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Em novembro de 7 (oittubro, pelo antigo calendirio gfegoriano), as massas de operirios, camponeses ¢ soldades, sob 0 comando de Lénia, implantaram na Rassia o primeiro regime socialista O8 dez diés que abalaram 0 mundo provocaram logo, depois do abalo, violenta reagio. O jovem govéeno sovietico, 2 bracos com serissimos problemas internos, lo capitalicta, em Campanhas herdicas e terriveis pelo sacrili humanas que exigiam é inia enfrenter e veneer a ira do mu Come repercutiu. tudo isso em nosso Pais? Que atitucles tomaram govémo © povo? Como reagitam as classes dominantes, as {orcas armadas e 0 cleto? Que encoraja- mento tiver s trabalhacoras em sita luta por melhores condigoes de vida? Neste fascinante livro gue € 9s jornalistas Moniz Bandeira, Clovis Mello e A.T, Andrade nos dio 0 documentirio vivo do que se passou aqui, em todos 0: tecrenos politicos e socials, a partit 4a tomada de poder. pel6s sovidticos ‘Sabo « Livraria Corujinha Be mare’ vsnnccouccea as MII) ** 22° Mais um I i « CIVILIZAGAO BRASILEIRA. A Edgard Leuenroth © a fodes os que con- twibuiram para a realizacdo déste liveo 0 ageade~ coment dos Autores A meméria de Asteojildo Pereira. indice ‘Uma contribuigio importante (Nelson Worneck Sodvé) Pré-histéria Rissia e Brasil A guerra 1917 Réssia: de margo a novembro perigoso Sr. Lénin Dee dias que abalaram 0 mando © soviete do Rio Anarquismo, socialismo © comunismo © programa comunista dos libertisios ‘Sob 0 signo do maximalismo ‘A revolugdo mundiat Escritores @ revolucionarios © declinio A grande cisto Formagio do PCB Avinpice A revolugio russa © a imprensa, por Alex Pavel (Astrojildo Pereira) © Itamarati nada via 1 19 35 73 89 97 us 149 169 17 203, 233 255 267 283 303 319 Depoimentos sdbse a greve insurrecional de 1918 (o so viete do Rio) No ajusts de contas (Lina Barreto) SAbce © maximalismo (Lima Barreto) Manifesto da Unio Maximalista Entendimentos de Lauro Miller com os anarquistas. (Do- mingos Ribeiro Filho) A oma vermelha que se avoluma e avanga (Afonso Selunide) Wrangel (Afonso Schide) A socializagdo da Europa (Entrevista de Kautski a Assis Chateaubriand) 0 relat6rio Canellas 327 345 355 363 369 391 395 399 407 Uma Contribuicao Importante Qunnme os autores deste tabelbo mie procurarain, uns paticos meses, em busca de informacio sobre as fontes necessirias ao levantamento dos dados relativos a repercussio da Revolucio Socialista no Brasil, manifestei-lhes minha des- confianca de que, em relacio ao exiguo praze para a realizagio das pesquisas, Fosse impossivel chegar a resultado razoavel Havia a necessidade de lancamento do livro quando aquela revolugfio completasse meio século de seu irrompimento. Os dados estavam dispersos, exigiam consultas a arquivos poco corganizedos, demoradas buscas em colegbes de jornais anti- gos, leitura de livros e, além disso tudo, a organizacio e si tematizacao do material e a tarefa de escrever. © resultado. contido neste livro, surpreende-me, pela riqueza informativa, que corresponde ao extraordinatio esforco deseavolvido pelos autores. Trata-se, na verdade, do maior acervo de dados j4 reunidos em livro, entre nés, a propésito do assunto, com 1 Anarquismo, Socialismo e Comunismo Oss rovos mais atrasados tém uma yantagem: podem sallar as etapas gue 0s outros pezcorreram. Aprendem 0 ex- perigncia e assimilam as conquistas da civilizagdo, no cam- po econémico, social e politico. © proletariado brasileiro pulou do anarquismo para 0 co- raunismo, sem pasar pela social-democracia. Desde os fins do século passado, principelmente a partir dos primeiros anos da Repiblica, houve varias tentativas de organizar o nascen- te proletaziado sob @ forma de partides socielistas. Tédas, porém, logo se desvaneceram, como 0 Partido Socialista do Brasil, que realizou um congresso de 1902, out ficaram redu- zidas @ pequenos grupos, como o Centro Karl Marx, que, em So Paulo, publicava 0 periédico Parola dei Socialisti, por volta de 1905. Também, em Porto Alegre, houve, naquela €poca, um Centro Socialista. 149, 9 jornal Avanti, editado em italiano por um grupo de socialistas, existiu por muito tempo, mas nunca logrow tor har-se o centro de irradiagéo das idéias marxistas. Em 1917, Pertencia ao Centro Socialista Internacional, que sucedeu & Federacio Socialista do Estado de Sio Paulo, Silvério Fontes, um dos primeizos brasileiros de forma- So marxista, fundo, em 1895, 0 Centro Socialista de Santos € lancon A Questao Social, mas nfo teve maior militancia Seu filho, © posta Martins Fontes, tornar-se-ia anarquisia ¢ ele, em 1922, aderiu ao Partido Comunista do Brasil. Assim, embora seus lideres, como o professor Anténio Picarollo, participassem dos movimentos de massa, em Sao Paulo, ombro a ombro com os anarquistas, a social-democra- cia cingiu-se a pequenos circulos, constituidos, na sua maio. Ha, por operéios de origem italiana ou intelectuais. Em mui. tos Estados, socialismo © anarquismo chegavam a confundir- se no mesmo ideal de libertacio. No Rio de Janeiro, porém, as divergéncias entre anarquistas e 0 pequeno grupo de socia Jiotes manifestavau-se de modo mais agressive, recultando em alguns incidentes. A II Internacional jamais conseguiu transmitir sua men- sagem as massas brasileiras. As idéias de Proudhon, Bac kuain € Kropotkin aqui deitaram raizes, A participacdo na luta politica e, sobretudo, eleitoral constituia verdadeira opré- brio para os militantes do movimento operdrio. Um soctalis: mo rarefeito e, por vézes, adocicado aio poderia ganhar tra: balhadores em desespéro, A agao direta dos anarquistas calou mais ftimdo no espi- tito dos revaltados, Parece que éste fato “se deve, principalmente, a propria estrutura econémica seifeudal do Pais", segundo a opinizo de Astrojildo Pereira, “e, em conseqiiéncia, @ propria forma. 80 do proletariado nacional, alias quase todo de imediata origem camponesa e artesanal, inclusive 0 que provinha de correntes imigratorias, facilmente influenciavel pela ideolo- gia pequeno-burguesa do anarquismo”.* ._,, * partir do Congreso Operario de 1906, no qual se fun- dou a Central Operaria Brasileira (cop), inspitada na cor francesa, os anarco-sindicalistas ascumiram a lideranca das ° Formacio do POR, Fd. Vitéria, 150 massas. [sto no significa que t8das as assoclagies operdirlas estivessem sob seu contréle. Havia algumas reformistas, de cardter assisteacial € beneficente, outras que se chamavam de resisténcia ¢ varias ditigidas por burocrates a servico dos patrées € do govérao, As greves de 1917, 1918 e 1919 mostraram que 0 mo- vimento operario estava, objetivamente, maduro, mas no pos- suia uma direco consegiiente, capaz de abrir a perspectiva politica, Os anarquistas, apesar da firmeza, da combatividade e do devotamento com que iutavam, nao podiam desempenhar essa tarefa, em virtude das limitagses da sua doutrina, Que fazer? Nada sabiam. A revolugso tussa introduziu, no movimento operario brasileiro, novas idéias, novos conceitos, novas palayras, em- bora, inicialmente, de forma vaga e confusa, Os militantes anarco-sindicalistas saudavam-na como a realizagéo da utopia libestési Falteva, aa verdade, a todos, inclusive @ intelectualida- de, a informacdo exata e precisa sobre o tipo de regime que, na Réssia, se implantava. Chamavam os bolcheviques de “‘maximalistas”, porque — assim entendiam — apregoavam um programa radical. © pro- rama maximo. Ignoravam que o Partido Operdrio Social- Democrata Russo se cindira, em 1903, em bolcheviques € mencheviques, por causa da definicio de militante e, conse- qientemente, do conceito de partid Bolcheviques, ou seja, majoritétios, néo porque defen- dessem 0 programa maximo, embora esta circunstancia viesse, mais tarde, aprofundar a discidéncia, separando Lénin de Plekanov. Chamavam-se majoritirios porque obtiveram a vi- t6ria_no congresso de social-democracia russa, Em 1919, oa brochura intitulada “O que ¢ 0 maximismo ou bolchevismo” e que se apresentava, na capa, como Progra- ma Comunista, escreviam Helio Negro e Edgard Leuenroth: “Bste livro destina-se aos trabalhadores do Brasil, a fim de thes dizer 0 que € 9 BOLCHEVISMO ou MARXISMO e 0 Co- munismo que, numa palava ~ € 0 "SOCiALisMo". Bolche significa maximo e Menche quer dizer minimo, assim como vigue corresponde 8 nossa terminagao imo, Por. 451 tanto, @ tradugio de Bolchevique ¢ Maximismo e a de Men- chevique & Minimismo. “Maximistas s0 os adeptos do programa maximo do par- tido socialista, e minimistas sio os partidicios do programa minima. “Maximalismo, Bolcheviquismo ete. sio idiotismos que ti- yeram origem na traducdo do idioma uso para o inglés e deste para o portugués, “Atualmente, na Réssia, conforme a sua Constituicao, aprovada em 1918 pelo 3* Congresso Pan-Russo dos Sovietes, esta estabelecida uma organizactio politica e econdmica de transicéo, que da aos trahalhadores @ soldados, organizades em conselho (sovietes), todo 0 poder da nacao. “O capitulo V —'art. 9 — determina que 0 principio essencial da Constituigio da Repiblica Federal dos Sovietes, ro periodo de transicio atval, enquanto durar a situagio re. vohicionaria, reside na instaurago do poder proletério ur- bano ¢ rural e CANPONESES MAIS POBRES, COM © FIM DE SU- PRIMIR_A EXPLORAGRO DO HOMEN E DE FAZER TRIUNPAR O SOCIALISM, SOB CUJO REGIME NAO HAVERA DIVISKO DE CLAS- SES, NEM © PODER DE ESTADO”, A insurreigdo bolchevique, na Russia, constitula-se como yetor para as novas lutas do proletariado brasileiro. Aguele tempo, no Brasil, os anarquistas, congregados nos sindicatos, formavam micleos, sem maior coordenacéo e possuiam diversos jomais: A Plebe, Alba Rossa e Tribuna do Povo, em Sio Paulo, A Liberdade, Germinal, no Rio de Ja- neito, © varios outros nos Estados, como Semana Social, de Maceié, ¢ Hora Social. do Recife. Muitas publicagdes sur- glam e desapareciam, periddicamente, no chegando a sair com regularidade ou sobreviver por muito tempo. Os socialistas, sem que se caractesizassem acentuada- mente, como maristas, desenvolviam alividades, em menor escala, Antes ¢ depois de 1902, quando howve a tentativa de criar, em Sio Paulo, o Partido Socialista do Brasil, procura- ram organizar-se muitas vézes, sobretudo no Ambito estadual ©, por vézes, municipal, mas com objetives eleitoreiros ¢ sem qualquer resultado mais profundo. A bem da verdade, tais socialistas, com excecdo, talvez, de pequenos agcupamentos estrangeizos (italianos e alemaes), em Sto Paulo, nao co- 152 nheciam bem as idéies de Marx € softiam forte influtncia dos utopistas. A partir de 1917 e, sobretudo, depois da revolugdo russa, os militantes sindicats, pequenos-burgueses © operérios, na sta grande maioria de formacio anarquista e, também, alguns intelectnais comecaram a buscar novas formas de organizacio. Santos Soares, em 1918, crion a Liga Comunista de Li- vramento (Rio Grande do Stl) e langou uma publicacdo. A policia assaltou a sede, mas a Liga continuou a existir até 1922. Em Passo Fundo, (também, Rio Grande do Sul) apa- receu o Centro Comunista, E na cidade do Rio Grande, os trabalhadores inscreveram na fackada da Unige Operdria’ “Operitios de todos os paises, uni-vos”. O Manifesto Comunista que, no inicio do século, 08 s0- cialistas divulgaram, tcaduzido por_um militante libertario, num dos seus. periédicos, saiu em Porto Alegre. Em 30 de junho de 1919, © Partido Socialista do Brasil (Rio de Ja- neico) iniciou 2 sua publicacdo, nas edicées de Tempos No- 03, cujas capas retratos de Jaurts, Marx e Engels ilustea- ram. Traduziu-o um engenheiro alemao, que se chamava George Magh e que também vertera para o portugues pas- sagens de Q Capital. A Voz Cosmopolita, semanaria dos tra- balhadores em hotéis, restaurantes e cafés, editou o Manifesto Comunista em sucessivos nimeros. Abilio de Nequete, em Pérto Alegre, fundou a Uniio ‘Maximalista, que langou um manifesto" aos operarios, com data de 1 de novembro de 1918, Conclamaya: “Operiirios! inyadi essas casas arcjadas babi iscussio, porque foram consiruidas por vessas préprias mos. Destrui duma para sempre, o capticho dessa corrompitla sociedade que tem por objetivo aniquilar-vos. “Apoderai-vos désses depositos de produtos alimenticios e ali- meniai-vos déles sem receie, porque éles Sio 0 produto do vosso Inbor, so portanto legitimamente vosses © nao de seus atuais de- tentores, vossos figadais inimigos, es quais ha séculos consomem ‘sem produrir coisa alguma. — Ponhamo-los fora da nossa comu- mo, 56 lhes acitando quando se apresentarem como de fato produtores.. © VY. “Apéndice”. 453 “Operirios! apoderai-vos de tudo que encontrardes depositado fem tecidos ¢ ealeas © vesti-vos, porque se no fora as vossas mios nada disso haveria. “Operirios! mais um impulso e a burguesia do mundo ¢sird. ‘Tende em mira o impulso "maximalista” bastando ali a yontade dos operiirios © soldados, para pSr por terra néo s6 a secular tira nia dos Romanoy como também a sou satélite a Democracis Kerenskina. “Operirios! Assim como a célera é oriuada dos campos de batalha e ora nos afeta, assim como tédas suas conseqiiéncias nos atingem, da mesma sorte ou melhor ainda por se tcatar da madu- reza do homem, o maximalismo era triunfante na Rissia e, se- gundo as viltimes informagies, jf esté invadingo os Impérios Cen- tuais, comesando pela Bulgéria, j€ bate no uono dos Hoherzol- lem... esiejais pois alerta, porque Gle ha de vir até c&... muito breve talvez, a despeito de todos os arreganhos “Operdrios! Iutai sempre contra tsses inimigos que, insocié- yeis, procuram por todos os meios aniquilar os vossos esforgas em seu exclusive proveito, explorando-vos com relistaa, patriotismo © mil insinias “Nada de 6dies aps soldados! porque sio vitimas como. vis, S£0 vossos iguais, pois quem Giz. soldado diz operatic e vice-versa, Tende em cada tum déles um camarada de luta. A vossa ftaqueza 6 filha de vossa divisio ~- uni-vos pois! e nao havera fOrga alguma que possa vos enfrentar. Pondo um ponto final nesta inaturdvel situagao de camificina ¢ misétia em que a burguesia vos mercade- ja como que fésses um rebanho de animais inconscicntes. Tende pois consciéncias de vés mesos..." © documento, vazado numa linguagem simples e com eros de gramatica, revela a origem humilde de seu ou seus autores. Abilio de Nequete, 0 lider da Unigo Maximalista, nascera na Siria e exercia 2’ profissdo de barbeiro, A cidade de Cruzeiro, em Sao Paulo, teve um dos pri- meiros niicleos comunistas do Brasil, dirigido pelo eletricista Hermogéneo Silva, sob a denominagio de Uniio Operdria I de Maio. Puncionou de 1917 a 1919 e Hermogeneo Siiva, como Abilio de Nequete, participaria da fundagao do rcv. 154 Cristiano Cordeiro ¢ Redelfo Coutinho organizeram no Recife um Cisculo de Estudos Marxistas, criando-se também uma Universidade Popular, entre 1919 © 1920, Existiu, em Maceié, a Sociedade dos Inreverentes, de orientagio anticlerical ¢ socialista (1917) e, depois, surgia a Congregecao Libertadora da ‘Terra e do Homem (1918). Em Fortaleza, funcionou um Partido Socialista Cearense que lancou, em 14 de julho de 1919, 0 periodico O Ceara Socialista, Em agosto de 1920, em Salvador, fundou-se 0 Partido Socialista Baiano, organizado por uma Comisssio Operiria, da qual participavam Adriano Marques, metalirgico, Gui Iherme Neri, pedreiro, Angelo Barbosa, estucador, José Car- neiro dos Santos, marceneiro, Firmo de Novais, estucador, Tdefonso Soares, sapatciro, Cassiano José de Aradjo, enta Ibador, José de Almeida ¢ Ainal Lopes Pinho, marceneiros. © programa proconizavat aocializagéo do comércio, das grandes inctstrias e de todos os meios de transporte, fixa- séo do salario minimo, equiparacdo pera todos os efeitos dos operérios municipais, estacuais e federais aos funciondcios pi- blicos, abolicdo de todos os impostos indiretos ¢ transforma- séo num imposto progressive sobre qualquer renda de seis contos de réis anuais, voto de mulher e do soldaco, reforma da lei do inguilinato e despejo. © Partido Socialista Baiano que se instalow, solenemen- te, na sede co Sindicato dos Produtos de Marcenaria, 20 Largo do Carmo n? 16, 1° andar, aprovou mogio de protesto contra a intervengio na Riissia @ lancou as candidaturas de Mauricio de Lacerda, para senador, e Agripino Nazaxé, para deputado. Comegou a circular Germinal, dirigido por Agri- pino Nazaré, Houve uma febre de eriacéo de grupos ¢ partidos, mui- tos dos quais, pela falta de documentacdo, 0 tempo afundou no esquecimento, No dia 1° de maio de 1917, um grupo de rapazes, na maioria intelectuais e estudantes, fundou o Partido Socialista do Brasil, tiderado por Nestor Peixoto de Oliveiea. Sua orien- taco era nitidamente social-democrata, talvez mais influen- ciada pela linha de Jean Jaurés. Bsse rsp tove uma existén- cia precaria até 1919, existindo mesmo, no seu meio, aquéles que desejavam arrasti-lo a apoiar a entrada do Brasil na ISS guerza. Houve, em 1918, algumas iniciativas para dinamizé- lo, mas, 56 em 4 de janeiro de 1919, com o langamento do primelzo nimero de Fatha Nova, seu 6rqGo olftial, conse- guiu repercussio. Os anarquistas nio The davam trégua, che- gando 0 velho militante operério Pedro Matera a interrom- per uma de suas assembléias, num cinema de Catumbi, para dizer: — Pensei que se tratava de uma reunido proletaria e en- contro mela dizia de mocinhos bonitos. Sobreveio 0 alvoréco e Alberto Moreira. orador oficial da cerimonia, exclamou: — “Mocinhos bonitos”! Mas como? Eu s6 vivo de me... A platéia gelou esperando o palavri, conta o poeta Murilo Aratijo. E @e coneluiu: — «dia, Média. Gatavam operdrior a Jago. Os sindicatos, dominadas pelos anarquistas, fechavam-thes as portas. O namero 1’ de Félha Nova demonstra excessiva mode- racdo, uma posicao bastante dircitista, que se traduz em dois topicos: um, contra a tentativa de sublevacéo dos anarqnista: em novembro de 1918; € outro, sobre “O Maximalismo Russo Esta nota dizia: “Nao somos maximalistas © achames até que o seu advento rno Brasil seria um fracass0, mas nao pocemos furtar-nos a comen- tar a campanke de calnias que ceria imprensa interessada man- tém no mundo contra © maximalismo “Essa eampanha infame, como todas as que atacam as regras a liberdade, € feita por meio de telegramas inventados nas agen- cias telegréficas, que comumente se contradizem, afirmando uns (© que oulros negem e descrevendo horrores que munca existiram “Entretanto, as cartas quo chegam daqatle pais e passam sem censura alguma, deserevem a situagio duma forma bem distinta, nuaram as reunioes. r oa ek A Plebe (28 6.1919) narra: ‘A sesso inaugural “Com 0 yasio sage do Centro Cosmorott vaso 9 Cosmorolita repleto do ase lentes, teve inicio no sébado a sessiio ‘inaugural, sem: abodibas a nenhuma das formalidades costumeiras, dispensando-se a indef tel presencia, Mas 0. camarada do. nico Wo Ris deinen f0s tabathon com a tetra do tlatiio dos tables ctreutades ‘6 enlio pelo Farida Comunista, rater fate gue rubten m outro nimero ie as “A seguir, um camarada toma palayra e leu "ac : 8 palava ¢ leu a mogio abaixo ublcnda © que foi aprovada. por ehtulisticeselanmsee de wee eros assistBacia e que, de p& caniou vibramemente s dmerms aaah guns derradcites exiofes foram coroades com vives d eclaragdes de princtpios tect inl poe ey fnEn, * even ane somite) ° trabalho de redigir as declaracoes de principios, 162 "2.8 € 34 Sessbes “Nfo puderem ter a retumbincia da primeira, mas foram realizadas, apesar do arreganhio do truanesco Aurelino. Deixando de nos ocupar mais longemente dessa magna procza do Javert de fancaria, pois absixo trés camaradas j4 0 fazem, passamos a re- gistrar as resolugies da Conferéncia “Mogdio aos cornunistas A Conferéncia do Partido Comunista do Brasil, antes de encetar os trabalhos, resolve proclamar a sua calorasa @ entusiés- tica solidariedade com 0 proletariado revolucionitio do mundo, 0 qual, a esta hora em luta aberta contra © Estado e o Capitalismo, se empenha na imenss e fecunda batclha pela implantagao do Co- munismo sdbre a ‘Terra, tornande-a livre para o Homem livre”. ‘A Conferéncia aprovou, também, as “bases de acdrdo”, con substanciadas nos seguintes pontos: “1, Podem fazer parte do Partido todes os homens © mu- Iheres, zesidentes no Brasil, quo estejam de acbrdo com 0 sou pro- grama € meios de agio. “2, © ingresso. como sécio no Partido vale por um com= promisso pessoal de defender © propagar 0 programa aceito. “3, Em cada localidade do Brasil onde se constitua um nicleo do Partido, ésse nficeo designara uma comissio encarre- gada dos trabalhos de secretatia e relagGes. “4. A contribuigio de cada s6cio do Partido, destinada ape- nas as despesas do propaganda local © eorcespondéncia, seré deter minada segundo as necessidades de cada nicleo. “5. As despesas de cardter geral, interessando parte ou a totalidade dos micleos bem como as despesss eventuais e extra- ordinéris, serdo cobradas por meio de subscrigSes voluntirias © de casio. ‘6. © entendimenta coletivo entre os miicleos de uma de- terminada regiio do Pais, ou de todo o Pais, far-se-4 por meio de conferéncias de delegados diretos dos nicleos que postam com- parecer. “7. Cada micles do Partido enviard a essas conferéncias os delegados que entender, sendo que as deliberagdes das conterén- cis tomar-se-Z0 por acérdo undinime” 163 © partido admitia “anarquistas, socialistas e todos os que aceitarem © comunismo social”. Na mesma edicao, A Plebe descreve 0 conflito com a policia "Com as noticias espathadas na cidade pelos jornais sobre a primeira reuniio da Conferércia Comunista, a policia se pOs a ostos e determinou praticar mais uma de suas proezas habitus. ‘O tal Aureling ordenow aos scus auxiliares que imediatamen- te fOsse impodida a segunda rcunigo. Nada menos que uma mi- tula de delegados © agentes foi entio mandada, para 0 Centro Cos- mopolita, onde estavam reunidos alguns comunistas que comesa- yam enlgo a chegar. “As dez horas da manha 4 apareceram homens sob 0 co- mando do major Bandeira de Melo que, se dirigindo aos pouees comunistas que jé no Centro so encontravam, proibiu, em nome do chefe de policia, a realizagio da Conferéncia. Enquanto isso sucedia. 08 policiaie pastados is portas, impediam a entrada dos que chegavam. Os que ouviram do major Bandeira a inesperada nova indagavam em que se baseava a polfeia para proibir a Con feréncia, sendo entio respondido que 6 0 chefe de polfeia poderia dar oxplicagSes. Os conferencistas retiraram-se... ¢ foram realizar @ reunigio om Niter6i... Mais tarde a diretoria do Centto e alguns delegados foram convidados a ir 4 Central de Policia’ Nicanor Nascimento protestou da tribuna da Camara. Tempos Novos, do pss, condenou, igualmente, a violéncia da policia © rc dew uma nota a imprensa. A Razéo, de 23 de ju- uho, publicou as conclusdes Conferéncia. Uma comissao especial encarregou-se de redigir as declaragées de principios, Astrojildo Pereira” lembra que “antes ¢ depois da con- feréncia © Partido promoveu alguns atos pablicos, realiza- dos em sedes sindicais, com 0 comparecimento de grande mi- mero de operdtios. Foi assim em 18 de marco, dia da Co- muna de Paris; em 13 de maio, dia da Aboligaio: em 14 de julho, dia da tomada da Bastilha etc.” A comemoracio de 13 de maio teve como orador Evaristo de Morais, * A Formagiio do PCB, 164 Somam-se também ao seu ative as manifestagbes prole- tarias de 1919. Spartacus. jornal ditigido por Astrojildo Pereira (reda~ so) e Santos Barbosa (administracéo), publicava, na sua edigao de 9 de agosto de 1919: “Come estava amuneinda, realizouse no domingo titimo o festival pr6-Spartacus, orgunizedo por iniciativa do Partido Comu- nista do Brasil, nécleo do Rio - A pequena festa decorreu animadissima, apesar da alteragio forgada e imprevista, com a falta de mésica. “Ao ribombar da trovoua, em furioso canhoneio pelo céu yelho, Ié fora, 0 camarada Dr. Fabio Luz deu comégo a leitura de sua conferéncia, “A impronsa ¢ © proletariado”, atentamente ouvida e calcrosamemie aplaudida, Comegamos a publicé-la desde je, noutra pégina. ag detente ong mney eee tcae oe Madeira, Amileare, Carolina, Elvira e Valdemira Fernandes disse ram verses ¢ fabulas raras, recebendo todos fartas palmas do au itérie. “A quermesse fézse com pleno éxito, esgotando.se inteira- mente 03 objetos oferecidos. “0 festival terminou por volta das 11 hores, a0 som da Internacional e Fos do Povo, cantados pela assisténcia’ Na mesma edicao, Spartacus, euja ticagem, no inicio de 4,000 exemplares, passou a 6.000 depois, publicava outra informacéo: “Liga Comunista Feminina Resid tyme me ew, raliads tes nn: Jdigio de um manifesto, auxilio de SO$ a Spartacus, passar par ‘mar parte na romaria vermelha de domingo préximo ao témulo dos soldados assussinados ha um ano pela policia de Niteréi, pu- blicar brevemenie um folheie, a conferéneia efetuada pela cama- rada M. de L. de Nogueira, no festival da Liga. Os soldados a que se refere a nota, colocaram-se ao lado dos operatios, nas greves de 1918, em Niter6i, 165 A Liga Comunista Feminina que tinha como lider Maria de Lurdes Nogueira, reuniti-se em 27 de maio de 1919, para ceclacar-se solidaria com o Partido Comunista do Brasil, apro- vando, na oportunidade, as “bases do acdrdo”, que se con- substanciava no seguinte: Lt Ponto a) estar de inteiro acdrdo com a sua orientagio; b) contribuir mensalmente com a quantia estipulada para fas despesas da sede, secretaria e propaganda (biblioteca, ma- nifestos, etc.) 2? Ponto 1) sertio aclamadas, semestralmente, em reuniio geral quatto companheiras que constitivean uma junta administrati va, cujas funcées s6 podem ser executivas e nunca de moto- proprio, exceto em casos excepcionais ou de somenos im- portancia; 2) essas companheicas ocupardo os cargos de secretaria do expediente, secretéria auxiliar, tesoureira e bibliotecaria; 3° Ponto 1) as reunides gerais serio encaminhadas por uma ca- marada para @sse fim nomeada na ocasiio; 2) a Liga Comunista Feminina, considerando gue a pra- ticabilidade de quaisquer resolucbes depende, apenas, da boa- ~vontade e do interésse individual ou coletivo e que, portanto, aio ha necessidade de “grafar" hoje “o que urge fazer ama- aha, processo esse que representa um dispencio de energias ¢ bem assim uma das mais initeis modalidades do praxismo burgués, nao adotara o sistema de atas, 4° Ponto A Liga Comunista Feminina mantera duas cepresentan- tes trimestralmente substituidas junto ao Pcu. 166 Ultimo Ponto Em caso de dissolugio da Liga, todo 0 set esplio sera confiado aos cuidados do Partido Comunista do Brasil e, aa felta déste, a qualquer assoviagio de orientacao inovadora, (© apéndice Jevava como titulo "Principios do socialismo anarquista”, com © esclarecimento: (Comunismo). Era a primeica vez que os anarquistas procuravam agru- par, numa s6 organizagéo nacional, os diversos niicleos que existiam pelos Estados. Tentavam a unidade sob a inspiracéo do que se passava ra Riissia. B_ plantavam, dessa forma, as sementes do fu- turo Partido Comunista do Brasil. + A Razdo, 2 de janho de 1919. 167 O Programa Comunista dos Libertarios «P rocansia Comumsta” — tste, 0 subtitle que te sia a brochure O que é Maximismo ou Bolchevismo, publica da, em 1919, por Helio Negro (pseudénimo do comesciario Ant6nio Duarte Candeias) © Edgard Leuensoth, Constituia wna tentativa de visualizar 0 ideal do recém-fundado Partido Comunista do Brasil, tomando como ponto de referencia a revolucio russa de novembro. Era a concepciio libertaria do comunismo, inspirada numa nova realidade: a Repiiblica dos Sovietes. Ou, em outras palavras, a Reptiblica dos Sovietes, vista através dos éculos do anarquismo. © bolchevismo — “maximismo” ou “maximalismo” — tuaduzia-se apenas, para éles, na reivindicacao do programa maximo: a realizagio imediata da etapa suprema, a anarquia. “O regime vigente na Russia” definem Hélio Negro Edgard Leuenroth — “é uma organizacao de defesa e reconstru- 169 80, a caminho do almejado comunismo libertério, que traré para todos a paz, 0 bem-estar ea liberdade”. E, mais adiante, acrescentam; “Nos, comunistas libertésios, ndio concebemos © comunismo senfo como forma social tendente a aumentar 0 bemestar © a li- berdade individual; e, por isso, somos inimigos irreconcilidveis do coletivismo ou do socialismo de Estado que, tendendo a desirui- gio dos privilégios capitalistas, criam inevitivelmente os privilé- ‘Bios burocratas”. Passam, depois, a descrever: “Em regime comunista hé sé uma classe: os trabathadores sio simultneamente diretores da produgio e da distribuigdo, pos- suidores dq material socisl © opardnos. Assim, nas suas assem- biéias profissionais assentam as condigdes ecorémicas da produ- go © da distribuigio © nesta qualidade substituem os patroes. Algm disso, como a diregGo profissional instaura do fato a pro- priedade social, os trabalhadores sio co proprictétios do material; sio, aliés, operérios manuais ¢ intclectuais, “Sob Este regime os individuos tm todos os mesmos résses econémicos; ha identidade, coincidéneia perfeita do inte résse individual © do interésse coletivo © nfo se pode pretender ‘um sem aleangar o cutro; éste Gitimo é, positivamente, a soma dos interésses particulates, Enquanto nas sociedades patronais os in- terdsses econdmicos estiio em perpétua oposicéo.. “Com a dires2o profissional, os individucs, para alcancarem 1 satisfagao dos seus inter®sses, passuiem os mesmos podéres, por- que todos os membros de uma assembiéia sindical podem decidit dda durasao do trabalho, A igualdade das faculdades fisicas & im- possivel impedirie t8da a vida social, pois a variedade das tare- fas © das fungées exige correspondente variedade nas aptiddes © dons naturais. A dos podéres cconémicos, porém, & perfeitamente possivel © existe nas sociedades de direcdo profissional que reali- zam, finalmente, essa igualdade, hoje tio vimente proclamada. “Estas sociedades 40, pois, formadas de individuos que, sob © pont de vista econdmivo, possuem todos jgvais podéres ¢ os 170 mesmos inferésses. Isto é um cariter fundamental e de capital jimportincia que 2s diferencia completamente cas atuais. socieda- des patronnis”. © “programa comunista” de Helio Negro e Edgard Lewenroth previa a eriacéo de Consethos Comunais, em cada cidade de populacse numerosa, tantos quantos fossem os bair- 10s, subirbios © distritos em que se dividisse. Representan- tes de todos os centres de trabalho e agremiacaes locais inte~ grariam ésses conselhos e lhes caberia “tratar de tudo que se relacioner com as questées de interSsse particular das popu- ages loceis em que estiverem situados” Representantes de todos os Conselhos Comunais de baic- ros, subarbios ou distritos constituiriam um Comissariado do Povo. Nas localidades, onde nao houvesse Conselhos Comu- ais, por ser pequena a populacdo, os representantes das cor~ poracees, centros de trabalho ou de grupos de casas intesra- riam, diretamente, os Comissariados. ‘Os Comissariados elegeriam, entre os seus componentes, uma Comissio Executiva e comissées especiais, segundo os ramos de atividade coletiva. Nao se tratava, prépriamente, de um programa de rei- vindicagses econdmicas ¢ politicas. Era mais, na verdade, 0 esboco de uma carta constitucional, alguns pontos espelhan- do 0 que o 3° Congreso Pan-Rusto dos Sovietes apzovara, em janeiro de 1918, Era todo um principio de organizaao, em gue se entrelacam e se confundem idéias libertarias ¢ ino- vacoes da ditadura do proletaviado na Rissia. Estabeleciam- se normas de uma nova ordem, fixando: “| — A administragto geral da Reptblica Comunista seré confiada a0 Conselha Geral dos Comissirios do Povo, constituido pelos representantes de todos os Comissatiados Regionais. “2 — Para cada ramo de atividade social 0 Conselho dos Comissariados do Povo constituir’ um Comité Administrativo de Comissérios, que serdo encarregados de normalizar os trabalhos do Conselho Geral dos Comissarindos do Povo: “3 — As deliberagdes do Consclho Geral dos Comissariados do Povo seidio postas em pritica pelo Conselho Consultivo, eleito entre os seus membros. W71 “4 — 0 Consetho Geral dos Comissariados do Povo ren nir-se-d trés vézes por ano. Os Comitts Administrativos de Co- missérios reunirse-io mensalmente, as vézes necessirias, cabendo- thes executar os trabalhos que thes forem confiados pelos Comités Administrativos de Comissarios”. A Reptblica constitui sempre uma forma de Estado, in- dependentemente do cariter que tenha. A experiéncia da di- tadura do proletariade fazia-ce to poderosa que levava os anarguistas, “inimigos irreconciligveis” do Estado, a admiti- lo, sem querer e, talvez, sem o sentir, sob a forma da Repii- blica Comunista. Ha um capitulo, no citado “programa”, intitulado “De- terminagées Gerais”. Dispée que “tGdas as comisstes das Varies coxporacdes da Republica Comunista terao duracdo pe- riddica determinada pelas respectivas corporacoes e se com- poro de niimero de membros aconselhados pelas necessida- des". Mus, exularece, “os seus mandates serao sempre im- perativos e munca de mando, nfo gozando os seus compo- aentes de condiches especiais, estando equiparados nos direi- tos e deveres aos demais membros da comunidade e poden- do ser substituidos em qualquer ocasido, desde que isso seja da vontade das corporacées que representarem”. As Federagses Corporativas, Congelhos Comunais e Co- missariados do Povo realizariam, periddicamente, convénios regionais para tratarem do desenvolvimento das questdes pro- fissionais, cientificas, artisticas e literésias. Os Comissacia- dos do Povo locais ¢ regionais ¢ o Consellio Geral dos Co- missariados poderiam realizar reuniées extraordinatias, con- vocadas peles Comissies Executivas, pelo Conselho Consul- tivo ou por dois tercos das corporacdes que os constittiriam. regime instituiria a Caderneta Comunista, asseguran- do ao seu possuidor. entre outras coisas, 0 direito alimenta- sao, & moradia, “com a necessaria higiene e conforto”, e “o consitmo nos cafés, que serio transformados de maneira a perderem a sua feicdo mercantil, tornando-se também centros de encontro e distragio Equacionava-se, assim, © problema da habitaci — Cada familia se scomodarh na hubitagie correspon dente ao nGimero de seus componenies, na proporcio de um dor 172 mitério para eda adulto. Aos profissionais quo necossitem tra- balhar em casa serd também assegurado um compartimento para fim. sr TF Os grandes préios sto dvididos de forma a poderem domportar mais de uma familia com a necessitia independéncia Nas casas de muitos cmodos, serao alojadas outras, mantendo-se ‘para isso as necessérias condigdes de independéncia. +3 — As pessoas solteiras poderio se alojar s6s, em casas para se fim divididas ou em grupos de afinidade: ! “4 — Os grandes edificios, hoje ocupados por repartigoes bu- rocrdticas ov indteis, servirio de habitagio para familias hoje mal alojadas ou para néles serem instalados museus, bibliotecas e ins- titutos esco! : “5 — Os palacetes e grandes vivendas, situados em bairros mais salubres, se destinario a habitages de ancidos, enfermos, in- vilidos ou convalescentes ou para abrigo da infineia. “6 — A fim de se euidar do problema da habitagio, os Conselhos Comunais estimularao a formacao de grupos de morado- res que poderdo assumir 0 encargo de organizar imediatamente a estatistica das casas desocupadss, des que merecem reformas e das que devam ser demotidas pelas suas condigbes anti higiénicas ou de inseguridade. “7 — Por indicagio dasses grupos de moradores os Conse- Ihes Comunais providenciaro junto as respectivas Federagées para fa imediata mudanga para casas vazias e prédics hoje ocupados poles estabelecimentes que se desalojarem, grandes vivendas © pa- lacetes, tGdas us familias mal instaladas ou que habitem em locais isentos de higicac © de conféric. As casas, nessas condigses, de- Verde set, ato coniinuo, destruidas como medida de higiene pi- blica e seguranca social. “8 — Por uma agio conjunta das Federagoes, dos Conselhos Comunais ¢ dos Comissariados do Povo se trataré raipidamente de melhorar © alojamento das populagSes rurais, reformando as suas ‘casas, demolindo as imprestiveis © construindo habitagoes conve- nientes : “9 — Sempre que uma habitacio exigir reformas, reclama- das pelos sas radeer por indie és Federio. de # tiene, os interessados fario a devida comunieacao A se¢ko local Ga Federacéo das Construgées que deverd providenciar imediata- mente”. I73 © “programa comunista” de 1919 considerava ainda: “Abelida a propricdade privada que determinou a odiosa desigualdade social; organizado 0 trabalho que deixar de ser como que um castigo para se tornar um elemento seguro de bem- estar © ‘felicidade: desenvolvencio-se 0 regime de verdadeira eqii dade — os atos anti-sociais tenderio a decrescer ripidamente, nao ‘mais se verificando 0s crimes que constituem o mais horrivel as- ecto da sociedade burguesa. “1 — Abolindo-se as prisdes © ponitencidrias que constituem eorruptores centros de castigo a fatos origindrios dos vicios sociais, quando se derem casos, considerando os seus autores como desorientados ow anormais, procurarsc-é corigielos, em circuns- téncias menos graves, como & admoestacdo entre os seus pares OW piblica “2 — Em casos de reincidéncias ou de prétieas de atos graves denunciantes de habitos s5 compativels cam organizagdes de doentes, vu tatadus, ésses desgrayados serdo entregues a cientistas que, como supremo recurso, poderio sujeiti-ios a tratamento em hospicios es. peciais ou coldnias regeneradoras para ésse fim criadzs, onde sero ttatados de acdrdo com os sentimentos de humanidade, restituin- do-cs a0 convivio social logo que a experiéncia demonstre que nic ‘mais constituiréo elementos de desassosségo". A Reptiblica Comunista desprezatia como “antinaturais ¢ arbitrarias” as divisdes de nacionalidades e “manteria es- trcitas relagdes com todos 0s povos ja constituidos em comu- nismo ou com as instituig6es populares dos paises ainda sob © dominio do capitalismo". Prevendo a hipatese de hostilida- de dos elementos do capitalismo do interior e de outros paises, consideraria combatentes todos os elementos validos de sua popiilacao e formaria os grupos comunistas de defesa, federa- dos entre si, em todas 2s localidades, distritos, bairros, quar- teirdes ou ruas. Os militares reintegrar-se-iam na coletivida- de, para exercer a sva atividade nos centros de producao, sob regime comum. Qs elementos de defesa militar, edificios ¢ apetrechos bé- Iicos ficariam a cargo des federagées dos grupos comunistas de defesa. Os arsenais passariam a produzir maguinas e ins- trumentes de trabalho, fabricando material bélico apenas na medida das necessidades, A Marinha de Guerra incorporar- I74 se-ia & Federagio Macitima, aproveitando-se os seus elemen- ween irabalbe de comunicagees de transporte. Mas a Re piblica manteria a sua poténcia bélica, para o caso de qual- Quer tentativa tendente a restabelecer o sistema capitalista e aproveitaria os profissionais, técnicos e praticos das ‘nsiat- Ges militares como insteutores dos grupos comunistas de de- fesa, continuando, porém, ligados & produgio. E, firmando o principio da utoridade, declarava: “Neuhuma Iuta armada ser empreendida sem que isso se de- cida pela deciséo suprema do Congresso Geral dos Comissariados do Povo” Em 1921, escrito pelo militante ancrquista Adelino sc Pinko, surgitia outro folheto, procurando, com @ exemple da revolugao Tussa, materializar o ideal libertério. Intitulaya-se: Quam nia traholha nao come, Escrevia Adelino de Pink ‘ como um tutto a “Quando, pois, a revolugao russa varreu um tu vatha (rania zarescaeabatendo um sistema secular © execrivel de Yespoteme religion, polilco € ccondmico que maniinha wma po- Suibggo de conto e trina mites de etaturas na mals abjeta © a8 an das seridéer que ¢ pose concsber © Ueereet, © aU © fbviroo des Soviets tesereten no art, 18 Ge sm Constgio vile preset sugestivo e-Tapidar: "quem nfo trabalha no SEN", Tproducivse como gu win relimpago na consiéacia human =" E proclamava: de liberdade © de magnanimidade social que precisamos do esfdreo 175 exortando-os a uma aproximagtio que se impse evidenciada pela Juz nova que brotou da celebrad2 f6rmula revolucionéria russe: quem no trabalha no come”. Pouco tempo restaria ao apoio dos an: istas a tie blind Bowler, Os que eautpreradema’s wieceisy oe: cessidade da ditadura do proleteriado, paca a conguista da sociedade sem classes e, finalmente, sem Estado ¢ sem frontel- as, fornaram-se, realmente, comunistas, aderindo aos prin cipios da III Internacional. Os outcos, afezrados gos precei- toz de Proudhon, Bakunin e Kropotkin, voltaram-se contra 0 govérno que emergiu da Revolucdo Russa de novembro. Estava morto 0 Pcs libertario © comesava 0 acaso do wovimento anarquista no Brasil. 176 Sob o Signo do Maximalismo O rrouxtaniavo brasileiro no esmoreceu, apesar de abortada a tentativa insurrecional de 18 de novembro de 1918. Preparava-se para novos combates. “O fracasso néo entibie- 1a 0 animo de ninguém”, ressalta Everardo Dias. “Passa~ dos os primeiros meses da repzess4o policial, voltando a seu funcionamento, embora precario, os sindicatos, 9 pensamento Gos elementos’ mais emancipadds culturalmente e revolucio- nariamente yoltou a persistic na preparagio mais ativa ¢ cul- dadosa ¢ numa amplitude nacional mais direta e efetiva de um movimento com carter bem determinado de sovietismo”.** ‘A guerra acabara com a vitéria dos aliados. Mas 0 ano de 1919 entrou sem que houvesse qualquer modificagéo nas condigses de vida dos trabalhadores brasileiros. O encoreci- Histéria dos Lutes Sooiais no Brasil, BAitOra, Edaght, Op. cit. i777

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