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Na maior parte dos países, o divórcio é pronunciado por um tribunal e a sentença proferida dissolve o
casamento.
O Divórcio, a par da separação de pessoas e bens, é um dos meios ou remédios através do qual o nosso
Direito oferece para colocar termo à uma relação conjugal ou a crise matrimonial.1
Quando o casal tem filhos, o divórcio acarreta, para além da separação dos cônjuges, uma
reorganização das relações que cada um deles tem com os filhos comuns.
Implica igualmente a partilha dos bens comuns dos cônjuges e, se necessário, o pagamento de uma
contribuição ou de uma pensão de alimentos de um cônjuge ao outro ou para prover ao sustento dos
filhos.
Segundo a psicóloga brasileira, Manuela Machado, o divórcio e a separação dos pais é sempre um
processo doloroso que envolve, em muitos casos, fortes sentimentos de tristeza, de perca e de
frustração. É uma situação, habitualmente perturbadora quer para os adultos, quer para as crianças,
sendo que, principalmente, estes últimos podem experimentar vários níveis de mal-estar.
1
PEREIRA, Francisco, Curso de Direito de Família, I, Coimbra Editora, Coimbra, 2001, p.583
– A gestão financeira – normalmente verificam-se alterações, que podem agravar ou dificultar a
adaptação.
– A personalidade dos filhos – a resposta dos filhos ao divórcio varia em função das suas características
pessoais, podendo ser diferente de criança para criança.
– O conflito entre os pais – a adaptação dos filhos ao divórcio depende da forma como os pais gerem o
conflito entre si.
– A cooperação entre os pais – uma relação de colaboração e ajuda entre os pais facilita a adaptação
dos filhos às mudanças que poderão surgir nas suas rotinas.
– A custódia dos filhos – a gestão da custódia influência fortemente a forma e o ritmo de adaptação dos
filhos, sendo importante manter a proximidade dos pais.
– A idade dos filhos – a forma como os filhos compreendem e se adaptam ao divórcio, e a maneira dos
pais comunicarem a separação, depende sempre da idade das crianças.
– A disponibilidade dos pais – a capacidade dos pais para manterem respostas adequadas às
necessidades dos filhos condiciona a adaptação.2
Sara Santos, jurista (Licenciada em Direito) pela UAL - Universidade Autónoma de Lisboa (Quais são
as consequências do divórcio para os filhos3) argumenta que o divórcio dos pais provoca stress num
filho de qualquer idade. Eles não se encontram mentalmente preparados para lidar com a separação dos
pais, e muitas das vezes eles não recebem o apoio de adultos fora do círculo familiar. Se houvesse uma
situação de morte na família, esse apoio existiria, Mas infelizmente o divórcio não funciona da mesma
forma.
A maioria dos filhos não antecipa o divórcio, e por isso são apanhadas de surpresa. Os filhos entram em
estado de luto e sentem-se vulneráveis em relação ao futuro. Eles podem sentir alguma raiva em
relação à ruptura da família e saudades do progenitor que não fica com a custódia.
Os filhos que se encontram em faixas etárias diferentes podem lidar com divórcio de forma também
diferente. Apresentamos a seguir alguns exemplos do que pode ser expectável:
1.Os filhos entre os 3 e os 5 anos podem ter dificuldades em dormir por causa do stress. O
desenvolvimento mental deles pode entrar em retrocesso. As saudades do progenitor que não detém a
custódia podem aumentar a dor deles.
2
https://manuelamachadopsicologia.wordpress.com/2014/03/20/o-divorcio-e-a-separacao-dos-pais-e-as suasconsequencias-
na-vida-emocional-dos-filhos/
3
http://www.sexopediapt.com/consequencias-divorcio-filhos/
2.Quando os filhos se encontram entre os 6 e os 8 anos de idade eles podem chorar abertamente pelo
progenitor que saiu de casa. É normal que eles fantasiem com a reunião da família, e que sintam
dificuldades em aceitar que o divórcio é definitivo.
3.Os filhos entre os 12 e os 18 anos de idade podem respondem ao divórcio dos pais com casos de
depressão, raiva violenta e, em alguns casos, suicídio. Eles podem começar a julgar as acções dos pais
e a questionar o desfecho das suas próprias relações no futuro.
4.Quando a mãe fica com a custódia dos filhos, ela pode desenvolver níveis de raiva diferentes. Ela
pode baixar as expectativas que tem em relação ao comportamento social dos filhos ou sentir
dificuldade em separar as necessidades dela das necessidades dos filhões.
5.Ela deve estabelecer uma boa relação com os filhos desde o primeiro momento. Isto é extremamente
importante antes de entrar numa nova relação. Se ela não assumir a responsabilidade pelos filhos, os
filhos podem acabar por sentir demasiada responsabilidade demasiado cedo. Isto afecta o
comportamento psicológico dos filhos, e resulta em problemas de ordem social no futuro.
Claro que é muito importante, para o bem deles, ajudá-los a ultrapassar as ansiedades e estar lá para
eles. Eles vão levar algum tempo a habituarem-se à ideia de não terem os dois pais por perto a toda a
hora, sempre que precisarem.
Um estudo realizado pelo Ministério da Saúde em coordenação com o inquérito realizado em 2002 pelo
Instituto de Estatísticas de Portugal 4, concluiu que o efeito do divórcio sobre os filhos depende de
vários factores como por exemplo:
- O modo como decorre a separação e o divórcio. Quantos mais conflitos e pressões envolverem a
criança (antes e durante o processo de separação e divórcio), mais negativo será o impacto e mais
graves as consequências. Também um estado de indefinição prolongada (por exemplo pais separados
mas a viver na mesma casa) é fonte de potenciais conflitos e de angústia para a criança.
- A idade da criança:
►A criança pequena tem mais dificuldade em perceber o que se passa mas sente intensamente a
tensão e os conflitos vividos pelos pais, reagindo-lhes de diversas formas: com comportamentos de
oposição e agressividade, com atitudes regressivas (aumentando a dependência em relação aos pais,
voltando a fazer chichi na cama) ou com medos, pesadelos, etc.
►A criança de idade escolar é capaz de compreender melhor a situação, tendendo a reagir com
tristeza, sentimentos de perda ou diminuição do rendimento escolar.
4
http://usf-fanzeres.min-saude.pt/gsjtesttiscs
►O adolescente sente-se muitas vezes dividido na sua lealdade face a cada um dos pais; por vezes
revolta-se, isola-se ou, por outro lado tenta assumir a responsabilidade e proteger o pai / mãe que sente
estar mais fragilizado.
- A forma como a criança compreende o divórcio dos pais e o significado que lhe atribui, podendo
sentir-se culpada, revoltada ou assustada conforme os casos.
- O apoio que recebe dos pais ou outras pessoas próximas nesta fase.
- A reconstrução de novas famílias e as relações mais ou menos harmoniosas que se estabelecem entre
os seus membros.
- Sentimento de estar “dividido por dentro”, tendo de tomar o partido de um dos pais contra o outro.
- Desejo de juntar novamente os pais e recuperar a segurança perdida. As crianças ou adolescentes mais
frágeis correm o risco de descompensar perante a experiência difícil do divórcio dos pais, em particular
se este é litigioso e envolve a criança nos conflitos.
“Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de prostituição, e
casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério” (Mt
19.9)5.
Numa concepção religiosa ou espiritual, o divórcio é o rompimento da aliança, celebrada diante de
Deus, perante um ministro, ou autoridade eclesiástica ou diante da sociedade, representada pela
autoridade civil, encarregada de assim celebrar o casamento.
5
BIBLIA SAGRADA: http://biblia.gospelmais.com.br/mateus_19.13/
O divórcio é permitido por Cristo como uma excepção, ante à prática da infidelidade, que quebra a
aliança matrimonial. O tema do divórcio talvez seja um dos mais discutidos e pouco resolvidos no meio
das igrejas evangélicas. De um lado, há os que não o aceitam em qualquer hipótese, entendendo a
indissolubilidade do casamento de modo radical. Por outro lado, há os que o aceitam, sob determinadas
circunstâncias, buscando base para tal entendimento na Bíblia Sagrada, como regra de fé e prática. E há
os que são liberais, admitindo o divórcio em qualquer situação.
Entre os judeus, havia duas escolas importantes, que ditavam as normas de comportamento para a
sociedade. Essas normas existiam no tempo de Jesus.
Várias escolas trazem a sua visão a respeito do divórcio como segue:
a) A escola de Shammai. Este rabino tinha uma interpretação radical de Deuteronómio 24.1. Segundo
seu entendimento, a carta de divórcio só podia ser dada à mulher em caso de fornicação ou de
infidelidade conjugal ou seja, a mulher só podia ser despedida se o homem achasse nela indecência,
sem que isso fosse a prática de infidelidade ou prostituição, visto que às mulheres infiéis só restava a
pena de morte (Levítico 20.10; Deuteronómio 22.20-22). Mas a visão de Shammai era bem aceite por
grande parte dos intérpretes da Lei.
b) A escola de Hillel. Este era um rabino de visão liberal, e favorecia a posição do homem em relação à
mulher. Para ele, o homem poderia deixar sua mulher, divorciando-se dela, “por qualquer motivo”, por
qualquer indecência que assim justificasse. Tais coisas seriam as que já enumeramos antes: andar de
cabelos soltos, falar com homens que não fossem seus parentes, maltratar os sogros, falar muito alto
etc. Assim, o homem podia divorciar-se a seu bel-prazer.
Com isso, o divórcio, ao invés de proteger a mulher, dando-lhe direito a uma nova oportunidade de
constituir um lar, fez dela uma vítima em potencial dos caprichos machistas da época. A mulher podia,
“como excepção, divorciar-se, no caso de ser o marido leproso ou trabalhar em serviço sujo, por
exemplo, em curtume ou em caldeira, e também no caso de apostasia religiosa, caso abraçasse uma
religião herética”. Esse último conceito não tem base veterotestamentária. Era uma evolução da lei
judaica.
O divórcio não faz parte dos planos de Deus. Assim como a poligamia, no Antigo Testamento, que Ele
permitiu ou melhor, tolerou. Há casos em que é impossível manter um relacionamento conjugal. Se o
esposo espanca a esposa; se ele vive traindo sua mulher; se ela vive na prática de adultério; se um ou
outro entra pelo caminho do homossexualismo; tais práticas são tão abomináveis, que desfazem o
vínculo conjugal, e, na permissibilidade de Cristo, Ele admite o divórcio. Não como regra, mas como
excepção, como um “remédio amargo” para um mal maior. Se não fosse assim, um servo ou uma serva
de Deus seriam atingidos duas vezes: uma pelo Diabo, que destrói relacionamentos; e, outra, pela igreja
local, que condenaria uma vítima a passar o resto da vida em companhia de um ímpio, ou viver sob o
jugo do celibato, que não faz parte dos planos de Deus. Disse o Senhor, o Criador: “Não é bom que o
homem esteja só” (Géneses 2.18).
No final do texto em que Jesus responde aos fariseus, seus discípulos ficaram estarrecidos. “Disseram-
lhe seus discípulos: Se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar”
(Mateus 19.10). Ficaram chocados com o ensino de Jesus, que só admite divórcio e novo casamento, no
caso de infidelidade. Eles que viviam numa sociedade patriarcal e machista, estavam acostumados a ver
o divórcio “por qualquer motivo”.
3. O divórcio na visão Paulina
O apóstolo Paulo enfrentou alguns dos maiores questionamentos que perturbaram a igreja cristã nos
seus primórdios. Um deles, sem sombra de dúvidas, foi a questão do divórcio. E ele soube posicionar-
se com elevado discernimento espiritual, sob a direcção divina. Interpretando a doutrina de Cristo sobre
o divórcio, o apóstolo dos gentios apresentou sérias argumentações doutrinárias a respeito do assunto.
a) Aos casais crentes — “aos casados” (1 Coríntios 7.10). Esta passagem refere-se aos “casais
crentes”, os quais não devem divorciar-se. Essa é a “regra geral”. Se não houver algum dos motivos
permissivos (Mateus 19.9 e 1 Coríntios 7.15), não há qualquer justificativa para o casal crente se
divorciar. Se há desentendimentos, incompatibilidade de génio, ou se a esposa ficou feia (ou o marido),
o caminho não é o divórcio, mas a reconciliação com o perdão sincero, ou o celibato, caso sejam
esgotados todos os recursos para a vida em comum. Não vemos, na Bíblia, qualquer razão que
justifique o divórcio para os casais cristãos, quando não há as excepções previstas na Palavra de Deus.
b) Aos casais mistos— “aos outros” (1 Coríntios 7.12,13). “Mas, aos outros, digo eu, não o Senhor: se
algum irmão tem mulher descrente, e ela consente em habitar com ele, não a deixe. E se alguma mulher
tem marido descrente, e ele consente em habitar com ela, não o deixe”. Valorizando a família, a
Palavra de Deus reconhece a união de um cônjuge que aceita a Cristo, e a esposa (ou o esposo)
continua na incredulidade, ou de um fiel, cujo cônjuge se desvia. Entretanto, no caso de o cônjuge
descrente (ou desviado) quiser abandonar o crente fiel, pedindo divórcio, não pode ficar “sujeito à
servidão”, ou seja, sob o jugo de um casamento insuportável. Há casos em que o descrente vive uma
vida promíscua, com risco de levar doenças para a esposa; ou é alcoólatra crónico, ou que espanca a
esposa, proibindo-a de ser espiritual. O crente não deve tomar a iniciativa do divórcio. Deve deixar que
o descrente o faça: “Mas, se o descrente se apartar, aparte-se; porque neste caso o irmão, ou irmã, não
está sujeito à servidão; mas Deus chamou-nos para a paz” (verso 15).
O casamento deve ser realizado dentro de uma perspectiva para toda a vida, até que a morte separe o
casal. Entretanto, a vida conjugal é complexa, e podem surgir casos em que a convivência torna-se
insuportável. As excepções, na Bíblia, são prova do amor de Deus para com os que permanecem fiéis
aos seus princípios para o casamento, não os condenando a uma vida inteira sob o jugo de uma penosa
servidão a um infiel, desviado ou incrédulo6.
A introdução do divórcio por lei avulsa ao Código Civil, no anterior milénio, através da Lei 4/92
justificou-se pela necessidade de se iniciar a regulação do divórcio e a separação judicial de pessoas e
bens na nova realidade social do país; impondo-se a harmonização e a simplificação de alguns
procedimentos relativos a esta matéria7; tendo sido revogada com a introdução da Lei da Família em
2004. Entre as inovações importantes introduzidas pela Lei de Família, há a referir a dissolução do
casamento por divórcio (litigioso e não litigioso), onde a figura do divórcio por mútuo consentimento
tem como filosofia básica “descongestionar os tribunais, simplificar os procedimentos com benefício
para o cidadão e reduzir os encargos com os emolumentos que o mesmo devia suportar.8
O Código do Registo Civil de 2004 introduz uma subsecção relativa aos procedimentos concernentes
ao divórcio por mútuo consentimento. Uma análise comparativa entre a Lei nº 8/92 e os diversos
artigos desta subsecção deixa antever algumas semelhanças entre ambas, ajustadas naturalmente a um
processo mais célere. No entanto, a grande novidade consiste na “atribuição de competência ao
6
Lição 7 - O Divórcio e Suas Consequências: http://euvoupraebd.blogspot.com/2013/05/licao-7-o-divorcio-e-suas-
consequencias.html#ixzz43pP8L900, com necessárias adaptações e correcções feitas.
7
Preâmbulo da Lei nº 8/92, publicada no BR nº 19, I Série, de 6 de Maio de 1992
8
MALUNGA, Didier, OLIVEIRA, Código do Registo Civil (Anotado), Gabinete para as Relações Internacionais, Europeias
e de Cooperação (GRIEC) e UTREL, Maputo, 2005, p.212.
conservador do registo para decretar o divórcio por mútuo consentimento” e a sua subsequente
“profissionalização”9.
O divórcio dissolve o casamento e tem juridicamente os mesmos efeitos da dissolução por morte,
salvas as excepções consagradas na lei.
Os efeitos do divórcio produzem-se a partir do trânsito em julgado da respectiva sentença, mas
retrotraem-se à data da proposição da acção quanto às relações patrimoniais entre os cônjuges.
Se a separação de facto entre os cônjuges estiver provada no processo, qualquer deles pode requerer
que os efeitos do divórcio retroajam à data, que a sentença fixará, em que a separação tenha começado.
Apesar do divórcio, um dos elementos do casal pode conservar os apelidos do outro, que tenha
adoptado, desde que este dê o seu consentimento ou o tribunal o autorize, tendo em atenção os motivos
invocados. O consentimento do ex-cônjuge pode ser prestado através de documento notarial, termo
lavrado em juízo (registo escrito, no processo, da manifestação de vontade da parte) ou declaração
perante o funcionário do registo civil. O pedido de autorização judicial do uso dos apelidos do ex-
cônjuge pode ser deduzido no processo de divórcio ou em processo próprio, mesmo depois de o
divórcio ter sido decretado.
Em caso de divórcio, nenhum dos cônjuges pode na partilha receber mais do que receberia se o
casamento tivesse sido celebrado segundo o regime da comunhão de adquiridos10.
Cada cônjuge perde todos os benefícios recebidos ou que haja de receber do outro cônjuge ou de
terceiro, em vista do casamento ou em consideração do estado de casado, quer a estipulação seja
anterior quer posterior à celebração do casamento 11. O autor da liberalidade pode determinar que o
benefício reverta para os filhos do casamento12.
Os efeitos do divórcio produzem-se a partir do trânsito em julgado da respectiva sentença, mas
retrotraem-se à data da proposição da acção quanto às relações patrimoniais entre os cônjuges13.
Se a separação de facto entre os cônjuges estiver provada no processo, qualquer deles pode requerer
que os efeitos do divórcio retroajam à data, que a sentença fixará, em que a separação tenha começado.
9
ARTHUR, Maria José, Disseminação da Lei da Família e lógicas da sua apropriação por parte das instituições do
Estado. O caso dos Serviços de Registo Civil, in Outras Vozes, nº 37, Fevereiro de 2012, disponível em
http://www.wlsa.org.mz/artigo/lei-da-familia-2-disseminacao-da-lei-da-familia-e-logicas-da-sua-apropriacao-por-parte-das-instituicoes-
do-estado-o-caso-dos-servicos-de-registo-civil/
10
Artigo 141 e seguintes da Lei da Família
11
Artigo 188/1, Uma vez que trata-se de cônjuge culpado
12
Artigo 188, número 3 da Lei da Família, caso ambos tenham filhos por si gerados ou adoptados
13
Conjugação dos artigos 173, 175, 177/3, 196, 200
O tribunal pode dar de arrendamento a qualquer dos cônjuges, a seu pedido, a casa de morada da
família, quer essa seja comum quer própria de outro, considerando, nomeadamente, as necessidades de
cada um dos cônjuges e o interesse dos filhos do casal. O referido arrendamento fica sujeito às regras
do arrendamento para habitação, mas o tribunal pode definir as condições do contrato, ouvidos os
cônjuges, e fazer caducar o arrendamento, a requerimento do senhorio, quando circunstâncias
supervenientes o justifiquem. O regime fixado, quer por homologação do acordo dos cônjuges, quer
por decisão do tribunal, pode ser alterado nos termos gerais da jurisdição voluntária.
14
Artigo 196 da Lei da Família
15
Artigo 196 do mesmo diploma legal
16
Artigo 417/1, al.b) segunda parte do mesmo diploma legal
17
Artigo 408/LF
O tribunal deve dar prevalência a qualquer obrigação de alimentos relativamente a um filho do cônjuge
devedor sobre a obrigação emergente do divórcio em favor do ex-cônjuge.
O cônjuge credor não tem o direito de exigir a manutenção do padrão de vida de que beneficiou na
constância do matrimónio18.
1.4.4.5. Quanto a custódia ou guarda de menores
Se os pais coabitarem, a guarda dos filhos em comum é normalmente partilhada. No entanto, quando
os pais se divorciam ou separam, devem decidir como exercer esta responsabilidade no futuro.
Os pais podem decidir que os filhos vivam alternadamente com ambos ou só com um deles. Neste
último caso, o outro progenitor terá, em regra, o direito de visitar os filhos em períodos definidos.
Não se pode usar argumentos de precárias condições de habitalidade e económicas de quem tem a
guarda do menor para alterar o exercício de poder parental, portanto, sendo o mais importante as
capacidades do educador, as suas qualidades de acompanhante dos filhos, a sua capacidade de lhes dar
afecto, carinho e amor de que eles necessitem para o seu são e melhor desenvolvimento sócio-psíquico
ou que tenham melhores condições de vida19.
Os direitos de guarda também abrangem outros direitos e deveres relacionados com os cuidados e a
educação dos filhos, incluindo o direito de cuidar deles e de administrar os seus bens. Os pais têm,
geralmente, a responsabilidade parental sobre os filhos, mas esta responsabilidade pode igualmente ser
atribuída a uma instituição a que os menores forem confiados.
Os pais podem decidir estas questões por mútuo acordo. Um mediador ou advogado pode ajudar se os
pais não chegarem a acordo.
Se os pais não chegarem a acordo, poderão ter de recorrer aos tribunais. O tribunal pode decidir atribuir
a guarda a ambos os pais (guarda conjunta) ou apenas a um deles (guarda única). No caso de só um dos
pais possuir a guarda, o tribunal pode estabelecer os direitos de visita do outro progenitor.20
18
Efeitos jurídicos de Divórcio: https://e-justice.europa.eu/content_divorce-45-pt-pt.do?member=1#toc_3
19
Acórdão n° 157/06-Alimentos Devidos a menores-Regime da alteração da pensão de alimentos, Acórdãos do Tribunal
Supremo-Jurisdição Cível, de Menores e Laboral de 2004-2008, Vol. II, Tribunal Supremo, 2012, pp.284
20
Responsabilidade parental: https://e-justice.europa.eu/content_parental_responsibility-302-pt.do?clang=pt
Divisão dos bens (direitos reais)
Em caso de divórcio, o património comum dos cônjuges é partilhado. Em primeiro lugar, os bens
próprios dos cônjuges são separados. Depois, são pagas as compensações e as dívidas. Por fim, cada
cônjuge recebe metade do património comum. A regra da metade é obrigatória, o que significa que
qualquer acordo em contrário será nulo (art.º 150/LF). Mesmo que os cônjuges estipulem que a
comunhão geral de bens deve ser aplicada ao seu património, em caso de divórcio os cônjuges só
recebem aquilo a que teriam direito nos termos do regime de comunhão de adquiridos (art.º 187
adaptado ao artigo 1790.º do CC, o Livro IV do Código Civil Português21).
Se os cônjuges não chegarem a acordo relativamente à partilha do seu património comum, este será
dividido pelo tribunal. Se chegarem a acordo, a partilha será celebrada por um notário ou no Registo
Civil.
Durante a partilha do património comum, as dívidas comuns também são divididas. No entanto, essa
partilha só entra em vigor relativamente aos credores se estes derem o seu consentimento.
Se o valor dos bens que um cônjuge recebeu através da partilha do património exceder a parte a que
tinha direito, os cônjuges podem acordar uma igualização em géneros ou na forma de um pagamento.
Nesse caso, o montante do pagamento de tornas será calculado pelo notário, de acordo com o valor
dos bens, das dívidas e da quota de cada cônjuge no património comum. Se os cônjuges não
conseguirem chegar a acordo, será o tribunal a decidir sobre a partilha22.
O cônjuge declarado único ou principal culpado perde todos os benefícios recebidos ou que haja de
receber do outro cônjuge ou de terceiro, em vista do casamento ou em consideração do estado de
casado, quer a estipulação seja anterior quer posterior à celebração do casamento (art. 188º/1LF). Pelo
contrário, o cônjuge inocente ou que não seja o principal culpado, conserva todos os benefícios
recebidos ou que haja de receber do outro cônjuge ou de terceiro, ainda que tenham sido estipulados
com cláusula de reciprocidade. Pode renunciar a esses benefícios por declaração unilateral de vontade
mas, havendo filhos do casamento, a renúncia só e permitida a favor destes (arts. 188/2, 169º/1-c CC).
21
Disponível em: http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?
artigo_id=775A1790&nid=775&tabela=leis&pagina=1&ficha=1&nversao=#artigo
22
http://www.coupleseurope.eu/pt/portugal/topics/5-Quais-as-consequ%C3%AAncias-do-div%C3%B3rcio-separa
%C3%A7%C3%A3o
Para além das doações, caducarão também as liberalidades de uso feitas por um dos cônjuges ao outro
desde o momento que o seu valor ultrapasse o valor normal das liberalidades entre pessoas estranhas.
Perda de direitos sucessórios: o cônjuge sobrevivo é herdeiro legitimário e legítimo do cônjuge
falecido, nos termos dos arts. 2132º segs., e 2157º segs. CC. Contudo, o cônjuge não é chamado à
herança se, à data da morte do autor da sucessão, se encontrar divorciado ou separado judicialmente de
pessoas e bens, por sentença que já tenha transitado ou venha a transitar em julgado, ou ainda se a
sentença de divórcio ou separação vier a ser posteriormente àquela data nos termos do art. art. 2133º/3
CC.
Prestação de alimentos
O art. 420/LF, dispõe que têm direito a alimentos, em caso de divórcio, o cônjuge não considerado
culpado, ou, quando haja culpa de ambos, não considerado principal culpado na sentença de divórcio,
se este tiver sido decretado por força da violação dos deveres conjugais, ou com base em separação de
facto por seis anos consecutivos, ou ausência por tempo não inferior a quatro anos; o cônjuge réu, se o
divórcio tiver sido decretado com fundamento na alteração das faculdades mentais do outro cônjuge;
qualquer dos cônjuges, se o divórcio tiver sido decretado por mútuo consentimento, ou se, tratando-se
de divórcio litigioso, ambos forem considerados igualmente culpados.
Excepcionalmente, pode o Tribunal, por motivos de equidade conceder alimentos ao cônjuge que a eles
não teria direito, nos termos enunciados, considerando em particular a duração do casamento e a
cooperação prestada por esse cônjuge à economia do casal (art. 420/2 da LF).
O dever de alimentos deve durar só durante um curto período transitório. Durante o período necessário
para a adaptação do ex-cônjuge mais necessitado, a uma vida economicamente independente, em que é
a sua responsabilidade a angariação dos meios necessários à sua subsistência.
A regra geral sobre a medida dos alimentos está fixada no art. 408/LF: os alimentos serão
proporcionados aos meios daquele que houver de prestá-los e a necessidade daquele que houver de
recebê-los, atendendo-se à possibilidade de o alimentando prover à sua subsistência.
Os alimentos a prestar não visam colocar o ex-cônjuge alimentando ao nível de vida em que esteve
casado. O casamento extingue-se, e com ele o estatuto patrimonial de cada um dos cônjuges, dele
dependente. Os alimentos visam, sim, garantir ao cônjuge alimentando, durante o espaço de tempo que
indicado, a satisfação das suas necessidades de modo condigno, em termos dependentes das
possibilidades do obrigado.
Se os filhos são maiores, não terá se de levar em conta o tempo que os cônjuges terão de dedicar à
criação de filhos comuns…por estarem criados.
Resuma-se: os alimentos serão concedidos durante um prazo intercalar, entre a extinção do casamento
e a retomada da actividade económica normal pelo cônjuge alimentando; prazo necessariamente curto.
Estes alimentos não visam colocar o cônjuge alimentando no nível de vida que tinha enquanto casado,
mas unicamente garantir-lhe a satisfação das suas necessidades, embora de modo condigno.