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ae O é { =i ay ee ST Ro * at a ’ * v . % = pectos ‘ig 2 é 3° we y e oa ms Se Bs * rf 6 » r . * a Meroe Vice oh Boe AON lla Rogério Marcos de Oliveira, Alves ade de Almeida ae SERIE MELIPONICULTURA, 01 Criagao de abelhas sem ferrao: aspectos praticos Carlos Alfredo Lopes de Carvalho Rogério Marcos de Oliveira Alves Bruno de Almeida Souza PROMOGAO: GRUPO DE PESQUISA INSECTA Departamento de Fitotecnia - Escola de Agronomia / UFBA Programa de Pés-Graduagao em Ciéncias Agrarias da Universidade Federal da Bahia APOIO: ‘SDA/DDP Cruz das Almas - Bahia 2003 CAPA Detalhe do ninho da abelha jatai ( Tefragonisca angustula). Foto: C.A.L. de Carvalho Copyright © 2003 by Carlos Alfredo L. de Carvalho, Rogério Marcos de O. Alves e Bruno de A. Souza. Ficha Catalografica C331 Carvalho, Carlos Alfredo L. de. Criagdo de abelhas sem ferro: aspectos praticos / Carlos Alfredo L. de Carvalho, Rogério M. de O. Alves, Bruno de A. Souza - Cruz das Almas: Universiciags. Federal da Bahia / SEAGRI - BA , 2003. 42 p. cil. (Série Meliponicultura; 4) Bibliogratia . Meliponicultura - manejo. 2, Meliponicultura - mel. 3 Meliponicultura - Brasil. |, Alves, Rogério M, de O. Il, Souza, Bruno de A, Ill. Titulo CDD - 20 ed 63814 Impresso no Brasil - Printed in Brazil 2003 AUTORES. CARLOS ALFREDO LOPES DE CARVALHO Escola de Agronomia - UFBA, Cruz das Almas-BA, 4360-000 FoneiFax: (75) 621 2002; E-mail: calfredo@ufoa.or ROGERIO MARCOS DE OLIVEIRA ALVES Escola Agrotécnica Federal de Catu, R. Barao de Camagari, n. 118, Centro, Catu-BA Fone: (71) 641 1043: E-mail: profrogerio@hotmail.com BRUNO DE ALMEIDA SOUZA. Programa de Pés-Graduagao em Ciéncias Agrarias, Escola de Agronomia - UFBA, Cruz das Almas-BA, 44380-000 FoneiFax: (75) 621 2002; E-mail: ba-souza@ig.com.br Distribuigéo: SEAGRI/ DDP 4" Avenida, 405, Térreo, CAB, 41750-300, Salvador-BA. Fone: (71) 370-2748; Fax: (71) 370-2775; E-mail: seagri.cm@bahia.ba.gov.br Grupo de Pesquisa Insecta Laboratério de Entomologia, Escola de Agronomia-UFBA, CEP: 44380-000, Cruz das Almas-BA. Fone: (75) 621 1220; Fax: (75) 621 2350 CONTEUDO—$—$________—— Prefacio 1. Conhecendo as abelhas sem ferrao 2. Por que criar abelhas sem ferrao ? 3. Qual a espécie melhor para criar ? 4, Caixas racionais 5. Instalagao do meliponario 6. Conhecendo a estrutura do ninho 7. Poveamento do meliponario 8. Manejo das colénias 9. Como saber qual a flora importante para as abelhas ? 10. Revisdo das colméias 11, Alimentagao das colénias 12. Produtos das abelhas sem ferro 13. Quando e como colher o mel ? 14. Como conservar o mel por mais tempo ? 15. Mercado e comercializagao 16. Evitando os inimigos naturais 17. Consideragoes Finais 18. Referéncias Bibliograficas 01 04 05 06 08 10 4 24 25 26 29 4 35 7 38 39 4 42 $$ Kf REFACIO Os insetes conhecidos no Brasil por “Abelhas Sem Ferro” (ASF) ou melipcninecs constituem um conjunto de especies neotropicais, cuja importincia pode ser calculada, tanto pete seu papel como polinizador, contribuindo na manutengdo das comunidades de vegelais ¢ animais, como pela possibilidade de exploragdo dos seus produtos, tomande-se 0 sustentaculo econdmicn, cultural, saclal @ ecolégico da populagde rural de varias localidades do Nordeste brasileiro. Sd as abelhas genuinamente brasileiras, natiwas ou nacionais, rica em especies & diferente da abelha africanizada, que é o resultado do cruzamento de ragas introduzidas no nosso pals da espécie Apis meiiifera. Os names comumente utilizados para identificar as diferentes espécies de ASF, tais como jatai, iral e urugu, s40 baseados na lingua iupi, sendo que os indigenas foram os primeiros a criar e explorar os produtos dessas abelhas, muito antes do descobrimento do Brasil Mesmo sendo uma atividade inserida na cultura de algumas regides. do nosso pais, ainda sao escassas as informagdes sobre o manejo racional destes pequenas animais. Em muitos casos, as técnicas utilizadas s4c baseadas em conhecimento empirico passado entre as geragdes de criadores, que, ndo consequinde explicar determinados fatos obsarvados no dia-a-dia do manejo das colénias, acaba dando origem as crendices que até hoje circulam nas segiées interioranas do Nordeste a respeito das ASF. Atualmente @ crescente 0 numero de pessoas que estudam e desenvolvem pesquisas volladas para a compreensda da bioecologia destes insets, objetivande a conservacao das diferentes espécies e/ou o.uso econdmico de suas coldnias. Dentro deste candrio, o Estado da Bahia tem demonsirado vocacae natural para a atividade e sa destaca em espécies com potencial para a exploragZo racional. Também & crescente o numero de instituigSes & pesquisadoes que dasenvolvam trabalhos com estes insetos socials, mostrando a preocupagao com a preservagdéo dessas abelhas e buscando altemativas para a sua exploraco sustentada em diferentes ecossistemas. Com o objetivo de divulgar os conhecimentos praticos relacionados com a criagao das abelhas sem ferro, o Grupo de Pesquisa Insecta da Escola de Agronomia/UFBA, em parceria com a Secretaria de Agricultura, Irrigagao e Reforma Agraria do Estado da Bahia e outras Instituigges de Ensino e Pesquisa, esta iniciando a Série Meliponicultura, na qual sera apresentada informagao sabre o manejo, a exploragao de produtos e a conservagdo das principais espécies de meliponineos da Bahia. 1. CONHECENDO AS ABELHAS SEM FERRAQ————— Abelhas sem ferrao, também chamadas de indigenas, constituem um grupo de abelhas que apresentam o ferrdo atrofiado. Atualmente sao conhecidas cerca de 400 espécies distribuidas em aproximadamente 40 géneros, sendo que mais de 70% ocorrem nas Américas. Embora nao utilizem o ferrao atrofiado como meio de defesa, essas. abelhas defendem suas coldnias, tanto de forma indireta, construindo seus ninhos em locais de dificil acesso, como também de maneira direta, atacando os inimigas que insistem em penetrar em seus ninhos. Algumas enroscam-se nos cabelos e pélos, beliscam com suas mandibulas afiadas e ainda penetram nos ouvidos e narinas, causando desconforto ao intruso. Qutras podem apresentar um mecanismo mais sofisticado como a espécle conhecida por "caga-fogo" (Oxytrigona tataira), que libera uma substancia caustica, a partir de suas glandulas mandibulares, resultando’em quelmaduras graves. As abelhas sem ferrao pertencem a familia Apidae, subfamilia Apinae, tribo Apinie subtribo Meliponina, sendo denominadas por meliponineos. Estdo divididas em dois grupos: as Meliponas, com apenas 0 género Melipona, e os Trigonineos, que sao formados por um grande numero de géneros, ocorrendo em toda area de distribuicao da subfamilia. O grupo das meliponas possui diversas espécies conhecidas, como: mandagaia (Melipona quadrifasciata), urugu {Melipona scutellaris), jandaira (Melipona subnitida), guaraipo (Melipona bicolor), manduri (Melipona marginata), tujuba (Melipona rufiventris), tiba (Metipona compressipes), preguigoso (Melisona seminigra pernigra), entre outras: © grupo dos trigonineos possui muitas espécies, tais como: jatai (Tetragonisca angustula), mirins (Piebela spp.), bora (Tetragona spp.), irapua (Trigona spinipes), canudo (Scaptotrigona spp.j, marmeladas (Frieseamelifta spp.), caga-fogo (Oxytrigona fataira), entre outras. Algumas caracteristicas biologicas separam os dois grupos ¢ possuem interesse pratico no manejo das colénias. Assim, nas especies do género Melipona nao ha formagao de células reais (realeira), como encontrado nos trigonineos (jatal, irai, arapua. mandaguari, canudo) ena abelha africanizada (Apis mellifera) As espécies possuem tamanhos, formas, colorado e habitos os mais diversos. Dependendo de cada espécie, os ninhos contém de 500 a 80.000 individuos. Os ninhos naturais dessas abelhas podem ser encontrados no interior de ocos de arvores, cupinzeiros, formigueiros abandonades, em cavidades na terra (subterraneos) e nos mais diferentes locais onde possam encontrar espago e seguranga suficientes para o crescimento da colénia como postes, paredes, muros, caixas de forga, armarios, pedreiras, caixas-isca, entre outros. Qs favos de cria séo em forma de discos, dispostos na horizontal, possuindo células hexagonais ou em forma de cachos (poucas espécies) @ ficam envolvidos por uma grande quantidade de lamelas de cera chamadas de involucro ouisolantes térmico. E caracteristica de cada espécie a forma de entrada dos seus ninhos, que variam de um simples orificio ou orificio com uma "boca" de barro adornado, a um tubo de cera liso ou poroso. As espécies dos trigonineos, como a abelha jatal, constroem suas entradas com cerume, geralmente no formato de canudo. Esta entrada mantém ligagao direta com o interior da area de cria. Por outro lado, as espécies do grupo das meliponas, como a abelha mandagaia, utilizam na construgdo da entrada de seus ninhos uma mistura de resina mais barro, denominada de batume. Também com o batume, algumas espécies delimitam suas moradias quando estas s4o construidas dentro de cavidades amplas, ou quando se localizam externamente, como os ninhos aéreos de arapua (Trigona spinipes). O alimento (mel e pélen) 6 armazenado em potes muitas vezes ovalados, construidos com cerume. Existem potes que guardam somente mel ou somente pdlen e os que guardam uma mistura pastosa desses dois alimentos, Eles ficam localizados ao redor ou em cima dos favos de cria, geralmente dentro da camada de invdlucro, dependendo da espaco disponivel na colénia e da espécie. O mel eo pdlen armazenados podem ser explorados pela homem, constituindo-se em fonte de renda para pequenos produtores rurais, o que tem despertando o interesse pela criagdo dessas abelnas em toda a territério brasileiro. Além da possibilidade de exploragao econdmica das colonias, a maior importancia das abelhas esta na realizagao da polinizagdo, fecundagao das plantas que consiste em levar o grao de pélen de uma flor a outra, permitindo eficiéncia na manutengao da diversidade e evitando a consangilinidade, garantindo, ainda, a perpetuagdo das espécies vegetais. A polinizagao significa maior produgdo de frutos, sementes e diversidade do material genético produzido, Estima-se que as abelhas sem ferrdo brasileiras constituem-se nos principais polinizadares de 90% das arvores brasileiras, algumas das quais dependem exclusivamente destes insetos. Assim, esforcos voltados para o estudo dos meliponineos sao importantes na geracdo de informagdes que podem contribuir com a Mmanuten¢ao das comunidades naturais dessas abelhas e proporcionar melhoria na qualidade de vida dos criadores. 2. POR QUE CRIARABELHAS SEM FERRAO 2} Existem varias razdes para se criar as abelhas sem ferrao, entre as. quais podem ser destacadas as seguintes: a) Produgdo de mel b) Produgao de propolis c) Produgao de pdlen d) Produgao de geoprépolis e) Produgado de colénias paraa venda f) Observacdes para estudos cientificos g) Preservacao de espécies h) Uso racional para polinizagao i) Uso em paisagismo, lazer ¢ ecoturismo 7) Educagao ambiental A finalidade da criag&o pode definir qual a espécie a ser criada. No quadro abaixo é apresentada uma relagao de nomes comuns de abelhas sem ferrao com as principais atividades que podem ser exploradas pelo homem Quadro 1 - Relagdo das atividades das abelhas sem ferréo potencialmente exploradas pelo homem. Boca - de - Sapo Preserva¢ao e educagao ambiental | Ira Turismo, paisagismo @ eduéagao ambiental * Jandaira Producdo de mel e preservagao ata” Produgao de mel, turismo, paisagisma e educagdo ambiental Mandagaia Produgao de mel, pdlen € preservagdo Mirim ~ Preservagao, turismo e educaciio ambiental Moga - branca Produgao de mel, turismo ¢ educago ambiental Mombuca _ Produgéa de mele preservagao Munduri Produgaa de mel e turismo Tataira Preservagao Tubiba Produgao de mele preservagaio Urugu do nordeste Producao de mel, pélen e enxames: BO 3. QUAL A ESPECIE MELHOR PARA CRIAR >—__—— A espécie a ser criada deve ser a que ocorre na regido do interessado na atividade. Assim, abelhas conhecidas como jatai, mandagaia, urugu, iral, munduri, tidba, tubiba, urugu-amarela, moca- branca e bora séo nomes comuns de abelhas sem ferrdo que podem ser criadas com uma das finalidades ja citadas, 0 meliponicultor pode iniciar sua criagao com uma sé colméia de uma das espécies que ocorrem na sua regido, porque, provavelmente, vao existir outras colénias da mesma espécie na area, evitando a degeneragao genética. Em areas com baixa diversidade de espécie ou pouca abundancia de colénias de uma determinada especie de abelha pode ocorrer 0 efeito "Yokoyama e Ney", isto 6, a producdo de machos dipldides e a conseqUente matanca da rainha. Este processo levara a extincgdo da populagdo em uma média de 15 geragSes (conforme Kerr et al., 1996). Para se evitar esse efeito 6 necessario que se tenha, no minimo, 44 colénias da’ mesma espécie na area ou promover a troca periddica de rainhas com criadores de outras regides. Assim, deve-se evitar introduzir espécies que nao existam na area em que se pretende desenvolver a meliponicultura. Quadro 2 - Relagao parcial das espécies de abelhas sem ferro conhecidas na Bahia, Nome comum Td Bunda - de = vaca Trigona folviventris Tetragonisca Lasiriemeliita imao Melipone quadnfasciata anthidioides Molipona mandacaia ‘Scaplotrigona spp. Melipona asilvai Frieseomelita ssp. Plebela spp. Oxyirigona tataira” Metipona rufiventris Urugu - azul, verdadeira, gigantea, do litoral Malipona scutellaris” 4, CAIXAS RACIONA —_—_$_=_<>»_==_—=—$— — << $< < Existem varios modelos de caixa que poderao melhor se adaptar a uma determinada espécie do que a outra. Para a urugu, mandacaias ea urugu-amarela o modelo adaptado por Fernando Oliveira e Kerr é um dos mais indicados, néo apenas por facilitar a divisao das colénias, mas TAMPA NINHOCOM SOBRENINHO DETALHE INTERNO DA’ : “LGA DE DIV! ako. Figura 1 - Esquema de caixa racional para criagéo de abelhas sem ferrao (modelo Fernando Oliveira/INPA); A - aspecto geral dos mdédulos; B - aica de diviséo; C - visio anterior da caixa completa; D - viséo Jateral da caixa completa; E - viséo posterior da caixa completa; as dimensGes podem ser adaptadas para a espécie que se deseja cnar e o famanho da coldnia (e.g.: urugu: ninho = 20 x 20 x 10 cm; melgueira = 20 x 20 x 5 cm, jatai = 10 x 10 x 10 cm ou 12 x 12 x 12 cm; espessura da fabua = 2 cm; as medidas sao intemas). também por ajudar no seu manejo. Essa caixa também serve para as. outras espécies, sendo necessario ajustar as dimensGes para a abelha que se deseja criar. E importante lembrar que quanto maior o espago mais alimento sera consumido pelas abelhas para obter a energia necessaria a construgao de favos, potes de alimento, invélucro e defesa da coldnia. Amadeiraa ser utilizada na confecgao das caixas deve ser resistente as condigGes climaticas, leve, sem odores, pouco preferida pelos cupins e nao ser tratadas com produtos quimicos. 5. INSTALACAO DO MELIPONARIO——_———__— O Meliponaric é 0 conjunto de colénias mantidas em caixas racionais ‘ou cortigos, instaladas proximas de residéncias, em terreno limpo, utilizando cavaletes para fixar as colénias. Podem ser instalados, também, no beiral das casas, pendurando as calxas racionais ou os cortigos. Esses procedimentos além de facilitarem 0 manejo, possibilitam uma vigiléncia constante contra inimigos naturais e o roubo das caixas. As colénias devem ficar em local sombreado € arejado, sem interferéncia de ventos fortes e proximas de fonte de agua e das fontes de alimento. Na maioria das espécies devem ser distribuidas, no maximo, a 500 metros das principais floradas e a 100 metros da fonte de agua. E importante observar se ha chiqueiros e/ou galinheiros proximos das coldnias, pois algumas espécies podem coletar o material argiloso (barro) nesses locais para calafetar o ninho, 0 que pode contaminar o mel durante o manuseio da caixa. Normalmente, esse tipo de situag4o ocorre durante a estiagem prolongada, quando as abelhas tém mais dificuldade de encontrar fontes de barra umido. Uma solugdo pralica é depositar certas quantidades de barro Umido e limpo proximo do meliponario. Figura 2 - Melipondrio em local sambreado (A); detalhe do cavalete individual (B) com protetor de espuma para prevencao de alaque de formigas (C). As caixas devem ser pintadas de cores diferentes, tanto para melhor conservar a madeira, como para ajudar as abelhas a diferenciar as colméias. A distribuigéo das colméias no meliponario varia de acordo com a especie, 0 seu grau de territorialidade, a disponibilidade de espago eo interesse da criagdo. Recomenda-se que seja observada uma distancia de 1,00 m para abelhas pequenas; 2,00 a 3,00 m para abelhas de tamanho médio ou grande, quando se tém as colénias instaladas em cavaletes. Para as col6nias penduradas em beirais usa-se de 0,50 a 1,00 m entre as caixas ou cortigos. A distancia do chao para as caixas racionais nos sistemas de cavaletes ou de estantes deve ser, no minimo, de 0,50 m. Ninhos de abelhas com populagao elevada ou que apresentam alto grau de defesa das colénias, como a tilba, a tubiba e a jatai, nado se recomenda deixar muito proximos, evitando o congestionamento de individuos ea propria pilhagem entre as colénias. 6. CONHECENDO A ESTRUTURA DO NINHO—————$——— Os ninhos das abelhas sem ferréo possuem normalmente uma entrada caracteristica. Na jatai é um tubo de cera e na tubiba esse tubo é de cera mais resina de plantas; na tidba, preguigoso e urugu-amarela a entrada apresenta estrias de barro mais resina, enquanto que na moga- branca é depositada resina; no bora a entrada é formada por cera € resina, mas nao tem forma de tubo. Normalmente é envolvido por um invélucro de cera e propolis (= cerume) na maioria dos géneros; esse invélucro esta relacionado com a ventilagao do ninho. Envolvendo o involucro, forrando o aco ou a local do ninho, algumas espécies podem utilizar o batume, que éuma misturade barro comresina. - Figura 3 - Favos das abeihas sem ferrdo: A = em cacho; B = em espiral; CeD=comum. Dentro do invélucro sao encontradas os faves de cria, que possuem disposigao horizontal, diferente do cbservado na abelha africanizada (A. mellifera). Os favos $40 normalmente circulares, mas podem tomar qualquer forma, dependendo do espago que existe no substrato de nidificagao. Para as abelhas conhecidas por moga-branca os favos apresentam um formato de cacho. Figura 4 - Enfradas de ninhos de abelhas sem ferréo: A - mandagaia; B - plebéia; C- bunda-de-vaca; D - abelha lmao, E - tataira; F - ral; G - cupiera; H -jatai; | - tubiba; J urugu; K - canudo; L - manoel-de-abreu; M- munduri; N-minin; O-boca-de-sapo. Figura §- Detalhe do ninho de Metipona mandacaia (mandagaia) em um contigo: favos de cria nascente, favos de cria novas, potes de alimento, batume e pilares: os potes de alimento (mel e pélen) normalmente sao distribuidos em toro dos favos, do lado de fora do invélucro. Figura 6 - Aspecto do favo de cria nova de mandagaia (Melipona quadnfasciata anthidioides): A = ovo; B: alimento semi-liquide (nécfar+ pélen). 20 ae Figura 7 - Potes de alimento: Sambura (pdlen) do ninho de tubiba e mel de urugu. ro = A Figura 8 - Potes de pdlen e de me! da urugu em melguelra racional. 7. POVOAMENTO DO MELIPONARIO——— 7.1. Capturando colénias naturais Inicialmente deve-se ir ao local paraidentificar a espécie e observar as condigSes do ninho, planejando as etapas e relacionando o material necessario para a captura. Em seguida prepara-se o material considerando a espécie de abelha, a populagdo e o substrato do ninho Normalmente s4o necessarios: caixa racional, fita adesiva larga, recipiente com tampa; faca de ponta, seringa descartavel, botijao com Agua, facéo, marreta, cunha, machado ou moto-serra. Dependendo da espécie énecessario vestir mascara e luvas. Se o ninho estiver em tronco de arvore deve ser utilizado 0 machada ou o moto-serra, com 0 cuidado para nao danificar os favos e os potes de alimento, Assim que surgirem as primeiras rachaduras, deve-se utilizar as cunhas para forgar a abertura do oco. Apds a abertura do oco, a primeira agao ¢ fazer uma observagao geral para avaliar o tamanho da colénia. A caixa racional 6 entéo preparada, colocando-se pequenos pilares de cerume no fundo para receber os favos e permitir a circulagao das abelhas. O cerume é retirado do invélucro ou potes de alimento. Recomenda-se esfregar capim santo, erva-cidreira ou outro tipo de erva cheirosa para eliminar qualquer cheiro proveniente dacaixa. Logo em sequida deve comegar a remogao dos favos para a caixa racional, deixando-os na mesma posig¢do em que se encontrava na colénia natural. Depois de concluido a transferéncia dos favos deve-se fazer o mesmo com os pedacos de cera, cerume e resinas encontradas no ninho, O mais importante nessa etapa é transferir o mais rapido possivel os favos de cria para a caixa racional, sendo que a coleta de mel epdlen é secundaria. Os potes de alimento (mel e pdlen) que estiverem abertos devem ser colocados, separadamente, nos recipientes plasticas com tampa, enquanto os fechados poderdo ser colocados na caixa, quando se tratar de uma colénia forte. No caso da colénia nao estar forte esse material devera ser devalvido apds trés a cinco dias, evitando o ataque de forideo nos potes de pélen ede formigasnos potes de mel. Durante toda a operacao de mudanga do ninho para a caixa racional,o meliponicultor deveré estar atento ao aparecimento da rainha fisiogastrica (aquela com abdome bem desenvolvido) ou de rainhas virgens, Se forem encontradas, ent4o elas devem ser capturadas com cuidado e colocadas na nova caixa junto com os favos transportados. A ansiedade e a precipitagao do meliponicultor, comuns nesse momento, podera matar a rainha. Em muitos casos pode haver comportamento defensivo de certas espécies, através de madibuladas pelo corpo do meliponicultor, enrolando-se nos cabelos pélos, entrando no ouvido, entre outras. Para trabalhar com essas abelhas é necessario utilizar uma roupa de protegdo com mascara. Concluido © precesso de transferéncia, o meliponicultor devera tampar a caixa e vedar os médulos com fita adesiva larga. Posteriormente, devera fazer um anel de cerume e colocar no orificio de entrada da caixa racional. & necessério que a entrada da caixa racional fique na mesma posigao da entrada do ninho natural para facilitar o acesso das abelhas que ficam voando. Figura 9 - Defensividade da abelha tiuba (Melipona compressipes) afacando o cabelo do meliponicultor durante a transferéncia do ninho natural para caixa racional (A) e capfura de ninho da abelha tubiba (Scaptotrigona sp.) cam moto- serra (B); observar detalhe da vestimenta do operador devido ao alto grau de defensividade da abelha tubiba. Apés a fixagdo da colénia na nova caixa, esta deve ser vedada e amarrada, tendo sua entrada obstruida com tela para depois ser transportada ao local definitivo. As vezes nao é possivel fazer a transferéncia da colénia do oco para a caixa racional de imediato, sendo, contudo, necessario a remocao do tronco como ninho para um local seguro, livre de predadores e de furto. Assim, deve-se transportar o tronco, obedecendo a posigao original em que se encontrava no ambiente. Esse procedimento evita que os ovos gorem e as larvas novas sejam afogadas no alimento encontrado dentro das células (ver as Figuras 6 e 11). As colonias naturais devem ser preferivelmente coletadas em arvores mortas ou em drvores localizadas em areas com riscos de queimada, evitando a coleta de colénias de areas preservadas. 7.2. Dividindo as colénias Cinco processos de divisao sao apresentados a seguir: 7.2.1, Quando a colénia possui rainha virgem Ao se observar a presenca de uma rainha virgem na colénia a divisao pode ser feita dividindo em proporgées iguais a quantidade de favos de cria nova e de cria nascente, assim como os potes de alimento, depdsitos de resinas (quando presente) e involucro; a nova colénia com a rainha virgem devera ficar no local da colénia velha; é necessdrio ter certeza que arainha mae ficou na colénia velha antes de desloca-la para outro local, distante da posigdo original; os demais cuidados séo os mesmo apresentados na captura de coldnias, Nem sempre € facil identificar uma rainha virgem, mas na maioria dos trigonineos ha diferengas visiveis entre as operarias, rainhas produtivas e rainhas virgens como, por exemplo, em Scaptoirigona spp. 7.2.2. Quando a colénia possuirealeira A realeira 6 uma célula desenvolvida, que normalmente se encontra Na periferia do favo; é encontrada nos trigonineos, abelhas conhecidas por jatai, canudo, bora e moga-branca. Localizado o favo com realeira, ele devera ser transferido para a caixa nova com favos de cria nascente; deve-se colocar mais favos de cria nascente para fortalecer a coldnia enquanto a rainha se desenvolve; a coldnia velha com a rainha mae. devera serlevada para outro local distante da posigaa original. Figura 10 - Realeiras de trigonineos: A - abelha bunda-de-vaca (Trigona fulviventris); At = célula de operdnia; A2 = realeira; B - tubi (Scaptotrigona sp.); B1= eélula de operaria; B2= realeira. 7.2.3. Quando a espécie nao constréi realeiras e nao se observau rainha virgem Esta é a situacao que pode ser encontrada para as abelhas urugu, Mandagais, tiuba e urugu-amarela; faz-se 0 mesmo procedimento anterior, ou seja, transfere-se favos de cria nascente para uma nova caixa que devera ocupar 0 lugar da colénia velha onde ficou a rainha; potes fechados com alimento poderdo ser fornecidos dentro de trés a cinco dias da operagao; nesse caso é muito importante que se diferencie os tipos de favos, pois se nao houver uma quantidade suficiente de crias nascentes a divisdo podera nao ter sucesso; os demais procedimentos sao iguais ao apresentados na captura de colénia, Figura 11 - Aspecto des favos de cria nova (A) e de cria,nascente (B) dos melipanineos (Mélipona spp.); observa-se que os favos de cria nascente sao mais claros (amarelados), porque as operarias raspam a cera extermamente, facilitando a emergéncia das novas abelhas; os favos de crias navas sao mais escuros devido a quantidade de cera que cobre as células onde se encontram as larvas; observa-se ainda no detalhe uma célula de cria nova rompida (C) expondo uma larva eo seu alimento; a ruptura de células novas pode derramaro alimento (semi-liquido a pastoso) que atrai a mosca conhecida come forideo (0 principal inimigo natural das abelhas sem ferro). 7.2.4, Obtengdo de uma nova colénia a partir de duas colénias jaexistentes Este processo reduz o impacto da diviséo sobre uma Unica colénia, porque utiliza mais de uma matriz fornecedora das partes que vo formar a terceira colénia. Dessa forma, uma colénia denominada de A fornece os favos de cria nascente, de cria nova e os potes de alimentos, enquanto que uma outra colénia denominada de B fornece as operarias € ‘olocal paraa nova calénia, denominada de C: COLMEIAS: A c B Fomece os ‘Colénia Fomece as favos eo nova operarias @ alimenta 0 local Gan ae Figura 12 - Esquema de formagao de uma colénia a partir de duas pré- existentes. Neste método é necessario que os favos transportados para a nova caixa tenham uma ou mais realeiras, quando se tratar de espécies do grupo dos trigonineos. Uma outra opgdo deste método é a ulilizagdo de mais de duas colénias, reduzindo ainda mais 0 impacto sobre as colénias doadoras. E im| portante o controle do material genético utilizado nesse procedimento, que podera ser realizado por meio de fichas como a apresentada abaixo: Ficha utilizada para controle de material genético durante a divisao de colonia: Data | Colénia doadora | Colénia doadora de| Colania doadora| Colénia | Nasomento da delocal —jrainhafisiogastricas| de faves —_| resultante| nine a ccolbnia joadora 7.2.5, Método de perturbagao minima Um outro método de divisdo de colénia é o desenvolvido por Fernando Oliveira & Kerr (2000). Nesse método é utilizada uma caixa racional (vera Figura 1) que permite o crescimento da coldnia na posi¢ao vertical, passando por diferentes médulos (ninho, sobreninho e alga de divisaa) até atingir a melgueira Quando uma colénia forte tiver favos de cria na alga de divisdo (ver detalhe da parte interna da alga de divisdo na Figura 1) o meliponicullor podera retirar essa alca juntamente com os favos para compor uma nova coldnia. Serdo necessarios um novo funda, um ninho (ou sobreninho) € uma tampa para completar anova caixa. Os favos observados em C e D podem ser invertidos, em fungéo da dindmica bioldgica da colénia Figura 13 - Detaihe do méfodo de diviséo da perturbagéo minima utilizande a caixa Fernando Oliveira / INPA: A = Colénias i cialis; AT = caixa vazia; B= deta- “Ihe da alga de divisdo e do ninho; C e D = favos de cria no ninho; E=aspecto final da divisao. Durante a separagao dos médulos é importante localizar a rainha fisiogastricas, Se localizada a rainha, a caixa devera ser transferida para um outro local, tomando-se os cuidados discutidos anteriormente, enquanto que a caixa 6rfa devera ficar no local da colénia mae. No caso contrario, devera ser observada a proparcionalidade entre os favos de cria nova e de cria nascente nos conjuntos formados, sendo que a caixa que ficar com a maioria dos favos de cria nova devera Ocupar 0 lugar da colénia mae para receber as campeiras. A caixa com a maioria de favos de cria nascente deverd ser deslocada para outro lugar, preferivelmente Ocuipando local de uma outra colnia forte do melipanario. 7.3. Aproveitamento de operarias de colénias naturais com favos de colénias instaladas em caixas racionais (Método de Bruening) Quando ja se tém algumas coldnias em caixas racianaise se enconira um ninho da mesma espécie em local de dificil captura ou que, por alguma raz4o, nao se pode capturar, 6 possivel aproveitar as operarias do ninho natural. © processo é colocar um tubo plastico na entrada do ninho natural, de forma a forgar as abelhas sairem apenas pelo tubo, vedando possiveis orificios ¢ fendas que permitam a saida das abelhas; na extremidade do tubo é colocado um cone de tela com um orificio que permite a saida de uma abelha de cada vez (o didmetro deve ser proporcional ao tamanho da espécie); o objetivo desse cone é permitir a saida das abelhas do ninho natural € dificultar ou mesmo impedir a entrada das operarias que retornam do campo; proximo a esse cone é colocada uma caixa racional contendo favos de cria nascente (cria madura) provenientes das colnias do meliponario E necessario colocar um anel de cera na entrada da caixa, preferencialmente formado por cera do ninho natural; essa entrada devera ficar no mesmo nivel do cone de saida do ninho natural, facilitando a percepgao do cheiro da cera (anel de entrada) e dos favos de cria no interior da caixa racional. Como o retorna das abelhas para o interior do ninho é impedido ou dificultado pelo cone de tela, normalmente ocorre uma revoada em volta da caixa racional e do cone de entrada; essas abelhas logo percebem o cheiro da cera e dos favos e comegam a se aglomerar no anel de cera, entrando na caixa racional Esse processo pode durar entre dois a trés dias, dependendo da espécie e da quantidade de abelhas que adentrem a calxa racional. Assim que um nimero razoavel de abelhas for observado dentro da caixa racional, essa deve ser fechada e levada para um local distante do ninho natural. € importante lembrar que os favos de cria nascente obtidos das colénias de Melipona spp. tem grande probabilidade de aparecimento de uma rainha, mas para os trigonineos é necessdario que os favos colocados nas caixas racionais tenham realeiras, garantindo a formagao da colénia. Aproximadamente, um més apés esse processo a nova colénia pode ser reforgada com potes fechados de mel e pélen provenientes de outras colénias e/ou trocar de local com colénias fortes. Em ambos os casos o objetivo é fortalecer a nova colénia com alimento e operarias. Esse método permite ampliar as colénias do melipondrio e preservar as colénias naturais. 7.4, Uso de caixasiscas Pode ser utilizado para espécies como jandaira, moga-branca, irai e jatai, colocando-se as caixas de madeira, com tamanho de 10 x 10 x 10 cm, penduradas no meliponario ou em locais proximos de ninhos naturais Podem ser distribuidas caixas armadilhas contendo pedacos de cerume da espécie que se deseja capturar e colocar em locais estratégicos, tanto na cidade como no campo; o principal periodo de enxameagao das espécies é durante as floradas. 7.5.Compra de coldnias diretocom meliponicultores Adquirir colénias desenvolvidas de criadores, evitando perda de familias, quando da transferéncia do tronco para caixas racionas. Esse procedimento, quando possivel, evita, também, a captura de colénias em ambientes naturais, Apesar do custo mais alto, o resultado normalmente écompensadore garantido. 8. MANEJO DAS COLON/AS—$<$<$ $@<$—$< $$ _ $$ As principais atividades do manejo das coldnias: Recolhimento de enxames naturais - preferencialmente em areas desmata-das com risco de serem queimadas. E importante solicitar permissao ao IBAMA; Troca de rainhas - 6 necessario a troca periddica da rainna dessas abelhas; o processo pode ser forgado, eliminando-se a rainha velha (normalmente com asas desgastadas e com pouca postura nos favos), possibilitando o surgimento de uma nova rainna dos favos de cria nascente (urugu, mandagaia) ou de realeiras (jatal, bord, canudo, moga-branca) ou, ainda, através da troca de rainhas produtivas entre criadores de diferentes regides para evitara consangiinidade. Fortalecimento de familias fracas - manejo necessario para a manutengdo das col6nias, que pode ser através do fornecimento de alimentagao artificial, insergéo de favos de colénias fortes, troca de rainhas e troca de local com autra colénia forte para aproveitamento das campeiras. Diviséo de familias - é uma das formas de ampliar o numero de colénias do meliponario e deve ser feito quando as colénias estéo fortes; observando-se a presenga de realeiras em ninhos de jatal, tubiba, moga-branca e bora ou a presenga de rainhas virgens; procede-se a transferéncia de parte da coldnia (favos de cria nova e nascente, potes de mel e de pdlen, cerume) para uma caixa nova. E preciso saber o periodo de reprodugao da espécie, observando a presenga de machos no interior ¢ fora das colénias e, o periodo das floradas, para que a colénia nova cresca rapidamente. 9, COMO SABER QUAL A FLORA IMPORTANTE PARA AS ABELHAS #— E muito importante visitar as plantas em floragao nas imediagées do meliponario em diferentes horarios do dia e verificar a presenga das abelhas. Para identificar as principais plantas de interesse meliponicola naregiao devem ser observadas as floradas, anotar a época, a duragdoe aquantidade de plantas da mesma espécie em floracao, o tipo de material queasabelhasestdo coletando ea quantidade das abelhas nas flores. Identificadas as plantas de maior interesse meliponicola, suas sementes devem ser coletadas para futuros plantios nas proximidades do meliponario ou para a formagao do pasto meliponicola. As plantas visitadas para a coleta de pdlen e néctar, também podem ser identificadas pela andlise dos graos de pdlen presentes no mel ena massa de pélen armazenada nos potes de alimento, As principais caracteristicas para uma planta ser considerada meliponicola saa: a) _existirem quantidade; b) seratrativa para.as abelhas; ¢) _florescer o maior tempo possivel; d) terosrecursos (pdlen, néctare resina) acessiveis. Quadro 3 - Relagéo de algumas espécies vegelais de jinteresse meliponicolana Bahia ew rast tad ranean _Schinus terenbintfolius omc a ae x wezero ree SOAINE 7 Rtuanecae ONSEN Sisal —=—S*«ave sisalana”=—==*S*«*Cgavaceze «== Nano (7) 0 periode de florago depende da regio, do ano e das condigées 10. REVISAO DAS COLMEIAS—_—__$_—_———_— Asrevisées devem ser feitas pelo menos uma vez no més para avaliar as condig6es da coldnia, observando-se a disponibilidade de alimentos, presenga de inimigos, lixo, excesso de batume € favos mofados, além das condicdes gerais da familia, como o desenvolvimento do ninho e a populagao. Alguns aspectos externos também podem servir para sinalizar o bom estado da colénia, como por exemplo, o fluxo de abelhas saindo e entrando na colméia e a presenga de operdrias entrando com massa de pélen, resina ou barro. Quando da divisdo ou captura de col6nias a construgao do tubo de entrada caracteristico da espécie pode ser um indicative que a colénia aceitou a nova caixa e estd se desenvolvendo. E necessdrio esperar entre 15 a 20 dias para verificar a presenga da rainha ou de favos de cria novana coldnia formada, De acordo com o objetivo e época das revisdes, estas podem ser divididas em revisdo de producdo, de invernoe de manutengao. 10.1. Revisdo de produgao Trata-se da colocagdo das melqueiras e até mesmo de potes artificiais de alimento para que as abelhas depositem mel e pdlen; acontece antes do principal periodo de floragao e varia com a regio e as condices climaticas; assim, o meliponiculter devera estar atento as floragdes da sua regido, construindo um calendario de floragao e de alividades a serem desenvolvidas, 10.2. Revisdo deinverno Refere-se a limpeza da colméia no periodo de escassez de alimento ou no inverno, sendo necessario a redugdo do espaco interno com o recolhimento de melgueiras e 0 fornecimento de alimento artificial. 10.3, Revisdo de manutengao Consiste na observa¢do do desenvolvimento do ninho ena presenga ou nao de excesso de umidade. Neste iltimo caso, a umidade em excesso pode promover o aparecimento de pates mofados, que deverao ser retirados da colénia. Essa revisdo é realizada durante todo o ano, dependendo do calendario de floragao. Ficha de Revisao: N° da Coldnia: Abelha: Allmenio] Umidade] Favos | Lixo | Desenvolvimento | Colhoita | Familia Pélenimel | interna | mofados | batume do ninho ———— ae ee Legenda: 1. alimento muitoimédio/pouce 2. umidade sim/ndo 3. favos mofados sim/ndio 4. lino sim/nao 5. desenvolvimento do ninho fracolmédiolexceiente 6. familia fracalmédialexcelente CALENDARIO DE ATIVIDADES * 02] troca de rainha inicio de florada antes da florada revisdio de pradugéo 04] reviséo de manutengao apds a florada durante a ano tado (5 vezes): antes do inicio da florada antes da primeira colheita entre a 1*.¢ 2° coleta de mel na segunda coleta de mel inicio d6 inverno Y vw} 05] revis&o de inverno. antes do perioda de chuvas, seca ou frio de enxames. época de fiorada 07| alimentagao de subsisténcia _| época de escassez de alimento até 50 dias antes da nova florada alimentagao estimulante ide 40 a 50 dias antes da fiorada até 10 dias do inicio da nova florada época de colheita de mel do meio para o final da florada calheita de palen “ Ocalendario deve ser adaptado considerando a regiao, a espécie € 0 Objetivo da atividade 11. ALIMENTACAO DAS COLONIAS———__——___— O meliponicultor devera alimentar as colénias sempre que houver escassez de plantas em flaragaa ou quando as condigées climaticas sao desfavoraveis a atividade forrageira das abelhas. Se houver necessidade de realizar a alimentacao artificial deve-se preferir o alimentador tipo pemambucano. Esse tipo de alimentador evita abrir a colénia constantemente, provocando disturbios na populagdo de abelhas e estimulando o depdsito de barro com resina na tampa da caixa, 0 que dificulta o manejo e aumenta a possibilidade de contaminagao do mel. Uma outra opgao é o alimentador de gaveta, calocado sobre a melgueira. Em ambos 0s casos, a caixa deverd ser nivelada para evitar 0 vazamento do alimento, 0 que pode provocar pilhagem e ataque de formigas. A alimentagao artificial ¢ basicamente agua com aglicar; algumas . Figura 14 - Caixa com alimentador tipo permambucano (A); detalhe interno formado por um joelho de PVC e uma tela para evitar que as abelhas entrem no alimentador e morram afogadas (8); aspecto da coleta de alimento por operdrias de munduri (Melipona asilvai) (C). ee lt tt” r DS espécies de abelhas sem ferro sé aceitam alimentacao artificial se 0 produto fornecido tiver algum tipo de cheiro, que pode ser desde o seu prdprio mel diluido em agua (1:1) ou 0 mel de A. metlifera que tenha cheiro de flores, diluido em Agua na proporedo 1:5 ou ainda, mel de Apis diluido em agua ou xarope acrescido com algum tipo de esséncia; algumas vezes 4 importante acrescentar uma pitada de pdlen, retirado da propria colméia, no alimento liquido; devera ser ministrado no periodo de escassez de néctar e/ou pélen ou em periodos prolongados de chuvas. Receita da Alimentagao Artificial: Ingredientes: 1 kg de agticar; 1 litro de agua fervendo; Acrescentar algumas gotas de esséncia (e.g.: baunilha). Modo de fornecimento: Misturar todos os ingredientes e fornecer as abelhas através dos diferentes tipos de alimentadores; os alimentadores podem ser do tipo interno (melhor por evitar saques) ou do tipo externo. 12, PRODUTOS DAS ABELHAS SEM FERRAO——_—— Mel O mel das ASF possui sabor doce, coloragdo branca e odor pronunciado, Apresenta menor contetido de aglicares maior percentual de dgua (> 23%) que o da abelha africanizada. O teor de Agua influencia Na conservagéo, causando a fermentagao (mel azedo). Seu armazenamento deve ser feito em geladeira logo apés a colheita. O aquecimento pode influenciar na composigao, sabore odor. Quadto 4- Parametros fisico-quimicos de alguns méis de meliponineas. yer Umidade Ero hy Frieseomelita spp. 27.038 fell zi Melipona mandacala Melipona quadnifasciata anthidioides: 27a 34 Melipona scutellaris 23430 69a 76 Teiragonisca angustula 23427 Quadro 5- Estimativa de produgao de mel por espécie demeliponineos. yar) Ne ae Melipona asilvat Munduri A0a25) _ Meliporia iat : = Mandagaia /2.0a80) Melipona quadrifasciata anthidioides Mandagaia 2,034,0 ‘Melipona rufiventeis Uruguamarela 404100 SMANRORa SAN taiemE “(PSUR aan, Molipona subnitida Jandaira 203.0 Sambura (Polen) Constitui excelente alimento rico em proteinas (+/- 30 %), podendo ser consumido fn natura na quantidade de uma colher de cha por dia ou em refresco, Possui sabor acido caracteristico devido a fermentagao resultante da acdo das enzimas das abelhas. mies Figura 15 - Potes de pélen (samburd). A - urugu; B - canudo. Propolis e Geoprépolis A prépolis 6 a resina vegetal coletada pelas abelhas para vedar as frestas. Algumas espécies de meliponineos utilizam essa resina como arma de defesa contra inimigos naturais. Algumas espécies mantém reservas de resina dentro do ninho, que podera ser utilizada tanto na estrutura geral como na defesa da colinia. A geoprépolis 6 a mistura de argila com propolis. ek _—_—e eee Figura 16 - Resina em ninhos de jatai (A) e mosquito (Plebeia sp.) (B); batume em coiénia de munduri (C) e geoprépolis em cortigo de mandagaia (D). ® Oe Cera Nos meliponineos é produzida nos tergitos abdominais localizados na parle dorsal. E misturada a propolis para confecgdo dos potes de alimento; por isso que os potes de algumas espécies tém coloragao escura. Polinizagao As abelhas constituem um dos grupos mais importantes para o homem por permitir a exploragdo econémica de seus produtos e, principalmente, por contribuir para o aumento da produgao de frutos e sementes de diversos vegetals de interesse agroflorestal, Alam disso, desempenham papel importante na manutengao das comunidades de plantas e animais nos ecossistemas naturais. A maioria da flora encontrada em muitas comunidades depende das abelhas para que ocorra a polinizacao. Estudo realizado na floresta tropical da Costa Rica demonstrou que as abelhas sao os principais polinizadores e/ou co-polinizadores em 40% das especies de drvores estudadas. Além da sua importancia para manter a comunidade de plantas, algumas espécies de meliponineos podem ser utilizadas na polinizagao dirigida de olericolas em sistema de cultivo fechado ou em agroecossistemas, contribuindo para o aumento da renda do produtor. 13. QUANDO E COMO COLHEROMEL ?——______. A colheita s6 deve ocorrer quando a colénia estiver forte e deve acontecer durante e logo apds as floradas; se 0 meliponicultor colher todo o mel da colénia no final do periodo de floragdo sera necessdrio entrar com alimentagdo artificial por um Perlodo maior de tempo para manter as colénias populosas; isso nem Sempre é€ possivel pelas peculiaridades e especificidade de algumas espécies. A colheita de mel deve ser feita com todo 0 cuidado possivel no aspecto relacionado a higiene, uma vez que o mel dessas abelhas possui um alto teor de umidade e pode sofrer fermentagao e contaminagao por microorganismos. Figura 17 - Colheita de mel da abelha urugu utilizando seringa descartavel (A) e bomba de sucgao (B, Ce D). © meliponicultor s6 deve colher 0 mel dos potes fechados, que & considerado como mel maduro, evitando a colheita nos potes abertos, que normalmente apresentam maior teor de dgua. Acolheita propriamente dita deve ser feita com se ringas descartaveis, preferencialmente esterilizadas, com uma adaptagao na extremidade feita com uma mangueira de pequeno diametro ou a capa plastica de cabo condutor de energia elétrica numero 10 (fio 10) quando o criador pPossui pequeno numero de caixas. 0 ideal ¢ uma bomba de succao portatil, do tipo utilizado em consullérios dentarios, onde o mel 6 succionado e sai direto dos potes para um recipiente previamente impo. O mel em Potes pequenos devem ser colhido com seringa. Apos a calheita o mel devera ser armazenado em recipiente higignizado e conservado em geladeira, preferencialmente; esses procedimentos evitam a répida fermentagaodomel, . ° Acolheita realizada furando os potes com o mel escorrendo pelo piso da caixa no é indicada, pois contamina o produto com impurezas e Normalmente acelera o processo de fermentacao. 14. COMO CONSERVAR O MEL POR MAIS TEMPO #——__ Devido ao teor elevado de agua, 0 mel das abelhas sem ferrao fermenta facilmente. Assim, se nao for possivel o consumo em curto prazo, o meliponicultar deverd desidratar o mel para conserva-lo em local fresco e arejado. Esse processo nem sempre da bons resultados, sendo mais recomendavel a conservagdo em geladeira, Qualquer que seja o método, a limpeza do material utilizado na colheita e no envase é fundamental para evitara a depreciagdo do produto. Normalmente o mel das abelhas sem ferréo comercializado em feiras livres possui um gosto azedo, sendo considerado normal pelos vendedores. No entanto, esse sabor é decorrente dos métodos inadequados de colheita e do Processo de fermentagao a iniciado, 15. MERCADO E COMERCIALIZAGAQ—— A venda do produto mel é realizada diretamente ao consumidor ou ao comércio natural. Sua rotulagem obedece aos procedimentos utilizados para o mel de A. mellifera, sendo permitido a sua comercializagéo em portaria (RISPOA), desde que acrescido da informagao: mel de abelhas sem ferrao. 16. EVITANDO OS INIMIGOS NATUR —$=—$_ Os principais inimigos naturals séo as moscas ou mosquitos conhecidos por forideos, que sao atraidos para as coldnias pelo cheiro do pélen fermentado. Na verdade as larvas dessa mosca se alimentam do pdlen depositado nos potes de alimentos Figura 18 - Inimigos naturals das abefhas sem ferrdo: A - lagartixa; B - forideos; C - formigas enfraquecendo a coldnia. Se nao forem tomadas medidas de controle, as larvas passam a atacar as células de crias novas para se alimentar, destruindo totalmente os favos e matando Figura 19 - Mecanismos de preven¢do contra inimigos naturais das abelhas sem ferréo: A - prato de aluminio contra ataque de lagartixas; B- protegao de espuma conira formigas; C - armadilhas para forideos, as crias das abelhas. Deve-se evitar os potes de pdlen abertos ou favos de cria nova rompido nas colméias durante a captura ou diviséo da col6nia (ver Figura 6) e utilizar armadilhas com vinagre no meliponario so medidas preventivas importantes, A presenca de lagartixa deve ser evitada adaptando-se um funil de plastico ou um prato de aluminio no orificio de entrada das colénias. Os outros inimigos podem ser evitados com um bom manejo, como por exemplo, colocar espuma embebida com dleo nos pés dos cavaletes Para evitar a Presenga de periodicamente as coberturas das caixas ou do aranhas, formigas e limpar fancho para evitar 17. CONSIDERACOES FINA $—_—_—_———__— O estado de laténcia pelo qual a meliponicultura passou apos a introdugdo das abelhas do género Apis relegou a atividade a uma condigéo de esquecimento, ficando confinada as mais longinquas regides do Estado & junto com ela parte da historia do nosso Pais, © momento histérico pelo qual estamos passando é impar. Ao mesmo tempo sao discutidas questOes referentes a excluséo social, a fome e A Preservagéo do meio ambiente. Dentro deste contexto, a meliponicultura, com seu cardter de desenvolvimento social, Cultural, econémico e ecoldgico, volta @ surgir como uma op¢ao de exploragéo sustentavel e agente fixador do homem ao- campo. No éntanto, para a consolidagéo da atividade é necessdrio que seja dada continuidade aos estudos sobre a bioecologia destes insetos, facilitando o trabalho de manejo voltado para a producao e conservacao das diferentes especies. Espera-se que as publicagdes da Série Meliponicultura contribuam para a difusdéo de conhecimentos, servindo de interlocutora entre o meio cientifico e os meliponicultores, colocando as informagdes de forma clarae aplicada 18. REFERENCIAS BIBLIOGRA FCA Sm AIDAR. D.S. & mandagaia: bislogia de abeihas, manejo ¢ Mukiplicagae arificlal de coldnias de Melpona queantasciata Lep. (Hymenoplera, Apidae, Meliponinae). Ribeiréo Preto: SAG. 140p. 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