INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................... 2
Significa dizer que a sentença condenatória funciona apenas como uma espécie de
autorização para que o indivíduo seja enviado ao cárcere. Contudo, depois desse momento,
percebe-se uma nítida ruptura entre o momento da aplicação da pena (voltada para o fato) e o
momento da execução (voltada para o autor do fato).
Por essa razão, muitas vezes, na fase de execução penal, são praticados vários desrespeitos
à sentença condenatória, de modo que se deixa de lado os ditames da sentença e se analisa muito
mais o “mérito” do preso, seu comportamento dentro do cárcere.
Significa que na execução, olha-se muito mais para o comportamento do preso, seu mérito,
do que o fato pelo qual foi condenado. Por isso, muitas vezes, presos que foram condenados por
crimes muito graves, mas que possuem bom comportamento, conseguem trabalho; possuem
melhor tratamento; não dormem em celas superlotadas; conseguem vagas nas APAC.
A lei, como recurso normativo, na execução penal, não é tão central ou tão relevante. Por
isso, várias questões são decididas pelos Tribunais, tanto a favor como contra o preso. Por exemplo,
os Tribunais têm flexibilizado cada vez mais as possibilidades de prisão domiciliar, admitindo a
domiciliar em hipóteses não previstas na lei, como falta de vagas no regime adequado ou em caso
de superlotação do presídio.
Por outro lado, os Tribunais entendem que a prática de falta grave ocasiona a interrupção
do prazo para progressão, em que pese não haver qualquer previsão legal nesse sentido.
Ademais, a discricionariedade administrativa ganha muita força na Execução Penal, de modo
que a direção da Unidade Prisional tem muito poder; e por vezes, há abuso de poder, à revelia da
lei.
2. Fontes
Obs.: A execução penal pode ser regida até mesmo por Leis Estaduais, como na previsão das
faltas médias e leves.
3. Natureza Jurídica
Já se discutiu muito sobre a natureza jurídica do Direito da Execução Penal. Mas a posição
amplamente majoritária é no sentido de que a natureza é MISTA ou HÍBRIDA, porque conjuga uma
natureza administrativa e uma natureza jurisdicional.
CRÍTICA - Contudo, cabe uma crítica no sentido de que a natureza deveria ser
predominantemente jurisdicional, porque todo e qualquer tema da Execução Penal pode ser levado
ao conhecimento do juízo, para que este dê a última palavra.
4. Jurisdição e competência (artigos 2 e 65 da LEP; art. 668 do CPP)
O artigo 65 da LEP, em consonância com o artigo 668 do CPP, diz que a execução penal
compete ao juízo indicado na lei local de organização judiciária, ou subsidiariamente, ao juízo da
sentença.
Art. 65, LEP. A execução penal competirá ao Juiz indicado na lei local de organização
judiciária e, na sua ausência, ao da sentença.
Art. 668, CPP. A execução, onde não houver juiz especial, incumbirá ao juiz da
sentença, ou, se a decisão for do Tribunal do Júri, ao seu presidente.
Todavia, o critério adotado não é esse. O juízo competente na verdade é o juízo da execução
penal do local em que o preso está cumprindo pena. Nesse sentido, o art. 2, da Lei n. 11.671/08 e
a Súmula 192 do STJ deixam claro que a competência é do juízo da execução penal responsável pelo
estabelecimento prisional.
Súmula 192, STJ. Compete ao Juízo das Execuções Penais do Estado a execução das
penas impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando
recolhidos a estabelecimentos sujeitos a administração estadual.
Portanto, mesmo que o preso tenha sido condenado pela Justiça Federal, caso esteja
cumprindo pena em estabelecimento estadual, a competência é do Juízo da Execução Penal
estadual responsável por aquele estabelecimento.
Obs.: O art. 668, p. único, do CPP, diz que em caso de competência originária dos Tribunais
Superiores, a execução da pena referente a esses processos também é de sua competência. Todavia,
na prática, os Tribunais Superiores delegam a execução para os juízos de 1ª instância.
Art. 668, Parágrafo único, CPP. Se a decisão for de tribunal superior, nos casos de
sua competência originária, caberá ao respectivo presidente prover-lhe a execução.
Obs.: Caso o preso tenha sido condenado mais de uma vez, serão exped idas várias guias,
mas todas serão recolhidas em um só processo, porque a execução penal é uma. Para isso, deve ser
realizada a unificação das penas.
Por sua vez, a execução provisória da pena pode ser vista de duas formas: execução
provisória contra o réu (ROIG a chama de execução antecipada), que debate sobre o início da
execução após a condenação por órgão colegiado, em segunda instância, sem necessidade de se
aguardar o trânsito em julgado; ou execução provisória pro reo.
Por isso, é tão importante que já seja permitida a execução provisória no sentido de
beneficiar o réu preso preventivamente. Nesse sentido, o STF reconheceu esse direito por meio da
Súmula 716. Logo em seguida, o CNJ, por meio da Resolução 113/2010, regulamentou a expedição
da guia de recolhimento provisória, que dá início ao processo executório provisório; possibilitando
ao réu pleitear seus direitos desde logo.
De qualquer forma, se não houver prisão preventiva, não deve ser expedida guia de
recolhimento provisória, mesmo que o réu já tenha um processo de execução. Isso porque a
execução provisória é em favor do réu; caso ele estivesse solto, e fosse gerada a guia de execução
provisória mesmo assim, o juízo da execução penal poderia fazer a unificação das penas e atrapalhar
a situação do réu no processo de execução (ocasionando a regressão do regime, por exemplo).
ATENÇÃO – Deve ser expedida a guia de execução provisória mesmo que o MP tenha
recorrido da sentença para elevar a pena?
De acordo com uma parcela da doutrina, só seria possível o início da execução provisória,
com a expedição da guia provisória, se não houvesse recurso do MP para aumentar a pena, porque
só assim haveria a certeza de que a situação do réu não poderia piorar. Todavia, essa posição é
minoritária, de modo que prevalece a desnecessidade de trânsito em julgado para a acusação para
a expedição de guia de execução provisória. Portanto, seria expedida a guia mesmo que houvesse
recurso do MP. Caso o recurso do MP seja provido, adequa-se a situação, com a regressão do
regime, por exemplo.
Não bastasse isso, a Resolução 113 do CNJ é expressa no sentido de que deve ser expedida
a guia de execução provisória, independentemente da existência de recurso.
Claro que não; a lógica da execução provisória é justamente substituir a prisão preventiva, e
possibilitar ao réu desde logo a obtenção desses direitos. Não faz sentido, portanto, negar-lhe tais
direitos sob tal fundamento, sob pena de violação da súmula 716 do STF e da Resolução 113 do CNJ.
Todavia, não se confunde essa hipótese com a do réu preso preventivamente por outros processos.
Nesse caso, as outras prisões preventivas realmente podem evitar que o réu seja solto.
A Lei de execução penal prevê expressamente que o escopo da execução penal é cumprir a
sentença condenatória e proporcionar a integração social do condenado (ideia de “ressocialização”
do preso).
CRÍTICA – O paradigma da ressocialização tem sido cada vez mais abandonado, dando maior
enfoque ao objetivo da pena de excluir, de neutralizar e de afastar o preso da sociedade. Ainda hoje,
a ressocialização é usada como um subterfúgio para justificar a pena, no sentido de que teria a
função de reintegrar o preso; mas na verdade serviria apenas a real intenção de eliminar o indivíduo.
Hoje, o engodo da ressocialização tem sido cada vez mais deixado de lado, de modo que vem se
adotando o discurso da exclusão, sem qualquer esforço de discrição.
Não deveria haver dupla condenação pelo mesmo fato, em respeito ao princípio do ne bis in
idem processual ou inadmissibilidade de persecução penal múltipla.
Mas o que fazer se no caso concreto o réu foi condenado duas vezes pelo mesmo fat o?
Há controvérsia na jurisprudência:
Há algumas decisões no sentido de que deve prevalecer a condenação mais favorável ao réu,
ou seja, aquela cuja pena é inferior, independentemente de ter sido proferida na primeira ou na
segunda sentença.
Por outro lado, também há decisões no sentido de que deve prevalecer a primeira sentença,
ainda que mais gravosa, porque a segunda sentença violaria a coisa julgada.
De início, importa notar que a classificação, assim como vários institutos impregnados na LEP
possui claro viés da criminologia positivista (FERRI).
A classificação deve ser feita logo no início da fase de execução penal. De acordo com a Lei,
a classificação deve levar em conta os antecedentes e personalidade do réu, a fim de individualizar
a execução da pena.
Art. 5º Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e
personalidade, para orientar a individualização da execução penal.
Todavia, na prática, percebe-se que a classificação visa perceber desde logo se o preso faz
parte de alguma organização criminosa ou se praticou algum crime sexual, para que essas pessoas
sejam separadas e não causem problemas.
O tema inclusive teve sua repercussão geral reconhecida pelo STF, mas ainda está pendente
de julgamento. Inobstante, o STF vem entendendo, por enquanto, pela constitucionalida de do
referido dispositivo.
ATENÇÃO MÁXIMA – Lei n. 13.964/19 (Pacote Anticrime): O artigo 9-A da LEP teve sua
redação alterada e alguns parágrafos foram adicionados (§1º-A, 3º, 4º e 8º), como vemos a seguir:
Por sua vez, o §4º deixa claro que se o condenado não foi submetido ao exame do perfil
genético no início da execução da pena, a identificação deve ser feita agora.
Por fim, o §8º inaugura uma nova espécie de falta de natureza grave, como pode ser visto
também no art. 50, VIII, LEP. Agora o condenado que se recusa a ser submetido à identificação
genética pratica falta grave, de modo que sofrerá todas as consequências legais decorrentes da falta
grave.
CRÍTICA - De acordo com o Prof. Felipe Novaes, o dispositivo é inconstitucional, porque viola
o princípio do nemu tenetur se detegere, na medida em que obriga o condenado a produzir prova
contra si, recolhendo material genético que será utilizado para identificá -lo como autor de um
determinado crime.
Por sua vez, a Resolução n. 3/2017 do CNPCP fala em cinco refeições diárias, com base em
parâmetros da Política Nacional de Alimentação e Nutrição.
Por fim, a Regra 5 das Regras de Bangkok (voltada para as presas mulheres) garante o direito
a artigos de higiene específicos para as mulheres, incluindo absorventes higiênicos gratuitos e
suprimento regular de água para cuidados pessoas de mulheres e crianças.
Obs.: É muito comum se dizer que os presos deveriam pagar por esses artigos, porém, na
prática, os presos já pagam por isso. Isso porque os artigos fornecidos são insuficientes para a real
necessidade humana. Por isso, as famílias dos presos ou grupos organizados costumam fornecer o
kit de limpeza, alimentação e vestuário.
b) Assistência à saúde: inclui tratamento médico, odontológico e farmacêutico, de caráter
preventivo e curativo.
Da mesma forma, a Resolução n. 04/2014 do CNPCP traz diretrizes para o tratamento das
pessoas presas.
De se notar que o artigo 15 da LEP diz que a assistência jurídica cabe aos presos que não têm
recursos financeiros para contratar advogados. Todavia, todos os presos têm direito à assistência
jurídica gratuita, porque os presos se enquadram como hipervulneráveis, de modo que a Defensoria
Pública pode atuar, na execução penal, em prol de qualquer preso. Aqui, a Defensoria atua como
verdadeiro custus vulnerabilis.
Art. 15. A assistência jurídica é destinada aos presos e aos internados sem recursos
financeiros para constituir advogado.
Durante o prazo legal, o egresso goza de amparo estatal e de apoio para facilitar sua
integração social.
ATENÇÃO – A violação dos deveres de assistência por parte do Estado enseja indenização
por danos morais ao preso?
O STF já decidiu, com repercussão geral, que a violação a direitos fundamentais causadora
de danos pessoais a detentos em estabelecimentos carcerários implica no dever de indenizar por
danos morais (RE 580.252).
Entendeu-se na ocasião que se os danos são causados por agentes estatais ou por
inadequação dos serviços públicos, o dever de indenizar decorre diretamente do art. 37, §6º, da CF,
como disposição normativa autoaplicável.
De se notar que, nesse caso, o Min. Barroso propôs que a indenização ao preso se desse por
meio de remição ficta, e não por pecúnia. Porém, sua proposta foi superada pelos demais ministros,
porque estes entenderam que isso consistiria em verdadeira atividade legislativa do judiciário.
a) CNPCP: de acordo com o art. 63, o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária
tem por missão propor diretrizes da política criminal e estabelecer regras sobre a arquitetura e
estruturação dos estabelecimentos;
b) Juízo da Execução: o artigo 66 traz a competência do juízo da execução penal.
I - aplicar aos casos julgados lei posterior que de qualquer modo favorecer o
condenado;
e) livramento condicional;
f) incidentes da execução.
V - determinar:
O inciso I atribui ao juízo da execução a aplicação da lei posterior que favorece o condenado,
quais sejam, a abolitio criminis ou novatio legis in melius. Nesses casos, não há necessidade de
revisão criminal, bastando uma petição simples ao juízo da execução, conforme a súmula 611 do
STF.
O inciso III, por sua vez, atribui ao juízo da execução decidir sobre a unificação de penas. Por
essa razão, seria possível pedir ao juízo da execução a readequação do regime prisional, quando o
juízo da sentença pesar a mão e aplicar regime mais gravoso do que o cabível (posição minoritária
própria das Defensorias).
Além disso, é possível ao juízo da execução reconhecer a continuidade delitiva entre fatos
que foram julgados em processos distintos. Ex.: Em minha atuação, já me deparei com um caso na
UPR de Coroatá/MA, em que um preso havia sido condenado por dois roubos, praticados na mesma
noite, com o mesmo modus operandi, na mesma comarca. Todavia, ele fora condenado por dois
roubos, em processos distintos, de modo que não teve a continuidade delitiva reconhecida no juízo
da sentença. Diante disso, peticionei ao juízo da execução penal para reconhecer o instituto da
continuidade delitiva e aplicar apenas uma das penas, com a devida causa de aumento; o que foi
deferido prontamente. Por essa razão, as penas que somadas resultavam em mais de 15 anos,
diminuíram para aproximadamente 6 anos.
d) Defensoria Pública: de acordo com o art. 81-A, LEP, cabe à DP velar pela regular execução
da pena e da medida de segurança, não apenas de forma individual, mas também de forma coletiva.
Significa que a DP pode atuar de forma coletiva, em prol de todos os presos.
Art. 81-A. A Defensoria Pública velará pela regular execução da pena e da medida
de segurança, oficiando, no processo executivo e nos incidentes da execução, para
a defesa dos necessitados em todos os graus e instâncias, de forma individual e
coletiva.
O art. 81-B, LEP, determina que incumbe à Defensoria Pública visitar os estabelecimentos
penais; bem como requerer a interdição do estabelecimento, quando for cabível.
6. Estabelecimentos penais
e) Cadeias públicas: destinada aos presos provisórios. De se notar que são verdadeiros
estabelecimentos penais, de modo que não se admite a adaptação de delegacias ou a utilização de
celas improvisadas em contêineres ou mesmo veículos;
f) Centro de Observação: destinada à triagem dos presos.
Nesse sentido, o artigo 85 da LEP determina que o estabelecimento penal deve ter lotação
compatível com sua estrutura, configurando verdadeira base legal do princípio do numerus clausus.
Art. 85. O estabelecimento penal deverá ter lotação compatível com a sua estrutura
e finalidade.
Parágrafo único. O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária
determinará o limite máximo de capacidade do estabelecimento, atendendo a sua
natureza e peculiaridades.
Da mesma forma, a Resolução n. 05/2016 do CNPCP recomenda que nas unidades penais
masculinas não se alcance superlotação superior a 137,5% da sua capacidade. Na hipótese de uma
unidade superar esse limite, deve-se acionar o CNJ para propor providenciar a fim de ajustar o
excesso ou desvio da execução.
Além disso, nos casos de superlotação, os Tribunais têm concedido a antecipação cautelar
de direitos penitenciários, a fim de abrir vagas nas unidades. O STF já autorizou isso no caso de
falta de vagas no regime semiaberto (Súmula Vinculante n. 56), porém alguns Tribunais Estaduais
têm autorizado a antecipação cautelar até mesmo no regime fechado. Trata -se da modalidade
progressiva do numerus clausus.
Portanto, a ideia geral do numerus clasus é respeitar a capacidade máxima de vagas nas
unidades prisionais. Porém, ele pode se dar de forma direta, quando simplesmente se solta ou
indulta os presos excedentes. Por outro lado, há a dita forma progressiva, em que se propõe a
abertura de vagas para os novos condenados, através da liberação da vaga por meio da antecipação
cautelar dos direitos penitenciários – SV 56. Ex.: concessão do livramento ou progressão para os
presos que já estão perto de obter o direito a eles, e que possuem bom comportamento.
RE 641320 do STF: Havendo déficit de vagas, deverão ser determinados: i) a saída antecipada
de sentenciado no regime com falta de vagas; ii) a liberdade eletronicamente monitorada ao
sentenciado que sai antecipadamente ou é posto em prisão domiciliar por falta de vagas; iii) o
cumprimento de penas restritivas de direito e/ou estudo ao sentenciado que progride ao regime
aberto. Até que sejam estruturadas as medidas alternativas propostas, poderá ser deferida a prisão
domiciliar ao sentenciado.
1.1. Natureza
O trabalho do preso apresenta natureza ambígua ou mista, porque é ao mesmo tempo dever
e direito. Tanto é assim que se o preso não trabalhar, pratica falta disciplinar. Contudo, na prática,
em média, apenas 15% da população carcerária nacional tem acesso ao trabalho, porque não há
vagas suficientes para todos. Logo, essa falta disciplinar não é aplicada, em regra, já que o preso
quer trabalhar (até para fins de remição), mas não consegue, por falta de vagas.
O princípio da não aflitividade está previsto nas Regras de Mandela e significa que o trabalho
não pode ser um fim em si mesmo, ou seja, como castigo. Isso configuraria pena de trabalhos
forçados, que é vedada.
O trabalho deve ter sentido produtivo e educativo.
O trabalho do preso não está sujeito ao regime da CLT, porque o trabalho é considerado um
elemento do tratamento penal.
Art. 28, § 2º O trabalho do preso não está sujeito ao regime da Consolidação das
Leis do Trabalho.
Contudo, parcela da doutrina, inclusive trabalhista, critica essa regra, afirmando que ela não
foi recebida pela Constituição Federal.
1.4. Remuneração
Segundo o art. 29 da LEP, a remuneração do preso não pode ser inferior a 3/4 do salário
mínimo.
Art. 29. O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela, não
podendo ser inferior a 3/4 (três quartos) do salário mínimo.
Nesse sentido, foi ajuizada a ADPF 336 pelo MPF em 2015, arguindo a inconstitucionalidade
ou não recepção do artigo 29 da LEP. Mas ainda está aguardando julgamento.
O trabalho interno pode ser desempenhado tanto para o Estado, como para empresas
privadas.
De qualquer forma, exige-se uma jornada mínima de 6 horas por dia. Todavia, o STJ
flexibiliza essa exigência, porque deve-se verificar a razão pela qual o preso não trabalhou as 6 horas.
Com efeito, só não deve ser contabilizado o dia todo, quando o preso faltou ao trabalho ou foi
embora mais cedo. Por outro lado, caso não tenha sido culpa do preso, deve-se contar o dia todo
de trabalho, mesmo que não tenha alcançado as 6 horas.
Ademais, caso o preso trabalhe mais de 8 horas por dia, há remição de 1 dia para cada 6
horas extras.
O trabalho do preso sempre deve ser estimulado, logo, a jurisprudência tem aceito o
artesanato como trabalho interno, apto, portanto, a ser considerado para efeitos de rem ição, e
demais consequências legais.
b) Trabalho externo ou extramuros: o preso trabalha fora do estabelecimento, sendo
permitido tanto no regime fechado, como no regime semiaberto.
No regime fechado, deve-se garantir a escolta ao preso; a direção prisional deve autorizar; e
só seria possível em serviços ou obras públicas, ou em entidades privadas, desde que adotadas as
cautelas para evitar fugas.
De se notar que o trabalho externo é perfeitamente admissível para condenados por crimes
hediondos, porque não existe qualquer vedação legal nesse sentido.
Por fim, o art. 37 da LEP prevê alguns requisitos para autorização do trabalho externo:
CUIDADO – O trabalho externo pode ser autorizado mesmo que o órgão empregador
pertença a alguém da família do preso. Isso porque já é tão difícil ao preso conseguir emprego; se
for impedido o emprego concedido pela família, dificilmente ele conseguirá trabalho algum. Além
disso, não existe nenhuma vedação legal nesse sentido – HC 310.515, STJ.
Os deveres legais dos presos se aplicam tanto ao preso definitivo como ao preso p rovisório.
O artigo 39, II, da LEP, assim como o inciso V, preveem os deveres de obediência ao servidor
e respeito a qualquer pessoa com quem deva relacionar-se; e o dever de execução do trabalho, das
tarefas e das ordens recebidas.
Perceba que se trata de previsões altamente genéricas, de modo que quase tudo pode ser
enquadrado nesses incisos. Não bastasse isso, o descumprimento desses deveres configura falta
grave.
Por sua vez, o inciso IV traz uma previsão de dever heroico ao preso, na medida em que lhe
impõe o comportamento oposto aos movimentos de fuga ou subversão à ordem ou disciplina.
Significa que, se estiver ocorrendo uma rebelião ou fuga, o preso deve enfrentar os outros presos
que querem fugir ou se rebelar, à custa de sua vida, certamente.
Na verdade, ROIG defende que nesse caso, dever-se-ia aplicar ao preso a excludente de
culpabilidade da inexigibilidade de conduta diversa, porque não se pode esperar d e ninguém que
se oponha sozinho contra um movimento de fuga ou rebelião, sacrificando a própria vida.
3.1. Introdução
O rol de direitos dos presos é exemplificativo, porque inclui todos os direitos não atingidos
pela sentença ou pela lei, conforme o art. 3, da LEP.
Por sua vez, o art. 40 da LEP garante expressamente o respeito à integridade física e mental
dos presos. Decorre disso que no momento de conter o preso, em que se precisa usar a força, a
polícia penal deve priorizar sempre os meios não letais e menos ofensivos, desde que isso não ponha
em risco a própria vida dos agentes de segurança.
No mesmo sentido, o art. 10 do PIDCP prevê que toda pessoa presa deve ser tratada com
humanidade, com respeito à dignidade. Da mesma forma, a Observação Geral n. 21 do Comitê de
Direitos Humanos das Nações Unidas preconiza que esse tratamento aos presos deve ser
dispensado também aos internados em Hospitais psiquiátricos e similares.
De se notar que o STF já entendeu que o Estado não pode alegar a reserva do possível, para
se eximir de cumprir o direito à integridade física e moral (REXT 580.252).
Além disso, o respeito à integridade física e moral deve observar a identidade de gênero do
preso. Dessa forma, a Res. Conjunta n. 1/2014 do CNPCP e do Conselho Nacional de Combate à
Discriminação estabelece que a pessoa trans ou travesti presa deve ser chamada por seu nome
social. Ademais, as pessoas trans masculinas e femininas devem ser encaminhadas para as unidades
prisionais femininas; ou pelo menos devem ser colocadas em ambientes separados dos outros
presos, nas unidades masculinas.
Nesse sentido, o STF decidiu no HC 152.491/SP por conceder ordem de HC para determinar
que as pessoas trans fossem colocadas em estabelecimento prisional compatível com suas
orientações sexuais.
3.3. Direitos em espécie (art. 41)
Por sua vez, o inciso XV garante o contato com o mundo exterior por meio de
correspondência, leitura e outros meios de informação.
Ocorre que o parágrafo único do art. 41 prevê que a direção do estabelecimento pode
restringir ou suspender os direitos dos incisos V, X e XV, motivadamente. Veja que não há
necessidade de prática de falta ou indisciplina. É muito comum que esses direitos sejam suspensos
ou restritos em caso de rebelião na unidade ou no Estado.
Ora, como se trata de ato que restringe ou suspende direitos, deve ser um ato devidamente
escrito e fundamentado. Não bastasse isso, como o p. único fala na possibilidade de suspensão
apenas desses direitos. Logo, em uma interpretação a contrario sensu, os demais direitos não
podem ser restringidos ou suspensos.
Por se tratar de um dos direitos mais importantes e caros à população carcerária, merece
análise individualizada e pormenorizada de algumas questões:
a) Revistas vexatórias ou íntimas dos visitantes: são revistas que exigem o desnudamento
e, muitas vezes, o agachamento, ficar em cima de espelho e etc.
A revista vexatória viola o princípio da intranscendência das penas (ou como diz ROIG,
princípio da transcendência mínima, já que inevitavelmente a família também sofre com a pena )
pois está se punindo a família, que nada fez, pelo crime competido pelo parente preso.
Nesse sentido, há inclusive resolução do CNPCP vedando esse tipo de revista vexatória ou
íntima.
Para evitar esse tipo de revista vexatória, é recomendado que as unidades prisionais
adquiram body scanners, máquinas de raio x e etc; a fim de evitar a necessidade da revista íntima.
Obs.: As visitas íntimas no sistema penitenciário federal estão suspensas, depois que foram
praticados homicídios contra agentes de segurança, supostamente através de informações
passadas a visitantes íntimas, já que a monitoração dessa visita é mínima. A questão está pendente
de julgamento no STF.
d) Visita de criança: a visita da criança e adolescente é garantida pelo ECA, porque pior do
que o contato da criança com o sistema penitenciário é perder a convivência com seu pai ou sua
mãe preso(a), conforme art. 19, §4º, do ECA.
Portanto, apenas os presos definitivos têm seus direitos políticos suspensos, de modo que
os presos provisórios podem votar. Contudo, na prática, dificilmente, as unidades conseguem se
organizar de forma necessária para possibilitar que os presos provisórios votem.
O condenado a penas restritivas de direito também tem seus direitos políticos suspensos?
SIM, o STF entendeu que mesmo os condenados a PRDs terão seus direitos políticos
suspensos.
E se a pena privativa já foi cumprida, mas o condenado ainda não pagou a multa? É possível
reabilitar os direitos políticos, mesmo sem o pagamento da multa?
A pena de multa, segundo o CP, é considerada dívida de valor. Logo, sua execução possui
natureza fiscal, e não penal, de modo que o descumprimento da pena de multa não pode ensejar
prisão. De acordo com o TSE, a comunicação da extinção da punibilidade pela Justiça Comum é
suficiente para a reabilitação dos direitos políticos.
Por sua vez, se o juízo penal não declarar extinta a punibilidade, deve-se analisar a
possibilidade de indulto da pena de multa e a ocorrência de prescrição (em cinco anos, conforma o
art. 174 do CTN).
SISTEMA DISCIPLINAR
1. Controle Judicial dos atos administrativos da autoridade penitenciária
Sempre se estudou qual deve ser o papel do Poder Judiciário no sistema penitenciário,
especialmente, no que toca à fiscalização ou controle dos atos praticados pela direção do presídio.
Uma primeira teoria, surgida nos EUA, chamada de hands off, defendia a não intervenção
do Judiciário nas questões administrativas da execução penal, com fundamento na separado de
poderes e de que a intervenção judicial atrapalharia a manutenção da ordem nas unidades
prisionais (já que quem melhor sabe da situação do presídio, é quem trabalha lá dentro).
Essa teoria foi superada no caso Coffin vs Reichard, no qual se entendeu que o preso mantém
todos os direitos de um cidadão comum, salvo aqueles expressamente afastados pela lei. Em
seguida, no caso Monroe vs Pape, ocorreu o marco da apreciação judicial da ilegalidade das
condições carcerárias.
Na verdade, o ideal é que o controle judicial seja efetivo e constante, para evitar a
discricionariedade ilimitada ou desregrada pela direção prisional. Por isso, a natureza da execução
penal seria mista ou híbrida, mesclando as naturezas administrativa e judicial.
2. Disciplina
De acordo com o art. 44 da LEP, disciplina consiste na colaboração com a ordem, na
obediência às determinações das autoridades e seus agentes e no desempenho do trabalho. Essa
disciplina sujeita não apenas os presos condenados, mas também os presos provisórios.
Conforme a lei, cabe à autoridade administrativa o poder disciplinar, seja no caso de pena
privativa de liberdade, seja no caso de pena restritiva de direitos.
CUIDADO - Obs.: O art. 46 da LEP prevê que os presos devem tomar conhecimento de todas
as normas relativas às sanções e disciplina no momento em que entra no sistema prisional. Caso o
Estado não se desincumba desse dever, e não informe todas as normas ao preso, seria possível até
mesmo alegar-se o erro de proibição disciplinar. Nesse mesmo sentido, a regra 54 das Regras de
Mandela reafirma o direito do preso de informação sobre suas obrigações e sanções disciplinares.
Art. 45. Não haverá falta nem sanção disciplinar sem expressa e anterior previsão
legal ou regulamentar.
A própria lei admite que o regramento das sanções disciplinares pode estar previsto não
apenas na lei, mas também em regulamentos locais e regionais. Por isso, alguns doutrinadores
preferem chamar de princípio da normatividade.
A taxatividade significa que apenas as condutas previstas na lei podem ser punidas, ou seja,
as faltas devem estar previstas na lei. Não basta isso, a norma precisa ser clara e objetiva; não se
admitindo, por conseguinte, a utilização de normas vagas e imprecisas. Infelizmente, a Lei não
respeita esse princípio, pois várias condutas previstas como falta são extremamente amplas e e
vagas (ex.: desobediência a qualquer ordem dos agentes).
Já a anterioridade preconiza que eventual alteração das normas disciplinares não pode
retroagir, salvo para beneficiar o preso.
O STJ já se deparou com vários casos de aplicação de sanção coletiva; e vem cassado essas
punições, de modo a reafirmar o princípio da individualização.
4. Faltas disciplinares
O artigo 49 da LEP preconiza que as faltas são classificadas em leves, médias e graves,
cabendo à legislação local especificar quais são as faltas médias e leves.
Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que:
I - incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina;
II - fugir;
III - possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física de
outrem;
IV - provocar acidente de trabalho;
V - descumprir, no regime aberto, as condições impostas;
VI - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei.
VII – tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar,
que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo.
VIII - recusar submeter-se ao procedimento de identificação do perfil
genético. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao preso
provisório.
a) Rebelião: O inciso I determina que pratica falta grave quem incita ou participa de
movimento para subverter a ordem ou a disciplina, porém não há precisão no que significa
subversão da ordem e da disciplina; a lei usa termos muito vagos.
Além disso, algumas revoltas por parte dos presos são pacíficas, consistindo apenas em bate
grade ou entoação de canções. Logo, não é proporcional equiparar essas situações com a rebelião
ou motim violento, punindo as duas com falta grave.
b) Fuga: Por sua vez, o inciso II traz a conduta de fugir, que também constitui falta grave.
Todavia, a fuga, por si só, não é crime; restringindo-se ao âmbito da execução penal.
Vale lembrar que quando a pessoa foge, o processo executório é suspenso e a prescrição
executória volta a correr, com base na pena remanescente. Quando a pessoa é recapturada, o dia
da recaptura será a referência para fins de reabilitação; nova data base para progressão de regime;
e continuação do processo executório.
De se notar que fuga não se confunde com evasão. Com efeito, fuga é a ação de sair da
unidade de forma clandestina. Por outro lado, a evasão ocorre, quando o preso é autorizado para
sair, como na saída temporária ou em caso de trabalho externo, e deixa de voltar. Veja que a evasão
é bem menos grave que a fuga, de modo que, em homenagem à proporcionalidade, deve ser punida
de forma menos rigorosa.
Além disso, para a configuração da fuga, deve haver o dolo de fugir. Toda falta grave exige o
dolo da prática da falta. Dessa forma, se o acusado sai da unidade para a saída temporária, por
exemplo, e deixa de voltar no horário marcado, mas apesar do atraso, volta para cumprir sua pena;
é de se concluir que ele não tinha o dolo de fugir. Logo, não configura a falta grave da fuga.
d) Provocar acidente de trabalho: por óbvio, a provocação do acidente de trabalho deve ser
proposital ou dolosa; não configurando falta grave se o preso culposamente causa o acidente;
e) Inobservar o dever de obedecer às ordens dos agentes e outras pessoas com quem se
relaciona: essa falta é muito abrangente, muito ampla e imprecisa. Mostra-se como verdadeira falta
grave coringa, de modo que na falta de outra, sempre é possível encaixar a conduta nesse inciso.
Por essa razão, as previsões devem ser específicas e mais claras.
f) Posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico: o inciso VII do art. 50 da LEP prevê como
falta grave a posse, utilização ou fornecimento de aparelho telefônico, rádio ou similar, que permita
a comunicação.
De início, é importante salientar que a maioria dos presos usa o aparelho celular para se
comunicar com sua família, do lado de fora da unidade, e não para orquestrar crimes ou coordenar
organizações criminosas. Ex.: No HC 473.916/SC, o STJ se deparou com o caso de um preso que foi
flagrado com um celular escondido, mas no qual havia apenas vídeos e mensagens de suas filhas; o
preso alegou que uma de suas filhas iria se submeter a uma cirurgia e ele queria acompanhar mais
de perto a situação; diante disso, a defesa pediu fosse reconhecida a inexigibilidade de conduta
diversa; mas o STJ negou o pedido e confirmou a falta grave, sob o fundamento de que o preso
possuía meios lícitos para conseguir informações sobre suas filhas.
Além disso, surge uma questão: a posse de acessórios do aparelho telefônico, como chip e
bateria poderiam configurar a falta grave?
O STJ entende que a posse de chip de aparelho celular ou qualquer outro componente
essencial do aparelho, como bateria e carregador, também configuram a falta grave (AgRg no REsp
1708448/RJ).
Da mesma forma, a posse de fone de ouvido também já foi considerada pelo STJ como
equiparada à posse de aparelho telefônico. Todavia, há precedentes em sentido contrário, ou seja,
a mera posse de fone de ouvido não poderia configurar falta grave, porque os fones não são
elementos essenciais do aparelho telefônico.
A posse de cabo USB, fone de ouvido e microfone também não configuraria falta grave,
porque não são componentes essenciais, de acordo com o STJ (Info 519).
Por fim, a segunda questão é: exige-se perícia para concluir que o aparelho efetivamente
tem aptidão para possibilitar comunicação?
O STJ entende que o exame pericial é dispensável ou prescindível para fins de configuração
da falta grave (AgRG no HC 477.884/SP).
g) Prática de crime doloso (art. 52, LEP): trata-se de norma disciplinar em branco.
Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e,
quando ocasionar subversão da ordem ou disciplina internas, sujeitará o preso
provisório, ou condenado, nacional ou estrangeiro, sem prejuízo da sanção penal,
ao regime disciplinar diferenciado, com as seguintes características: (Redação
dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
A crítica mais uma vez repousa na violação da proporcionalidade em alguns casos. Isso
porque a lei não limita qual o crime doloso que configura a falta, logo, qualquer crime poderia. Em
razão disso, crimes muito leves como posse de droga, violação de domicílio, já poderiam configurar
a falta grave. Da mesma forma, a prática de homicídio ou latrocínio resultariam na mesma falta
grave. Não há, portanto, razoabilidade.
Não bastasse isso, o STJ entende, conforme súmula 526, que o reconhecimento da falta
grave não exige o trânsito em julgado da sentença penal condenatória no processo penal
instaurado para apuração desse novo fato. Ora, há clara violação do princípio da presunção de
inocência.
De qualquer forma, se o acusado for absolvido pelo novo fato, a falta deve ser anulada.
Todavia, até lá o preso já sofreu todos os efeitos disciplinares da falta grave.
ATENÇÃO – O crime de posse de droga para consumo próprio (art. 28 da LD) não prevê pena
privativa de liberdade e nem multa. Da mesma forma, segundo o STJ, a condenação por esse crime
não gera sequer reincidência. Diante disso, uma parte da doutrina (minoritária) defende que a
prática desse crime não pode configurar falta grave, por se tratar de delito muito leve, ou seja, em
respeito ao princípio da proporcionalidade.
No mesmo sentido, todas as infrações de menor potencial ofensivo, na mesma esteira e pelo
mesmo raciocínio apresentado em relação ao crime do art. 28 da LD, também não deveriam
configurar a falta grave do art. 52 da LEP, segundo a mesma parcela da doutrina (minoritária).
h) Violação das condições da monitoração eletrônica: esse tema é polêmico. O STJ entende,
conforme Info 595, que a não observância do perímetro estabelecido para monitoramento da
tornozeleira configura mero descumprimento de condição obrigatória, mas não configura a prática
de falta grave. Isso porque a não observância do perímetro não está prevista em lei, como hipótese
de falta grave.
O artigo 146-B da LEP preconiza que o juízo pode definir a fiscalização por meio da
monitoração eletrônica, apenas na:
b) prisão domiciliar.
Art. 146-B. O juiz poderá definir a fiscalização por meio da monitoração eletrônica
quando:
Art. 146-C. O condenado será instruído acerca dos cuidados que deverá adotar com
o equipamento eletrônico e dos seguintes deveres:
I - receber visitas do servidor responsável pela monitoração eletrônica, responder
aos seus contatos e cumprir suas orientações;
II - abster-se de remover, de violar, de modificar, de danificar de qualquer forma o
dispositivo de monitoração eletrônica ou de permitir que outrem o faça;
Parágrafo único. A violação comprovada dos deveres previstos neste artigo poderá
acarretar, a critério do juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a defesa:
I - a regressão do regime;
II - a revogação da autorização de saída temporária;
VI - a revogação da prisão domiciliar;
VII - advertência, por escrito, para todos os casos em que o juiz da execução decida
não aplicar alguma das medidas previstas nos incisos de I a VI deste parágrafo.
Na verdade, segundo a lei, as consequências seriam a regressão do regime; a revogação da
autorização de saída temporária; revogação da prisão domiciliar; e advertência.
Em qualquer caso, deve ser respeitado o contraditório e a ampla defesa antes de aplicar
alguma das consequências legais. Portanto, antes de decidir pela regressão de regime, por exemplo,
o juízo deveria designar audiência para ouvir o acusado, o Ministério Público, e a defesa.
6. Sanções disciplinares
O inciso III traz a hipótese de suspensão ou restrição de direitos referidos no art. 41, p. único,
da LEP, ou seja, direito de visita; direito de recreação (pátio ou banho de sol); direito de
comunicação com o mundo exterior.
As sanções acima referidas podem ser aplicadas por ato motivado da direção do
estabelecimento penal, ou seja, não há necessidade de autorização judicial.
Por outro lado, o inciso V prevê a sanção de inclusão no regime disciplinar diferenciado
(RDD). Essa sanção só pode ser aplicada pelo juízo.
O artigo 57 da LEP prevê que na aplicação das sanções disciplinares, devem ser levados em
conta a natureza, os motivos, as circunstâncias e as consequências do fato, assim como as condições
pessoais do preso. Perceba que o artigo 57 se assemelha bastante ao artigo 59 do Código Penal. De
certa forma, a aplicação da sanção deve levar em conta circunstâncias semelhantes àquelas
previstas no Código Penal.
a) O preso pratica fato previsto como crime doloso que ocasione subversão da ordem ou
disciplina internas: é a única hipótese de aplicação do RDD em que o preso efetivamente praticou
alguma conduta prevista como falta.
6.3.2. Características
a) Duração máxima de 360 dias, podendo se repetir até o limite de um sexto da pena
aplicada;
Por essa razão também há uma ADI, tratando do RDD pendente de julgamento no STF.
“Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e,
quando ocasionar subversão da ordem ou disciplina internas, sujeitará o preso
provisório, ou condenado, nacional ou estrangeiro, sem prejuízo da sanção penal,
ao REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO, com as seguintes características:
I - duração máxima de até 2 (dois) anos, sem prejuízo de repetição da sanção por
nova falta grave de mesma espécie;
II - recolhimento em cela individual;
III - visitas quinzenais, de 2 (duas) pessoas por vez, a serem realizadas em
instalações equipadas para impedir o contato físico e a passagem de objetos, por
pessoa da família ou, no caso de terceiro, autorizado judicialmente, com duração
de 2 (duas) horas;
IV - direito do preso à saída da cela por 2 (duas) horas diárias para banho de sol, em
grupos de até 4 (quatro) presos, desde que não haja contato com presos do mesmo
grupo criminoso;
V - entrevistas sempre monitoradas, exceto aquelas com seu defensor, em
instalações equipadas para impedir o contato físico e a passagem de objetos, salvo
expressa autorização judicial em contrário;
VI - fiscalização do conteúdo da correspondência;
VII - participação em audiências judiciais preferencialmente por videoconferência,
garantindo-se a participação do defensor no mesmo ambiente do preso.
§ 1º O regime disciplinar diferenciado também será aplicado aos presos provisórios
ou condenados, nacionais ou estrangeiros:
I - que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal
ou da sociedade;
II - sob os quais recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a
qualquer título, em organização criminosa, associação criminosa ou milícia
privada, independentemente da prática de falta grave.
§ 2º (Revogado).
§ 3º Existindo indícios de que o preso exerce liderança em organização criminosa,
associação criminosa ou milícia privada, ou que tenha atuação criminosa em 2
(dois) ou mais Estados da Federação, o regime disciplinar diferenciado será
obrigatoriamente cumprido em estabelecimento prisional federal.
§ 4º Na hipótese dos parágrafos anteriores, o regime disciplinar diferenciado
poderá ser prorrogado sucessivamente, por períodos de 1 (um) ano, existindo
indícios de que o preso:
I - continua apresentando alto risco para a ordem e a segurança do
estabelecimento penal de origem ou da sociedade;
II - mantém os vínculos com organização criminosa, associação criminosa ou
milícia privada, considerados também o perfil criminal e a função desempenhada
por ele no grupo criminoso, a operação duradoura do grupo, a superveniência de
novos processos criminais e os resultados do tratamento penitenciário.
§ 5º Na hipótese prevista no § 3º deste artigo, o regime disciplinar diferenciado
deverá contar com alta segurança interna e externa, principalmente no que diz
respeito à necessidade de se evitar contato do preso com membros de sua
organização criminosa, associação criminosa ou milícia privada, ou de grupos rivais.
§ 6º A visita de que trata o inciso III do caput deste artigo será gravada em sistema
de áudio ou de áudio e vídeo e, com autorização judicial, fiscalizada por agente
penitenciário.
§ 7º Após os primeiros 6 (seis) meses de regime disciplinar diferenciado, o preso
que não receber a visita de que trata o inciso III do caput deste artigo poderá, após
prévio agendamento, ter contato telefônico, que será gravado, com uma pessoa da
família, 2 (duas) vezes por mês e por 10 (dez) minutos.” (NR)
Pois bem, inicialmente é de se notar que a Lei n. 13.964/19, sem dúvidas, ampliou
sobremaneira o rigor do RDD, especialmente no que toca ao prazo de duração. Destarte, trata -se
de norma penal (ou híbrida) mais gravosa e, como tal, é irretroativa para fatos anteriores à
mudança da LEP.
No que toca ao caput do art. 52, a única mudança foi o acréscimo dos presos estrangeiros
no rol expresso. Logo, tanto os presos nacionais como os estrangeiros podem ser submetidos ao
RDD.
A entrevista com o preso será monitorada, salvo quando realizada com o advogado ou
defensor público, em respeito ao sigilo da conversa com advogado e direito à entrevista reservada.
Além disso, agora há previsão expressa de que a audiência com o preso será preferencialmente por
meio de videoconferência, resguardado o direito à presença do defensor. Ocorre que o art. 185 do
CPP prevê o interrogatório por videoconferência como medida excepcional. Fica a dúvida, então,
sobre qual dispositivo deve prevalecer – 185 do CPP ou 52, VII, LEP.
O §1º foi alterado para dividir as outras hipóteses de RDD (além da prática de falta grave)
em dois incisos. O inciso I não trouxe novidades, mantendo a redação antiga do §1º. Por outro lado,
o inciso II representa a nova redação do que antes era previsto no §2º. Como se vê, o rol legal foi
ampliado para prever além da participação em organizações criminosas, a participação em
associações criminosas e a milícia privada, independentemente da prática de falta grave. Ora, o
próprio dispositivo deixa claro que o condenado sequer precisa ter praticado falta grave. Trata-se,
portanto, de inequívoco Direito Penal do Autor.
Já o §3º é novidade legal, já que o artigo só possuía dois parágrafos. O novo parágrafo traz
uma obrigação de que o preso líder de organização criminosa ou que pratica crimes em mais de um
Estado deve ser transferido para o sistema penitenciário federal, que deve contar com alta
segurança interna e externa, conforme o §5º.
O §4º, por sua vez, preconiza que o RDD pode ser prorrogado sucessivamente por períodos
de 1 ano, desde que haja indícios de que ele continua apresentando alto risco para a ordem e
segurança, ou ainda mantém os vínculos com a organização criminosa. Veja que a lei não traz mais
nenhum limite à duração do RDD. Antes, o dispositivo previa o limite máximo de 1/6 da pena
aplicada, mas agora, em tese, o condenado poderia cumprir toda sua pena no RDD. Isso parece
extremamente desproporcional, ainda mais ao se considerar que tal medida pode ser decretada
com base em meros indícios.
6.3.4. Procedimento
Segundo o art. 54, §1º e §2º, LEP, quem pede a inclusão do preso no RDD é a direção do
estabelecimento ou outra autoridade administrativa. O requerimento é destinado ao juízo, que só
decidirá após manifestação do MP e da defesa, no prazo máximo de 15 dias.
Art. 54. As sanções dos incisos I a IV do art. 53 serão aplicadas por ato motivado do
diretor do estabelecimento e a do inciso V, por prévio e fundamentado despacho
do juiz competente.
§ 1o A autorização para a inclusão do preso em regime disciplinar dependerá de
requerimento circunstanciado elaborado pelo diretor do estabelecimento ou
outra autoridade administrativa.
§ 2o A decisão judicial sobre inclusão de preso em regime disciplinar será precedida
de manifestação do Ministério Público e da defesa e prolatada no prazo máximo de
quinze dias.
Perceba que a Lei não previu a legitimidade do MP para fazer o pedido de inclusão no RDD.
Art. 59. Praticada a falta disciplinar, deverá ser instaurado o procedimento para
sua apuração, conforme regulamento, assegurado o direito de defesa.
Parágrafo único. A decisão será motivada.
De se notar que há repercussão geral reconhecida pelo STF para decid ir se a oitiva do
condenado pelo juízo da execução penal, em audiência de justificação realizada na presença do
defensor e do MP, afasta a necessidade de prévio PAD, assim como supre eventual ausência ou
insuficiência de defesa técnica no PAD instaurado para apurar a prática de falta grave (RE 972598).
Não obstante não haja previsão legal expressa para prescrição das faltas, há entendimento
majoritário dos Tribunais Superiores que deve se aplicar o menor prazo prescricional previsto no
Código Penal, ou seja, 3 anos. Nesse caso, deve ser aplicado o art. 115 do CP, ou seja, se o preso for
menor de 21 anos ou maior de 70 anos, o prazo prescricional deve ser reduzido pela metade.
Há outra corrente minoritária que defende ser o prazo prescricional de 2 anos, porque esse
sim é o menor prazo prescricional previsto no ordenamento jurídico penal, referente ao crime do
art. 28 da LD.
Quando a falta grave é confirmada em juízo, após a respectiva audiência de justificação, ela
desencadeia uma série de efeitos.
Nesse sentido, a súmula 534 do STJ enuncia que a prática da falta grave interrompe, ou seja,
zera, a contagem do prazo para a progressão de regime, a partir da data do cometimento da
infração.
Por outro lado, a súmula 535 do STJ estabelece que a prática de falta grave não interrompe
o prazo para fim de comutação da pena ou indulto.
Súmula 535-STJ: A prática de falta grave não interrompe o prazo para fim de
comutação de pena ou indulto.
Da mesma forma, a súmula 441 do STJ preconiza que a prática de falta grave não interrompe
o prazo para obtenção de livramento condicional.
Súmula 441, STJ. A falta grave não interrompe o prazo para obtenção de livramento
condicional.
O interessante é que o fundamento para essas duas últimas súmulas é a ausência de previsão
legal de interrupção do prazo legal nesses casos. Todavia, também não há previsão legal de
interrupção do prazo para progressão de regime, em caso de progressão de regime. Por isso, há
uma incoerência bastante flagrante na jurisprudência nesse ponto.
Por essa razão, a súmula 534 do STJ é duramente criticada por uma parte da doutrina.
De início, saliento que não há relação entre a competência da Justiça Federal pelo processo
criminal e o cumprimento da pena no sistema penitenciário federal. Com efeito, em regra, o
cumprimento da pena, seja qual foi o juízo competente pelo processo criminal (federal ou estadual),
é do sistema penitenciário estadual.
Na verdade, quem é incluído no sistema penitenciário federal é aquele preso mais perigoso,
pois as penitenciárias federais são consideradas de segurança máxima. Nesse sentido, o art. 3, da
Lei n. 11.671, preconiza que quem vai para a penitenciária federal é o preso que justifica a medida
no interesse da segurança pública ou do próprio preso.
Em razão disso, muitas vezes, o RDD é substituído pela transferência do preso para o sistema
penitenciário federal.
Portanto, é inocente pensar que a progressão de regime seja uma ideia progressista. Na
verdade, hoje, neoretibucionistas imaginam e propõem um sistema não progressivo, em que as
penas são bem menores, mas os apenados cumprem a pena inteira no cárcere. No Brasil, essa
ideia fatalmente seria desvirtuada, resultando mais provavelmente em maiores penas e abandono
do sistema progressivo.
2. Regimes de pena
O Código Penal prevê três tipos de regime: fechado, semiaberto e aberto. A diferença entre
os regimes é o local em que o apenado cumpre a pena:
c) Aberto: o apenado cumpre a pena em liberdade durante o dia e repousa durante a noite
em Casas de Albergado.
Destarte, se a pena aplicada na sentença for superior a 8 anos, o regime inicial será o
fechado, seja o réu primário ou reincidente.
Por sua vez, se a pena for superior a 4 anos e igual ou inferior a 8 anos, deve-se analisar se
o réu é primário ou reincidente. Se for primário, o regime é o semiaberto; se reincidente, o regime
é o fechado.
Por fim, se a pena for igual ou inferior a 4 anos e o réu for primário, o regime é o aberto. Se
o réu for reincidente, em tese, de acordo com a lei, o regime adequado seria o fechado. Contudo, a
súmula 269 do STJ autoriza que neste último caso, se as circunstâncias forem favoráveis, o juízo
pode fixar o regime inicial semiaberto.
ATENÇÃO – Se o regime fixado na sentença foi mais gravoso do que o devido, sem
fundamentação idônea para tanto, o juízo da execução penal pode retificar o regime, fixando o
mais adequado e menos rigoroso?
De acordo com uma parte da doutrina, SIM. Isso não é considerado como uma violação da
coisa julgada, porque o artigo 66 da LEP autoriza ao juízo da execução penal readequar o regime de
pena.
a) Objetivo ou Temporal: o preso precisa cumprir uma parte da pena para poder progredir
de regime.
Antes da Lei n. 13.964/19, o requisito objetivo era previsto no art. 112, §3º, LEP, de modo
que para crimes comuns, a fração para progressão de regime era de 1/6 da pena, seja o condenado
primário ou reincidente. Por sua vez, o condenado por crime hediondo ou equiparado precisava
cumprir 2/5 da pena, se primário; e 3/5 da pena, se reincidente. Por fim, em caso de mulher
gestante ou mãe de criança ou pessoa com deficiência, precisa cumprir a fração de 1/8 da pena,
mesmo que se trate de crime hediondo ou equiparado.
Além disso, a segunda progressão tem como data base para o cálculo o dia em que o
apenado fez jus à progressão de regime para o semiaberto, e não a data em que ele efetivamente
mudou de regime após autorização judicial. Isso porque a decisão judicial e a efetiva transferência
para o novo regime podem demorar muito e isso não é culpa do apenado, de modo que ele não
pode ser punido por essa demora. Não bastasse isso, a decisão do juízo é meramente declaratória,
e não constitutiva (HC 115254, STF).
É importante lembrar que a redação original da Lei dos crimes hediondos proibia a
progressão de regime, de modo que o cumprimento da pena seria em regime integralmente
fechado. Todavia, o STF declarou esse dispositivo inconstitucional, por violar o princípio da
individualização da pena.
Além disso, apenas em 2007, com a Lei 11.464/07, houve alteração da Lei dos Crimes
Hediondos para prever que a progressão só ocorreria com o cumprimento das frações de 2/5 e 2/5.
Portanto, para os condenados por crimes hediondos praticados antes de Março de 2007 (início da
vigência da lei), a fração do requisito objetivo é de 1/6, conforme a súmula 471 do STJ.
Obs.: Ainda fica uma última dúvida: a reincidência que justifica a aplicação da fração de 3/5
como requisito objetivo para os crimes hediondos é a reincidência comum ou específica em crimes
hediondos?
O entendimento majoritário é que se deve aplicar a fração de 3/5 ainda que a reincidência
não seja específica em crimes hediondos.
CRÍTICA - Todavia, esse entendimento é bastante criticável, porque não é proporcional que
o reincidente comum seja tratado da mesma forma que o reincidente específico em crimes
hediondos. Não bastasse isso, ROIG defende que há uma violação do direito à segunda progressão,
porque a fração de 3/5 é tão alta que acaba por inviabilizar a segunda progressão - do semiaberto
para o aberto.
De qualquer forma, imagine que o réu tenha sido condenado pela primeira vez por um crime
hediondo, e antes de terminar o cumprimento da pena, ele pratica um crime comum e é condenado
por ele. Veja que em relação ao segundo crime, o acusado era reincidente. Todavia, a fração, por se
tratar de crime comum, é de 1/6. Ocorre que muitas vezes utiliza-se a segunda condenação para
aumentar a fração da primeira condenação para 3/5. Isso não faz o menor sentido, porque ocasiona
retroatividade indevida do status de reincidência para atingir condenação passada, quando o réu
ainda era primário. Portanto, em hipótese alguma, poder-se-ia admitir a retroação do status de
reincidente para agravar a fração aplicável a uma pena cuja condenação ocorreu como réu primário.
CUIDADO – Requisito objetivo misto: quando houver mais de uma fração, ou seja,
pluralidade de condenações abrangendo crime comum e crime hediondo, é necessário proceder ao
cálculo diferenciado ou discriminado. Ex.: João recebe uma pena de 12 anos por crime comum. E
também recebe uma pena de 15 anos por crime hediondo. Em ambos, como primário. A pena total
é de 27 anos, mas qual a fração para pedir a progressão de regime?
Deve-se calcular a fração de 1/6 sob a pena de 12 anos; e 2/5, sob a pena de 15 anos; logo,
a fração para progressão é de 8 anos.
Ainda sobre o requisito misto, no caso de concurso formal de crimes ou continuidade
delitiva (com exasperação da pena), quando há um crime comum e um crime hediondo, embora
somente o resultado final seja informado no processo de execução (pena exa cerbada), será
necessário olhar cuidadosamente a sentença condenatória e proceder ao cálculo discriminado, pois
não é correto aplicar a fração maior (2/5 ou 3/5) também sobre a pena do crime comum.
b) Subjetivo ou Disciplinar: o art. 112 exige que o preso ostente bom comportamento
carcerário, atestado pela direção do estabelecimento, para que possa progredir de regime. Esse é,
portanto, o requisito subjetivo ou disciplinar da progressão de regime.
Art. 112, § 1º. Em todos os casos, o apenado só terá direito à progressão de regime
se ostentar boa conduta carcerária, comprovada pelo diretor do estabelecimento,
respeitadas as normas que vedam a progressão. (Redação dada pela Lei nº 13.964,
de 2019)
Não obstante a lei não mais prever o exame criminológico como requisito para a progressão,
a jurisprudência entende que ele não foi vedado; na verdade, ele passou a ser facultativo, ou seja,
o juízo ainda pode determinar a realização do exame, fundamentadamente. Nesse sentido, foram
editadas a súmula 439 do STJ e a SV 26 do STF.
“Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com
a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o
preso tiver cumprido ao menos:
I - 16% (dezesseis por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver
sido cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça;
II - 20% (vinte por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido
sem violência à pessoa ou grave ameaça;
III - 25% (vinte e cinco por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime
tiver sido cometido com violência à pessoa ou grave ameaça;
IV - 30% (trinta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime
cometido com violência à pessoa ou grave ameaça;
V - 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de
crime hediondo ou equiparado, se for primário;
VI - 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for:
a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado
morte, se for primário, vedado o livramento condicional;
b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização
criminosa estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado; ou
c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada;
VII - 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de
crime hediondo ou equiparado;
VIII - 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime
hediondo ou equiparado com resultado morte, vedado o livramento condicional.
§ 1º Em todos os casos, o apenado só terá direito à progressão de regime se
ostentar boa conduta carcerária, comprovada pelo diretor do estabelecimento,
respeitadas as normas que vedam a progressão.
§ 2º A decisão do juiz que determinar a progressão de regime será sempre motivada
e precedida de manifestação do Ministério Público e do defensor, procedimento
que também será adotado na concessão de livramento condicional, indulto e
comutação de penas, respeitados os prazos previstos nas normas vigentes.
.............................................................................................
§ 5º Não se considera hediondo ou equiparado, para os fins deste artigo, o crime
de tráfico de drogas previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto
de 2006.
§ 6º O cometimento de falta grave durante a execução da pena privativa de
liberdade interrompe o prazo para a obtenção da progressão no regime de
cumprimento da pena, caso em que o reinício da contagem do requisito objetivo
terá como base a pena remanescente.
§ 7º (VETADO).” (NR)
Portanto, vejam que as alterações foram profundas, já que antes não havia distinção entre
o condenado primário e reincidente por crime comum, no que toca à progressão – fração de um
1/6; da mesma forma, não havia diferença entre a fração para crime com violência ou grave ameaça
à pessoa e crime sem violência ou grave ameaça – fração de 1/6; por fim, não havia diferença entre
os crimes hediondos, se tivessem ou não resultado morte – fração de 2/5 ou 3/5.
Se o crime for comum e praticado sem violência ou grave ameaça à pessoa, e o condenado
for primário, sua progressão dar-se-á após o cumprimento de 16% de sua pena. De início, ressalto
que essa porcentagem é MELHOR que o 1/6 anterior, pois 1/6 equivale a aproximadamente 16, 666;
logo, como regra penal mais favorável, deve retroagir para beneficiar os réus atualmente presos e
que se enquadrem nesse perfil (a meu ver).
Por outro lado, se o condenado for reincidente, mas o crime foi praticado sem violência ou
grave ameaça, a porcentagem passa a ser de 20%. Veja que aqui temos regra mais gravosa para o
réu, já que anteriormente, ele precisaria cumprir apenas 1/6 da pena. Portanto, não pode retroagir
para alcançar os crimes praticados antes do dia 23.01.2020.
Já o condenado primário, mas que praticou crime com violência ou grave ameaça, terá que
cumprir 25% da pena para progredir de regime. Logo, também há regra mais gravosa, já que antes
bastava cumprir 1/6 da pena. Dessa forma, trata-se de norma irretroativa.
Por sua vez, o condenado reincidente e que praticou crime com violência ou grave ameaça
terá que cumprir 30% da pena para progredir. Desse modo, também temos regra bem mais gravosa
e, portanto, irretroativa.
No que toca aos crimes hediondos sem resultado morte, se o condenado for primário, ele
terá que cumprir 40% da pena para progredir de regime. Aqui, não houve nenhuma alteração,
porque esse réu tinha que cumprir 2/5 para progredir antes; e 2/5 é justamente 40%.
De outro turno, se o apenado for primário, mas condenado por crime hediondo com
resultado morte, terá que cumprir 50% da pena. Da mesma forma, precisa cumprir 50% da pena o
condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa estruturada
para a prática de crime hediondo ou equiparado e o condenado pela prática do crime de
constituição de milícia privada.
Por sua vez, se o condenado for reincidente em crime hediondo ou equiparado, terá que
cumprir 60% da pena, que equivale aos 3/5 antes previstos. Todavia, aqui, temos uma regra mais
benéfica ao réu, porque antigamente se entendia que a exigência de 3/5 valia para o condenado
por crime hediondo, fosse ele reincidente comum ou específico. Agora, a lei deixou claro que apenas
o condenado reincidente específico em crime hediondo terá que cumprir 60%; por consequência, o
condenado por crime hediondo, mas reincidente comum, terá que cumprir apenas 40% ou 50% a
depender do caso.
Por fim, o condenado terá que cumprir 70% da pena se o apenado for reincidente específico
em crime hediondo ou equiparado com resultado morte. Mais uma vez, portanto, temos uma
reincidência específica.
Em qualquer caso, além de cumprir o requisito objetivo – porcentagem –, o condenado
também deve apresentar bom comportamento carcerário, o que representa o requisito subjetivo.
O §1º apresenta a ressalva das normas que vedam a progressão, porém não há nenhuma hipótese
de vedação legal de progressão, até porque essa vedação abstrata, conforme já decidiu o STF (caso
dos crimes hediondos) é inconstitucional, por violar o princípio da individualização da pena.
Obs.: Os §3º e 4º do art. 122 da LEP, que tratam da progressão de regime para a mulher
grávida ou mãe de criança, foram mantidos. Logo, o requisito temporal é de 1/8, desde que
respeitados os demais requisitos legais.
O §5º do art. 122 deixa claro agora que o crime de tráfico privilegiado não é con siderado
hediondo, de modo que o condenado por tal crime deverá cumprir apenas 16% ou 20% da pena, a
depender se for primário ou reincidente, já que esse crime não apresenta violência ou grave ameaça
à pessoa.
Por fim, o §6º consolida o entendimento dos Tribunais Superiores, no sentido de que a falta
grave interrompe a progressão de regime, conforme súmula 534 do STJ. O novo prazo para a
progressão, contudo, será calculado de acordo com a pena remanescente, por óbvio, para evitar o
bis in idem. O que muda é apenas a data base para contagem da progressão, pois antes era a data
da prisão, e agora é a data da prática da falta grave.
a) Crimes contra a Administração Pública: além dos requisitos objetivos e subjetivos, exige-
se a reparação do dano ou a devolução do produto do crime para que o apenado obtenha a
progressão de regime, salvo em caso de impossibilidade de fazê-lo, conforme art. 33, §4º, CP).
Uma primeira corrente defende que não, na medida em que não há previsão legal que
estabeleça o pagamento da pena de multa como requisito da progressão de regime. Os conceitos
de reparação do dano e o de devolução do produto do crime, tratados acima, são muito distintos
da pena de multa, que é aplicada cumulativamente à pena privativa de liberdade.
Art. 115. O Juiz poderá estabelecer condições especiais para a concessão de regime
aberto, sem prejuízo das seguintes condições gerais e obrigatórias:
I - permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias de folga;
II - sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados;
III - não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial;
IV - comparecer a Juízo, para informar e justificar as suas atividades, quando for
determinado.
De se notar que é inadmissível a fixação de PRD como condição especial ao regime aberto,
como prestação de serviço à comunidade. Esse é o entendimento sumulado do STJ – Súmula 493 -,
baseado na proporcionalidade; não é razoável que o juízo fixe uma PRD para que o apenado possa
progredir ao regime aberto.
A progressão per saltum é aquela que ocorre do regime fechado diretamente para o regime
aberto, sem passar pelo regime semiaberto. É comum, quando não se percebe que o apenado já fez
jus à progressão para o semiaberto, e quando finalmente o sistema se dá conta de que ele já atingiu
os requisitos, na verdade, ele já cumpriu o tempo suficiente para progredir para o regime aberto.
Contudo, o STJ entende, inclusive com enunciado sumulado – Súmula 491 -, que é
inadmissível a progressão per saltum.
Ocorre que esse entendimento é muito criticado, porque não há nenhuma disposição legal
que preveja a interrupção do prazo de progressão em caso de cometimento de falta grave. Portanto,
o entendimento jurisprudencial viola o princípio da reserva legal (art. 95, LEP).
Pois bem, a Constituição Federal proíbe qualquer tipo de pena perpétua. Por essa razão, o
limite máximo de cumprimento de pena é de 40 anos, conforme o art. 75 do CP (alterado pela Lei
n. 13.964/19).
Diante disso, surgiu a seguinte questão: quanto à pessoa que é condenada por pena superior
a 40 anos (antes, eram 30 anos), seus cálculos de progressão de regime, assim como os demais
direitos da execução, devem ser feitos com base na pena total aplicada ou na pena máxima que
pode ser cumprida – 40 anos?
Uma primeira corrente, minoritária, defende que os cálculos devem tomar por base a pena
máxima que pode ser cumprida – 40 anos. Isso porque, pessoas que recebem penas muito altas
podem acabar cumprindo o limite máximo, 40 anos, sem progredir nenhuma vez sequer. Isso
violaria o sistema progressivo da execução penal, assim como a finalidade de “ressocialização”. Da
mesma forma, seria um modo de cumprimento integral da pena em regime fechado, o que já foi
vedado pelo STF algumas vezes.
Súmula 715, STF. A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de
cumprimento, determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a
concessão de outros benefícios, como o livramento condicional ou regime mais
favorável de execução.
Com efeito, o art. 4, §5º, da Lei n. 12.859/13, preconiza que se a colaboração premiada dor
feita depois da sentença, a pena pode ser reduzida até a metade ou será admitida a progressão de
regime ainda que ausentes os requisitos objetivos.
9. Progressão de regime para estrangeiros
O preso estrangeiro com pedido de extradição deferido também tem direito à progressão de
regime, desde que a prisão para fins de extradição tenha as suas condições adaptadas ao regime
adequado de execução da pena.
Na verdade, até mesmo o preso estrangeiro em situação irregular, ou seja, já com pedido ou
decreto de expulsão, tem direito à progressão de regime e ao livramento condicional, sendo
possível, de qualquer forma, a adoção de medidas acautelatórias, como o monitorame nto
eletrônico.
Se não há falta grave, porém, a progressão de regime deve ser deferida, inclusive com
alteração da data-base para que já inicie o cumprimento da fração para a próxima progressão, ao
regime aberto.
a) O condenado pratica fato definido como crime doloso ou falta grave: como vimos, não
se exige o trânsito em julgado da sentença condenatória, para imposição da falta grave e da
regressão de regime;
Art. 145. Praticada pelo liberado outra infração penal, o Juiz poderá ordenar a sua
prisão, ouvidos o Conselho Penitenciário e o Ministério Público, suspendendo o
curso do livramento condicional, cuja revogação, entretanto, ficará dependendo da
decisão final.
Diferentemente do processo civil, em que a pessoa pode ser executada em vários processos
distintos, no processo penal, todas as condenações devem ser reunidas em um único processo,
operando-se, nesse caso, a soma ou unificação de penas.
A previsão legal do procedimento reside no artigo 111 da LEP, bem como no art igo 75 do
Código Penal. Nos dois dispositivos, a Lei deixa claro que a soma ou unificação tomará como base a
pena remanescente da primeira condenação, ou seja, serão somadas a pena remanescente da
primeira condenação com a pena da nova condenação.
Art. 111. Quando houver condenação por mais de um crime, no mesmo processo
ou em processos distintos, a determinação do regime de cumprimento será feita
pelo resultado da soma ou unificação das penas, observada, quando for o caso, a
detração ou remição.
Parágrafo único. Sobrevindo condenação no curso da execução, somar-se-á a pena
ao restante da que está sendo cumprida, para determinação do regime.
Ex.: Zé foi condenado a 5 anos de prisão; quando já havia cumprido 1 ano de pena; sobreveio
nova condenação à pena de 3 anos. A unificação das penas será o resultado da soma da pena
remanescente – 4 anos -, com a nova pena de 3 anos; e não, a primeira pena total de 5 anos com a
segunda pena de 3 anos.
De se notar que essas regras são específicas para fins de cálculo da progressão de regime,
como também ressaltam os dispositivos legais.
Como já dissemos, a execução provisória pro reo é aquela que possibilita à pessoa presa,
antes do trânsito em julgado, enquanto recorre, o acesso aos direitos da execução penal, como
progressão de regime e livramento condicional.
Dessa forma, se uma pessoa já está cumprindo pena por uma condenação e recebe nova
condenação, com guia provisória, é possível pedir a unificação provisória da pena.
i) Unificação das penas: a PRD é convertida em PPL e a pena convertida será somada à outra
pena privativa de liberdade;
ii) Cumprimento simultâneo: o réu cumpre ao mesmo tempo a PPL e a PRD;
iii) Cumprimento sucessivo: primeiro, o réu cumpre a PPL; e quando termina de cumprir
esta, passa a cumprir a PRD.
i) A pessoa está cumprindo a PRD e é condenada a uma pena privativa: o art. 44, §5º, CP,
estabelece que o juízo pode converter a PRD em pena privativa, mas pode deixar de converter se
for possível ao condenado cumprir a PRD simultaneamente à PPL. Para saber se é possível cumprir
a PRD e a PPL em concomitância, a jurisprudência tem adotado basicamente dois critérios – regime
de cumprimento de pena e tipo de PRD.
Nesse sentido, se o réu foi condenado ao regime aberto, ele poderia cumprir a PRD
simultaneamente; no regime semiaberto, também seria possível cumprir o PRD, se o condenado
está cumprindo a pena em monitoração eletrônica; no regime fechado, o condenado não poderia
cumprir a PRD da prestação de serviços à comunidade, por exemplo. Nesse último caso, o juízo
poderia converter a PRD em PPL ou autorizar que o apenado cumpra a PRD após terminar de
cumprir a PPL.
ii) A pessoa está cumprindo uma PPL e é condenado a uma PRD: nesse caso, não há previsão
legal, logo, não há base legal para a conversão da PRD em PPL. Porém, há divergência na
jurisprudência. Acaba-se analisando a hipótese de conversão, também tendo por critérios a
modalidade de PRD e o regime de cumprimento da pena.
4. Unificação das penas e nova data-base para progressão de regime
O STJ decidiu, no Info 621 e no Info 644, que a alteração da data-base para concessão de
novos benefícios executórios, em razão da unificação das penas, não encontra respaldo legal.
Assim, não se pode desconsiderar o período de cumprimento de pena desde a última prisão
ou desde a última infração disciplinar, seja por delito ocorrido antes do início da execução da pena,
seja por crime praticado depois e já apontado como falta disciplinar grave. Se isso for
desconsiderado, haverá excesso de execução.
Se o reeducando está cumprindo pena e surge uma nova condenação, haverá a soma ou
unificação das penas. É o que prevê o art. 111, parágrafo único da LEP:
Art. 111 (...) Parágrafo único. Sobrevindo condenação no curso da execução, somar-
se-á a pena ao restante da que está sendo cumprida, para determinação do regime.
Não existe, contudo, previsão legal de que o simples fato de ter havido a unificação das penas
signifique que deverá haver alteração da data-base para novos benefícios. Não existe determinação
legal nesse sentido. Assim, haverá a unificação, mas sem nova interrupção do tempo necessário
para a obtenção de progressão de regime, por exemplo.
Em suma, a superveniência do trânsito em julgado não pode ser novo marco interruptivo,
sob pena de um mesmo fato repercutir duas vezes sobre a execução, sem que haja justifica tiva
plausível, em evidente excesso de execução.
LIVRAMENTO CONDICIONAL
1. Introdução
Esse instituto é muito antigo e comum em vários ordenamentos jurídicos pelo mundo.
Porém, historicamente, o livramento condicional havia sido pensado como uma quarta etapa do
sistema progressista. Contudo, no Brasil, o livramento é instituto autônomo em relação à
progressão, não representando etapa do sistema progressivo. Na verdade, é possível até mesmo
que um apenado que está cumprindo pena em regime fechado faça jus ao livrament o.
2. Base normativa
O Código Penal prevê o livramento condicional entre os artigos 83 e 90. Por sua vez, a Lei de
Execução Penal prevê o regramento do instituto entre os artigos 131 e 146.
Importante observar que o art. 83, caput, do CP limita o livramento aos condenados por
penas superiores a 2 anos. Isso porque a suspensão da pena seria aplicável nas condenações
inferiores a 2 anos. Todavia, não é proporcional e nem razoável tratar de forma pior quem recebeu
pena inferior a 2 anos, enquanto se trata de forma melhor, possibilitando o livramento, a quem
recebeu pena superior a 2 anos.
Portanto, boa parcela da doutrina e da jurisprudência critica esse dispositivo, por violar os
princípios da proporcionalidade e da isonomia.
3. Requisitos
a) Mais de um terço da pena: se o condenado não for reincidente em crime doloso e tiver
bons antecedentes, tratando-se de crime comum;
b) Mais da metade da pena: se o condenado for reincidente em crime doloso tratando-se
de crime comum;
Obs.: O art. 44 da Lei de Drogas prevê que para os crimes previstos nos artigos 33, caput c/
§1º, e 34 a 37 da LD, o livramento só se dá com o cumprimento de 2/3 da pena. Contudo, o STJ já
decidiu que essa regra do art. 44 não torna os crimes do 34 ao 37 hediondos. Ademais, é possível
defender que em relação ao crime do art. 33, §4º - tráfico privilegiado -, não se aplica a fração de
2/3, já que não se trata de crime hediondo.
CUIDADO – Data-base: não é alterada pelo cometimento de falta grave, forte na súmula 441
do STJ; e, por regra específica do art. 84, CP, não é alterada na unificação de penas. Ou seja: no caso
de condenação superveniente em razão do cometimento de novo crime, as penas são somadas,
mantendo-se a data-base na primeira prisão (salvo se o novo crime tiver sido cometido durante o
período de prova, pois nesse caso se aplica o art. 88 do CP).
II – Reparação do dano: a lei deixa claro que a exigência da reparação do dano deve ser
analisada caso a caso, porque estabelece que ela será um requisito, salvo na impossibilidade de
efetuá-la. Portanto, por si só, a reparação do dano não será empecilho para a concessão do
livramento, ainda mais porque a população carcerária, em regra, é muito pobre, de modo que não
possui condições financeiras de reparar o dano à vítima.
III – Requisito subjetivo/disciplinar: o preso também deve apresentar bom comportamento
carcerário durante a execução da pena; bom desempenho no trabalho; e aptidão para prover à
própria subsistência mediante trabalho honesto.
Ocorre que a lei não deixou claro se o bom comportamento carcerário deve existir durante
toda a execução da pena, desde o início, ou se nos últimos meses. Nesse sentido, o STJ entendeu
ser ilegal limitar a análise desse requisito aos últimos seis meses de execução da pena. Por outro
lado, como a CF não admite penas perpétuas, qualquer efeito penal ou disciplinar deve ter um lapso
temporal determinado de duração, não podendo faltas graves gerarem efeitos indefinidamente.
ATENÇÃO MÁXIMA – Lei n. 13.964/19 (Pacote Anticrime): a lei alterou o art. 83 do CP, mais
especificamente em seu inciso III, passando a prever que o requisito subjetivo ou disciplinar significa
a comprovação de comportamento durante a execução da pena; não cometimento de falta grave
nos últimos 12 meses; o bom desempenho do trabalho; e a aptidão para prover a própria
subsistência.
Perceba, portanto, que a real mudança em relação à redação antiga é a menção expressa ao
não cometimento de falta grave nos últimos 12 meses. Portanto, a discussão doutrinária e
jurisprudencial acerca do prazo para comprovação do bom comportamento deve ser resolvida com
o novo inciso III, b, ou seja, o bom comportamento será resultado do não cometimento de falta
grave nos últimos 12 meses.
Além disso, o livramento condicional foi VEDADO para os condenados por crimes
hediondos com resultado morte, sendo o condenado primário ou reincidente, conforme artigo 112,
VI, a, e VII, da LEP.
Por sua vez, são condições facultativas que o juízo pode aplicar também:
5. Período de prova
Nesse sentido, o STJ entendeu no HC 271.907/SP que o liberado condicional não pratica falta
grave, porque é egresso e não se subordina ao sistema disciplinar da LEP, não podendo haver perda
de dias remidos, sem prejuízo da revogação do livramento.
7. Revogação do livramento
O art. 140 da LEP diz que a revogação do livramento se dá nos moldes dos artigos 86 e 87 do
CP. O artigo 86 traz as hipóteses de revogação obrigatória, que ocorre quando:
Ex.: João cumpre pena total de 15 anos de reclusão por crime comum. Após cumprir 1/3 da
pena, sai em livramento condicional. Cinco anos depois, sobrevém condenação por um segundo
delito, a mais 10 anos de reclusão. Como fica a situação em dois cenários: o segundo delito foi
cometido durante o período de prova do livramento? O segundo delito havia sido cometido antes
da entrada em livramento?
No primeiro caso, o segundo delito foi cometido durante o período de prova, de modo que
os 5 anos transcorridos durante o período de prova são desconsiderados. Não bastasse isso, não é
possível pedir novo livramento condicional nessa primeira pena. Ou seja, deve concluir a primeira
pena (10 anos restantes) para iniciar a contagem da fração pleitear livramento pela segunda pena.
Por outro lado, no segundo cenário, em que o segundo delito foi cometido antes da entrada
em livramento, os 5 anos transcorridos durante o período de prova são considerados. Ademais, é
possível pedir novo livramento em relação à primeira condenação. Sendo assim, a data-base segue
sendo na primeira prisão. João tem 10 anos de pena cumpria de uma pena total de 25 anos. Ainda
que o livramento seja revogado, em breve poderá pedir novamente.
Por sua vez, a revogação facultativa ocorre quando o liberado deixa de cumprir quaisquer
das condições impostas ou se o liberado for condenado definitivamente por crime ou contravenção
a pena que não seja privativa de liberdade (PRD ou multa).
Art. 145. Praticada pelo liberado outra infração penal, o Juiz poderá ordenar a sua
prisão, ouvidos o Conselho Penitenciário e o Ministério Público, suspendendo o
curso do livramento condicional, cuja revogação, entretanto, ficará dependendo da
decisão final.
De qualquer forma, enquanto a sentença do novo crime não transitar em julgado, a pena
não pode ser extinta ao final do período de prova. A isso se chama de prorrogação do período de
prova.
ATENÇÃO – Uma postura mais cautelosa do juízo seria não suspender o livramento com a
mera notícia da prática de novo crime pelo liberado. Na verdade, o melhor seria suspender o
livramento apenas se o liberado for preso preventivamente.
9. Extinção da pena
De acordo com o art. 146, da LEP, o juízo extingue a pena privativa de liberdade, se expirar
o prazo do período de prova sem revogação.
No mesmo sentido, a Súmula 617 do STJ enuncia que a ausência de suspensão ou revogação
do livramento condicional antes do término do período de prova enseja e extinção da punibilidade
pelo integral cumprimento da pena.
E quando há notícia tardia de fato que foi praticado antes do fim do período de prova?
O fato foi praticado ainda no período de prova, mas a notícia só chega após o seu fim. Nesse
caso, prevalece que a pena será extinta, porque a decisão da extinção é meramente declaratória;
logo, findo o período de prova sem revogação ou suspensão antes disso, a pena está extinta, sendo
a decisão meramente declaratória, e não constitutiva.
AUTORIZAÇÕES DE SAÍDA
1. Introdução
Autorizações de saída é um gênero que contém duas espécies: permissão de saída e saída
temporária.
A permissão de saída está prevista no art. 120 da LEP, sendo admissível tanto no regime
fechado, como no semiaberto e até mesmo para os presos provisórios. Além disso, a permissão de
saída é autorizada pela própria direção do estabelecimento penal, porque tem caráter muito mais
urgente e humanitário.
Portanto, a permissão é autorizada pela própria direção do presídio, pelo tempo que for
necessário no caso particular. Em qualquer caso, o preso sairá com escolta.
3. Saída temporária
a) Visita à família: aqui, família se entende como entidade familiar, constituída por união
estável ou, na ausência desses, eventual círculo de pessoas íntimas que guardem para com o sujeito
relações de igual teor;
3.2. Requisitos
Art. 123. A autorização será concedida por ato motivado do Juiz da execução,
ouvidos o Ministério Público e a administração penitenciária e dependerá da
satisfação dos seguintes requisitos:
I - comportamento adequado;
II - cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena, se o condenado for primário,
e 1/4 (um quarto), se reincidente;
III - compatibilidade do benefício com os objetivos da pena.
a) Comportamento adequado;
b) Cumprimento mínimo de 1/6 da pena se o condenado for primário, e 1/4, se reincidente:
nesse caso, é pacífica a aplicação da Súmula 40 do STJ. Se a pessoa veio do regime fechado, o tempo
que ela ficou no fechado e usou para progredir ao semiaberto é aproveitado para obter a saída
temporária. Por outro lado, se o regime inicial é semiaberto, também não se exige o cumprimento
do requisito objetivo, por questões de isonomia. Por essas razões, na prática, o requisito temporal
não é exigido para a concessão da saída temporária.
Essa questão é polêmica. O STJ possui entendimento no sentido de que a falta grave irá
interromper o prazo para saída temporária (HC 374.086/DF). Todavia, o mesmo STJ também possui
entendimento no sentido de que a prática de falta grave NÃO interrompe o prazo para saída
temporária (AgRg no REsp 1549712/DF). De qualquer forma, é de se notar que não há qualquer
previsão legal para essa interrupção.
ATENÇÃO MÁXIMA – Lei n. 13.964/19 (Pacote Anticrime): a lei trouxe uma vedação para
saída temporária para o condenado por crime hediondo com resultado morte, acrescentando o §2º
ao artigo 112, como se vê:
§ 2º Não terá direito à saída temporária a que se refere o caput deste artigo o
condenado que cumpre pena por praticar crime hediondo com resultado morte.
CRÍTICA - Ora, esse parágrafo representa violação ao princípio da individualização da pena,
pois traz uma regra geral de vedação, sem considerar o caso concreto. Como entendeu o STF para
a vedação genérica de progressão de regime para os crimes hediondos, a norma é inconstitucional,
quando não traz vedação genérica relativa ao crime em si, e não a característica pessoal do
condenado. Logo, o §2º, a meu ver, é inconstitucional.
Ocorre que os vários pedidos de saída temporária feitos no mesmo período ao juízo da
execução penal podem acarretar o atraso no deferimento do pedido e atrapalhar o regular serviço
do juízo. Por essa razão, começou-se a questionar se o juízo da execução penal poderia delegar a
concessão da saída temporária à direção do presídio.
O STJ editou a súmula 520, enunciando que a saída temporária é ato jurisdicional insuscetível
de delegação à autoridade administrativa do estabelecimento prisional.
Por sua vez, o STF, no HC 128763, decidiu que um único ato judicial poderia estabelecer um
calendário de saídas temporárias, desde que em decisão fundamentada e passível de revisão no
caso de falta disciplinar posterior.
Diante disso, o STJ reviu seu posicionamento, passando a entender que é recomendável que
cada autorização de saída seja precedida de decisão judicial motivada. Porém, se a apreciação
individual do pedido estiver interferindo no direito subjetivo do apenado, deve ser reconhecida
excepcionalmente a possibilidade de fixação de calendário anual de saídas temporárias, por ato
judicial único. Todavia, o calendário deve ser fixado pela autoridade judiciária, não podendo ser
delegado à direção do presídio.
Segundo a lei, o preso poderia ter direito a até 5 saídas temporárias no ano; sendo que cada
uma das saídas teria até 7 dias. Portanto, no total, seriam 35 dias no ano, com intervalo mínimo de
45 dias entre uma saída e outra (art. 124 da LEP).
Art. 124. A autorização será concedida por prazo não superior a 7 (sete) dias,
podendo ser renovada por mais 4 (quatro) vezes durante o ano.
§ 1o Ao conceder a saída temporária, o juiz imporá ao beneficiário as seguintes
condições, entre outras que entender compatíveis com as circunstâncias do caso e
a situação pessoal do condenado:
I - fornecimento do endereço onde reside a família a ser visitada ou onde poderá
ser encontrado durante o gozo do benefício;
II - recolhimento à residência visitada, no período noturno;
III - proibição de frequentar bares, casas noturnas e estabelecimentos congêneres.
§ 2o Quando se tratar de frequência a curso profissionalizante, de instrução de
ensino médio ou superior, o tempo de saída será o necessário para o cumprimento
das atividades discentes.
§ 3o Nos demais casos, as autorizações de saída somente poderão ser concedidas
com prazo mínimo de 45 (quarenta e cinco) dias de intervalo entre uma e outra.
Por outro lado, quando a saída temporária se destinar a estudo, o tempo de saída será o
necessário para o cumprimento das atividades.
Em que pese o regulamento lega, o STJ admite que sejam concedidas mais saídas
temporárias, além das 5 permitidas por lei, desde que sejam de curta duração, de modo a respeitar
o limite anual de 35 dias. Nesse caso, se forem concedidas mais saídas temporárias de curta
duração, não se exige a observância do intervalo mínimo de 45 dias entre uma saída e outra.
O art. 125 da LEP traz as hipóteses de revogação da saída temporária, quando o condenado:
REMIÇÃO DE PENA
1. Introdução
Inicialmente, a remição era motivada apenas pelo trabalho; porém ao longo do tempo a
remição pelo estudo passou a ser aceitada pelos Tribunais. Em 2011, finalmente, a remição pelo
estudo passou a ser expressamente prevista na LEP.
A remição pelo trabalho vem prevista no art. 126, LEP, de modo que a cada 3 dias de
trabalho, há a remição de um dia de pena; para os presos em regime fechado e semiaberto. Por
outro lado, não há remição pelo trabalho ao preso em regime aberto, porque o trabalho já é
considerado uma obrigação do preso nesse regime.
Além disso, a jornada mínima de trabalho diário deve ser de 6 horas para que aquele dia
possa ser considerado para remição. Se a jornada for inferior a 6 horas por dia, em tese, o dia não
deveria ser considerado para fins de remição. Todavia, se a jornada foi inferior a 6 horas por
determinação da direção da unidade, ou seja, se não foi culpa do preso, o dia deve ser considerado
normalmente.
Por outro lado, se o trabalho diário tiver jornada superior a 8 horas, será remido um dia de
pena para cada seis horas extras.
O trabalho não deveria ocorrer em domingos e feriados, mas o STJ admite que é possível a
designação de horário especial de trabalho aos presos designados para serviços de conservação e
manutenção. Nesse caso, a direção da unidade deve atestar o trabalho em domingos e feriados,
para fins de remição.
ATENÇÃO – É possível a remição por trabalho extramuros, conforme a Súmula 562 do STJ.
De se notar que a remição pelo estudo pode ser obtida pelos presos em regime fechado,
semiaberto e até mesmo aberto. Além disso, o apenado em liberdade condicional também faz jus
à remição pelo estudo.
Caso o preso conclua o ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento da
pena, o seu tempo remido pelo estudo será aumentado de 1/3. Trata-se de verdadeiro bônus para
aqueles presos que concluem os estudos.
Art. 126, § 5o O tempo a remir em função das horas de estudo será acrescido de
1/3 (um terço) no caso de conclusão do ensino fundamental, médio ou superior
durante o cumprimento da pena, desde que certificada pelo órgão competente do
sistema de educação.
ATENÇÃO – Caso o preso não esteja vinculado oficialmente a atividades regulares de ensino
no interior da unidade penal, mas estude por conta própria e obtenha aprovação no ENEM ou no
Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (ENCCEJA), a
Recomendação n. 44/2013 do CNJ indica que deve ser considerado como base de cálculo para
cômputo das horas de estudo, 50% da carga horária definida legalmente para cada nível de ensino.
Isso significa a contagem de 1600 horas para os anos finais do ensino fundamental e 1200 horas
para o ensino médio.
A remição pela leitura é mais moderna, mas já tem sido aceita pelos Tribunais, aplicando-se
inclusive no Sistema Penitenciário Federal. A remição pela leitura se dá na ordem de 4 dias de pena
remidos por mês a partir da leitura de 1 obra literária.
No Sistema Penitenciário Federal, a remição pela leitura é regulada pela Portaria 276 de
2012. O preso terá entre 21 e 30 dias para leu uma obra literária, apresentando nesse prazo uma
resenha que será submetida a critérios legais de avaliação. Nesse caso, será possível a remição de 4
dias de pena por mês, no limite de até 12 obras literárias e 48 dias remidos por ano.
Além da remição pela leitura, várias novas modalidades de remição têm sido aceitas pelos
Tribunais, como a remição pelo esporte; por atividades musicais; por participação em coral (RESP
1.666.637, STJ).
5. Regras gerais
De acordo com o art. 126, §3º, LEP, é possível a cumulação de casos de remição pelo
trabalho, pelo estudo e pela leitura, desde que haja compatibilidade de horário entre as atividades.
Art. 126, § 3o Para fins de cumulação dos casos de remição, as horas diárias de
trabalho e de estudo serão definidas de forma a se compatibilizarem.
Vale dizer ainda que os presos provisórios também podem se valer da remição, conforme o
art. 126, §7º, da LEP. Nesse caso, contudo, o trabalho é uma faculdade do preso provisório, e não
um dever. Se ele quiser trabalhar, a remição será posteriormente considerada na detração, caso ele
seja condenado.
O art. 127 da LEP preconiza que caso o preso pratique falta grave, o juízo da Execução Penal
pode revogar até 1/3 do tempo remido.
Art. 127. Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 (um terço) do tempo
remido, observado o disposto no art. 57, recomeçando a contagem a partir da data
da infração disciplinar.
Veja que a lei limita a perda até o patamar máximo de 1/3; logo, caso o juízo revogue no
patamar máximo, deve fundamentar adequadamente a razão de tal perda; se não há
fundamentação, a perda deve ser mínima. Nesse sentido, o STJ entendeu no HC 282.265/RS que
caracteriza coação ilegal a perda dos dias remidos na fração máxima de 1/3 sem fundamentação
concreta.
A Súmula Vinculante n. 09 enuncia que o art. 127 é constitucional; e ainda mais que não se
aplica o limite temporal máximo de 30 dias para suspensão de direitos do art. 58; logo, o preso pode
perder mais de 30 dias de remição.
SV 9, STF - O disposto no artigo 127 da Lei 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) foi
recebido pela ordem constitucional vigente, e não se lhe aplica o limite temporal
previsto no caput do artigo 58.
De qualquer forma, é evidente que a perda dos dias remidos só pode atingir período de
trabalho ou estudo anterior ao cometimento da infração disciplinar, até pela natureza premial do
instituto. É inadmissível, por consequência, que no ato de homologação judicial da falta grave,
decrete-se a perda de dias remidos obtidos depois da falta grave.
Havia duas correntes sobre a forma de cômputo da remição. Uma primeira corrente
defendia que deveria ser somado o tempo de pena remida ao tempo de pena já cumprida. Por sua
vez, a segunda corrente entende que o tempo de pena remida deveria ser subtraído do total da
pena aplicada.
Com efeito, o artigo 128 da LEP adotou a primeira corrente. Logo, o tempo de pena remida
será somado ao tempo de pena já cumprida.
Art. 128. O tempo remido será computado como pena cumprida, para todos os
efeitos.
A forma de contagem dos dias remidos tem consequências significativas no cálculo final do
requisito temporal exigido para outros direitos penitenciários.
A forma de cálculo adotada pelo art. 128 repercute sobre o quantum máximo de
cumprimento de pena – 40 anos, segundo o art. 75 do CP. Afinal, o quantum de pena remida será,
para todos os efeitos, pena cumprida, fazendo com que o condenado chegue ao tempo de 30 anos
de pena cumprida mesmo que não tenha, efetivamente, permanecido este tempo no cárcere.
8. Remição ficta
Trata das hipóteses em que não há oportunidade de trabalho ou estudo para o preso, porque
na unidade não há vagas suficientes para todos os presos nas oficinas de trabalho ou nas salas de
aula.
Ora, se o Estado não oferece a oportunidade, a culpa é do próprio Estado; logo, o preso faria
jus à remição, mesmo sem trabalhar e nem estudar. Todavia, os Tribunais Superiores não têm
aceitado essa tese.
Outra possibilidade seria a remição ficta diante do excesso na execução da pena, provocada
por superlotação carcerária, com condições degradantes de custódia, com base no art. 5, LXXV, que
garante a indenização do condenado pelo Estado, em caso de erro judiciário. Essa tese é muita
polêmica, mas vem sendo adotada em diversos países.
No mesmo sentido, a Corte Interamericana de Direitos Humanos decidiu que o Brasil deveria
arbitrar os meios para que, no prazo de 6 meses a contar da decisão, compute-se em dobro cada
dia de privação de liberdade cumprido no Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho, para todas as
pessoas ali alojadas, que não sejam acusadas de crimes contra a vida ou a integridade física, ou de
crimes sexuais, ou não tenham sido por eles condenadas. Isso porque as condições do cárcere no
IPPSC foram consideradas degradantes.
Por outro lado, nossos Tribunais Superiores não têm acatado a tese da remição da pena
como indenização. Na verdade, os Tribunais fixaram a tese de que o Estado deveria indenizar os
presos em dinheiro, caso fossem submetidos a condições degradantes no cárcere.
CRÍTICA – Muitos doutrinadores criticam a remição ficta, motivada pela submissão dos
presos a condições degradantes, porque estar-se-ia admitindo as condições desumanas, as torturas
e os maus tratos, em prol de diminuir a pena dos condenados.
2. Indulto coletivo
O indulto coletivo normalmente é editado no Natal, mas não há nenhum empecilho para
concessão do indulto em outras datas. Por exemplo, já houve indulto no dia das mães, destinado às
presas mães e gestantes.
A decisão do juízo da execução penal é meramente declaratória, de modo que não pode
haver a criação ou exigência de requisitos não previstos no decreto. Por isso, o juízo não pode exigir
a realização de exame criminológico para concessão do indulto ou comutação, caso este não tenha
sido previsto expressamente no decreto.
Da mesma forma, o juízo da execução penal não pode negar indulto ou comutação por conta
de falta grave praticada fora do período estabelecido pelo decreto, conforme entendeu o STJ no HC
266.280/SP.
Pelos mesmos motivos, a data de publicação do decreto é a única data -base legítima de
referência para aferição de todos os requisitos. Assim, todos os cálculos de indulto e comutação
devem tomar por base a data de publicação do decreto de indulto; e não a data da decisão do juízo
da execução penal que o declara.
MEDIDAS DE SEGURANÇA
1. Introdução
Não obstante seja melhor que o sistema dualista cumulativo, o sistema vicariante ainda
trabalha com o paradigma penal ou visão tutelar. Por sua vez, a Lei n. 10.216/01 traz uma nova
perspectiva – o paradigma da saúde ou antimanicomial.
Para muitos doutrinadores, a Lei n. 10.216/01 teria derrogado todos os dispositivos da Parte
Geral do Código Penal, assim como da LEP, concernentes às medidas de segurança. Mesmo que não
se chegue a tal conclusão, a conjugação das leis já produziria profundas transformações na
perspectiva sobre o tema.
Nesse sentido, o CNJ editou a Resolução n. 113/2010, pela qual, o juízo competente da
medida de segurança, sempre que possível, buscará implementar políticas antimanicomiais,
seguindo a sistemática da Lei n. 10.216.
Da mesma forma, a Recomendação n. 35/2011 do CNJ prioriza a execução da medida de
segurança em meio aberto, visando manter e fortalecer os laços sociais e familiares do paciente.
Com efeito, mesmo em caso de internação, esta deve ocorrer na rede de saúde pública ou
conveniada, com acompanhamento do programa especializado de atenção ao paciente judiciário.
Essa regra indica o princípio da não discriminação entre pacientes que cometerem e os que não
cometerem atos criminosos.
2. Lei n. 10.216/01
No que toca à internação, o art. 4 da Lei reforça que a internação só será indicada quando
os recurso extra-hospitalares se mostrarem insuficientes. De qualquer modo, é vedada a internação
de pacientes portadores de transtornos mentais em instituições com características asilares.
I – Prazo mínimo: de acordo com o CP, o prazo mínimo é de 1 a 3 anos, fixado pelo juízo na
sentença. Ao final desse prazo, deveria ser realizado o exame de cessação de periculosidade.
Todavia, é claro que se no caso concreto a pessoa receber o tratamento adequado e ficar
restabelecida antes do prazo fixado pelo juízo, não haveria necessidade de observar tão rigidamente
o prazo legal.
II – Prazo máximo: pela redação literal do CP, as medidas de segurança não teriam prazo
máximo, ou seja, seu prazo seria indeterminado, de modo que a pessoa só sairia depois que o
exame de cessação de periculosidade indicasse que a pessoa estava apta a sair.
Todavia, essa posição não é mais adotada. Assim, há uma segunda corrente defende que o
prazo máximo deveria ser o prazo do art. 75 do CP, ou seja, 40 anos, de acordo com a nova redação,
conferida pela Lei n. 19.964/19. Essa é a posição que o STF vem adotando.
CUIDADO - No caso em que a pessoa estava cumprindo pena privativa, e é acometida por
doença mental durante o cumprimento da pena, o prazo máximo da medida de segurança é o
restante da pena que a pessoa estava cumprindo.
6. Aspectos procedimentais
O art. 172 da LEP preconiza que a pessoa não será internada ou submetida a tratamento
ambulatorial para cumprimento de medida de segurança sem a guia expedida pela autorida de
judiciária. Nesses casos, o local de internação deve ser estabelecimento dotado de características
hospitalares. Por isso, configura constrangimento ilegal manter pessoa com medida de segurança
em penitenciária, por estar aguardando vaga no estabelecimento adequado (HC 122670, STF).
7. Desinternação
O art. 97, §3º, do CP, estabelece a desinternação ou liberação. Segundo a lei, ela sempre
será condicional, de modo que a internação pode ser restabelecida se o agente, antes do decurso
de 1 ano, pratica novo fato indicativo da persistência de sua periculosidade.
Por sua vez, o art. 179 da LEP prevê que uma vez transitada em julgado a sentença, o juízo
expedirá a desinternação ou liberação.
CRÍTICA – A redação do art. 97, §3º, do CP, deve ser duramente criticada, porque apresenta
termos muito vagos e imprecisos. Com efeito, a pessoa pode voltar a ser internada por praticar novo
fato indicativo da persistência de sua periculosidade. Veja que não precisa se tratar de fato
criminoso, mas em tese qualquer fato poderia mandar a pessoa de volta à internação. Por isso, o
juízo deve ser muito cauteloso e razoável, para apenas determinar a nova internação diante de fato
grave e realmente motivador de medida tão gravosa.
Como já vimos, a natureza da execução penal seria mista, pois com caráter administrativo
na sua gestão e cotidiano; mas com a possibilidade de incidentes jurisdicionalizados. Os incidentes
de jurisdição representam justamente o caráter jurídico da execução penal. O procedimento,
portanto, refere-se, sobretudo, a essa parte da execução penal.
2. Procedimento judicial
O art. 195 da LEP diz que o procedimento judicial pode se iniciar de ofício, ou a requerimento
do MP, do interessado, de seu representante, cônjuge, parente ou descendente, do Conselho
Penitenciário e da autoridade administrativa. Perceba, então, que não há necessidade de
representação por advogado para peticionar na execução penal. O próprio preso ou seus parentes
podem fazê-lo sem necessidade de intermediário.
Por sua vez, o art. 196 prevê um prazo geral de 3 dias para manifestação do condenado ou
do MP, caso eles não tenham sido os requerentes da medida. Portanto, o prazo geral ou coringa do
procedimento da execução penal é de 3 dias. Evidente que se a parte estiver representada pela
Defensoria Pública, esse prazo será contado em dobro.
Art. 196. A portaria ou petição será autuada ouvindo-se, em 3 (três) dias, o
condenado e o Ministério Público, quando não figurem como requerentes da
medida.
§ 1º Sendo desnecessária a produção de prova, o Juiz decidirá de plano, em igual
prazo.
§ 2º Entendendo indispensável a realização de prova pericial ou oral, o Juiz a
ordenará, decidindo após a produção daquela ou na audiência designada.
Em qualquer caso, se não houver necessidade de produção de prova, o juízo da execução
penal também decidirá no mesmo prazo de 3 dias.
3. Recurso
O único recurso previsto na LEP é o Agravo em Execução, indicado pelo artigo 197. Todavia,
a LEP não preconiza o procedimento do agravo, nem mesmo seu prazo. Diante disso, surgiram
basicamente duas correntes acerca de qual procedimento e rito adotar-se-ia para o agravo.
Art. 197. Das decisões proferidas pelo Juiz caberá recurso de agravo, sem efeito
suspensivo.
Uma primeira posição defendia que o prazo e o rito deveriam ser os mesmos do agravo de
instrumento, previsto no CPC.
Por sua vez, uma segunda corrente, que prevaleceu, sustentou que o rito e o prazo deveriam
ser os mesmos do Recurso em Sentido Estrito.
Destarte, o prazo do agravo em execução é de 5 dias para interposição; e mais 2 dias para
apresentação das razões; sempre contados em dobro, se a parte for representada Defensoria
Pública. Nesse sentido, o STF editou a súmula 700 para confirmar o prazo de 5 dias para interposição
do agravo.
Súmula 700. É de cinco dias o prazo para interposição de agravo contra decisão do
juiz da execução penal.
Além disso, assim como o RESE, o Agravo em Execução também admite o juízo de retratação,
ou seja, o juízo pode voltar atrás em sua decisão. Caso não se retrate, só então remete os autos ao
Tribunal.
4. Excesso ou desvio de execução
O artigo 185 da LEP prevê o incidente de excesso ou desvio de execução, que caberia sempre
que se verificasse algum excesso quantitativo ou qualitativo no cumprimento da pena. Em outras
palavras, o excesso ou desvio incide, quando o executado está cumprindo pena maior do que devia,
ou em regime mais gravoso do que deveria, por exemplo.
Art. 185. Haverá excesso ou desvio de execução sempre que algum ato for
praticado além dos limites fixados na sentença, em normas legais ou
regulamentares.
5. Procedimento disciplinar
Caso o preso seja acusado de praticar alguma infração disciplinar no cumprimento da pena,
ele deve ser submetido a um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD). Nesse PAD, o
apenado deve ser assistido por defesa técnica, providenciada pela Defensoria Pública ou por
advogado particular.
Nesse sentido, o STJ editou a Súmula 533, deixando claro que para o reconhecimento de
falta disciplinar no âmbito da execução penal, é imprescindível a instauração de PAD pela direção
do estabelecimento penal, assegurado o direito de defesa.
Os mutirões carcerários são muito comuns hoje em dia, numa tentativa de conferir
celeridade aos processos em andamento ou reduzir o acúmulo processual em Varas de Execução
Penal. Ocorre que começou-se a questionar se os juízos de outras Varas convocados para os
mutirões poderiam decidir em processos que não são de sua competência. Não haveria nesse caso
violação ao princípio do juízo natural?
O tema chegou ao STJ, que decidiu no HC 449.361/PR (2019), que não ofende o princípio do
juiz natural a designação de magistrados em regime de mutirão, no interesse objetivo da jurisdição,
para atuar em feitos genericamente atribuídos e no objetivo da mais célere prestaçã o jurisdicional.
Na verdade, o mutirão visa conferir eficiência à prestação jurisdicional e efetividade ao princípio da
duração razoável do processo.
Quando a pessoa for presa, inicia a execução da pena, de modo que a prescrição da
pretensão executória é interrompido. Se a pessoa fugir, a prescrição da pretensão executória
começa a correr de novo; caso perca o prazo, o Estado não mais poderá punir o foragido.
Há duas hipóteses: no primeiro caso, o termo inicial da PPE é o dia em que transita em
julgado a sentença condenatória para a acusação; no segundo caso, a PPE começa a correr do dia
em que se interrompe a execução pela fuga.
Ocorre que o primeiro caso é muito polêmico, porque, em tese, a PPE só poderia se iniciar a
partir do dia em que o Estado já poderia forçar o cumprimento da pena, ou seja, a partir do dia em
que há mandado de prisão expedido para cumprimento da pena. Contudo, nem sempre quando a
sentença já transitou em julgado para a acusação, já há mandado de prisão expedido para início do
cumprimento da pena, porque o acusado pode estar recorrendo em liberdade. Por essa razão, há
corrente defendendo que o termo inicial da PPE deveria ser o dia do trânsito em julgado para todas
as partes. Esse caso está pendente de julgamento pelo STF, conforme Tema 788, com repercussão
geral reconhecida.
A Corte considerou que as medidas adotadas pelo Estado, incluindo os mutirões de saúde,
não foram suficientes para proteger a vida e a integridade física dos internos no Complexo do
Curado. Sobre os casos de doenças contagiosas, a Corte determinou que o Estado tomasse medidas
urgentes para garantir o atendimento médico adequado às pessoas doentes, assim como garantisse
que os demais internos e pessoas presentes no centro penitenciário não fossem contagiados.
Diante de casos de motim e rebelião, o Estado deve se utilizar do uso progressivo da força,
de forma a evitar os excessos abusivos e violentos.
No Brasil, como já dito, temos o Caso Carandiru, que ainda tramita na Comissão
Interamericana de Direitos Humanos, já tendo sido expedidas recomendações ao Estado brasileiro.
3. Isolamento do preso
No Caso Krocher e Moller vs Suíça (1981), a Corte Europeia de Direitos Humanos entendeu
que o isolamento, por si só, não constitui tratamento cruel e desumano. Porém, deve haver a
ponderação segundo os critérios do rigor da medida, sua duração, o objetivo perseguido e os efeitos
ao preso, considerando o caso concreto. Com base em tais parâmetros, o isolamento como forma
de sanção disciplinar tem sido tratado, mais recentemente, de forma cada vez mais restritiva.
Por outro lado, no Caso Freemantle vs Jamaica (2000), o Comitê de Direitos Humanos da
ONU entendeu que a dignidade do acusado foi ferida, tratando-se de tratamento cruel a sua
manutenção em cela de dois metros quadrados, na qual passava vinte e duas horas por dia – boa
parte delas no escuro e sem qualquer tipo de ocupação.
O Comitê da ONU também afirmou, no Caso Mukong vs Camarões (1994), que os patamares
mínimos estabelecidos para as condições materiais das prisões devem ser observados
independentemente do desenvolvimento socioeconômico do Estado. Logo, a reserva do possível
não poderia ser alegada como argumento de defesa pelo Estado.
Da mesma forma, é possível concluir que o RDD, nos moldes da LEP – que agora permite o
isolamento por até 2 anos –, é incompatível com a jurisprudência da Corte IDH. Isso porque, no Caso
Bámaca Velásquez vs Guatemala, equiparou o isolamento prolongado e a incomunicabilidade a
formas de tratamento cruel e desumano, lesivas da integridade psíquica e moral da pessoa e do
direito de todo detido ao respeito devido à dignidade inerente ao ser humano.
4. Direito à Saúde
Da mesma forma, a Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas afirmou a obrigação
positiva do Estado em garantir a prestação de cuidados médicos adequados, no Caso Lantsova vs
Rússia, julgado em 2002.
Nesse sentido, no Caso Chinchilla Sandoval vs Guatemal (2016), a Corte IDH se deparou com
o caso que a pessoa condenada adquiriu diversas doenças enquanto presa, tendo inclusive uma das
pernas sido amputada. Todos os pedidos de liberdade antecipada foram negadas pelo judiciário. A
Corte foi assertiva em afirmar que as pessoas com enfermidades graves, crônicas ou terminais não
devem permanecer na prisão, salvo quando os Estados possam assegurar que têm unidades
adequadas de atenção médica. Tal prova não se faz, evidentemente, com a consulta a servidor do
próprio sistema prisional questionado, e sim com a demonstração técnica e material da
possibilidade de cuidado adequado à saúde.
Por fim, no Caso Ximenes Lopes vs Brasil, a Corte IDH condenou o Estado brasileiro em 2006,
porque Ximenes Lopes foi assassinado dentro de unidade de internação, por espancamento. O
laudo médico da unidade hospitalar indicou que ele havia morrido por parada cardíaca, enquanto o
laudo do IML se mostrou inconclusivo. Após o caso chegar na Corte, operou -se a exumação do
corpo, quando se constatou que ele sofreu traumatismo craniano. Diante disso, a Corte reforçou
que a internação deve ser utilizada apenas como último recurso e com finalidade protetiva; e é
evidente que o tratamento manicomial deve ser humano e digno, diferente do que recebeu Ximenes
Lopes.