Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FRONTEIRIÇO DA TRADUÇÃO
LITERÁRIA
Roberta Rego Rodrigues
(Org.)
Obra publicada pela Universidade Federal de Pelotas
Reitor: Mauro Augusto Burkert Del Pino
Vice-Reitor: Carlos Rogério Mauch
Chefe de Gabinete: Margarete Marques
Pró-Reitora da Graduação: Fabiane Tejada da Silveira
Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação: Denise Petrucci Gigante
Pró-Reitor de Extensão e Cultura: Antonio Cruz
Pró-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento: Luiz Osório Rocha dos Santos
Pró-Reitor Administrativo: Antônio Carlos Cleff
Pró-Reitor Adjunto de Infraestrutura: Gilson Porciúncula
Pró-Reitora de Assuntos Estudantis: Rosane Brandão
Pró-Reitor de Gestão de Recursos Humanos: Sérgio Batista Christino
CONSELHO EDITORIAL
Presidente do Conselho Editorial: Prof.ª Denise Marcos Bussoletti
Representante das Ciências Matemáticas e Naturais: Prof. Leonardo da Silva
Oliveira
Representante das Engenharias e Computação: Prof. Darci Alberto Gatto
Representante das Ciências Biológicas: Prof.ª Marines Garcia
Representante das Ciências Médicas e da Saúde: Prof. Francisco Augusto Burkert
Del Pino
Representante das Ciências Agronômicas e Veterinárias: Prof. Carlos Eduardo
Wayne Nogueira
Representantes das Ciências Humanas: Prof. Jarbas Santos Vieira e Prof.ª Carla
Gonçalves Rodrigues (suplente)
Representantes das Ciências Sociais Aplicadas: Prof. Jovino Pizzi e Prof.ª
Francisca Ferreira Michelon (suplente)
Representantes das Linguagens e Artes: Prof.ª Ursula Rosa da Silva e Prof.ª Mirian
Rose Brum de Paula (suplente)
CONSELHO DIRETOR
Prof. Elomar Antonio Callegaro Tambara
Prof. João Fernando Igansi Nunes
Prof. José Carlos Brod Nogueira
Prof.ª Lorena Almeida Gill
Impresso no Brasil
Edição: 2014/2
ISSN 0102-9576 (impressa) / 2358-1409 (online)
Dados de Catalogação na Fonte Internacional:
Comissão Editorial:
João Luis Pereira Ourique
Letícia Fonseca Richthofen de Freitas
Paulo Ricardo Silveira Borges
Conselho Editorial:
Alckmar Luiz dos Santos (UFSC)
Alfeu Sparemberger (UFPel)
Aline Coelho da Silva (UFPel)
Ana Maria Stahl Zilles (Unisinos)
Ana Paula Teixeira Porto (URI/FW)
André Luis Gomes (UNB)
Artur Emílio Alarcon Vaz (FURG)
Aulus Mandagará Martins (UFPel)
Beatriz Viégas-Faria (UFPel)
Célia Maria Magalhães (UFMG)
Cristiane Fuzer (UFSM)
Cleci Regina Bevilacqua (UFRGS)
Cleide Inês Wittke (UFPel)
Danielle Gallindo Gonçalves Silva (UFPel)
Elena Palmero (UFRJ)
Evelyne Dogliani (UFMG)
Gilvan Müller de Oliveira (UFSC)
Giovana Ferreira Gonçalves (UFPel)
Isabella Mozzillo (UFPel)
João Manuel dos Santos Cunha (UFPel)
João Luis Pereira Ourique (UFPel)
Jorge Campos (PUC-RS)
Letícia Fonseca Richthofen de Freitas (UFPel)
Lizandro Carlos Calegari (URI/FW)
Luana Teixeira Porto (URI/FW)
Luis Ernesto Behares (Universidad de la República, Montevideo / Uruguay)
Luis Centeno do Amaral (UFPel)
Luiz Barros Montez (UFRJ)
Marcelo Módulo (USP)
Marcia Ivana de Lima e Silva (UFRGS)
Marisa Helena Degasperi (UFPel)
Maristela Machado (UFPel)
Paulo Coimbra Guedes (UFRGS)
Paulo Ricardo Silveira Borges (UFPel)
Rafael Vetromille-Castro (UFPel)
Renata Azevedo Requião (UFPel)
Roberta Rego Rodrigues (UFPel)
Rita Terezinha Schmidt (UFRGS)
Rosângela Hammes Rodrigues (UFSC)
Rosani Úrsula Ketzer Umbach (UFSM)
Rosely Perez Xavier (UFSC)
Sergio Romanelli (UFSC)
Silvia Costa Kurtz dos Santos (UFPel)
Terezinha Kuhn Junkes (UFSC)
Uruguay Cortazzo (UFPel)
Valeska Virgínia Soares Souza (UFU)
Walter Carlos Costa (UFSC)
Revisão
Carlos Ossanes
Lua Gill da Cruz
Roberta Rego Rodrigues
Editoração:
Carlos Ossanes
Roberta Rego Rodrigues
Apresentação.............................................................................................11
APRESENTAÇÃO
O UNIVERSO POLISSÊMICO E
FRONTEIRIÇO DA TRADUÇÃO LITERÁRIA
ABSTRACT: This paper analyses how translation could take part in the
creation of the literary canon. It also looks at the poets who translated
poetry over five decades (1960-2009) and considers their influence on the
creation of the translated poetry canon in Brazil.
Keywords: Poet-translators. Canon. Poetry Translation. Translation
History.
Introdução
1. Cânone e Tradução
1
No entanto, é preciso lembrar que apenas o fato de ter sido alvo de retraduções não é por
si só suficiente para a inclusão de determinada obra no cânone.
2
“It therefore seems imperative to clearly distinguish between two different uses of the term
“canocity”. For it is one thing to introduce a text into the literary canon, and another to
introduce it through its model into some repertoire.”
3
Diz Even-Zohar: “In the second case, wich may be called dynamic canocity, a certain
literary model manages to establish itself as a productive principle in the system through the
latter´s repertoire. It is the latter kind of canonozation wich is the most crucial for the
system´s dynamics”.
4
Ver O sequestro do barroco.
5
“The tensions between canonized and non-canonized culture are universal. They are
present in every human culture, because a non-stratified human society simply does not
exist, not even in Utopia. There is no un-stratified language upon earth, even if the
dominant ideology governing the norms of the system does not allow for an explicit
consideration of any other than the canonized strata. The same holds true for the structure
of society and everything involved in that complex phenomenon.”
6
“ Nor is canon limited to a single culture; each culture has its own and in any one culture
the canon will
include texts translated from several.”
Assim, traduzir pode ser uma forma eficiente de se filiar a uma tradição, a
uma estética ou a uma família poética.
7
“No poet, no artist of any art, has his complete meaning alone. His significance, his
appreciation is the appreciation of his relation to the dead poets and artists. You cannot
value him alone; you must set him, for contrast and comparison, among the dead. I mean
this as a principle of æsthetic, not merely historical, criticism.”
Gráfico 1:
Poetas entre os tradutores de poesia no Brasil (1960-2009)
Gráfico 2
Poetas e a tradução poética no Brasil (de autores individuais, 1960-2009)
8
Chamo de obras de autores individuais aquelas traduções cujo original é de autoria de
apenas um poeta, ou seja, que não se configuram como antologias com poemas de vários
poetas.
5. Conclusões
Referências Bibliográficas
MOTTA, Leda Tenório da. Sobre a crítica literária brasileira no último meio
século. Rio de Janeiro: Imago, 2002.
title A Ilha do Dia Anterior, and was hailed as great success by the public,
the same public whose experiences of reading and reception are herein
commented, using a corpus of reviews, articles and commentaries taken
from blogs, newspapers, magazines and books. Last but not least, the
experience of the translator Marco Lucchesi is described and commented
through autobiographical texts and interviews he granted to the
newspapers of that time. The analysis of these materials has deepened our
understanding over the experience of “common” and “specialized”
readers, and added the study of the task and challenges imposed to the
translator: this represents an opportunity to reflect upon the beautiful
human experience of reading, translating and receiving into a specific
foreign literary system a novel of great scope and erudition written by the
famous Umberto Eco.
Keywords: Reading. Translation. Reception.
Introdução
9
Trad. nossa. No texto original : « à l’analyse plus étroite de la lecture comme réaction, individuelle
ou collective, au texte littéraire ».
10
Títulos incluídos nas referências bibliográficas.
11
Ver COMPAGNON, 1998, p. 172.
Iser e de leitor modelo de Eco, afirmando, no fim, que “as teorias sobre
leitura [...] após terem dado toda sua liberdade ao leitor, a têm de fato
retirado dele, como se esta liberdade fosse uma última ilusão idealista e
humanista da qual se precisava desfazer” 12 (COMPAGNON, 1998, p.
187). Obviamente, resulta impossível comentar e analisar as infinitas
teorias sobre leitura formuladas ao longo dos anos, mas para concluir esta
parte consideramos importante citar Luiz Costa Lima que, na introdução
de A literatura e o Leitor – um texto que oferece um estimulante panorama
construído pelas contribuições de célebres autores sobre as várias teorias
mencionadas – destaca a importância da estética da recepção pelo “realce
do leitor”, pelo caminho em direção a uma “mudança pragmática”
(COSTA LIMA, 1979, p. 13) e pelo foco na experiência estética.
12
Trad. nossa. Texto original: “les théories de la lecture [...] après avoir donné toute sa liberté au
lecteur, elles la lui ont en effet reprise, comme si cette liberté était une ultime illusion idéaliste et
humaniste dont il fallait se défaire”.
13
Os anos se referem à data de publicação na Itália.
14
Para aprofundamento de seu currículo, rico em prêmios e títulos honoríficos, ver o
seguinte link: http://umbertoeco.it/CV/CURRICULUM.htm
15
Todos os anos de publicação mencionados fazem referência à publicação na Itália, e não
no Brasil, de tais obras.
16
Trad. nossa. Texto original: “sia Paradiso, sia Terra Promessa; ma anche un pezzo di terra reale e
visibile a occhio nudo; o forse un sogno".
17
http://anotacoesdeumbardo.blogspot.com.br/2012/06/resenha-ilha-do-dia-anterior.html
Sempre que leio um romance de Umberto Eco, acabo ficando com raiva. Sempre
chego à conclusão de que ele escreve romances apenas para mostrar o tanto que é
erudito e inteligente. Foi assim com todos que eu li (O Nome da Rosa, O Pêndulo
de Foucault, Baudolino e A Misteriosa Chama da Rainha Loana). Como autor
teórico, ele é fantástico e fundamental para a área da Comunicação. Como
romancista, ele é tão bom quanto, mas dá raiva, muita raiva o tanto de erudição
que ele vomita nas páginas, como se houvesse necessidade disso. [...] Enfim, vencer
a erudição do Eco é duro, mas no final, o presente é uma história fantástica. Ou
seja, vale insistir nos livros, sempre há uma grande história neles 21.
De uma forma geral, todos os livros do Eco me fazem lembrar a Régis, porque nós
duas dividimos essa enorme paixão literária. Mas de todos os livros do mestre
italiano... A Ilha do Dia Anterior é o que mais me faz lembrar a Régis. [...] Pela
poeticidade, pelas discussões metafórico-linguísticas, pelos amores platônicos e
desesperançados, pelo barroco, e pela inalcançabilidade da ilha do dia anterior
18
Extrato do blog citado em nota de rodapé nº 17.
19
Ibidem (nota de rodapé nº 17).
20
http://janelacolonial.blogspot.com.br/2011/08/desafio-literario-julhoagosto-ilha-do.html
21
Extrato do blog citado em nota de rodapé nº 20.
22
Ibidem (nota de rodapé nº 20).
23
http://owlsroof.blogspot.com.br/2010/11/meme-literario-dia-12-um-livro-que-te.html
para um pobre náufrago que delira com um gêmeo possivelmente imaginário... por
tudo isso, esse livro é a cara da Régis. [...] No final das contas, você é quem tem de
decidir se aquele certo fulano existe ou é apenas fruto da imaginação febril do
nosso narrador; se tais e tais fatos aconteceram mesmo ou se tudo não passou de
um desejo do rapaz. [...] Ah, sim, pontos extras pela aparição do Cardeal
Mazarino! Eu só faltei sair procurando D'Artangnan enquanto lia... o que me faz
pensar que esse título vai entrar para a minha lista de releituras... 24
24
Extrato do blog citado em nota de rodapé nº 23.
25
Ibidem (nota de rodapé nº 23).
26
http://bomlivro.blogspot.com.br/2009/01/ilha-do-dia-anterior-umberto-eco.html
27
Extrato do blog citado em nota de rodapé nº 26.
28
Ibidem (nota de rodapé nº 26).
29
http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=11342&sid=794
E a outra:
30
Trad. nossa. Texto original: « double, ambiguë, déchirée: entre comprendre et aimer, entre la
philologie et l’allégorie, entre la liberté et la contrainte, entre l’attention à l’autre et le souci de soi ».
Referências Bibliográficas
BIGNARDI, Daria. Umberto Eco: l' infinito davanti a un' isola. Corriere
della Sera, Milão, p. 29, 28 set. 1994. Disponível em:
<http://archiviostorico.corriere.it/1994/settembre/28/Umberto_Eco_in
finito_davanti_isola_co_0_94092813382.shtml>. Acesso em: 11 set.
2012.
PETRY, André. Ideias são coisas divertidas. Veja, ed. 2126, 19 ago. 2009,
p. 22-23. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/190809/ideias-coisas-
divertidas-p-019.shtml>. Acesso em: 20 jul. 2013.
SEFFRIN, André. A ilha do dia anterior. É Rio Zona Sul, Rio de Janeiro,
ano 17, n. 184, jun. 1995.
<http://www.istoe.com.br/reportagens/3099_O+ERUDITO+QUE+VE
NDE>. Acesso em: 18 set. 2012
BLOGS CITADOS:
Introdução
31
Para mais informações consultar a página do grupo: www.nuproc.cce.ufsc.br
Majestade,
cumpro somente meu dever ao emprestar
à Vossa Majestade um exemplar da coletânea
de 27 traduções em diferentes línguas
do Cinco de Maio de Alessandro Manzoni, por
mim
publicada, pois uma das mais excelentes, e que
enriquece a própria coletânea é,
na opinião de todos
aquela que traz Vosso Augusto Nome.
(Meschia, 1883, fólio 01).32
32
Tradução minha. Maestà,/ Non faccio che adempiere un dovere presentando/ alla Maestá Vostra
un esemplare della raccolta/ di ventisette traduzioni in varie lingue/ del Cinque Maggio di Alessandro
Manzoni, da me/pubblicata, poichè una delle più eccellenti, dalle quali/ la raccolta stessa trae pregio
è, a comum giudizio/ quella che porta il Vostro Augusto Nome. Fac-símile de uma carta de Carlo
Attilio Meschia a D. Pedro II (09 agosto 1883). MAÇO 189 DOC. 8599. Arquivio Histórico
de Petrópolis.
33
[CARTA DE MANZONI A D PEDRO- 15/04/1853] Maço 119 – Doc 5892. Arquivio
Histórico de Petrópolis. a quasi tutte le lezioni differenti d’alcuni versi dell’ode di cui/ ha voluto
gradire con tanta degnazione una mia copia. Le due/ edizioni di cui mi fa cenno, io non le ho mai
viste, e non potrei/ procurarmele, avendo io medesimo fatta istanza perché non fosse/ permessa
l’entrata all’edizioni straniere de’ miei scritti. La sola/ variante che mi sia nota, è quella del Ferve
sostituito al serve./ E, per non mancare all’usanza de’ poeti, difenderò arditamente/ la mia lezione, e
per il merito dell’antitesi, accenata dalla/ Maestà Vostra, e perché il sentimento che sarebbe espresso/
dal Ferve è già toccato implicitamente nelle parole ansia e/ indocile, del verso precedente.
Referências Bibliográficas
ABSTRACT: This Essay is very much concerned with the venerable and
elusive ‘Homeric Question’. My argument here, aiming to formulate the
unfathomable question strictly on terms of some translation theory,
follows the apologies ¬– by Matthew Arnold and Jorge Luis Borges¬ – to
Homeric Versions. My proposal stands, however, as quite humble: I
simply want to discuss the Homeric Question as translation-related; and
on the other hand, Translation itself as some kind of Homeric Question.
In support of my reasoning, I shall be confronting some fragments of
both Manuel Odorico Mendes’ and Donaldo Schüler’s own renderings
from Homer’s Odyssey. The selected episode consists on the capture of
Protheus by Menelaus, which is depicted in the fourth book of the poem.
Keywords: Homer. Homeric Translation. The Homeric Question.
Manuel Odorico Mendes. Donaldo Schüler.
Contra ‘Homero’
34
“Like all old questions the Homeric one has always mainly been about the problem of
what it is about. One of its best general formulations is, perhaps its most simple one: “this
eternal problem, what are we to make of Homer” (…). The statement is very precise, to the
degree that we read it as referring not to Homer as an individual author, but to the very
notion of Homer, in its rhetorical transpositions. The term can be a reference to a presumed
poet or aoidos of pre-classical Greek times. The question would be: has Homer existed as a
distinct individual– and what exactly are we to make of him as the author or singer of poems
such as the Iliad and the Odyssey? The term can also designate a scribal construct
reproducing or transmitting a body of poetry. The question becomes: under what conditions
were the corresponding poems initially written down, and how do their extant versions
stand with respect to earlier ones, written or oral? A further transposition makes Homer into
the figure of a whole era, historically preceding and immediately connected to classical
Greece. We thus have the question: what is the value and significance of Homeric poetry
within the overall setting of the literary tradition of Western modernity?” (VARSOS. 2002.
p. 31)
35
Walter ONG apresenta um sumário das disputas Homéricas até Milman Parry e o século
XX: “O século XIX viu o desenvolvimento das teorias Homéricas dos assim chamados
‘Analistas’ iniciadas por Friedrich August Wolf (1759 – 1824), nos Prolegomena de 1795.
Os analistas encaravam os textos da Ilíada e da Odisseia como combinações de poemas mais
antigos ou fragmentos, e pretendiam aplicar o método analítico para determinar quais eram
esses pedaços e de que modo eles se foram sedimentando em camadas. Todavia, como
aponta Adam Parry (1971, pp. xiv–xvii) os analistas partiram da suposição de que os pedaços
que iam sendo combinados eram simplesmente textos, nenhuma alternativa vindo-lhes à
mente. Inevitavelmente os Analistas seriam sucedidos pelos Unitaristas no começo do século
XX. Os partidários do Unitarismo, muitas vezes pietistas literários e cultistas inseguros,
mantinham que a Ilíada e a Odisseia eram tão bem estruturadas, tão consistentes em suas
caracterizações e, de modo geral, tamanhas obras de arte, que elas não poderiam ter sido
produzidas por uma sucessão desorganizada de redatores, mas deveriam ser a criação
individual de um único homem.” [The nineteenth century saw the development of the
Homeric theories of the so-called Analysts, initiated by Friedrich August Wolf (1759– 1824),
in his 1795 Prolegomena. The Analysts saw the texts of the Iliad and the Odyssey as
combinations of earlier poems or fragments, and set out to determine by analysis what the
bits were and how they had been layered together. But, as Adam Parry notes (1971, pp. xiv–
xvii), the Analysts assumed that the bits being put together were simply texts, no alternative
having suggested itself to their minds. Inevitably, the Analysts were succeeded in the early
twentieth century by the Unitarians, often literary pietists, insecure cultists grasping at
straws, who maintained that the Iliad and the Odyssey were so well structured, so consistent
in characterization, and in general such high art that they could not be the work of an
unorganized succession of redactors but must be the creation of one man.] (1982, p.20)
36
Aproveitamos como epígrafe dessa secção uma passagem da tese de doutorado de Georges
Jean VARSOS, intitulada, muito apropriadamente The Persistence of the Homeric Question.
VARSOS apresenta uma releitura benjaminiana da questão homérica, e suas considerações
são inspiradoras para qualquer programa de aproximação da questão homérica e da questão
da tradução. VARSOS também nos oferece uma breve genealogia das disputas homéricas:
“O paradigma de Wolf estabeleceu o campo sobre o qual a questão Homérica vem sido
debatida na academia pela moderna disciplina da Filologia. O debate se concentrou em uma
série de problemas particulares que Wolf destacara como mais pertinentes. Até que ponto
os escritos transmitidos concordavam com princípios de coerência narrativa e conformidade
expressiva? Caso verificados como aberrantes, deveriam esses escritos serem drasticamente
emendados ou reformados, na medida em que sua qualidade aberrante esteja associada com
mecanismos defectivos de transmissão? Ou se deveria, pelo contrário, ressituar o momento
do cultus vitae homérico ou mitigar os princípios da formação textual, de modo que aos
elementos aberrantes se pudesse escusar ou justificar, de acordo com as condições da
emergência inicial dos poemas? O debate foi invariavelmente visto como organizado em
volta de dois polos: o polo dos analistas e o polo dos Unitaristas. Os Analistas costumam ser
considerados uma expressão da nova ortodoxia da tradução filológica alemã, e são mais
críticos com relação a legibilidade da vulgata que nos foi legada. Os Unitaristas estão, em sua
maior parte, afiliados à tradições situadas fora do campo de influência do historicismo
germânico (como os estudos clássicos Britânicos e comunidades extra-acadêmicas de
eruditos), e resistem à revolução de Wolf.” (2002, p. 95) [“The Wolfian paradigm
established the grounds on which the Homeric Question has been debated by the modern
academic discipline of philology. The debate concentrated on a series of particular problems
that Wolf highlighted as most pertinent. How far do the transmitted scripta comply with
principles such as those of narrative coherence and expressive conformity? If they are found
to deviate, should one attribute the deviance to defective mechanisms of transmission and
proceed to drastic emendation or reformation? Should one, on the contrary, resituate the
moment of the Homeric cultus vitae or mitigate principles of textual formness, so that the
deviance maybe excused or justified, according to the conditions of the initial emergence of
the poems? The debate has been invariably seen as organized around two poles: the pole of
the analysts and the pole of the unitarians. Analysts, often considered as expressing the new
orthodoxy of the German philological tradition, are most critical with respect to the
readability of the received vulgate. Unitarians, mostly affiliated to traditions situated outside
the field of German historicism (such as British classical studies or extra-academic
erudition), are resistant to the Wolfian breakthrough.”]
37
Os dois polos, que VARSOS associa às modernas tradições acadêmicas, parecem convergir
entre os estudiosos mais recentes: “Neo Análise é uma metodologia que emprega a técnica
dos analistas para obter uma interpretação unitária da Ilíada. Ela assume a influência do
material pré homérico sobre a poesia Homérica e busca descobrir indícios dessa influência.”
(BURGESS, J. 2008, p. 150) [“Neoanalysis is a methodology that employs analyst
technique in pursuit of a unitarian interpretation of the Iliad. It assumes the influence of
pre-Homeric material on Homeric poetry and attempts to discover indications of this
influence wthin Homeric poetry.”] Se os novos analistas se aproximam do unitarismo que os
velhos analistas rejeitavam, o que estará em jogo? A questão mesma da autoria, de modo
geral, ao invés da mera atribuição da autoria dos poemas homéricos?
38
Parry foi o principal proponente da Teoria das Fórmulas Orais (Oral-Formulaic Theory), que
vem sido cortejada por unitaristas e contra-unitaristas. ONG oferece um sumário de sua
contribuição: ”A descoberta de Parry pode ser descrita da seguinte maneira: virtualmente
todos os atributos distintivos da poesia Homérica são devidos à economia determinada pelos
métodos orais de composição. Tais métodos podem ser reconstruídos por meio do estudo
cuidadoso dos próprios versos, na medida em que se deixa de lado os pressupostos acerca da
expressão e dos processos de pensamentos arraigados por sucessivas gerações da cultura
literária. Esta descoberta mostrou-se revolucionária nos círculos literários e viria a causar
tremenda repercussão na história da cultura e da psique.” (1982, p.21) [“Parry’s discovery
might be put this way: virtually every distinctive feature of Homeric poetry is due to the
economy enforced on it by oral methods of composition. These can be reconstructed by
careful study of the verse itself, once one puts aside the assumptions about expression and
thought processes engrained in the psyche by generations of literate culture. This discovery
was revolutionary in literary circles and would have tremendous repercussions elsewhere in
cultural and psychic history.”]
39
Perceba-se que ‘Proteu’ produz uma terminologia etimologicamente ambígua. O nome do
deus vale como ‘proto’ – primitivo, antigo, (como em proto-zoo-ario). Proteu é portanto o
deus primitivo, o deus antigo (não ‘original’ contudo). Mas Proteu é também o mestre da
forma, aquele que assume outras formas, conforme seus atributos. O adjetivo ‘proteico’, em
nosso uso específico nesse ensaio, aludirá a essas duas acepções simultaneamente.
40
“I advise the translator to have nothing to do with the questions, whether Homer ever
existed; whether the poet of the Iliad be one or many; whether the Iliad be one poem or an
Achilleis and an Iliad stuck together; whether the Christian doctrine of the Atonement is
shadowed forth in the Homeric mythology; whether the Goddess Latona in any way
prefigures the Virgin Mary, and so on. These are questions which have been discussed with
learning, with ingenuity, nay, with genius; but they have two inconveniences; one general for
all who approach them, one particular for the translator. The general inconvenience is, that
there really exist no data for determining them. The particular inconvenience is, that their
solution by the translator, even were it possible, could be of no benefit to his translation.”
41
O poema consta do volume despoesia (1994). Ver referências.
Tal ‘evasão’, por sua vez, consiste nos inúmeros pretextos para
retextualizar um texto, nas inúmeras soluções possíveis para cada
hexâmetro em cada novo idioma, para o mesmo verso em cada versão. A
questão da tradução é uma questão homérica e, portanto, como disse
Arnold, uma questão inconveniente. Sabemos que existe uma resposta,
que deve haver uma resposta, mas que provavelmente nunca chegaremos
a ela.
O ‘homérico’ dessas questões, talvez se refira simplesmente a
isso: temos Homero e temos suas traduções, mas não saberemos jamais
como chegamos a elas – nunca teremos dados suficientes, e se os
tivéssemos, eles seriam inúteis.
42
“Los hechos de la Ilíada y la Odisea sobreviven con plenitud, pero han desaparecido
Aquiles y Ulises, lo que Homero se representaba al nombrarlos, y lo que en realidad pensó
de ellos.”
43
“Muy poco. (…) Menos que el rapsoda más pobre. Ya habrán pasado mil cien años desde
que la inventé.”
Poder de Polícia
44
Estaria esse último, satanicamente, a profetizar o grande fogo na Londres de 1666, época
em que os londrinos puderam dizer com toda propriedade e toda literalidade que “London’s
Burning/Before us now”? Bem, o nome Bunrneianus se refere a Caroli Burnei. Nada deve ao
verbo ‘to burn’ , mas se Deus está, como dizem, nos detalhes, o diabo deve estar no quadro
inteiro.
Novos Homéridas
45
O soneto de Keats:
A captura de Proteu
46
“un monstruo sucesivo, un monstruo en el tiempo (…) En el cinto lleva una espada, y en
las manos un libro abierto (…)”
47
“Baldanders (cuyo nombre podemos traducir por 'Ya diferente’ o 'Ya otro') fue sugerido (…)
por aquel pasaje de la Odisea en que Menelao persigue al dios egipcio Proteo, que se
transforma en león, en serpiente, en pantera, en un desmesurado jabalí, en un árbol y en
agua.”
48
“Origem” é uma palavra que vem do latim – origo – que pode traduzir o ἀρχή (arché) dos
gregos.
Metamorfoses ambulantes
Referências Bibliográficas
49
“¿Cuál de esas muchas traducciones es fiel?, querrá saber tal vez mi lector. Repito que
ninguna o que todas.”
ONG, W. Orality and literacy: the technologizing of the word. Nova York:
Routledge, 1982.
50
Texto original: “not only as an integral system within any literary polysystem, but as a most
active system within it”.
51
Texto original: “Translation is one of the most obvious forms of image making, of
manipulation, that we have”.
52
Texto original: “Whereas Black writers most certainly revise texts in the Western
tradition, they often seek to do so ‘authentically’, with a black difference, a compelling sense
of difference based on the black vernacular”.
53
Texto original: “Like any potentially strong novelist, battles against being subsumed by the
traditions of narrative fiction. As a leader of African-American literary culture, Morrison is
particularly intense in resisting critical characterizations that she believes misrepresent her
own loyalties, her social and political fealties to the complex cause of her people”.
54
Texto original: “Morrison’s fictions repeatedly challenge cultural traditions defined by
patriarchal, assimilationist and totalizing standards [...]. [Morrison] emphasizes the centrality
of language not only as repository of culture but as the primary medium of social
interaction”.
55
Texto original: “a prose so precise, so faithful to speech and so charged with pain and
wonder that the novel becomes poetry”.
56
Texto original: “A fresh, close look at the lives of terror and decorum of those Negroes
who want to get on in a white man's world...A touching and disturbing picture of the
doomed youth of [the author's] race”.
57
Texto original: “There is no way a translation could share the same systemic space with its
original; not even when the two are physically present side by side”.
58
Texto original: “A fascinating debut novel by Afro-Brazilian writer Conceicao Evaristo”.
59
Texto original: “The translator, Paloma Martinez-Cruz has done a remarkable job of giving
the Western reader the flavor and meaning of the original work, without making the book
too awkward or difficult to read”.
4. Considerações finais
ANGELOU, Maya. I Know Why the Caged Bird Sings. New York: Random
House, 1970.
GIOVANNI, Nikki. Black Feeling, Black Talk, Black Judgement. New York:
Harper, 1971.
LEONARD, John. Books of the Times. The New York Times, 13 nov 1970.
Disponível em:
<http://www.nytimes.com/books/98/01/11/home/morrison-
bluest.html?_r=1.>. Acesso em: 20 jun. 2014.
______. Peeny Butter Fudge. New York: Simon & Schuster, 2009.
______. Little Cloud and Lady Wind. New York: Simon & Schuster, 2010.
______. The Tortoise or the Hare. New York: Simon & Schuster, 2010.
______. (Org.) Burn This Book: PEN Writers Speak Out on the Power of
the Word. New York: Harper, 2009.
______. Amada. Tradução de Evelyn Kay Massaro. São Paulo: Best Seller,
1989.
______. Pérola negra. Tradução de Augusto Meyer Filho. São Paulo. Best
Seller, 1981.
______. Jazz. Tradução de Evelyn Kay Massaro. São Paulo: Best Seller,
1992.
______. Quem leva a melhor? Trad André Conti. São Paulo: Companhia
das Letras, 2008.
SZOKA, Elzbieta (Org.) Fourteen Female voices from Brazil. Austin, Texas:
Host Publications, 2002.
QUESTÕES DE TERMINOLOGIA NA
TRADUÇÃO DE LITERATURA:
OS CASOS DE EDITH WHARTON E WILLIAM
BLAKE
Juliana Steil
se a organização do pensamento e a
conceitualização representam a dimensão
cognitiva da terminologia, a transferência do
conhecimento constitui sua dimensão
comunicativa. A terminologia é a base da
comunicação entre especialistas, e o tradutor
especializado, no papel de mediador, transforma-
se de fato em uma espécie de especialista, e deve
atuar como tal na seleção dos termos60 (CABRÉ,
2004, p. 11).
60
“Si la ordenación del pensamiento y la conceptualización representan la dimensión
cognitiva de la terminología, la transferencia del conocimiento constituye su dimensión
comunicativa. La terminología es la base de la comunicación entre los especialistas, y el
traductor especializado, actuando de mediador, se convierte de hecho en una especie de
especialista, y debe actuar como tal en la selección de los términos”. A tradução dos excertos
de CABRÉ (2004) é de minha autoria.
61
“Para establecerla debemos preguntarnos en primer lugar si la terminología es necesaria en
todo tipo de traducción. La respuesta parece obvia. La terminología, con excepción de casos
muy particulares, solo es necesaria para la traducción especializada”.
62
Entre seus livros de não ficção estão The Decoration of Houses (1897) e Italian villas and their
gardens (1904).
63
Alguns críticos têm considerado a abordagem das relações simbólicas da obra de Blake
realizada por Damon excessivamente sistemática em relação à organização poética dos textos
aos quais se refere; aqui ela é suficiente, no entanto, para ressaltar os traços gerais da
simbologia criada pelo artista londrino.
Referências Bibliográficas
BLAKE, William. Milton. In: ERDMAN, David V. The Complete Poetry &
Prose of William Blake. Newly revised edition. New York, London,
Toronto, Sydney and Auckland: Anchor Books, 1988.
Sobre a profissão
RR: Aprendi o inglês durante minha estadia nos EUA, que durou doze
anos. Formei-me numa universidade americana, e iniciei minha pós-
graduação em Harvard. Tenho um livro de poemas escritos em inglês, do
qual gosto muito. Além do inglês, sou razoavelmente proficiente no
francês e no espanhol e sim, tenho o hábito de ler em outras línguas.
Hoje em dia, principalmente teoria da arte e filosofia.
Caderno de Letras (UFPEL): Você acredita que o seu trabalho como escritor
tem influência no seu trabalho como tradutor? Como?
RR: Sim, como escritor eu me sinto de igual para igual com um outro
escritor e, ao traduzi-lo, sinto-me mais à vontade para “traí-lo”, se for
preciso, para melhor transferir suas palavras para a língua meta, o
português. Claro que tenho um compromisso ético com o autor, mas
também tenho com o leitor, e penso que o texto deve soar como
português, e não como algo traduzido. Percebo em tradutores iniciantes
muito receio de distanciar-se de uma tradução literal, que muitas vezes
acaba sendo a mais pobre.
RR: Tenho enorme simpatia por Agatha Christie, porque quando garoto
eu devorei alguns dos seus livros. É uma autora instigante, uma forte
referência dentro do gênero policial, e essas são razões suficientes para
continuarmos traduzindo-a. Agatha Christie incita o prazer da leitura em
jovens, e isso é importante. Teria prazer em traduzir qualquer outro livro
dela.
RR: Sim, traduzi alguns outros. Minha preocupação específica para esse
tipo de romance é não produzir nenhuma palavra, nenhuma frase ou
construção verbal que possa atrapalhar o ritmo da leitura e fazer com que
o leitor se distancie da trama. Além disso, há de se tomar cuidado para
sem querer não revelar algum detalhe que não deve ser revelado, ou
deixar de revelar algum detalhe que precisa ser revelado de forma sutil.
Isso com o inglês às vezes fica complicado, devido ao nosso uso confuso
dos pronomes possessivos, e ao it, neutro.
Caderno de Letras (UFPEL): Qual sua opinião sobre o inglês usado por Agatha
Christie em seus livros?
RR: Não me lembro, mas acredito que não. Geralmente, tais diretrizes,
quando existem, dizem respeito a padronizações ortográficas, ou
espaçamento, fonte, etc. Creio que jamais recebi orientações em relação a
estilo ou vocabulário.
ANEXO
LIVROS
Avenida Rio Branco – um Projeto de Futuro: 100 Anos. Rio de Janeiro: Usina
das Artes, 2002.
Patrizia Cavallo
Sergio Romanelli
Juliana Steil
DADOS DA ORGANIZADORA