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Seminarista Felipe Cinelli – julho 2020

ANGELOLOGIA E
DEMONOLOGIA
Sobre os anjos e demônios
Ementa
1- Introdução
2- Abordagem filosófica: existência e propriedades
3- Considerações teológicas gerais
4- Os anjos bons
5- Os anjos pecadores
6- O posicionamento do Magistério da Igreja
7- A ação dos demônios
8- Os remédios da Igreja
1- Introdução
1.1- Motivação inicial
1.2- A posição dos Papas
1.3- A Associação Internacional dos Exorcistas (AIE)
1.1- Motivação inicial
- Pertinência: manter a fé da Igreja diante do racionalismo, sincretismo,
neognosticismo (espiritualismo) e afins.
- Despertar os fiéis para realidade angélica e para a devoção aos santos
anjos de Deus, que são o meio mais imediato que Deus estabeleceu para
exercer sua Providência em nossas vidas.
- Tornar conhecidos os embustes do maligno e os remédios que Deus nos
forneceu para combatê-lo, tendo-se em mente aquilo que disse o poeta
francês Baudelaire (1821-1867) e que os exorcistas tanto repetem: “o
maior favor, a maior satisfação, que se pode dar ao demônio é crer que ele
não existe”. Assim, remover os impedimentos à graça e à salvação.
- Para que Cristo seja “nossa vida, nossa força, a alegria dos nossos dias e o
sentido da nossa existência”; para nele vivermos e para ele irmos.
1.2- A posição dos Papas
- S. Paulo VI: homilia de 29 de junho de 1972, no dia de S. Pedro e S. Paulo, em que afirmou que a
fumaça de satanás parecia ter entrado na Igreja por alguma fresta; alocução na audiência geral
de 15 de novembro de 1972, na qual afirmou que a maior necessidade da Igreja seria a defesa
contra o demônio.
- S. João Paulo II: sete catequeses sobre os anjos, proferidas em 1986, em que procurou
apresentar a doutrina católica sobre o tema, frente às concepções espiritualistas atuais;
discurso no santuário de S. Miguel Arcanjo em 24 de maio de 1987: “Esta luta contra o demônio
que trava o Arcanjo S. Miguel é atual ainda hoje, porque o demônio ainda está vivo e operante
no mundo. Na verdade, o mal que existe, a desordem que reina na sociedade, a incoerência do
homem, a divisão interior da qual o homem é vítima, não são só a consequência do pecado
original, mas também efeito da ação devastadora e obscura de Satanás”.
- Papa Francisco: Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, cap. V, seção que aborda a questão da
luta e vigilância contra o demônio, em particular os parágrafos 158 a 161: “Então, não
pensemos que seja um mito, uma representação, um símbolo, uma figura ou uma ideia. Este
engano leva-nos a diminuir a vigilância, a descuidar-nos e a ficar mais expostos”; também, a
recomendação dada aos sacerdotes confessores: “Se o confessor se der conta da presença de
verdadeiros distúrbios espirituais — que também podem ser em grande parte psíquicos, e isto
deve ser averiguado através de uma sadia colaboração com as ciências humanas — não deve
hesitar em consultar aqueles que, na diocese, estão encarregados deste ministério delicado e
necessário, ou seja, os exorcistas. Mas estes devem ser escolhidos com muito cuidado e com
grande prudência”.
1.3- A Associação Internacional dos Exorcistas
(AIE)
- A Associação Internacional dos Exorcistas (AIE) é fundada em 1991,
por uma iniciativa do Pe. Gabriele Amorth, exorcista de Roma,
durante o pontificado do Papa João Paulo II, com o intuito de reunir
exorcistas e leigos especialistas no tema (demonólogos, médicos etc.).
- No final desse pontificado e início do pontificado do Papa Bento XVI,
o Istituto Sacerdos do Ateneo Pontifício Regina Apostolorum e o Gris
(Gruppo di Ricerca e Informazione Socio-religiosa) oferecem curso
para formação específica no tema, em colaboração com a AIE.
- No pontificado do Papa Francisco, a AIE é reconhecida canonicamente
como Associação Internacional de Fiéis e passa a ser vinculada à
Congregação para o Clero, por decreto de 13 de junho de 2014.
2- Abordagem filosófica: existência e propriedades
2.1- Fundamentos filosóficos e definições
• A importância do pensamento de Santo Tomás
• Definições úteis de antropologia filosófica
• A diferença entre substância e acidente, matéria e forma, essência e ato de ser
• A diferença entre alma e puro espírito, anjo e demônio
2.2- Demonstrações da existência dos espíritos puros
• Um argumento de conveniência
• Uma demonstração apodítica condicionada
• A possessão demoníaca como evidência racional
2.3- Algumas propriedades das criaturas espirituais
2.1- Fundamentos filosóficos e definições
• A importância do pensamento de Santo Tomás (1225 - 1274)

- Canonizado por João XXII em 1323 e proclamado Doutor da Igreja em 1568


por São Pio V.
- PIO XI. Studiorum ducem. 29 jun. 1923: “Nos vero haec tanta divinissimo
ingenuo tributa praeconia sic probamus ut non modo Angelicum, sed etiam
Communem seu universalem Ecclesiae Doctorem appellandum putemus
Thomam, cuius doctrinam, ut quam plurimis in omni genere litterarum
monumentis testata est, suam Ecclesia feeerit”.
- Santo Tomás de Aquino se refere a estas criaturas de modo absoluto
chamando-as de anjos, no sentido de que antes da escolha livre que fizeram
entre o bem e o mal (que está no campo da moral), pela natureza espiritual
são semelhantes. Enquanto criatura espiritual, cada um deles é chamado
equivalentemente de substância intelectual, imaterial ou separada.
2.1- Fundamentos filosóficos e definições (cont.)
• Definições úteis de antropologia filosófica

- Alma: é o princípio intrínseco de uma matéria corpórea que faz com que ela seja viva.
Por isso, todos os seres vivos possuem alma.
- Essência humana (é o que determina a natureza humana): é composta de corpo
(matéria) e alma (forma). Ou seja, o homem não é uma alma “aprisionada” em um corpo
que poderia ser trocado, mas é a união de alma e corpo. O mesmo vale para os demais
seres vivos: suas essências são compostas de corpo e alma.
Matéria (corpo) + Forma (alma) = Essência humana (natureza humana)
- Assim como a forma de “Davi” esculpida no mármore resulta em sua estátua, assim a
alma é como a forma da matéria corporal, configurando-a em um único indivíduo vivo.
- Porém, enquanto a mesma forma de “Davi” pode ser repetida em várias matérias
diferentes (diferentes blocos de mármore, de pedra-sabão etc.), a alma humana ao se
unir (na fecundação) com a matéria própria humana (dos gametas, ao se juntarem), não
tem como ser repetida em outra matéria. Cada pessoa é criação única em coparticipação
entre Deus (que infunde a alma) e os homens (os pais, que fornecem a matéria
corporal).
2.1- Fundamentos filosóficos e definições (cont.)
• Definições úteis de antropologia filosófica (cont.)

- A união fundamental entre corpo e alma que estabelecem a pessoa enquanto


indivíduo único é chamada de união substancial.
- Morte: separação entre a alma (forma) e o corpo (matéria). Na reunião da alma
com a matéria, o mesmo indivíduo original é recuperado – o que só ocorrerá na
ressurreição final, por ação direta de Deus, já que não é um processo normal da
natureza da alma que ela se reúna a uma matéria após ser separada desta.
- Consequências: (i) não há como a alma de uma pessoa falecida (ou seja, alma
separada da matéria) se unir ao corpo de alguém a menos que este corpo seja
separado de sua respectiva alma, causando a morte. Se fosse possível que isso
ocorresse, ao haver a união da alma de alguém com o corpo de outra pessoa,
esse corpo ganharia as características da nova alma, por ser esta o que dá forma
à matéria; (ii) qualquer ação de um indivíduo estranho a uma pessoa (como o
demônio em uma possessão), só pode ocorrer mediante uma ação externa sobre
a pessoa, cuja essência humana permanece composta de corpo e alma unidos.
2.1- Fundamentos filosóficos e definições (cont.)
• Definições úteis de antropologia filosófica (cont.)

- O intelecto é faculdade imaterial: ao pensarmos em um objeto não o temos


materialmente na cabeça. Nem a compreensão dos conceitos pensados é material, ainda
que dependa do cérebro, dos sentidos etc., para expressar-se ou para conhecer novos
conceitos. A relação é análoga a de um pianista (alma) que depende do piano (corpo)
para tocar sua música, sendo que o piano em si não é a sede do conhecimento da
música. Por exemplo, pensar no conceito de “esperança” não possui uma determinação
ou caracterização material (note-se que as coisas materiais, por sua natureza, são
quantificáveis).
- A vontade é faculdade imaterial: não está condicionada às coisas materiais, como se
fosse determinada por elas, mas, ao contrário, volta-se para as coisas materiais e exerce
sua escolha (uma analogia: não são os canais da TV que se autoescolhem, mas o
espectador, que funciona como a vontade, que ao voltar-se para os canais escolhe qual
assistir).
- A alma humana é chamada de alma espiritual (alma, porque dá vida ao corpo, como os
demais seres vivos, e espiritual, porque possui duas faculdades que são imateriais).
2.1- Fundamentos filosóficos e definições (cont.)
• A diferença entre substância e acidente, matéria e forma, essência e ato de
ser
O que faz com que possam existir
muitos indivíduos diferentes de
uma mesma essência (natureza) é
o “ato de ser”, único e individual
de cada um. É ato porque é
perfeição, raiz de todas as
capacidades que a essência
Essência: o que determina a determina (por exemplo, a
natureza da coisa, o que ela é. essência dos elefantes determina
A natureza humana é corpo e suas capacidades e limitações do
alma unidos ser individual de cada elefante).
substancialmente, em
unidade e coordenação O ato é a perfeição, enquanto que a potência é a capacidade
que limita e determina a perfeição. Por exemplo, a forma
perfeitas.
“Davi” é acidente de um agregado de substância “mármore”.
Esta substância delimita (é potência em relação a) a forma na
estátua concreta.
2.1- Fundamentos filosóficos e definições (cont.)
• A diferença entre substância e acidente, matéria e forma, essência e ato de
ser (cont.)
Acidente: aquilo que é em outro, ou
seja, recebe o ato de ser de uma
substância. Exemplo: o intelecto; a
vontade; a cor vermelha, que não
existe por si mesma, apenas em uma
substância que tenha essa cor, como
por exemplo, a tampa de uma
Substância: aquilo que é caneta. O braço de uma pessoa também
(existe, tem ato de ser) por si. é um acidente, pois não existe separado.
Ex: cada pessoa individual, Caso o seja, passa a ser um braço morto,
cada animal individual, cada sem uma forma (alma) única que o
pedra etc. coordene. Por isso, se decompõe, pois é
uma união acidental de moléculas (não é
união substancial, como matéria unida a
O indivíduo é o resultado da substância (unidade substancial
uma forma que lhe dá unidade, mas
de matéria e forma) com seus acidentes (variáveis).
cada molécula funciona como uma
substância).
2.1- Fundamentos filosóficos e definições (cont.)
• A diferença entre alma e puro espírito, anjo e demônio

- Puro espírito: sua essência/natureza é ser sem matéria. É criatura porque possui
uma essência limitada.
Deus é puro espírito,
mas não é criatura. Sua
essência é ilimitada:

= X

Pai, Filho, E.S.


Deus é puro ato. Não tem
potência passiva (só
potência ativa, por é
capaz de atuar). Subsiste
em 3 pessoas.
2.1- Fundamentos filosóficos e definições (cont.)
• A diferença entre alma e puro espírito, anjo e demônio (cont.)

Pessoa humana, se tem os acidentes Pessoa angélica, se tem os acidentes do intelecto


do intelecto e vontade. A forma é a e vontade. Anjo (bom) escolheu a Deus; anjo mau
alma unida ao corpo. (demônio) desobedeceu a Deus.

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