Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
3
A DESIDEOLOGIZAÇÃO COMO CONTRIBUIÇÃO DA
PSICOLOGIA SOCIAL PARA O DESENVOLVIMENTO
DA DEMOCRACIA NA AMÉRICA LATINA1ª
Introdução
A realidade latino-americana
A partir deste critério inicial, podemos analisar, ainda que su-
mariamente, a realidade dos países latino-americanos. Focarei a
região da América Central que, além de ser mais familiar, me pa-
56
• ~
()t,vinnw 11ll', t 1 11 li1 cn 1·1u ·l•·1·i:1.m_·n o n,1<1 nborJ n muito1-1 fato res
q,,,, d ift'rt ·1wln n1 OH d nro pnÍ Ht•H. /\lunlmc· nlt•, o,; princpa is dife-
n•ih fol H ('11 v,,l vt' l'll, dt• 11m lodo, n clif,•n•nçn t·nÍre a dominaç ão
111 lliÍnr qu n~l' 1..·omr,1t 1 ln l ' lll nlgun1-1 pní~wH (f ~I Sn lvndor, Guatemala
. _. 1hmdurn:-4) ,, n ngonl·1,n nl<- parl nmPnl nriHrno e" ace lerada milita-
1
l·'.~ tnd1._,s Un id(ls l' n Nicnn\g uu que, pnrn Hn lva r sua revolu ção po-
pulnt' l' ~un inde pl't'l ctf•nci n, lnrnb<'•m teve que HC militarizar.
Diante dcHsn sHuuçüo t'con ô mi co, polfti cJ e social, a rea lização
dL' ..L'lciÇÕl:S J urn 11"1l' CD ni smo formal que, rw maior parte das vezes,
não po~su i rna ior i rn po rl5 ncia ou trn nsccndê ncia, especia Jmente
qunndo siio OH rnilit~rrcs e o governo norle-a mcri ca no quem, em
ú Ili rn n instôncio, estabelece m o vercd ito sob re a "va 1idad e demo-
cráti ca" dos proccsHos eleitora is.
Ohstnc11/os à democracia
Sen1 dúvidn, as condições objetivas apresent ~~as são os prin-
cipa is obslãculos para1í vigência
- --- (, -
de reghnes dernocráticos nos
- ·---
países da América Central. E uma ingenuid ade pensar que uma
-- - -
oJigarquia pode rosa abdkará da possibili dade de impor seus in-
teresses ao resto da popu'laç ão enquant o perdurar em estrutura s
econô111icas que colocam nas 1nãos de poucos um_im.e nso poder.
Por exempJo, a recusa absOluta do grande capital salv~<!_orenho em
ceder a penas u.m único de-seus privil.égios ou em realizar ~ a mi-
nú scula concessã o às d emanda s pop_ulare s- recusa que precipitou
o pais em um a guerra civil qu e já dura mais de 5 anos - é um claro
jndicado r de que não pode existir de1nocracia enquant o ex istem
condiçôcs que gcrn111 ta manhas diferenciações de poder social.
O outro grande· obi-;Ln culo objetivo para o estabele cimento da
democra cia nos pníses ccnlro-a m c ricanoH 0 o controle hcgemôni-
co dos Estados Unidos sob re a .1rca. (.: pa radox a l que um país que
ost-cnta se u sistema ct"emoc-r6 ti co e que, talvez, tenha articulad o
57
~
r ,~
exército já teria sido derrot ado pela aliança insurg ente de forças
democ rático- revolu cionár ias.
J i, 1,1 1,, 1 j 't' l'-f't'di \ ,l p-,iu b"> l>Cid l, L) h.\rrL•nu pn\dvg il1d1.\ d,.1
'' ' 11 1• ,. . ' d1,r11 1r1,111 tl' t~n 1 l t>Li d \,1d,>n\ '>u-..1,11 '-' u du "-.,~•n..,u 1.uniun\ '
' ' i , 1,1,1 1, 11111 H L • t .. ,i d1t\h. \·ltllf""h p 7tl) '\ultur ~i u11nu ,u · e..)
d l ' I' (\. . . . \11 )l) ") h h q li\' t \) 1 1 l , t li\ ~ h. ,,., ., 1\ l ' 1 '
1
' I ' ' ' ' ' 111 ! 111 ) l . 1 ) • ' ) J lj lJ 1 1(\ )
11
' 1·. , t ,., 1111 a i (1 •1.1, ,il• 111>1H1 ,,I \•n\l, · .1-, Jh•..,-,, ,.1 . , u-, l'l1.·rn ... •
1 11 • ,l ill d ,'1 1 1 j)jJI \I d b\ Hl l ' 11,11 l "i"lU lll l ''lfl\ \• tl ~lll lil illl
'\
.~, .
1
'' ' 1 , d 1)1 uJ H l•J 1\ u11 ) ,'l ·d, 1,·11 .nl, • 1 ' ,,h ttllll\d d ~1 llllllU " ti,.H U ·
!.\ , " IL,,tJ '1.l1t '){ dl :-.,l t 111.Jlh ll lt ,1\ l lll,t d.t "i \ h.'l','•iltt h. h • -, l ll'>hl Jll Ll 'J.
59
,,
uando as exigências objetivas de um sistema social são art·
JQ • • icula.
das coino exigências subJetivas do senso comum que se tradu
,. t· d d
em hábitos rotinas e papeis estereo ipa os, po e-se afirma
zern
~
( um sistema' conseguiu
. ,
estabelecer raizes (REICH, 1933/196S).
r que
61
_ h 'stóri
ca das estru turas que oprír nerrl o povo como
bertaçao 1 / . _ . un-.ã
. , . m· trinse ca d.a fe cnsta . Com ISSO, a e la borac ão ideoi ~
ex1ge noa · . . · •- ~e.a
dos intere sses d om in.an tes foi m'1c ando seu uruv erso simb óüc()_ A
nova ideol ogia é uma esp éáe de catec ismo das "democracias
regim e de segu rança na ciona 1" que torna como prêss upoi to implí -
em
cito que tudo o que é prov enien te d os Estad os Cnid os ~-uma nor-
ma adeq uada e que o que é bom para a "seg uran ça nacio nal" dos
Estad os Unid os é bom. para noss os paíse s. O pape l do crucifixo foi
assum ido pelo dóla r; já não são as enód iras papa is, mas os dís--
cu rsos d e Re agan o que defin e o bem e o maJ; ao invés de santos,
apare cem Koja k e Mich ael Jacks on; ao invés de nove nas e missas,
são celeb radas eleições. Tudo ísso dem anda ou é comp atíve l com a
conv ersão dos exércitos em corp os po1iciaís e em verd adeir as má-
quin as repressiva s que agem contr a seus próp rios povos/ os quais
são mantidos al ienad os ou ate rrori zados, sem possí bi~:tar que o
m,al-estar socia J p romo va mud ança s para além daqu elas que são
assimiláveis pelo siste ma.
Dian te dessa s form as ideol ógica s que justif icam a situação
,, de opressão fazei ldo refer êncía a Deus ou à s.eg i rança nacional,
cabe à Psico logia Social a tarefa de desi d~!o g.i2ar. Desideo!ogizar
':r sjgnifica desm ascar ar o senso comu m alien ador que acoberta os
obstá culos objetivos ao dese nvolv imen to da demo craci a 01..1 que
. os conv erte em algo aceit ável para as pessoas. :\:o entan to,~que
é nece ssári o_fazer para desen volv er esta iaref a desid eolog izadora
em nossas socie dade s? T~ s po~t os p arece m essen ciais :
a) assum ir a persp ectiva do p ovo;
b) apro fu n dar o conh ecim ento de sua reali dade ;
63
do unive rso simb ólico das própr ias pesso as, do senso comum d
sua vida cotid iana, mas que, quan do dja]e ticam ente devolvict e
.d d d d as
pelo diálo go a' mesm a comu m a e, po em esrna scara r a reaüda-
de que expre ssam e abrir as porta s para sua trans formação.
Com o opera ciona lizar estas três tarefa s é algo que depen de
da situa ção concr eta de cada país. Possi velm ente, uma das me-
lhore s mane iras como isto pode ser realiz ado é por meio de urn
sistem átic? _estud o da op inião pública, que não é o mesmo que a
opin ião que se toma públi ca ou que aquil o que é p ublicado nos
meio s de comu nicaç ão (cf. MAR TÍN- BAR Ó, 1985). De qualquer
mane ira, indep ende nte da form a concr eta adota da, o ponto cen-
tral é a vincu lação que, como psicó logos sociais, estabeleceremos
r com o povo . Se o que quere mos é contr ibuir verda deira ment
e ao
desen volvi ment o da demo craci a, isto é, ajuda r para que o povo
gove rne a si mesm o, a prim eira coisa que deve mos fazer é assun1ir
os seus intere sses como própr ios. Some nte então nosso s olhos po-
derão desco brir não apen a os véus que obscu recem a consciência
popu lar e impe dem que eles assum am as rédea s de seu próprio
desti no, mas tamb ém os véus que cobre m nosso próp rio conheci-
ment o e não nos perm item contr ibuir signi ficati vame nte às lutas
[ popu lares por justiç a, paz e demo craci a.
Referências
64
-
HER NÁN DEZ -PIC O, J. & JEREZ, C. (1972). El Salva
dor: afio polí tico
19 71-1972. São Salv ador : UCA .
LATANÉ, B. & DARLEY, J.M. (1970). The unresponsive
bystander: Why
does n't he help ? Nov a York: App leto n-Ce ntur y-Cr ofts
.
MARTÍN-BARÓ, I. (1985). La encuesta de opinión públi
ca como instru-
mento desideologizador. São Salv ador : Mim eo.
(1983). Acción e ideología - Psic olog ía soci al desd e Cen
--
rica. São Salv ador : UCA .
troa me-
65
I