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Minha professora é "Black": experiências formativas de docentes do ensino superior, o corpo

como suporte no processo de construção identitária.

A presente pesquisa intitulada Minha Professora é “Black” experiências formativas de


docentes do ensino superior – o corpo como suporte no processo de construção
identitária se propõe a analisar de que forma professoras negras do ensino superior
constroem suas identidades étnico-raciais e profissionais a partir da relação afirmativa
que estabelecem com seus corpos, estes, têm seus sentidos e significados ampliados na
pesquisa, quando são vistos para além das suas funções biológicas, portanto,
considerados também em sua dimensão política. O corpo que nos interessa é o “vivido”
e construído por meio da cultura, que subverte o “lugar” imposto a ele numa sociedade
racista e machista, através da afirmação, deixando viva na corporeidade, a herança de
seu pertencimento. O corpo como espaço de resistência, é desse território que desejamos
iniciar nossa caminhada. Aporta metodologicamente na pesquisa qualitativa, buscando
as pistas deste tenso e rico processo de construção identitária, via corpo, nas memórias
das histórias de vida das cinco mulheres negras professoras da pesquisa em suas
vivências nos espaços da família, escola, na rua, academia e no terreno da afetividade.
Cada um desses lugares é responsável pela formação da autoimagem destas mulheres na
direção de uma mudança política, estética, na construção do discurso e de práticas
antirracistas e antisexistas. A entrevista narrativa é a técnica que para além da geração
de dados, nos possibilita através das narrativas desvelar as experiências de vida
formação das mulheres negras professoras da pesquisa e seus processos de construção
identitária.

A presente pesquisa se propõe a analisar de que forma as professoras negras que atuam
no ensino superior constroem suas identidades étnico-raciais e profissionais a partir da
relação afirmativa que estabelecem com seus corpos, estes, têm seus sentidos e
significados ampliados na pesquisa, quando são vistos para além das suas funções
biológicas, portanto, considerados também em sua dimensão política. O corpo que nos
interessa é o “vivido” e construído por meio da cultura, que subverte o “lugar” imposto
a ele numa sociedade racista e machista, através da afirmação, deixando viva na
corporeidade, a herança de seu pertencimento. O corpo como espaço de resistência, é
desse território que desejamos iniciar nossa caminhada.

Para tanto, buscamos as pistas deste tenso e rico processo de construção identitária, via
corpo, nas memórias das histórias de vida das mulheres negras professoras da pesquisa
em suas vivências nos espaços da família, escola, rua, academia e no terreno da
afetividade. Cada um desses lugares é responsável pela formação da autoimagem destas
mulheres na direção de uma mudança política, estética, na construção do discurso e de
práticas antirracistas e antisexistas.
Nossas inquietações estão em conhecer as trajetórias de construção identitária das
mulheres negras professoras, “sujeitas” da vida e da pesquisa, mergulhando em seus
percursos formativos pessoais e profissionais, segundo Nóvoa (1995, p.17) é impossível
separar o eu profissional do eu pessoal; compreender o processo que levou as
professoras a “fazer as pazes” com seus corpos, Gomes (2017, p. 93) nos diz que o
corpo negro pode nos falar de processos emancipatórios e libertadores, assim como
reguladores e opressores; e identificar através dos depoimentos das professoras, como
suas presenças e corporeidades são percebidas pelos/as discentes e docentes das
instituições de ensino superior em que trabalham.

O título da pesquisa Minha Professora é “Black ” – experiências formativas de docentes


do ensino superior, o corpo como suporte no processo de construção identitária, é
carregado de uma pesada bagagem simbólica por trazer para o centro do debate e da
reflexão, os caminhares, vozes e corpos das mulheres negras professoras, questões que
são de suma importância para se pensar a mulher negra em nossa sociedade.

A presença de mulheres negras no espaço acadêmico, ainda que em números


quantitativamente minoritários com relação aos/as docentes brancos/as, nos fazem
pensar em nossas próprias trajetórias, enquanto negros/as, e na importância que a
educação sempre teve em nossas vidas, prova disso é que continuamos rompendo
barreiras para integrar também, essas esferas do ensino superior. A ocupação dessas
mulheres na academia como docentes, nos traz a possibilidade de construir uma
educação que valorize e respeite às diferenças e a condição humana, dando visibilidade
às diferentes expressões culturais e continuum civilizatórios, a outras narrativas,
currículos, conhecimentos, outras presenças, corpos e práticas educativas de
enfrentamento ao racismo.
Pensar o corpo da mulher negra dentro das instituições de ensino superior é subverter a
lógica que interdita até hoje, com mecanismos sutis, mas excludentes, a presença de
negros/as dos espaços de educação formal, do ensino básico ao superior, como discentes
ou docentes. Segundo hooks (1995), desde a escravidão até hoje o corpo da mulher
negra tem sido visto pelos ocidentais como o símbolo quintessencial de uma presença
feminina natural, orgânica, mais próxima da natureza animalística e primitiva.
A metodologia das histórias de vida foi a escolhida para costurar essa grande colcha de
memórias que são as experiências formativas das mulheres negras professoras da
pesquisa e da vida. A abordagem apresenta coerência com os objetivos propostos nesse
trabalho que objetivam conhecer, entender, identificar e compreender, através das falas
das professoras, como as mesmas atribuem sentidos aos percursos da sua formação
humana, na sua relação com seus corpos e a construção de suas identidades negras.

A voz ocupa lugar central na pesquisa, em lugar dos tradicionais registros escritos.
Continuamos conectadas ao território do eu, mais agora ele aparece numa estreita
relação com os/as outros/as sujeitos/as sociais e suas dinâmicas, a vida ganha sentido
porque a narramos. Por todas essas questões é que escolhemos as histórias de vida como
aposta biopolítica Pineau (2006), de reapropriação, pelos sujeitos sociais, da
legitimidade de seu poder de refletir e se dizer sobre a construção de sua vida.
A grande fonte de inspiração, o combustível que dá vida, força e sentido a pesquisa vem
das narrativas das mulheres negras professoras, por meio da sua voz, enunciado e fala.
Esse aspecto é investido de um importante componente simbólico quando falamos de
mulheres negras, pois historicamente nos foi negada a voz, o direito de nos dizer. E
quando somos ditas pela voz de terceiros, na maioria das vezes, nos apresentam num
tom de depreciação, desqualificação, nos impondo uma falsa idéia de inferioridade.
Quando narramos, nos aproximamos do mais íntimo de nós, é também uma prática de
resistência. Falar é antes de tudo exteriorizar experiências, afirmar a existência e acima
de tudo a humanidade.

O posicionamento em construir a pesquisa exclusivamente com professoras negras é


uma opção política, na medida em que estamos falando de um segmento social
profundamente oprimido historicamente em várias instâncias. Somos alijadas dos
processos educativos, desumanizadas nas esferas sociais, subrepresentadas nos espaços
políticos de atuação, a educação é um desses lugares, e economicamente desfavorecidas.
Por outro lado, o trabalho se propõe a fazer das suas narrativas, referenciais de vida e
luta pela dignidade e inserção de mulheres negras nos espaços sociais mais amplos e
especificamente, no campo da educação. Importante dizer que não desconsideramos a
existência de homens negros professores que também vivenciam o racismo nos espaços
de saber formal, mais o fato de ser mulher negra professora influenciou na escolha do
grupo que compõe a pesquisa.
A escolha das professoras da pesquisa obedeceu a alguns critérios, primeiro, são
mulheres negras, para isso fiz valer primeiramente o meu olhar para identificar nos seus
corpos a presença de pistas que dissessem sobre suas negritudes, através de suas roupas,
acessórios, de seus sinais diacríticos, cabelo, utilizado pela cultura na construção da
representação social e tomado pelo/a negro/a na construção de sua beleza, autoimagem,
identidade. São docentes do ensino superior de uma universidade pública da cidade do
Salvador. O terceiro critério foi o de autoidentificação das professoras e o quarto critério
era que a afirmação dos seus corpos estivesse presente também nos discursos e práticas
no que diz respeito a sua atuação profissional.

Do ponto de vista metodológico, fizemos uso das entrevistas narrativas, segundo


Jovchelovitch e Bauer (2008, p. 104) é adequada para pesquisas que combinam história
de vida com contextos sócio-históricos. Ainda seguindo esses referenciais, histórias
pessoais expressam contextos societais e históricos mais amplos, e as narrativas
produzidas pelos indivíduos são também constitutivas de fenômenos sócio-históricos
específicos, nos quais as biografias se enraízam.
Através das narrativas pretendemos nos aproximar das vivências das mulheres negras
professoras, pois toda história individual carrega em si reflexos da vida social mais
ampla. É possível ler a sociedade em que estamos inseridas, na vida narrada, contada
com palavras e sentida pelas mesmas. É ainda Jovchelovitch e Bauer (2008, p.110)
quem nos diz, a história possui sempre dois lados. Ela tanto representa o indivíduo (ou
uma coletividade), como se refere ao mundo além do indivíduo.
O diário de bordo torna-se imprescindível na pesquisa com histórias de vida, no sentido
de que ele trará observações relevantes registradas durante e após entrevista, não só no
que tange o dito, o falado, mais principalmente o que não se pode ser expresso por
palavras, os olhos marejados de lágrimas, o corpo que reage a memórias muitas vezes
deixadas adormecidas propositalmente, por causarem dor e sofrimento, o corpo que se
mostra vivo, combatente, amoroso. Por tudo isso considero o diário de bordo um
elemento importante para que possamos conhecer e ligar os fios dessa grande colcha de
retalhos que são as trajetórias de vidas das professoras da pesquisa.

Como detalhado nos critérios de Inclusão acima, o público escolhido para compor a
pesquisa foi o de Mulheres Negras professoras do Ensino Superior por seu histórico
como segmento excluído da sociedade, mais também pela sua história de luta e
resistência. Portanto homens e mulheres brancos/brancas e homens negros não fazem
parte do público escolhido para participação na presente pesquisa.

A realização desta pesquisa poderá trazer benefícios para a população negra, para a
academia e a sociedade de uma maneira ampla. A importância social deste trabalho está
em visibilizar a presença e a resistência da população negra, em especial, as mulheres
negras, no campo da educação, que ousam a cada dia, construir uma história diferente
dos nossos ancestrais, que sequer eram considerados cidadãos, e por conta disso,
tiveram seus corpos interditados do nosso sistema educativo.

A hipótese da pesquisa é comprovar que quando as mulheres negras professoras da


pesquisa constroem positivamente uma relação com seus corpos negros, isso se refletirá
na aceitação e afirmação da história do seu povo, da sua estética e no âmbito
profissional e político, na construção de práticas e discursos antirracistas.

O corpo como suporte da identidade negra, ganha destaque na pesquisa, é através dele
que comunicamos nosso estar no mundo, que construímos autoimagens positivas ou
negativas, segundo David Le Breton (2011) antes de qualquer coisa, a existência é
corporal. É socialmente construído porque se faz nos discursos, nas relações, encontros
e conflitos com os diferentes sujeitos e seus modos de representar sua cultura por via da
corporeidade.
Devido à coleta de informações, que se baseia na metodologia das histórias de vida,
poderá nesse trabalho de reflexão a partir da narrativa da formação de si, reencontrar-se
com lembranças de pessoas, lugares, situações que podem provocar alegrias, tristezas,
constrangimentos ou desconfortos.
OBJETIVO PRIMÁRIO

A presente pesquisa se propõe a analisar de que forma as professoras negras que atuam
no ensino superior constroem suas identidades étnico-raciais e profissionais a partir da
relação afirmativa que estabelecem com seus corpos.

DESFECHO PRIMÁRIO

As temáticas e principalmente as histórias de vidas verbalizadas, compartilhadas por


mulheres negras professoras, juntamente com a presença de seus corpos na academia ou
no mundo, são um ato de auto-revelação, que nunca está dissociado do perigo de expor-
se a rejeição ou ao mau entendimento. Ser inteira tem a ver também com poder dizer de
si e da realidade que nos cerca.
O grande trunfo dessa pesquisa é que ela vem investida das vozes e dos corpos
presenças de mulheres negras, que mesmo diante das negativas do racismo e machismo,
constroem caminhos de transgressão e insubordinação via educação, carregando consigo
também a identidade de professoras.

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