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Fauna da Floresta
O livro Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte traz infor-
mações sobre taxonomia, biologia, ecologia e distribuição geográfica de
1.478 táxons para os ecossistemas amazônicos de pequenos mamíferos
não voadores, morcegos, médios e grandes mamíferos, aves, anfíbios,
répteis, insetos vetores, peixes e biota aquática (comunidades hidrobiológicas).
A divulgação e o compartilhamento dessas informações, aliados à pesquisa
científica e ao uso sustentável dos recursos naturais, favorecem o envolvi-
Nacional de Carajás
mento da sociedade como um todo nos esforços de conservação da biodiver-
sidade do Conjunto de Áreas Protegidas de Carajás.
Serra Norte
ORGANIZAÇÃO
COORDENAÇÃO:
Vanessa Coutinho Mourão de Souza
Elaine Ferreira Barbosa
COLABORAÇÃO:
Alexandre Castilho, Leandro Maioli, Fernando Marino Gomes dos Santos,
Mariane Ribeiro, Mayla Barbirato e Vívian Lúcia C. Barros – apoio na obtenção de acervo fotográfico
Fauna da Floresta
Pâmella Rigueira Moreno – apoio ao planejamento do Projeto
André Luís Macedo Vieira – apoio na revisão de capítulo
ILUSTRAÇÕES:
Júlia Resende Thompson
Nacional de Carajás
ELABORAÇÃO DO ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL - EIA:
BRANDT Meio Ambiente
PRODUÇÃO EXECUTIVA:
Gaia Cultural – Cultura e Meio Ambiente
COORDENAÇÃO EDITORIAL:
Roseli Raquel de Aguiar Serra Norte
PROJETO GRÁFICO:
Fábio de Assis
REVISÃO:
Lílian de Oliveira
APOIO:
Fauna da Floresta Nacional de Carajás - Serra Norte / Organização de Instituto Chico Mendes de
Elaine Ferreira Barbosa ... [et al]. – Belo Horizonte : Gaia Cultural – Conservação da Biodiversidade – ICMBio
Cultura e Meio Ambiente, 2020.
264 p. : il. color., (fotos, mapas, tabelas) ; 20 x 29,5 cm. REALIZAÇÃO:
VALE S.A. Mina de Águas Claras,
Av. Dr. Marco Paulo Simon Jardim, 3580.
ISBN 978-65-991419-0-4
Prédio 4, 3º andar | CEP – 34006-270
Nova Lima, MG – Brasil
1. Floresta Nacional de Carajás – Fauna Silvestre - Carajás, Serra dos
(PA). 2. Vertebrados. 3. Invertebrados – (Carajás, Serra dos (PA). 4.
www.vale.com ORGANIZAÇÃO
Florestas – Conservação - Norte, Serra (Carajás, Serra dos, PA). 5. Estudo
e ensino. I. Barbosa, Elaine Ferreira. II. Scoss, Leandro Moraes. III.
SETE Soluções e Tecnologia Ambiental Ltda.
Avenida do Contorno, 6777 – 2º andar
Elaine Ferreira Barbosa
Souza, Vanessa Coutinho Mourão de. IV. Elias, Breno Chaves de Assis. Bairro Santo Antônio Leandro Moraes Scoss
CEP – 30130-151
CDD 591 Belo Horizonte, MG - Brasil Vanessa Coutinho Mourão de Souza
www.sete-sta.com.br
Breno Chaves de Assis Elias
4 Pequenos Mamíferos Não Voadores Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 5
Sumário
8 Prefácio 108 A
ves
Diego Petrocchi da Costa Ramos
12 A
presentação Marcelo Ferreira de Vasconcelos
16 C
onjunto de Áreas 126 A
nfíbios
Protegidas de Carajás Felipe Sá Fortes Leite
Raphael Costa Leite de Lima
Laís Ferreira Jales
Larissa Ferreira de Arruda
Leandro Moraes Scoss
Vanessa Coutinho Mourão de Souza
164 R
épteis
28 F
auna da Floresta Nacional Jussara Santos Dayrell
Larissa Ferreira de Arruda
de Carajás, Serra Norte, no âmbito Raphael Costa Leite de Lima
do Estudo de Impacto Ambiental Felipe Sá Fortes Leite
do Projeto N1 e N2
Elaine Ferreira Barbosa 200 D
ípteros de
Leandro Moraes Scoss
Dinalva Celeste Fonseca
Importância Sanitária
Breno Chaves de Assis Elias Maria Fernanda Brito de Almeida
Vanessa Coutinho Mourão de Souza
212 P
eixes
42 P
equenos Mamíferos Marcelo Fulgêncio Guedes de Brito
Não Voadores Breno Perillo Nogueira
Bernardo Faria Leopoldo
Eduardo Lima Sábato 226 B
iota Aquática
Natália Ardente
Leandro Moraes Scoss Sandra Francischetti Rocha
Manoela Cristina Brini Morais
Sofia Luiza Brito
62 M
orcegos
Carla Clarissa Nobre de Oliveira 255 L
iteratura Consultada
84 M
amíferos de 260 G
lossário
Médio e Grande Porte
Elaine Ferreira Barbosa
Bernardo Faria Leopoldo
Daniel Milagre Hazan
Leandro Moraes Scoss
Foto: João Marcos Rosa
8 Pequenos Mamíferos Não Voadores Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 9
Prefácio
Prefácio
É preciso conhecer para proteger e conservar. Foi pensando nisso que a Nesse sentido, a forma de apresentação das informações nas publicações
Vale, em parceria com o ICMBio e a Sete Soluções e Tecnologia Ambien- assume papel fundamental para ampliar a participação de um número
tal, promoveu a organização do presente livro, que difunde informações maior de pessoas nas ações de conservação de ambientes, plantas e ani-
técnicas de diversas espécies de animais, com base nos estudos de fauna mais. Este livro apresenta em capítulos as espécies da fauna presentes nos
desenvolvidos no âmbito do Estudo de Impacto Ambiental – EIA do Pro- diferentes ambientes da área de estudo local do empreendimento de mi-
jeto N1 e N2. Esse empreendimento está localizado na porção norte da nério de ferro chamado Projeto N1 e N2, do Complexo Minerador Ferro Ca-
Floresta Nacional de Carajás, uma das cinco Unidades de Conservação que rajás da Vale, da Flona de Carajás, como nas áreas de florestas, nos campos
compõem o conjunto de áreas protegidas de Carajás. rupestres ferruginosos, nas águas, nos solos ou voando.
Os esforços em busca da conciliação da conservação da biodiversidade Todos os profissionais envolvidos nesse trabalho concentraram esforços para
com a produção econômica na Floresta Nacional de Carajás, especifica- produzir um livro ilustrado que pudesse ajudar o ICMBio na divulgação das
mente a mineração, são uma realidade há décadas. A parceria entre a Vale informações sobre a fauna identificada na região da Serra Norte da Floresta
e o ICMBio tem mostrado nesses anos que é possível explorar economica- Nacional de Carajás. Em cada capítulo, são apresentados de modo sintético
mente os recursos naturais da floresta ao mesmo tempo que se protege os principais elementos de cada grupo da fauna local, assim como o guia
e conserva a biodiversidade em toda a sua riqueza e plenitude. Nunca foi fotográfico de um número expressivo de espécies. O livro também traz, em
uma tarefa fácil e os desafios estão sempre presentes. formato digital, uma lista completa de táxons registrados na área.
Um desses desafios diz respeito à divulgação do conhecimento científico Um novo desafio agora se apresenta aos leitores, mas, principalmente, aos
produzido na Floresta Nacional (Flona) de Carajás por meio dos estudos am- visitantes da Floresta Nacional de Carajás: quantas espécies de animais
bientais vinculados ao licenciamento ambiental de projetos da Vale. Em geral, você consegue identificar com o auxílio deste livro?
a produção de documentos associados aos estudos ambientais é um traba-
Daniela Faria Scherer
lho extremamente técnico e que exige a participação de vários profissionais,
Gerente de Estudos Ambientais – Ferrosos
com experiências e saberes diversos, relacionados ao solo, água, clima, ve-
getação, animais e pessoas. É essa convergência de saberes que possibilita Rodrigo Dutra Amaral
Gerente Executivo – Licenciamento Ambiental, Estudos, Espeleologia,
tanto transmitir conhecimento a diferentes públicos quanto tornar acessíveis Saúde e Segurança e Cadeia de Valor – Ferrosos
informações para que possam ser utilizadas da melhor maneira possível.
10 Pequenos Mamíferos Não Voadores Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 11
Prefácio
Prefácio
A criação e a consolidação de Unidades de Conservação têm sido uma es-
A região de Carajás apresenta grandes empreendimentos minerários situa- tratégia para a proteção e conservação da biodiversidade, uma vez que es-
dos no interior de Unidades de Conservação federais, em especial a Flo- sas áreas protegidas servem de refúgio para espécies ameaçadas e para a
resta Nacional (Flona) de Carajás e Flona do Tapirapé Aquiri. Há, portanto, manutenção de processos e serviços ecológicos. No entanto, para atingir
diversos desafios referentes à convivência entre mineração e conservação esses objetivos, as UCs precisam de uma gestão eficiente que combine de
da biodiversidade no interior de áreas protegidas. Sem dúvida, parte das forma efetiva ações de manejo e conservação. Para isso, é fundamental a
soluções de tais desafios passa pela adequada gestão do conhecimento, aplicação prática do conhecimento, seja ele baseado em publicações cienti-
de modo que os diferentes atores possam contribuir para a construção dos ficas, acadêmicas, técnicas ou ainda na sabedoria tradicional.
mecanismos de governança socioambiental e de gestão.
Nesse sentido, este livro é uma contribuição para a socialização do conhe-
No caso de Carajás, as informações sobre biodiversidade ainda são con- cimento adquirido nos levantamentos sobre a fauna silvestre realizados na
centradas no âmbito dos estudos de avaliação de impactos ambientais e área de estudo do Projeto N1 e N2, situados no interior da Flona de Ca-
geralmente não são publicadas e disponibilizadas à sociedade. Essa limi- rajás, inicialmente utilizados para subsidiar o licenciamento ambiental do
tação implica a perda de oportunidades de se aprofundar e maximizar o empreendimento minerário. Com esta publicação, objetiva-se compartilhar
conhecimento adquirido. Na mesma medida, também restringe a aplicação os conhecimentos relacionados a aves, anfíbios, répteis, morcegos, peque-
de informações importantes para a tomada de decisão no que se refere à nos, médios e grandes mamíferos e biota aquática entre os visitantes das
gestão dos recursos naturais e à participação de universidades e centros de Unidades de Conservação de Carajás, comunidades, estudantes, gestores,
pesquisa na multiplicação do conhecimento científico. pesquisadores e a sociedade em geral.
Desde o começo da mineração na região, a demanda por estudos e a cons- Ao contribuir com a difusão do conhecimento sobre a região de Carajás,
trução de soluções têm se dado no âmbito do licenciamento ambiental, esta obra serve de incentivo para o aprimoramento do conhecimento cien-
com tomada de decisões baseadas quase que exclusivamente nas ava- tífico sobre a fauna local e para o envolvimento da sociedade nos esforços
liações sobre as áreas de influência direta de cada empreendimento sob de conservação. Como consequência direta da divulgação dos atributos
análise. O acesso aberto e contextualizado às distintas fontes de dados, in- ambientais das Unidades de Conservação, nós temos um maior engajamen-
formações e conhecimentos é de fundamental importância, uma vez que to dos diferentes atores sociais nos esforços de conservação.
pode fomentar outros processos de gestão da biodiversidade, tais como a
André Luís Macedo Vieira
pesquisa científica, a educação ambiental, a gestão socioambiental, o uso Chefe do Núcleo de Gestão Integrada (NGI) Carajás
público e as decisões de manejo. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)
12 Pequenos Mamíferos Não Voadores Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 13
Apresentação
Apresentação
O licenciamento ambiental é uma das obrigações exigidas pela legislação fotográfico acompanhado de dados taxonômicos, características e curio-
brasileira para o funcionamento de qualquer tipo de empreendimento ou sidades sobre grande parte das espécies que foram identificadas na área.
atividade que pretende utilizar os recursos naturais ou que possa causar Algumas dessas características, como tamanho e forma do corpo do ani-
algum tipo de poluição. Tem como objetivo avaliar como e de que forma mal, cor, horário de atividade, podem ser úteis na identificação de diferen-
se pode promover o desenvolvimento econômico a partir do uso sustentá- tes espécies durante atividades de campo. Nesse sentido, esta publicação
vel dos recursos naturais, mas sempre buscando as melhores práticas para tem o potencial de expandir o alcance do conhecimento sobre a variedade
manter o equilíbrio do meio ambiente. Essa avaliação é feita a partir da da fauna local, principalmente entre visitantes da Flona de Carajás, comu-
elaboração de um documento técnico-científico que apresenta as caracte- nidades do entorno, estudantes, gestores, pesquisadores e demais interes-
rísticas do projeto, o diagnóstico ambiental, identifica e avalia os impactos sados na área ambiental.
e as medidas, tanto para prevenir, controlar, mitigar ou compensar altera-
A publicação e distribuição de todo esse acervo técnico-informativo orga
ções no ambiente. Esse documento é chamado de “Estudo e Relatório de
nizado no formato do livro Fauna da Floresta Nacional de Carajás – S
erra
Impacto Ambiental” ou simplesmente EIA/RIMA.
Norte foram solicitadas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da
O presente livro constitui-se na compilação dos resultados das pesquisas Biodiversidade – ICMBio, por meio do Ofício SEI nº 306/2017- DIBIO/ICMBio,
sobre a fauna realizadas na área de estudo do Projeto N1 e N2 para subsidiar o em 7 de dezembro de 2017, e estão vinculadas ao licenciamento ambiental
licenciamento ambiental do empreendimento minerário que tem como prin- do Projeto N1 e N2.
cipal objetivo a extração de minério de ferro no Complexo Minerador Ferro
Esta é uma iniciativa importante para difusão do conhecimento sobre a re-
Carajás da Vale, localizado no município de Parauapebas, estado do Pará.
gião de Carajás, ampliação do estado da arte de conhecimento do conjun-
Ao trazer a público os conhecimentos relacionados às espécies silvestres to de áreas protegidas de Carajás, bem como para a conciliação do avanço
de insetos vetores, aves, anfíbios, répteis, morcegos, pequenos, médios da mineração e dos esforços para a conservação da natureza dessa porção
e grandes mamíferos, e biota aquática (peixes e comunidades hidrobio da Amazônia brasileira. A produção e organização do conhecimento con-
lógicas) encontradas na área do Projeto N1 e N2, especialmente em sua tido neste livro são uma realização da Vale em parceria com as empresas
Área de Estudo Local, a obra figura como um importante instrumento de Brandt Meio Ambiente e Sete Soluções e Tecnologia Ambiental, e seus res-
divulgação dos estudos ambientais que vêm sendo conduzidos na região pectivos técnicos, profissionais e especialistas em fauna.
da Floresta Nacional de Carajás – Flona de Carajás.
Espera-se que este trabalho sirva tanto como fonte de consulta quanto
Nas páginas a seguir, além de um resumo sobre as espécies que ocorrem como incentivo à realização de novas pesquisas na região, visando não
na área do Projeto N1 e N2, são apresentadas informações relevantes s obre somente ao aprimoramento do conhecimento científico acerca da fauna,
a biologia e ecologia dos grupos animais, sua distribuição geográfica, mas também ao uso sustentável dos recursos naturais e à conservação
importância para o ecossistema e para a conservação, além de um guia dessa região tão rica da Amazônia.
Foto: BRANDT
Foto: João Marcos Rosa Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 17
Unidades de Conservação (UCs) são áreas protegidas por lei voltadas à conser-
vação ambiental, do modo de vida de populações tradicionais, da manutenção
de serviços ambientais e do uso de recursos naturais renováveis. Outras áreas
protegidas conhecidas são as Terras Indígenas, as Reservas Legais das proprieda-
des Rurais e as Áreas de Preservação Permanentes que protegem dunas, man-
guezais, nascentes, encostas e topos de morros e outras. As UCs são classificadas
em dois grandes grupos: Uso Sustentável e Proteção Integral, assim definidas
pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC (Lei n° 9.985/2000),
que as divide em 12 categorias, diferenciando-as por seus objetivos principais
de conservação e pela possibilidade do uso de recursos de forma direta, como
o manejo florestal nas Florestas Nacionais, ou de forma apenas indireta, como a
Flona de Carajás
visitação em Parques Nacionais ou a pesquisa científica nas Reservas Biológicas.
18 Conjunto de Áreas Protegidas de Carajás Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 19
Figura 1 – Localização geográfica do Conjunto de Áreas Protegidas Quadro 1 – Conjunto de áreas protegidas de Carajás, Pará, Brasil
de Carajás
ANO DE NOME DA ÁREA GRUPO E CATEGORIA ÁREA
DIPLOMA LEGAL MUNICÍPIOS
51°0'0"W 50°30'0"W 50°0'0"W CRIAÇÃO PROTEGIDA (LEI Nº 9.985/2000 - SNUC) (HA)
® 1989
Área de Proteção Ambiental
Uso Sustentável - APA
Decreto n° 97.718,
21.600 Parauapebas
5°30'0"S
Terra Indígena Xikrin É uma área protegida, mas não Homologada pelo Decreto nº Água Azul do Norte,
1991 439.000
do Cateté uma unidade de conservação 384, de 26 de dezembro de 1991 Marabá, Parauapebas
Flona APA
Itacaiúnas Igarapé Gelado Decreto n° 2.486, Água Azul do Norte, Canãa
6°0'0"S
Canaã dos
Carajás
.
!
O que é uma área protegida? No Brasil existem diversas áreas que são legalmente atri-
Ourilândia
buídas por decretos e atos de diversos órgãos e instâncias administrativas, a exemplo
Tucumã !
.
. do Norte
!
das Unidades de Conservação (UCs), Áreas de Preservação Permanente (APPs), Reser-
.
! vas Legais (RLs), Terras Indígenas (TIs), Comunidades Remanescentes de Quilombo,
Água Azul
do Norte entre outras. Todas, portanto, são conhecidas genericamente por “áreas protegidas”.
0 10 20 km No conjunto de áreas protegidas de Carajás, destacam-se as Unidades de Conservação
.
!
e a Terra Indígena Xikrin do Cateté.
A criação desse parque teve como objetivo a proteção da diversidade Na porção noroeste da Flona de Carajás e com parte de seu território em so-
biológica das Serras da Bocaina e do Tarzan, constitui-se como uma breposição com a Floresta Nacional de Itacaiunas, está localizada a Floresta
ação de compensação ambiental pela supressão de áreas de canga e Nacional (Flona) do Tapirapé Aquiri, uma unidade de uso sustentável, criada
cavernas para a instalação do Empreendimento de Ferro de S11D, ga- por meio do Decreto nº 97.720, de 5 de maio de 1989, representando uma área
rantindo assim a proteção e a manutenção de áreas testemunhos do de 190.000 hectares. Essa unidade ocupa parte dos municípios de São Félix do
patrimônio espeleológico e da vegetação de campos ferruginosos ou Xingu e Marabá, e tem como objetivo o uso múltiplo sustentável dos recursos
savanas metalófilas na Região de Carajás. O parque é a unidade de con- florestais, além da pesquisa científica, com ênfase em métodos para explora-
servação com maior número de cavernas ferríferas do Brasil e abriga um ção sustentável de florestas nativas. Nessa Unidade também foi prevista no
grande número de cachoeiras e outros atrativos, apresentando grande Decreto de Criação a manutenção dos direitos minerários já existentes no mo-
potencial para o ecoturismo. mento da criação da UC, de forma que abriga hoje a maior mina de cobre do
Brasil – Projeto SALOBO. A unidade de conservação possui 5 trilhas ecológicas
que servem de base para o projeto Comunidade Vai à Floresta, que permite
que a sociedade tenha a oportunidade de interagir com a biodiversidade local.
Por sua vez, a Reserva Biológica (Rebio) do Tapirapé ocupa os mesmos mu-
nicípios, mas possui área relativamente menor, de 103.000 hectares, na porção
norte da Flona Tapirapé Aquiri. Essa reserva, criada pelo Decreto nº 97.719, de
5 de maio de 1989, objetiva a preservação integral da biota e demais atributos
naturais existentes em seus limites, com ênfase para a pesquisa científica e a edu-
cação ambiental. A Rebio atualmente executa o protocolo de monitoramento
contínuo da biodiversidade. Grupos de animais bioindicadores, como borbole-
tas e mamíferos de médio e grande portes, são monitorados com ajuda de vo-
luntários de comunidades do entorno e outros, selecionados e treinados através
de editais do Programa Nacional de Voluntariado do ICMBio. Entre os objetivos
Foto 2 – Parna dos Campos Ferruginosos. Foto: Fernando Marino
estão a ampliação do conhecimento das espécies existentes na UC, bem como
o acompanhamento de seus níveis populacionais e comunitários ao longo do
tempo, frente às mudanças climáticas e possíveis impactos de origem humana.
Foto 5 – Vista da Reserva Biológica (Rebio) do Tapirapé. Foto: João Marcos Rosa
do Estudo de Impacto
Ambiental do Projeto
N1 e N2
de Floresta Ombrófila Aberta, que ocupa regiões de encostas e de eleva- Figura 2 – Localização da Área de Estudo Local (AEL) no Conjunto de
da inclinação, e de Floresta Ombrófila Densa, que ocorre nos solos mais Áreas Protegidas de Carajás
profundos nas planícies e nos relevos mais suaves das áreas montanhosas.
50°45'0"W 50°30'0"W 50°15'0"W 50°0'0"W
Além das formações florestais, destaca-se a ocorrência de uma vegetação
herbáceo-arbustiva típica de afloramentos ferruginosos. Os Campos Rupes-
tres Ferruginosos localizam-se nas porções de serras, nas regiões de maior
® Flona
do Itacaiunas
APA do
Igarapé Gelado
Para
Mara
bá
u a peb
as
elevação, cujo topo apresenta relevo suave e são designados como platôs.
6°0'0"S
Projeto
N1 e N2
A Área de Estudo Local do Projeto N1 e N2, assim como as áreas das Minas (
!
Núcleo Urbano
de Carajás
Parauapebas
.
!
6°15'0"S
Parauapebas
Canaã dos Carajás
Rio Cateté
mapa da Figura 2.
6°30'0"S
Cana Canaã dos
ã dos
Águ
Cara
jás Carajás !
.
a Azu
l do
Nor
te
0 3 6 km
Rosa
V. C. Tomaz
.
!
Foto:Marcos
.
!
Preservação
.
! Primitiva
Manejo Florestal Sustentável
.
!
Uso Especial
Uso Público
Uso Conflitante
N3 (Fe)
N4 (Fe)
Mineração
Projeto Ì Ì Áreas Protegidas .
!
N1 e N2 Núcleo
Urbano !( Floresta Nacional de Carajás
N5 (Fe) de Carajás
Ì Unidades de Conservação
Terras Indígenas
Manganês Azul (Mn)
Área do Empreendimento
Ì
Projeto N1 e N2
.
!
Área de Estudo Local
.
!
Cacicus cela
(Xexéu) .
!
.
!
Foto 9 – Vista panorâmica da
Foto: BRANDT
porção central do platô de N1.
Foto: BRANDT
da Serra dos Carajás.
Foto: BRANDT
Fauna da Floresta Nacional de Carajás, Serra Norte, no âmbito
34 Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 35
do Estudo de Impacto Ambiental do Projeto N1 e N2
Bom, mas você sabe o que significa fauna? Fauna é o nome dado para
representar todos os animais que vivem em uma determinada região, in-
dependentemente das diferenças de tamanho, cor, comportamento ou
ambiente em que se desenvolvem, alimentam, reproduzem etc. Todos os
animais fazem parte da fauna ou, se preferir, do mundo animal. Para facilitar
o trabalho dos especialistas, os grupos de animais podem ser separados e
organizados da seguinte forma: Entomofauna (insetos), Ictiofauna (peixes),
Herpetofauna (répteis e anfíbios), Avifauna (aves), Mastofauna (mamíferos)
Foto: BRANDT
Os resultados que ilustram cada um dos capítulos deste livro, como não po- Você sabia que TÁXON é uma unidade utilizada pelos pesquisadores no sistema de classi-
ficação científica de todos os seres vivos? Essa unidade ajuda na divisão dos organismos
deria ser diferente, reforçam que a região mantém uma fauna amazônica
vivos em Reino, Filo, Classe, Ordem, Família, Gênero e Espécie. A ciência responsável pela
muito rica e diversa que, por sinal, é uma característica de toda a região da criação das regras de classificação e identificação dos seres vivos é chamada de Taxonomia
Flona de Carajás e do próprio bioma Amazônia. Reunindo todos os grupos e tem como objetivo reconhecer os grupos de seres vivos e dar um nome para cada um dos
grupos e organismos.
da fauna estudados, tanto do ambiente terrestre como do ambiente aquáti-
co, foi possível produzir este livro sobre a Fauna do Projeto N1 e N2.
leitor, goste das informações e das fotos dos animais que vivem na Serra
Peixes 29
Para Anfíbios Anuros, por exemplo, sete são as espécies que se enquadram
nessa situação (Rhinella gr. margaritifera, Ameerega aff. flavopicta, Boana
sp., Dendropsophus gr. microcephalus, Scinax sp., Adenomera sp. e Adeno-
mera aff. hylaedactyla). Outras duas não puderam ser identificadas de ma-
neira precisa porque foram registradas apenas a partir do seu canto, sem
a captura do adulto (Hyalinobatrachium sp.) ou porque foram registradas
apenas por meio de indivíduos jovens (Elachistocleis cf. carvalhoi), o que
dificulta sua determinação.
Pequenos
Mamíferos
Não Voadores
Foto: Natália Ardente Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 45
Não Voadores
e de insetos e outros animais invertebrados, ou ainda como polinizadores Na região da Floresta Nacional de Carajás, sudeste do estado do Pará,
de algumas espécies de plantas. Embora as informações que normalmen- onde se insere o Projeto de Mineração N1 e N2, estudos recentes reve-
te chegam ao público em geral estejam fortemente associadas às espécies laram a presença de 31 táxons de pequenos mamíferos não voadores,
comuns nas áreas urbanas, como o rato-comum (Rattus rattus), a ratazana sendo 12 de marsupiais e 19 de pequenos roedores. Desse total, pelo
(Rattus norvergicus) e o camundongo (Mus musculus), os pequenos mamífe- menos 11 espécies são endêmicas da Amazônia, e seis apresentam im-
ros não voadores são considerados peças-chave na manutenção e na con- precisão taxonômica, ou seja, necessitam de estudos mais aprofundados
servação da biodiversidade de ambientes naturais. para que sua correta identificação em nível específico seja confirmada
para a região.
Como outros animais, os pequenos mamíferos não voadores respondem
rapidamente às alterações e impactos ambientais (como o desmatamen- Este capítulo apresenta as espécies de pequenos mamíferos não voadores
to e as queimadas), assim como ao processo de fragmentação de hábi- registradas na Área de Estudo Local (AEL) do Projeto de Mineração N1 e N2
tats. Essas modificações normalmente provocam a diminuição do núme- inserido no Complexo Minerador Ferro Carajás, a fim de disponibilizar um
ro de espécies que ocorrem em determinado lugar e, por consequência, acervo técnico-específico da fauna local.
alguns processos ecológicos são afetados, ocasionando uma perda da
qualidade ambiental.
Diversas espécies desse grupo apresentam ainda importância médica e Os Pequenos Mamíferos Não Voadores
epidemiológica, funcionando como reservatórios de agentes causadores da Flona de Carajás, Serra Norte
de diversas doenças que podem afetar o ser humano, tais como: Leptos-
pirose, Esquistossomose, Leishmaniose, Hantavirose e Doença de Chagas. Os estudos realizados na Área de Estudo Local (AEL) do Projeto N1 e N2 reve-
Por outro lado, também vêm sendo utilizadas em alguns estudos como laram a presença de 20 táxons de pequenos mamíferos não voadores, sendo
sentinelas para fatores de ameaças à saúde humana, servindo como indi- nove marsupiais e 11 roedores. Todos os marsupiais pertencem à família Di-
cadores da presença de contaminantes ambientais, bactérias ultrarresis- delphidae, única família da Ordem Didelphimorphia. Já os roedores perten-
tentes e vírus. Assim, as alterações nos ambientes onde ocorrem essas es- cem a duas famílias (Cricetidae e Echimyidae). Desse total, três táxons não
pécies devem ser feitas sempre com responsabilidade e bastante cuidado, puderam ser identificados em nível de espécie de forma precisa, por serem
para evitar desequilíbrios que, além de prejudicá-las, podem afetar a saúde complexos e necessitarem de revisões taxonômicas mais refinadas.
e o bem-estar humano.
A comunidade de pequenos mamíferos não voadores local é formada, em
Atualmente são conhecidas no Brasil 268 espécies de pequenos mamífe- sua maior parte, por táxons de ampla distribuição geográfica, que ocorrem
ros não voadores, o que os torna o grupo de maior riqueza, em número de em mais de um bioma brasileiro. Nenhum dos táxons listados encontra-se
espécies, dentre as 701 espécies listadas para todo o território nacional. So- ameaçado de extinção, de acordo com as listas consultadas em âmbito
mente na Amazônia ocorrem 110 espécies, sendo 27 de marsupiais e 83 de estadual, nacional e global. Ressalta-se, no entanto, o registro de espécies
roedores, incluindo 73 espécies que somente são encontradas neste bioma, endêmicas do bioma amazônico, como os marsupiais Didelphis marsupia-
tecnicamente chamadas de espécies endêmicas. É importante mencionar lis (gambá), Marmosops pinheroi (cuíca) e Monodelphis glirina (catita), além
que esses números aumentam à medida que são aplicadas novas técnicas dos roedores Oligoryzomys microtis (rato-do-mato), Oxymycterus amazo-
de laboratório, principalmente análises genéticas e moleculares, que vêm nicus (rato-do-brejo) e Rhipidomys emiliae (rato-da-árvore). Por serem es-
auxiliando os pesquisadores no processo de identificação e na descoberta pécies com hábitos escansoriais, arborícolas, semifossoriais (no caso de
de novas espécies para a ciência. Monodelphis touan) e/ou dependentes de uma estrutura mais complexa
48 Pequenos Mamíferos Não Voadores Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 49
de ambientes florestais (por exemplo, a presença de troncos caídos no animais durante a realização de estudos ambientais em campo, pois a
chão, sub-bosque e dossel), essas espécies normalmente são reconheci- correta identificação, em muitos casos, somente é possível a partir de
das como indicadoras de hábitats florestais. análises específicas realizadas por profissionais experientes, em ambien-
te de laboratório ou com apoio de instituições que mantêm coleções
A espécie de roedor Euryoryzomys aff. emmonsae (rato-do-mato) e o mar-
científicas de referência. A coleta de espécimes testemunho é, portanto,
supial Monodelphis touan (cuíca-de-rabo-curto), segundo a literatura cien-
fundamental para o avanço da pesquisa científica, lembrando que esse
tífica, representam interesses científicos para a região da Flona de Carajás,
procedimento deve ser feito por profissional habilitado e devidamente
sudeste do Pará, em virtude do pouco conhecimento que se tem sobre
autorizado pelo órgão ambiental.
elas, seja no que diz respeito às suas distribuições geográficas e níveis de
endemismos locais, ao tamanho e tendência de suas populações, seja no Os resultados do diagnóstico indicam que, em geral, grande parte da
que se refere à definição do conhecimento taxonômico desses animais. mastofauna amazônica de pequeno porte não voadora é representa-
da por espécies que apresentam diferentes tamanhos, hábitos e formas
O roedor Euryoryzomys aff. emmonsae (rato-do-mato) foi considerado
de interagir com o ambiente em que vivem. Grande parte dos animais
neste estudo como “aff.”, ou seja, refere-se a um táxon que apresenta afi-
que compõem esse grupo possui predominantemente hábito noturno,
nidades com a espécie já descrita (Euryoryzomys emmonsae), mas com
o que dificulta a sua visualização, sendo necessário o uso de métodos
divergências em relação à descrição dela. Neste caso, o registro poderia
específicos para a sua amostragem durante atividades de campo. Mesmo
corresponder a um sinônimo de Euryoryzomys emmonsae (rato-do-mato),
utilizando armadilhas próprias para a captura de pequenos mamíferos,
estando incluída na mesma, ou poderia pertencer a uma espécie com
algumas espécies arborícolas dificilmente são capturadas em estudos de
parentesco taxonômico próximo. Euryoryzomys aff. emmonsae (rato-do-
curta duração. Muitas delas são registradas somente em estudos de longa
-mato) foi considerado táxon endêmico pelo fato de as duas possíveis
duração ou nos chamados programas de monitoramento. Nesse sentido,
espécies do gênero Euryoryzomys com distribuição conhecida para a área
os estudos já realizados na Serra Norte de Carajás, incluindo o diagnóstico
de estudo (Euryoryzomys macconnelli e Euryoryzomys emmonsae) também
do Projeto N1 e N2, vêm revelando informações importantes sobre os
serem endêmicas e ocorrerem de forma simpátrica nas áreas de floresta
pequenos mamíferos não voadores, o que contribui de forma expressiva
da Flona de Carajás, além de suas distribuições geográficas serem restritas
para a conservação da natureza da Flona de Carajás e de toda a região.
à região sudeste da Amazônia.
Guia
Distribuição: Amazônia, Mata
Atlântica, Cerrado e Pantanal
Hábitos: Dieta Insetívora / Onívora e
hábito de locomoção escansorial
fotográfico
Morcegos
Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 65
Existem morcegos que consomem frutos, insetos, outros animais vertebra- Os Morcegos da Flona de
dos de pequeno porte, peixes, néctar e sangue, o que indica que exploram Carajás, Serra Norte
vários ambientes e executam diferentes estilos de voo, conforme o tipo de
alimento que procuram. Os hábitos diversos fazem dos morcegos um dos O Brasil possui uma das maiores riquezas de morcegos, abrigando mais de
pilares na manutenção e restauração do ambiente natural. As espécies fru- 15% de todas as espécies conhecidas no mundo. São pelo menos 182 espé-
gívoras (que se alimentam de frutos) atuam como dispersores de sementes, cies identificadas no território nacional, distribuídas em nove famílias e 69
que são carreadas durante o voo, auxiliando a manutenção e a regeneração gêneros. Na região amazônica, essa riqueza atinge o número impressionante
das florestas. Morcegos nectarívoros (que se alimentam de néctar das flores) de 146 espécies, correspondendo a mais de 80% de toda a diversidade de
polinizam várias espécies de plantas durante a atividade de alimentação. Já morcegos conhecida para o Brasil. Além disso, 46 espécies são endêmicas
espécies insetívoras e carnívoras, que se alimentam de insetos e outros ani- do bioma amazônico, o que significa que possuem distribuição geográfica
mais, respectivamente, controlam populações de invertebrados e pequenos restrita à Amazônia. O estado do Pará ostenta a maior diversidade de qui-
vertebrados, diminuindo o tamanho das populações de animais considera- ropterofauna, totalizando pelo menos 120 espécies. Com o incremento de
dos pragas agrícolas, além de contribuírem para a manutenção do equilíbrio estudos taxonômicos do grupo, uma maior riqueza poderá ser identificada
dos ecossistemas. Estima-se que morcegos insetívoros, ao consumirem suas para todo o território brasileiro.
presas (diferentes tipos de insetos), produzem uma economia da ordem de
bilhões de dólares com o controle de pragas e a consequente redução de A Flona de Carajás, área de estudo do Projeto N1 e N2, está entre as mais
as espécies hematófagas (que se alimentam de sangue), que não enfrentam N2 contemplam os levantamentos de campo realizados em toda a região
restrição de alimento provocada pelas mudanças de clima entre as estações do Projeto, incluindo as áreas N1, N3, N4 e N5. Esses trabalhos desenvolvi-
do ano (época seca e chuvosa), podem produzir mais de um filhote por ano. dos por muitos profissionais e especialistas resultaram na identificação de
67 espécies de morcego, pertencentes a sete famílias e 42 gêneros. Entre
De modo geral, alimento e abrigo são os principais fatores que determinam os animais registrados, dois não puderam ser identificados no menor nível
a ocorrência ou não de morcegos em uma região. Assim, quaisquer altera- taxonômico (espécie): Vampyressa sp. e Eptesicus sp. A maior parte das es-
ções ambientais podem afetar a ocorrência desse grupo. Essa característica pécies apresenta ampla distribuição geográfica, incluindo registros além da
é normalmente utilizada pelos pesquisadores como indicador de qualidade região da Serra Norte e Amazônia. Do total de espécies, sete são conside-
ambiental: quanto mais espécies de morcegos, melhor a qualidade do am- radas endêmicas do bioma amazônico, o que significa que até o presente
biente. Ademais, a grande variedade de serviços ecossistêmicos desempe- momento todos os registros estão no bioma da Amazônia.
nhados pelos morcegos evidencia a importância que possuem para a ma-
nutenção e conservação dos ambientes naturais. O grupo de morcegos mais representativo nos estudos realizados para
o Projeto N1 e N2 foi a família Phyllostomidae. Essa família se caracteriza
68 Morcegos Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 69
por indivíduos que apresentam folha nasal (nome dado a uma estrutura se caracteriza por morcegos insetívoros de porte pequeno a médio e olhos
encontrada na extremidade de focinhos de alguns morcegos), formada pequenos, com cauda fina inserida completamente na membrana entre as
por modificação na forma da cartilagem ao redor das narinas, responsá- pernas, o chamado uropatágio, que auxilia esses morcegos na captura de
vel pelo direcionamento das emissões sonoras durante a ecolocalização, insetos durante as atividades de procura de alimento. Todos os vespertilioní-
que nos morcegos funciona como um órgão de sentido, assim como o deos registrados apresentam ampla distribuição no Brasil, com ocorrências
tato, considerada uma sofisticada capacidade biológica de detectar a po- além da região amazônica.
sição e/ou distância de objetos ou animais através de emissão de ondas
A família Mormoopidae contou com registros de três espécies, P teronotus
ultrassônicas, como um sonar (que o homem não é capaz de perceber).
gymnonotus, P. personatus e P. rubiginosus, das quais apenas a última é
Essa família também apresenta a maior diversidade de hábitos alimen-
considerada endêmica ao bioma amazônico. Os mormopídeos da área
tares entre os quirópteros do Brasil. Na área do Projeto N1 e N2 foram
do Projeto N1 e N2 apresentam orelhas estreitas, porte pequeno ou mé-
confirmadas 51 espécies de filostomídeos, representando mais de 75%
dio e são chamados “mustached bats” ou “morcegos-com-bigode” ou ainda
da riqueza de quirópteros em toda a área do projeto. Entre os registros,
“naked-backed-bats” que significa “morcegos-das-costas-nuas”, de acordo
destacam-se a espécie Lochorhina aurita, que usa exclusivamente caver-
com a espécie. Apresentam hábitos insetívoros e costumam formar grandes
nas e é considerada vulnerável à extinção na lista de espécies ameaça-
colônias em cavernas na região da Flona de Carajás, que passam a ser cha-
das no Brasil (MMA, 2014), bem como Micronycteris homezorum, Phyllos-
madas Bat caves ou “cavernas de morcegos”.
tomus latifolius, Ametrida centurio, Mesophylla macconnelli, Platyrrhinus
brachycephalus, Vampyriscus bidens e Vampyriscus brocki, que apresentam
As famílias Natalidae e Furipteridae apresentam uma única espécie cada
distribuição geográfica restrita (endêmicas) ao bioma amazônico. Já as
uma, Natalus macrourus e Furipterus horrens, e ambas as espécies são consi-
espécies inseridas nas subfamílias Micronycterinae, Lonchorhininae, Phyl-
deradas ameaçadas de extinção, categoria Vulnerável (COEMA, 2007; MMA,
lostominae e Glyphonycterinae são consideradas indicadoras ambientais,
2014). Finalmente, a família Molossidae foi representada por uma única es-
pois quando são identificadas em determinada localidade indicam que
pécie, Neoplatymops mattogrossensis. Caracteriza-se por apresentar cauda
os ambientes estão bem preservados.
comprida, com porção final livre, e por asas longas e estreitas, de porte mé-
dio ou grande. Parte do mito de esses morcegos serem ratos velhos se ex-
plica pelos molossídeos, que habitam forros de habitações humanas, onde
Você já ouviu falar que os morcegos ficam somente de cabeça para baixo e que são cegos?
também circulam ratos.
A posição usual de morcegos quando pousados é de cabeça para baixo. Nesse arranjo, é mais
fácil iniciar o voo, pois se minimiza o gasto de energia em relação à saída partindo do chão,
como fazem as aves. Outro mito bastante comum é de que morcegos seriam cegos. A crença
se originou possivelmente pelos hábitos noturnos desse grupo. Quirópteros apresentam visão
adaptada para deslocamento à noite, além de contarem com uma peculiaridade que os auxi- Você sabia que, apesar de existirem mais de 1.400 espécies de morcegos no mundo inteiro, ape-
lia durante o voo – a ecolocalização. Esse sistema emite e recebe sons de frequência bem alta nas três se alimentam de sangue? São elas: Desmodus rotundus (morcego-vampiro-comum),
(ultrassons), inaudíveis ao ouvido humano. O sonar permite a detecção de presas e a orientação Diphylla ecaudata (morcego-vampiro-da-perna-peluda) e Diaemus youngi (morcego-vampiro-
espacial dos morcegos durante o voo. Mas eles não são cegos! -da-asa-branca), todas ocorrem apenas na região neotropical. Dessas, apenas D. rotundus se
alimenta de sangue de mamíferos (em especial, gado e outros animais de criação), enquanto
D. ecaudata e D. youngi preferem consumir sangue de aves. Os morcegos que se alimentam de
sangue produzem uma substância anticoagulante na saliva chamada “draculina”, que vem sen-
do estudada como nova fonte de medicamentos com essa finalidade.
Floresta Atlântica.
Hábito: Onívoro
Curiosidades: Pertencente a um
gênero monotípico, pouco é
conhecido sobre a espécie.
Foto: Natália Ardente
Foto: SETE
Foto: Carla Nobre
Mamíferos
de Médio e
Grande Porte
Foto: Ana YokoYkeuti Meiga Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 87
Grande Porte
equilíbrio de populações de plantas e outros animais vertebrados, incluindo que consomem outros animais (por isso carnívoros), contribuindo para a re-
os próprios mamíferos. gulação do tamanho das populações de suas presas naturais e para a manu-
tenção da dinâmica dos ecossistemas em que vivem. Mas como isso ocorre?
A fauna de mamíferos do Brasil é extremamente rica e diversificada. O país
Na ausência dos carnívoros predadores, os mamíferos herbívoros (veados), os
possui uma das maiores riquezas do mundo, com 701 espécies conhecidas,
roedores (capivara, paca e cutia), algumas aves (pombas), répteis (cobras) e
pertencentes a 12 ordens, sendo que a Amazônia abriga o maior número de
insetos (gafanhotos) tendem a se reproduzir exageradamente e acabam se
espécies – passa de 310 espécies conhecidas para toda a região amazônica.
tornando pragas ou animais-problema, podendo inclusive trazer prejuízos à
Os médios e grandes mamíferos terrestres que apresentam normalmente agricultura e à saúde humana, além de perdas financeiras importantes.
peso superior a 1 kg na fase adulta são representados por oito ordens, con-
Entre os carnívoros que ocorrem na área do Projeto N1 e N2, alguns se destacam
forme a classificação utilizada pelos especialistas neste grupo de animais:
por serem de interesse para conservação, como o cachorro-do-mato-de-orelha-
Pilosa (preguiças e tamanduás), Cingulata (tatus), Primates (primatas ou
-curta Atelocynus microtis, que é um canídeo (família dos cachorros) considerado
macacos), Carnivora (gatos, onças, cachorros, quatis, lontras e outros), Artio-
raro e restrito à Amazônia, além de ser uma espécie ainda pouco estudada.
dactyla (veados e porcos-do-mato), Perissodactyla (anta), Rodentia (capivara
e outros roedores) e Lagomorpha (coelho ou tapeti). Outro carnívoro bastante importante em todo o Brasil é a onça-pintada
Panthera onca, que é o maior felino das Américas e o maior predador ter-
restre de topo de cadeia alimentar que habita a Amazônia. A onça-pin-
tada costuma ser mais ativa durante o amanhecer e o anoitecer (hábito
Os Médios e Grandes Mamíferos
crepuscular), mas também se desloca de um lugar para o outro e se ali-
da Flona de Carajás, Serra Norte
menta preferencialmente durante a noite. As onças-pintadas são muito
exigentes com relação à qualidade do ambiente em que vivem e preci-
Boa parte da mastofauna de médio e grande porte da região amazônica ocor-
sam de grandes áreas para sobreviver, se alimentar e criar os seus filhotes.
re no estado do Pará (57 espécies), e os dados dos estudos realizados para o
licenciamento ambiental do Projeto N1 e N2 registraram 82% dos mamíferos Assim, quando se protege o ambiente das onças-pintadas, normalmente
que ocorrem na Floresta Nacional (Flona) de Carajás, o que corresponde a 38 centenas de outras espécies que ocupam a mesma área acabam também
espécies de mamíferos, das quais 18 apresentam características associadas aos ganhando proteção. É uma espécie ameaçada de extinção no estado e
ambientes florestais e 20 são generalistas, o que significa que ocorrem em no Brasil (COEMA, 2007; MMA, 2014), principalmente em razão da pressão
diferentes ambientes, tanto nas florestas quanto nos campos rupestres ferrugi- de caça sobre esses animais e por estar associada a conflitos entre onças
nosos presentes na região do projeto de mineração. A seguir vamos conhecer e o homem, quando elas resolvem atacar a criação de gado. Possui ampla
um pouco mais sobre as espécies desse grupo que ocorrem na Área de Estu- distribuição geográfica pelo Brasil: além da Amazônia, ocorre em quase
do Local (AEL) do Projeto N1 e N2, inserido na Serra Norte, Flona de Carajás. todos os biomas brasileiros e pelo menos 50% da área do país ainda é
considerada adequada à ocorrência da espécie, além de outros países.
Os mamíferos carnívoros são o grupo com o maior número de espécies entre
os mamíferos de médio e grande porte na área do Projeto N1 e N2, com 11
espécies identificadas no local. Trata-se de um grupo essencial cuja perda
de indivíduos e redução de suas populações podem causar o desequilíbrio Você sabia que espécies como a onça-pintada, Panthera onca, também são chamadas de “es-
pécie bandeira” e “espécie detetive da paisagem”? O apelo para a conservação das onças nos
de toda a comunidade local e regional, motivo pelo qual são considerados meios de comunicação ou junto à comunidade local ajuda a atrair mais atenção da população
espécies-chave na manutenção da integridade do ecossistema ao longo do para essa espécie (bandeira), mas, protegendo as onças, todo o ambiente onde elas vivem e as
tempo. São animais considerados de topo da cadeia alimentar, o que significa outras centenas ou milhares de espécies também recebem proteção!
90 Mamíferos de Médio e Grande Porte Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 91
Mas falou em mamífero, logo se pensa em macaco, não é mesmo? Devido caçados, atropelados em estradas e têm mais dificuldade de escapar de
a sua semelhança com os humanos, os macacos ou primatas estão entre os queimadas. Apenas uma espécie ocorre exclusivamente no bioma amazô-
mamíferos mais queridos das pessoas. A ordem Primates inclui todos os ma- nico, o tatu-de-quinze-quilos Dasypus beniensis, e apenas uma é ameaçada
cacos do Novo Mundo, sendo que só no Brasil são conhecidas 116 espécies. de extinção, o tatu-canastra Priodontes maximus – a maior espécie de tatu
Possuem características próprias, que incluem a organização social (vivem da América do Sul (Vulnerável – COEMA, 2007; MMA, 2014; IUCN, 2020).
em grupos) e meios de comunicação mais complexos, consequência do
grande desenvolvimento do cerébro, o que facilita o aprendizado para, por
exemplo, usarem ferramentas (pedras e galhos) para conseguirem alguns
Você sabia que a garra do terceiro dedo do tatu-canastra Priodontes maximus mede cerca de
alimentos na natureza. Eles possuem focinho curto, nariz achatado e narinas 20cm e é utilizada na escavação de tocas e na procura de alimentos? O tatu-canastra pode
voltadas para os lados, de onde vem o nome da infraordem Platyrrhini (“pla- permanecer na toca por vários dias, sendo raramente visto, e, ao contrário de outros tatus,
esta espécie frequentemente destrói por completo os cupinzeiros e formigueiros quando está
tis, platus” = achatado, largo e “rhis ou rhino” = nariz).
se alimentando desses animais.
Você sabia que as queixadas vivem em bandos grandes de até 200 animais? Esse número
Guia de
pode ser ainda maior, dependendo da quantidade de alimento disponível na área onde ocor-
rem. Como as queixadas andam todas sempre juntas (o que os pesquisadores chamam de
coesão social), quando se acha uma queixada, acha-se o grupo inteiro. Essa característica na
pegadas
verdade é uma boa estratégia de sobrevivência na natureza (ajuda a proteger todo o grupo),
mas é uma fragilidade frente aos caçadores que não se contentam em retirar poucos animais
para a alimentação.
As ordens Lagomorpha e Perissodactyla apresentam apenas um único re- Uma das principais maneiras de identificar a presença de um mamífero de
presentante cada uma. O tapeti ou coelho-do-mato Sylvilagus brasiliensis re- médio e grande porte em uma área natural é por meio da análise de seus
presenta a ordem Lagomorpha, sendo encontrado em vários ambientes em rastros e pegadas. Quando esses animais passam em trilhas, estradas de terra
todo o Brasil. É um animal herbívoro pastador (alimenta-se de gramíneas e e nas margens de rios e igarapés, as suas pegadas ficam marcadas no chão,
sementes), pode se reproduzir durante todo o ano e utiliza tanto áreas aber- o que permite reconhecer qual espécie passou por ali.
tas, como campos e cerrados, quanto áreas de mata, onde constroem suas
tocas. Já a anta Tapirus terrestris, representante da ordem P erissodactyla, ocor-
re em várias regiões do Brasil, em ambientes florestais, no Campo Rupestre
Ferruginoso e no Cerrado, mas ainda assim é classificada como ameaçada Pata Posterior (PP) e Pata Anterior (PA).
1 cm
2 cm
PA PP
12 a 15 cm
10 a 12 cm
PA PP
4 a 4,5 cm
3 cm
2 cm
PA PP
3 cm 4 a 4,5 cm
PA PP
PA PP
7 cm
5 cm
PA PP
PA PP
96 Mamíferos de Médio e Grande Porte
Distribuição: Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Distribuição: Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado,
Caatinga, Pantanal e Pampas. Caatinga, Pantanal e Pampas.
Hábitos: Carnívoro e terrestre. Hábitos: Insetívora / Onívora e terrestre.
Foto: AMPLO
Espécie: Priodontes maximus Espécie: Bradypus variegatus
Aves
Foto: João Marcos Rosa Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 111
As aves tiveram sua origem entre 208 milhões e 144 milhões de anos
atrás, a partir de um grupo de dinossauros conhecidos como terópo-
des. Desde então, adaptaram-se aos mais diversos tipos de ambientes e,
atualmente, estão distribuídas por quase todo o planeta. Essa alta capa-
cidade de adaptação a diversos tipos de ambientes se dá em função de
duas características fundamentais das aves: a manutenção da tempera-
tura corporal e a capacidade de voar, presente na maioria das espécies.
Embora sejam características fundamentais à adaptação e à sobrevivên-
cia, elas só são possíveis em virtude da estrutura mais peculiar às aves,
que, além de desempenhar distintas funções, diferencia esses animais
de todos os outros organismos vivos do planeta: as penas.
Você sabia que apenas dois grupos de aves não possuem a capacidade de voo? Essa ca-
racterística foi perdida durante o processo de evolução nos pinguins e nas ratitas (emas,
avestruzes e casuares).
Mesmo as aves noturnas cantam com frequência, o que chama a atenção As Aves da Flona de Carajás, Serra Norte
das pessoas. Diante disso, existem milhares de observadores de aves em
todo o mundo, que fazem dessa atividade uma importante recreação e A compilação de dados da avifauna na área específica ao Projeto N1 e N2
movimentam a indústria do turismo. As aves também são muito úteis em considerou estudos técnico-científicos realizados para o licenciamento
estudos ambientais, pois propiciam a avaliação rápida das características ambiental, bem como informações contidas no Banco de Dados da Biodi-
ecológicas e do estado de conservação de determinada área, uma vez que versidade da Vale. Assim, após a consolidação das informações disponíveis
muitas espécies apresentam respostas variadas em função das interven- para o contexto local, foram registradas 312 espécies de aves, distribuídas
ções humanas em seus hábitats, atuando como indicadores ecológicos. em 22 ordens e 58 famílias. Essa riqueza corresponde a, aproximadamente,
Tamanha importância faz do grupo das aves um dos mais bem estudados metade da avifauna já registrada para toda a região da Serra dos Carajás.
entre os animais, proporcionando alta disponibilidade de informações No entanto, nenhuma dessas espécies ocorre exclusivamente na área do
biológicas e ecológicas para a realização dos mais variados estudos. Projeto, sendo também registradas em outras áreas de Carajás, da Amazô-
nia ou do Brasil.
No Brasil existem mais de 1.900 espécies de aves, das quais mais da meta-
de ocorre na Amazônia. Várias pesquisas têm apontado para diminuições Vinte e seis espécies de aves estão ameaçadas de extinção no Pará, no Brasil
da diversidade de aves na região amazônica como consequência de altera- ou no mundo (COEMA, 2007; MMA, 2014; IUCN, 2020), conforme listagem
ções causadas pela ação humana, tais como queimadas, desmatamento e apresentada. A maioria delas pertence à família Psittacidae, que inclui a ara-
fragmentação. Na região de Carajás, em função do importante papel como ra-azul Anodorhynchus hyacinthinus, a tiriba-do-xingu Pyrrhura anerythra,
indicadores de alterações ambientais, as aves vêm sendo estudadas desde a tiriba-de-hellmayr Pyrrhura amazonum, o apuim-de-asa-vermelha Touit
a década de 1980. huetii, a marianinha-de-cabeça-amarela Pionites leucogaster e a curica-uru-
bu Pyrilia vulturina. Também se destacam os aparaçus, pertencentes à famí-
Um dos estudos pioneiros sobre as aves de Carajás foi publicado em 2007
lia Dendrocolaptidae: arapaçu-de-bico-curvo-do-xingu Campylorhamphus
por José Fernando Pacheco e colaboradores, registrando o total de 565
multostriatus, arapaçu-barrado-do-xingu Dendrocolaptes retentus, arapaçu-
espécies. Posteriormente, houve uma série de adições ao conhecimen-
-meio-barrado Dendrocolaptes picumnus, arapaçu-do-carajás Xiphocolap-
to ornitológico da região, graças aos esforços empregados em diversos
tes carajaensis e arapaçu-de-loro-cinza Hylexetastes brigidai. Das espécies
estudos de impacto ambiental e monitoramentos de fauna realizados
ameaçadas que dependem de extensas áreas de florestas para manter suas
no âmbito do licenciamento de novas frentes de exploração mineral. Em
populações saudáveis, citam-se o jacupiranga Penelope pileata, o mutum-
2012, o pesquisador Alexandre Aleixo e colaboradores compilaram todo
-de-penacho Crax fasciolata e o jacamim-do-xingu Psophia interjecta.
o conhecimento ornitológico até então disponível sobre Carajás, adicio-
nando 33 espécies a essa listagem e removendo algumas consideradas Destaca-se que 100 espécies registradas na área do Projeto N1 e N2 (cerca
errôneas e/ou duvidosas, o que elevou a riqueza da Flona de Carajás para de 1/3 do total) ocorrem apenas na Amazônia. Entre as aves que apresen-
594 espécies de aves. tam ampla distribuição na região amazônica, destacam-se o inambu-pi-
xuna Crypturellus cinereus, a corujinha-relógio Megascops usta, a ariram-
O conjunto de informações compilado com base nesses estudos e na con-
ba-da-mata Galbula cyanicollis, o rapazinho-de-colar Bucco capensis, o
solidação de todos os demais dados disponíveis para a Serra dos Carajás
tucano-de-papo-branco Ramphastos tucanus, o picapauzinho-dourado
resultou na expressiva listagem de 612 espécies de aves, distribuídas em
Picumnus aurifrons, o benedito-de-testa-vermelha Melanerpes cruentatus,
27 ordens e 76 famílias, o que representa quase 1/3 de toda a avifauna bra-
o pica-pau-de-barriga-vermelha Campephilus rubricollis, o periquito-de-
sileira. No entanto, esse resultado não pode ser considerado final, devidos
-asa-dourada Brotogeris chrysoptera, a choca-cantadora Pygiptila stellaris,
às constantes descobertas de espécies ainda não registradas na região.
114 Aves Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 115
das áreas mais ricas em aves do mundo e uma das mais bem conhecidas
da Amazônia.
Guia
fotográfico
3 7
4 8
Anfíbios
Foto: Leandro Drummond Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 129
Os anuros (Ordem Anura) são o grupo de anfíbios mais diversificado, fá- Durante a época reprodutiva, geralmente concentrada no início da estação
cil de encontrar e popularmente conhecido. Cerca de 90% das espécies chuvosa, os anuros machos coaxam para atrair as fêmeas das suas respec-
de anfíbios do mundo são anuros. Os anuros adultos não possuem cor- tivas espécies. Cada espécie possui um canto distinto da outra, chamado
po alongado nem cauda, apresentando pernas normalmente longas e espécie-específico. Há espécies que, inclusive, são tão parecidas morfolo-
adaptadas ao salto. Os nomes comuns desses animais (sapos, rãs, jias e gicamente que só podem ser diferenciadas por meio do canto. Machos
pererecas) escondem uma enorme variedade de grupos. O nome sapo, podem se agrupar para “cantar” próximos a áreas alagadas formando coros
por exemplo, pode ser utilizado para se referir genericamente a qual- com centenas ou até milhares de indivíduos reunidos.
quer anuro, mas geralmente um típico sapo possui pele seca de aspecto
Os anfíbios possuem um importante papel na dinâmica dos nutrientes,
verrugoso e hábito terrestre, características bem representadas por in-
promovendo a ciclagem do fluxo de energia entre os sistemas terrestres e
tegrantes das famílias Bufonidae e Odontophrynidae. As pererecas pos-
aquáticos, além de exercerem uma função fundamental no controle das po-
suem a pele lisa e presença de discos adesivos, como se fossem ventosas,
pulações de insetos e de outros invertebrados, que constituem os principais
na ponta dos dedos, o que dá a elas a capacidade de “escalar”, habilidade
itens de sua dieta. São ainda especialmente suscetíveis a alterações ambien-
não observada em sapos e rãs. As espécies das famílias Hylidae, Phyllo-
tais, pois sua pele permeável é muito vulnerável a poluentes químicos e à
medusidae e Centrolenidae representam bem o arquétipo de uma pere-
radiação, e seu complexo ciclo de vida os expõe a distúrbios tanto no meio
reca. As rãs ou jias (restritas às espécies normalmente utilizadas para ali-
aquático (fase larval) quanto no meio terrestre (fase adulta).
mentação) também possuem pele lisa e normalmente patas posteriores
maiores e mais fortes quando comparadas a outros anuros e por isso são
exímias saltadoras. A família Leptodactylidae representa muito bem o
que se conhece popularmente como uma rã. Entretanto, muitas espécies Você sabia que os anfíbios possuem em sua pele uma grande e pouco conhecida variedade
possuem combinações de características que não permitem enquadrá- de substâncias químicas, uma farmacopeia com grande potencial para o descobrimento de
antibióticos e outros medicamentos?
-las facilmente em uma dessas categorias (sapos, rãs, jias e pererecas) e
outras, por não serem frequentemente avistadas pela comunidade local,
não possuem nome popular.
Amazônia ainda é pouco conhecida, sendo comum a descrição de novas Osteocephalus oophagus, a rãzinha-listrada Lithodytes lineatus, a rãzinha-
espécies pela ciência. -da-mata Chiasmocleis avilapiresae e o sapo-verrugoso Proceratophrys
concavitympanum. Outras espécies preferem ambientes abertos como
Na Floresta Nacional de Carajás, área onde está inserida a Serra Norte, são
os campos rupestres sobre canga (vegetação dominada por capins e ar-
conhecidas 66 espécies de anfíbios. Na Serra Norte, mais especificamente
bustos que crescem sobre afloramentos rochosos de minério de ferro), a
na região do Projeto N1 e N2, foram registradas 46 espécies de anfíbios.
exemplo do sapo-venenoso-de-Lutz Ameerega aff. flavopicta.
Desse total, 45 espécies são sapos, rãs, jias ou pererecas. Microcaecilia taylo-
ri foi a única cecília registrada. Assim como na maioria dos locais de regiões A maioria das espécies deposita seus ovos diretamente em ambientes
tropicais das Américas, as famílias com o maior número de espécies foram aquáticos, seja em igarapés, em pequenos riachos de água corrente, seja
Hylidae e Leptodactylidae, representando juntas mais da metade da rique- em poças, brejos e lagoas de água parada. Outras espécies depositam
za total da fauna de anfíbios do Projeto N1 e N2. suas desovas em folhas localizadas sobre a lâmina d’água, como as pere-
recas-macaco Phyllomedusa bicolor, Phyllomedusa vaillantii e Pithecopus
A riqueza de espécies do Projeto N1 e N2 pode ser considerada alta e é
hypochondrialis. Assim, depois que saem dos ovos, os girinos pingam no
compatível com o alto grau de preservação da área e elevada diversida-
corpo d’água. Já o sapinho-enfermeiro Allobates carajas deposita seus ovos
de de hábitats. Apesar de tamanha riqueza, uma considerável parcela
em ambiente terrestre e transporta os girinos nas costas até o ambiente
dessas espécies permanece pouco conhecida no que diz respeito à sua
aquático. Outras espécies possuem desenvolvimento direto, ou seja, dos
taxonomia, distribuição geográfica e biologia. Nove espécies, por exem-
ovos eclodem pequenos sapinhos já formados (com as quatro patas), sem
plo, não puderam ser identificadas até o nível específico, ilustrando bem
passar pelo estágio larval aquático (girinos), como a rã-da-mata P ristimantis
o quanto ainda precisamos estudar os anfíbios da região.
fenestratus, que deposita seus ovos no folhiço úmido. O sapo-pipa Pipa
arrabali, uma espécie totalmente aquática, incuba seus ovos na pele do seu
A maioria das espécies, mais da metade, possui distribuição geográfica res-
próprio dorso, até a eclosão dos filhotes.
trita ou com maior parte inserida na Amazônia, a exemplo das espécies tipi-
camente amazônicas Rhaebo guttatus (sapo-cururu), Dendropsophus leuco-
phyllatus (perereca) e Leptodactylus paraensis (rã-pimenta). Outras espécies,
como as comuns e amplamente distribuídas Rhinella marina (sapo-cururu),
Dendropsophus minutus (pererequinha-do-brejo), Trachycephalus typhonius
(perereca-grudenta) e Leptodactylus fuscus (rã-assobiadora), ocorrem em
dois ou mais biomas. Por outro lado, o sapo-granuloso Rhinella mirandari-
beiroi e a rãzinha-da-canga Pseudopaludicola canga possuem distribuição
geográfica restrita ao Cerrado e seus enclaves amazônicos. Já o sapinho-en-
fermeiro Allobates carajas é endêmico da Serra de Carajás, o que quer dizer
que só ocorre nessa região.
Atividade: Diurna
Comprimento: < 4 cm
Hábitat: Área aberta
Distribuição: Desconhecida por se tratar de
uma espécie potencialmente nova ainda não
descrita pela ciência. A espécie A. flavopicta
ocorre em áreas do Cerrado brasileiro
Hábito: Terrícola
Foto: Leandro Drummond
Família: Hylidae
Atividade: Noturna
Comprimento: < 4 cm
Hábitat: Área aberta, Floresta
Distribuição: Amazônia
brasileira, Venezuela, Guiana,
Suriname, Guiana Francesa
Hábito: Arborícola
Foto: Leandro Drummond
Atividade: Noturna
Comprimento: > 7 cm < 11 cm
Hábitat: Floresta
Distribuição: Ampla, ocorrendo na
bacia amazônica do Equador, Brasil,
Bolívia, Peru, bem como no alto rio
Orinoco da Venezuela e Guianas
Hábito: Arborícola
Foto: Leandro Drummond
Répteis
Foto: Jussara Dayrell Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 167
A palavra réptil vem do latim e significa “o que se arrasta”, pois muitas das
espécies desse grupo se locomovem rastejando. Os répteis possuem a pele
queratinizada, já que seu corpo é revestido por uma camada mais espessa
e impermeável, recoberto externamente por escamas epidérmicas. Alguns
também possuem placas ósseas abaixo dessas escamas (chamadas osteo-
dermas). No Brasil, os répteis são divididos em três grupos:
Leptophis ahaetulla
aumentar a temperatura, como o sol. Assim, quando está frio, o corpo apre-
(Brasileirinha) senta uma temperatura baixa e, ao esquentar, ele também se aquece. Por
168 Répteis Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 169
isso esses animais usam algumas estratégias, como se expor ao sol quando Os lagartos são extremamente diversos e popularmente conhecidos como
o dia está frio e se proteger em lugares sombreados ou na água quando a lagartixas, calangos, teiús, iguanas e camaleões. Possuem cauda longa e
temperatura está muito alta. geralmente quatro patas. Eles ocupam diversos ambientes e podem ser
arborícolas (habitam a vegetação), terrícolas (habitam o chão), fossoriais
Os quelônios e crocodilianos constituem um grupo de interesse especial na
(galerias no subsolo) e semiaquáticos (habitando tanto a água quanto a
região amazônica, pela sua importância histórica na cultura e na alimenta-
terra). A grande maioria é onívora, ou seja, alimenta-se tanto de outros
ção de índios e ribeirinhos. As espécies de quelônios e jacarés sofrem, regio-
animais quanto de plantas e frutos.
nalmente, forte pressão devido à caça e comercialização de carnes e ovos.
Foto 16: Autotomia de Chironius carinatus (cobra-cipó). Fui picado, e agora? As serpentes são animais bastante mistificados, citados em diversos
contos e lendas. Quando o assunto é acidente por picada de cobra, não é diferente: são
muitos os mitos. Muitas vezes, baseando-se nessas crenças populares, a vítima é orientada
erroneamente a realizar procedimentos como utilizar esterco, fumo, querosene ou urina no
local da picada, ingerir bebidas alcoólicas ou poções de cura, fazer cortes e torniquetes na
região do ferimento.
As serpentes são animais de corpo alongado, patas anteriores e posterio-
Alguns desses procedimentos podem inclusive potencializar a ação do veneno ou mesmo
res ausentes, com cauda comprida. Não possuem pálpebras, então não confundir o médico em um futuro diagnóstico e tratamento. Por isso, em caso de aciden-
conseguem fechar os olhos. Uma característica interessante das cobras é te, não só com serpente, mas envolvendo qualquer tipo de animal peçonhento no geral,
recomenda-se sempre: lavar o local da picada apenas com água corrente, manter a vítima
a capacidade de deslocar a mandíbula para engolir presas muito maiores
calma, o local da picada preferencialmente mais alto em relação ao restante do corpo (por
do que elas próprias. exemplo, no caso de picadas em braços e pernas) e encaminhá-la para o atendimento mé-
dico o mais rápido possível.
Você saberia dizer a diferença entre animais venenosos e animais peçonhentos? Animais pe-
çonhentos são aqueles que, além de produzir substâncias tóxicas, possuem a capacidade de Os répteis estão presentes em quase todos os ambientes amazônicos pos-
inocular o veneno em suas vítimas por meio de presas, quelíceras ou ferrões. Os exemplos
mais famosos são as serpentes das famílias Viperidade e Elapidae, mas é também o caso de suindo hábitos terrestres, subterrâneos, aquáticos ou arborícolas. A fauna
outros animais como algumas espécies de aranhas, escorpiões e abelhas. Por sua vez, os ani- reptiliana é composta principalmente por espécies predadoras e, por isso,
mais venenosos, embora também produzam toxinas, não são capazes de injetá-las em suas
exerce papel-chave no funcionamento do ecossistema, controlando po-
presas, normalmente usando-as como defesa contra predadores. Várias espécies de sapo,
entre elas o sapo-cururu e os sapinhos coloridos da família Dendrobatidae (sapos-flecha), pulações de suas presas que vão desde invertebrados, como minhocas,
podem causar casos graves de envenenamento se ingeridos ou em contato com mucosas lesmas, insetos, aranhas e centopeias, até vertebrados, como peixes, sapos,
(olhos e boca, por exemplo) ou com sangue (em casos de ferimentos, por exemplo).
outros répteis, aves e mamíferos (foto 17).
172 Répteis Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 173
Guia
Hábitat: Habita rios de corredeiras
e igapós nas florestas, em áreas
abertas ou próximo a cachoeiras e
quedas d’água de grandes rios.
fotográfico
Distribuição: Amazônia brasileira,
norte e centro-oeste da América
do Sul até a Bolívia.
Hábitos: Alimenta-se de
peixes, caranguejos, moluscos,
invertebrados e pequenos
vertebrados terrestres.
Curiosidade: é um dos menores
jacarés do mundo, cujo tamanho
máximo conhecido é em torno
de 150 cm de comprimento total
para machos.
Importância Sanitária
que por um lado lhes oferecem néctar e pólen, e em troca recebem ajuda Culicidae e 80 da subfamília Flebotominae), alguns deles vetores de parasi-
para a sua reprodução. Essa relação é boa para as plantas e insetos, pois tos causadores da febre amarela, dengue, chikungunya, zika e malária.
todos saem ganhando alguma coisa. Por outro lado, ainda que não quei-
As espécies da família Culicidae são conhecidas como mosquito, perni-
ram intencionalmente provocar nenhum mal, alguns insetos estão envol-
longo, muriçoca e carapanã e estão distribuídas em três subfamílias: Culi-
vidos em processos naturais muito específicos que podem causar prejuí-
cinae, Anophelinae e Toxorhynchitinae. Nas duas primeiras subfamílias
zo para outros animais, plantas e até mesmo às populações humanas. Os
(Culicinae, Anophelinae) estão presentes as espécies de carapanãs que
insetos herbívoros, por exemplo, são aqueles que se alimentam de partes
transportam os vírus que causam a dengue, zika, chikungunya, febre ama-
de vegetais e por essa razão podem prejudicar a capacidade da planta
rela, febre do oropuche e malária. As fêmeas desses mosquitos se alimen-
consumida de capturar a energia do sol para formar substâncias essen-
tam de sangue. O sangue que a fêmea conseguiu durante a alimentação
ciais para si. Outro exemplo são os insetos hematófagos, que se alimen-
é importante para que ela seja capaz de desenvolver e amadurecer os
tam do sangue de outros animais, normalmente dos vertebrados, mas
seus ovos. A fêmea deposita os ovos, após a cópula, em locais capazes de
principalmente das aves e mamíferos. Insetos com esse hábito alimentar
armazenar água. Em ambientes naturais (como florestas), as bromélias, os
tão particular podem apresentar diferentes formas, tamanhos, cores e ou-
bambus e os frutos caídos podem fazer esse armazenamento. Nas cida-
tras características do corpo, mas todos precisam de sangue quente para
des e vilas, os pneus, garrafas de plástico, pratos de plantas, caixas-d’água
sobreviver, reproduzir-se e desempenhar o seu papel no meio ambiente.
destampadas são bons locais que armazenam água. Esses locais são cha-
Entre os mais conhecidos estão as pulgas (Ordem Siphonaptera), os pio-
mados de criatórios do mosquito. As fêmeas escolhem bem o local para
lhos (Ordem Phtiraptera), os percevejos ou barbeiros (Ordem Hemiptera),
fazer a postura dos ovos, pois é nesses locais que o mosquito imaturo
e os mosquitos, muriçocas e pernilongos (Ordem Diptera). A presença de
vai sofrer transformações até se tornar um adulto, tornando-se capaz de
alguns desses animais é frequentemente motivo de preocupação pela po-
voar. Quando um carapanã está infectado, ele pode transferir o parasito
pulação local. Além dos incômodos causados pela picada, esses insetos
enquanto se alimenta do sangue e adoecer os homens e outros animais.
sugadores muitas vezes transportam, no aparelho digestivo, microrganis-
O organismo (vertebrado ou invertebrado) que oferece condições para o
mos que são os verdadeiros responsáveis por importantes doenças que
desenvolvimento de um parasito é chamado de hospedeiro.
afetam a população humana. O fato de ser capaz de transmitir parasitas,
bactérias ou vírus a outro ser ou organismo caracteriza os insetos que se
As espécies da família Psychodidae que pertencem à subfamília Fleboto-
alimentam de sangue como insetos vetores de doenças, particularmente
minae são consideradas de maior importância para a saúde. As espécies
os mosquitos, muriçocas, carapanãs ou pernilongos, e mosquito-palha, da
dessa subfamília são popularmente conhecidas como tatuquira, mosqui-
ordem Diptera, família Culicidae e Psychodidae.
to-palha, asa-branca, cangalhinha e são importantes vetores dos microrga-
nismos que causam as leishmanioses tegumentar e visceral. O Brasil possui
o maior número de espécies dessa subfamília, que depositam seus ovos
em local úmido e rico em matéria orgânica.
Os Insetos - Dípteros Vetores
da Flona de Carajás, Serra Norte
Mudanças ambientais de origem natural, como aquelas causadas por inun-
dações, aumento na temperatura ou ventos fortes, e as mudanças provo-
No estado do Pará, especificamente nas proximidades do Projeto N1 e N2,
cadas pelo homem, como queimadas, desmatamento e produção de lixo,
os registros que existem para os dípteros vetores foram encontrados em li-
podem criar locais que ajudem na sobrevivência e reprodução dos dípteros
vros, em relatórios técnicos e dados da Secretaria de Saúde de Parauapebas
que transmitem doença. Como esses insetos conseguem produzir muitos
(PA), mostrando a presença de 121 espécies de dípteros (41 da subfamília
ovos, áreas que apresentem muitos locais favoráveis para sua procriação
206 Dípteros de Importância Sanitária Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 207
podem aumentar os registros sobre novas doenças ou sobre efermidades Ciclo de Transmissão
antigas que voltaram a adoecer a população. Assim, os dípteros são conside-
A malária é uma doença registrada em praticamente todas as regiões tropicais
rados bons bioindicadores ambientais.
e subtropicais, sendo que 40% da população mundial está suscetível à doença.
A doença no homem é causada por quatro espécies de microrganismos co-
As doenças transmitidas pelos carapanãs atingem toda a população huma-
nhecidos como protozoários: Plasmodium vivax, Plasmodium falciparum, P. ova-
na, especialmente moradores de regiões tropicais, como o Brasil, que tem o
le e P. malariae. Esses protozoários possuem um ciclo complexo e com muitas
clima bastante favorável para a sobrevivência dos insetos. Segundo a Orga-
fases de desenvolvimento, que ocorrem em dois hospedeiros: um invertebra-
nização Mundial de Saúde (OMS), essas doenças transmitidas pelos dípteros
do – fêmea do mosquito do gênero Anopheles, onde ocorre a fase assexuada
que sugam sangue são responsáveis por 700 mil mortes por ano no mundo.
do ciclo – e um vertebrado – nesse caso, em especial, o homem, onde ocorre
Essa informação cria muitos debates entre os governos devido aos prejuí-
a fase sexuada do ciclo de desenvolvimento do microrganismo (figura 4).
zos que esse problema causa para a saúde pública e a economia. Diante
disso, os países da América se reuniram em 2018 para discutir propostas e
ações preventivas, de vigilância e controle para reduzir o número de doen-
ças transmitidas por dípteros.
como h
epatócitos. Dentro dos hepatócitos, os protozoários sofrem uma Ciclo de transmissão
transformação e nessa nova fase do desenvolvimento se multiplicam, dan-
A febre oropouche é uma doença provocada por um vírus que é mantido
do origem a muitos outros protozoários. Como as células do fígado ficam
por hospedeiros vertebrados (roedores, aves, primatas e homem) e trans-
muito cheias de protozoários, elas acabam estourando e os protozoários in-
mitida entre eles por um inseto (mosquito carapanã) (figura 5). O vírus foi
vadem o sangue novamente. Dentro das células que formam o sangue, os
registrado pela primeira vez no Brasil em 1960, no sangue de uma pregui-
protozoários se multiplicam até que essas células estourem. Quando as cé-
ça (Bradypus tridactylus), e desde essa época a doença é frequentemente
lulas do sangue estouram, acontece a fase de febre característica da malária.
registrada, principalmente nos estados do Norte e Nordeste do país. As
A febre pode ocorrer a cada 48 horas, quando os protozoários responsáveis
manifestações clínicas nos seres humanos incluem febre, mialgia, artral-
pela infecção são os Plasmodium vivax, Plasmodium falciparum e Plasmodium
gia, dor de cabeça, fotofobia e erupção cutânea. Na maioria dos casos, os
ovale, ou a cada 72 horas, nos casos provocados por Plasmodium malariae.
sintomas não são graves e por isso a febre do oropouche recebe menos
Enquanto isso, dentro do corpo da pessoa contaminada, podem acontecer
atenção, sendo, portanto, uma doença subnotificada.
duas situações: (i) os protozoários invadem outros eritrócitos e continuam
se multiplicando no sangue e (ii) os protozoários mudam sua forma para po-
der sobreviver dentro do corpo dos mosquitos carapanã. Dentro do corpo
do mosquito carapanã, o protozoário sofre várias transformações para estar
pronto para voltar para o corpo do homem, quando este é picado.
da malária. No entanto, a melhor medida preventiva é o controle vetorial. O Mi- Figura 5 - Ciclo de transmissão da febre oropouche
e roupas compridas que evitem ao máximo a exposição da pele em áreas Nome popular: Mosquito-prego,
mosquito, pernilongo
Família: Culicidae
endêmicas ou com ocorrência da doença. Assim como ocorre com a ma- Atividade: Crepuscular/ Noturno
Hábitat: Florestas em regiões de
lária, a melhor medida preventiva é o controle do inseto. clima quente e úmido e próximo a
habitações humanas
Distribuição: As espécies do gênero
Anopheles são encontradas em
todo o território brasileiro.
Curiosidade: Apenas as
fotográfico
plantas. Há espécies do gênero
que são vetoras da malária.
Peixes
Foto: Marcelo Brito Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 215
lagoas e remansos. Apresentam o corpo com formatos e cores bem variadas, Os Peixes da Flona de Carajás, Serra Norte
sendo completamente coberto por escamas. Algumas espécies podem rea-
lizar migrações reprodutivas, as chamadas piracemas, quando se deslocam A região Neotropical possui a mais diversa fauna de peixes do mundo,
rio acima para reproduzir. É bem comum encontrar esses peixes formando compreendendo cerca de 5.500 espécies de água doce. A alta diversi-
cardumes, o que representa uma importante estratégia para evitar a pre- dade de peixes deve-se principalmente à presença de muitos sistemas
dação. A alimentação desse grupo é bem variada. Os peixes normalmente hidrográficos (rios, lagos, igarapés, etc.), e principalmente à Bacia Ama-
são mais ativos durante o dia (diurnos) e exploram ativamente os recursos zônica. Essa bacia é de longe a mais rica do mundo, superando 2.700
do ambiente, bem como se alimentam dos itens que caem na água, como espécies de peixes. Essa riqueza se deve não apenas à sua grande área
frutos, sementes e insetos. (aproximadamente 7 milhões de km2), mas também a fatores históricos,
juntamente com sua heterogeneidade ambiental e complexidade geo-
Os Siluriformes são peixes que apresentam couro ou placas ósseas reves-
morfológica. Cabe destacar que o conhecimento sobre a diversidade
tindo o corpo. Esta ordem agrupa as espécies popularmente chamadas de
dessa fauna é ainda incompleto, uma vez que dezenas de novas espé-
bagres, que são os peixes de couro, bem como os peixes com placas ósseas,
cies são descritas a cada ano. Portanto, essa riqueza de peixes tende a
chamados de acaris e cascudos. Possuem barbilhões que são, na verdade, es-
aumentar ainda mais.
truturas quimiotácteis localizadas no queixo e próximas da boca para auxiliar
na localização do alimento e percepção ambiental. Nas nadadeiras peitorais Na Floresta Nacional (Flona) de Carajás, área onde está inserida a Serra Nor-
e na nadadeira dorsal estão os esporões, que são serrilhados e pontiagudos. te, são conhecidas 278 espécies de peixes. Na Serra Norte foram registradas
Trata-se de estruturas que representam uma boa defesa contra a investida até o momento 29 espécies e mais especificamente na região do Projeto
de predadores, visto que eles abrem esses esporões quando ameaçados. Os N1 e N2, 19 espécies de peixes. Assim como na maioria das drenagens neo-
representantes dessa ordem, normalmente, estão associados ao fundo de tropicais, as ordens com o maior número de espécies foram Characiformes
rios com folhiço, areia ou pedras, e costumam ser mais ativos no amanhecer, e Siluriformes, representando juntas mais da metade da riqueza total da
no anoitecer e durante a noite (hábito crepuscular/noturno). Assim como fauna de peixes do Projeto N1 e N2.
descrito para os peixes de escama, algumas espécies dessa ordem também
realizam a piracema no período reprodutivo. Os cursos d’água próximos à região de cabeceira, como é o caso dos am-
bientes amostrados no Projeto N1 e N2, possuem hábitats específicos que
E por fim a Ordem Cichliformes, representada por espécies como os tucuna- por sua vez abrigam espécies com características especiais e adaptadas às
rés, acarás, jacundás, entre outras. Algumas espécies apresentam comporta- condições do ambiente nesse segmento do curso d’água.
mentos elaborados como territorialismo e cuidado parental, de maneira que
os pais preparam o ninho e demandam cuidado desde a postura dos ovos A maioria das espécies possui distribuição geográfica restrita ou com
até a independência dos filhotes. maior parte inserida dentro da Amazônia, a exemplo das espécies tipi-
camente amazônicas como o cachorrinho Acestrorhynchus falcatus, a pia-
Cabe destacar que várias espécies dessas ordens, de pequeno porte, e prove- banha Brycon polylepis, o piquirão Bryconops caudomaculatus, o matupiri
nientes da região amazônica, são capturadas e vendidas para a aquariofilia – Poptella compressa, o acari-cachimbo Rineloricaria lanceolata, o acará-pi-
prática de criar peixes, plantas e outros organismos aquáticos em recipien- xuna Aequidens tetramerus e o jacundá Crenicichla inpa. Outras espécies
tes de vidro, acrílico ou plástico, conhecidos como aquários. Muitas delas são comuns e amplamente distribuídas, destacando-se as espécies aracu-
possuem alto valor comercial e são vendidas nos grandes centros urbanos -cabeça-gorda Leporinus friderici e o aracu Leporellus vittatus, que ocorrem
do Brasil e exportados, como é o caso do neon (Characiformes), de diversos em duas ou mais bacias. Por outro lado, a piaba Astyanax elachylepis possui
tipos de acaris (Siluriformes) e do acará-disco (Cichliformes). distribuição geográfica restrita à bacia do rio Tocantins. Já a tilápia-do-Nilo
218 Peixes
Você sabia que os peixes podem fazer ninhos e até mesmo carregar seus ovos e filhotes?
Pois é! Algumas espécies fazem ninhos utilizando diversos materiais ou depositam seus
ovos em diferentes substratos. Em alguns casos, os pais permanecem junto ao ninho du-
rante todo o período de incubação, e o cuidado continua após a eclosão dos ovos, já que
as larvas são pequenas e indefesas. Outras espécies podem carregar os ovos aderidos ao
corpo (região ventral do corpo e lábios) ou até mesmo levar os ovos e filhotes dentro da
boca! Com todo esse cuidado para evitar a predação, os pais aumentam as chances de
sobrevivência de seus filhotes.
220 Peixes Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 221
Guia
fotográfico
Foto: SETE
Foto: SETE
Espécie: Brycon polylepis Moscó Morales 1988 Espécie: Bryconops caudomaculatus (Günther 1864)
Foto: SETE
Foto: VALE
Foto: VALE
Ordem Siluriformes
Espécie: Rineloricaria lanceolata (Günther 1868) Espécie: Crenicichla inpa Ploeg 1991
Biota
Aquática
Foto: BRANDT Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 229
Em geral, as relações entre esses grupos ocorrem no nível microscópico. em condições de anoxia (sem oxigênio). Estão distribuídos desde as re-
As algas fitoplanctônicas que colonizam as superfícies sólidas de ambien- giões polares até águas termais, colonizam o solo, os fitotelmos (depósi-
tes aquáticos representam importantes produtores primários ao transfor- tos de água pluvial armazenados em estruturas de plantas terrestres, tais
mar a energia do sol em energia química através da fotossíntese. Ao serem como folhas modificadas, cavidades e depressões no caule), os ambien-
consumidas pelos organismos microscópicos e macroscópicos (pode-se tes intermitentes e temporários como poças, além dos lagos, rios, repre-
enxergar a olho nu) que compõem o zooplâncton, os macroinvertebrados sas e planícies inundadas.
bentônicos e o nécton, ocorre a transferência de energia na cadeia alimen-
tar aquática. A fauna zooplanctônica assume papel dos consumidores e
No cenário nacional, uma síntese atual da diversidade de algas apon-
Uma compilação de vários estudos reuniu em um livro dados de biodi- Biota Aquática da Flona
versidade de algas e de cianobactérias continentais (exceto Bacillario- de Carajás, Serra Norte
phyceae) do estado do Pará e apontou uma riqueza muito maior quan-
do comparada aos dados supracitados. Os 1.584 táxons infragenéricos Fitoplâncton
registrados pertencem a 12 classes, 56 famílias e 169 gêneros, sendo as
Estudos do fitoplâncton na Área de Estudo Local do Projeto N1 e N2
classes Zygnemaphyceae (Conjugathophyceae), Chlorophyceae e Cya-
contabilizaram 448 táxons, o que representa uma elevada riqueza e
nobacteria as mais representativas.
uma importante contribuição para ampliar o conhecimento das algas
Dando o mesmo enfoque regional para a fauna zooplanctônica, um dos do estado e do país. Foram identificadas 10 classes de fitoplâncton,
trabalhos mais completos relativo ao estado do Pará, realizado no reser- sendo Conjugatophyceae e Bacillariophyceae dominantes em termos
vatório do Curuá-Una, aponta 51 táxons de tecamebas, sendo as famílias de riqueza.
mais especiosas Difflugiidae (19 táxons), Arcellidae (15 táxons) e Centro-
No âmbito dos corpos hídricos da área do Projeto N1 e N2, o levantamen-
pyxidae (9 táxons). No Rio Xingu foram registradas 94 espécies do filo
to taxonômico de 11 locais amostrados registrou um total de 252 táxons
Rotifera, 61 espécies da ordem Cladocera e 10 de Copepoda (4 da ordem
(tipos diferentes de algas-unidade taxonômica associada a um sistema
Cyclopoida e 6 da ordem Calanoida).
de classificação científica), dos quais apenas 176 foram identificados até
Na Serra de Carajás, cinco lagos tropicais de altitude concentram 51 es- a categoria de espécies. Das 10 classes de fitoplâncton presentes, Con-
pécies, sendo 28 pertencentes a Rotifera, 17 a Cladocera e 6 a Copepoda. jugatophyceae e Bacillariophyceae também foram as mais ricas e repre-
sentaram 38% e 24%, respectivamente, de todos os táxons identificados.
Ainda neste contexto regional, considerando especificamente a região Da classe Conjugatophyceae, os gêneros Cosmarium e Staurastrum fo-
de Carajás, há estudos sobre macroinvertebrados que vêm sendo ram os mais diversos, somando 41 espécies identificadas. Entre as Bacilla-
realizados em diversos projetos e já revelaram, até o momento, apro- riophyceae, os gêneros Eunotia e Pinnularia foram os mais diversos, com
ximadamente 100 táxons, sendo as famílias Chironomidae (Ordem 17 espécies no total.
Diptera), Coenagrionidae e Libellulidae (Ordem Odonata) as mais
abundantes. As espécies de alga Cryptomonas sp., Centritractus sp. e Batrachospermum
sp. foram os únicos registros das classes Cryptophyceae, Xanthophyceae e
Nesse contexto, o levantamento de espécies do Projeto N1 e N2 é de Rhodophyceae.
grande importância para ampliar o conhecimento da biota aquática, não
só da região de Carajás, como do estado do Pará como um todo. Quanto aos ambientes aquáticos da Área de Estudo Local, constatou-se
que os sistemas lênticos com maior heterogeneidade de hábitat e con-
Sendo assim, a abordagem integrada do grupo Biota Aquática, pro- dições mais estáveis tiveram maior riqueza de algas. O estudo indicou
posta neste capítulo, trará informações acerca da composição da co- também que os diferentes ambientes são colonizados por comunidades
munidade hidrobiológica formada pelos organismos fitoplanctônicos, particulares, sendo poucas espécies comuns a todos eles. Esse resultado
zooplanctônicos e de macroinvertebrados aquáticos (Bentônicas) que reflete a importância de cada sistema hídrico para a determinação da
foram identificados na Serra Norte, parte da Flona de Carajás, especifi- diversidade da Biota Aquática e, consequentemente, da diversidade bio-
camente na área do Projeto N1 e N2. lógica total da Serra Norte.
Foto: SETE
F1 – Cosmarium sp.
MB2 – Odonata
MB1 – Coleóptera
Zooplâncton
Na área do Projeto N1 e N2 foram registrados 293 táxons, sendo 122 perten-
centes a Rotifera, 75 a Protozoa, 60 a Cladocera, 29 a Copepoda e ainda 7 táxons
pertencentes a outros grupos (Acarina, Gastrotricha, Chironomidae, Tardigrada,
Nematoda e Ostracoda). Comparada a outros trabalhos na região de Carajás e
no estado do Pará, essa riqueza pode ser considerada alta, especialmente para
rotíferos e tecamebas, o que pode ser um reflexo do grande esforço de amos-
tragem empregado localmente durante os estudos na área do Projeto N1 e N2.
Macroinvertebrados aquáticos
A macrofauna bentônica de toda a área de estudo do Projeto N1 e N2 foi ex-
pressa em 100 táxons pertencentes aos filos Arthropoda, Mollusca e A
nnelida.
Os artrópodes foram os mais representativos em termos de riqueza (91%),
Ambiente amostrado principalmente pela contribuição da classe Insecta, sendo as ordens Diptera
no Projeto N1 e N2.
e Coleoptera as mais diversas, contemplando no total 29 táxons.
Você sabia que o fitoplâncton, embora não seja um grupo de animais e sim de algas, é nor-
malmente estudado nos levantamentos de campo sobre a fauna? Pois é, o que se chamava
de “algas” até pouco tempo atrás, hoje, é reconhecido que neste grupo estão reunidos tanto
bactérias como organismos eucarióticos fotossintéticos ou não. Assim, compõem o grupo
das algas as cianobactérias (reino Monera), algumas euglenofíceas (reino Protozoa), diato-
máceas (reino Chromista) e clorofíceas (reino Plantae). Embora o avanço da ciência tenha
revelado todas essas variações, o termo alga ainda é utilizado. Uma vez que, historicamente,
a Biota Aquática como um todo (algas do fitoplâncton, o zooplâncton e os macroinvertebra-
dos aquáticos) é avaliada durante os estudos ambientais, naturalmente o fitoplâncton aca-
ba sendo avaliado nos diagnósticos sobre a fauna, assim como no caso do Projeto N1 e N2.
Classe: Conjugathophyceae
Gênero: Closterium
Ordem: Desmidiales
Família: Desmidiaceae
Hábitat: Planctônico e perifítico
Curiosidade: Vários gêneros deste grupo
(desmídeas) são formados por duas hemicélulas
muito semelhantes, unidas por um istmo-
cintura (simetria bilateral). Algas deste gênero
normalmente assumem esta forma de meia lua.
Classe: Bacillariophyceae
Ordem: Tabellariales
Família: Tabellariaceae
Classe: Chrysophyceae Gênero: Diatoma (vista pleural)
Hábitat: Planctônico
Ordem: Chromulinales Curiosidade: As algas
Família: Dinobryaceae diatomáceas são compostas
Gênero: Dinobryon por duas estruturas de sílica
Espécie: Dinobryon sertularia Ehrenberg bem resistentes (Frústula).
Hábitat: Planctônico Os detalhes morfológicos da
Curiosidade: Neste gênero, as células frústula (formato, número e
ficam contidas dentro de uma lórica disposição de estrias, poros, etc..)
e podem formar colônias, como são usados para identificação de
observado na imagem. gêneros e espécies.
Foto: Sandra Francischetti
Gênero: Pinnularia
Ordem: Fragilariales
Família: Pinnulariaceae Classe: Cyanophyceae (Cyanobacteria)
Hábitat: Planctônico
Curiosidade: As algas diatomáceas são compostas Ordem: Oscillatoriales
por duas estruturas de sílica bem resistentes Família: Oscillatoriaceae
(Frústula). Além dos detalhes morfológicos da Gênero: Oscillatoria
frústula (formato, número e disposição de estrias, Hábitat: Planctônico
poros, etc..), a forma e a posição do cloroplasto Curiosidade: Cyanobacteria filamentosa.
também são usadas para identificação de Essas algas são na verdade bactérias e são
gêneros e espécies. Na ilustração o plasto está muito resistentes, podendo colonizar os
bem visível e tem a forma de um H. mais diversos tipos de ambientes.
Foto: Sandra Francischetti
Filo: Annelida
Subclasse: Oligochaeta
Tolerância: Resistente
Grupo funcional: Filtrador
Hábitat: Bentônico
Curiosidade: Os oligoquetas são
hermafroditas e algumas espécies,
sobretudo de água doce, podem
reproduzir-se através da divisão
de um indivíduo em várias secções
transversais, e cada secção pode
formar um indivíduo completo por
regeneração.
Foto: Manoela Brini
Nome popular: camarão de água doce Nome popular: larva de efemérida
Filo: Arthropoda
Classe: Insecta
Ordem: Trichoptera
Família: Leptoceridae
Tolerância: Sensível
Grupo funcional: Coletor
Hábitat: Bentônico
Curiosidade: Estas larvas de insetos
(os adultos são conhecidos por moscas
caddis) são especialistas em coletar
material do ambiente em que elas vivem
para formar este “casulo”, portanto, cada
casulo é diferente do outro.
Filo: Arthropoda
Classe: Insecta
Ordem: Diptera
Família: Chironomidae
Tolerância: Resistente
Grupo funcional: Coletor
Hábitat: Bentônico
Foto: Manoela Brini
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Cistos: Cistos de resistência em microalgas Espécie invasora: Organismo que se encontra fora
ocorrem através da reprodução sexuada quando as da sua área de distribuição natural, normalmente
condições ambientais se encontram desfavoráveis introduzido pelo homem, que se aclimata,
para as células vegetativas. As principais reproduz e prolifera sem controle, passando a
funções dos cistos de resistência são permitir representar ameaça às espécies nativas, para a
a sobrevivência, a dispersão e a recombinação saúde e economia humana e/ou para o equilíbrio
genética dos organismos. O cisto recém-formado dos ecossistemas.
afunda e permanece no sedimento, dando início
à fase de dormência, caracterizada pela suspensão Espécie migratória: Organismos que realizam
do crescimento. deslocamento de grandes distâncias para
desempenhar funções biológicas básicas como
Corpo hidrodinâmico: Com características alimentação e reprodução.
anatômicas que facilitam a natação.
Espécie simpátrica: Aquela que ocorre
Decompositores: São organismos que se concomitantemente com mais espécies em uma
alimentam de matéria morta e excrementos, determinada área geográfica, com superposição
transformando substâncias orgânicas em parcial ou total de suas distribuições.
inorgânicas, que servirão para alimentar os
produtores, reiniciando o ciclo. Temos como Espécimes testemunho: Indivíduos coletados e
Glossário exemplos de decompositores as bactérias, fungos
e alguns protozoários.
tombados em coleções biológicas, utilizados em
pesquisas científicas.
Ambientes intermitentes: Ambientes aquáticos Cadeia alimentar: É o nome do processo que Detritos: Matéria orgânica particulada. Espículas: Projeções espinhosas encontradas em
que podem desaparecer (secar) temporariamente ocorre na natureza para troca de alimento e nadadeiras de várias famílias de peixes.
em períodos de seca e estiagem. energia entre os seres. Os organismos produtores Doença subnotificada: Doença com o número
servem de alimento e energia para os organismos de casos registrados abaixo do número real de Estoques evolutivos: Linhagens.
Ambientes lênticos: Ambientes aquáticos de água consumidores, que por sua vez são consumidos, afetados.
parada, como lagos e lagoas. Possuem hábitats depois de morrerem, pelos decompositores. Eucarióticos: Seres uni ou pluricelulares cujo
bem definidos como a região litorânea (margens) Dorsal: Parte superior do corpo. material genético (DNA) está separado do
e a região pelágica (águas abertas, região central), Camuflagem: Estratégia de dissimulação que citoplasma, envolto por uma membrana nuclear.
sendo importante fonte de biodiversidade ocorre quando determinados animais apresentam Ecossistemas: Sistema integrado e Incluem algas, protozoários, fungos, plantas e
aquática. a mesma cor (homocromia) e/ou a mesma forma autofuncionante que consiste em interações dos animais.
(homotipia) do meio em que vivem, geralmente elementos bióticos e abióticos, e cujas dimensões
Amebas testáceas: Grupo de protozoários para enganar seus predadores ou mesmo suas podem variar consideravelmente. Farmacopeia: Coleção ou catálogo de drogas e
ameboides de vida livre que possuem uma presas. medicamentos.
carapaça conhecida como teca ou testa. Endêmico: Diz-se de entidade biológica (em geral
Cavernícola: Espécie que habita cavernas. espécie) encontrada apenas em uma determinada Fase assexuada: Forma de reprodução na qual
Apêndices e tubérculos: Pregas dérmicas, região, espécies nativas de uma determinada área não ocorre troca de material genético entre os
protuberâncias, utilizadas inclusive como caráter Cianobactérias: São seres procariotas e restrita a ela. indivíduos, pois geralmente essa forma reprodutiva
taxonômico em anfíbios, que se projetam para fora pertencentes ao Reino Monera. Também são envolve um único indivíduo capaz de gerar vários
do corpo. conhecidas como cianofíceas ou algas azuis, Endemismo: Caráter restrito da distribuição outros. Assim, os organismos filhos formados serão
decorrente da presença da ficocianina, que é um geográfica de determinada espécie ou grupo de todos idênticos ao organismo original.
Arborícola: Espécie que utiliza preferencialmente pigmento azul que por vezes mascara a cor verde espécies que vive limitada a uma área ou região.
árvores/arbustos. da clorofila. Podem ser filamentosas, coloniais Fase sexuada: Nessa forma de reprodução ocorre
ou unicelulares, envolvidas ou não por bainhas Epiteca: Nas diatomáceas, a epiteca é a valva troca de material genético entre as células. Assim,
Arquétipo: Modelo ou padrão que se utiliza como gelatinosas, vivendo em águas doces, águas maior. Nos dinoflagelados, a parte da célula as células filhas não são idênticas às células
exemplo. salgadas, fontes termais e solo. Apresentam uma anterior ao cíngulo constitui o epissoma (epiteca). parentais.
extraordinária capacidade adaptativa e algumas
Artralgia: Dor nas articulações. espécies podem ter períodos de dormência (ficam Eritrócitos: Células sanguíneas responsáveis pelo Fluxo de matéria e energia: Transferência de
inativas) no sedimento. transporte de oxigênio. Também chamada de matéria e energia por diferentes níveis na cadeia
Atividade filtradora: Forma de obtenção de glóbulo vermelho, hemácia. alimentar.
alimento por organismos através da filtração. Ciclo biológico: Ciclo de vida, sequência de
mudanças pelas quais passa um ser vivo ao longo Erupção cutânea: Inflamações na pele que podem Forrageadora ativa: Aqueles que se se movimentam
Bioindicadores: São espécies, grupos de espécies ou de sua vida. O ciclo de vida envolve a fecundação, gerar vermelhidão, prurido, inchaço, etc. para procurar alimento, principalmente que se
comunidades biológicas cuja presença, abundância o nascimento, o crescimento, a reprodução, o alimentam de outros animais.
e condições gerais são indicativos biológicos de uma envelhecimento e a morte de animais, plantas e Escamas epidérmicas: Escamas externas, de
determinada condição ambiental. micróbios. revestimento, formadas por queratina, que se Fossorial: Espécies que cavam o solo, com o
localizam acima da derme, presentes nas serpentes comportamento de viver embaixo da terra ou do
Biota: Denominação utilizada para o conjunto da e lagartos. folhiço.
fauna e flora de uma determinada região.
Fotofobia: Aversão à luz.
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Fotossíntese: Processo bioquímico realizado pelos Incubar: Comportamento de manter os ovos em Parasitos: Organismo, geralmente microrganismo, Serviços ecossistêmicos: Conceito associado à
seres clorofilados (na maioria das vezes, vegetais), condições favoráveis ao desenvolvimento até a cuja existência se dá às expensas de um tentativa de valoração dos benefícios ambientais
em que a energia luminosa é convertida em eclosão dos mesmos. hospedeiro. Existem parasitas obrigatórios e que a manutenção de áreas naturais pouco
energia química, e armazenada em carboidratos. facultativos; os primeiros sobrevivem somente alteradas pela ação humana e a conservação de
Os carboidratos são sintetizados a partir de Istmo-cintura: ponte de ligação entre as duas na forma parasitária e os últimos podem ter uma determinadas espécies trazem para o conjunto
substâncias simples: gás carbônico (CO2) e água hemicélulas das desmídeas. existência independente do hospedeiro. da sociedade. Entre os serviços ambientais mais
(H2O). Como subproduto da fotossíntese há a importantes estão a manutenção de estoques de
liberação de oxigênio (O2) para a atmosfera. A Lórica: revestimento, invólucro, “armadura”. Tipo Placas ósseas: Crescem por debaixo das escamas predadores de pragas agrícolas, de polinizadores,
energia fixada neste processo é o que mantém a celular de envoltório rígido que fica separado do e formam uma armadura protetora. Encontrada de exemplares silvestres de organismos
imensa maioria dos seres vivos da Terra. protoplasma (material vivo constituinte da célula) nos jacarés. utilizados pelo homem (fonte de genes usados
por um espaço. em programas de melhoramento genético).
Frústula: Carapaça silicosa de diatomáceas formada Polinização: Transporte do pólen liberado pelas Os serviços ambientais são imprescindíveis à
por duas metades que se encaixam (valvas). Manejo sustentável: Interferência planejada e anteras para o estigma do gineceu da mesma manutenção da vida na Terra.
criteriosa do homem no sistema natural, para planta ou de outro indivíduo. Os tipos de
Hábito Nectônico: Forma de vida de um conjunto produzir um benefício ou alcançar um objetivo, polinização são: autopolinização e polinização Sílica: Composto de silício e oxigênio (SiO2)
de organismos aquáticos que possuem um mantendo ou melhorando a capacidade do cruzada. No segundo caso, o processo pode ser encontrado, por exemplo, na areia.
movimento ativo, ou seja, que são capazes de sistema continuar a existir por um longo período. realizado por agentes abióticos, como o vento,
nadar contra a correnteza (peixes, por exemplo). ou por alguns seres vivos, como insetos, aves e Simetria: A simetria é definida como tudo
Mialgia: Dor muscular. morcegos. aquilo que pode ser dividido em partes, sendo
Hábito Perifítico: Forma de vida de um conjunto que ambas as partes devem coincidir quando
de organismos que vivem aderidos a substratos Morfoespécie: É um conceito de espécie para Procarióticos: Organismos unicelulares cujo sobrepostas.
inorgânicos (pedras e qualquer material como a qual não foi possível alcançar a determinação material genético (DNA) está disperso no
vidro, acrílico, bloco de cimento, etc.) ou orgânicos específica pela ausência de descrições citpolasma; incluem as bactérias e cianobactérias. Subespécie: É uma subdivisão de uma espécie,
vivos ou mortos (plantas aquáticas, folhas, troncos, taxonômicas na bibliografia consultada. São quando esta se diferencia da original, mas não ao
galhos, carapaças, entre outros). designadas por sp.1, sp.2, entre outros. Profilaxia: Maneira de evitar o contágio de ponto de tornar-se uma nova espécie.
determinada doença/infecção.
Heliotérmica: Que regula sua temperatura Nadadeira adiposa: Pequena nadadeira Substância anticoagulante: Substância que
corporal utilizando como fonte o calor do sol. encontrada dorsalmente após a nadadeira dorsal. Protistas: Organismos do Reino Protista, impede a coagulação do sangue.
basicamente composto por algas e protozoários.
Hemicélulas: Nas algas desmídeas, é o nome dado Nadadeira caudal: Nadadeira de diferentes formas, Táxons: Designa um nível taxonômico de um
a cada uma das metades simétricas das células, situada na parte final do corpo do peixe, bastante Regeneração: É a capacidade de células, tecidos, sistema de classificação. Um táxon pode designar
unidas por uma constrição. importante para sua locomoção. órgãos ou organismos não afetados de se um reino, filo, classe, ordem, família, gênero ou
multiplicarem e, de acordo com a necessidade, espécie. O táxon infragenérico é toda categoria
Hemoglobina: Proteína responsável pelo Nadadeira dorsal: Nadadeira com espinhos e/ou de se diferenciarem, a fim de recompor a parte inferior ao “genero”, a saber: espécie – subespécie –
transporte de oxigênio. raios, situada ao longo do perfil superior do peixe. corporal lesionada. morfoespécie.
Hermafrodita: Em animais, é o indivíduo que Nadadeira peitoral: Nadadeira par, situada depois Região Neotropical: Região compreendida Terópodes: Grupo de dinossauros bípedes (que se
reúne os dois sexos, ou seja, possuem ambos da cabeça e do opérculo ósseo. pelo sul da América do Norte, América Central e movem por meio de seus dois membros posteriores
os órgãos reprodutivos, masculino e feminino, América do Sul. ou pernas), de membros anteriores curtos.
completos ou em parte. Nadadeiras pélvicas: Encontram-se na região
ventral à frente da nadadeira anal. Possuem função Regulação térmica: Controle da temperatura Terrícola: Espécie que habita preferencialmente
Hipoteca: Nas diatomáceas, a hipoteca é a valva estabilizadora e orientadora dos movimentos. corporal. no solo.
menor. Nos dinoflagelados a parte da célula
posterior ao cíngulo é o hipossoma (hipoteca). Novo Mundo: Continente Americano. Ritual de corte: Ritual que objetiva a atração de Territorialismo: Animal que defende
um parceiro reprodutivo. consistentemente uma determinada área
Igapós: Nome indígena, que significa “mata cheia Ondas ultrassônicas: Frequências sonoras contra outros indivíduos da mesma espécie (e,
d’água”. Áreas de florestas periodicamente inundadas acima da amplitude da audição humana, Savanas: Tipo de formação vegetal mista ocasionalmente, de outras espécies). Animais que
por rios de água preta ou rios de água clara. aproximadamente 20 kilohertz. composta de extrato baixo e contínuo de defendem territórios desta forma são chamados
gramíneas e subarbustos, com maior ou menor de territoriais.
Igarapés: Nome indígena, que significa “caminho Onívoro: Organismo que se alimenta de qualquer número de pequenas árvores espalhadas. As
de canoa”. São riachos de águas claras ou pretas tipo de alimento. árvores da savana apresentam raízes profundas, Ventral: Parte inferior do corpo (ventre) ou de uma
que desaguam em grandes rios amazônicos. folhas grossas e troncos retorcidos. Essas estrutura anatômica.
Oportunista ocasional: Aquele que, características permitem que essa vegetação seja
Iliófagos: São peixes que ingerem o substrato ocasionalmente, muda seu hábito alimentar de resistente ao período de estiagem típico do clima Vetor silvestre: Aquele capaz de transmitir
(lodo ou areia) e nesse substrato encontram-se os acordo com a disponibilidade de recursos. em que estão localizadas. No Brasil também são doenças para os seres humanos e que ocorre de
alimentos (animal, vegetal). conhecidas como Cerrado ou pelas diversas formas maneira natural em ambientes selvagens.
Ornitológico: Referente à ornitofauna ou à ciência como este se apresenta, por exemplo, Campo sujo,
Importância sanitária e epidemiológico: Aquele que estuda as aves. Campo Cerrrado, Cerradão, entre outras.
que possui destaque por estar envolvido no ciclo
biológico de algum parasita causador de doença,
passível de gerar epidemia.
264 Pequenos Mamíferos Não Voadores
ORGANIZAÇÃO