Em seu texto, “Teorias das Notícias: o estudo jornalismo no século XX”, o professor, teórico, e
jornalista Nelson Traquina, afirma que para alguns estudiosos, a cibermídia (internet) estaria
extinguindo a profissão de jornalista. Para ele este tipo de previsão catastrófica é precoce e, diante
disso, considera ser importante fazer um mapeamento das teorias do jornalismo do século XX.
Traquina afirma que o estudo do jornalismo ganhou um pequeno espaço no século XIX, e que
apesar de ter começado relativamente cedo, era bastante esporádico até a década de 50 do século
seguinte. Porém, em 1950, David Manning White elabora a teoria de gatekeeper, em que o fluxo das
notícias é concebido através de uma série de escolhas, em que elas passam por diversos “portões”
(gates), que são momentos de decisão em relação aos quais o gatekeeper (o jornalista) tem de
decidir se vai escolher ou não publicá-las.
O autor explica na década de 60, houve um súbito interesse no estudo do jornalismo por conta
do reconhecimento do crescente papel ocupado pelo mídia (pelos meios de comunicação), e sobre
acontecimentos da época (como a Guerra do Vietnã), que puseram em causa valores dominantes da
sociedade de consumo e instigaram uma nova fase de investigação, assim como o interesse pela
ideologia e pela problemática da linguagem.
Nessa nova fase, o jornalista explica também que a relação entre o jornalismo e sociedade
passou a ser uma das questões centrais de estudiosos, que questionavam a atividade dos jornalistas
e suas implicações políticas e sociais, bem como, a parcialidade e o papel das notícias e a
capacidade do Quarto poder (a mídia) em atender as expectativas da população em relação à
democracia. Depois dessa teoria, outras mais complexas surgiram, para compreender o jornalismo.
Para introduzir essas teorias que abordam o jornalismo e as notícias por ele veiculadas,
Traquina propõe a pergunta: “Por que as notícias são como são?”. Ele afirma que seria “errôneo
sugerir que os estudos do jornalismo” que permeiam o século XX forneçam uma resposta satisfatória,
mas que é possível esboçar as várias teorias, que tentam responder a essa pergunta. Vale ressaltar,
segundo o autor, que “essas teorias não se excluem mutuamente, ou seja, não são puras ou
necessariamente independentes uma das outras”.
A teoria de gatekeeper (ou teoria da ação pessoal), mais uma vez abordada no texto pelo
professor e completamente oposta a teoria do espelho, reflete, segundo ele, uma visão restrita do
processo de produção de notícias. Isso ocorre, pois ela analisa as notícias apenas a partir de quem as
produz: o jornalista. O autor conclui que essa teoria também restringe o trabalho jornalístico a uma
concepção limitada, pois maximiza as avaliações subjetivas dos jornalistas e minimiza “dimensões
importantes do processo de produção de notícias”, como o peso da estrutura burocrática dos jornais.
Warren Breed é autor da teoria organizacional, a terceira discutida por Traquina. Ela, segundo
o autor, “alarga a perspectiva teórica”, pois não analisa somente o jornalismo do ponto do vista do
jornalista, pelo contrário, a teoria o insere em seu contexto mais imediato, a organização em que o
profissional trabalha.
É nesta época que também se destacam as duas últimas teorias discutidas por Traquina, a
teoria estruturalista e a etnoconstrucionista. Ambas são complementares, mas divergem em alguns
pontos importantes. Em sua essência, elas fazem um balanço das teorias anteriores e rejeitam a
teoria do espelho por acreditarem que os jornais não reproduzem a realidade.
Já a teoria etnoconstrucionista, propõe que os jornalistas são escravos dos fatores tempo e
espaço. Devido a isso, os meios de comunicação tentam planejar o futuro através dos serviços de
agenda e elaboram listas de acontecimentos previstos. Esse ritmo de trabalho, que valoriza o
imediatismo, tem como consequência os acontecimentos e não as problemáticas deles. A respeito
das fontes, Traquina afirma que existe uma relação em que estas ajudam os jornalistas e vice-versa,
visto que para os jornalistas há aspectos positivos como eficácia, estabilidade, autoridade das fontes
para validação da notícia. Para a fonte, os benefícios são a publicação de seus atos e valores, reforçando
sua legitimidade social.
Traquina faz sua conclusão dizendo que tanto a teoria estruturalistas como a etnoconstrucionista
afirmam que as “fontes oficiais dominam o processo de produção das notícias e que os meios de
comunicação reforçam o poder instituído”. E que o jornalismo como “contrapoder” é mito. De acordo
com o autor, é mais preciso dizer que o jornalismo é um quarto poder, em que periodicamente utiliza
seu potencial de contrapoder, pois sua tendência geral é reforçar o poder instituído.