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Serviço de Ginecologia e Obstetrícia

UAG da Mulher e da Criança


Hospital de S. João
Revisto em Maio 2008
(protocolo elaborado por Cátia Rasteiro, Daniela Freitas, Margarida Martinho, Ana Rosa Costa)

Protocolo de diagnóstico e tratamento


Doença Inflamatória Pélvica Aguda (DIPA)
INTRODUÇÃO
DIP é um termo geral que engloba a infecção aguda, sub aguda, recorrente ou crónica das trompas e ovários, muitas vezes com envolvimento
dos tecidos adjacentes. Engloba qualquer combinação de endometrite, salpingite, abcesso tubo ovárico e peritonite pélvica.
O Gonococo e a Clamídea estão descritos como os agentes mais frequentemente implicados, mas espécies da flora vaginal podem estar
envolvidas em vários casos de salpingite aguda/peritonite. Algumas destas bactérias são membros da flora vaginal e endocervical normal e
incluem Bacteroides, G. vaginalis, E. Coli, Haemophilus influenzae, Streptococos aeróbios, e cocos anaeróbios (peptostreptococos e
peptococos). Também têm sido associados com a DIP: citomegalovirus (CMV), M. hominis, and U. Urealyticum.

CONSEQUÊNCIAS DA DIP
Curto prazo: peritonite pélvica ou generalizada, íleo adinâmico prolongado, celulite pélvica com tromboflebite e formação de abcessos.
Longo prazo: maior risco de gravidez ectópica, infertilidade, aderências pélvicas condicionando maior risco de gravidez ectópica ou quadro
de dor pélvica crónica.
Estas pacientes têm também maior risco de infecção pelo VIH.

CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DA DIPA

Preenche critérios de diagnóstico?


ter dor abdominal nos quadrantes inferiores e
1 dos seguintes
dor à mobilização do colo do útero
dor à palpação do útero
dor à palpação das áreas anexiais;
conjuntamente com um dos seguintes critérios
temperatura axilar maior que 38,3ºC
leucorreia anormal vaginal ou cervical
presença de glóbulos brancos em microscopia simples das secreções genitais
proteína C reactiva elevada
confirmação laboratorial da infecção cervical por gonococo ou Clamídea
leucocitose
OU
qualquer um dos seguintes critérios
biópsia endometrial com evidência histopatológica de endometrite
ecografia transvaginal ou outro meio de imagiologia que mostre hidro ou piossalpinge ou abcesso tubo ovárico,
com ou sem líquido no fundo de saco
anormalidades laparoscópicas compatíveis com DIP.
Preenche critérios de diagnóstico?

Não Sim

Considerar diagnósticos diferenciais


apendicite aguda Tratar
ruptura de cisto do corpo lúteo com hemorragia
endometriose
gravidez ectópica
infecção de trato urinário
abortamento séptico
diverticulite
torção de massa anexial
degeneração de leiomioma
enterite regional
doença intestinal crónica

Preenche algum dos seguintes critérios?


gravidez
temperatura axilar superior a 39ºC
impossibilidade de medicação oral
presença de abcesso tubo-ovárico Sim
imunossupressão
presença de sinais de irritação peritoneal ou de sépsis
ausência de melhoria após tratamento oral

Não Tratar em
internamento

Tratar em
ambulatório
TRATAMENTO

Tratamento no Tratamento no
internamento ambulatório

O tratamento deve durar 14 dias O tratamento deve durar 14 dias


1ª linha
Ceftriaxone 250 mg IM toma única ou cefoxitina 2 gr IM toma
Clindamicina 900 mg EV de 8/8 horas única (com 1 gr de probenecid oral concomitante)
+ +
Gentamicina 2mg/kg como dose inicial, seguidos de 1,5 Doxiciclina 100 mg via oral 12/12 horas
mg/Kg de 8/8 horas * Com ou sem
Metronidazol 500 via oral 12/12 horas
OU
Cefotetano 2 mg EV 12 /12 h ou cefoxitina 2mg EV 6/6 horas 2ª linha
+
Doxiciclina 100 mg EV** ou via oral de 12/12 horas* Ofloxacina 400 mg via oral 2 vezes dia ou levofloxacina 500 mg via
oral 1 vez dia
+
2ª linha Metronidazol 500 mg via oral 12/12 horas
Ampicilina + sulbactam 3gr EV 6/ 6 horas
+ NOTA: o tratamento de 2ª linha deve ser usado apenas em último
Doxiciclina 100 mg EV ou via oral de 12/12 horas** recurso, dado o aparecimento de resistências antibióticas do
gonococo às fluoroquinolonas, e caso seja usado deve haver um
seguimento mais cauteloso da doente
NOTA: o tratamento por via E.V. pode suspender-se 24 h após
melhoria clínica da paciente, mantendo-se o tratamento por via oral
com doxiciclina 100 mg 12/12 horas durante 14 dias

Reavaliar em 3 dias
Melhoria clínica/
analítica/imagiológica?

Não

Ponderar intervenção Sim


cirúrgica

Manutenção do tratamento, tratamento do(s) parceiro(s) sexual(ais),


rastreio de outras DSTs carta para MF para realização de VDRL,
HIV 1 e 2 e atgHbs .

*Nas situações de abcesso tubo ovárico, recomenda-se que se associe á doxicilina oral o metronidazol (500 mg 12/12 horas) ou a
clindamicina (450 mg 6/6 horas) e nas situações em que se opta inicialmente pela clindamicina a sua manutenção no tratamento
oral;
**A administração da doxiciclina EV causa dor, sendo a sua biodisponibilidade igual via oral pelo que esta via deve usar-se
preferencialmente

Situações específicas?

Gravidez Imunossupressão
Internamento sempre Internamento sempre
Tratar do mesmo modo usando antibioterapia adequada Tratar do mesmo modo que uma mulher sem imunossupressão

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