uma nação inteira.
KAERCHER, Nestor André. A geografia é o nosso dia-a-dia. In: CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos
(Org.). Geografia em sala de aula. Porto Alegre: Editora da Universidade/AGB, 1998.
Anotações