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A presente pesquisa se propõe a analisar de que forma as professoras negras que atuam
no ensino superior constroem suas identidades étnico-raciais e profissionais a partir da
relação afirmativa que estabelecem com seus corpos, estes, têm seus sentidos e
significados ampliados na pesquisa, quando são vistos para além das suas funções
biológicas, portanto, considerados também em sua dimensão política. O corpo que nos
interessa é o “vivido” e construído por meio da cultura, que subverte o “lugar” imposto
a ele numa sociedade racista e machista, através da afirmação, deixando viva na
corporeidade, a herança de seu pertencimento. O corpo como espaço de resistência, é
desse território que desejamos iniciar nossa caminhada.
Para tanto, buscamos as pistas deste tenso e rico processo de construção identitária, via
corpo, nas memórias das histórias de vida das mulheres negras professoras da pesquisa
em suas vivências nos espaços da família, escola, rua, academia e no terreno da
afetividade. Cada um desses lugares é responsável pela formação da autoimagem destas
mulheres na direção de uma mudança política, estética, na construção do discurso e de
práticas antirracistas e antisexistas.
Nossas inquietações estão em conhecer as trajetórias de construção identitária das
mulheres negras professoras, “sujeitas” da vida e da pesquisa, mergulhando em seus
percursos formativos pessoais e profissionais, segundo Nóvoa (1995, p.17) é impossível
separar o eu profissional do eu pessoal; compreender o processo que levou as
professoras a “fazer as pazes” com seus corpos, Gomes (2017, p. 93) nos diz que o
corpo negro pode nos falar de processos emancipatórios e libertadores, assim como
reguladores e opressores; e identificar através dos depoimentos das professoras, como
suas presenças e corporeidades são percebidas pelos/as discentes e docentes das
instituições de ensino superior em que trabalham.
A voz ocupa lugar central na pesquisa, em lugar dos tradicionais registros escritos.
Continuamos conectadas ao território do eu, mais agora ele aparece numa estreita
relação com os/as outros/as sujeitos/as sociais e suas dinâmicas, a vida ganha sentido
porque a narramos. Por todas essas questões é que escolhemos as histórias de vida como
aposta biopolítica Pineau (2006), de reapropriação, pelos sujeitos sociais, da
legitimidade de seu poder de refletir e se dizer sobre a construção de sua vida.
A grande fonte de inspiração, o combustível que dá vida, força e sentido a pesquisa vem
das narrativas das mulheres negras professoras, por meio da sua voz, enunciado e fala.
Esse aspecto é investido de um importante componente simbólico quando falamos de
mulheres negras, pois historicamente nos foi negada a voz, o direito de nos dizer. E
quando somos ditas pela voz de terceiros, na maioria das vezes, nos apresentam num
tom de depreciação, desqualificação, nos impondo uma falsa idéia de inferioridade.
Quando narramos, nos aproximamos do mais íntimo de nós, é também uma prática de
resistência. Falar é antes de tudo exteriorizar experiências, afirmar a existência e acima
de tudo a humanidade.
Como detalhado nos critérios de Inclusão acima, o público escolhido para compor a
pesquisa foi o de Mulheres Negras professoras do Ensino Superior por seu histórico
como segmento excluído da sociedade, mais também pela sua história de luta e
resistência. Portanto homens e mulheres brancos/brancas e homens negros não fazem
parte do público escolhido para participação na presente pesquisa.
A realização desta pesquisa poderá trazer benefícios para a população negra, para a
academia e a sociedade de uma maneira ampla. A importância social deste trabalho está
em visibilizar a presença e a resistência da população negra, em especial, as mulheres
negras, no campo da educação, que ousam a cada dia, construir uma história diferente
dos nossos ancestrais, que sequer eram considerados cidadãos, e por conta disso,
tiveram seus corpos interditados do nosso sistema educativo.
O corpo como suporte da identidade negra, ganha destaque na pesquisa, é através dele
que comunicamos nosso estar no mundo, que construímos autoimagens positivas ou
negativas, segundo David Le Breton (2011) antes de qualquer coisa, a existência é
corporal. É socialmente construído porque se faz nos discursos, nas relações, encontros
e conflitos com os diferentes sujeitos e seus modos de representar sua cultura por via da
corporeidade.
Devido à coleta de informações, que se baseia na metodologia das histórias de vida,
poderá nesse trabalho de reflexão a partir da narrativa da formação de si, reencontrar-se
com lembranças de pessoas, lugares, situações que podem provocar alegrias, tristezas,
constrangimentos ou desconfortos.
OBJETIVO PRIMÁRIO
A presente pesquisa se propõe a analisar de que forma as professoras negras que atuam
no ensino superior constroem suas identidades étnico-raciais e profissionais a partir da
relação afirmativa que estabelecem com seus corpos.
DESFECHO PRIMÁRIO