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Flávia Maria Cheganças – Jornalismo Matutino

TEORIAS DAS NOTÍCIAS: O ESTUDO DO


JORNALISMO NO SÉCULO XX – Nelson Traquina

Em seu texto, “Teorias das Notícias: o estudo jornalismo no século XX”, o professor, teórico, e
jornalista Nelson Traquina, afirma que para alguns estudiosos, a cibermídia (internet) estaria
extinguindo a profissão de jornalista. Para ele este tipo de previsão catastrófica é precoce e, diante
disso, considera ser importante fazer um mapeamento das teorias do jornalismo do século XX.

Traquina afirma que o estudo do jornalismo ganhou um pequeno espaço no século XIX, e que
apesar de ter começado relativamente cedo, era bastante esporádico até a década de 50 do século
seguinte. Porém, em 1950, David Manning White elabora a teoria de gatekeeper, em que o fluxo das
notícias é concebido através de uma série de escolhas, em que elas passam por diversos “portões”
(gates), que são momentos de decisão em relação aos quais o gatekeeper (o jornalista) tem de
decidir se vai escolher ou não publicá-las.

O autor explica na década de 60, houve um súbito interesse no estudo do jornalismo por conta
do reconhecimento do crescente papel ocupado pelo mídia (pelos meios de comunicação), e sobre
acontecimentos da época (como a Guerra do Vietnã), que puseram em causa valores dominantes da
sociedade de consumo e instigaram uma nova fase de investigação, assim como o interesse pela
ideologia e pela problemática da linguagem.

Nessa nova fase, o jornalista explica também que a relação entre o jornalismo e sociedade
passou a ser uma das questões centrais de estudiosos, que questionavam a atividade dos jornalistas
e suas implicações políticas e sociais, bem como, a parcialidade e o papel das notícias e a
capacidade do Quarto poder (a mídia) em atender as expectativas da população em relação à
democracia. Depois dessa teoria, outras mais complexas surgiram, para compreender o jornalismo.

Para introduzir essas teorias que abordam o jornalismo e as notícias por ele veiculadas,
Traquina propõe a pergunta: “Por que as notícias são como são?”. Ele afirma que seria “errôneo
sugerir que os estudos do jornalismo” que permeiam o século XX forneçam uma resposta satisfatória,
mas que é possível esboçar as várias teorias, que tentam responder a essa pergunta. Vale ressaltar,
segundo o autor, que “essas teorias não se excluem mutuamente, ou seja, não são puras ou
necessariamente independentes uma das outras”.

A primeira a ser abordada por traquina é a teoria do espelho, em que o jornalista é um


comunicador desinteressado, ou seja, um agente que não tem interesses específicos a não ser o de
informar, procurar e contar somente a verdade. Ele explica que é a teoria mais antiga, e que está
veiculada com o jornalismo desde seu principio, pois defende que a notícia deve retratar de maneira
fidedigna a realidade, não permitindo que o jornalista emita opiniões pessoais. No entanto, o autor
define esta teoria como pobre e insuficiente para explicar o campo jornalístico.

A teoria de gatekeeper (ou teoria da ação pessoal), mais uma vez abordada no texto pelo
professor e completamente oposta a teoria do espelho, reflete, segundo ele, uma visão restrita do
processo de produção de notícias. Isso ocorre, pois ela analisa as notícias apenas a partir de quem as
produz: o jornalista. O autor conclui que essa teoria também restringe o trabalho jornalístico a uma
concepção limitada, pois maximiza as avaliações subjetivas dos jornalistas e minimiza “dimensões
importantes do processo de produção de notícias”, como o peso da estrutura burocrática dos jornais.

Warren Breed é autor da teoria organizacional, a terceira discutida por Traquina. Ela, segundo
o autor, “alarga a perspectiva teórica”, pois não analisa somente o jornalismo do ponto do vista do
jornalista, pelo contrário, a teoria o insere em seu contexto mais imediato, a organização em que o
profissional trabalha.

Breed considerava, em seus estudos durante a década de 50 que o jornalista, conforma-se


com as normas editorias do meio de comunicação em que trabalha. Além disso, ele também cita
medo de punições, como alterações em seus textos, a aspiração de alcançar um cargo mais relevante
dentro da empresa, e os laços criados de amizade criados com os superiores como fatores que
determinam o conformismo com a política editorial por parte dos profissionais do jornalismo. Além
disso, ele aponta o jornalismo como um negócio, o que faz com que o espaço ocupado pela
publicidade intervenha diretamente na produção do produto jornalístico para a obtenção do lucro.

A teoria da ação política, estudada por autores na década de 70 e 80 apontam os meios de


comunicação defendem os interesses políticos, sendo eles de esquerda ou direita. Nela, os jornalistas
assumem papel ativo na produção das notícias e estão sempre dispostos a “injetar as suas
preferências políticas no conteúdo noticioso”. Segundo o autor isso acontece, pois assim como teoria
da ação política, a teoria política também afirma o poder do capitalismo sobre o jornalismo, em que há
uma dependência dos jornalistas de fontes governamentais e fontes do mundo empresariais que
ambos estão estritamente interligados.

É nesta época que também se destacam as duas últimas teorias discutidas por Traquina, a
teoria estruturalista e a etnoconstrucionista. Ambas são complementares, mas divergem em alguns
pontos importantes. Em sua essência, elas fazem um balanço das teorias anteriores e rejeitam a
teoria do espelho por acreditarem que os jornais não reproduzem a realidade.

A primeira reconhece a autonomia relativa dos jornalistas em relação a um controle econômico


da organização em que trabalha. Segundo o autor, as notícias por eles produzidas são um produto
resultante de vários fatores, como a organização burocrática da mídia, a estruturação dos valores-
notícia (“estórias noticiáveis” que merecem destaque e trazem notoriedade ao jornal) e a valorização
de uma perspectiva culturalista, pois publicar uma notícia de um acontecimento só faz sentido se
puder colocar o leitor em um lugar que ele se identifique no âmbito social e cultural. Além disso, ele
também diz a respeito da relação dos jornalistas com suas fontes, em que estas, por serem na
maioria das vezes oficiais e ‘poderosas’ defendem as classes dirigentes.

Já a teoria etnoconstrucionista, propõe que os jornalistas são escravos dos fatores tempo e
espaço. Devido a isso, os meios de comunicação tentam planejar o futuro através dos serviços de
agenda e elaboram listas de acontecimentos previstos. Esse ritmo de trabalho, que valoriza o
imediatismo, tem como consequência os acontecimentos e não as problemáticas deles. A respeito
das fontes, Traquina afirma que existe uma relação em que estas ajudam os jornalistas e vice-versa,
visto que para os jornalistas há aspectos positivos como eficácia, estabilidade, autoridade das fontes
para validação da notícia. Para a fonte, os benefícios são a publicação de seus atos e valores, reforçando
sua legitimidade social.

Traquina faz sua conclusão dizendo que tanto a teoria estruturalistas como a etnoconstrucionista
afirmam que as “fontes oficiais dominam o processo de produção das notícias e que os meios de
comunicação reforçam o poder instituído”. E que o jornalismo como “contrapoder” é mito. De acordo
com o autor, é mais preciso dizer que o jornalismo é um quarto poder, em que periodicamente utiliza
seu potencial de contrapoder, pois sua tendência geral é reforçar o poder instituído.

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