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OS VALORES DA CULTURA JAPONESA

DISCIPLINA

HIERARQUIA

TRADIÇÃO

COLETIVIDADE

HARMONIA E RESPEITO

GENTILEZA

OMOTENASHI

OMOYARI

GAMAN

MOTTAINAI

KANSHA
BUSHIDO – O CÓDIGO DE ÉTICA DOS SAMURAIS
O bushido é o código de conduta, baseado em princípios morais, que regia a vida dos
samurais, dentro e fora do campo de batalha. Manter-se dentro dele era algo de extrema
importância para esses guerreiros tanto que a única forma de limpar uma reputação
manchada era o haraquiri (suicídio).
São 7 princípios que regem essa filosofia de vida:

1. Justiça
2. Coragem
3. Compaixão e benevolência
4. Respeito e cortesia
5. Honestidade
6. Honra
7. Lealdade
Apesar de ser bastante antigo, o bushido foi adaptado e está muito presente na cultura
japonesa hoje. Esses princípios são a base do que os japoneses chamam de yamato
damashi, ou o espírito japonês. O jeito japonês de ser, de viver de forma coletiva, de ter
orgulho de ser japonês, de respeitar sua história e se superar a cada dificuldade.

OS VALORES DA CULTURA JAPONESA


DISCIPLINA

Quem já ouviu dizer que os japoneses são mais inteligentes que os outros? Isso tem muito
mais relação com atitudes que com a genética. A disciplina parece que nasce junto com
eles, mas é ensinada dentro de casa, nas escolas e pela própria sociedade. Faz parte do
jeito de ser dos japoneses.

Isso fica muito fácil de ver quando falamos em educação. Eles se dedicam aos estudos,
seguem uma rotina diária e fazem tudo sem aquele sentimento de obrigação, mas por
entenderem que é importante para eles mesmos. Esse valor foi trazido pelos imigrantes e
os nikkeis dão grande importância aos estudos. Eu mesma sempre tive muita cobrança
em casa para estudar e tirar boas notas. Podemos então, trocar o “os japoneses são mais
inteligentes” por “são mais disciplinados, devido à cultura em que vivem”.

Essa disciplina se aplica para qualquer área da vida, não só educação. Vida profissional,
esportes, relacionamentos, projetos pessoais e por ai vai.

HIERARQUIA

A hierarquia vai muito além de obedecer ao que o chefe diz. Tem total relação com o
respeito aos mais velhos, que é bastante perceptível na cultura japonesa. É possível ver
como isso é ensinado para as crianças nas escolas. Os senpais (veteranos) são
responsáveis por receber e ensinar os kohais (calouros) sobre as regras, condutas e
funcionamento da escola. No ano seguinte, quem era kohai passa a receber os novatos.
Os mais velhos vão ganhando a responsabilidade e o respeito dos mais novos. Isso vale
das crianças pequenas aos estudantes de universidades.

Isso vale fora da escola também. Os japoneses são ensinados a respeitar pessoas com
mais idade, com cargo mais alto, com mais representatividade. Esse é um valor que está
tão enraizado na cultura japonesa, que é aplicado inclusive no idioma. A forma de falar
com um amigo, com seu avô, com o chefe ou com o imperador varia bastante. E não
estamos falando apenas de um vocabulário mais ou menos polido, mas de uma gramática
toda que envolve, inclusive, formas diferentes de conjugar os verbos.

TRADIÇÃO

Como um país tão tecnológico ainda preserva tradições milenares? Há muita relação com
a hierarquia que falamos logo acima. Os japoneses respeitam, têm orgulho e mantém o
que foi criado por seus antepassados. Tudo no Japão tem significado e isso é preservado
de geração para geração.

Assim como qualquer outra cultura, a japonesa é viva e está em constante transformação.
Mesmo com tantas variações e adaptações que surgem, vemos algo que se mantém. O
ritual de uma cerimônia do chá, o cuidado com que é feito um ikebana, todos os detalhes
na hora de vestir um kimono entre outros. Preservar essa essência é respeitar sua história
e quem as escreveu.

COLETIVIDADE

Ao contrário da maioria dos países do Ocidente, mais individualistas, o Japão vive de


forma coletiva. Uma sociedade que tem pessoas que, desde crianças, aprendem a se
importar com os outros, a trabalhar de forma unida e a se complementar, merece respeito.

A escola japonesa é um grande exemplo para muitos dos valores que falamos aqui. Lá, as
crianças são encarregadas de limpar as salas de aula e áreas comuns e isso faz parte da
rotina diária deles. Cada um deles aprende a ser responsável e a zelar pelo local onde
estão estudando. Quando adultos, a vizinhança se reúne para limpar as ruas e parques. A
profissão de gari não existe, já que isso é feito pelos próprios moradores, que sabem que
precisam cuidar do local onde moram. Os japoneses limpando as arquibancadas da Copa
do Mundo ao final dos jogos faz mais sentido agora?

Um exemplo marcante que a Carla nos deu durante o evento foi no episódio do tsunami e
acidente nuclear que o Japão passou em 2011. Um estudo mostrou que casos de câncer
decorrentes das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki levaram cerca de 10 anos
para aparecer. Diante disso, um grupo de profissionais aposentados se voluntariou para
trabalhar em uma zona de alto risco de radiação para preservar a vida dos mais jovens.
Pessoas que dão a própria vida em prol da sociedade, se existe outro caso que
exemplifique melhor o que é viver no coletivo, eu não conheço.
HARMONIA E RESPEITO

Esse espírito do coletivo leva os japoneses a viverem em harmonia. Ao se preocupar com


o outro, passamos a entender até onde vão os limites de cada um. Isso forma uma
sociedade baseada no respeito ao próximo e que convive em harmonia.

Com isso em mente, alguns comportamentos que se desdobram passam a fazer muito
sentido. A pontualidade extrema dos japoneses significa que o tempo do outro é respeitado
e não vale menos que o meu tempo. O silêncio dentro dos vagões de trem e metrô
demonstra o respeito ao espaço do outro. A organização de uma sociedade em que tudo
funciona tem muito de política sim, mas muito se deve aos valores que cada pessoa que
faz parte carrega dentro de si.

GENTILEZA

Outro ponto que se destaca, e tem tudo a ver com coletividade, harmonia e respeito, é a
gentileza e cortesia da cultura japonesa. Quem vai para o Japão percebe isso já no
primeiro dia. É diferente. Isso não quer dizer que os brasileiros ou outros povos não sejam
gentis, mas lá é algo que impacta.

A arte do receber e tratar bem faz parte do DNA deles. A educação dos atendentes de
lojas e restaurantes chama atenção. Estar no último andar de uma loja de departamento ao
final do dia, quando ela está fechando, é praticamente um show de bem receber. Você vai
descendo as escadas rolantes e os funcionários fazem reverências para agradecer a sua
presença no local de trabalho deles. Não importa se você fez compras ou não.

Esse foi um dos pontos mais comentados pelos participantes do II Japão.br. A gentileza
com que foram recebidos e a forma como foram bem tratados. Parece óbvio que isso deva
acontecer em um evento, mas se destacou.

OMOTENASHI, A ARTE DA HOSPITALIDADE JAPONESA

Omotenashi é um conceito difícil de ser explicado. É um pouco dessa percepção de que


os japoneses são um povo super educado com um tanto a mais de significado. Pode ser
traduzido como hospitalidade, mas é algo mais profundo e que vai além de um bom
tratamento. É algo que vem de dentro das pessoas, que está enraizado na cultura e já faz
parte do jeito de ser dos japoneses. É o ato de servir bem que vem do coração. De querer
agradar e não esperar nada em troca. De fazer algo já antecipando as necessidades dos
outros.

O irasshaimase falado pelos funcionários cada vez que você entra em uma loja
é omotenashi. Os potes enormes de shampoo, sabonete e condicionador que ficam à
disposição nos hotéis também é omotenashi. Toda a gentileza que falamos aqui, idem.

Eu tenho uma história de quando estava no Japão e não conseguia sacar dinheiro dos
caixas eletrônicos. Pelo site do banco, consegui um endereço que deveria funcionar. Quem
já viu um endereço do Japão sabe que o sistema é totalmente diferente do nosso. Não faz
sentido pra mim e eu não sabia para onde ir. Perguntei a um casal que estava na saída do
metrô (provavelmente esperando alguém) e eles localizaram o lugar pelo mapa do celular
deles. Além disso, me levaram até lá (o caixa era dentro de um mercado, jamais ia achar)
e voltaram correndo para o metrô (lembra que eles não se atrasam?). Isso é
muito omotenashi.

OMOYARI, ESPÍRITO DE CONSIDERAÇÃO PELO PRÓXIMO

Essa é outra palavra cheia de significados difíceis de serem explicados. Tem tudo a ver
com a gentileza, o coletivo, a harmonia e o respeito que já falamos. É a preocupação com
os sentimentos das outras pessoas, o evitar julgamentos e aceitar diferenças. Cabe aqui
também o zelo pelos lugares públicos.

Um exemplo bastante claro foi o comportamento dos japoneses após o desastre causado
pelo tsunami, em 2011. Mesmo em uma situação tão crítica, eles mantiveram a ordem.
Filas organizadas para receber as doações de comida foram super respeitadas. O espírito
de “se eu pegar mais pra mim, vai faltar para alguém” prevalece, inclusive em casos
extremos.

GAMAN, A PERSEVERANÇA DE FORMA LEVE

Por mais que você nunca tenha escutado essa palavra, há grandes chances de já ter
associado o gaman aos japoneses. É a persistência de seguir em frente, de não desistir no
primeiro obstáculo, de encarar as dificuldades como aprendizados. É o não reclamar, se
reerguer, recomeçar e acreditar que vai melhorar. Há muito esforço e lições envolvidas.

O período pós-guerra do Japão tem muito gaman. Um país derrotado e destruído por 2
bombas atômicas que se reestruturou e se transformou em uma das maiores potências do
mundo. A recuperação do tsunami também tem muito gaman. Um exemplo mais prático?
Artes marciais. Perder faz parte e treinar com afinco é fundamental para se superar nas
próximas lutas. Isso é gaman também.

MOTTAINAI, SEM DESPERDÍCIO

O mottainai é o lado da cultura japonesa que diz não ao desperdício. Sabe aquela história
que países que passaram por guerras e dificuldades aprendem a aproveitar tudo? É por ai,
mas acho que vai ainda um pouco além. Não é apenas o desperdício pelo desperdício,
mas um sentimento negativo por estar desperdiçando algo. É um conceito mais profundo.
E isso não vale só para “coisas”, mas também para tempo, energia, dinheiro, sentimentos
etc.

Comprou comida, esqueceu e deixou vencer? Mottainai. Usou algo pela primeira vez e
quebrou? Mottainai. Passou horas fazendo algo que não deu certo? Mottainai. Uma
pessoa que tem potencial que não é aproveitado? Mottainai. Uma discussão que não leva
a lugar nenhum? Mottainai.

Enfim… são formas diferentes de usar o mottainai, mas todas com a mesma essência.
Um bom exemplo de aplicação é a culinária japonesa. A parte mais nobre do peixe vai
para o sashimi, outras partes vão para os sushis, a cabeça e osso viram caldo, a escama é
frita e pode ser comida também. Todas as partes são aproveitadas, não tem mottainai.
KANSHA, O SENTIMENTO DE GRATIDÃO

Kansha é o sentimento de gratidão que os japoneses têm por tudo. Pelas oportunidades,
pelas pessoas que fazem parte de suas vidas, por tudo que possuem, pelos lugares que
frequentam. Vai além do simples agradecer. Está mais para o “ser grato”. É um
sentimento profundo expresso nas ações do dia a dia.

Voltemos ao exemplo das crianças limparem a escola e os adultos, os parques e ruas.


Essa é uma forma de agradecer o local que está os recebendo para aprender ou para
morar. A reverência feita aos professores, além de demonstrar respeito, é o agradecimento
à pessoa que está se dedicando seu tempo e energia para ensinar pessoas e torná-las
melhores.

Outro exemplo se aplica à religião. No Brasil, é comum ouvir histórias de pessoas que vão
às igrejas para pedir ajuda ou pedir por um milagre. No Japão, as visitas aos templos e
santuários geralmente são para agradecer.

O QUE É SER NIKKEI?

Os nikkeis são os descendentes de japoneses que estão espalhados pelo mundo. Por
exemplo, temos em São Paulo uma grande comunidade de nikkeis brasileiros. Em Lima há
a comunidade dos nikkeis peruanos, e assim por diante.

Há quem diga que somos metade brasileiro e metade japonese, mas isso não é bem
verdade. Nascidos, crescidos e criados no Brasil, somos 100% brasileiros. Mas
carregamos um pouco desses valores trazidos pelos imigrantes – nossos pais, avós,
bisavós – que são passados de geração para geração.

Em uma visão mais atual, há o nikkei que não tem descendência, mas se identifica,
participa e tem grande interesse em fazer parte da comunidade. Então, se os seus valores
cruzam com os que falamos aqui, vem pro time!

By Carla Okubo publicado por Patricia do blog Bagagem de Memorias

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