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DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES


LICENCIATURA EM LETRAS COM A LÍNGUA INGLESA
DISCIPLINA: LINGÜÍSTICA II
PROFESSORA: ELIANA PITOMBO

JOÃO BOSCO DA SILVA


(prof.bosco.uefs@gmail.com)

PROSÓDIA – ACENTUAR É UMA NECESSIDADE?

FEIRA DE SANTANA – BAHIA


2008

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A prosódia está relacionada com a correta acentuação e entonação dos fonemas


tomando como padrão a língua culta, que determina a correta posição da sílaba tônica de
uma palavra. A divergência entre a pronúncia do dia-a-dia e a recomendada é muito comum.

Trata-se, portanto, da correta acentuação tônica das palavras no decorrer da fala.


Cometer erro de prosódia é transformar uma palavra paroxítona em oxítona, ou uma
proparoxítona em paroxítona etc.
- “rúbrica” em vez de rubrica.
- “sútil” em vez de sutil.
- “côndor” em vez de condor.

Quando ocorre um erro de prosódia, acontece a entitulada silabada, por exemplo, numa
palavra oxítona (como cateter) é transformada em paroxítona (catéter).
Talvez isto se deva a muitas palavras não terem acento e induzirem a tais dúvidas que,
no dia-a-dia, as pessoas não se interessam em pesquisar e falam como lhes vêm à mente.

Pronúncia é uma área coberta pela lingüística (i.e., Estudos da Linguagem / fonética,
formalmente denominada prosódia ou ortoepia), cuja função é a de expor a melhor maneira
de dizer palavras sem erros, sejam elas estrangeiras ou não. A pronúncia correta da palavra
não varia nunca, independentemente do idioma, do sotaque e de outros fatores.

I - O ACENTO:

É caracterizado pela maior intensidade expiratória, para emissão de uma sílaba numa
cadeia sonora, obtendo-se um efeito acústico a depender de uma série de fatores, como a
amplitude, onda sonora, freqüência e timbre.

Percebe-se a acentuação pelo modo de proferir um som ou seu grupo com mais relevo
do que outros. Nota-se que geralmente todas as tônicas são pronunciadas com muita ênfase.

Há também as sílabas subtônicas, que desenvolvem um acento de menor intensidade


(secundário), compensando o seu afastamento da sílaba, por questões rítmicas.

1. O acento tônico:

Ocorre mesmo que não expiremos um volume maior de ara, mas que promovamos uma
maior tensão nas cordas vocais, elevando o tom vocal.

2. Valor fonológico do acento:

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O acento é um traço supra-segmental, que de um modo geral pode ter valor distintivo,
mas no Português é fundamental e tem valor decisivo para determinados vocábulos, para
diferenciar palavras com a mesma oposição de letras. (ex: sabia, sábia, sabiá)

3. Acento intensivo:

Nas palavras, temos sílabas que são proferidas com mais intensidade que outras. Estas
são as tônicas. As demais, proferidas com menos intensidade, são as chamadas átonas. A
isto damos o nome de acento de intensidade. As palavras regulam sua sílaba tônica pela sua
origem, mas em um contexto frasal, isto pode deixar de acontecer e prevalece o acento de
intensidade na frase, pertencente a cada grupo de força. Sob o ponto de vista fisiológico, á
aplicar maior esforço muscular na sua pronúncia.

O acento intensivo é importantíssimo, falando de forma lingüística, para expressar o


verdadeiro sentido das palavras. Sua alteração pode mudar drasticamente o significado da
palavra, como em anúncio e anuncio. O primeiro é um substantivo comum cujo significado é
uma mensagem que comunica ao público as qualidades de um determinado produto ou
serviço. O segundo é o verbo anunciar conjugado na primeira pessoa do presente do
indicativo.

4. O acento de insistência:

Pode cair em outra sílaba diferente da tônica. Isto pode ocorrer por motivos emocionais,
adquirindo valor intelectual e ocorrendo para ressaltar uma distinção, principalmente com
palavras derivadas por prefixação ou expressões com preposições de sentidos opostos.

Em português, utiliza-se o acento intensivo para obter, com o acento de insistência,


efeitos diferenciados e notáveis. Considera-se também a quantidade da vogal e da
consoante, com a prolongação da sílaba tônica. A isto se dá o nome de acento de insistência
e emocional. O alongamento tratado é grafado com a repetição da vogal da sílaba tônica.
...cobran::ça caução:: ou ...foi tu::do acatado...

5. Funções do acento:
5.1 - Culminativa: é o cume (a maior intensidade) da palavra.
5.2 – Delimitativa: limita o uso de vocálico (vogais);
5.3 – Distintiva: muda o sentido da palavra, pela mudança da posição do acento: Ex:
Sábia, sabia, sabiá.

6. Padrões acentuais:

A língua culta determina a posição correta da sílaba tônica de uma palavra. É muito
comum a divergência entre a pronúncia praticada no dia-a-dia e a recomendada pelos

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dicionários e gramáticas. Quase ninguém pronuncia "dúplex" (paroxítona), como


recomendam os dicionários. O que se ouve mesmo é "duplex" (oxítona).
6.1 - Sílaba: é um fonema ou grupo de fonemas emitido em apenas um único impulso
expiratório.
É bom lembrar que a pronúncia culta sempre prevalece nesses casos.
• São oxítonas: Cateter; condor; ruim; ureter; Nobel; mister; novel; sutil; sutis;
cartel; menestrel.
• São paroxítonas: avaro; pudico; austero; juniores; aziago;látex; ciclope; recorde;
filantropo; rubrica; ibero; Têxtil; tulipa; gratuito; fortuito; misantropo
• São proparoxítonas:aerólito; bávaro; ínterim; aríete; monólito; lêvedo; trânsfuga;
ômega; crisântemo; Niágara; zênite; arquétipo; protótipo; catástrofe; ímprobo; cérebro;
pretérito;
• Palavras que admitem dupla pronúncia: acróbata/acrobata; transístor/
transistor;hieróglifo/hieroglifo; réptil/reptil; projétil/projetil; Oceânia/Oceania; xérox/xerox

6.1.1 -Tipos de sílabas: No nosso idioma, o português, temos a vogal como elemento
fundamental da sílaba, que pode ser:
i) simples: constituída de apenas uma vogal: e, há, ah!
ii) composta: encerra mais de um fonema: ir (vogal + consoante), pés (consoante +
vogal + consoante). Pode ser aberta (livre) ou fechada (travada).
a) Aberta (ou livre) termina em vogal: vesti.
b) Fechada (ou travada) em caso contrário ou com a finalização por vogais nasaladas:
bar, sei, ou, pás, um.
Podemos dividir as palavras quanto ao número de sílabas em monossílabos, dissílabos,
trissílabos e polissílabos. A sílaba também pode ser inicial, medial e final, quanto à sua
posição no vocábulo.

7. Vocábulos fonológicos (pronúncia sem pausa):

Para o falante, certos grupos de forças (conjunto de palavras) quês e pronunciam sem
pausa, são compreendidos como um único vocábulo.

Várias palavras foram se unificando com o tempo, exatamente após essa constatação,
como é o exemplo de aguardente ou girassol. O mesmo ocorre com algumas locuções
adverbiais, como entretanto e todavia.

a) Graus de acentuação: Como as sílabas pré-tônicas em Português tem menor grau


de atonicidade do que as pós-tônicas, Mattoso propõe quês e trabalhe com quatro graus de
acentuação:
• Três: para sílaba tônica com maior intensidade;
• Dois: para sílaba tônica com menor intensidade;
• Um para sílaba átona pré-tônica (que detém menor atonicidade); e

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• Zero: para sílaba átona pós-tônica (que detém maior atonicidade).


Ex: pa ra da
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8. Traços prosódicos ou supra-segmentais:

É a intensificação expiratória em uma determinada sílaba de seqüência fônica. A sílaba


acentuada (tônica) contrasta com as demais (átnas), pelo fato de que necessita de maior
intensificação expiratória para pronunciá-la. Portanto, esse traço não pertence ao fonema e
sim à sílaba como um todo.
No português, apenas o acento atua efetivamente como um traço supra-segmental.

9. Grupo de força:

É o nome dado ao conjunto de vocábulos que formam um conjunto fonético


subordinado a um acento tônico. As bonecas de Carla / são muito feias. As tônicas se
apresentam em dois grupos:
No primeiro: é marcada por Car(la), e um acento secundário na sílaba bo(neca).
No segundo: a tônica é marcada por fe(ia) e o acento secundário se manifesta em
mu(ito).

a) Ciclíticos são os vocábulos tônicos e átonos que se declinam. Nos grupos de forças,
certas palavras perdem seu acento próprio para unir-se a outros que o precede ou segue.

b) Proclíticos: Quando precedem a palavra tônica do grupo de força, os clíticos


recebem o nome de proclíticos: bom dia, deve esperar.

c) Enclíticos quando vêm depois do vocábulo tônico eis-me, contou-me. Em geral,


temos palavras em português que são átonas e proclíticas:
 Determinadas conjunções: nem, se, e, como, mas etc.
 Determinadas preposições: por, sem, sob, para, a, em etc.
 Determinados advérbios: não posso, já saí etc.
 Pronomes pessoais antepostos: ele tem, eu disse.
 Pronomes adjuntos antepostos (demonstrativos, possessivos, indefinidos,
interrogativos): esta escola, minha bolsa, cada dia, que fazer?
 Certos numerais: um lápis, três copos, cem mulheres.
 Artigos (definidos ou indefinidos): o menino, um menino.

d) Ritmo:

É a distribuição dos grupos de força, com sua alternância de sílabas mais rápidas ou
mais demoradas, mais fortes ou fracas, dando cadência ao texto. A prosa e o verso possuem

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ritmo. Esse recurso é muito utilizado pela linguagem publicitária, enriquecendo seus textos e
tornando-os mais memorizáveis.

Ritmo acentual: dá característica típica a determinado idioma, de acordo com a posição


dos acentos na frase. Contribui significativamente para formar ao que se denomina de
“sotaque lingüístico”.

II - QUANTIDADE: (duração da vogal e consoante).

É o maior ou menor alongamento da emissão da sílaba. Pode ser breve (se a pronúncia
é rápida) ou longa (se a pronúncia é demorada).

As diferenças entre longas e breves em vários idiomas podem resultar em significados


completamente diferentes das mesmas palavras, diferenciando-se apenas quanto à duração
de suas vogais ou consoantes.

Em português, essa característica não é muito sentida, não exercendo papel notável
nos vocábulos. Na estilística, o alongamento das vogais é usado como recurso para enfatizar
determinada palavra.

III - ENTONAÇÃO:

É a variação do tom usado durante a fala, e a zona entre os sons linguisticos mais
agudos e graves. A variação tonal depende muito do estado emocional do falante, e de
acordo com os efeitos que uma mesma causa pode estabelecer diferentemente noutras
pessoas (idiossincrasia).

a) Tom: caracteriza a frequência da silaba a nível da palavra.

b) Entoação: caracteriza a frequência da palavra a nível da frase.

c) Tonicidade é uma propriedade da sílaba tônica, isso é, da sílaba que é pronunciada


mais forte em uma palavra. É uma característica dependente de idioma que é estudada pela
Prosódia. Dependendo do idioma, a sílaba tônica de uma palavra pode ou não ser marcada
com acentos gráficos, de acordo com as regras de acentuação desse idioma.

IV - ORTOÉPIA:

Palavra derivada do grego orthós, que significa reto, direito; mais épos, cujo significado
é palavra. A ortoépia ou ortoepia é a parte da gramática que cuida da correta articulação e
pronúncia dos grupos fônicos. Seus erros caracterizam a linguagem vulgar ao articular uma
palavra,

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Obedecendo à lei do menor esforço e modificando a pronúncia dela. Está relacionada à


perfeita emissão das vogais, à correta articulação das consoantes e à ligação dos vocábulos
dentro de contextos.

Quando as palavras são pronunciadas incorretamente, comete-se cacoépia. É comum


encontrarmos erros de ortoépia na linguagem popular, mais descuidada e com tendência
natural para a simplificação. Vejamos alguns exemplos: de erros de ortoépia:
- “guspe” em vez de cuspe. / - “adevogado” em vez de advogado. / - “estrupo” em
vez de estupro.
- “cardeneta” em vez de caderneta. / - “peneu” em vez de pneu. / - “abóbra” em vez
de abóbora.
- “prostrar” em vez de prostar.

REFERÊNCIAS:

[01] BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. rev. e ampl. Rio de
Janeiro, Lucerna, 2001.
[02] CAVALIERE, Ricardo. Pontos essenciais de fonética e fonologia. Rio de Janeiro.
Lucerna, 2005. p.132-134.
[03] FERREIRA NETO, Waldemar. Introdução à Fonologia da Língua Portuguesa. São Paulo,
Hedra, 2001.
[04] MARTINET, André. Elementos de Lingüística geral. 6 ed. São Paulo. Martins fontos,
1975. p.82-96.
[05] PRETI, Dino et al. Interação na Fala e na Escrita. São Paulo, Humanitas/FFLCH/USP,
2002.
[06]ROCHA LIMA, Carlos Henrique da. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 22. ed.
Rio de
Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1982.
[07] TERRA, Ernani. Curso Prático de Gramática. Ed. rev. e ampl. São Paulo, Scipione,
1996.
[08] SILVA, Thaís Cristófaro. Fonética e Fonologia do Português. 8 ed. São Paulo – SP,
Editora Contexto, 2005.

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