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RESUMO: Nas palavras de seu autor, Tom Ander- ABSTRACT: In the words of its author, Tom TOM ANDERSEN
sen, “ver, escutar, cheirar, saborear, sentir o toque Andersen, “seeing, hearing, smelling, tasting,
na pele ou o impacto no corpo – enfim, o que feeling the touch on the skin or the impact on
CARLOS HENRIQUE
sentimos em nossos corpos” – é o embasamento the body – what we feel in our bodies – is the
LUCCI
deste texto, inicialmente publicado como capítu- basis of this text”, initially published as a chap-
lo do livro Collaborative Therapy: Relationships ter of Collaborative Therapy: Relationships and Tradutor
and Conversations that make a Difference. Essas Conversations that make a Difference. These
expressões são parte de vínculos de que partici- expressions are part of bonds we participate LEONORA CORSINI
pamos desde o momento do nascimento; expres- from the moment of our birth; expressions are Revisora
sões são manifestadas, recebidas, e afetam o manifested, received, and affect the receiver
receptor que retribui este afeto – o círculo da vida. who reciprocates this affect – the circle of life.
O texto amplia a compreensão de linguagem para The text expands understanding of language to
outros tipos de expressão e analisa a conversação other types of expression and analyzes conver-
como uma troca de múltiplas expressões em que sation as an exchange of multiple expressions
quando um fala, o ouvinte não apenas ouve cada in which when one speaks, the listener not only
palavra, mas também vê como o falante recebe hears each word, but also sees how the speaker
suas próprias palavras e o surgimento de novos receives his own words and the emergence of
significados. Uma mudança ou expansão das ex- new meanings. A change or expansion of motor
pressões motoras pode trazer um novo entendi- or corporal expressions can bring a new under-
mento de uma situação difícil, ou uma nova ideia standing of a difficult situation, or a new idea of
de como dar o próximo passo desse momento how to take the next step in this difficult time.
difícil. O texto é um convite para que terapeutas The text is an invitation for therapists to focus
foquem a parte visível da realidade (expressões), on the visible part of reality (expressions), and
e ofereçam as hipóteses sobre os sentimentos to offer hypotheses about feelings (invisible and
(invisíveis e móveis) como metáforas. mobile) as metaphors.
REALIDADE SENSORIAL
de alegria ao expirar, sussurramos de por outras pessoas, que, por sua vez, as
medo ao expirar etc. Todas as vezes receberam de terceiros – via a lingua-
que expressamos emoções ao expirar, gem como um dom da cultura ou da so-
parte da tensão em nós desaparece. ciedade à criança. Para ele, a linguagem
Soluçar é a melhor coisa; dar risada vinha de fora, ideia oposta à de Jean
também é bom – para o corpo. Piaget, que acreditava que a linguagem
Este ciclo respiratório inspiração- crescia a partir de dentro, tal como uma
-expiração segue sem parar. Os fisiote- semente se desenvolve em flor.
rapeutas são capazes de ver duas pau-
sas: uma, mais curta, entre o final da Fala egocêntrica e fala interna
inspiração e o começo da expiração;
outra, mais longa, depois da expiração No momento em que a criança já
e antes do início da inspiração. De vez conhece muitas palavras e pode formar
em quando, algumas pessoas ficam tão frases, Vygotsky chama nossa atenção
ansiosas para “se sentirem inspiradas”, para quando ela está sozinha e começa
desejando absorver impressões, que a brincar e a falar consigo mesma.
as pausas se chocam. Outras vezes, a Tanto Vygotsky quanto Piaget cha-
ansiedade em absorver é tanta que não mam esta conversa de fala egocêntri-
conseguem deixar sair o ar antes que ca. Para Vygotsky, este é um jogo de
mais ar seja inspirado. A pessoa se tor- necessidade, nem sempre de alegria.
na “superinspirada”. Através desse jogo, a criança imple-
menta suas regras de vida. Um exem-
plo da minha cidade, Tromsø, pode
Vozes sociais ilustrar esse ponto. Uma jovem mãe
foi a uma loja com sua filha de quatro
Por volta da quarta semana de vida, anos de idade. O proprietário pôs uma
os bebês fazem um som que os pais são pilha de chocolates ao lado do caixa.
capazes de receber e retornar. Este som Quando a menina os viu, disse: “Mãe,
é uma conexão forte pela voz, e esta voz posso comer um chocolate?”. A mãe
é o começo da voz social da criança, ou respondeu: “Não, você não pode!”. A
melhor, das vozes sociais, pois temos criança replicou: “Mas, mãe, eu que-
muitas vozes sociais. Na semente de ro um chocolate”. A mãe calma, mas
um ser humano existe uma atividade firme, disse: “Não pode!”. A menina
de imitação que se desenvolve muito começou a chorar e toda a loja olhou
precocemente. A criança brinca e imita para as duas. “Eu preciso de um cho-
os sons que são trocados com as outras colate!” A mãe falou: “Você tem que
pessoas e, através deste jogo, ela au- esperar até sábado. Daí, você poderá
menta seu repertório de sons. Um dia comer um chocolate enquanto assiste
aparece uma palavra e mais palavras ao programa infantil na TV!”. Saíram
logo virão. Vygotsky nos lembra que da loja com a criança ainda chorando.
estas primeiras palavras são sons imi- Quando chegaram em casa, a menina
tados; creio que pode ser difícil para o foi brincar com sua boneca. De repen-
bebê distinguir entre o som (a palavra te, ela fez sua boneca dizer bem alto:
que este representa) e ele próprio. “Mãe, posso comer um chocolate?”