Trabalho do Ir:. José Prudêncio Pinto de Sá, Mestre Maçom (Instalado)- REAA
As oficinas chefes de rito, que deveriam ser a fonte do saber simbólico
que as obediências se encarregariam de gerir, raramente têm influência
direta na elaboração dos textos ritualísticos e, quando o fazem, é de modo
incompleto e, normalmente, com pouca aceitação. Elas preferem deixar ao
sabor das obediências simbólicas este problema, sob a alegação de que,
sugerindo a ritualística dos três primeiros graus, elas se estariam imiscuindo
em seara alheia à sua. Na verdade, isso é pura omissão de obrigações, pois as
altas oficinas têm o dever de orientar todo o rito, de alto a baixo da pirâmide
filosófica cuja base é o simbolismo.
Ora, a observância de um ritual não deveria passar pelo seguimento cego
das letras usadas nas frases que o compõem, e sim, pelo cumprimento dos
diferentes momentos da seqüência ritualística preconizada pelas obediências,
sempre respeitando a história, a tradição e os mistérios da Maçonaria. Os
textos litúrgicos, assim, serviriam de linhas mestras a serem obedecidas, sob a
supervisão constante do Guarda da Lei, que teria, aí sim, em sua mesa, um
ritual à sua disposição, para que possa intervir quando da ocorrência de algum
erro ritualístico crasso, solicitando a sua correção. O Rito de York, por
exemplo, não permite a leitura de rituais, durante as suas sessões, o que está
absolutamente certo.
Portanto, sendo o ritual uma linha mestra não calcificada em palavras
obrigatórias, não existiria a necessidade de revisá-lo e reimprimi-lo tão
seguidamente, bastando que os candidatos a Venerável Mestre, Vigilantes,
Orador e outros cargos-chaves fossem submetidos, obrigatoriamente, a
sessões de instrução e exame de suficiência, que os habilitariam ao exercício
efetivo do cargo. Lembremo-nos de que, na maioria das obediências, o
interstício mínimo para que um Mestre possa ser Vigilante é de três anos e,
para Venerável mestre, cinco anos. Esses períodos são mais do que suficientes
para o aprendizado das seqüências ritualísticas obrigatórias para a condução
dos trabalhos da loja. É claro que algumas sessões vão apresentar um maior
grau de dificuldade, por serem raras, como é o caso da confirmação de
casamento, adoção de lowtons, mesa de banquete ou pompas fúnebres. Neste
caso, admite-se que sejam feitas leituras dos trechos mais longos ou
complexos, assim mesmo, parcimoniosamente.
O fato é que a liturgia não se beneficia da leitura dos rituais e não é
melhor executado por conta dela. Ao contrário, por não conhecerem os rituais
de cor, é muito freqüente que os erros de leitura comprometam a beleza e a
emoção das sessões, particularmente as magnas, diminuindo a influência
positiva que deveriam ter sobre as mentes e os espíritos dos obreiros
presentes. Ler mal é pior do que improvisar e compromete muito mais do que
dizer uma frase ritualística de cor, ainda que com palavras diferentes das
escritas.
Ao defendermos a eliminação das leituras desnecessárias, em loja,
temos a intenção de tornar o trabalho ritualístico mais fluído, mais natural e
sem complicação, permitindo que o Venerável Mestre conduza a sessão com
simplicidade, sem receios nem afobações, dialogando com os seus oficiais de
forma natural e sem os deslizes de leituras mal feitas. O Guarda da Lei, neste
caso, reassume a sua função essencial que é o de assegurar a observância da
ritualística obrigatória, corrigindo, prontamente, eventuais desvios e
assegurando a pureza litúrgica. É certo que, com o passar do tempo, os erros
diminuiriam e os trabalhos correntes ou magnos das oficinas poderiam ser,
costumeira e corretamente, declarados justos e perfeitos.