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PLANO MUSEOLÓGICO

MUSEU DE SANTA MARIA DE LAMAS

Santa Maria de Lamas


2005
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

INDÍCE

1. CONTEXTO 4

1.1. INTRODUÇÃO 4
1.2. A MISSÃO E SEUS OBJECTIVOS 7
1.2.1. A Missão do Museu de Santa Maria de Lamas é: 7
1.2.2. Neste sentido, os objectivos estratégicos do Museu são: 7
1.3. A VISÃO 8
1.3.1. Onde queremos estar daqui a 1 ano? 8
1.3.2. Onde queremos estar daqui a 5 anos? 9
1.3.3. Mudança 11
1.3.4. Questões a serem pensadas… 11

2. OS PÚBLICOS 13

2.1. QUADRO ACTUAL DO MSML 14


2.2. POTENCIALIDADES DAS RELAÇÕES COM EQUIPAMENTOS CONGÉNERES DO
CONCELHO DE SANTA MARIA DA FEIRA 15
2.3. POTENCIALIDADES DAS RELAÇÕES COM EQUIPAMENTOS DE PROXIMIDADE 16
2.4. SERVIÇOS EDUCATIVOS 17
2.4.1. Aspectos dos Serviços Educativos 18
2.5. AMIGOS DO MUSEU E VOLUNTARIADO 21

3. GESTÃO DE COLECÇÕES 23

3.1. QUADRO ACTUAL 25


3.2. NOVA FASE NA DOCUMENTAÇÃO DO MSML 26
3.3. O MSML ENQUANTO COLECÇÃO VISITÁVEL? 27
3.4. AS COLECÇÕES DO MSML 29
3.5. INVENTÁRIO E CATALOGAÇÃO 33

4. INTERPRETAÇÃO DAS COLECÇÕES 36

4.1 SITUAÇÃO ACTUAL 37


4.2. AS EXPOSIÇÕES 37
4.2.1. As Exposições Temporárias 38
4.2.2. As Exposições Permanentes 40
4.3. INFORMAÇÃO 41

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4.3.1. Informação na Sala de Exposição 41


4.3.2. Meios de informação e divulgação 44
4.3.3. A acessibilidade da informação 45

5. CONSERVAÇÃO DAS COLECÇÕES 47

5.1. O CONSERVADOR-RESTAURADOR 49
5.2. ESTUDOS PREPARATÓRIOS E REGISTO DE INTERVENÇÃO 50
5.3. INTERVENÇÃO E ÉTICA DE INTERVENÇÃO 50
5.4. O PAPEL DA CIÊNCIA NA CONSERVAÇÃO 51
5.5. OS AGENTES DE DETERIORAÇÃO 52
5.6. SEGURANÇA 61
5.7. CONSERVAÇÃO E MANUTENÇÃO 65
5.8. EXPOSIÇÃO 69
5.9. PRIORIDADES DO MSML 70

6. O EDIFÍCIO 72

6.1. ESTADO ACTUAL 72


6.2. ÁREAS DE ACOLHIMENTO 73
6.3. A ACESSIBILIDADE DO ESPAÇO 74

7. BUSINESS PLAN 78

7.1 SITUAÇÃO ACTUAL 78


7.2. SITUAÇÃO IDEAL 78

8. ANEXOS 80

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1. Contexto

1.1. Introdução

O Museu de Santa Maria de Lamas é objecto, no presente, de um Projecto de


Reorganização Museográfica e Conservação das Colecções no âmbito do Protocolo
estabelecido entre a Casa do Povo de Santa Maria de Lamas, instituição tutelar e
responsável pelo MSML, e o Centro de Conservação e Restauro da Escola das Artes
da Universidade Católica Portuguesa – Centro Regional do Porto. Este Projecto teve
início em Janeiro de 2004 e tem fim previsto para Julho de 2005.
No contexto deste Projecto foi estabelecido o desenvolvimento do presente Plano
Museológico com vista à criação de estratégias de planeamento e de gestão do MSML
e das suas colecções para que se possa atingir uma situação ideal nos próximos 5
anos.

Deve-se a fundação do MSML na década de 1950 ao Comendador Henrique Alves de


Amorim (1902-1977). O MSML foi constituído em duas fases distintas – uma anterior à
doação do MSML à Casa do Povo em 1959 e a outra posterior a esta data.
Apelidado pelo Fundador de Áureos Arquivos de Fragmentos de Arte, o Museu é
constituído por diferentes colecções, protegidas por um edifício que se caracteriza no
exterior pela integração de elementos arquitectónicos como o torreão cilíndrico e
ameado do Parque, uma capela e uma estrutura de três alas em “U” com arcadas.
As colecções, formadas por um variado espólio, criam um espaço museológico algo
curioso. Assim, numa mesma sala podem ser apreciadas as mais variadas obras de
arte expostas sem aparente ligação técnica, temática ou cronológica. Aí está a
particularidade do MSML – nesta aparente falta de lógica, existe precisamente uma
“lógica” de um lugar que quer ser visto como um todo e não como um abrigo a peças
particularizadas. Esta tipologia de Museus tem a sua origem nos “Gabinetes de
Curiosidades” dos séculos XV e XVI. Também outros Museus no Mundo, como o
Soane’s Museum em Londres ou o Museu da Universidade de Oxford, ainda
apresentam as suas colecções expostas na sua aparente desorganização e caos.

Assim, percorrendo as dezasseis salas, surge um grande espólio que abrange desde a
talha dourada à imaginária, passando pela estatuária, cerâmica, medalhística,
numismática, pintura, mobiliário, têxteis, etnografia e ciências naturais e ainda por uma

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curiosa colecção de artigos de cortiça. Exemplo da inter-relação existente entre as


colecções é a adopção da talha enquanto suporte expositivo das colecções de
imaginária e de pintura.

A 5 de Março de 1959 Henrique Alves de Amorim doou o MSML à Casa do Povo da


Freguesia, que ainda o tutela. Confirmada pelo então Ministro das Corporações, Dr.
Veiga de Macedo, a doação contemplava uma série de bens, entre os quais estava um
edifício destinado a Museu, com todo o seu recheio, sito no lugar do Souto, de Santa
Maria de Lamas, ao fundo do Parque. Por ocasião do seu Testamento, de 12 de
Fevereiro de 1977, Henrique Amorim confirma a doação feita à Casa do Povo e
declara sua vontade que seja mantido, ao longo dos tempos, o espírito expositivo
inicial do Museu.

É precisamente este espírito que se pretende manter e dinamizar através do Protocolo


estabelecido entre a Casa do Povo e a Escola das Artes da UCP-CRP. A manutenção
deste aspecto tão particular que individualiza o MSML no panorama da Museologia
nacional, e mesmo internacional, surge como uma mais-valia. Assim, os principais
objectivos do Protocolo são:

Conhecimento/ Avaliação/ Diagnóstico


9 investigação sobre a origem das peças, seu enquadramento
histórico e estilístico, inventariação científica e diagnóstico do
estado de conservação das mesmas;

Definição de públicos/ Projecto de Exposição/ Divulgação


9 prever através dos diferentes públicos quais as melhores formas de
prever o visionamento e o acesso a informação relativamente às
peças, de modo a que o contacto com estas possa constituir uma
experiência de enriquecimento cultural e valorização das mesmas;

Protecção /Conservação/ Restauro


9 necessidade de enquadrar do ponto de vista da conservação
preventiva, as condições físicas de exposição das peças:
iluminação, controlo ambiental, acondicionamento no caso de
reserva, suportes de exposição, de forma a garantir a sua

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preservação, bem como definir prioridades relativamente a


operações de conservação e restauro.

As colecções do MSML e a forma como estão expostas surgem no contexto da


museologia regional e nacional como um recurso cultural de suma importância que
deve ser dinamizado, divulgado e conservado.

Este plano estabelece a visão, objectivos e estratégias a serem implementados nos


próximos 5 anos, com vista à optimização do potencial que o MSML oferece de forma
tão particular, tendo em conta que este Plano será revisto e actualizado no prazo
máximo de 5 anos.

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1.2. A Missão e seus Objectivos

1.2.1. A Missão do Museu de Santa Maria de Lamas é:


Inspirar e desafiar a maneira como as pessoas experimentam, exploram e
desenvolvem as suas ideias sobre a diversidade do mundo através do uso criativo
das colecções do museu e dos seus recursos culturais.

1.2.2. Neste sentido, os objectivos estratégicos do Museu são:


‐ Candidatura do Museu à Rede Portuguesa de Museus (Instituto Português de
Museus) de acordo com os parâmetros sobre recursos humanos, instalações e
colecções definidos pela Lei-Quadro dos Museus Portugueses (Lei nº47/2004
de 19 de Agosto);
‐ Candidatura de Projectos e Acções anuais a diversos subsídios, cuja
viabilidade só é possível mediante a candidatura e posterior a adesão à RPM;
‐ Possibilidade de inserção activa do MSML na Rede Municipal de Museus
(Santa Maria da Feira);
‐ Protocolo com a Universidade Católica – Centro Regional do Porto enquanto
modo de potencializar a gestão e o espólio do MSML dentro dos mais actuais
parâmetros científicos;
‐ Potenciar cada um dos núcleos museológicos do Museu;
‐ Desenvolver a região a partir das potencialidades do Museu;
‐ Divulgar o Museu a nível nacional e internacional;
‐ Desenvolver um conjunto rico de recursos para a comunidade a que o MSML
se dirige;
‐ Aumentar o acesso e uso das colecções através da sua gestão efectiva;
‐ Apresentar um programa de exposições temporárias que interprete as
colecções do museu, que seja dinâmico e que apresente uma resposta por
parte dos diferentes públicos;
‐ Criar um programa de eventos públicos e de actividades apoiados nos recursos
do museu e equipamentos de proximidade;
‐ Criar um programa de educação formal e informal que apoie a aprendizagem
ao longo da vida e a inclusão social;

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‐ Providenciar um serviço de visita de alta qualidade dentro de uma boa gestão e


de acessibilidade que aumente e expanda a experiência do visitante;

1.3. A Visão

Pretende-se que o MSML venha a ser um dos Museus mais visitados do


concelho de Santa Maria da Feira, alcançando ainda um impacto ao nível
nacional, e mesmo internacional, através de uma activa programação e
divulgação do seu espólio, contribuindo assim de forma significativa para o
desenvolvimento económico da região.

Para alcançar estes objectivos, a Direcção e os Técnicos do Museu precisam de ter


uma visão e estratégia clara. As actividades correntes têm de ser dinamizadas
através de assuntos chave e estratégias claras para conduzir o trabalho de gestão
das colecções e para avaliar e aperfeiçoar o desempenho técnico dos responsáveis.
Será definida uma posição para lidar com as constantes mudanças do ambiente
envolvente (regional e nacional), aos mais diversos níveis (económico e financeiro,
político, científico, etc.).

1.3.1. Onde queremos estar daqui a 1 ano?


O principal objectivo estratégico do MSML é a inscrição na Rede Portuguesa de
Museus, através da sua credenciação. A Rede Portuguesa de Museus é um sistema
organizado, baseado na adesão voluntária, configurado de forma progressiva e que
visa a descentralização, a mediação, a qualificação e a cooperação entre museus
(Art. 102º da Lei-Quadro dos Museus Portugueses). Tal aspecto permitirá, pois, o
recurso ao apoio técnico da RPM, mas também a candidatura a diversos tipos de
subsídios e acções.

Pretende-se ainda o aumento do capital activo do MSML através do recurso ao


Mecenato Cultural, do aumento do valor dos ingressos (através da sua diferenciação
por categorias e do seu aumento real) e da criação de um pequeno ponto de venda
de produtos comerciais.

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O MSML pretende começar a marcar uma posição mais firme ao nível dos
Públicos

A aposta na divulgação e promoção do MSML visa o aumento do público-alvo em


10%, mas também da massa critica do MSML. Neste sentido, uma das acções
programadas, ainda para o primeiro semestre de 2005, é a realização de uma
exposição “sobre o Museu, fora do Museu” (irá ser realizada na Casa-Museu Guerra
Junqueiro, no Porto). Esta surge, assim, como um modo de dar a conhecer a
colecção do Museu a outro tipo de públicos.

Criação e estruturação de um Serviço Educativo com vista ao acolhimento dos


diversos tipos de público e ao apoio à interpretação das colecções do MSML.

1.3.2. Onde queremos estar daqui a 5 anos?


O MSML pretende marcar uma posição activa na região em que se insere
através de:
‐ Marcas visíveis sobre a história da região (indústria corticeira), das suas
populações e suas relações com o mundo externo;
‐ Mudando o modo como a Freguesia de Santa Maria de Lamas e região
envolvente se relacionam com o exterior através da arte e dos objectos;
‐ Promovendo a centralização da indústria do Turismo na herança da região;

O MSML vai inspirar as pessoas, particularmente as comunidades locais, e criar uma


sensibilidade mais conscienciosa de posse relativamente à sua própria cultura,
encorajando as pessoas a desafiar a percepção do mundo em que vivem e a trazer
cultura e artes nacionais e internacionais até ao povo de Santa Maria de Lamas e do
concelho de Santa Maria da Feira.

É ainda objectivo fulcral do MSML vir a ser credenciado pelo Conselho de


Museus com vista à sua inserção activa na Rede Portuguesa de Museus. Para
que tal venha a ser possível irão ser considerados aspectos relativos ao mais
recente conceito de Museu1:

1
Vide Lei-Quadros dos Museus, Art.3º .

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Museu é uma instituição de carácter permanente, com ou


sem personalidade jurídica, sem fins lucrativos, dotada de
uma estrutura organizacional que lhe permite:

a) Garantir um destino unitário a um conjunto de bens


culturais e valorizá-los através da investigação,
incorporação, inventário, documentação, conservação,
interpretação, exposição e divulgação, com objectivos
científicos, educativos e lúdicos;

b) Facultar acesso regular ao público e fomentar a


democratização da cultura, a promoção da pessoa e o
desenvolvimento da sociedade.

Estes objectivos serão alcançados através de:


‐ Desenvolvimento dos Públicos:
Uma maior focalização nos nossos públicos (existentes e potenciais),
compreendendo e respondendo ao que gostariam relativamente aos nossos
serviços, envolvendo e consultando-os sobre aquilo que fazemos e facilitando
a sua participação em exposições de alta qualidade, eventos e actividades de
desenvolvimento das colecções;

‐ Acesso a relevantes recursos culturais:


Melhorando o acesso às colecções e aos recursos culturais, locais, exposições
e eventos; melhorando a relevância das nossas colecções, recursos culturais,
locais, exposições e eventos para a nossa comunidade, culturalmente diversa,
incluindo grupos de difícil alcance e audiências de aprendizagem ao longo da
vida;

‐ Cuidado e desenvolvimento das Colecções e dos Recursos Culturais:


Melhoramento da conservação e desenvolvimento das colecções do museu e
dos recursos culturais para facilitar o seu uso actual de modo a garantir a
herança para as gerações futuras. A pesquisa será conduzida pelas
necessidades do nosso público;

‐ Força de Trabalho confiante e motivada:


Garantia de uma força de trabalho confiante e motivada, consciente do seu
papel e com o melhor dos interesses no MSML e reconhecendo as suas
responsabilidades, educando e encorajando as populações locais no sentido
de fazer carreira nas artes, ciências, indústrias culturais e ambientais;

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‐ Promoção da reputação para uma prática inovadora:


Construção e promoção da nossa reputação enquanto organização conhecida
por uma boa e inovadora prática e como aquela que outras organizações
querem como partner.

1.3.3. Mudança
Para que o papel delineado para o MSML seja sustentado no futuro, os próximos 5
anos irão ser fulcrais para a ocorrência de mudanças significativas, abrindo uma
nova fase ao desenvolvimento, expansão e projecção do MSML.

As colecções do MSML são um bem artístico, histórico e científico maior para a


terra de Santa Maria de Lamas. É importante assegurar que são conservadas
adequadamente, bem geridas e de acesso mais fácil aos diversos públicos. O
ênfase vai ser posto na melhoria do acesso e uso das colecções, assim como na
sua mais consciente gestão.

1.3.4. Questões a serem pensadas…


1. Qual a missão e limites do museu?
2. De que fontes de apoio pode depender o museu?
3. Que colecções estão disponíveis ou precisam de ser encontradas para
servir os objectivos do museu?
4. Que capacidades físicas contribuem para o museu?
5. Quem é responsável pelo museu?
6. Que regras irão reger as operações museológicas?
7. Qual será a divisão do trabalho e de distribuição de responsabilidades?
8. Como se poderá manter de forma harmoniosa as relações entre
funcionários?
9. Qual será a orientação da colecção?
10. Quais as necessidade de conservação que arranja e como?
11. Que provisões tomará para uma continuidade de pesquisa?
12. Quais os métodos interpretativos a adoptar para atingir o público?
13. Qual o programa de desenvolvimento que o museu vai seguir?
14. Que funcionários, pagos ou voluntários, vão ser necessários?
15. Quanto vai custar a execução de cada parte do museu?
16. De onde virá o dinheiro para cada parte do programa?

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17. Como manter boas relações com o público?


18. Como providenciar a continuidade do programa?
19. Como avaliar as actividades do museu?
20. Como manter o museu vivo, dinâmico, criativo e visionário?

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2. Os Públicos

Os Museus desenvolveram sempre um papel social e foram encontrando o seu lugar


com o meio social envolvente, tornando-se social e culturalmente rentáveis para a
própria comunidade.
As propostas da “Nova Museologia” vão ao encontro do papel social do Museu, a
preservação de valores culturais e o serviço à comunidade, para além de potenciar no
dia-a-dia os seus conteúdos pedagógicos e culturais (conservação, investigação,
difusão, etc.).

A atenção e a educação do Público no Museu é um factor chave que exige um


planeamento diário e até uma invenção e redefinição da qualidade dos serviços,
aumentando esta necessidade pelo protagonismo que o visitante foi adquirindo
e pelo seu entusiasmo crescente pelo consumo que as instituições culturais
oferecem.

A questão da definição do “público” é uma questão de fundo2. A função do museu


prende-se essencialmente com os objectos – são o centro de actividades como a
educação, a conservação e a difusão - a partir destes são definidas as formas de
apresentação e o lugar dos visitantes. O conhecimento das características do visitante
(real e potencial) torna-se importante para atender a este objectivo.

O que é significativo é que o Museu deve exercer sempre uma função pedagógica,
cultural e patrimonial tendo em conta, fundamentalmente, os grupos e as tipologias de
público que regularmente recorrem aos seus serviços:
- o espectador (visitante passivo);
- o público actor (visitante activo);
- o do público não visitante do museu.

O Público assume um papel activo no Museu enquanto dinamizador de massa crítica.


As suas apreciações de agrado funcionam regularmente como manifestações de apoio
e incentivos à continuidade dos projectos em curso e ao desenvolvimento de novas
iniciativas por parte do Museu. Já as suas críticas negativas tornam-se positivas por
gerarem alteração de pressupostos na gestão museológica. Daí a importância e
obrigatoriedade da existência (Art.62º da Lei-Quadro dos Museus Portugueses), de um
2
DAVALON, Jean cit. In FERNANDÉZ, Luis Alonso – Introducción a la nueva museología. Madrid:
Alianza Editorial, 2002, p. 126.

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Livro de Sugestões e Reclamações, anunciado de forma visível na área de


acolhimento dos visitantes, segundo modelo aprovado por despacho normativo do
Ministro da Cultura.

As coisas mudam a partir do momento em que o museu se volta para o público.


Existe actualmente uma tendência para conotar a frequência de um dado museu
(número de entradas) com o reconhecimento do seu bom funcionamento3.

2.1. Quadro Actual do MSML

Através da avaliação do registo “Número Total de Visitantes por Mês” (Gráfico 1),
segundo dados enviados ao "Inquérito aos Museus" do Instituto Nacional de
Estatística pela Direcção da Casa do Povo, pode-se verificar um decréscimo anual do
número de Visitantes do MSML desde o ano 2000. É urgente inverter esta
tendência.

Pelo contrário, através das respostas ao Inquérito (vide Anexo 1) que foi enviado a
vários Serviços Culturais do concelho de Santa Maria da Feira, com vista à avaliação
dos Públicos Visitantes, pudemos verificar que estes têm vindo a crescer
substancialmente por todo o concelho. Veja-se com particular atenção o exemplo
significativo do Museu do Papel Terras de Santa Maria (Gráfico 2), que de todos é o
que se encontra geograficamente mais próximo do MSML.

Diversos factores concorreram positivamente de uma forma geral para este facto:
- a existência de um horário de funcionamento regular;
- a existência de um Serviço Educativo estruturado, dinâmico e com
capacidade para captar novos públicos;
- a existência de meios de divulgação como Website, prospectos e
merchandising;
- a prática de preços diferenciados.

3
Idem, p. 127-128.

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2.2. Potencialidades das relações com equipamentos congéneres do Concelho


de Santa Maria da Feira

A proximidade entre as diferentes instituições não surge, no caso dos serviços


culturais, como concorrência, mas sim, como pólo de atracção.
Assim sendo, a massa visitante de instituições congéneres surge como Público-
potencial para o MSML, o qual é premente captar. As várias Instituições que
responderam ao Inquérito (vide Anexo 1) mostraram ter uma significativa massa de
visitantes anual, a qual tem vindo a crescer progressivamente de ano para ano. As
perspectivas de crescimento do número de visitantes serão avaliadas de forma mais
concreta no capítulo dedicado à avaliação económica da situação do MSML.

Assim, poderão ser adoptadas várias estratégias de captação de públicos através da


realização de parcerias com as instituições congéneres do Concelho, como
sejam o Museu do Papel Terras de Santa Maria e o Museu Municipal Convento dos
Lóios, através de:
- cruzamento de informação;
- adopção do sistema de bilhete conjunto;
- venda à consignação de produtos de merchandising dos outros Museus;
- troca de prospectos e outros meios de divulgação dos outros Museus;
- realização de projectos Educativos;
- realização de exposições temporárias com peças do MSML em outros
Museus e vice-versa;
- adopção de uma política conjunta de divulgação e de publicitação em meios
turísticos e meios científicos;
- realização de eventos e actividades culturais complementares como
concertos, colóquios, conferências, etc.;
- criação de um centro de documentação com vista a facilitar um mais fácil e
maior acesso às colecções;
- inclusão social através da criação de programas com carácter social;
- desenvolvimento de acções de comunicação para o exterior.

Têm vindo a ser utilizados três recursos inovadores relacionados com a informação
em Museus:
- A espectacularidade como forma de informação é procurada como uma
mais-valia, como forma de captar a atenção do visitante;

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- A tecnologia é cada vez mais utilizada como meio de apresentação de


informação, principalmente aquela que se relaciona com a informática e com os meios
audiovisuais. Exemplo disso é a informatização por parte dos Museus, nomeadamente
no que respeita ao inventário, o que possibilita também o cruzamento de informação
com outras instituições, bem como a consulta por parte do Público. Além disso,
permite igualmente o controlo de sistemas de iluminação, segurança, climatização,
etc.
- A publicidade é actualmente um dos meios de informação mais utilizados
como forma de dar a conhecer as realizações dos Museus. Além disso, vários meios
de divulgação, para além de transformarem a paisagem urbana e rural, chamam a
atenção do público, tal como os anúncios e comentários em jornais e revistas.

2.3. Potencialidades das relações com equipamentos de proximidade

O MSML localiza-se na Freguesia de Santa Maria de Lamas, uma das 31 freguesias


do Concelho de Santa Maria da Feira. O fácil acesso ao MSML, por via viária, surge
como um factor positivo à ampliação dos públicos visitantes.

O Concelho da Feira está dotado de uma série de infra-estruturas e de equipamentos


(vide Anexo 2) que poderão vir a ser canalizados como pólos dinamizadores de
Públicos, quer porque funcionam como meios de acolhimento (hotelaria e
Europarque), quer porque funcionam como locais de atracção turística já sedimentada
(como é o caso do Castelo de Santa Maria da Feira).

A existência destes equipamentos pode vir a ser aproveitada para:


- locais de acolhimento a visitantes do MSML;
- locais de divulgação dos prospectos do MSML;
- meios de cedência de artigos para venda à consignação no MSML e vice-
versa;
- cedência de espaços para a realização de actividades culturais conjuntas (ex.:
realização de colóquios no Europarque, concertos nas Igrejas, etc.), etc.

A própria Freguesia de Santa Maria de Lamas está dotada de um grande


estabelecimento de ensino, o Colégio Liceal de Santa Maria de Lamas. Este Colégio
de grandes dimensões abriga uma grande comunidade escolar constituída por cerca
de 3500 alunos, 300 professores e um grande número de funcionários de apoio.

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Pela sua proximidade geográfica constitui um público-alvo que não deve ser ignorado,
possibilitando o desenvolvimento de uma série de actividades aos mais diversos
níveis, particularmente enquanto meio dinamizador de um activo serviço educativo
para acolhimento das várias faixas etárias de estudantes.

2.4. Serviços Educativos

O Serviço Educativo é uma peça fundamental do funcionamento regular dos Museus e


funciona como pólo catalizador dos mais variados Públicos, dai que a criação e
estruturação de um Serviço Educativo activo e dinâmico no MSML seja uma das
actuais prioridades.

O ensino nos Museus tem como um dos seus primeiros objectivos a criação de
uma relação entre as Colecções do Museu e as necessidades e interesses do
Público. De um modo ideal, esta relação precisa de ser o mais activa dinâmica e
flexível possível.

Com um papel fulcral na Educação, a descoberta das colecções museológicas


apresenta-se como um momento privilegiado na ocupação dos tempos livres. Assim,
as actividades e programas dos Serviços Educativos dos Museus devem ser
projectadas tendo em conta os seguintes objectivos:
- formação cívica face ao património artístico;
- sensibilização para as diversas manifestações artísticas formando novos
públicos para os museus e para a cultura;
- aproximação mais fácil e lúdica às diversas colecções do MSML;

Para que estes objectivos sejam atingidos em parte, há que criar diversos programas
com vista ao acolhimento das diferentes tipologias de Públicos:

1. Comunidade Escolar
- realização de programas inovadores e divertidos para alunos das diversas
faixas etárias, explorando sempre algumas das obras em exposição;
- ocupação lúdica e formativa dos tempos livres;

2. Grupos Familiares

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- aproximação de diferentes gerações e estímulo ao diálogo e a novas


formas de relacionamento, descobrindo de forma diferente o MSML;
- ocupação lúdica e formativa dos tempos livres;

3. Terceira Idade
- a possibilidade de trazer até ao Museu “contadores de histórias”, de forma
a recordar e trazer à memória lembranças do antigamente;
- ocupação lúdica e formativa dos tempos livres;

4. Meios científicos
- potencialização da variedade do espólio do MSML através do contacto
com os meios especializados, facilitando o acesso e o estudo comparado
das várias colecções;
- ocupação lúdica e formativa dos tempos livres;

5. Público em geral
- atrair uma variada gama de público, nacional e estrangeiro, com
objectivos lúdicos e formativos;

2.4.1. Aspectos dos Serviços Educativos


Para um técnico dos serviços educativos a principal tarefa é tornar as colecções
interessantes, relevantes e excitantes para as pessoas. Isto leva a uma focagem nos
objectos que, por sua vez, acarreta duas exigências: a selecção de um pequeno
número de peças significativas e a descoberta de um tema que una os objectos4.
A selecção de objectos torna-se necessária porque muitos museus, galerias, casas
históricas ou sítios possuem grandes espólios e o trabalho útil não pode ser alcançado
sem que sejam delineados os objectivos.
Um tema que una os objectos é importante pois pode ser usado para
desenvolver ideias, para focar o pensamento e a investigação. A escolha dos
objectos ou artefactos tem de ser feita de acordo com as necessidades do grupo e em
colaboração com os objectivos da visita ao Museu do responsável pelo grupo. Isto
exige ainda capacidade de selecção de material de apoio útil e acessível e exige o

4
Sobre os Serviços Educativos nos Museus e nas Galerias vide HOOPER-GREENHILL, Eilean –
Museum and Gallery Education. Leicester Museum Studies. Leicester, London and New York: Leicester
University Press, 1994.

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conhecimento tanto da colecção do museu, como dos modos de ensino e das


capacidades inerentes às várias idades e capacidades dos diferentes grupos.
A selecção de objectos e temas é um processo dialéctico, na medida em que os temas
ditam os objectos a serem utilizados, como os objectos sugerem os temas a
desenvolver, ou a combinação de ambos.
Muitas vezes os objectivos da visita ao museu têm de ser desenvolvidos e clarificados
enquanto parte do processo de selecção dos temas e dos objectos.

Os “educadores” do museu usam uma grande variedade de métodos para


realizar uma relação dinâmica entre as colecções e as audiências.
São favoráveis os métodos mais activos: manuseamento de objectos, recurso à
representação, trabalho em torno de um edifício ou sítio, colagens de grandes
dimensões, concepção em grupo de uma escultura, realização de deduções a partir de
evidências à primeira-mão, visualização de uma demonstração, recurso a cassetes ou
vídeo, etc.
Os museus têm dois objectivos primários: colecção de peças (entendida aqui
enquanto gestão) e permitir às pessoas que se relacionem com as colecções; é
a natureza das colecções e as políticas do museu que determinam o modo como
são estabelecidas as relações entre as pessoas e as colecções. Isto oferece aos
educadores dos museus um enorme leque de imaginativo e excitante trabalho,
de inovação e de exploração.

Cada museu proporciona um serviço educativo único; o mesmo serviço não pode ser
oferecido por dois museus; naturalmente existem poucos recursos das mais diversas
tipologias e isto influencia o tipo de educação proporcionado.
As escolhas abertas a cada museu relativas à decisão de que tipo de serviço
educativo vai desenvolver são enormes e apenas são limitadas pelos recursos
existentes; mesmo isto nem sempre constitui uma limitação definitiva na medida
em que os recursos podem advir de uma determinada política e objectivos.

Existe uma considerável variedade de formas de gestão, estruturação, financiamento e


objectivos dos serviços educativos, no entanto, alguns padrões podem ser delineados
relativamente às várias tipologias de museus e podem ser sugeridos alguns princípios
básicos.

19-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

O papel primário de um serviço educativo é o de maximizar o potencial educativo do


museu da forma mais apropriada e cativar o máximo de público possível:
- isto inclui educação formal e informal e preparação de tempos livres;
- podem ser proporcionados alguns ou todos dos seguintes aspectos:
workshops que proporcionem diferentes tipos de experiências para os alunos
escolares e universitários; cursos de preparação para professores; material escrito e
audiovisual para auxiliar o planeamento de aulas ou para guiar visitas individuais;
ceder serviços e exposições móveis; colóquios, conferências, demonstrações, eventos
e outras actividades de lazer para crianças, famílias ou público adulto.

Estas actividades podem ser desenvolvidas no próprio museu ou serem


realizadas no exterior, em colaboração com um parceiro – o MSML é privilegiado
neste aspecto devido à proximidade física de um Colégio Liceal de grandes
dimensões e dotado dos mais variados equipamentos.

A segunda grande tarefa para os técnicos dos serviços educativos é o trabalho


em parceria com os conservadores e com os designers de exposição com vista
à maximização das oportunidades de aprendizagem das exposições e das
demonstrações. Isto implica muitas vezes a revisão dos textos da exposição e a
divulgação da relevância das exposições para as escolas.
Grande parte do trabalho na área do Serviço educativo exige o estabelecimento
de uma série de relações com agências exteriores à instituição; do mesmo
modo, exige-se uma grande rede no interior do museu para que se alcancem a
maior parte dos objectivos desejados. Ao estabelecerem-se ou reorganizarem-se
os serviços educativos de um museu, têm de ser tomadas decisões importantes tendo
em conta a natureza ou o balanço da previsão. Cada museu deve rever as
possibilidades e decidir quais as prioridades para o seu próprio serviço.

Uma das ferramentas básicas que ajuda a identificar, seleccionar, estabelecer


prioridades, avaliar e a prever o papel educativo é o documento das políticas
educativas. Sem uma ideia clara dos propósitos ou objectivos é difícil decidir qual
dos grupos de actividades possíveis é mais relevante ou apropriado.

Deste modo, será realizado um documento desta natureza que estipule as


Políticas Educativas, prioridades e estratégias, para o MSML, com vista à

20-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

potencialização das suas Colecções e à captação de um Público mais amplo,


quer ao nível geográfico, quer ao nível das várias faixas etárias.

Os documentos de Políticas Educativas devem estabelecer os princípios educativos


nos quais as acções futuras se devem basear:
- devem actuar como uma ferramenta de gestão eficaz para a organização do pessoal,
desenvolvimento de recursos e avaliação de parâmetros;
- devem demonstrar o compromisso do museu para com os seus visitantes e
potenciais visitantes, incluindo escolas e as suas necessidades de mudança.
Um documento como este é útil para o planeamento estratégico a todos os
níveis, mas também para justificar financiamentos por parte de patrocinadores e
mecenas (privados e estatais), assim como para a identificação e demonstração
concreta do alcance dos objectivos a um dado momento.

Os vários grupos de visitantes serão considerados em relação à extensão da


comunidade e das estratégias educativas que o museu pode usar, incluindo
exposições, colecções, publicações, demonstrações, apresentações “media”, etc.

2.5. Amigos do Museu e Voluntariado

A criação de um grupo de apoio ao MSML surge como uma das formas de captação
de público, de divulgação do MSML e das acções e programas desenvolvidos, mas
também de angariação de receitas, face à obtenção de contrapartidas definidas a
priori.
A existência de grupos de “Amigos do Museu” é um procedimento muito comum
na gestão museológica actual, para além de que está estipulado na alínea 1 do Art.
47º da Lei-Quadro dos Museus Portugueses:

O Museu estimula a constituição de associações de amigos dos


museus, de grupos de interesse especializado, de voluntariado ou de
outras formas de colaboração sistemática da comunidade e dos
públicos.

Face ao contexto envolvente, seria proveitoso a criação de diferentes tipologias como:


Amiguinhos do Museu (aproveitando assim a proximidade de uma grande e dinâmica
comunidade escolar), Amigos do Museu (particulares e empresas).
Também não podemos ignorar a possibilidade de angariação de voluntariado que o
artigo acima citado prevê, enquanto forma de recrutamento de apoios humanos às

21-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

actividades museológicas desenvolvidas, sem acarretarem custos adicionais ao


funcionamento normal do MSML.

22-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

3. Gestão de Colecções

A gestão é apenas uma das dimensões de uma operação global de um


museu. A boa gestão é um dos requisitos prévios para a boa projecção de
um museu.

A gestão museológica é um elemento vital no desenvolvimento e


avanço dos museus. Sem uma gestão apropriada, os museus não podem
garantir um cuidado e adequado uso às suas colecções, nem conseguem
manter e suportar uma exposição efectiva e um serviço educativo. Sem uma
gestão apropriada, pode-se perder o interesse e confiança do público e a
existência do museu pode estar em perigo.

Os Museus, enquanto instituições públicas, existem para o benefício do


público e o sucesso de todas as suas operações deve reflectir esta
obrigação e compromisso. As actividades relacionadas com a colecção, com
a conservação e pesquisa devem ser feitas com uma consciência pública.
Qualquer organização de interesse público deve cumprir as suas obrigações
de forma apropriada mas os museus, enquanto guardiões da herança
cultural e científica de um povo, região ou nação, devem funcionar o
mais possível sem qualquer censura. Torna-se necessário manter um
sistema apropriado de operações de acordo com a aceitação das práticas
museológicas (Fig. 1).

MUSEU

DIRECÇÃO COLECÇÕES INTERPRETAÇÃO

SERVIÇO
PÚBLICO

Fig. 1 - Papel do Museu In EDSON, Gary; DEAN, David – The handbook for Museums. London and
New York: Roytledge, 1994, p. 27.

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Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

A organização do Museu inclui5:


1. As colecções;
2. As funções museológicas convencionais;
3. A gestão e administração;
4. A equipa cientifica e restante pessoal administrativo-laboral;
5. As actividades pedagógicas e investigação;
6. A difusão;
7. A arquitectura e adequação museográfica;

Segundo Gary Edson e David Dean, uma boa gestão museológica começa com a
redacção de um conjunto de estatutos (o seu propósito institucional), que têm
de ser suportados por outros documentos, incluindo um manual de
procedimentos, linhas expositivas e um código ético concebido para o museu6.

A renovação financeira, gestora e administrativa são factores essenciais na


reconsideração, redefinição e novo planeamento dos museus. Stephen E. Weil7
propõe o seguinte:
1. claridade na definição da missão e objectivos do museu;
2. habilidade para formular e concretizar estratégias para os diferentes
recursos e o processo de execução de fins demonstráveis;
3. capacidade para formular e ajustar, inclusive em prazos concretos, os
planos operativos em que consistem as diferentes estratégias;
4. uma estrutura de gestão que aplique a visão institucional e o acesso à
variedade de recursos que são necessários para produzir os seus
programas;
5. um compromisso de desenvolvimento das aptidões gestoras e
vocacionais e o conhecimento da estrutura do pessoal;
6. competência, lealdade, estabilidade, mútuo respeito, motivação e boa
orientação para o trabalho com certa independência e a concretização
dos objectivos para o bem da estrutura;
7. apropriadas instalações físicas e boa manutenção para produzir os
diferentes programas;

5
FERNÁNDEZ, Luis Alonso – Museología. Introduccíon a la Teoría y Práctica del Museo. Primera edición.
Madrid: Ediciones Istmo, 1993, Nota 49, p. 340.
6
EDSON, Gary; DEAN, David – The handbook for Museums. London and New York: Roytledge, 1994, p.
28.
7
Weil, Stephen E. – Rethinking the museum. Washington and London: Smithsonian Institution Press,
1990.

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Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

8. um sistema de potencialização de cada uma das funções;


9. capacidade para resolver a diversidade de variáveis e, se necessário,
modificar as suas práticas e programas;
10. sensibilidade para as necessidades e desejos, na medida em que a sua
conjugação pode configurar os programas do museu;
11. manutenção de uma imagem pública positiva através de acções da
instituição e da sua estrutura de pessoal;
12. manutenção de uma favorável posição legal que persiga o que a
instituição pretende alcançar a partir da sua perspectiva de carácter não
lucrativo, promovendo o usufruto dos seus bens patrimoniais e atendendo
especialmente a sua projecção sobre o seu imediato meio social.

A política de gestão de colecções deve ser revista e actualizada no máximo de 5 em 5


anos.

3.1. Quadro Actual

O MSML surge no quadro da Museologia e da Museografia portuguesas como um


caso muito particular.
Tal aspecto advém do facto de se estar a trabalhar um Museu criado na década de
1950, fruto da acção de um único coleccionador, o que se veio a reflectir na
ambiguidade de colecções existentes. Não existem quaisquer documentos que nos
informem sobre os princípios programáticos do Museu aquando da sua criação.

A tudo isto acresce o facto de, por ocasião da incorporação das várias peças no
MSML, não se ter realizado qualquer tipo de registo relativamente às mesmas. Assim,
a ausência de documentação específica relativa a cada uma das peças que permita
avaliar parâmetros como origem, autorias, datação, etc. é uma realidade.
Todavia, existe um conjunto vasto de Fichas de Inventário que não deixam por isso de
ser bastante omissas (vide Anexo 3):
- não informam a data e a autoria da sua realização;
- as descrições das peças são extremamente sucintas;
- quando referem a proveniência das peças, os dados são bastante evasivos
(Ex. Antiquário do Porto);
- não apresentam qualquer documento iconográfico que identifique as peças;

25-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

Assim, a natureza dos dados que este Inventário comporta não o tornam numa fonte
de trabalho segura e credível.

Verifica-se ainda a ausência de uma biblioteca de apoio, dotada de bibliografia básica


e específica, ao desenvolvimento da pesquisa relacionada com o espólio do Museu.
Acrescente-se ainda a ausência de elementos interpretativos que acompanhem o
espólio exposto: catálogos, textos explicativos nas diferentes salas, etc.

Não podemos, no entanto, ignorar a existência de:


- um Guia do Museu de Santa Maria de Lamas da responsabilidade da
Direcção da Casa do Povo.
Este faz referência à construção e fundação do MSML em duas fases distintas,
às imagens dos Crucifixos, de Nossa Senhora, entre outras, à importância da
Talha no contexto do MSML; refere alguns dos antiquários em que as peças
foram supostamente adquiridas; apresenta uma planta do Museu, para além de
uma descrição sucinta do conteúdo de cada uma das salas;
- duas pequenas publicações relativas à Doação que faz Henrique Alves de
Amorim à Casa do Povo de Santa Maria de Lamas e Testamento de Henrique
A. Amorim de 12 de Fevereiro de 1977.
Nestes dois documentos são explicitados os moldes de tutela da Casa do Povo
de Santa Maria de Lamas sobre o Museu, para além de algumas directrizes
estipuladas pelo Fundador do MSML relativas à gestão das Colecções do
Museu.
- uma forte tradição oral relativamente à evolução e historial do MSML nos seus
quase 50 anos de existência;
- escassas notícias relativas ao MSML na imprensa local, todavia procedentes
de fontes orais;

Em suma, toda e qualquer investigação, que venha a ser feita sobre o MSML e as
suas colecções, tem de ter em atenção estes pressupostos.

3.2. Nova Fase na Documentação do MSML

Desde Janeiro de 2004, por ocasião do início do Protocolo estabelecido com a


Universidade Católica – Centro Regional do Porto com vista à “Reorganização

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Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

Museográfica e Conservação das Colecções” do Museu de Santa Maria de Lamas,


iniciou-se uma nova fase no que respeita à documentação museológica do MSML.

Assim, tem vindo a ser recolhido todo um conjunto de documentação com vista à
criação de um Arquivo dotado de informações relativas a:
- legislação;
- procedimentos museológicos;
- notícias relativas ao MSML e seu enquadramento retiradas da imprensa e
roteiros locais, etc.

Neste âmbito, tem-se procurado estudar cada uma das tipologias das colecções do
MSML com vista à realização de um inventário metódico e científico das mesmas,
sempre tendo em conta os pressupostos acima referidos.

3.3. O MSML enquanto Colecção Visitável?

Segundo a Lei-Quadro dos Museus Portugueses (vide Anexo 4) foi criado um novo
conceito de exposição Museológica, a “Colecção Visitável”. Assim, segundo o Art. 4º
da presente lei:

1 - Considera-se colecção visitável o conjunto de bens culturais


conservados por uma pessoa singular ou por uma pessoa
colectiva, pública ou privada, exposto publicamente em
instalações especialmente afectas a esse fim, mas que não reúna
os meios que permitam o pleno desempenho das restantes
funções museológicas que a presente lei estabelece para o
museu.

2 - A colecção visitável é objecto de benefícios e de programas de


apoio e de qualificação adequados à sua natureza e dimensão
através do Estado, das regiões autónomas e dos municípios,
desde que disponha de bens culturais inventariados nos termos
do artigo 19.º da Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro.

3 - Os programas referidos no número anterior são


preferencialmente estabelecidos quando seja assegurada a
possibilidade de investigação, acesso e visita pública regular.

De facto, o MSML não cumpre ainda muitas das directrizes estipuladas pela presente
Lei-Quadro se tivermos em conta aquilo que é entendido como o conceito de Museu.
O cumprimento de tais directrizes é o objectivo primeiro deste Plano, muito embora se

27-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

tenha plena consciência de que tudo passa por um processo extremamente moroso e
dispendioso.
Assim, a conversão do MSML em Colecção Visitável seria uma aposta enquanto que
se procura criar e reunir as condições mínimas ideais necessárias ao funcionamento
dos Museus previstas na presente Lei-Quadro.

Sabendo que o conceito de “Colecção Visitável” pressupõe a abertura regular do


espaço museológico e o contacto com a Colecção que o integra, este aspecto não
deixa por isso de implicar uma menor atenção dada ao público-alvo e massa critica do
MSML. Senão, vejamos.
A criação de um período de visitas sazonais, mediante prévia marcação seria
conveniente na medida em que sabemos que o MSML tem maior afluência de público
nos meses Verão (vide Gráfico 1). Tal facto não invalida que se realizem visitas nas
restantes estações do Ano, se previamente marcadas.

Esta conversão apresenta uma série de aspectos que consideramos extremamente


positivos ao funcionamento do MSML nos próximos 5 anos, tais como:
- a conversão do MSML em “Colecção Visitável” poderá facilitar a sua
credenciação e consequente entrada da Rede Portuguesa de Museus, o que
permitirá o acesso a benefícios e programas de apoio e qualificação
adequados à sua natureza e dimensão através do Estado e dos municípios,
desde que disponha de bens culturais inventariados (conforme estipula a
alínea 3, Art. 4º da Lei-Quadro dos Museus Portugueses);
- a conversão do MSML em “Colecção Visitável” não implica a existência de um
quadro de funcionários do Museu extremamente alargado.
Não se torna assim necessária a existência de vigilantes permanentes nas
diferentes salas de exposição, assim como a existência de um funcionário
permanente na recepção do Museu.
O quadro administrativo e responsável pelos Serviços educativos do MSML
poderá, numa primeira fase, acolher os diferentes públicos que procedam a
uma marcação de visita.
- como se tem prevista a criação das condições mínimas museológicas, assim
como a conservação de grande parte do espólio do MSML, a conversão em
“Colecção Visitável” seria a situação ideal numa fase de grande reabilitação do
espaço museológico.

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Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

A conversão do MSML em “Colecção Visitável” não invalida que se bloqueiem os


caminhos à investigação. De facto, poderá verificar-se a situação oposta caso se criem
condições e facilidades de acesso aos investigadores que queiram aceder às
colecções do MSML.

3.4. As Colecções do MSML

Uma boa política de gestão de colecções é fundamental para que o MSML atinja a sua
Missão de inspirar e desafiar a maneira como as pessoas experimentam, exploram e
desenvolvem as suas ideias sobre a diversidade do mundo através do uso criativo das
colecções do museu e dos recursos culturais.
A excelência do museu deve também depender da qualidade dos programas
educativos e de outros, enquanto que a importância do seu propósito e o valor
disciplinar dependem da sua colecção.

A gestão das colecções abrange toda uma série de actividades e responsabilidades


que estão estipuladas na Lei-Quadro dos Museus Portugueses (Artº 7º):
- estudo e investigação;
- incorporação;
- inventário e documentação;
- conservação;
- segurança;
- interpretação e exposição;
- educação.

Estas funções museológicas não podem ser negligenciadas se se quer


assegurar o profissionalismo do Museu.

Tendo o MSML uma colecção já consolidada e tendo o seu espólio um grande


potencial museológico, dada a diversidade e a multidisciplinaridade das colecções,
deve o MSML ser alvo de uma conscienciosa e criteriosa política de gestão das suas
colecções.

O MSML reconhece o dever de procurar gerir, organizar e utilizar as colecções


(que lhe estão afectas em regime de propriedade), usando todos os meios ao
seu dispor, de forma a que os seus públicos as possam usufruir.

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Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

O acervo do MSML divide-se nas seguintes Colecções:

1. Arte Sacra
Esta colecção surge de forma destacada no seio do espólio do MSML, não só
pela dimensão, como também pela qualidade das peças que a incorporam e
pela variedade tipológica das peças que a incorporam. Assim, esta colecção
apresenta as seguintes sub-colecções:

Imaginária
O MSML possui uma preciosa colecção de cerca de 300 imagens, das mais
variadas épocas e estilos, desde as imagens góticas às barrocas, passando
pela produção proveniente das oficinas de santeiros até às de produção mais
erudita. Estas encontram-se essencialmente expostas no piso superior do
Museu.

Talha
No MSML a colecção de talha tem a particularidade de se assumir enquanto
suporte expositivo da colecção de imaginária, mas também da colecção de
pintura. A talha surge nas suas mais variadas manifestações: retábulos, nichos,
sanefas, plintos, etc. Através dos vários exemplares do MSML podemos
contactar com os vários estilos de talha portuguesa.

Pintura
Embora a colecção não apresente uma qualidade erudita, destaca-se pela sua
grande variedade temática, atingindo mesmo, por vezes, um declarado carácter
popular. Os exemplares de pintura encontram-se normalmente ao nível dos
tectos das várias salas ou integrados nas predelas de alguns retábulos.

Mobiliário Litúrgico
Concentrados numa mesma sala, encontramos no MSML uma colecção com
cerca de 74 oratórios, cujas maquinetas nos dão a conhecer uma grande
variedade de formas e de estilos. Completam esta colecção alguns Sacrários.

Castiçais

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Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

Embora não constitua uma das maiores colecções do MSML, nem apresente
um conjunto de peças de grande qualidade, assume uma particular importância
no contexto do MSML pelo facto de estar agrupada numa mesma sala, que por
esta razão adopta o seu nome.

Vestes litúrgicas
Apresenta o MSML uma rica colecção de vestes litúrgicas composta por
casulas, estolas, frontais de altar ou véus de cálice na qual predomina o
damasco e o adamascado.

2. Etnografia
Esta colecção é composta por uma grande variedade de objectos que vão desde
os utensílios de cozinha, a materiais associados a ofícios como a carpintaria ou a
tecelagem. De entre os objectos que integram esta colecção, destaquemos um rico
conjunto de cangas.
Esta colecção é extremamente importante na medida em que, durante o Estado
Novo (1926-1974) e a colocação em prática do corporativismo, foi estabelecido
que as Casas do Povo (instituições corporativas por excelência) fossem dotadas
de Museus locais. Assim, a Junta Central das Casas do Povo8 propôs um conjunto
de “Normas Gerais de organização dos Museus das Casas do Povo”9, onde propôs
a constituição de pequenos museus etnográficos.

3. Ciências Naturais
Esta colecção destaca-se por concentrar um conjunto de elementos da Natureza,
os “naturalia” dos Museus do século XV e XVI. Assim, minerais, fósseis, elementos
marinhos, colecções de insectos e animais embalsamados, aparecem num espaço
onde também surgem elementos artísticos, como que não havendo uma
diferenciação da sua natureza.

4. Estatuária
A colecção de estatuária abrange temáticas que poderão corresponder a
diferentes sub-colecções, nomeadamente, estatuária civil, religiosa e mitológica
(estas só poderão ser definidas após o registo das peças que as compõem no

8
Surge como administradora, prestando ajuda a centenas de casas necessitadas.
9
GABINETE de Estudos e Publicações da Junta Central das Casas do Povo - “Normas Gerais da
organização dos museus das Casas do Povo”, Dezembro de 1947.

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Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

Livro de Inventário Geral). As inúmeras peças que a compõem têm vindo a ser
atribuídas a diversos escultores portugueses de finais do século XIX e da primeira
metade do século XX, como sejam, Teixeira Lopes, Soares dos Reis, Barata Feyo,
Sousa Caldas, Henrique Moreira, entre outros. Trata-se certamente de uma das
maiores colecções de estatuária portuguesa do género, muito embora seja
composta por estudos ou cópias em gesso.

5. Cortiça
Integrando-se o Museu numa das mais prósperas regiões corticeiras do Mundo,
possui uma grande colecção de diversas peças de carácter popular feitas
localmente adoptando como matéria-prima a cortiça. Por esta razão, distingue-se
esta colecção por ser um exemplo único da criatividade e da potencialidade desta
matéria-prima na criação de objectos artísticos.

6. Cerâmica
A colecção de cerâmica integra diferentes tipologias de peças que abarcam a
segunda metade do século XIX até aos nossos dias. Destaca-se a variedade
cromática e formal das mesmas, assim como a forma original como estão
expostas, sendo de realçar a maneira como algumas peças surgem penduradas
no tecto de talha dourada, criando assim um espaço muito original.

7. Iconografia do Fundador
O culto da personalidade do Fundador do Museu - Henrique Alves de Amorim -,
constantemente presente em todo o espaço museológico, através das suas iniciais
“HA”, afirma-se ainda através de uma colecção de retratos, de uma imensidão de
bustos e de uma colecção de medalhas onde surge retratado.

8. Mobiliário
O MSML apresenta uma grande colecção de Mobiliário civil, composta por uma
série de conjuntos de móveis de assento, mas também de mobiliário de quarto ou
de aparato. Tendo sempre presente de que a maior parte das peças constituem
réplicas, de maior ou menor qualidade, não deixam por isso de ser uma boa
manifestação e um excelente contacto com as tipologias e os estilos do mobiliário
português.

9. Numismática e Medalhística

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Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

Esta colecção é composta por uma grande variedade de moedas (que se


encontram em depósito) e de papel-moeda procedente das mais variadas regiões
do Mundo, para além de um grande conjunto de medalhas comemorativas.

10. Curiosidades
O MSML surge como um “Gabinete de Curiosidades”, tal como nos Séculos XV e
XVI foram concebidos. Nessa época criaram-se os primeiros “museus” que
reuniam num mesmo espaço objectos de arte, objectos da natureza, medalhística
e outros com interesse para a interpretação de uma certa visão do Mundo. Estes
últimos compõem a colecção de Curiosidades do Museu e que surge dispersa pela
maior parte das salas do MSML.

Apesar da diversidade de colecções, o planeamento de uma boa política de gestão


das mesmas implica necessariamente a definição da Colecção principal do Museu, ou
seja, aquela em que as práticas de investigação, inventariação, conservação,
exposição e divulgação vão ser aplicadas em primeiro lugar. Assim, a Colecção de
Arte Sacra é naturalmente a prioridade do MSML, não só devido à variedade do seu
espólio, como também devido à dimensão e qualidade do mesmo, sem olvidar a sua
localização expositiva no interior do Museu (piso superior).

3.5. Inventário e Catalogação

O tratamento dado às diferentes peças é, em si, uma concretização das diferentes


funções museológicas acima enunciadas. Assim, a base de apoio de qualquer
colecção fechada é precisamente o seu INVENTÁRIO. Este encontra-se já numa fase
avançada, sendo que estão praticamente inventariadas as peças do piso superior do
Museu. Este está a ser realizado manualmente no Livro Geral de Inventário. Tem sido
um atribuído uma identificação alfanumérica contínua às peças das diferentes Salas.

A realização do inventário sumário do espólio do MSML permite que se avance para


um sistema de documentação, onde fica registado todo o historial da peça. A vertente
de suporte manual implica a criação de uma pasta para cada uma das peças
inventariadas, organizada a partir do seu Nº de Inventário. Lembre-se o Art.25º da
Lei-Quadro dos Museus relativo a “Documentação”:

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Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

O inventário museológico deve ser complementado por registos


subsequentes que possibilitem aprofundar e disponibilizar
informação sobre os bens culturais, bem como acompanhar e
historiar o respectivo processamento e a actividade do museu.

Relativamente à CATALOGAÇÃO em suporte digital, esta encontra-se já numa fase


bastante avançada sendo que já foram alvo de um inventário desenvolvido cerca de
900 peças, com particular incidência na Colecção de Arte Sacra e Mobiliário. No
desenvolvimento da Catalogação foi sempre tida em conta a ausência de
documentação relativamente às peças.

O Processo de Documentação adoptado pelo MSML, dentro do âmbito do Protocolo


estabelecido com a UCP – Centro Regional do Porto compreende as seguintes fases:

a. Registo da Peça no Livro de Inventário Geral, contendo as seguintes


informações:
- Nº de Inventário;
- Designação (identificação da peça);
- Descrição sucinta;
- Estado de Conservação;
- Data e Autoria do Registo;

b. Atribuição do Número de Inventário, constituído pelos seguintes dados:


- Ano de Incorporação. Como o Inventário é realizado a partir de um processo
regressivo, vamos considerar 1957 como ano de incorporação visto que
corresponde ao ano imediatamente anterior à criação do Museu;
- Número da Peça. Numeração contínua, seguindo o percurso expositivo do
Museu, recorrendo a numeração alfanumérica para o caso dos conjuntos.

c. Marcação provisória
Devido às dificuldades inerentes aos moldes expositivos em que se encontram
as peças que formam o espólio do MSML, optou-se por se realizar todo um
conjunto de mapas manuais de apoio.

d. Registo Fotográfico da Peça em suporte digital.

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Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

e. Registo definitivo da peça. Este tipo de registo deverá ser efectuado por
técnicos especializados dada a delicadeza dos processos utilizados.

f. Catalogação utilizando a base de dados em vigor no Museu, o programa In


Arte Plus – Sistemas do Futuro.

A gestão das colecções de um Museu passa pela criação de um documento


normativo que defina concretamente como cada peça é tratada, desde o momento
em que esta é incorporada na colecção do Museu, seu percurso vivencial no seio do
mesmo ou até o seu abatimento ao cadastro.

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Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

4. Interpretação das Colecções

A cultura material dos objectos baseia-se nas condições de suporte e de


transmissão de informação e comunicação de que estes são dotados e nas suas
características de documentos10.

O mais habitual é que os objectos de um Museu estejam constituídos como um


sistema, um conjunto ordenado com a intenção de oferecer, primeiro, a cada objecto
uma envolvência próxima à da sua procedência e ao mesmo tempo uma
contextualização colectiva. Como consequência, proporciona-se ao visitante um nível
triplo de comunicação que resulta na identificação, informação e interpretação. De
certo modo, a finalidade museológica, patrimonial e sócio-cultural dos próprios
objectos visa, não tanto aquilo que são enquanto realidade, mas sim as ideias
que conseguem transmitir ou comunicar ao público visitante. Público e
interpretação museológica interrelacionam-se profundamente.

O Museu é, então, encarado como um produtor/transformador/difusor de informação,


provido de linguagem específica. O museu promove a difusão da cultura,
adquirindo um importante valor educativo, logo as mensagens que transmite
devem ser entendidas por todos os visitantes e não só por aqueles que tenham
formação cultural e intelectual. Dai a afirmação de alguns autores: “ as pessoas são
a única razão pelas quais os museus existem”11. É necessário entender por público um
conjunto de indivíduos dotados de competência específica sobre o que lhe é
apresentado, podendo emitir uma opinião e discussão.

Partindo da cultura material dos objectos, o binómio público-museu encontra o seu


sentido na exposição e difusão, como meio de comunicação e diálogo, mediante
técnicas de estudo do público e inclusivé concebendo o museu como centro de
investigação.
Uma exposição é sempre o resultado de um processo de selecção e de manipulação
da informação emitida pelas peças do museu; este processo não altera a informação
contida no objecto, mas oferece ao visitante uma selecção estritamente guiada.

10
FERNANDÉZ, Luis Alonso – Introducción a la nueva museología. Madrid: Alianza Editorial, 2002, p.
121.
11
PAIVA, Odete Maria de Matos – Museus e dinâmicas de inovação: a exposição temporária como
proposta de turismo cultural. Dissertação de Mestrado em Museologia e Património Cultural apresentada
à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2001, p. 95.

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Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

4.1 Situação actual

Possivelmente fruto da ausência de documentação relativa às peças, a inexistência


de elementos interpretativos é uma realidade no MSML. Para este aspecto
também terá certamente contribuído a falta de um inventário e catalogação rigorosos e
criteriosos que pudesse dar uma informação mínima relativamente às peças.
De facto, o MSML não está dotado de catálogos, textos explicativos nas diferentes
salas, ou de sinalética adequado ao espaço expositivo, etc. A dimensão do espólio,
juntamente com a amálgama expositiva dificulta uma correcta interpretação dos vários
núcleos museológicos.
Todavia, não se pode ignorar a variedade e dimensão dos fundos museológicos do
MSML enquanto potencial concreto para a realização de diferentes estudos científicos
e exposições temáticas dentro das mais diversas abordagens.

4.2. As Exposições

A apresentação ou exibição de objectos de valor patrimonial e cultural foi uma função


constante desde as origens remotas do coleccionismo e da museologia.

Organizar e apresentar exposições temporárias é uma actividade de extrema


importância nos museus. Todos reconhecem a sua importância e utilidade para a
vitalidade das instituições, como forma de atrair público.
A exposição já não é concebida como algo estático, mas como um lugar de
construção de significados, onde existe uma relação interactiva entre o público
e o exposto, estabelecendo-se assim a comunicação. Logo, a exposição não
transmite uma mensagem única a todos os visitantes, pelo contrário, é interpretada e
entendida por cada pessoa de acordo com as suas vivências, bagagem cultural, etc.

Assim, do ponto de vista da comunicação, é necessário relacionar na exposição três


factores para que o diálogo aconteça:

a. O efeito produzido pelos objectos expostos – cada objecto individual é


portador de significados, que em conjunto contribuem para a construção e
explicação do conteúdo da exposição.
b. O tratamento da temática da exposição – este depende do número de
objectos e de como estes se inserem no conjunto temático, de acordo com o

37-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

seu significado, importância quanto ao tema, relação dos objectos entre si e no


espaço, dos meios e equipamentos técnicos usados e do espaço expositivo.
c. O discurso expositivo encontrado – visto que a organização da exposição
é definida de acordo com aplicação de conhecimentos museológicos e
museográficos.

Existem várias tipologias expositivas, consoante os vários autores (vide Tabela 1).
Os diferentes estilos expositivos coincidem, ao longo da história, com o grau de
acesso e conhecimento do Público aos bens do Museu, confirmando assim como a
sua realidade e cultura material criam conceitos e ideias12.

4.2.1. As Exposições Temporárias


As exposições temporárias13 apresentam uma grande diversidade de propostas
num período de tempo relativamente curto. Além disto, permitem que o museu faça
publicidade, o que além de ser uma forma de comunicar com o seu público mais
assíduo, é igualmente uma forma de despertar o interesse de novos públicos,
levando ao aumento do número de visitantes. É também de salientar que as
exposições temporárias podem constituir uma solução interessante e lucrativa para
os museus situados em pequenas localidades. Com efeito, as exposições
temporárias que estes museus realizem, permitem-lhes manter durante todo o
ano, um número de visitantes satisfatório.

Também não nos podemos esquecer da satisfação profissional do pessoal que


trabalha nos museus aquando da concepção, montagem das exposições.
O grande interesse existente por parte dos técnicos dos museus em organizar
exposições temporárias está relacionado com o facto destas permitirem construir
novas propostas expositivas e paralelamente estimularem uma constante inovação.
Desde logo, as exposições temporárias são uma das formas mais privilegiadas de
inovar e atrair público ao museu e, ao mesmo tempo, um meio irrecusável de
comunicação com esse mesmo público.

12
FERNANDÉZ, Luís Alonso – Op. Cit., p. 152.
13
Para a realização deste capítulo o nosso principal apoio e fundamento foi o estudo da autoria de Odete
Maria de Matos Paiva. Cfr. PAIVA, Odete Maria de Matos – Museus e dinâmicas de inovação: a
exposição temporária como proposta de turismo cultural. Dissertação de Mestrado em Museologia e
Património Cultural apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2001.

38-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

AUTORES TIPOLOGIAS EXPOSITIVAS


- tempo de duração;
- forma;
Martin
Árias

- tipo de participação que provocam no público;


- conteúdos.
- natureza e qualidade do material exposto;
critério espacio-
sociocultural,
seguindo um
(perspectiva
Fernandez

- características formais;
temporal)
Alonso

- intenção da mensagem;
- densidade dos conteúdos;, entre outros objectos artísticos)
- funções históricas.
- Exposição Emotiva, que tem por objectivo provocar um sentimento
no público. Dentro deste tipo encontramos as exposições históricas
ou evocativas e as exposições estéticas (pintura, escultura)
cada exposição visa estabelecer com o público)

normalmente realizadas por Museus e Galerias que criam espaços


(baseada no tipo de comunicação que

esteticamente cuidados para a sua realização e, para que haja o


mínimo de interferência entre o espectador e este tipo de objectos,
estes são habitualmente apresentados de forma particular;
- Exposição Didáctica é orientada para a transmissão de informação,
Belcher

visando instruir e educar. Para tal, apresenta o objecto acompanhado


de informação complementar (mapas, fotografias, diafragmas, etc). Este
tipo de exposição é, em geral, concebida para um público-alvo
específico, aspecto que traz necessidades acrescidas aos seus
organizadores;
- Exposição de Entretenimento tem como objectivo entreter o público,
logo é mais populista, podendo definir-se como espaço de grandes
dimensões. Por serem mais generalistas têm normalmente um público-
alvo muito definido.
- exposição estética;
Davallon
e Carrier

- exposição pedagógica;
- exposição lúdica.

- exposição contemplativa
Blanco
Garcia

- exposição informativa
- exposição didáctica

Tabela 1 – Classificação por autores das várias tipologias expositivas.

39-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

A escolha do tema ou conteúdo conceptual da exposição, a selecção dos


objectos e associações entre os mesmos, a elaboração de informação
complementar, a concepção espacial e montagem da mesma, tudo devidamente
conjugado permite que a exposição resultante estabeleça com o público um tipo
concreto de comunicação. Ao possibilitarem a comunicação com o público, os museus
visam “apresentar e divulgar o património museológico, promover a investigação
científica, desenvolver a função didáctica e transmitir conhecimentos, o que lhes
permite manterem-se actualizados”. Estes objectivos podem ser alcançados de vários
modos, contudo, o mais eficaz, são as exposições temporárias, pois “permitem
catalisar, com grande facilidade, a atenção de investigadores e o apoio dos
patrocinadores”. Actualmente, mais do que qualquer outro, “consegue criar condições
para que haja um avanço efectivo do conhecimento”.

A dimensão e a variedade temática do espólio do MSML permite a realização de


toda uma série de exposições temáticas temporárias recorrendo exclusivamente
ao espólio permanente, de forma a criar uma maior dinâmica e potencializar o
mesmo. Assim, cumpre-se o objectivo de experimentar e de dar a conhecer novas
abordagens do espólio, valorizando e revendo o espaço expositivo, de forma a permitir
a constante aquisição de novos e mais profundos conhecimentos, por exemplo, ao
nível da investigação.

Sendo a realização de Exposições Temporárias um aspecto extremamente dinâmico


para a vida de um Museu, deve-se, pois, implementar a organização das mesmas no
MSML. Assim, estando a maior parte do espólio que integra a Colecção de Etnografia
e Mobiliário expostas na Sala 7 em más condições de conservação, torna-se deste
modo urgente a sua remoção parcial para reserva. Assim sendo, poderia ser esta sala
adaptada e convertida em Sala de Exposições Temporárias.

4.2.2. As Exposições Permanentes


As exposições permanentes raramente apresentam novidades ao público habitual do
Museu. Estas são um pretexto para comunicar informações sensitivas e cognitivas e
para dar a conhecer os significados dos diferentes objectos, consoante a leitura que se
pretende dar ao espaço expositivo.

40-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

A exposição permanente constitui um dos instrumentos mais úteis e importantes do


diálogo e de consciencialização de que o museólogo dispõe; a exposição, considerada
como a colocação em cena dos objectos, constitui uma linguagem visual utilizada e
praticada por todos na vida quotidiana; é um meio de expressão tridimensional,
constitui um espaço físico que pode ser utilizado como um lugar de reencontro, de
convivência, de intercâmbio ou de debate.

A exposição permanente converte-se no produto através do qual se vai julgar


especialmente o MSML, como se se tratasse da sua face e actividade pública mais
notória e socialmente mais imediata, é o método e o veículo de comunicação com o
público. Segundo Philippe Dubé, a exposição é a presença, a apresentação e a
representação da capacidade de comunicação de um Museu, mas também do seu
carácter e estilo, dependendo em grande medida da função sócio-cultural da
instituição museológica14.

4.3. Informação

Segundo o Artº39 da Lei-Quadros,

A interpretação e a exposição constituem as formas de dar a


conhecer os bens culturais incorporados ou depositados no museu
de forma a propiciar o seu acesso pelo público.

4.3.1. Informação na Sala de Exposição


Todas as exposições visam estabelecer um diálogo entre o público e o visitante, por
forma a transmitir uma mensagem. Para este objectivo ser alcançado com eficácia, a
interpretação das próprias peças expostas é geralmente acompanhada de
informação complementar - conjunto de estruturas textos, imagens, ilustrações,
sistemas audiovisuais e programas de computador que se podem definir como a
estratégia de comunicação da exposição, que deve estar concebida de forma a que o
visitante descubra e questione variados aspectos, diferentes pontos de vista e que tira
as suas conclusões15.
Assim, o sucesso da comunicação nasce da integração destes elementos no contexto
expositivo, bem como da simplicidade e clareza com que se tratam os conteúdos. Para

14
FERNANDÉZ, Luís Alonso – Op. Cit., p. 150.
15
PAIVA, Odete Maria de Matos – Op. Cit., p. 108.

41-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

tal, a informação deve ser colocada em locais precisos de modo a facilitar a


comunicação com o visitante.

À entrada de cada exposição devem colocar-se textos introdutórios que ajudam


na orientação geográfica e psicológica do visitante. Cada sala e cada área dentro
da sala deve ser identificada com um título que ajudará na orientação conceptual do
visitante16.

A orientação intelectual realiza-se através de textos mais completos que têm


relação com a exposição em geral ou com alguns aspectos em particular. Assim,
devem ser identificados três níveis interpretativos nos mesmos:

1. Nível simples. Informação geral relativamente à Sala (sua localização no


Museu, suas particularidades e especificidades) e às peças aí expostas
(contextualização da colecção no tempo sem particularizar as peças
propriamente ditas); informação preparada para o Público em geral;
2. Nível aprofundado. Informação mais particularizada, relativa a alguns
aspectos e pormenores significativos das peças apresentadas, cativando
uma atenção mais erudita e destacando, assim, as colecções;
3. Nível técnico. Informação organizada para técnicos e especialistas, dando a
conhecer aspectos particularizados como as técnicas, os materiais, a
iconografia, etc;

Não se pode esquecer as tabelas identificativas de cada peça, onde a informação


deve ser estruturada de forma hierárquica com diferentes níveis de informação. A
cada tipo de orientação corresponde um texto específico. A colocação de
informação nos objectos e o teor dessa informação é um assunto que está
intimamente ligado com o tipo de discurso expositivo adoptado para cada exposição,
seja permanente, temporária, itinerante ou não17. Em relação a qualquer objecto que
conste da exposição, é necessário saber qual o seu protagonismo, de forma a
decidir a informação que se vai disponibilizar e o melhor modo de o fazer.

Os textos integrados no discurso expositivo devem oferecer ao Público em geral


referências claras e explicações simples. Estes mesmos textos foram diferenciados por
vários autores. Garcia Blanco classifica-os segundo o conteúdo, enquanto que Alonso

16
Idem.
17
Idem, p. 109.

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Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

Fernandez considera todos os textos como textos informativos, hierarquizando-os


segundo a informação que apresentam, conforme demonstra a Tabela 2.

Textos de orientação: informação global e sintética sobre a exposição;


orientam o visitante sobre os conceitos tratados; oferecem uma espécie de
mapa conceptual e espacial da exposição, dai que se localizem no início da
exposição, do piso ou da sala. Esta informação é de grande importância pois
possibilita que o visitante estabeleça uma relação entre os conteúdos da
exposição e faça percursos coerentes.
Textos de identificação: estes tipos de textos aparecem associados a um
suporte específico (também etiquetas ou painéis). Estes textos oferecem
várias informações, por exemplo, descrição e identificação da peça (autor,
Garcia Blanco18

dimensões, datação, material, modo de incorporação, número de inventário,


etc.).
Textos explicativos: podem referir-se a núcleos expositivos, à totalidade das
peças ou a um único objecto. “Explicam o sentido dos objectos, não só em
relação ao discurso expositivo, mas também em relação à experiência
pessoal do visitante, para que sejam significativas para eles”. Logo, estes
textos visam explicar as opções expositivas, para que estas sejam
compreendidas pelo público.
Textos didácticos: visam transmitir algum conhecimento, existindo diferentes
opiniões quanto ao meio pelo qual são transmitidos. Existem autores que
defendem que os meios interactivos implicam maior participação da parte do
público. Outros opõem-se ao uso de meios interactivos afirmando que “a
informação didáctica por meio de textos escritos promove a participação do
visitante no próprio processo de aprendizagem, favorecendo muito
directamente a interacção intelectual”.
(considera todos os textos informativos, somente

Títulos: devem ser atractivos e resumir o assunto tratado na exposição.


Formalmente, devem ser curtos e usar letra facilmente perceptível;
os hierarquiza segundo a informação que

Subtítulos: acrescentam informação ao tema, mais extensos, em letras de


menor dimensão. Após a leitura do título e subtítulo, o público deve conhecer
o tema e conteúdos da exposição;
Texto introdutório: trata-se do primeiro bloco informativo que o visitante
Alonso Fernandez19

recebe, logo a sua execução deve ser cuidada. É este primeiro texto que vai
apresentam)

definir o modo de apresentação de todos os outros que vão surgir ao longo da


exposição. O seu conteúdo deve ser cuidadosamente estruturado, de forma a
evidenciar o seu carácter explicativo e a sua função introdutória;
Grupo de textos: acompanham os núcleos expositivos e devem assumir uma
função informativa ou interpretativa;
Tabela/ legenda: oferecem informação essencial sobre as peças expostas
(em alguns casos, podem conter também informação mais detalhada sobre
algumas peças da colecção). A sua colocação não deve levantar dúvidas
quanto ao objecto que identificam;
Materiais de distribuição: catálogos, guias, desdobráveis, cada um possui
diferentes tipos e graus de informação, embora todos contribuam para um
maior conhecimento da temática da exposição.

Tabela 2 – Classificação por autores dos textos que integram o discurso expositivo.

18
BLANCO, A. Garcia, p. 127 Cit. In Idem, p. 111.
19
FERNANDÉZ, L. Alonso – Diseño de Exposiciones: concepto, instalación y montaje. Madrid: Alianza
Editorial, p. 100.

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Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

Todos os tipos de informação devem possuir duas características fundamentais:


legibilidade e visibilidade. Logo devem ser tidos em conta aspectos como:
- tipo e tamanho da letra;
- espaçamentos entre caracteres e linhas;
- contraste com o fundo;
- aspectos que contribuem para a transmissão da mensagem;
- iconografia que possa acompanhar os textos explicativos;
- aspecto estético;
- iluminação conveniente de modo a permitir uma fácil legibilidade;
- distância visual do espectador.

Outro aspecto relevante é o tipo e a qualidade da informação que se disponibiliza


ao Público. A informação para ser precisa e funcionar com clareza deve ter
características e técnicas próprias, devendo ainda apresentar uma relação directa com
a exposição. Assim, é muito importante controlar a quantidade de informação que
acompanha a exposição. Segundo Juan Carlos Rico, “os textos devem ser o mais
curto possível”20, de modo a conter a informação necessária. Pois, quando são muito
extensos o público não os lê e se o faz, faz de forma enfadada.

Um outro aspecto fundamental e imprescindível é a sinalética museológica. Todo o


espaço do museu deve ser claramente identificado de forma simples e clara de modo a
proporcionar uma boa orientação; deve existir sinalética que ceda informação sobre o
tipo de acessibilidade existente no museu. É importante o uso de símbolos visuais e
tácteis de fácil compreensão, que indiquem claramente os percursos, por exemplo pela
utilização de códigos de cor para cada área21 (vide Anexo 5).

4.3.2. Meios de informação e divulgação


Os meios de interpretação, enquanto informação, constituem em si um poderoso
meio de divulgação. Assim, os catálogos, prospectos e o website de apresentação do
MSML poderão vir a ser utilizados como forma de atingir um Público mais amplo e
geograficamente mais distante.

A realização de uma catalogação sistemática e científica, acompanhada por um


sistema de informação criteriosamente organizado, permite a criação de diversas

20
RICO, Juan Carlos cit. In Idem, p. 111.
21
Vide Temas de Museologia. Museus e Acessibilidade. MC e IPM: Lisboa, 2004, p. 39.

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Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

tipologias de prospectos e catálogos devido à variedade e riqueza dos vários núcleos


museológicos que integram o MSML, facilitando assim ao Público um acesso
contextualizado às colecções e às peças. A variedade e dimensão dos fundos
museológicos do MSML surgem como potencial concreto para a realização de
diferentes estudos científicos, prospectos ou catálogos, dentro das mais diversas
temáticas e tipologias. Estes últimos poderão constituir, ainda, uma forte base de apoio,
enquanto ponto de partida, ao desenvolvimento do estudo científico.

Num mundo em que a globalização é cada vez mais um dado adquirido, a criação
de um website que dê a o conhecer o MSML a um Público mais vasto, é uma
realidade que urge implementar. Nume primeira fase, seria como que um “cartão de
visita” do próprio MSML, podendo futuramente vir a apresentar, por exemplo, imagens
e informação detalhada relativa às peças e às colecções através do acesso on-line.

4.3.3. A acessibilidade da informação


Para proporcionar o acesso à informação a pessoas com necessidades especiais,
nomeadamente com deficiências físicas ou mentais, os museus devem disponibilizar a
informação em vários formatos e níveis alternativos22.
Existem diversos níveis de informação, face aos quais devemos ter em atenção os
problemas de iletracía:
- Necessidades especiais que afectem a capacidade de leitura e
compreensão;
- Educação formal limitada;
- Problemas de carácter social;
- Língua materna diferente da língua oficial do pais onde vivem.

Daqui decorre a necessidade de recorrer à chamada linguagem fácil, ou seja, uma


linguagem simples e directa, que inclua apenas uma ideia por frase, evitando a
linguagem técnica e adoptando uma estrutura clara e lógica. Também a apresentação
de textos e ilustrações deve ser pensada ao pormenor.

Existem ainda outros possíveis níveis de informação:


a. Gravações aúdio
b. Gravações vídeo
c. Formato digital
22
Idem, p. 53-62.

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Plano Museológico

d. Multimédia e Internet
e. Ordem de prioridades:
- roteiro do Museu ou da Exposição:
- material para divulgação do Museu ou de uma exposição;
- publicações generalistas sobre o Museu;
- publicações generalistas sobre uma exposição;
- publicações da especialidade (monografias ou revistas).

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Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

5. Conservação das Colecções

Segundo Ward, a principal tarefa de um museu é preservar aqueles objectos do


passado que estão a seu cargo para as gerações presentes e futuras. Os objectos que
preservamos não foram destruídos pelo tempo, já que o tempo, por si só, rara vez
destrói. Por uma ou outra casualidade milagrosa sobreviveram, muitos anos ao fogo,
tempestades, terramotos, guerras, roubos e vandalismo, mas sobretudo à nossa
própria negligência. Frequentemente correm mais perigo num edifício moderno que
em nenhum outro período da sua vida: temperaturas variáveis, excesso ou falta de
humidade, radiações ultravioletas, insectos, gases atmosféricos, maus tratos que
podem destruir o que a natureza salvou. Protegemo-los destes perigos através de um
conjunto de técnicas que denominamos por conservação23.

Tendo em conta a variedade e a dimensão dos núcleos museológicos do MSML,


assim como o avançado estado de degradação que alguns acusam, torna-se
urgente rever a política de conservação e restauro dos mesmos. É fundamental
preservar os núcleos museológicos do MSML para as gerações vindouras, quer ao
nível da sua integridade física, quer ao nível da sua integridade conceptual. É urgente
rever a politica de conservação das colecções por forma a evitar que se prolongue um
já extenso período de não conservação das peças do MSML, responsável pelo
aparecimento de todo um conjunto de danos e pelo acentuar de toda uma série de
níveis de degradação.

Segundo o Arts. 27º e 28º da Lei-Quadro dos Museus Portugueses, cabe aos Museus o

Dever de Conservar
1. O museu conserva todos os bens culturais nele incorporados.
2. O museu garante as condições adequadas e promove as
medidas preventivas necessárias à conservação dos bens culturais
nele incorporados.

Normas de Conservação
1. A conservação dos bens culturais incorporados obedece a
normas e procedimentos de conservação preventiva elaborados por
cada museu.
2. As normas referidas no número anterior definem os princípios e
as prioridades da conservação preventiva e da avaliação de riscos,

23
Cit. In FERNANDÉZ, Luis Alonso – Museologia introduccion a la teoria e práctica del museo. Madrid:
Ediciónes Istmo, 1993, p. 218.

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Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

bem como estabelecem os respectivos procedimentos, de acordo


com normas técnicas emanadas pelo IPM e pelo IPCR.
Dentro da disciplina da Conservação há que diferenciar três aspectos distintos:

1. Conservação. Entende-se por conservação o conjunto de operações e técnicas


que têm por objectivo prolongar a vida dos bens culturais. Para conservar os
objectos temos dois caminhos: a Conservação Preventiva e o Restauro. Ambas se
complementam, embora o restauro seja consequência da ineficácia ou ausência
de meios preventivos. A Conservação assume como finalidade a manutenção das
propriedades, tanto físicas como culturais, dos objectos para que estes sobrevivam
à passagem do tempo, mantendo tanto quanto possível os seus valores originais.
Tão importante é o suporte ou elementos materiais, como a mensagem ou
elementos contidos no objecto. Pretende-se conservar a integridade física e
funcional (capacidade de transmitir informação). Os serviços especializados
dedicados à conservação devem contar com laboratórios técnicos de restauro.

2. Conservação Preventiva. Operações que se ocupam da conservação, recorrendo


a todos os meios possíveis externos aos objectos por forma a garantir a sua
correcta conservação e manutenção. São objecto da conservação preventiva:
- a segurança, incêndio e roubo;
- controlo das condições ambientais adequadas (iluminação, climatização,
poluição).
A conservação preventiva apresenta-se como o ponto de encontro e de diálogo,
imperativo, entre a cultura humanística e a cultura científica visto que nenhum
problema de conservação deve ser analisado e estudado só do ponto de vista das
técnicas que têm como objectivo a salvaguarda do suporte material dos objectos.

Em 1977, Paul Phillipot, à frente do ICCROM (International Commitée of


Conservation-Restauration of the Museum) fundamentou a Conservação
Preventiva, formulando 3 regras:
Estabilidade: exige que os tratamentos e os materiais modernos utilizados não
evoluam no seu aspecto químico e físico;
Legibilidade: o restauro tem de se render à obra, intervindo o menos possível;
Reversibilidade: parte do princípio de que toda a intervenção possa ser anulada
sem deteriorar o objecto.

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Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

3. Restauro. É a actividade da Conservação que se ocupa da intervenção directa nos


objectos, quando os meios preventivos não foram suficientes para mantê-los em
bom estado. Ocupa-se da aplicação de tratamentos necessários que permitam
prolongar a vida dos bens culturais, assim como resolver os danos que estes
possam apresentar. Os trabalhos de restauro dos objectos deteriorados requerem
conhecimentos científico-técnicos e habilidade manual. O restauro passou de uma
actividade meramente artesanal a uma disciplina científica que exige, antes
demais, capacidade técnica do restaurador, conhecimentos básicos histórico-
artísticos, científicos e dos materiais, mas também dos factores de degradação e
de conservação dos diferentes materiais. O planeamento deve ser feito a partir de
uma visão inter-disciplinar, contando com o apoio técnico de diversos
especialistas.

Tanto a conservação preventiva como o restauro procuram, então, preservar e


estabilizar um objecto, não alterando a sua natureza e mantendo a sua integridade.
Para a conservação preventiva, a obra é como um meio de trabalho, atendendo à sua
longevidade; o restauro é tido como um último recurso de salvaguarda de um objecto.

5.1. O Conservador-restaurador

O papel fundamental do Conservador-restaurador é a preservação dos bens culturais


para benefício da nossa geração e das gerações futuras. O Conservador-restaurador
contribui para o entendimento dos “bens culturais” relacionados com o seu significado
histórico e estético e com a sua integridade física.
O Conservador-restaurador é responsável e realiza o diagnóstico, os tratamentos de
conservação e restauro dos bens culturais e a respectiva documentação de todos os
procedimentos.

É da competência do Conservador-restaurador24:
• Desenvolver programas de inspecção (pareceres técnicos) e acções de
conservação e restauro,
• Emitir pareceres técnicos e dar assistência técnica para a conservação e
restauro dos bens culturais,

24
Cfr. http://www.ipcr.pt/resources/docs//Código_ECCO.pdf

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Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

• Elaborar relatórios técnicos dos bens culturais, excluindo qualquer juízo de


valor sobre o seu valor de mercado,
• Realizar estudos de investigação sobre a conservação e restauro,
• Desenvolver programas educacionais e ensinar conservação e restauro,
• Disseminar informação obtida através do diagnóstico, tratamento ou
investigação,
• Promover um conhecimento/entendimento mais profundo da conservação e
restauro.

5.2. Estudos preparatórios e registo de intervenção

O conhecimento histórico e da natureza das peças é o ponto de partida para


todo e qualquer processo de conservação e restauro, definindo valores e
discutindo métodos, soluções e até equipamentos, procurando avançar com
uma maior flexibilidade. Após conhecer o percurso histórico da peça, há que estudar
quais as causas da sua deterioração.
Na prática, os conservadores-restauradores encontram numerosas contradições: a
condição ideal de conservar, a obscuridade e uma grande estabilidade climática, com
normas específicas de temperatura, humidade e intensidade da luz aplicadas a
diferentes tipos de objectos existentes numa mesma sala, a actuação da poluição
atmosférica, a acção dos mircoorganismos, as condições de transporte, incidentes
imprevisíveis e catastrófes, etc.
Um estudo científico dos materiais deve preceder toda e qualquer intervenção
num objecto, tendo em atenção a estabilidade e a reversibilidade de todas as
actuações. Daí que toda a intervenção deve ser acompanhado de um suporte
documental onde fica registado toda e qualquer acção, seus materiais e técnicas,
sempre com apoio fotográfico.
Através de um estudo global de uma peça podemos estabelecer quais as condições
ideais à sua perpetuação no que diz respeito à luz, humidade relativa e temperatura;
também é igualmente importante saber como manusear, como transporta, embalar,
limpar, etc. Os museólogos já não aceitam a deterioração como inevitável e
procuram proteger as suas colecções contra qualquer forma de deterioração.

5.3. Intervenção e ética de intervenção

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Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

Evitar a deterioração é objectivamente a nossa obrigação! Compete a todos


prolongar a vida da peça, para que muitos para além de nós possam usufruir da sua
observação e contemplação. Um objecto deteriora-se sempre. Há que reconhecer os
seus requisitos e formas de se manter estável. Apenas podemos diminuir a velocidade
de deterioração, nunca tomar uma decisão definitiva. Evitar a deterioração, sim.
Deterioração inevitável, não.

Se o objectivo principal da conservação é a salvaguarda material do património


cultural, o que importa é alcançá-lo mediante um apoio ético que assegure que a
natureza intrínseca do objecto não é alterada.
Também é importante ter em conta a integridade conceptual da mesma, ou seja,
aquilo que está para além da integridade física da peça e que passa pelo seu
significado cultural ou religioso. Na conservação artística, a avaliação da “intenção do
artista” (o seu valor intrínseco) é um assunto ético de primeira importância.
Refira-se que os excessos ou as falsificações em alguns restauros vieram a ser um
factor que contribuiu para que a preservação da integridade física viesse a ser incluída
no código ético da conservação.
Cada objecto, representação pictórica, peça arquitectónica ou conjunto ornamental
tem um valor em si mesmo: é absoluto e independente a qualquer coisa que lhe possa
vir a acontecer.

A ética e os valores da conservação profissional desenvolveram-se fora da


tradição do restauro, enquanto que mudava o ambiente conceptual da sociedade
ocidental. Na descrição deste ambiente, há que destacar os elementos que
contribuíram para a emergência das duas principais crenças em conservação, a
crença na preservação da integridade do objecto e a crença de que a melhor
maneira para o fazer é através da aplicação da ciência.
A tudo isto há que acrescentar o cumprimento de um código Ético (vide Anexo 6)
criterioso, definidor dos alcances e dos limites da actividade da conservação.

5.4. O papel da ciência na conservação

O poder da ciência exacta em áreas como a conservação é cada vez mais forte. É
através do desenvolvimento da ciência, suas técnicas, meios e fórmulas, que melhor
podemos conhecer os objectos. Assim, poderemos proporcionar à conservação

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preventiva e ao próprio restauro técnicas e meios para melhor preservar os objectos,


em melhores e mais ideais condições.
Um dos melhores contributos que a ciência proporcionou, para além do exame de
elementos constituintes e do seu estado material, foi o estudo das propriedades dos
produtos utilizados nos diferentes tratamentos, o controlo das técnicas aplicadas, a
sua possível reversibilidade, compatibilidade e estabilidade. O conhecimento das
propriedades físico-químicas de um objecto permite que se seleccione os materiais e
as metodologias mais adequadas a cada caso particular.
Todos os materiais que compõem um objecto tendem a estabelecer um equilíbrio
físico-químico com o seu ambiente circundante. Assim, qualquer variação brusca e
quaisquer oscilações contínuas produzem uma ruptura nesse mesmo equilíbrio,
gerando-se, como consequência, uma reacção na própria peça. Daí que as
condições que os objectos têm de estar sujeitos tenham de ser adequadas e
manter-se estáveis. Também não se pode esquecer o não menos importante cuidado
que se deve conferir à exposição, segurança ou manuseamento das peças.

5.5. Os agentes de deterioração

A ausência de controlo das condições ambientais, níveis de iluminação pouco


adequados, determinado tipo de infestações, poluição e poeiras acumuladas nas
peças, podem contribuir para a deterioração ou mesmo causar danos ou perdas
irreparáveis.
A vigilância periódica efectuada pelos conservadores-restauradores ou, na sua
ausência, por técnicos habilitados, às condições de conservação das diferentes
espécies, bem como acções de limpeza, consolidação ou, em determinados
casos, de intervenções de restauro, aumenta a capacidade de sobrevivência das
peças.

Segundo o Art.29º da Lei-Quadro dos Museus Portugueses,

1. As condições de conservação abrangem todo o acervo de bens


culturais, independentemente da sua localização no museu.
2. As condições referidas no número anterior devem ser
monitorizadas com regularidade no tocante aos níveis de
iluminação e teor de ultra violetas e de forma contínua no caso
da temperatura e humidade relativa ambiente.
3. A monitorização dos poluentes deve ser assegurada, com
frequência necessária, por instituição ou laboratório
devidamente credenciados.

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Plano Museológico

As indicações que se seguem não são mais do que propostas adequadas de


procedimentos, que embora pareçam elementares, constituem preciosos instrumentos
de conservação preventiva. Tratam-se de recomendações que a não serem seguidas
poderão afectar e levar à irremediável degradação das colecções do MSML.

a. Forças físicas directas. Responsáveis por vários tipos de danos por choque,
vibração, abrasão, entre outros, que deformam, perfuram, fissuram, amolgam,
arranham e desgastam todo o tipo de objectos. Estão ligados a:
- manuseamento incorrecto dos objectos;
- problemas no suporte expositivo;
- em casos mais raros e graves, ao colapso de parte ou mesmo de toda a
estrutura do edifício;
Todos estes aspectos serão pormenorizadamente tratados mais adiante.

b. Roubo, vandalismo, movimentações das peças. Podem ser de dois tipos:


- intencionais (roubo de objectos fáceis de transportar e mutilações em objectos
valiosos);
- involuntários (objectos perdidos ou extraviados)

c. Fogo. Provoca a destruição total ou parcial das obras, queimaduras, depósito de


fuligem e resíduos de fumo.

d. Água. Infiltrações ou lavagens que provocam sempre danos irreversíveis no caso


de têxteis, metais, madeiras, pedras e policromias, etc.

e. Pragas. Existem várias situações que propiciam o desenvolvimento de pragas:


- temperatura e humidades elevadas;
- má ventilação;
- limpeza insuficiente;
- restos de alimentos;
- mau estado do edifício;
- janelas e portas mal vedadas;
- integração na colecção de peças que não passaram por um período de
quarentena ou que não foram sujeitas a qualquer tipo de tratamento.

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A correcção de qualquer dos pontos acima referidos é fundamental como


prevenção de possíveis infestações que se propagam rapidamente de uns
objectos para os outros.
Podemos considerar essencialmente dois tipos de pragas:

I. Fungos (bulores). Aparecem em diversos materiais tais como: os têxteis, papel,


couro, madeira, preferencialmente em zonas menos arejadas e mais escondidas
das peças. Desenvolvem-se na maior parte dos casos em ambientes húmidos.
Como prevenir:
- manter as peças em ambientes não muito húmidos (quando necessário
podemos recorrer ao uso de desumificadores) e arejados;
- afastar os objectos das paredes, muros, chão e superfícies frias;
- garantir uma limpeza regular do local, uma vez que a poeira e a sujidade
permitem o desenvolvimento de pestes;
- examinar regularmente os objectos de modo a detectar alterações;
- isolar os objectos com fungos colocando-os em sacos de plástico bem
fechados a temperaturas muito baixas (se possível num congelador,
protegendo-os do contacto com o plástico através de um tecido tipo
etamine), para posteriormente serem tratados. É importante detectar a
fonte de humidade que está na origem do problema e, se possível, suprimi-
la.

II. Insectos (os roedores e os pombos são outras das pragas que degradam as
peças). Os insectos responsáveis pela degradação das obras de arte são
essencialmente:
- os peixinhos de prata (papel);
- os xilófagos, onde se incluem o caruncho e as térmitas (madeira) (Fig. 2);
- as traças (têxteis);
- os dermestídeos (materiais de natureza proteica, como a pele, o marfim e
a tartaruga).
A degradação provocada pelos insectos é progressiva, iniciando-se por pequenos
orifícios dispersos pela peça, podendo posteriormente levar a perdas acentuadas
de material e destacamentos, chegando por vezes à sua completa destruição.

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Fig. 2 - S. João Evangelista atacado por xilófagos


(colocado em reserva para protecção das
restantes peças do MSML).

Como detectar a presença de insectos em actividade:


- examinar os locais, procurando vestígios de serrim recente, dejectos, marcas
de orifícios novos ou de galerias sobre as peças; também se poderá recorrer ao
uso de armadilhas colantes;
- embrulhar as peças infestadas num saco de plástico grosso (retirando o
máximo de ar) e isolando-as das outras peças para serem posteriormente tratadas
(desinfestação). Este tratamento deverá ser seleccionado e realizado por um
conservador-restaurador;
- manter em quarentena os objectos após o tratamento e só depois colocar em
exposição e em reserva.

É muito importante usar para cada caso o insecticida ou pesticida mais adequado,
caso contrário podem ser produzidos danos irreversíveis. O edifício deve ser
encerrado durante o período de desinfestação, dando particular atenção aos
necessários isolamentos.

f. Contaminantes. A presença de poluentes cuja origem pode ser externa (fontes


industriais, domésticas, ligadas aos transportes, etc.) ou interna (intimamente ligada à

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presença de visitantes, aos materiais de exposição e construção) é responsável por


processos de alteração nos objectos que poderão englobar, entre outros, a
aceleração dos processos naturais de envelhecimento e de degradação, a
descoloração, a corrosão e a desintegração.

g. Luz. A acção da luz é cumulativa e irreversível, o que significa que não há


recuperação ou restauro possíveis.
Num espaço museológico é indispensável partir do princípio que toda a luz deteriora e
que a quase totalidade dos materiais que compõem as peças e os objectos que
integram as colecções são, em maior ou menor grau, sensíveis à luz.

A luz deteriora devido à sua natureza, tal como decorre do espectro electromagnético
que a define e que a situa na fronteira entre as radiações extremamente perigosas,
como os raios cósmicos e os raios X, e as outras praticamente inócuas no tocante à
conservação como, por exemplo, as ondas utilizadas em rádio e televisão. A sua
acção resulta da “exposição à luz” ou seja a “quantidade de luz” – definida pelo
nível de iluminação – que actua durante um certo intervalo de tempo.

Nota: o nível de iluminação mede-se em Lux e tem ainda hoje valores de referência
que importa conhecer e que são os seguintes:
- materiais mais sensíveis: 50 lux;
- materiais menos sensíveis: 150 lux.

Atente-se que a exposição a um nível de iluminação de 50 lux durante 3 horas


provoca a mesma deterioração do que a exposição a um nível de iluminação de
150 lux durante 1 hora.

Segundo Elias Casanovas25 para controlar os efeitos da luz é necessário proceder da


seguinte forma:
a. Só iluminar as salas quando necessário para diminuir o tempo de
exposição do objecto à luz;
b. Não ultrapassar em caso algum os níveis de iluminação recomendados
há muito, 150 e 50 lux, e eliminar as radiações UV;

25
CASANOVAS, Luís Elias – A Luz nos Museus. Algumas regras elementares para o controlo da
deterioração., 2001 (texto policopiado).

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c. Não utilizar em ponto algum do museu níveis de iluminação superiores


a 300 lux.

Os níveis de iluminação referidos só devem servir de orientação: o que importa


é que a exposição à luz seja tão reduzida quanto possível sendo para tal
necessário utilizar níveis de iluminação baixos e tempos de exposição curtos.
Nestas condições é indispensável que as características da luz sejam escolhidas em
função dos objectos expostos de forma a conseguir uma boa visibilidade com níveis de
iluminação baixos.

A noção de exposição à luz demonstra a importância fundamental da


possibilidade de garantir a obscuridade total das salas de um museu sempre
que este esteja encerrado ou não haja visitantes.
Com efeito, se não o fizermos, a exposição à luz é mais elevada e essa diferença
pode ser extremamente significativa nos espaços dotados de iluminação natural.
Exemplos: num espaço iluminado com luz natural, mesmo que se tenha conseguido
controlar o nível de iluminação de forma a não ultrapassar 150 lux, o tempo de
exposição é muito mais elevado se não garantirmos a obscuridade total porque
começa bem antes da abertura do museu e prolonga-se além do seu encerramento.
Estaremos a degradar peças em vão.
Embora a determinação exacta da exposição à luz admissível seja um processo
complexo, porquanto para muitos materiais desconhecemos a sua resistência, vários
valores têm sido sugeridos quase todos enfermando de um certo empirismo e de uma
certa condescendência (vide Tabela 3).

As radiações ultravioletas da luz, e que constituem a sua componente mais


perigosa, devem ser suprimidas por filtragem no caso da luz natural, recorrendo
a tipos de lâmpadas adequadas no caso da luz artificial. A luz natural pode ser
usada desde que seja controlada e filtrada, sendo que as janelas ou entradas de
luz devem, em último recurso, possuir persianas ou cortinas de pano cru – o sol
não deve, nunca, incidir directamente nos objectos. A luz natural no MSML é um
assunto que deve ser trabalhado com alguma urgência (Fig. 3).

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Fig. 3 – Efeito da Luz Natural na Sala 16


do MSML.

MATERIAIS TEMPERATURA HUMIDADE INTENSIDADE


RELATIVA DA LUZ

Desenhos, gravuras, pergaminho, 18º-20º 50-55% 45-50 Lux


Aguarelas, Livros, Iluminuras

Tecidos - Texteis +/- 20º 50% 45-50 Lux

Biombos +/- 20º 55-60% +/- 55%

Peças em Laca 20º-22º 50-60% 80-90%

Fotografias - Películas 18º-19º +/- 40% 50-60 Lux

Placas de Marfim +/- 20º 55-60% 90-100 Lux


Marfim maciço - Osso

Esmaltes – Peças em
Tartaruga ou madrepérola +/- 20º +/- 55% +/- 100 Lux

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Pintura sobre tela


Pintura sobre madeira 20º-22º +/- 55% 100-120 Lux

Mobiliário
Escultura em madeira dourada e +/- 20º +/- 55% 80-100 Lux
estofada

Escultura em pedra, Vidros – Cerâmica


-Azulejos +/- 20º +/- 50% +/- 200 Lux

Peças em prata ou ouro


Jóias +/- 20º +/- 50% 150-200 Lux

Moedas 18º-20º +/- 30% 80-100 Lux

Metais - Armas 18º-20º +/- 30% 100-150 Lux

Espécies Etnográficas +/- 20º 40-45% 80-100 Lux

Instrumentos Musicais +/- 20º 45-50% +/- 100 Lux

Tabela 3 - Condições de Exposição de diferentes Suportes e Materiais

Mas a supressão das radiações ultravioletas não constitui mais do que uma medida
correctiva e os seus efeitos não permitem de forma alguma que se considere que uma
vez suprimidas essas radiações, a luz se torne inofensiva.

Um aspecto muito particular e que não deve ser alvo de uma menor atenção é o da
iluminação das vitrinas museológicas, nas suas mais diversas tipologias (vide
Tabela 4).
Em linhas gerais, há que ter presentes alguns critérios que, independentemente do
sistema lumínico escolhido, permitam que o objecto possa ser correctamente
contemplado:
- a iluminação interna ser sempre superior à luminosidade externa, caso contrário, o
esforço visual para contemplar os objectos será considerável e com a probabilidade de
ocorrerem importantes reflexos no vidro;
- as vitrinas têm de ser distribuídas no espaço de modo a que sobre a superfície do
vidro, em ângulos de observação de 30º em relação à sua superfície, não apareça
reflectida no vidro a imagem de outra vitrina igualmente “mais iluminada”;

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- os sistemas de iluminação exteriores nunca se podem reflectir nos vidros das


vitrinas, pois, mesmo que a luminosidade seja baixa, será sempre suficiente para
provocar espelho.

São muito frequentes as situações em que encontramos


colecções em móveis, em muitos casos de considerável valor.
Vitrina histórica Transformar um expositor deste tipo para que possa acolher as
tecnologias do nosso tempo, nem sempre é fácil, já que
depende essencialmente das características do mesmo.

Este tipo de contentores destina-se essencialmente à exibição


de documentos e material bibliográfico ou têxtil, assim como a
objectos arqueológicos de pequenas dimensões ou jóias,
Vitrina de mesa quando se trata de materiais inorgânicos. Nestas vitrines, um
dos problemas fundamentais é a ocultação do sistema de
iluminação e a repartição uniforme da luz em toda a superfície
expositiva.

Todo o espaço que rodeia a peça pode ser apenas uma caixa
de vidro. A iluminação é sempre feita a partir de fora. O único
Módulos
modo de evitar sombras (…) é através da colocação vertical da
luz e o raio não ultrapassa a base de apoio da peça.

A vitrina foi desenhada previamente com condições mais ou


menos standardizadas: a iluminação está incorporada,
separada do espaço expositivo, sendo regulável e não provoca
Tecnológica
confusões, a luz é homogénea em todo o plano expositivo, etc.,
embora em muitas das vitrinas este tipo a luz não funciona
bem.

Trata-se de um volume estável e pensado para um melhor


controlo das condições ambientais e uma maior segurança da
obra. Deve ser usado em desenhos e outras obras pictóricas
de grande valor. A iluminação nunca pode ser dirigida
“Climabox” directamente para o mesmo, de modo que a melhor opção é a
de se criar um ambiente lumínico mais uniforme à sua volta,
procurando evitar reflexos de luz sobre a superfície. As
possíveis zonas reflectidas devem apresentar – para uma visão
óptica – uma iluminação mínima.

Quando se justifica a construção de uma vitrine de qualidade


para um só objecto, não é demais inverter também a
Objectos tridimensionais iluminação. Nestes casos pode ser adequado considerar o
específicos princípio – sobretudo se é para exposição permanente – da
utilização do mais inócuo, versátil e caro sistema de
iluminação, como é a fibra óptica.

Tabela 4 - Tipologias de vitrinas In RICO, Juan Carlos – Los Conocimientos Técnicos. Museos,
Arquitectura, Arte. Madrid: Sílex, 1999, p. 197.

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h. Humidade e temperatura. Desde que não tenha sido detectado qualquer tipo de
dano ou alteração nos objectos, o ambiente onde as peças se encontram não deve ser
alterado. Caso seja necessário modificar as condições ambientais devem, de qualquer
forma, evitar-se as variações bruscas de temperatura e/ou humidade (vide Tabela 3).

Recomendações gerais:
- evitar a abertura descontrolada de janelas e portas, sobretudo quando a temperatura
exterior for muito elevada;
- verificar regularmente a existência de vidros partidos nas janelas ou clarabóias, a
estanquidade das janelas e das portas e o funcionamento das portadas e persianas;
- verificar a existência de infiltrações de águas pluviais ou resultantes da própria
canalização; retirar dos locais onde tal se verifique todas as obras que possam ser
afectadas; dar especial atenção à prevenção de infiltrações e condensações
superficiais em locais com revestimentos murais decorativos;
- afastar os objectos das fontes de calor directo;
- procurar recorrer a vitrinas especiais em espaços que não disponham de sistemas de
controlo das condições ambientais e em que haja necessidade de proteger objectos
mais sensíveis às oscilações de humidade;
- sempre que haja necessidade de alterar as condições ambientais de um espaço,
deve procurar-se o aconselhamento de um conservador-restaurador acreditado pelo
IPCR.

O controlo das condições ambientais do MSML é uma necessidade de primeira


ordem, na medida em que, muito embora não existam ainda aparelhos
específicos para controlo e medição dos valores de humidade ou de
temperatura, é facilmente perceptível a existência de grandes oscilações nos
mesmos.

5.6. Segurança

A segurança dos bens culturais é mais uma atitude do que uma técnica. Deve ser
um comportamento geral adoptado face a uma técnica. De nada adianta possuirmos
os sistemas de segurança mais sofisticados se o comportamento das pessoas
(técnicos, guardas, público em geral) não oferecer essa atitude. Segundo o
especialista em segurança de museus, L.J. Femmely, o principal elemento detector é o
elemento humano, o que não significa que não prescindamos dos equipamentos.

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Até há poucos anos, entendia-se por segurança essencialmente as medidas contra


incêndio e a prevenção contra a intrusão. Nos últimos tempos a noção alargou-se
devido à crescente importância das catástrofes naturais, por um lado, e ao
vandalismo, por outro. No caso das catástrofes naturais, é de enorme importância o
estabelecimento de contactos frequentes com o Serviço Nacional de Protecção Civil.
No âmbito do vandalismo criminoso entendemos sublinhar o papel insubstituível da
vigilância humana.
Existe um conjunto de Regulamentos de segurança que importa conhecer e aplicar
com as adaptações exigidas pelas características próprias de cada instituição,
nomeadamente no tocante à segurança contra incêndio, instalações eléctricas e de
climatização. No sentido de tornar mais eficaz o controlo das medidas de segurança,
cada instituição, independentemente da sua dimensão, deve elaborar um
regulamento de segurança definindo as medidas a respeitar e as funções que
nesse quadro cabem a cada funcionário ou simples colaborador, regulamento
esse que deve ser dado ao conhecimento das entidades públicas competentes, ou
seja, Serviços de Bombeiros, Polícia, Protecção Civil e, sempre que tal se justifique,
Autarquias, Autoridades Eclesiásticas, etc.

O Art. 32º da Lei-Quadro dos Museus Portugueses, relativo às “Condições de


Segurança”, estipula o seguinte:

1. O Museu deve dispor das condições de segurança indispensáveis


para garantir a protecção e a integridade dos bens culturais nele
incorporados, bem como dos visitantes, do respectivo pessoal e
instalações.
2. As condições referidas no número anterior consistem
designadamente em meios mecânicos, físicos ou electrónicos que
garantem a prevenção, a protecção física, a vigilância, a detecção e o
alarme.

A protecção e segurança do museu constituem umas das mais importantes


obrigações que o conservador ou responsável de um museu deve cumprir com a
maior precisão e zelo. É por isso que cada museu deve dispor de um plano de
segurança periodicamente testado em ordem a garantir a prevenção de perigos
e a respectiva neutralização (Art. 33º da Lei-Quadro dos Museus Portugueses), cuja
natureza é confidencial (Art. 38º).

Há diferentes aspectos que devem ser considerados:

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I. O pessoal de segurança. A segurança dos museus recai sobre os vigilantes. Os


sistemas mecânicos e electrónicos podem complementar eficazmente a vigilância
humana, mas nunca pode substitui-la.
O art. 36º da Lei-Quadro dos Museus Portugueses estipula a obrigatoriedade da
existência de vigilância presencial e quando necessária a existência de
equipamentos radiográficos de apoio para controlo dos visitantes.

II. Controle dos inventários – “o controle permanente dos objectos por meio de um
inventário e de sua inspecção directa joga com um papel triplo, indispensável na
segurança do museu, já que prevê um instrumento contra o roubo, uma indicação
imediata da ausência de um objecto e informação descritiva para recuperá-lo em
caso de roubo. O controle por meio do inventário é tão importante que devem ser
feitos todos os esforços para mantê-lo escrupulosamente em dia, assim como para
todos os ficheiros e medidas complementares de protecção”26.
Daí a importância fulcral do Inventário do espólio do MSML que se encontra em
fase já bastante avançada de elaboaração.

III. Protecção contra o fogo – “O fogo é o inimigo número um dos museus, pois os
danos que causa são, geralmente, irreparáveis. Tem tão graves implicações que
deve ser tido sempre que se trata de segurança nos museus. Os fins mais directos
da protecção contra o fogo são impedir que o fogo se produza, detectar a sua
presença, evitar que se estenda e extinguí-lo com o mínimo dano para as pessoas
e colecções que se encontrem no museu. Vista a complexidade deste tema e a
continua investigação e perfeccionismo nos aspectos técnicos da prevenção de
incêndios deve consultar-se uma fonte de informação completa e actualizada. A
mais útil é a “National Fire Protection Association”, organização internacional, sem
fins lucrativos, aberta a todo o mundo. Esta associação, publica anualmente um
conjunto de 16 volumes de regulamentos, normas e recomendações e manuais
elaborados pelos seus diferentes comités técnicos, entre os quais se encontram as
bibliotecas, museus e monumentos históricos”27.

Modos de prevenção:
- Garantir a limpeza regular dos locais com especial atenção aos espaços
menos utilizados, tais como cave, sótão, arrumos, vãos de escada, etc.;

26
FERNANDÉZ, Luis Alonso – Museologia introduccion a la teoria e práctica del museo. Op. Cit., p. 230.
27
Idem, p. 231.

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- Verificar periodicamente as instalações eléctricas e os sistemas de


aquecimento existentes, por mais sofisticados que sejam;
- Sempre que possível instalar um sistema de detecção automática de
incêndio; nos casos em que não seja possível instalar um sistema automático
de detecção, defina com o serviço de Bombeiros as medidas mínimas a
implementar, incluindo a instalação de extintores e de outros meios de combate
a incêndio, como baldes de areia, pás, etc.

Algumas das medidas referidas, como a fiscalização das instalações eléctricas,


constam da legislação em vigor que contempla igualmente os aspectos seguintes
que, pela sua importância, entendemos dever destacar:
- A elaboração de um regulamento de segurança incluindo um plano de
actuação em casos de emergência e a designação de um responsável pela
segurança;
- A formação e treino regular do pessoal da instituição na utilização de
extintores e dos outros meios de combate ao fogo, atribuindo a cada um uma
missão específica em caso de incêndio;
- A enorme importância em manter permanentemente desobstruídas as saídas
de emergência e de não autorizar, em caso nenhum, a utilização dos arrumos
para armazenamento de materiais combustíveis, tais como madeira, papel,
tecidos, etc.
Por mais sofisticados que sejam os equipamentos de segurança de que uma
instituição disponha, importa considerá-los como um meio que reforça mas não
substitui, em caso algum, a vigilância humana.

IV. Protecção contra o roubo e a intrusão. Mesmo que disponha de equipamentos


automáticos de segurança, nenhum edifício público ou Igreja deve ser deixado
sem vigilância humana, mesmo que esta seja exercida a título benévolo por
residentes da área.
Assim, devem ser realizadas as seguintes acções:
- ronda de inspecção, antes do encerramento;
- instalação de iluminação exterior;
- verificação periódica das fechaduras e a resistência das portas exteriores e
interiores;
- proteger objectos especiais em vitrinas;
- fotografar e inventariar as peças e actualizar esse inventário regularmente.

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Estas medidas devem ser rigorosamente observadas mesmo no caso da


instituição dispor de um sistema automático de segurança.

V. Postos centrais de vigilância – “Quanto maior é o museu e mais valiosas são as


suas colecções, mais necessária se torna a incorporação de um sistema de alarme
para complementar o trabalho do pessoal de segurança. Este sistema pode ser
dotado de28:
- dispositivos que provoquem um alarme local, por meio de sinais sonoros ou
visíveis;
- o recurso à conexão directa do sistema de alarme aos departamentos de
polícia ou bombeiros (todavia, nem sempre isto é fácil devido ao grande
número de sinais e as altas possibilidades de falsos alarmes que estes serviços
teriam de controlar);
- o uso de um posto central que receba os sinais dos equipamentos técnicos
instalados no museu, seleccione os alarmes reais e avise então os serviços da
polícia ou bombeiros. O termo posto central aplica-se, em geral, a um centro de
controlo exterior ao museu e que tem outros abonados que lhe enviam sinais
por meio de linhas telefónicas.

VI. Seguro. É urgente a criação das mais variadas apólices de seguros relativas ao
MSML, passando pelo edifício, furto e incêndio, mas também sobre as próprias
peças e funcionários.
Há que ter particular atenção aos processos de cedência de peças que envolvem
exigências de vária ordem e, entre elas, o seguro que se constitui como uma
condição indispensável à circulação de peças e simultaneamente como uma
garantia para a instituição ou particular que cede. O certificado de seguro deve
ser encarado como um passaporte com direitos e sem limite de obrigações29.

5.7. Conservação e Manutenção

Existe um conjunto amplo de aspectos e princípios que devem ser tidos em


conta enquanto meio de conservação, na medida em que são muitos e variados
os cuidados de manutenção, quer com o edifício, quer com as próprias peças,
que devem ser respeitados, contribuindo assim para a conservação preventiva
28
Idem, p. 232.
29
In Aa.Vv. – Temas de Museologia. Circulação de Bens Culturais Móveis. Lisboa: MC e IPM, 2004, p.
37.

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dos núcleos museológicos do MSML. Ressalve-se que os aspectos relativos ao


tratamento do edifício serão abordados mais adiante, quando for referida a
problemática em torno do edifício. Senão, vejamos os cuidados de manutenção
básicos a ter com o espólio museológico.

a. Movimentação das peças dentro do Museu30. O manuseamento efectuado em


condições deficientes, pode contribuir a médio ou longo prazo para a deterioração das
peças. Qualquer deslocação, ainda que em pequenos percursos, pode revestir-se de
alguma complexidade e/ou dificuldade, atendendo às características da peça a
movimentar e às suas eventuais fragilidades.
É importante a planificação e a supervisão de qualquer operação de manuseamento
e/ou deslocação, pelos riscos de que se pode revestir, sendo necessário o
estabelecimento de regras para maior segurança, bem como de equipamento
apropriado e em boas condições – as Regras Básicas para o Manuseamento que
devem ser seguidas e respeitadas (vide Anexo 7).
Sempre que se movimentem peças ou se proceda a trabalhos de manutenção
nas salas de exposição, estes devem ocorrer de preferência em horário de
encerramento ao público.
Operações complexas, como a montagem e a desmontagem de exposições revestem-
se de alguns riscos, pelo que é essencial salvaguardar o manuseamento das
peças.
No espaço destinado a uma exposição, é importante a criação de áreas onde as peças
permaneçam embaladas aguardando a instalação e deslocando-se as embalagens
vazias, previamente identificadas, para locais de armazenamento.

A deslocação de uma peça obedece sempre e em primeiro lugar a uma


observação atenta do seu estado de conservação e das suas fragilidades, para
que se definam, à partida, as regras de manipulação e movimentação mais
adequadas e seguras. A anotação prévia de anomalias salvaguarda não só a peça,
mas também as pessoas que vão proceder à sua deslocação.
Os cuidados devem ser redobrados quando se trata de peças de grandes dimensões
e/ou peso considerável, e a deslocação é efectuada com recurso a meios dinâmicos –
porta paletes, carrinhos – com auxílio dos meios humanos disponíveis, numa
conjugação de esforços que requer atenção em todas as fases de intervenção.

30
Idem, p. 87 e ss.

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Museu de Santa Maria de Lamas
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Os riscos são sempre muitos e de diferente natureza, pelo que devem ser previstos os
métodos a adoptar, não só no manuseamento da peça, mas também na sua
deslocação e instalação no local pré-definido.
As peças de grande dimensão têm geralmente pontos frágeis devendo o seu
manuseamento revestir-se de especiais cautelas e a sua deslocação ser efectuada em
movimentos lentos e sincronizados para evitar danos.

b. Reservas. Garantir as condições ambientais apropriadas para a preservação e


conservação das peças em reserva, é obrigação de todos os que trabalham em
instituições de carácter museológico.
As reservas devem ser locais arejados, limpos onde se efectuam verificações
periódicas do acondicionamento e estado de conservação das peças. O espaço
dedicado às reservas deve ser dividido preferencialmente por colecções e climatizado
de acordo com as características e necessidades das peças (vide Tabela 5).
Também este aspecto é contemplado pelo Art. 30º da Lei-Quadro dos Museus
Portugueses:

1. O Museu deve possuir reservas organizadas, de forma a


assegurar a gestão das colecções tendo em conta as suas
especificidades.
2. As reservas devem ser instaladas em áreas individualizadas
e estruturalmente adequadas, dotadas de equipamento e
mobiliário apropriados para garantir a conservação e segurança
dos bens culturais.

Acrescente-se ainda que nas reservas os objectos devem ser protegidos das poeiras,
poluentes e da luz; as peças devem ser dispostas de modo a permitir um fácil acesso
e inspecção regular.

67-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

Peças de pequenas Podem ser protegidas ou embaladas e guardadas em armários arejados, para evitar
dimensões a criação fungos.
Devem ser acomodadas em prateleiras de metal reforçadas para suportar o seu
Esculturas de média
peso, com pequenos intervalos entre elas para que o seu manuseamento não
dimensão
interfira nem cause danos nas peças mais próximas
Peças mais pesadas Colocam-se no chão, em cima de bases de madeira suficientemente fortes.
Devem permanecer de preferência suspensas em biombos de rede, não devem ser
Pinturas
amontoadas, por constituir um enorme perigo para a sua integridade e conservação.
Sempre que possível, devem ser guardados em pastas dentro de gavetas (nunca
Desenhos
enrolados).
Devem ser embalados, dentro de caixas de cartão e guardados em armários e
Livros
estantes.
Devem ser acondicionados em armários com gavetas, previamente forradas com
Têxteis de menores papel livre de ácido evitando o contacto directo com as peças e permitindo a
dimensões colocação das mesmas na posição horizontal, sem ter que recorrer a dobras, que
vincam o tecido.
Colchas, tapetes e Devem permanecer devidamente enrolados e cobertos com tecido, em zonas onde
tapeçarias se colocam bandas anti-traça, para protecção de possíveis infestações.
Devem guardar-se dentro de armários de metal ou madeira, suspensas em cabides
Peças de vestuário
forrados e tapadas com capas de tecido para as proteger do pó.
As peças não devem ser amontoadas e devem permanecer sempre que possível
Peças de mobiliário
tapadas como forma de protecção contra o pó.
Peças especialmente O acondicionamento deve ser feito sempre que possível, dentro de armários com
sensíveis portas de vidro ou em prateleiras com protecções e/ou amortecimentos de espuma
(cerâmica, vidro, ou de feltro que evitem desgastes ou choques entre elas, ou mesmo com
ourivesaria e outras) contentores devidamente forrados.
Dada a sua extrema diversidade tipológica e cronológica, colocam problemas
particulares de guarda em reserva. As colecções mais comuns e menos exigentes
do ponto de vista das condições de climatização e contentorização – artefactos
líticos e objectos em cerâmica – poderão ser mantidas em reservas de carácter
geral, com mobiliário de arrumação muito elementar, de preferência estantes
Peças de arqueologia
metálicas, ou contentores e caixas de plástico.
As restantes requerem condições especiais, tanto de climatização, como é o caso
dos metais, ou de acondicionamento dentro de pequenos volumes, tratando-se de
vidros, ou ainda de assentamento em suportes estáveis, como por exemplo as
ânforas.
O acondicionamento obriga ao uso de equipamentos desenhados especificamente
Mosaicos ou moedas
para o efeito.
Caracterizam-se pela diversidade de materiais que, com grande frequência, entram
na composição de uma peça. São exemplos, alguns tipos de esculturas africanas,
em que muitas vezes a madeira convive com o metal e matérias orgânicas como
resinas naturais, sangue, etc., os adornos corporais e os instrumentos rituais
ameríndios, produzidos por vezes com recurso simultâneo a tecidos, entrecascas de
árvore, plumária, madeira ou pedra.
Também no caso das colecções referenciadas à vida tradicional portuguesa é
frequente a convivência de madeira com o metal, tecido, papel, couro e outras
matérias animais. Estas colecções caracterizam-se ainda pela grande diversidade de
dimensões de peças que as integram, desde os amuletos a tecnologias
Colecções
originalmente indissociáveis da utilização de determinados edifícios, como os pisões
etnográficas
de lã. Dada esta diversidade, e, como tal, a dificuldade de conservação das peças
por tipos de materiais, bem como a necessidade de sistematização das colecções
por áreas geográficas e/ou culturais, e, dentro destas, pela função desempenhada
pelos objectos no âmbito da sociedade que os produziu (actividades produtivas,
cerimoniais, lúdicas, etc.), a organização das reservas das colecções de etnologia
encontra-se dependente de uma aferição particularmente complexa das condições
de climatização e de acondicionamento, no sentido de se encontrar o máximo
denominador comum entre os diferentes tipos de materiais, no primeiro caso, e de
equipamentos (armários, vitrinas, etc.) suficientemente modulares e versáteis no
segundo caso.

Tabela 5 – Tipologias de reserva e cuidados de acondicionamento In Aa.Vv. – Temas de


Museologia. Circulação de Bens Culturais Móveis. Lisboa: MC e IPM, 2004, p. 89 e ss

68-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

c. Embalagem e transporte
O transporte de obras de arte é sempre uma operação delicada, mesmo quando
efectuada por pessoas competentes e experientes. Há uma série de incidentes que
podem pôr em risco as peças, desde os erros humanos que ocorrem durante o
manuseamento, a oscilações bruscas de temperatura e humidade, a problemas de
vibração, choque, furto, incêndio, etc.
Salientam-se três aspectos, que se relacionam entre si, a ter em consideração quando
se transporta um objecto: a sua fragilidade e condição física, o tipo de material e o
sistema de embalagem.

Dentro das precauções elementares, destaque-se a importância do estudo prévio do


objecto a transportar:
- o estado deste deve ser descrito minuciosamente: fragilidade, danos, restauros
anteriores, lacunas, elementos soltos que o integram, suportes (realizando um esboço
detalhado ou através de registo fotográfico), medidas exactas, etc.
- Se se constatar que a obra de arte se encontra fragilizada ou instável, esta não deve
ser deslocada sem antes ser consolidada.

- Para garantir que num outro local de exposição as peças se mantenham dentro das
condições a que estão habituadas, é importante a medição da temperatura e da
humidade relativa no local de origem, bem como da sua amplitude de variação ao
longo do ano.

É ainda de suma importância a escolha do tipo de embalagem, materiais e soluções


mais adequadas a cada tipologia de peças (vide Anexo 7), consoante a sua natureza e
dimensão intrínsecas (qualquer embalagem deve proteger do choque, vibração,
agressões climatéricas e impurezas, ser funcional e fácil de transportar).
Atente-se ainda às particularidades inerentes ao transporte das várias tipologias de
núcleos museológicos (vide Anexo 7).

5.8. Exposição

É importante não esquecer que cada tipo de objecto necessita de cuidados


próprios no local de exposição, atendendo à sua natureza e ao local onde se
encontra.
Há uma série de aspectos que se tem de ter em conta na forma como se organiza e
monta o espaço expositivo, na medida em que estes influenciam directamente o

69-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

estado de conservação das colecções expostas. Estes resultam de uma conjugação


do que atrás foi dito, bem como de todo um conjunto de Regras Básicas (vide Anexo
7).

Acrescente-se, ainda, que os cuidados a ter com o espaço expositivo são, não só de
suma importância para o acervo permanente do MSML, como também para aquele
que possa vir a integrar temporariamente o seu espaço. De facto, no formulário de
avaliação de instalações e equipamentos (facility report) fornecido pela instituição
acolhedora de qualquer peça que venha a integrar uma exposição temporária, devem
constar todas as informações relativas a espaço disponibilizado para a exposição:
sistemas de controlo ambiental, níveis de iluminação, sistemas de segurança contra
intrusão e incêndio, procedimentos em matéria de vigilância, bem como descrição dos
locais de recepção e embalagem das peças. A avaliação destas condições é
importante e decisiva como critério de cedência31.

5.9. Prioridades do MSML

Dada a extensão das colecções do MSML, torna-se extremamente importante


determinar as prioridades no que respeita, primeiro, à conservação e, depois, ao
próprio restauro. Para tal, urge definir um conjunto de regras e prioridades tendo
como ponto de partida o que atrás foi dito.

Numa primeira fase, devem ser tomadas uma série de medidas simples relacionadas
com o próprio edifício do Museu. Como veremos adiante, algumas delas já estão a ser
paulatinamente concretizadas.
A aposta na Conservação Preventiva surge como um meio realmente eficaz de
controlo das condições de deterioração dos espólios. Neste campo, não nos
podemos esquecer do “Programa de Apoio à Aquisição de Material de Conservação
Preventiva” proporcionado pela RPM a partir do momento em que um dado Museu se
candidata à inscrição na Rede.

No âmbito da Conservação Preventiva devem ser estipuladas fases de actuação que


se auto-justificam:
1. Aquisição de meios (instrumentos de leitura de humidade e de temperatura);

31
Idem, p. 31.

70-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

2. Aquisição dos Equipamentos para colmatar as informações facultadas pelos


meios (desumificadores ou humificadores, ar condicionado, controladores da
entrada de iluminação natural, etc.), sem não esquecer a importância da
realização das desinfestações regulares.
3. Edifício

Relativamente ao restauro propriamente dito, entendido aqui enquanto intervenção


directa sobre as próprias peças, urge definir prioridades baseadas em diferentes
critérios: no estado de conservação das peças, nas tipologias ou mesmo numa aposta
na Colecção Prioritária do MSML (Arte Sacra) e, dentro desta, estabelecer novas
prioridades (assim, sugere-se o tratamento prioritário da subcolecção de Imaginária).

71-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

6. O Edifício

Segundo o Art.50º da Lei-Quadro dos Museus,


O Museu deve dispor de instalações adequadas ao
cumprimento das funções museológicas, designadamente de
conservação, de segurança e de exposição, ao acolhimento e
circulação dos visitantes, bem como à prestação de trabalho do seu
pessoal.

Acrescenta a mesma Lei-Quadro no que respeita à “Natureza das Instalações”, no seu


Art.51º, que

1. As instalações do Museu comportam necessariamente espaços


de acolhimento, de exposição, de reservas e de serviços técnicos e
administrativos.
2. O Museu deve dispor de espaços adequados ao
cumprimento das restantes funções museológicas,
designadamente, biblioteca ou centro de documentação, áreas para
actividades educativas e para oficina de conservação.

6.1. Estado Actual

O edifício que acolhe o MSML apresenta um carácter muito próprio decorrente da sua
época de construção (meados da década de 1950), com destacadas marcas
arquitectónicas (ex.: arcada), que poderão elas próprias vir a funcionar como imagem
de marca do próprio Museu, dado o seu carácter tão particularizado.
Não se esqueça a ligação ao Parque num prolongamento externo do Museu
potencializando o seu uso lúdico, ao qual não é também alheia a proximidade física do
Colégio Liceal de Santa Maria de Lamas dotado de equipamentos de apoio como
sejam um grande anfiteatro, criando ainda um potencial espaço para o alargamento do
espaço museológico.

Muito embora o MSML não apresente muitas das condições mínimas exigidas a um
espaço museológico, particularmente no que toca à acessibilidade e à existência de
espaços de acolhimento, não deixa por isso de apresentar possibilidades para futuras
adaptações.

72-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

Um dos aspectos mais urgentes prende-se com a falta de conservação e manutenção


do edifício durante tempo prolongado daí decorrendo a consequente degradação do
mesmo graças a:
- Infiltrações de águas pluviais e humidade (aos mais diversos níveis);
- Luz natural não controlada;
- Difíceis condições de isolamento (para o exterior e entre as diversas salas);
- Falta de Segurança (inexistência de meios de vigilância e de protecção, assim
como de seguros);
- Ataque de Xilófagos (tanto nas próprias peças, como no pavimento e suportes
expositivos);
- Oscilações acentuadas de temperatura (sem qualquer tipo de controlo);
- Pavimento apresenta algumas falhas e lacunas.
Todos estes aspectos contribuíram ainda para a degradação das peças que o mesmo
abriga.

6.2. Áreas de acolhimento

A ausência de áreas de acolhimento como casas de banho, bengaleiro, cafetaria, sala


de serviços educativos, áreas de descanso, espaços para os serviços de gestão do
MSML, etc., é uma realidade no MSML. Já começou a ser tratada entre Junho e
Setembro de 2004 com as obras de adaptação de uma pequena Sala na entrada do
Museu (antiga Sala de Numismática) a Recepção.

Fig. 4 – Antiga Sala de Numismática e a mesma após as obras de adaptação a Recepção


do MSML.

73-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

A interligação do MSML com o antigo edifício do Colégio Liceal de Santa Maria de


Lamas cria um potencial para alargamento do espaço museológico, através da
adaptação das antigas salas de aula a novos espaços museológicos:
- Espaços de Acolhimento;
- Biblioteca e Arquivo;
- Sala de Exposições Temporárias;
- Reservas e Reservas visitáveis;
- Laboratórios de Conservação e Restauro;
- Espaços para Serviços Educativos;
- Gabinetes para os quadros administrativos do Museu;
- etc.

6.3. A acessibilidade do espaço

O Decreto-Lei 123/97 de 22 de Maio define as normas a seguir nas construções para


as dotar de plena acessibilidade. Contudo, na maioria dos casos, os edifícios em que
os museus estão instalados não são criados de raiz para o efeito, antes tratando-se de
edifícios de valor histórico e patrimonial, o que por isso poderá dificultar o cumprimento
da lei (vide Anexo 5).

O assunto é extremamente delicado no tratamento do espaço museológico,


particularmente no MSML face às dificuldades e obstáculos existentes no seu percurso
interno.
São vários os tipos de obstáculos existentes à acessibilidade, dos quais apenas
destacamos os três primeiros:

a. Físicos. Estes surgem na medida em que o MSML foi criado numa época em que
provavelmente as questões ligadas à acessibilidade ao espaço museológico por
parte de pessoas com deficiências não eram ainda tão debatidas.
Os potenciais obstáculos físicos podem começar, por exemplo, pelo próprio parque
de estacionamento (falta de espaço) e entrada do museu (degraus e por vezes
portas muito estreitas).
A melhor forma de identificar estes obstáculos no MSML é proceder à realização
de percursos no interior do museu na companhia de pessoas com mobilidade
reduzida, o que ajuda também a detectar quais os melhores locais para fazer uma
pausa e descansar.

74-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

b. Sensoriais. Ao conceber uma exposição temos de pensar nas pessoas com


problemas auditivos e visuais, caso contrário alguns visitantes não conseguirão ter
acesso à informação. A incapacidade de ouvir ou ver implica que, o visitante
precise de uma visita mais longa para conhecer o acervo. As necessidades
especiais auditivas implicam mais tempo para captar a informação na língua
gestual do que na língua oral. Por outro lado, as necessidades especiais visuais
tornam mais difícil a orientação dentro do museu e podem transformar um
momento de lazer num pesadelo. Logo, as pessoas com problemas de visão terão
dificuldades em localizar obras expostas, a informação correspondente, os
funcionários do museu, os diversos serviços e a saída, se não tivermos em
consideração todos os tipos de público na preparação das exposições32.
c. Intelectuais. A acessibilidade tem de ser considerada não só do ponto de vista
físico, mas também do ponto de vista intelectual, ou seja, ao nível da percepção e
compreensão das obras e objectos expostos. Muitas vezes, os textos informativos
possuem uma linguagem especializada e complexa, partindo do princípio que o
visitante dispõe de conhecimentos para os interpretar.
No caso de pessoas com deficiências mentais, os obstáculos podem ser de três
níveis:
- Orientação no espaço (importância da sinalização);
- Percepção sensorial (a existência de muitos estímulos simultâneos pode levar
a problemas de atenção e concentração, logo situações paralelas devem ser
evitadas);
- Linguagem aplicada na informação.
d. Emocionais
e. Culturais
f. Financeiros

Muitas pessoas com deficiência sentem-se marginalizadas e impossibilitadas de


exercer em pleno os seus direitos e deveres. São várias as razões pelas quais, ainda
hoje, são excluídas na nossa sociedade e, embora esta exclusão não seja intencional,
é fruto da falta de conhecimento; do esquecimento por parte de quem concebe os
espaços, equipamentos e de quem dinamiza os serviços e também do receio de não
saber lidar com a situação. Podemos constatar que o trabalho com pessoas que
apresentam necessidades especiais é evitado por ser considerado mais desgastante.
Do mesmo modo, as atitudes pré-concebidas podem criar situações de discriminação,

32
“Atitudes Perante as necessidades especiais” In Aa.Vv. – Temas de Museologia. Museus e
Acessibilidade. Lisboa: MC e IPM, 2004, p. 29.

75-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

expressas por comportamentos de super protecção e rejeição, quer por parte do


público em geral, quer por parte dos técnicos, logo estes precisam de formação
específica para que os consigam acompanhar devidamente.
Nesta perspectiva, os espaços e equipamentos para o uso público, devem estar
disponíveis e, no caso específico dos museus, as pessoas com deficiências devem
poder efectuar a sua visita sozinhas, se possível, sem necessidade de marcação
prévia e sem dependerem de grupos especialmente organizados.
Se é normal fornecer o guia do museu em várias línguas estrangeiras, uma versão em
Brialle ou em “linguagem fácil”, deve ser encarada da mesma forma. Uma visão multi-
sensorial do museu evita a exclusão. Usando informação escrita e oral com
diversos meios de complexidade e empregando meios de comunicação visuais,
orais, tácteis e interactivos, o museu cumprirá melhor a sua missão,
comunicando mais eficazmente com as pessoas33. Esta abordagem não implica a
banalização ou perda de qualidade da informação, pelo contrário, permite reflectir
sobre os objectivos estabelecidos, avaliar a eficácia do trabalho realizado, atingir um
público mais vasto, enriquecer as exposições e descobrir mais valias no seu acervo.
Todos os funcionários devem ser sensibilizados para esta realidade, para a
diversidade e diferença dentro da sociedade, bem como todos os decisores, os que
dirigem e programam, concebem e planeiam as exposições. Toda a equipa deve
receber formação sobre a maneira de encarar a acessibilidade, bem como quem
desempenha funções junto do público deve conhecer as condições de: acessibilidade
do espaço, equipamento, serviços e de cada nova exposição.

Assim, torna-se fundamental implementar uma política de acolhimento de


pessoas com deficiências no MSML por forma a responder o melhor possível às
suas necessidades, de acordo com aquilo que o Museu lhes tem para oferecer.
Para assegurar que as iniciativas do museu vão ao encontro das necessidades e
interesses dos diferentes grupos e estão adequadas às suas capacidades é crucial
que as pessoas com necessidades especiais participem activamente na sua
estruturação. Esta é a única forma de assegurar que a iniciativa vai corresponder às
suas necessidades e capacidades. Assim, parcerias formais e informais com as
pessoas com deficiências e seus representantes são preciosas para identificar
necessidades e ouvir sugestões. O diagnóstico das necessidades deve ser então
planeado e pode ser implementado de várias formas34:

33
“Atitudes Perante as necessidades especiais” In Aa.Vv. – Temas de Museologia. Museus e
Acessibilidade. Lisboa: MC e IPM, 2004, p. 22.
34
Idem, p. 27 e 28.

76-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

- Consultar os interessados (escolas, centros de apoio, etc.) o que constitui uma


boa forma de reunir informação sobre as pessoas com deficiência: áreas de
interesse e condicionantes que a sua condição implica;
- Identificar os recursos disponíveis na comunidade, entre os quais associações de
pessoas deficientes, centros de recursos educativos e culturais existentes na área
geográfica do museu que poderão colaborar na implementação de actividades
para pessoas com necessidades especiais;
- Implicar todos os intervenientes através de reuniões com os diversos sectores
implicados no processo, como sejam: políticos, autarcas, pessoas com
necessidades especiais e seus familiares, profissionais de educação e saúde, o
que leva à partilha de ideias, a uma maior sensibilização e predisposição para
colaborar em iniciativas do museu. Paralelamente a isto, a realização de
actividades em parceria com os diferentes agentes sociais gera uma participação
activa da comunidade, nomeadamente, através da realização de iniciativas
conjuntas com, por exemplo, os Conselhos Municipais de Educação onde estão
representados todos os organismos da comunidade educativa;
- Testar previamente as actividades, por exemplo, ao convidar pessoas com
deficiência a visitar previamente uma exposição, ou seja, antes da abertura ao
público das actividades propostas, bem como os materiais elaborados devem ser
testados com a sua colaboração, o que permitirá adequar melhor alguns aspectos.

Face aos muitos obstáculos e barreiras existentes no MSML, uma solução de


acolhimento de pessoas com deficiências motoras (uma das de mais difícil
solução), passaria pela criação de um espaço multimédia onde seria possível às
pessoas visualizarem o Museu e o seu espólio através de um filme ou de
programas informáticos interactivos especificamente concebidos para o efeito.

77-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

7. Business Plan

7.1 Situação Actual

A realização de um planeamento económico-financeiro para os próximos 5 anos do


MSML torna-se extremamente complicado devido à existência de alguns obstáculos
concretos:
- inexistência de dados relativos a visitantes para o ano de 2004;
- para os anos anteriores foram não contabilizados os visitantes escolares (a ausência
de contabilização dos grupos escolares altera radicalmente a avaliação dos potenciais
visitantes, tanto mais se tivermos em conta que este público é fundamental para o bom
funcionamento de um Museu);
- o facto de existir uma taxa de ingresso única (quando é obrigatória pela Lei-Quadro
dos Museus a existência de valores diferenciados);
- o desconhecimento relativo aos objectivos de gestão do MSML por parte Direcção da
Casa do Povo após a conclusão do Protocolo com a Universidade Católica Portuguesa
– Centro Regional do Porto (existência de quadro técnico especializado).

7.2. Situação ideal

Neste sentido, e tendo consciência destas dificuldades, apenas é possível criar


uma situação a partir de pressupostos concretos que, caso venham a verificar-
se, poderão contribuir de forma significativa para o crescimento do MSML aos
mais variados níveis.

Assim, as nossas propostas são:


- considerar uma taxa anual de crescimento de 10%: visitantes, receitas
extraordinárias (como catálogos, postais e marcadores de livros, etc.), ingressos
variáveis;
- criação de um quadro técnico mínimo do MSML no ano de 2005;
- criação de um Serviço Educativo a funcionar plenamente no ano de 2006: este
permitiria um aumento substancial dos públicos escolares (da região de Santa Maria
da Feira, mas também do Porto e de Aveiro) devido à existência de um serviço
especializado, dotado de meios e materiais de acolhimento;

78-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

- incremento da divulgação do MSML no ano de 2007: existindo já um Público


consolidado nas regiões mais próximas, seria conveniente cativar um público
geograficamente mais amplo; neste sentido, poderia ser desenvolvido:
- concepção de um website de divulgação (tendo em conta que em 2007 a
catalogação do espólio do MSML encontra-se concluída), sendo uma das vertentes de
Marketing em que se poderá apostar;
- a criação de catálogos especializados (partindo também do pressuposto
acima referido);
- realização de exposições temporárias (tendo em conta a maior projecção do
MSML, facto que contribuirá de forma única para a consolidação da confiança por
parte de outras instituições congéneres);

Há que ressalvar que estas acções envolvem obrigatoriamente o aumento da


despesa. Todavia, é importante ter atenção ao facto de que o aumento do
número de visitantes surge como uma primeira consequência do crescimento a
que o aumento de despesas obriga. E com o aumento do número de visitante,
verificam-se outros factores de crescimento como o aumento do número de
ingressos vendidos, o incremento do merchandising ligado ao MSML, o
desenvolvimento dos serviços oferecidos pelo MSML, etc.
Estas vertentes do crescimento económico do MSML terão necessariamente
influências directas ao nível da gestão das colecções.

79-109
Anexos
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

ANEXO 1

81-109
RESULTADOS DAS RESPOSTAS AO INQUÉRITO
"Avaliação dis Públicos Visitantes dos Serviços Culturais
do Concelho de Santa Maria da Feira

INSTITUIÇÃO

Feira Viva
Castelo de Museu Cultura e Desporto
Parque
Santa Municipal "Imaginarius" Museu do Papel
Ornitológico Cine-Teatro Projecto
Maria da Convento Festival Internacional Terras de Santa Maria
de Lourosa António Viagem
Feira dos Lóios de Teatro de Rua de
Lamoso Medieval
Santa Maria da Feira
c. 3000 (p/ 3.200 ( base 500.000
Nº Visitantes mês) ano) Muito variável vide Tabela anexa (estimativa) vide Tabela anexa
As edições de 2001 a
2003
decorreram em
2000-2002
Setembro.
Primavera e Setembro a (Junho) De Outubro a Julho
A edição de 2004
Verão Maio 2003 e 2004 (ano lectivo)
esteve incluída na
(Agosto)
programação cultural do
Épocas do ano Euro 2004, pelo que foi
mais visitadas Verão realizada em Junho.

Grupos X X
X
Tipologia visitantes

X X
Escolares X X X
Universitários X X X X
Terceira Idade X X X X
Famílias X X X X
Estrangeiros X X X
Particulares
X
X X X X X
Encontra-se O facto de se
encerrado realizar
ao público Público entre em Agosto
desde 2000. os A tipologia dos inibe a
Observações:
Por isso, 18 e os 30 visitantes é participação
não existe anos diversa atendendo aos da O Público que mais visita
actualização espectáculos que se comunidade o Museu é a comunidades
de dados realizam na rua escolar escolar, em Grupos
Aplicável
apenas a
situações
Variáveis Variáveis pontuais
Variável
(vide Tabela (vide Tabela como: Torneio
(vide Tabela anexa)
anexa) anexa) Medieval (8€)
Variável Espectáculos Gratuitos e Justas
Entre os 5€ e (realizam-se no espaço Medievais
Taxas de Ingresso os 15€ público) (3€)
3ª a 6ªF -
9.30-12.30;
9.00h-17.00h
13.30-17.00
(1 de
Sáb/Dom/Feri
de Funcionamento

Inverno
Novembro a Depende dos
ados - 10.00- Espectáculos Nocturnos
30 de Abril) espectáculos.
12.30; 9.00h- (21.00h-02.00h) 30 de Julho a
Horário

Com 3ª a 6ªF - 9.30h-12.30;


13.30-17.30 12.30h Programas de formação 8 de Agosto
mais 14.00h-17.00h
3ª a 6ªF - decorrem das 12.30h às
frequência Sáb e Dom - 15.00h-18.00h
9.30-12.30; 14h-17.30h durante a manhã e a 02.00
9.00h-18.00h nocturna e fim
13.30-18.00 tarde
(1 de Maio a de semana
Verão Sáb/Dom/Feri
31 de
ados - 10.00-
Outubro)
12.30;
13.30-18.30
Divulgação
Meios de

Catálogo X
X

Prospectos X X X X
X X

83-109
Website X X X
X X

Merchandising X
X
Outdoors,
Outdoor,
Imprensa Local e imprensa, Acções de divulgação
meios de
Outros Exposições Livros Nacional televisão na imprensa, participação em
comunicação
Rádios Locais (spots e congressos e seminários
social
directos) nacionais e internacionais
Serviços
sujeitos a
Sim
procura
regular Sim Sim
Actividades de Visitas
Educação guiadas ao
Projectos de Formação
Ambiental Castro de Visitas guiadas, oficina de
Tipologia dos nas
direccionadas Romariz, produção manual de papel de
Projectos artes do espectáculo e
para os ermo (?) algodão, maleta pedagógica
em curso especificamente, Teatro
Serviços Educativos

programas núcleo móvel


de Rua
curriculares pertencente
em vigor ao Museu
Público em geral, jovens
ligados
ao teatro e ao
Públicos a que Grupos Comunidade escolar, grupos
espectáculo,
se dirigem escolares de papeleiros, universitários
estudantes e
associações
culturais profissionais
Serviço a Sendo grande parte dos Projecto de cooperação com o
iniciar no mês espectáculos e programas Pelouro do Ambiente da Câmara
de Novembro, de formação ministrados Municipal da Feira "Vamos
pelo que não por companhias Aprender a Reciclar 2004" - Festa
Observações: estrangeiras, existe
existem dados grande procura por parte
do Ambiente; Moinho de Papel na
a relatar de profissionais nacionais Viagem Medieval 2004
para adquirirem novas

84-109
técnicas nesta área

Recepção X X X X
Bengaleiro X
Loja X X X
Livraria X X
Sala de
Serviços
Acolhimento
Espaços de

Educativos X X
Auditório X X X
WC X X X X X
São utilizados ainda
Associações da
Cidade, Posto de
Turismo, Equipamentos
Outros Bar
Camarários (Piscinas Sede de
Municipais, Pavilhão evento e
Bar (onde se Desportivo e Biblioteca Posto de
insere a loja) Municipal) Turismo
Tel. 256 374
608 Tel. 22 7442947; Fax. 22 7459932
Feira Viva Cultura e
Fax. 256 374 Tel. 256 330 E-mail (provisório):
Contactos: Desporto E.M.
608 900 museudopapel@hotmail.com
256 330 900
22 7459822 Recepção - Rua de Riomaior, 338
93 8781078 256 372 248 4535-301 Paços de Brandão
Elsa Joana Cortez Maria José Adriana Márcia
Preenchido por: Lourenço Silva Lopes de Oliveira Brandão Cristina Pedrosa Fernandes Daniela Brandão
12 de 30 de 27 de 30 de
Outubro de Setembro de Setembro 8 de Outubro 30 de Setembro de Setembro de
Data 2004 2004 de 2004 de 2004 2004 2004 3 de Novembro de 2004

85-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

ANEXO 2

86-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

1. Museus
- Museu Municipal – Convento dos Lóios
- Museu do Papel Terras de Santa Maria
- Museu de Santa Maria de Lamas

2. Património
- Castelo de Santa Maria da Feira
- Igreja Matriz de Santa Maria da Feira
- Igreja da Misericórdia
- Castros de Romariz e de Fiães
- Solar dos Condes de Fijô
- Casa da Portela
- Quinta da Torre
- Casa Antiga de S. Jorge
- Praça da República

3. Lazer
- Parque Ornitológico de Lourosa
- Biblioteca Municipal
- Cine-teatro António Lamoso (Cineclube da Feira)
- Piscinas Municipais
- Ceias Medievais
- Centro de Cultura e Recreio do Orfeão da Feira
- IMAGINARIUS - Festival Internacional de Teatro de Rua de Santa Maria da
Feira
- Viagem Medieval – Semana Medieval
- 11º Encontro de Teatro de Paços de Brandão
- 8º Festival de Cinema Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira (5-12 de
Dezembro de 2004)
- Cinemas – Suil Park Shopping

4. Natureza
- Quinta do Castelo
- Jardins Municipais
- Jardins Europarque

87-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

- Porto Carvoeiro
- Quinta do Engenho Novo

5. Artesanato

6. Alojamento
- Hotel Nova Cruz
- Hotel Pedra Bela
- Residencial dos Lóios
- Inatel – Quinta do Castelo
- Pensão S. Jorge
- Hotel Íbis
- Residencial Tony
- Residencial Pousada do Sossego
- Quinta das Ribas

7. Termas de S. Jorge

8. EUROPARQUE
- Centro de Congressos
- Centro Cultural
- Centro de Ciência Visionarium
- IDIT – Instituto de Desenvolvimento e Inovação Tecnológica.
- PortusPark – Parque de Ciência e Tecnologia

88-109
Museu de Santa Maria de Lamas
Plano Museológico

ANEXO 3

89-109
90-109
ANEXO 4

91-109
92-109
ANEXO 5

93-109
BARREIRAS QUE IMPEDEM A ACESSIBILIDADE DO ESPAÇO35

ESPAÇO INTERIOR

Transportes – Um obstáculo físico pode ser a localização do museu, caso este esteja fora do
alcance dos transportes públicos. Caso tal suceda, deverá se ponderar a possibilidade de
fornecer ou facilitar os transportes ou negociar com empresas do ramo

Estacionamento – Devem ser reservados, no mínimo, dois lugares para veículos, em que
um dos ocupantes seja uma pessoa com necessidades especiais (as dimensões do espaço
reservado deve ser, no mínimo, de 550cm x 350cm). Esses lugares devem ser demarcados a
amarelo sobre a superfície do pavimento e assinalados com uma placa indicativa de
acessibilidade (símbolo internacional); para autocarros e carrinhas, deve também ser
reservado um espaço de carga e descarga de cadeiras de rodas. Todos estes lugares
reservados devem ficar o mais próximo possível da entrada do museu.

Passeios e vias de acesso – O percurso entre o estacionamento e a entrada do museu deve


ser acessível. A largura mínima livre do passeio deve ser de 120 cm. Os lancis devem ser
rebaixados a toda a largura da passagem para peões, pelo menos até 2 cm da superfície da
mesma, para que a superfície do passeio que lhe fica adjacente proporcione uma inclinação
suave. A inclinação máxima, no sentido longitudinal, dos passeios e das vias de acesso é de
6%, no sentido transversal de 2% e a largura mínima de 225 cm. Os pavimentos devem
compactos e revestidos com materiais cuja textura proporcione uma boa aderência (por
exemplo, o alcatrão). As grelhas das tampas de esgotos não devem exceder no diâmetro os 2
cm. Por último, o espaço mínimo entre os postes de suporte dos sistemas de sinalização
vertical é de 120 cm no sentido da largura do passeio ou da via de acesso.

35
“Atitudes Perante as necessidades especiais” In Aa.Vv. – Temas de Museologia. Museus e
Acessibilidade. Lisboa: MC e IPM, 2004, p. 33-50.

94-109
ESPAÇO INTERIOR

Portas e corredores – O átrio de entrada não deve ter degraus ou desníveis acentuados.
Quanto às portas, as mais indicadas para a circulação são simples vãos na parede, com uma
cortina de ar. Depois as portas de correr. Asportas de batente devem ter puxadores em forma
de alavanca e não maçanetas. As fechaduras e manípulos das portas (que devem ser de
muleta) devem ter uma altura de 90 cm. A largura útil mínima dos vãos das portas de entrada
é de 90 cm, devendo-se evitar as portas giratórias. Os vestíbulos e corredores devem ter uma
dimensão que permita a manobra de retorno às pessoas; deve ser possível a inscrição de
uma circunferência com 120 cm de diâmetro e nos corredores de 150 cm.

Escadas – Quando houver recurso a escadas, estas devem ter a largura mínima de 150 cm,
estar equipadas com guardas dos lados exteriores e corrimões, de ambos os lados a 85 cm
ou 90 cm de altura, preferencialmente de madeira e com 4 cm de espessura de diâmetro. No
início das escadas, a textura do material que a reveste deve ser diferente da do pavimento
que as antecede. Os focinhos dos degraus devem ser assinalados com um contraste
cromático (tinta ou material anti derrapante), com uma largura de 5 cm em cada face;
boleados, com altura máxima de 16 cm e realizados em material com boa aderência. Em
último recurso, caso não haja possibilidade de acessibilidade, um visitante em cadeira
de rodas, poderá ver o museu através de um filme (criação de sala para o efeito).

Desníveis e rampas – O espaço expositivo não deve ter desníveis. A eliminação de degraus
traz vantagens, não só para os visitantes, como também para os funcionários (transporte de
peças e equipamento). Qualquer desnível com mais de 2 cm de altura deve ser rampeado ou
rebaixado; a inclinação não deve ultrapassar o 6 % (inclinação transversal 2%); extensão
máxima de um lanço deve ser de 6 m e a cada lanço deve seguir-se uma plataforma de nível
para descanso, com a mesma largura da rampa e 150 cm de comprimento. A largura mínima
das rampas deve ser de 150 cm (ambos os lados devem ter cortinas com duplo corrimão; um
a 90 cm e outro a 75 cm da superfície da rampa; os pavimentos das mesmas devem ter
protecção e revestidas de material que proporcione boa aderência e com diferenciação de
textura no inicio e fim da mesma).

Elevadores – Caso não exista elevador público, deve ser usado o de serviço.

Sinalética – Todo o espaço do museu deve ser claramente identificado de forma simples e

95-109
clara de modo a proporcionar uma boa orientação; deve existir sinalética que ceda
informação sobre o tipo de acessibilidade existente no museu. É importante o uso de
símbolos visuais e tácteis de fácil compreensão, que indiquem claramente os percursos, por
exemplo pela utilização de códigos de cor para cada área (Fig. 2). Os painéis informativos
devem ser de leitura fácil, pelo que o seu alinhamento deve indicar de forma clara a indicação
a seguir.

Uma melhor compreensão é facilitada por um contraste cromático forte entre as letras e o
fundo da placa informativa e outro entre o fundo da mesma placa e o suporte (parede,
expositor) onde está colocado. Quanto ao tipo de letra, pode ser variado, embora as letras
complexas, com sombras ou efeitos tridimensionais sejam de evitar. Deve-se adoptar letras e
números de fácil distinção. Quanto ao seu tamanho, depende da distância do leitor típico (no
caso de letras suspensas no tecto, as maiúsculas devem ter pelo menos 7,5 cm de altura e
nas tabelas de 1 a 3 cm; o tamanho da letra das legendas deve ser legível a um metro de
distância). O tamanho das letras depende da distância de leitura.

96-109
Iluminação – é necessário ter atenção a outros aspectos, tais como:
- Eliminação de sombras que podem ser confundidas com obstáculos;
- Incidência de focos de luz sobre superfícies brilhantes podem produzir encadeamento
ou sugerir o chão molhado;
- Escadas e cantos de salas devem ser bem iluminados;
- Evitar que a luz encandeie o visitante;
- Durante as visitas deve-se para em locais onde a cara do guia esteja iluminada para
permitir também a leitura labial;
- Exposições devem prever espaços bem iluminados ao lado das peças expostas para o
uso do intérprete de língua gestual.

Luz ambiente 50-300 lux


Sinalética 100-300 lux
Rampas e escada 100-300 lux
Percursos e corredores 100-300 lux

Devem ser tomadas as seguintes medidas para tornar os objectos visíveis para o maior
número de visitantes:
- Devem reduzir-se ao mínimo as diferenças de iluminação dentro de uma sala e entre
as salas. Eventuais diferenças devem ter uma transição gradual para permitir a
habituação às mudanças de luz;
- Quando uma zona de exposição é necessariamente escura, deve haver um corrimão
que comece antes desta zona e a percorra toda para permitir a quem a vê mal no escuro
andar com confiança.

Áreas de pausa ou de descanso - como as pessoas têm diferentes alturas e graus de

97-109
mobilidade, esses espaços devem conter cadeiras de diferentes alturas e tamanhos.
Recomenda-se uma altura do assento de 43-51 cm, sempre com costas de pelo menos 45
cm de altura. Uns devem ter apoios para os braços e outros não. Um contraste cromático
entre os assentos e o chão e os assentos e parede, evita que se transformem num obstáculo.
A sua localização é importante. Não devem ser colocados por baixo de painéis informativos
ou extintores, nem junto a portas. Uma alternativa às cadeiras e bancos, são encostos com
altura compreendida entre os 75 e 80 cm.

Auditórios - é comum reservar-se para pessoas em cadeiras de rodas o espaço em frente da


primeira fila, atrás de todas as filas ou na coxia lateral.; devem estar espalhados pelo
auditório, sempre ao lado da coxia; perto da saída; solução é preparar algumas das cadeiras
para serem retiradas quando necessário.

Casas de banho - uma das cabines deve medir 220 cm x 220 cm, para permitir o acesso o
acesso por ambos os lados da sanita. Nesta cabine é obrigatória a colocação de barras de
apoio. A porta deve ser de correr ou de abrir para o exterior. O pavimento deve oferecer boa
aderência. A colocação de lavatórios a 80 cm da superfície, apoiados por poleias e não por
colunas. As torneiras devem ser automáticas. Devem ser apetrechados com equipamento de
alarme adequado, ligado ao sistema de alerta.

Telefone

98-109
ANEXO 6

O CONSERVADOR-RESTAURADOR: CÓDIGO DE ÉTICA

99-109
Realizado pela “European Confederation of Conservator-Restors’ Organizations”
(ECCO) e adoptado em Assembleia Geral (Bruxelas, 11 de Junho 1993)

I. Princípios gerais para a aplicação do código


Artigo 1. O Código de Ética diz respeito aos princípios, obrigações e comportamentos,
que cada Conservador-restaurador, pertencente como membro da organização ECCO,
deve lutar pela prática da sua profissão.
Artigo 2. A profissão de Conservador-restaurador constitui uma actividade de
interesse público e deve ser praticada na observância de todos as leis e acordos
pertinentes, tanto a nível nacional como europeu, especialmente no que diz respeito
aos bens culturais roubados.
Artigo 3. O Conservador-restaurador executa o seu trabalho directamente nos bens
culturais e é pessoalmente responsável perante o proprietário e a sociedade. O
Conservador-restaurador tem o direito de em todas as circunstâncias de se recusar a
qualquer solicitação, que ele entenda como em contrário com os termos ou espírito do
seu código.
Artigo 4. A falta da observância destes princípios, obrigações e proibições do Código
de ética, constitui uma pratica anti-profissional e conduzirá a profissão a um
desrespeito.

II Obrigações relativas aos Bens Culturais


Artigo 5. O Conservador-restaurador deve respeitar o significado estético e histórico e
a integridade física dos bens culturais que lhe estão afectos.
Artigo 6. O Conservador-restaurador, em colaboração com outros profissionais
relacionados com a salvaguarda dos bens culturais, deve ter em consideração os
requisitos da sua utilização social, enquanto salvaguarda desses mesmos bens.
Artigo 7. O Conservador-restaurador deve-se reger pelos mais elevados padrões,
independentemente de qualquer opinião sobre o valor de mercado dos bens culturais.
Embora existam circunstâncias que possam limitar a extensão da acção de um
Conservador-restaurador, o respeito pelo Código nunca deve ser comprometido.
Artigo 8. O Conservador-restaurador deve ter em consideração todos aspectos
relativos à conservação preventiva, antes de intervir em quaisquer bens culturais e
deverá cingir-se apenas ao tratamento necessário.
Artigo 9. O Conservador-restaurador deve lutar pela utilização apenas de produtos,
materiais e procedimentos que, estejam de acordo com os seus níveis de
conhecimento, que não danifiquem os bens culturais, o meio ambiente ou as pessoas.
A forma de utilização e os materiais aplicados não devem interferir, sempre que

100-109
possível, com futuros diagnósticos, tratamentos ou análises. Devem ser compatíveis
com os materiais constituintes dos bens culturais e, tanto quanto possível, fáceis e
completamente reversíveis.
Artigo 10. A documentação deve de incluir registos do diagnóstico, intervenções de
conservação e restauro e outras informações consideradas relevantes. Esta
documentação é parte integrante do objecto e deve estar disponível para o acesso
devido.
Artigo 11. O Conservador-restaurador deve realizar o trabalho, se for tiver
competência para isso. O Conservador-restaurador não deve nem começar ou
continuar um tratamento, que não se considere como o melhor interesse para esse
bem cultural.
Artigo 12. O Conservador-restaurador deve empenhar-se para enriquecer os seus
conhecimentos e capacidades, com o objectivo permanente de melhorar a qualidade
do seu trabalho a nível profissional.
Artigo 13. Sempre que se mostre necessário ou adequado, o Conservador-
restaurador deve consultar historiadores de arte ou especialistas em análises
científicas e deve participar conjuntamente numa troca ampla de informação.
Artigo 14. Em qualquer situação de emergência, onde um bem cultural esteja em
perigo iminente, o Conservador-restaurador, qualquer que seja o seu área de
especialização, deve dar toda a assistência possível.
Artigo 15. O Conservador-restaurador nunca deve remover materiais dos bens
culturais, a não ser que seja estritamente indispensável para a sua preservação ou
que interfira de tal forma com o seu valor histórico ou estético.
Os materiais removidos devem ser conservados, se possível, e o procedimento
documentado devidamente.
Artigo 16. Sempre que a utilização de um bem cultural seja incompatível com a sua
preservação, o Conservador-restaurador deve discutir com o proprietário ou seu
responsável legal, como executar uma reprodução de forma a não danificar o original.

III Obrigações para com o proprietário ou responsável legal


Artigo 17. O Conservador-restaurador deve informar o proprietário sobre toda e
qualquer acção solicitada e especificar os meios adequados para a sua manutenção
futura.
Artigo 18. O Conservador-restaurador é obrigado a manter confidencialidade
profissional. Sempre que queira fazer referência a um bem cultural deve obter o
consentimento do proprietário ou legal responsável.

101-109
IV . Obrigações para com os colegas e a profissão
Artigo 19. O Conservador-restaurador deve manter um espírito de respeito pela
integridade e dignidade dos colegas e da profissão.
Artigo 20. O Conservador-restaurador deve, dentro dos limites do seu conhecimento,
competência, tempo e meios técnicos, participar na formação de estagiários e
assistentes. O Conservador-restaurador é responsável pela supervisão do trabalho
realizado pelos assistentes e estagiários e tem a responsabilidade última sobre o
trabalho realizado sobre a sua supervisão.
Artigo 21. O Conservador-restaurador deve contribuir para o desenvolvimento da
profissão pela partilha de experiência e informação.
Artigo 22. O Conservador-restaurador deve empenhar-se para alcançar um
entendimento profundo da profissão e uma ampla consciência da conservação e
restauro entre os outros profissionais e o público.
Artigo 23. Os registos relativos à conservação e restauro pelos quais o Conservador-
restaurador é responsável são a sua propriedade intelectual (assunto relativo aos
termos de contrato de emprego).
Artigo 24. O envolvimento com o comércio cultural dos bens culturais não é
compatível com as actividades do Conservador-restaurador.
Artigo 25. Para manter a dignidade e credibilidade da profissão, o Conservador-
restaurador deve empregar apenas formas adequadas e informativas de publicitar a
sua relação com o trabalho.

A Confederação Europeia das organizações do Conservador-restaurador (ECCO)


preparou as Directrizes Profissionais baseadas no estudo de documentos de
organizações nacionais e internacionais de conservação ou não. “Conservador-
restaurador: uma definição da profissão (ICOM-CC, Copenhague 1984) foi o 1º
documento adoptado pela ECCO.

102-109
ANEXO 7

103-109
REGRAS E PRINCÍPIOS BÁSICOS

a. Manutenção do edifício
1. Evitar todo o tipo de acção que contribua para alterar ou agravar as condições
interiores do edifício, em termos de humidade e temperatura, de modo a não
colocar em risco o equilíbrio que as peças mantém com o meio envolvente.
2. Evitar a acumulação de matérias combustíveis (tintas, diluentes, gasolinas, etc)
que são cargas térmicas, para além de resmas de papel, pilhas de madeira,
etc.
3. Solucionar o problema das instalações eléctricas, designadamente curtos
circuitos provocados por más instalações ou instalações sobreaquecidas.
4. Desligar todos os aparelhos eléctricos durante a noite.
5. Manter escadas, arrumos e sótãos desimpedidos.
6. Efectuar inspecções de rotina para detectar a presença de qualquer tipo de
alteração.
7. Vistorias realizadas pelo menos uma vez por ano.
8. Existência de extintores e água com pressão.
9. Saídas de emergência devidamente assinaladas.
10. Uso de materiais ignófagos.

b. Acondicionamento das peças em exposição e reserva


1. Garantir a manutenção regular e eficaz dos locais de reserva e exposição.
2. Não colocar as peças junto a paredes exteriores (frias e húmidas).
3. Não manter as peças directamente assentes sobre o chão, de modo a protegê-
as da humidade, choques térmicos, insectos, etc.
4. Evitar lavar o chão próximo a revestimentos de madeira ou parietais
decorativos, ou contacto, durante a lavagem, com qualquer uma das peças.
5. Utilizar o aspirador ou a enceradora com cuidado, de modo a serem evitados
eventuais choques mecânicos.
6. Evitar a utilização de peças da colecção de mobiliário por parte dos utentes e
colaboradores do Museu e da Instituição, sobretudo, nunca alterar as suas
características através da colocação de fechaduras ou outros elementos.
7. Deve-se evitar a colocação de velas ou flores para que estas não interfiram
directamente com as peças, impedindo qualquer tipo de contacto entre elas.

104-109
11. Não colar etiquetas directamente sobre os objectos, sobretudo sobre a
policromia ou em partes demasiado evidentes ou expostas na peça. Colocar a
identificação ou número de inventário em zonas discretas como a parte inferior
da base, etc.
12. Não utilizar fita-cola, clips, agrafos ou outros materiais metálicos nas peças ou
documentos.
13. A limpeza deve ser feita com cuidado, e se possível, recorrendo a pessoas
especializadas, como conservadores-restauradores ou técnicos trabalhando
sob a sua orientação.
14. Qualquer limpeza superficial de poeiras e sujidade das peças deverá ser
efectuada apenas em peças que não se encontrem fragilizadas, de modo a
evitar o agravamento do seu estado de conservação, e utilizando espanadores
ou panos muito macios, mas nunca recorrendo a água ou outros tipos de
solventes.
15. Para as peças fragilizadas contactar pessoal especializado.
16. As peças têxteis poderão ser aspiradas, desde que com sucção fraca e
controlada.
17. Não introduzir nenhum produto, nem cera, nem desinfectante, nem cola, nem
consolidante, porque qualquer um deles poderá ter um efeito nocivo e mesmo
decapante sobre a policromia ou acabamentos. Estes produtos deverão ser
aplicados por conservadores-restauradores.

c. Exposição
1. Verificar se os locais (suportes, plintos, prateleiras, etc.) de exposição têm as
dimensões adequadas (para que as peças não estejam em desequilíbrio ou
mal apoiadas) e a resistência necessária, para as não colocar em perigo.
2. Assegurar uma boa visibilidade das peças, evitando expor demasiados
objectos, o que além de poder criar constrangimentos mecânicos, poderá
também colocar problemas em termos de segurança.
3. Não permitir que as peças tenham qualquer tipo de contacto entre si.
4. Proteger as obras de eventuais choques ou vibrações.
5. Agrupar dentro das vitrinas ou espaços climatizados, na medida do possível, os
objectos com o mesmo tipo de material.
6. Não colocar as peças próximas de fontes de calor ou de correntes de ar.
7. Não guardar os objectos em vitrinas recentemente pintadas.

105-109
8. Verificar se existe arejamento em espaços confinados, de modo a evitar o
desenvolvimento de bolores ou outro tipo de fungos, recorrendo, por exemplo,
a aberturas protegidas com filtros de poeiras.
9. Evitar o emolduramento directo sobre o vidro; não coloque no reverso da
moldura papel ou cartão de má qualidade, jornal, papel kraft ou fita adesiva.
10. Não aplicar pregos ou qualquer outro tipo de elementos de fixação.
Verificando-se ser absolutamente necessária a utilização destes acessórios
prejudiciais, assegurar que são inertes ou não alteráveis e que o ponto de
aplicação não representa qualquer perigo para a obra.
11. Evitar expor peças têxteis dobradas; utilize suportes de exposição (manequins,
expositores, etc.) de materiais inertes, adequados a cada forma, de modo a
garantir uma distribuição adequada do peso, evitando tensões; para peças
expostas verticalmente colocar elementos a todo o comprimento (barras de
suspensão em tecido ou velcro, cosidas no avesso da peça), calculados em
função do tamanho e do peso.
12. Proteger as peças de modo a não permitir que haja contacto directo por parte
do público, utilizando cordões de demarcação dos espaços ou barreiras
mecânicas, como, por exemplo, pequenas divisórias em vidro ou outro tipo de
material transparente.
13. Não deixar restos de alimentos ou qualquer outro de tipo de sujidade em locais
de exposição, pois constituem um meio que favorece o desenvolvimento de
insectos e bolores.
14. O conservador ou o técnico responsável deve proceder ao exame rigoroso da
peça e elaborar o relatório com informação circunstanciada acerca do seu
estado de conservação, tendo em conta que a peça se destina a uma
exposição exterior.
15.

d. Manuseamento e transporte
1. A absorção atenta das peças a movimentar é a primeira regra;
2. Importante a detecção de anomalias e/ou fragilidades nas peças para definição
das regras de manuseamento;
3. Indispensável o uso de luvas de algodão limpas para manusear as peças,
tendo todo o cuidado para evitar que escorreguem;
4. O manuseamento de peças sem luvas deixa marcas de sujidade e/ou gordura
com sequelas a longo prazo;

106-109
5. A deslocação de uma peça de dimensão média quando efectuada por uma só
pessoa deve ser feita com ambas as mãos;
6. O transporte de peças de pequenas dimensões, em tabuleiros, cestos ou
caixas de cartão ou de madeira, deve ser devidamente acautelado com
protecções de espuma entre elas, de forma a evitar qualquer contacto que
provoque danos;
7. As peças constituídas por vários elementos, devem ser deslocadas
separadamente, assegurando a integridade de cada uma das partes;
8. Sempre que o manuseamento e deslocação de uma peça se revista de alguma
complexidade, atendendo à sua dimensão ou peso, deve ser assegurado por
várias pessoas;
9. Não se deve nunca arrastar uma peça, nem exercer pressão em partes
salientes, naturalmente mais frágeis;
10. São aconselhados movimentos sincronizados, quando se transportam peças
frágeis, pesadas e de grandes dimensões;
11. Se decurso de qualquer movimentação, remoção, manuseamento ou operação
de embalagem/desembalagem é expressamente proibido fumar, comer, beber
ou mesmo falar ao telefone.
12. Durante o transporte das peças para um local exterior ao Muse, principalmente
se for de longa duração, deverá ser efectuada a monitorização do ambiente a
que estas estão habituadas.
13. Por ocasião do transporte, a peça deve estar em contacto directo com um
material macio, flexível e que não absorva humidade; deve-se evitar utilizar o
papel de jornal, os papéis coloridos, a palha e as espumas de poliuretano (para
embalagens de longa duração).
14. Deve ser previsto um número de caixas suficiente para não ter de se amontoar
os objectos. São preferíveis as embalagens individuais ou as grandes caixas
solidamente compartimentadas.
15. As embalagens devem estar devidamente identificadas com entidades de
origem e de destino, fragilidade, orientação da caixa, categoria do objecto,
número de catálogo, etc.
16. Deve ser definido o trajecto de saída, desimpedindo o percurso e assegurando
que as dimensões da peça ou embalagem não criem constrangimentos durante
a passagem nas portas ou janelas.
17. Recomendações de embalagem de várias tipologias de peças:

107-109
a. Escultura – Proteger com coberturas as partes salientes, não embaladas,
das esculturas. Ter especial atenção aos pontos de apoio. Não pegar pelas
partes frágeis
(cabeça, braços, pés).
b. Papel – Colocar um suporte rígido (cartão isento de ácido e sem lenhina) sob
a obra a transportar. Se for de grandes dimensões, enrolar em tubos de
diâmetro largo. Em moldura com vidro, colocar no vidro fita adesiva de modo a
mantê-lo unido se este se partir.
c. Pintura – Na medida do possível, manter os quadros emoldurados,
protegendo a superfície com papel de seda, embrulhando o quadro com uma
cobertura. As telas de grandes dimensões podem, se o seu estado de
conservação o permitir, ser transportadas enroladas, com a face voltada para o
exterior, protegendo a pintura com papel de seda de acordo com as suas
dimensões e à medida do seu enrolamento.
d. Têxteis – Enrolar tapetes e tapeçarias em rolos grossos. Evitar dobrar os
têxteis, tais como paramentos, vestes, etc. Caso não seja possível,
acondicione-os convenientemente forrando as dobras com pequenos rolos de
papel de seda ou de pano branco. Evitar sobrepor os têxteis com decorações
salientes ornamentos salientes.

108-109
FICHA TÉCNICA
Universidade Católica Portuguesa –
Centro Regional do Porto

Coordenadores do Projecto:
Professora Doutora Cristina Pimentel
Arquitecta Sofia Thenaisie Coelho
Professor Doutor Vítor Teixeira

Técnicas de Património:
Drª Susana Gomes Ferreira
Mestre Maria Leonor Botelho

Porto, Janeiro de 2005

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