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outro. aumenta a complexidade da pretensão teórica em questão. A
história do direito seria a� um horizonte- um e ntre vários outros
horizontes �veis pelo qual a teoria toca ou se aproxima da
-
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nacional-socialista sob o prisma histórico-jurídico. Ainda segundo
Frei, em certa medida, devido à vasta obra e por ter sido diretor do
Max Planck Institut de História do Direito em Frankfurt, Michael
Stolleis personificaria a história do direito na Alemanha.
5 JHERING, Rudolf von, Geist des rõmischen Rechts auf den verschiedenen
Stufen seiner Entwicklung, Tomo II, Leipzig, 1858, p. 365. Die juristische
Technik lãsst sich nach dieser Seite hin ais eíne Chemie des Rechts be
zeichnen, ais die juristische Scheidekunst, welche die einfachen kõrper
sucht. Sobre o direito como uma técnica cultural da separação ver Fabian
Steinhauer, Vom Scheiden, Duncker & Humblot, Berlín, 2015.
6 BARROSO, Luís Roberto e BARCELLOS, Ana Paula de. O começo da
história: a nova interpretação constitucional e o papel dos princípios no
direito brasileiro. ln: SILVA, V irgilioAfonso da (org.). Interpretação constitu
cional. São Paulo: Melhoramentos, 2007, p. 278.
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leira pós-1988: a do neoconstitucionalismo, que atualnientt' possui
uma capilaridade performativa em importantes decisôt's na corte
suprema brasileira.
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( ...) a decadência do positivismo é emblematicamente associada
à derrota do fascismo na Itália e do nazismo na Alemanha. Esses
movimentos políticos e militares ascenderam ao poder dentro do
quadro de legalidade vigente, e promoveram a barbárie em nome da
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lei (grifo meu) •
Mas não para por aí. Barroso chega a afirmar que o "neo" é o
início da história, ou seja, antes barbárie e agora civilização. Direito
somente passa a existir depois que ele pode ser mediado por prindpios.
Direito romano não é direito, nesse sentido. Para um historiador tal
afirmação seria o mesmo que questionar a existência ou a importância
da disciplina de história do direito em si11• Mesmo assim a fórmula
Barroso fez carreira: "promoveram a barbárie em nome da lei".
Em um importante livro intitulado Recht im Unrecht, Michael
Stolleis reconstrói historicamente o complexo processo de constitui
ção do direito nazista. A profunda análise histórica de Stolleis coloca
a fórmula Barroso de ponta-cabeça e a vanguarda iluminista na es
curidão. A barbárie não veio em nome da lei, pelo contrário, ela se
estabilizou e se concretizou fora da lei. Stolleis demonstra historica
mente, dentre vários outros argumentos, como dentro de poucas
semanas, entre janeiro até maio de 1933, os principais direitos fun
damentais perderam validade; a estrutura partidária e sindical foi
aniquilada também pela entrada em vigor da "Ermãchtigungsgesetz"
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formando-a em uma contribuição construtiva para a sociedade?
Schmitt buscou o caminho do direito internacional acima de tudo
na luta contra Versailles e a política francesa de ocupação da região
do Rheinland e Liga das Nações, destituindo cada vez mais a
discussão em torno da possibilidade de paz na Europa por um
desenvolvimento de um conceito de guerra15• Aos poucos ele passa
a dar à Alemanha nazista uma pretensa substância jurídica euro
peia. Com isso fica também claro, ao lado do oeuvre de Stolleis,
que o problema de Schmitt, enquanto o "Kronjurist" do nazismo,
não era o que a fórmula Barroso explicita: "promoveram a barbárie
em nome da lei". Pelo contrário, Schmitt procurou na sua influên
cia intelectual-política destituir o caráter positivo das garantias
fundamentais da legalidade para então deixar o caminho livre
para a barbárie.
Se o "nome da lei", a racionalidade jurídica, a dogmática ju
rídica e as leis positivas derivadas da discussão democrática levam,
ou podem levar, à barbárie- fórmula Barroso-, então somente uma
jurisdição constitucional iluminada, uma vanguarda ou guia da
sociedade, pode iluminar o caminho do direito e da sociedade. A
equiparação entre direito positivo e barbárie e a saída por uma
"tirania dos princípios", levada a cabo por uma vanguarda ilumi
nista, pervertem o jogo democrático, pois deslocam a arena da luta
democrática de alteração do direito positivo da estrita ligação entre
esfera pública e parlamento para a ilegitimidade de constantes
reformas da Constituição via jurisdição constitucional. Condiciona
-se e naturaliza-se um sistema democrático sem participação po
pular por meio do sistema representativo, a maior aquisição
evolutiva das democracias modernas. Talvez essa seja a principal
consequência prática do neoconstitucionalismo tupiniquim e da
fórmula Barroso.
15 SCHMITI, Carl. Positionen und Begriffe im Kampf mit Weimar Genf -Ver
-
sailles 1923-1939. 3. ed. Berlim: Duncker & Humblot, 1994, p. 29 e s.; 291
Die Wendung zum diskriminierenden Kriegsbegriff. 4. ed. Berlim:
e s.; 335 e s.
Duncker & Humblot, 2007, p. 52 e s. Vo lk errechtliche Groftraumordnung mit
lnterventionsverbotfür raumfrem d e Miichte. Ein Beitrag zum Reichsbegriff im
Võlkerrecht. 3. ed. Berlim: Duncker & Humblot, 2009, p. 49 e s.
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(23-3-1933). Segundo o historiador do direito, o que aconteceu de
forma acelerada nessas poucas semanas foi a supressão do funda
mento positivista ou positivo do direito estatal alemão pela segunda
vez no século XX12, e não o contrário, como diz a fórmula Barroso.
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Esquece-se, assim, de que o jogo democrático é em si próprio
uni processo de ap re ndi z agem col et i vo 1 ", no qual nem o povo nem
as instituiçôes es tã o totalmente maduros e por isso necessitam
aprcnd<.'r com erros e acertos. I nt e rromper esse processo de apren
dizagt.'1n col<.�tivo é como interromper o processo de aprendizagem
de un1a criança, ou melhor, de uma geração inteira. Ela nunca sairá
de sua menoridade, nas palavras de Kant, em seu ensaio com o título
O que é o iluminismo/esclarecimento (Aufkliirung)?, que é justamente a
ca pa ci da de de fazer uso de seu próprio entendimento sem o controle
ou interferência de o utro indivíduo. O real sentido de um iluminismo
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