Você está na página 1de 7

001 L IC 19.

20

FICHAMENTO DE LEITURA
TIPO Livro
ASSUNTO Simbolismo (memórias)
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA MURICY, Andrade.
O simbolismo à sombra das araucárias
(memórias). Curitiba: Conselho Federal de
Cultura e departamento de Assuntos
culturais. 1976.
PALAVRAS-CHAVE Simbolismo; Paganismo; Literatura; Paraná

LOCALIZAÇÃO BSCH UFPR B869.15 M977 SIM

RESUMO

Nesse livro de memórias, Muricy, logo em seu início recorre a inúmeras outras fontes e
relatos, visto que ao contar a história de Euzebio Silveira Mota, ainda não havia nascido,
rememora suas leituras compulsivas de “A Republica” de Platão, e sua formação ao lado
de grandes abolicionistas, tal como Joaquim Nabuco. Conta também histórias e influencias
sobre as vidas de Nestor Vitor e Cruz e Sousa, grandes fundadores do movimento
simbolista no Brasil, incluindo o jovem Emiliano Perneta, Rocha Pombal e sem dúvidas
Dario Vellozo, que segundo o autor, ao qual foi não somente aluno, como também
discípulo, foi um grande, senão o maior, de todos os simbolistas paranaense, carregava
consigo o vigor de uma paixão pelos clássicos, e foi um dos grandes responsáveis pera
mutação da paisagem Curitibana durante alguns anos, seja na arquitetura, com seu
“Templo das Musas”, seja em uma atmosfera helena que tomou as ruas da jovem capital
durante as “Festa da Primavera”.

CITAÇÕES E IDEIAS GENIAIS

1. A PRIMASIA DOS ARES CURITIBANOS;

“A velha Curitiba da inumerável sinfonia dos sapos, agora abrira-se em caminhos para as
tropas de Sorocaba e Mato Grosso, e despejava serra abaixo o mate (...) A sua
primitividade rústica era ainda mantida por uma espécie de estagnação sertaneja(...) Ainda
não havia ali traços de burguesia típica, e sim muitos toques de uma espécie de aristocracia
rural...” pág. 16

2. FUNDAÇÃO DA UNIVERSIDADE DO PARANÁ (1912)

“O meio era já muito outro. Homens como Eufrásio Correia, João José Pedrosa, tinham se
imposto por que de inteligência superior. A vivacidade intelectual do momento chegou a
impulsionar Rocha Pombo, como Deputado estadual (1886 – 87) a tomar a iniciativa da
criação da Universidade do Paraná, cuja primeira pedra foi colocada, porém só teve a sua
concretização em 1912.” Pág. 47

3. EUZEBIO SILVEIRA DA MOTA


001 L IC 19.20

“Era um Sócrates à procura de discípulos, e que não encontrou a seu Alcibíades. “Um
Sócrates” chamou-o Dario Vellozo ( De certo ponto de vista um dos mais atentos dentre
os seus camaradas mais moços). Pág. 57

“O que realmente terão nele sentido, capaz de os estimular [...] Dois dentre esses jovens,
Silveira Neto e Dario Vellozo, ficaram marcados para sempre desse digno hierárquico.”
Pág. 60

“Também nas raízes do simbolismo brasileiro, toda uma fermentação descobrimos de


sofrimento e agonia: a revolução de 93 [Revolução federalista] talara as províncias do sul,
com massacres ignóbeis, inquietações profundas; esse fato correspondeu, modus in rebus,
para os poetas do Brasil meridional, à derrota de 70 para os simbolismo da França”
(SILVEIRA, Tasso. 1956. Pag 88) Pág 60

 POLÍTICA

“Indiferente à política com “p” minúsculo, já vimos, em torno dele, entretanto, ela se
desencadeara com brutalidade. A pequena cidade cordial, foi sacudida, em 1893, por
sucessivas ocorrências dramáticas [...] As paixões partidárias invadiram e dividiram as
famílias, dispersaram, por uns tempos, as tranquilas rodas antigas.” Pág 59

4. NOTA DE RODAPÉ SOBRE JÚLIA DA COSTA

“Por essa época, as letras paranaenses dormitavam num crepúsculo anêmico do


Romantismo [...] Primeira figura ponderável, o chamado cantor do Nhundiauara,
Fernando Amaro (de Miranda), humilde Casimiro de Abreu de Paranaguá e Morretes,
antecedeu de pouco, uma primeira personagem significativa, Júlia da Costa, a Narcisa
Amália paranaense, cuja biografia passional, refletida em obra poética de certo interesse,
até há pouco impressionava as imaginações provincianas [...] Vida de Júlia da Costa.
Curitiba. 1953.” Pág. 59

5. NESTOR VITOR – POLÍTICA (IMPORTANTE)

Para Muricy, a geração de Nestor Vitor (Simbolista) foi uma geração de forte cunho de
engajamento político, rebatendo críticas de Astrogildo Pereira em seu livro
“Interpretações”, que coloca o simbolismo no Brasil como um movimento “Pré-fascista”,
para o autor, Pereira equivoca-se ao exigir ainda naquele momento uma visão política
internacionalista e esquece das características que marcaram o movimento no Brasil, tais
como os interesses pelo Socialismo, anticlericalismo militante, e a viva tradição do
Abolicionismo e da República.

 Transcrição de toda página:

“O futuro crítico e pensador Simbolista, arte que certa corrente político-ideológica


considera “marginal” e “escapista”, foi dedicada, apaixonadamente político,
paralelamente à atitude do seu futuro amigo Cruz e Sousa (no Desterro) e à do seu outro
grande amigo, Emiliano Pernetta. A geração desses homens foi das mais ardorosamente
preocupadas com a Política, no Brasil, depois da Independência. Desde a Inconfidência e
001 L IC 19.20

a Revolução de 1817, não se vira mais viva compulsão do sentimento político, agora,
porém, em âmbito mais vasto de humanidade.
Quando vejo um publicista de merecimento, como Astrogildo Pereira, fazer, no seu livro
Interpretações, a descoberta estupefaciente de que o Simbolismo foi, no Brasil, um
movimento “pré-fascista”, obra de literatos alheios aos grandes interesses sociais,
indiferentes à miséria das massas sofredoras, perdidos em visões de ópio literário e na
malsinada “Torre de marfim”, não posso deixar de sorrir. A atmosfera de Curitiba, ainda
na minha infância, era vibrante de civismo haurido ingenuamente no Travail de
Zola, cheia de interesse pelo Socialismo, anticlerical militante, maçônica, e ainda
guardava viva a tradição do Abolicionismo e da República. Astrogildo Pereira, e os
seus companheiros de ideologia, parece quererem exigir que a gente daquele tempo
tivesse a consciência política internacionalista de hoje, que fosse instruída em Karl
Marx e em Engels. Nem mesmo a Rerum Novarum, com a sua definitiva crítica social,
tinha impressionado aqueles idealistas. Ademais, não seria tomada em consideração: a
suspeição era grande, porque Leão XIII era Papa. O positivismo comtista, provindo da
tradição de Benjamim Constant Botelho de Magalhães, e divulgado pelos seus jovens
cadetes, representava, para eles, mais uma religião do que uma filosofia.” Pág 88

“No tempo de Nestor Vitor ginasiano, não creio que o sentimento anticlerical fosse vivo
como se tornou no meu tempo. Recebera, porém, Nestor Vitor do seu mestre, José Cleto,
princípios liberais sólidos, e o exemplo pessoal daquele mentor só podia tê-los confirmado
nele. As suas humanidades vieram-lhe tingidas de republicanismo enciclopedístico, de
preceitos igualitários rouseauistas. Pôde, pois, participar integralmente da efervescência
abolicionista e republicana, a que dia a dia, ali se acentuava.” Pág 88-89

6. VISÃO POLÍTICA SIMBOLISTA

“Os “republicanos históricos” eram ainda políticos do século XVIII, à maneira dos
filósofos clássicos, com fé inabalável no Direiro Natural e nas bases romanas da Justiça.
Desejavam a igualdade jurídica absoluta, mas também o respeito inalienável da pessoa
natural. Pensavam numa estrutura sólida dum Estado representativo e não lhes ocorria que
precisassem, para isso, mais do que libertar os escravos, habilitando, assim, a totalidade
nacional para o pleno exercício da sua soberania de nação é que era, para eles, O Estado,
e não o Estado- Socialista ou fascista – a Nação.” Pág 89

“Confiavam em que, redimidos os escravos e mudada a forma de governo, todos os


problemas estariam resolvidos, e viria a Idade de Ouro” pág 89

“Como Nestor Vitor, muitos dos maiores dentre os futuros simbolistas entregaram-se
inteiramente ao movimento (Abolicionista e republicano). Aquilo representava, para eles,
a totalidade do idealismo político.” Pág 89

7. EMILIANO PERNETTA

“Emiliano Pernetta desde aquele 1885 em que Nestor Vítor chegou a Curitiba, achava-se
em S. Paulo, conspirando pelo Abolicionismo e pela República [...] nunca perdeu o vinco
político...” pág 90

8. O LIVRE-PENSAMENTO
001 L IC 19.20

“Como já referi, eram determinadamente anticlericais. Já então, como agora, uniam-se ao


Espiritismo, ao protestantismo, à Maçonaria, para defesa do que chamavam Livre-
Pensamento.” Pág 91

9. SIMBOLISTAS

“Esse grupo foi de decisiva importância para o Paraná. Ali estão, efetivamente, as maiores
figuras representativas da poesia, da ficção narrativa e do pensamento paranaense, por
consenso nacional: Rocha Pombo, Nestor Vitor e Emiliano Pernetta[...] ao príncipe da
mocidade o peta Dario Vellozo. [...] O Paraná prodigiosamente afirmativo de hoje, de
primeira plana na realidade econômico-político nacional e, seguindo encaminhamentos
culturais imprevisíveis para os homens daquela época, em nada se acusava então.
Pensavam em GRÉCIA e na latinidade europeia, sobretudo francesa...” pág 108

 CAP IV – A NOVA HÉLADE: SIMBOLISMO (1893)

“A importância histórica de João Itiberê nas letras paranaenses, e reflexamente nas do


Brasil inteiro, é por ter sido ele o Núncio principal do Simbolismo, e pode-se dizer, o
civilizador por meio literário local.” Pág 200

 REVISTAS SIMBOLISTAS

“Não participou, porém, da fundação da mais importante de todas, e das mais importantes
do movimento brasileiro todo, O Cenáculo, que é de 1985. Constituido por Dario Vellozo,
Silveira Neto, Júlio Pernetta, Irmão de Emiliano e Antônio Braga...” pág 204

Foram as seguintes as principais revistas simbolistas do Paraná:

- Clube Curitibano (1890)


- Revista Azul (1893)
- O Cenáculo (1895)
- Galáxia (1897)
- Jerusalém (1898)
- O sapo (1898)
- Esphinge (1899)
-Pallium (1900)
- Breviário (1900)
- Turris Eburnea (1900)
- Azul (1900)
- Acácia (1901)
- Stellario (1905)
- Victrix (1907)

 LIVRO – O CONCEITO DA POESIA COMO EXPRESSÃO DA


CULTURA- HERNANI CIDADE. Roger Bastide diz:

“O simbolismo do Paraná por exemplo, não é o mesmo que o de Minas, e o do Rio difere
do Rio Grande do Sul [...] O negro Cruz e Sousa, nascido no Sul, onde domina o branco,
procurará na poesia de Mallarmé, requintada, idealista, platônica e difícil, uma revanche
001 L IC 19.20

contra o seu destino [...] e que toma com ele a forma literária antes de tomar a forma
política...” pág 210

 DARIO VELLOZO E A NOVA HÉLADE (1909 – 1914)

“Vencidos os vagalhões provocados pela sangrenta ressaca da Revolução Federalista de


93, acusou-se no meio intelectual repentino adensamento das virtualidades criadoras; e foi
então a preamar do Simbolismo e do Decadentismo, que se afirmaram com pujança
inesperada. A nova-Hélade concretizou-se nos derradeiros anos da “belle époque”, e
ainda hoje vestígios seus persistem...” págs 211-212

“... Ou quando comentava para nós, seus alunos, as comédias de Aristófanes, alguma
passagem de A República, de Platão... Aquela inesperada Nova-Hélade, aventura dp
espírito de um poeta...” pág 215

“Dario Vellozo foi o deus ex machina dessa feérie neo-helênica. Com um prestígio que
nos parecia (eramos, então, adolescentes) taumatúrgico. Tirou de sua imaginação aquela
realidade-de-arte (que não é bem a realidade da vida), a qual durou até os começos da
grande guerra de 1914-18. Como perante toda realidade de arte, houve, da parte daqueles
que tinham o espírito fechado ao júbilo da poesia, sorrisos e muitas vezes manifestações
da franca antipatia. Aquele paganismo florido não chegou, porém, a assustar. Nem mais
os assusta, hoje, porque, afinal, passou como breve visão mágica, projetada em irisada
nuvem... Nós sentíamos, obscuramente, como a um fenômeno de concretização duma
graciosa fantasia...” pág 216

“A paisagem curitibana não era grega. Era a da Grécia que nós idealizávamos...” pág
216

 DARIO VELLOZO PROFESSOR

“Dario já era, de tudo isso, como a própria encarnação quando lhe veio às mãos
instrumento decisivo de eficiência apostolar: O professorado, na cátedra de História
Universal e do Brasil do Ginásio Paranaense (hoje Colégio Estadual) e da Escola Normal”
pág 218

“Dario Vellozo não era um Sócrates, como Euzebio Mota se he afigurava ser. Era
realmente o aedo, o vates, em missão de preselitismo e de encantamento. Dificilmente
algum aluno teve coragem, mesmo intimamente, de resistir à sua lição. Nem mesmo teria
qualquer disposição defensiva pessoal consciente em relação a ele. Depõe Tasso da
Silveira [...] “Ele é o Mestre querido e evocado a todos os instantes. Amam-no os jovens
com um amor que é antes paixão exclusiva, admiração que não admite restrições,
entusiasmo que não quer mais analisar” pág 218

“...Os estudantes se tornam, em palavras de Dario, verdadeiros discípulos, no sentido


filosófico da palavra” pág 219

 FESTA DA PRIMAVERA

“Daí pôde Dario Vellozo dar um passo para diante. A antiga Grécia daria sua preferência
para nela situar o seu sonho corporificado [...] A realização da “Festa da Primavera”. Os
001 L IC 19.20

jovens e as moças, revestidos de clâmides de cores rigorosamente autênticas em relação


às da indumentária grega antiga, por sobre as brancas túnicas...” pág 220.

“Dario Vellozo sobreviveu ao moremoto da guerra mundial em 1914, que fez desvanecer-
se o seu sonho helênico. Dai, talvez, o ter resolvido dar-lhe corpo diferente, dessa vez
concreto, promoveu a edificação dum “Templo das Musas”, de estilo rigorosamente
helênico, no seu querido Retiro Saudoso..” pág 221

 EUZÉBIO E A ACADEMIA PLATÔNICA NA NOVA HÉLADE.

“A atitude de Dario Vellozo, na nova-Hélade, representou arrebatamento divinatório,


deliciada busca de uma realidade sonhada, e por fim dum parasobrenatural; mas ativo,
para agir, influir.” Pág 242

“Dario Vellozo usava dos elementos de caracterização helenizante como fatores de


orinização e de estímulo para o espírito. Como bom simbolista, quase nunca lhes
explorava o interesse formal e descritivo, como faria um parnasiano” pág 243

“Grécia (Ponto de interrogação) Simplesmente o “Retiro Saudoso”, e o “Templo das


Musas”, sonho de Dario Vellozo corporificado. Formas gregas, na Paisagem da antiga
Curitiba.” Pág 243

“Dario, antes poeta do que pensador, era um romântico com raízes pré-clássicas.
Num poeta, a Grécia de Fídias, de Praxiteles, de Apeles e Parrásio, de Sófocles e
Aristófanes, representaria facilmente um risco de neo-classicismo acadêmico e de
Parnasianismo [...] Platão, guia de Euzébio, trata com ironia o Osfismo em várias dos seus
livros.” Pág 254

“Euzébio, esse, procurava a idade de Ouro nos ditames da República e de As Leis, de


Platão, com um idealismo que nem sempre tentava conciliar o pensamento do Mestre da
Academia com a realidade atual.” Pág 254

 INFLUÊNCIAS DO PAGANISMO NO ANTICLERICALISMO

“Já se estará vendo que o universo poético-doutinário criado por Dario Vellozo não
representa um simples retorno optativo ao paganismo helênico. Na resistência, e até, direi,
hostilidade ao Cristianismo, tão decidida nele, nenhuma influência poderia ter tido o
idealismo místico do platonismo, instrumento do cristianismo de Plotino e indiretamente
de Sto. Agostinho e Santo Tomás...” Pág 254

“Schuré ligava Wagner à Grécia antiga, como este exigia: a sua celebrada “união das artes”
teria uma pretensão na tragédia grega e nos mistérios órficos. Nietzsche, que era helenista
profissional, fizera o mesmo na Origem da Tragédia, tratando de Wagner, antes de ataca-
lo com violência que, no fundo, observou Thomas Mann, não passou de paradoxal
sublimação dum amor irremissível.” Pág 260

“Dario, mais que um “Grego” [...]era um seduzido pelo Oriente, de onde provinha também
a tradição esotérica da Hélade” pág 261

 OS UNIVERSAIS
001 L IC 19.20

“Por “universais” se entende, na terminologia filosófica, as idéias que a mente humana


forma abstraindo dos caracteres distintivos dos individuis e concebendo o que há de
comum entre eles e dos mesmos se pode dizer em sentido unívoco. Pág 275

BIBLIOGRAFIA CITADA

PEREIRA, Astrogildo. Interpretações.


- Leitura do simbolismo como movimento “pré-facista”. Pág 88

Você também pode gostar