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Bem, já vimos em outros vídeos que o eixo central da teoria winnicottiana é sua teoria
do amadurecimento emocional, e que nela o elemento central é a extrema importância dada ao
ambiente no desenvolvimento do bebê. No lugar central da teoria está a figura da mãe real (ou
uma substituta), com destaque essencial ao papel que ela desempenha no desenvolvimento do
bebê nos primeiros tempos de vida. Talvez por conta desse destaque muitas vezes se fala que
Winnicott não leva em conta a função do pai, e que o pai não teria um lugar significativo em
sua teoria do desenvolvimento. Essa acusação, porém, não procede.
Neste texto falo sobre a contribuição que Winnicott deu à Psicanálise sobre o papel do
pai na vida da criança, desde o nascimento até o complexo de Édipo. E repetindo o que
sempre digo, jamais esgotando o assunto.
Quando Winnicott formulou sua teoria do amadurecimento pessoal ele salientou que, a
partir de um certo momento do processo da gestação, a mãe começa a viver um processo de
regressão por identificação com seu bebê. Esse processo vai se tornando gradativamente mais
intenso e Winnicott chamou de preocupação materna primária, e vai se intensificar ainda mais
com o nascimento do bebê. Winnicott é enfático quando diz que esse processo de regressão é
muito importante para que a mãe possa se organizar psiquicamente para o encontro com o seu
bebê. E esse período de preparação psíquica só será possível se ela se sentir protegida pelo pai.
Então, já nesta etapa podemos ver a importância que Winnicott dá ao papel do pai na vida da
mãe e da criança que está para vir ao mundo.
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Winnicott entendeu o significado simbólico dessa cena como fundamental, já que na
concepção da criança está presente não só um encontro de corpos, mas também o sonhar com
a sua presença onde é importante a participação tanto da mãe como do pai. A ideia que a
criança tem, de que precisa ser concebida e sonhada pelo casal de pais, dá a ela um lugar 2
humano na relação do casal e na transgeracionalidade.
A importância atribuída ao lugar do pai existe sim na obra de Winnicott. Esse lugar
pode até não ser visto claramente, mas existe e está em seus escritos. A verdade é que a
importância do pai pode se tornar invisível por conta de leituras parciais, apressadas ou
superficiais. Leituras assim podem passar a noção equivocada de que ele desvaloriza a função
paterna quando coloca a figura da mãe no centro da teoria, mas nas entrelinhas existe o pai de
extrema importância e necessário para dar sustentação à unidade mãe-bebê.
Na etapa da dependência absoluta, a fase entre os três ou quatro meses de vida do bebê,
ainda não existe o terceiro, o pai. Na verdade sequer existe o segundo. A mãe como pessoa
separada ainda não existe. Nesse começo da vida, dada a extrema imaturidade, o que o bebê
necessita é de cuidados maternos. Winnicott propõe a ideia de que a mãe e o pai juntos
formam esse ambiente de cuidados, mesmo que o lugar do pai para o bebê, neste momento no
processo seja diferente do da mãe. O pai tem uma existência indireta na vida do bebê, ele
participa assumindo papéis muito importantes, como de mãe substituta, oferecendo
sustentação à mãe, porém como objeto subjetivo. E para exercer essa função de mãe
substituta, os cuidados que o pai deve oferecer ao bebê precisam ter as mesmas qualidades
maternais, tais como comunicação profunda, adaptação total às necessidades, empatia,
estabilidade, constância etc. Winnicott diz: “a relação diádica inicial é aquela entre a mãe ou
substituta, antes que qualquer característica da mãe tenha se diferenciado e moldado na
imagem do pai”. Ou seja, é necessário que o pai desempenhe o seu lado materno, não
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diretamente enquanto pai, eis que somente em sua atuação como mãe substituta que o pai pode
estabelecer uma relação com o bebê.
Um aspecto importante que Winnicott aponta é que a função paterna não precisa
necessariamente ser feita pelo pai biológico, pode ser exercida por um irmão mais velho, um 3
tio, por exemplo, já que o que importa são os cuidados efetivos, as relações reais vividas e o
que resulta dessas relações, ainda que ele saliente que são os pais biológicos os mais
satisfatórios (quando são saudáveis) para o cuidado com o bebê. Essa compreensão se aplica
também à mãe biológica, que por causa do próprio processo de gravidez é a pessoa mais
indicada para exercer uma genuína devoção.
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Nos estados de quietude característicos da fase de dependência absoluta, o bebê precisa
ser sustentado pela mãe através do holding para que possa ter a experiência de continuidade de
SER e vivenciar a experiência de sustentação. Eventuais falhas paternas nessa etapa interferem
no ambiente total do bebê. 4
Ele enfatiza que os braços maternos, o braço que segura o bebê representa o pai, a
firmeza dos braços da mãe é que dá continuidade do SER ao bebê, que possibilita a sua
integração no tempo, representa a presença paterna no corpo da mãe. Se a mãe se sente
protegida pelo pai de seu filho, ou (marido) ela pode ter tranquilidade e firmeza para cuidar do
bebê. Protegida dos problemas do mundo externo, ela pode lhe oferecer previsibilidade e
confiabilidade que são absolutamente necessárias, principalmente para o processo de
integração neste período da vida.
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unidade capaz de ver os que estão à sua volta como pessoas totais, e em consequência, ela
começa a viver a experiência de triangulação com pessoas totais. E a criança só poderá viver a
experiência edípica se tiver podido integrar todas as etapas anteriores do desenvolvimento e
chegado ao estado de unidade, de sentir que é uma pessoa total, única, diferente e separada de 5
seus pais; ter alcançado e estabelecido uma relação interpessoal com objetos objetivamente
percebidos.
Ter um pai forte é algo que a criança vê com bons olhos, porque libera o menino para
outras mulheres. Nesse sentido ter um pai fraco é sentido como uma ameaça. Ele diz que a
angústia sentida pela criança diante de um pai fraco não cria psicose, mas cria um homem
incapaz de amar as mulheres, porque tem medo das consequências que o amor pode causar. A
criança não se identifica com o pai.
Winnicott considera que o pai não está implicado no surgimento das patologias
primitivas que levam à psicose, mas está implicado sim com as patologias relativas às
depressões, às paranoias, aos distúrbios anti-sociais, etc. Assim, presença da figura paterna, de
um pai real e forte é que dá à criança a possiblidade de experimentar sua vitalidade tanto
física, por meio de ações, quanto psíquica, por meio do imaginário, e de integrar os impulsos
destrutivos, os impulsos do ódio e os impulsos do amor. Neste ponto o pai passa a ser para a
criança o protótipo da consciência. É a presentificação da consciência, que Winnicott não
denomina de superego, mas de protótipo da consciência.
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Referências Bibliográficas
Winnicott, D.W. The Piggle – Um relato do tratamento psicanalítico de uma menina. Rio de
Janeiro, Imago, 1979.
-------------------- E o Pai? (1945) A criança e seu mundo. Editora Guanabara Koogan S.A. Rio
de Janeiro, 1982.
------------------ Natureza Humana. Rio de Janeiro, Imago Editora, 1990.
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