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22 Figurinos
2 32 Cronologia
A exuberância que faz do teatro brasileiro uma arte respeitada no mundo inteiro se
deve em grande parte ao talento de nossos cenógrafos e figurinistas. Entre estes últimos,
sobressai o trabalho de Kalma Murtinho. Há sessenta anos em atividade, ela pertence à
geração que profissionalizou e deu visibilidade ao ofício do figurinista.
O nome Kalma Murtinho está presente na ficha técnica de espetáculos que fizeram
a história de nossas artes cênicas. Este livro resgata essa trajetória de êxitos e a deixa
disponível para a posteridade. Mais de quatrocentos desenhos, croquis e fotos estão reunidos
aqui, contextualizados por críticas da época, depoimentos de colegas ou da própria Kalma.
Há ainda três textos de apresentação preciosos. Fernanda Montenegro fala da
experiência de vestir Kalma Murtinho no palco. Paula Santomauro revela detalhes saborosos
da vida da figurinista enquanto não está produzindo. E Barbara Heliodora põe sua obra em
perspectiva em um ensaio que deixa clara a relevância de Kalma para as artes.
O teatro brasileiro carece de publicações sobre cenografia e figurinos. As novas
gerações de dramaturgos, atores e técnicos das artes cênicas precisam conhecer o ponto
alto de onde partem suas jornadas. Kalma Murtinho, figurinos homenageia a nossa grande
figurinista e contribui para a memória das artes no Brasil.
Fernanda Montenegro
Paula Santomauro
“Sabe qual é o problema da lichia? É que quando a gente para de comer dá uma saudade!” Kalma, irmã,
tia, cunhada, prima. É esta que a gente vive na fazenda, num de vez em quando simples.
Lá vem Dona Kalma dando bom dia pelo corredor e distribuindo beijinhos. Calça cáqui, blusa branca,
chapéu na mão, madeixas loiras naquele modelo que sempre foi o seu e os irresistíveis olhos azuis. Elegante sem
o menor esforço, “parece artista de cinema” – admira-se a gente dali.
Antes de sentar à mesa, “onde está minha caneca?”, todo mundo já sabe que aquela é a caneca dela.
De posse da dita cuja, vai Kalma faceira para o curral beber leite ordenhado na hora.
Como é que educação francesa e leite direto da teta da vaca podem fazer parte da mesma pessoa? O
ritual é velho conhecido dos que dele fazem parte.
A vaca dá o leite, que o Chico tira e lhe entrega orgulhoso na caneca espumando. O cheiro de capim
recém-moído, o gado ruminando o desjejum e ela tomando aquela caneca morna. Dá um gole sonoro de um
tempo que não volta mais. “Hummmmm” vai fazendo Kalminha, agora de volta ao mundo saudando sua provedora:
“muito obrigada dona vaca, está delicioso!”
A gente não consegue sair de perto dela. A não ser quando ela sai de perto da gente. Entra no quarto
e lá se vão horas. A criançada bota a cabeça na fresta da porta querendo saber o que a Kalma tia-avó tanto faz
e não entende direito quando a vê sentada na poltrona perto da janela, sentindo a brisa da roça, livro no colo,
olhos fechados.
Os almoços na mesa comprida com ela sentada na ponta são memoráveis. Entre as idas e vindas de
assuntos vários, ora Kalma é palpite certeiro, ora malcriado. “Esses políticos são uns mulherengos e essas moças
umas desavergonhadas. E Deus fez tudo isso.”
Às vezes fecha os olhos em mastigação meditativa, outras, observa, escuta e aprende. Quando alguém
diz uma bobagem, geralmente ela própria, todo mundo ri e ela gargalha leve e longe com o corpo todo.
Comer goiabada, pessegada, mangada, geleia de jabuticaba e doce de leite ao lado de Kalma gulosa
tem muito mais graça. Entregando-se à mistura de fruta e açúcar – carinho de irmã com receita da mãe –, ela
mandona vai já perguntando: “quantas caixas tem para eu levar para o Rio?”
Ainda no tom de mesa e de mando vai Kalma dona da casa organizar o jantar na sua, na Gávea. “Arroz
com feijão todo dia, que horror! Detesto ser prática. Acho uma chatice absurda. Prefiro inventar. Que tal camarão
com chuchu? Ou pato laqueado, feito aquele que comi em Paris.”
Lá vem Kalma especialista marcando as páginas do livro de receitas a fim de resolver o tal problema da
mesmice culinária. Aliás, para quase todos os males há de se ter solução num livro.
De plantas medicinais a Millôr Fernandes, passando por Agatha Christie e Carlos Castañeda, nada nem
ninguém fica desamparado na biblioteca fantástica da Kalma teimosa. “Não ache nada, não menina. Achismo é
horrível. Eu é que sei. Pega aquele livro ali, o romance da Chica da Silva, que vou te contar uma história.”
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Numa de suas andanças Kalma conheceu a rosa-de-pau. Encomendou um monte delas para enfeitar os
pacotes da Chica e mandou uma muda para sua irmã plantar na fazenda. No ano seguinte deram mais de 500 da
tal semente em forma de flor. “O curioso é que só deu naquele ano, que foi o ano em que mamãe morreu. Depois
não deu mais. Foi ela que mandou.”
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Barbara Heliodora
Tudo começou cedo, em casa, mesmo, pois Kalma, desde menina, gostava de “dar palpites” no modo
de as mulheres da família se vestirem. Também no colégio São Paulo, que sediava, para maior conveniência
de suas alunas, uma tropa de bandeirantes, apareceram oportunidades. As jovens faziam trabalho voluntário
no Patronato da Gávea, onde sua principal função era brincar com as crianças, e um dia Maria Clara Machado,
sempre líder do grupo, teve a ideia de fazer teatro de marionetes, como uma nova forma de entretê-las; mais
adiante o grupo começou a fazer teatro no colégio, tendo seu momento de glória com a apresentação, no adro
da igreja de São Bento, do julgamento e morte de Joana d’Arc, espetáculo no qual Maria Clara interpretou a
própria heroína, e Kalma fez nada menos que o papel de Cochon, o bispo que a condenou. O espetáculo teve um
detalhe pelo menos pitoresco: como o dinheiro era quase nenhum, Kalma, responsável pelos figurinos, resolveu
o problema de forma imaginativa: ninguém podia ficar de costas para a plateia, porque todos os trajes, por
economia, só tinham frente...
Acabado o colégio, cada uma tomou seu caminho; mas em 1951, Maria Clara voltou de um ano na
Europa estudando teatro, e estava, junto com um pequeno grupo de amigos, fundando um grupo amador, que
veio a ser chamado Tablado, hoje com mais de sessenta anos de atividades contínuas. Lembrando que Kalma
tinha talento para coser e criar figurinos, Maria Clara lhe telefonou e a convidou para tomar parte no grupo
fundador; Kalma estava ocupada, já que estava próximo o nascimento de sua segunda filha, mas alguns meses
mais tarde, quando a vida voltou à rotina, aceitou o convite. O Tablado ainda estava em seus estágios iniciais de
organização e planos de repertório quando Kalma, linda e elegante, apareceu no Patronato da Gávea, a sede do
grupo até hoje, e foi imediatamente aproveitada não só para fazer os figurinos, mas para protagonizar a Escola
de viúvas, de Jean Cocteau, espetáculo dirigido por Martim Gonçalves, que também estivera estudando teatro
na Europa.
Foram muito importantes as presenças tanto de Maria Clara quanto de Martim Gonçalves, justamente
por terem ambos formação que os fazia pensar o teatro com textos de alta categoria, encenados com muito
gosto e cuidado. O nível do repertório do Tablado, assim como sua variedade, fez com que Kalma, desde o início
do que viria a ser sua extraordinária carreira de figurinista, pesquisasse com apaixonada precisão a época que
iria vestir: ao mundo grego da primeira peça seguiu-se o universo medieval de Todo mundo e ninguém, de Gil
Vicente; veio depois o renascentista de Sganarello, a seguir o clássico das imagens religiosas para a Via Sacra,
de Henri Ghéon, e para completar a diversidade foi montado o regionalismo espanhol de A sapateira prodigiosa,
de Garcia Lorca. Logo depois disso, já em 1953, Kalma criou, pela primeira vez, figurinos para uma peça de Maria
Clara. Nessa primeira montagem do hoje clássico natalino O boi e o burro a caminho de Belém, na qual a maioria
vestia túnicas simples, atemporais, grande reflexo da pureza dos ideais teatrais do Tablado, já ficava marcada a
inventividade teatral da figurinista; para completar as figuras dos anjinhos, que usavam túnicas brancas, Kalma
criou encantadoras e inesquecíveis perucas, com esses fios com franja de prata que todos usam para enfeitar
árvores de Natal.
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Adolfo Celi, Antônio Abujamra, Flávio Rangel, João Bethencourt, Fernando Torres, Ziembinski, Luís de Lima, José
Renato e Ivan de Albuquerque. A continuidade do prestígio de Kalma fica evidenciada pela lista que inclui nomes
como Celso Nunes, Wolf Maia, Jorge Takla, Aderbal Freire-Filho, Luís Antônio Martinez Correa, Domingos Oliveira,
José Possi Neto, Cecil Thiré, e ainda os mais recentes como Marília Pêra, Moacyr Goes, Cacá Mourthé, Miguel
Falabella, Bia Lessa e João Fonseca. Essa relação de diretores é significativa porque entre eles estão as mais
variadas concepções de linguagens cênicas, com Kalma apta a satisfazer as tendências e exigências de cada um,
integrando-se com perfeição em incrível variedade de espetáculos.
No entanto, toda essa longa e bem-sucedida carreira não pode ter acontecido nem por acaso e nem
por milagre, e a par de uma dose incontestável de talento, coisa que se tem ou não, há uma grande carga de
trabalho. É necessário, portanto, saber qual é o processo pelo qual passa a criação dos figurinos para uma
determinada peça. Quando indagada de quantas horas por dia ela trabalha quando está engajada em um desses
projetos, Kalma Murtinho riu-se muito e afirmou que não tinha a menor ideia, mas que, sem dúvida, seriam umas
28 horas de cada 24...
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Todos os
personagens de
Maria Clara Machado,
como os citados
no texto do poeta,
foram visualmente
concebidos,
realizados e
eternizados por
Kalma Murtinho
Kalma Murtinho, Pedro Augusto Guimarães, Maria Elvira (ao fundo), 1952 | Acervo Tablado, foto F. Pamplona
Em 1952, fui convidada pelo Martim Gonçalves, que era diretor, para trabalhar como atriz em A escola
de viúvas. [...] Já que eu fazia figurino para o Tablado desde que fundamos o grupo, continuei com a
função. Mas fiquei muito cansada porque o volume de trabalho era um absurdo. Quando penso nisso,
tenho até vontade de rir. [...] Eram só três figurinos, mas eu fiquei tão cansada... até fiquei rouca. Falei
que não queria mais fazer figurino e trabalhar como atriz ao mesmo tempo. Não dava certo. Mas, uns
dez, vinte anos depois, eu estava fazendo figurinos para cinco espetáculos ao mesmo tempo.
Trecho de entrevista publicada no livro Vestindo os nus: figurino em cena, de Rosane Muniz (Rio de Janeiro: Senac Rio, 2004, p. 89).
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Trecho de depoimento de Kalma Murtinho publicada no livro Os melhores anos de muitas vidas: 50 anos de
Tablado, de Martha Rosman (Rio de Janeiro: Agir, 2001, p. 56).
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Viúva
Guarda Cunhada
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Germano Filho, Gabriel Xavier, João Sergio Nunes, Carlos Augusto Nem, Emílio de Mattos, Paulo Vidal Padilha, Jenny Rebelo, Napoleão Moniz Freire,
Carmen Silvia Murgel, Ana Maria Neiva, Eddy Resende, 1953 | Acervo Tablado
Os Anjos O Pastor
Marlene Maciel, Lulu Souza Reis, Oswaldo Neiva, Edelvira Fernandes, Isabel Bicalho e
Vânia Velloso, 1954 | Acervo Tablado
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Emílio de Mattos, Napoleão Moniz Freire, Kalma Murtinho, Nelson Dantas e Claúdio Correa e Castro, 1955 | Acervo Tablado, Revista O Cruzeiro
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Trecho de artigo de Claude Vincent para o jornal Tribuna de Imprensa, 17 de maio de 1955.
Extraído do livro A mochila do mascate, de Gianni Ratto, 1ª ed. (São Paulo: Hucitec, 1996, p.
247-248).
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ao lado: Ana Lúcia Paula Soares e João Carlos Motta, 1974 | Acervo Tablado, foto
Pluft, O Fantasminha
Texto e direção: Maria Clara Machado
Cenários: Juarez Machado
Teatro Tablado (RJ), 1974
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Ana Lúcia Paula Soares e Maria Clara Mourthé, 1977 | Acervo Tablado
Maria Clara Mourthé, Ana Lúcia Paula Soares e Silvia Fucs, 1977
Acervo Tablado
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Pluft
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Marinheiros
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(em pé) Eddy Rezende, Isolda Loureiro de Souza, Kalma Murtinho, (sentados) Napoleão Moniz Freire e Emílio de Mattos, 1956
Acervo Tablado / Foto Carlos
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Conheci Kalma Murtinho quando, pouco tempo depois de estar no Brasil, fui assistir a O macaco da vizinha, de
Joaquim Manuel de Macedo, montado pelo grupo O Tablado em seu próprio teatro na Gávea, no Rio de Janeiro.
O espetáculo estava delicioso; uma comédia divertida e inteligente, ingênua como uma pequena briga numa vila
de subúrbio, servida por um cenário sóbrio e transparente e por figurinos altamente criativos [...] Obviamente, me
apaixonei por Kalma. Quem não estava apaixonado por essa mulher elegantérrima, bela como um quadro de Klimt,
com seu ar de dama austríaca, sensual e recatada ao mesmo tempo? Uma paixão que continua até hoje depois de
quase 40 anos, intensa e platônica, feita de admiração e encantamento; uma paixão ligada à nossa profissão teatral
e que nos uniu em muitos espetáculos, desde o primeiro para o qual a convidei, sem nunca me decepcionar. [...]
Seu trabalho de figurinista apurou-se com o decorrer dos anos, escorado num conhecimento técnico raramente
encontrado em outros profissionais do gênero.
Extraído do livro A mochila do mascate, de Gianni Ratto, 1ª ed. (São Paulo: Hucitec, 1996, p. 247).
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Isabel Tereza e Napoleão Muniz Freire, 1957 | Acervo Tablado, foto Richard Sasso Kalma Murtinho, 1957 | Acervo Tablado, foto Richard Sasso
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(sentadas) Kalma Murtinho, Maria Clara Machado, Maria Sampaio, Sônia Cavalcanti, Isabel Tereza, (na escada) Napoleão Moniz Freire,
Rubens Correa, (sentado) Germano Filho e (de costas) Ivan de Albuquerque, 1957 | Acervo Tablado, foto Richard Sasso
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Germano Filho e Sônia Gabbi, 1958 Marta Rosman e Germano Filho, 1958
Acervo Tablado, foto Carlos Acervo Tablado, foto Carlos
Yan Michalski, Vânia Velloso Borges, Nelson Mariani, Marcus Miranda, Aristeu Berger, Sérgio Belmonte, Sônia Gabbi, Carlos de Oliveira, Sônia Cavalcanti,
Germano Filho e Marta Rosman, 1958 | Acervo Tablado, foto Carlos
Fizemos O matrimônio, que foi lindo! Quando veio a Bienal de São Paulo, o Tablado foi convidado a participar.
Então, eu reproduzi os desenhos dos figurinos, em bandeiras de lona, e nós mandamos para a sala de teatro da
Bienal. A apresentação ficou muito boa; foi um sucesso! A Maria Bonomi ficou louca com os desenhos.
Entrevista com Kalma Murtinho especialmente para este livro.
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Eu tinha feito, para Mme Morineau, a Gigi, de Colette, e quando a Dulcina foi montar Tia
Mame, a madame Morineau disse para ela: “Só tem uma pessoa que pode fazer isso para
você, que é a Kalma Murtinho, porque não só ela entende dessas roupas, como domina toda
a parte de tecidos”. Eram cento e tantos figurinos; dezessete apenas para a Dulcina.
Trecho da entrevista concedida por Kalma Murtinho especialmente para a produção deste livro.
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Claire Isabella, Carlos Augusto Nem e Delson de Almeida, 1960 | Acervo Tablado
Luiz de Affonseca, Ivan Junqueira, Virgínia Valli e Yan Michalski, 1960 | Acervo Tablado
Fizemos uma reunião e ela (a cenógrafa Anna Letycia) me propôs estudarmos as cores
de Chagall. [...] O que aconteceu é que fiquei com a ideia fixa de ver tudo azul. Que coisa
esquisita. Eu ia pela rua e só olhava os azuis. É como se meu olho puxasse essa cor.
Fiquei comparando os azuis. Azul, azul, azul. Qual azul?
Trecho de entrevista publicada no livro Vestindo os nus: figurino em cena, de Rosane Muniz (Rio de Janeiro: Senac Rio, 2004, p. 94).
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Bernardo Jablonski, Cacá Mourthé, 1979 | Acervo Tablado Silvia Fucs, 1979 | Acervo Tablado
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Sura Berditchesky, Ricardo Kosovski, Pedro Aurélio Pianzo e Ovídio Abreu, 1979 | Acervo Tablado
Rosa
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Fui convidada para fazer Um elefante no caos no lugar da Norma Bengell. A Norma era uma grande vedete, com um
corpo espetacular. E eu cheguei com 18 anos, magrinha, jovem e tímida. O Millôr Fernandes, que era o autor, virou
pra mim e falou: “Eu escrevi esse papel para a Norma Bengell, pra uma mulher como a Norma.” Eu já estava indo
embora quando a Kalma me chamou, me levou pro camarim e disse: “Escuta aqui, você pode não ter corpo de vedete,
mas é fina e tem muito charme. Você vai ficar linda.” E eu fiquei! Pouco tempo depois, o próprio Millôr me telefonou,
dizendo: “Minha vedete predileta!”. A peça ficou em cartaz muito tempo e foi um sucesso de público.
Trecho da entrevista concedida pela atriz Camilla Amado para a produção deste livro.
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Os Ferraillon
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A coisa mais importante em qualquer figurino de época é o estudo da época como ela era, quais eram
os tecidos que usavam, que colorido usavam, como era o cabelo das mulheres, o cabelo dos homens,
maquiagem, sapatos, acessórios. Se não estudar a fundo isso, não faz o figurino. Porque você pode
mudar o feitio, mas não pode mudar o colorido, porque o colorido tem que dar uma ideia homogênea
da época. Por exemplo, o turquesa era chamado “verde bonito”, e era a coisa mais jeca do mundo,
ninguém podia pôr, as pessoas elegantes não punham. No art noveau o “verde bonito” não entrava.
Quando entrou o art déco mudou tudo. Entrou o “verde bonito”, entraram coloridos violentos. Por
exemplo, o pink também não usava no art noveau, mas usou muito no art déco.
O mais difícil na roupa de época são os acessórios, bengalas, luvas, como usar, onde deixar. Os
homens tiravam as luvas e jogavam numa mesa, dentro da cartola. Era um gesto, um gesto da época.
Cartola, chapéus gelô, polainas em cima dos sapatos ou botinas com polainas. Era muito acessório. E
é onde, às vezes, começa a falhar a roupa de época. Metade das pessoas acha que não precisa, tira os
acessórios e, assim, tira a característica. É uma pena.
Trecho da entrevista concedida por Kalma Murtinho especialmente para a produção deste livro.
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acima e ao lado:
Maria Clara Machado
Acervo Tablado
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Heloisa Ferreira Guimarães, Maria Tereza de (na frente) Anna Maria Magnus, Maria Clara Machado, Maria Miranda, Leila Ribeiro,
Campos e Liliane Ferrez | Acervo Tablado Isolda Cresta, (ao fundo) Martha Rosman, Rosita Tomaz Lopes | Acervo Tablado
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Paulo Nolasco, Antero Oliveira e Maria Miranda, 1961 Hélio Ary, Heloisa Guimarães, Celina Whately, Virgínia Valli, Paulo Nolasco e Ney Barrocas , 1961
Acervo Kalma Murtinho, foto Carlos Acervo Kalma Murtinho
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Ramon Pallut (substituído por Ricardo Neumann), Paschoal Villaboim, Ronald Fucs e
Lilá Sant'Anna, 1970 | Acervo Tablado
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Maroquinhas
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Mucama
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cama
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Trecho de crítica de Claude Vincent para O Jornal, Rio de Janeiro, 10 de agosto de 1965.
Trecho de crítica de Yan Michalski para O Jornal do Brasi, Rio de Janeiro, agosto de 1965.
Trecho de crítica de Fausto Wolf para o jornal Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro,
10 de agosto de 1965.
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A úlcera de ouro
Hélio Bloch
Direção: Leo Jusi
Cenários: Cláudio Moura
Teatro Santa Rosa (RJ), 1967
Diana
Ângela
Fui à [ loja ] Ducal pedir camisas para a peça. Quando cheguei lá, o homem foi me mostrando camisas que
combinavam com os ternos. Eu disse: “Não quero nada disso, quero tudo colorido”. Ele protestou: “Mas
Dona Kalma, não usa!” Respondi: “Eu vou usar”. Escolhi camisas em cores vibrantes. O homem foi ficando
encantado e me propôs trabalhar com ele. Eu achei uma graça danada.
Trecho da entrevista concedida por Kalma Murtinho especialmente para a produção deste livro.
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Kalma Murtinho fez milagres na criação de seus figurinos numa mistura feliz de cotidiano do fantasioso
colocando bem à vontade os personagens na sua fantasia-realista. Sobretudo ela soube com rara felicidade
proporcionar aos personagens uma variedade de roupas com seus apliques de mudanças rápidas, sempre
favorecido pela sua sensibilidade e inteligência. Optando por uma modernidade moderada, Kalma Murtinho
positivou, em cheio, seu intento.
Trecho de artigo de Van Jafa para o Correio da Manhã, 7 de maio de 1967.
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(sentados) Vera Gertel, Vanda Lacerda, Leila Ribeiro, Hélio Ary e elenco, 1968 | Acervo Veja
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Liubov
Os deslumbrantes figurinos de Kalma Murtinho estão entre os melhores figurinos de época que eu
já tenha visto no Brasil. A harmonia do seu colorido, a contribuição desse colorido para a criação
do clima geral do espetáculo, a perfeição do caimento, a adequação de cada peça do vestuário à
psicologia e à posição social do personagem que a usa, a pesquisa do detalhe, a imaginação na
escolha dos materiais usados no sentido de criar a ilusão de outros materiais, impossíveis de serem
empregados numa produção teatral – tudo isso contribui decisivamente para que o impacto visual do
espetáculo se torne comparável ao das produções de alto gabarito internacional.
Crítica de Yan Michalski para o Jornal do Brasil, 23 de outubro de 1968.
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Lopakhine Pichtchik Trofímov
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Epikhodov Charlotte Duniacha
Liubov
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Escolhi uma determinada roupa para a Fernanda Montenegro e, depois, fui andar pelo comércio.
Numa loja, encontrei uma fazenda belíssima. Era toda trabalhada com pedaços de tecido. Quando
vi, fiquei histérica. O Flávio Rangel dizia assim: “Kalma, você só vive quando pega o tecido na mão.
Aí você fica animada.” Liguei para a Fernanda e disse: “Achei uma fazenda tão linda para sua
roupa que vou abandonar tudo o que eu tinha dito antes que ia fazer.” Ela disse: “Faz o que você
quiser.” Então eu fiz esse vestido cor de limão. Ela ficou linda com a roupa.
Esse foi outro (página 142) que eu já tinha escolhido o tecido, e quando entrei na Casa Turuna, vi
uma franja preto e prata, de cinquenta centímetros. Era o que eu queria. Eu achava tudo o que eu
queria. Então eu fiz esse vestido todo preto e prata. E tinha strasse no sapato, diamantes... Era
uma cena de sexo.
Trecho da entrevista concedida por Kalma Murtinho especialmente para a produção deste livro.
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Breuer
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Renata Sorrah, Fernanda Montenegro e Rosita Tomaz Lopes, 1982 | Acervo Funarte
Fernanda Montenegro, Juliana Carneiro da Cunha e Renata Sorrah, 1982 | Acervo O Globo, foto Augusto Yunes
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Edith Piaf
Edith Piaf
no alto: acima:
Bibi Ferreira, 1984 | Acervo CCSP Léa Garcia e Bibi Ferreira, 1984 | Acervo CCSP
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Putas Os Mecs
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Trecho de entrevista publicada no livro Vestindo os nus: figurino em cena, de Rosane Muniz (Rio de Janeiro: Senac Rio, 2004, p. 97).
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Antonio Fagundes, Luca Baldovino, Sérgio Chica, Domingos Fuschini (agachado), Lé Zuawski, Nivaldo Todaro, Monalisa Lins (Sentada), Yur Fogaça,
Luiz Carlos Ribeiro, Walter Breda, Sérgio de Oliveira | Acervo CCSP
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Essa foi uma ideia muito boa que eu tive. Essa roupa era
uma anágua, e a personagem fica grávida. Então, eu mandei
ela virar a anágua e se transformou numa barriga. Assim, as
costas da anágua viraram uma barriga de grávida. (ao lado)
Trecho da entrevista concedida por Kalma Murtinho especialmente para a produção deste livro.
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Cardeal Inquisidor
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Os Esfarrapados Os Mascarados
Um Jogral Os Mascarados
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Nildo Parente, Roberto de Cleto, Valderez de Barros e (sentada) Samantha Monteiro, 1996 | Acervo Kalma Murtinho
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Comissão de Frente (detalhe), 1978 | Acervo Kalma Murtinho, foto Reginaldo Arcuri
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Quando a Mangueira completava 50 anos, fui convidada para criar o figurino da escola. Quatro mil e
quinhentos figurantes, divididos em alas. [...] Eu estava lá nos estúdios da TV Globo, na Tijuca, fazendo
figurinos para uma novela. Toda noite, eu saía às oito e ia para a Mangueira. Chegava lá, aquela
loucura de escola de samba. Eu assistia ao ensaio, conversava, falava, fazia os desenhos, aquilo tudo.
E aí, um dia, fiquei preocupada, não consegui evitar e falei para um dos diretores: “Mas como é que
vocês me deixam sair sozinha às 3 da manhã da Mangueira e pegar um táxi no viaduto? Vocês não me
acompanham? Ninguém me ajuda?” Ele deu um sorrisinho e me falou: “Dona Kalma, o morro inteiro
sabe que a senhora é figurinista da Escola”. A senhora tá mais protegida que qualquer um.
Trecho da entrevista concedida por Kalma Murtinho especialmente para a produção deste livro.
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Ruiz
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Freiras
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O quarteto
Antônio Bivar
Direção de Ziembinski
1975 Teatro Márcia De Windsor – SP
L’ Architruc Figurinos
Pinget
Direção de Bernard Schnerb 1977 Amadeus
Teatro Maison de France – RJ A princesa do mar sem fim Peter Shaffer
Cenário e Figurinos Autoria e Direção de Benjamim Santos Direção de Flávio Rangel
Teatro da Lagoa – RJ Teatro Adolfo Bloch – RJ
A cantada infalível Cenário e Figurinos Figurinos
Georges Feydeau e M. Hennequin Quem casa quer casa e outras coisas
Direção de João Bethencourt Pluft, o fantasminha (4ª versão) mais Pó de guaraná
Teatro Maison de France - RJ Autoria e Direção de Maria Clara Machado Martins Pena Bill Russel e Ronald Melrose
Figurinos Tablado - RJ Direção de Wolf Maya Direção de Wolf Maya
Figurinos Teatro Gláucio Gill – RJ Pagagaio Café Cabaret – RJ
Bric-a-brac Figurinos Figurinos
Jean Tardieu 1978
Direção de Etinne Le Meur A bruxinha que era boa O diamante Grão-Mongol A eterna luta entre o homem e a
Teatro Maison de France - RJ Maria Clara Machado Maria Clara Machado mulher
Cenário e Figurinos Direção de Jorge Botelho Direção de Wolf Maya Millôr Fernandes
Teatro da Lagoa – RJ Lupe Gigliotti Produções – RJ Direção de Gianni Ratto
Bonifácio Bilhões Cenário e Figurinos Figurinos Teatro Clara Nunes – RJ
Autoria e Direção de João Bethencourt Figurinos
Cia de João Bethencourt – RJ 1979 Longa jornada noite adentro
Cenário e Figurinos O cavalinho azul (3ª versão) Eugene O’Neill O rapto das cebolinhas
Autoria e Direção de Maria Clara Machado Direção de Roberto Vignati Autoria e Direção de Maria Clara Machado
Mumu, a vaca metafísica Tablado - RJ Teatro Copacabana - RJ Tablado - RJ
Marcílio Moraes Figurinos Figurinos Cenário e figurinos
Direção de Flávio Rangel
Teatro Nacional de Comédia (TNC) – RJ Maria gente fina 1981 Quero
Figurinos Autores Lupi Gigliotti e Cininha de Paula Ensina-me a viver Manuel Puig
Direção Wolf Maya Colin Higgins Direção de Ivan de Albuquerque
A mulher de todos nós Teatro Vanucci – RJ Direção de Domingos Oliveira Teatro Ipanema – RJ
Henri Becque Cenário e Figurinos Teatro Villa Lobos – RJ Figurinos
Direção de Fernando Torres Figurinos
Cia Fernando Torres Diversões – RJ O rei de ramos Hedda Gabler
Cenário e Figurinos Dias Gomes Os cigarras e os formigas Henrik Ibsen
Direção de Flávio Rangel Autoria e Direção de Maria Clara Machado Direção de Gilles Gwizdek
O tempo e os Conways Teatro João Caetano – RJ Tablado - RJ Tradução de Millôr Fernandes
J. B. Priestley Figurinos Figurinos Teatro Gláucio Gill - RJ (1983) e Teatro
Direção de Aderbal Freire Filho Guaírinha – PR (1982)
Teatro de Bolso – RJ 1980 1982 Figurinos
Cenário e Figurinos Platonov O jardim das cerejeiras
Anton Tchekhov Anton Tchekhov Leonce e Lena
1976 Direção de Maria Clara Machado Direção de Jorge Takla Georg Buchner
A cinderela do petróleo Tablado - RJ Tradução Millôr Fernandes Direção de Luís Antônio Martinez Correa
Autoria e Direção de João Bethencourt Figurinos Teatro Anchieta - SP Tablado – RJ
Teatro Ginástico – RJ Figurinos Figurinos
Cenário e Figurinos
As lágrimas amargas de Petra Von Testemunha de acusação
O rendez-vous Kant Agatha Christie
Robert Thomas R. M. Fassbinder Direção de Domingos Oliveira e Luiz Carlos
Direção de Antônio Pedro Borges Direção de Celso Nunes Maciel
Cia Eva Todor – RJ Teatro dos Quatro – RJ Teatro BNH – RJ
Figurinos Figurinos Figurinos
237
239
BALLET
1987
1964
Show Beth Carvalho
A Yara
Direção de Túlio Feliciano
Coreografia Harald Lander
Rival – RJ
Direção de Harald Lander
Figurinos
Theatro Municipal – RJ
Figurinos
1998
PRÊMIOS
1955
Les présages 1977
O baile dos ladrões
Coreografia Leonid Massine Espelho mágico
Prêmio Revelação da Associação de
Direção Tatiana Leskova Novela de Lauro César Muniz
Críticos Teatrais do Rio de Janeiro
2010 Theatro Municipal – RJ TV Globo
Suite brasileira Figurinos Direção de Gonzaga Blota e Daniel Filho
1956
Concepção e Direção de Hélio Eichbauer Figurinos
Diploma de Medalha de Ouro de Melhor
Teatro Tom Jobim - RJ
Figurinista - pela Associação Brasileira de
Figurinos ÓPERA O astro
Críticos Teatrais
1983 Novela de Janete Clair
Biquíni vermelho Yerma TV Globo
1957
Artur Xexéo Villa Lobos Direção de Gonzaga Blota, Daniel Filho e
Nossa vida com papai
Direção de Marília Pêra Direção de Adolpho Celli Marco Aurélio Bagno
Prêmio Saci de Teatro - Estado de São
Teatro Ginástico – RJ Theatro Municipal – RJ Figurinos
Paulo
Figurinos Figurinos
CINEMA
Diploma de Revelação de Figurino -
A carpa 2010 1974
Associação Paulista de Críticos Teatrais
Denise Crispum e Melaine Dimantas O trovador Um homem célebre
Direção de Ary Coslov Giuseppe Verdi Direção de Miguel Faria Jr.
1958
Teatro Leblon – RJ Direção Bia Lessa Figurinos
Nossa vida com papai
Figurinos Theatro Municipal – RJ
Prêmio Governador do Estado de São Paulo,
Figurinos 1991/1993
Melhor Figurinista Profissional, Teatro
Conversando com mamãe Moças de fino trato
Brasileiro de Comédia. (São Paulo, 9 de
Santiago Carlos Oves Direção de Paulo Thiago
julho de 1958)
Direção de Susana Garcia e Herson Capri TELEVISÃO Figurinos
Teatro do Leblon – RJ 1973
1959
Figurinos Chico city 1999/2001
O anjo de pedra e Tia Mame
Programa Semanal da TV Globo Amélia
Melhor Figurinista/Prêmio Padre Ventura
2011 Direção de Augusto César Vanucci Roteiro e Direção de Ana Carolina
dos Críticos Teatrais Independentes do Rio
O pacto das três meninas Figurinos Figurinos
de Janeiro
Lulu Silva Telles e Rosane Svartman
Direção de Ernesto Piccolo
Teatro Clara Nunes – RJ
Figurinos
1982
Conjunto de trabalhos
Prêmio Molière
Melhor Figurinista 20 de outubro de 2013
Durante a finalização deste livro, Kalma
Hedda Gabler Murtinho faleceu, deixando, além de
Prêmio Mambembe saudade e do exemplo de uma vida alegre
Melhor Figurino – RJ e criativa, uma enorme contribuição para
a excelência da arte do figurino, no teatro
Prêmio Fernando Chinaglia -- Diploma de brasileiro, e para a formação de novos
Personalidade Cultural pela União Brasileira profissionais que, com ela, deram os
de Escritores primeiros passos em suas carreiras.
1984 2001
Com a pulga atrás da orelha Placa em homenagem à figurinista pelo
Prêmio Mambembe SP e RJ Centro de Moda, Beleza e Design do Senac
– RJ
Emily (The belle of amherst)
Prêmio Ibeu 2005
Prêmio APCA / categoria Figurino Orlando
Prêmio Shell de Teatro
Foi bom, meu bem? Melhor Figurino
Prêmio Mambembe
241
créditos
Dilma Rousseff
Ministra da Cultura
Marta Suplicy
Presidente
Guti Fraga
Diretor Executivo
Reinaldo da Silva Verissimo
Gerente de Edições
Oswaldo Carvalho
243