Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
20
FICHAMENTO DE LEITURA
TIPO Livro
ASSUNTO Simbolismo (memórias)
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA MURICY, Andrade.
O simbolismo à sombra das araucárias
(memórias). Curitiba: Conselho Federal de
Cultura e departamento de Assuntos
culturais. 1976.
PALAVRAS-CHAVE Simbolismo; Paganismo; Literatura; Paraná
RESUMO
Nesse livro de memórias, Muricy, logo em seu início recorre a inúmeras outras fontes e
relatos, visto que ao contar a história de Euzebio Silveira Mota, ainda não havia nascido,
rememora suas leituras compulsivas de “A Republica” de Platão, e sua formação ao lado
de grandes abolicionistas, tal como Joaquim Nabuco. Conta também histórias e influencias
sobre as vidas de Nestor Vitor e Cruz e Sousa, grandes fundadores do movimento
simbolista no Brasil, incluindo o jovem Emiliano Perneta, Rocha Pombal e sem dúvidas
Dario Vellozo, que segundo o autor, ao qual foi não somente aluno, como também
discípulo, foi um grande, senão o maior, de todos os simbolistas paranaense, carregava
consigo o vigor de uma paixão pelos clássicos, e foi um dos grandes responsáveis pera
mutação da paisagem Curitibana durante alguns anos, seja na arquitetura, com seu
“Templo das Musas”, seja em uma atmosfera helena que tomou as ruas da jovem capital
durante as “Festa da Primavera”.
“A velha Curitiba da inumerável sinfonia dos sapos, agora abrira-se em caminhos para as
tropas de Sorocaba e Mato Grosso, e despejava serra abaixo o mate (...) A sua
primitividade rústica era ainda mantida por uma espécie de estagnação sertaneja(...) Ainda
não havia ali traços de burguesia típica, e sim muitos toques de uma espécie de aristocracia
rural...” pág. 16
“O meio era já muito outro. Homens como Eufrásio Correia, João José Pedrosa, tinham se
imposto por que de inteligência superior. A vivacidade intelectual do momento chegou a
impulsionar Rocha Pombo, como Deputado estadual (1886 – 87) a tomar a iniciativa da
criação da Universidade do Paraná, cuja primeira pedra foi colocada, porém só teve a sua
concretização em 1912.” Pág. 47
“Era um Sócrates à procura de discípulos, e que não encontrou a seu Alcibíades. “Um
Sócrates” chamou-o Dario Vellozo ( De certo ponto de vista um dos mais atentos dentre
os seus camaradas mais moços). Pág. 57
“O que realmente terão nele sentido, capaz de os estimular [...] Dois dentre esses jovens,
Silveira Neto e Dario Vellozo, ficaram marcados para sempre desse digno hierárquico.”
Pág. 60
POLÍTICA
“Indiferente à política com “p” minúsculo, já vimos, em torno dele, entretanto, ela se
desencadeara com brutalidade. A pequena cidade cordial, foi sacudida, em 1893, por
sucessivas ocorrências dramáticas [...] As paixões partidárias invadiram e dividiram as
famílias, dispersaram, por uns tempos, as tranquilas rodas antigas.” Pág 59
Para Muricy, a geração de Nestor Vitor (Simbolista) foi uma geração de forte cunho de
engajamento político, rebatendo críticas de Astrogildo Pereira em seu livro
“Interpretações”, que coloca o simbolismo no Brasil como um movimento “Pré-fascista”,
para o autor, Pereira equivoca-se ao exigir ainda naquele momento uma visão política
internacionalista e esquece das características que marcaram o movimento no Brasil, tais
como os interesses pelo Socialismo, anticlericalismo militante, e a viva tradição do
Abolicionismo e da República.
a Revolução de 1817, não se vira mais viva compulsão do sentimento político, agora,
porém, em âmbito mais vasto de humanidade.
Quando vejo um publicista de merecimento, como Astrogildo Pereira, fazer, no seu livro
Interpretações, a descoberta estupefaciente de que o Simbolismo foi, no Brasil, um
movimento “pré-fascista”, obra de literatos alheios aos grandes interesses sociais,
indiferentes à miséria das massas sofredoras, perdidos em visões de ópio literário e na
malsinada “Torre de marfim”, não posso deixar de sorrir. A atmosfera de Curitiba, ainda
na minha infância, era vibrante de civismo haurido ingenuamente no Travail de
Zola, cheia de interesse pelo Socialismo, anticlerical militante, maçônica, e ainda
guardava viva a tradição do Abolicionismo e da República. Astrogildo Pereira, e os
seus companheiros de ideologia, parece quererem exigir que a gente daquele tempo
tivesse a consciência política internacionalista de hoje, que fosse instruída em Karl
Marx e em Engels. Nem mesmo a Rerum Novarum, com a sua definitiva crítica social,
tinha impressionado aqueles idealistas. Ademais, não seria tomada em consideração: a
suspeição era grande, porque Leão XIII era Papa. O positivismo comtista, provindo da
tradição de Benjamim Constant Botelho de Magalhães, e divulgado pelos seus jovens
cadetes, representava, para eles, mais uma religião do que uma filosofia.” Pág 88
“No tempo de Nestor Vitor ginasiano, não creio que o sentimento anticlerical fosse vivo
como se tornou no meu tempo. Recebera, porém, Nestor Vitor do seu mestre, José Cleto,
princípios liberais sólidos, e o exemplo pessoal daquele mentor só podia tê-los confirmado
nele. As suas humanidades vieram-lhe tingidas de republicanismo enciclopedístico, de
preceitos igualitários rouseauistas. Pôde, pois, participar integralmente da efervescência
abolicionista e republicana, a que dia a dia, ali se acentuava.” Pág 88-89
“Os “republicanos históricos” eram ainda políticos do século XVIII, à maneira dos
filósofos clássicos, com fé inabalável no Direiro Natural e nas bases romanas da Justiça.
Desejavam a igualdade jurídica absoluta, mas também o respeito inalienável da pessoa
natural. Pensavam numa estrutura sólida dum Estado representativo e não lhes ocorria que
precisassem, para isso, mais do que libertar os escravos, habilitando, assim, a totalidade
nacional para o pleno exercício da sua soberania de nação é que era, para eles, O Estado,
e não o Estado- Socialista ou fascista – a Nação.” Pág 89
“Como Nestor Vitor, muitos dos maiores dentre os futuros simbolistas entregaram-se
inteiramente ao movimento (Abolicionista e republicano). Aquilo representava, para eles,
a totalidade do idealismo político.” Pág 89
7. EMILIANO PERNETTA
“Emiliano Pernetta desde aquele 1885 em que Nestor Vítor chegou a Curitiba, achava-se
em S. Paulo, conspirando pelo Abolicionismo e pela República [...] nunca perdeu o vinco
político...” pág 90
8. O LIVRE-PENSAMENTO
001 L IC 19.20
9. SIMBOLISTAS
“Esse grupo foi de decisiva importância para o Paraná. Ali estão, efetivamente, as maiores
figuras representativas da poesia, da ficção narrativa e do pensamento paranaense, por
consenso nacional: Rocha Pombo, Nestor Vitor e Emiliano Pernetta[...] ao príncipe da
mocidade o peta Dario Vellozo. [...] O Paraná prodigiosamente afirmativo de hoje, de
primeira plana na realidade econômico-político nacional e, seguindo encaminhamentos
culturais imprevisíveis para os homens daquela época, em nada se acusava então.
Pensavam em GRÉCIA e na latinidade europeia, sobretudo francesa...” pág 108
REVISTAS SIMBOLISTAS
“Não participou, porém, da fundação da mais importante de todas, e das mais importantes
do movimento brasileiro todo, O Cenáculo, que é de 1985. Constituido por Dario Vellozo,
Silveira Neto, Júlio Pernetta, Irmão de Emiliano e Antônio Braga...” pág 204
“O simbolismo do Paraná por exemplo, não é o mesmo que o de Minas, e o do Rio difere
do Rio Grande do Sul [...] O negro Cruz e Sousa, nascido no Sul, onde domina o branco,
procurará na poesia de Mallarmé, requintada, idealista, platônica e difícil, uma revanche
001 L IC 19.20
contra o seu destino [...] e que toma com ele a forma literária antes de tomar a forma
política...” pág 210
“... Ou quando comentava para nós, seus alunos, as comédias de Aristófanes, alguma
passagem de A República, de Platão... Aquela inesperada Nova-Hélade, aventura dp
espírito de um poeta...” pág 215
“Dario Vellozo foi o deus ex machina dessa feérie neo-helênica. Com um prestígio que
nos parecia (eramos, então, adolescentes) taumatúrgico. Tirou de sua imaginação aquela
realidade-de-arte (que não é bem a realidade da vida), a qual durou até os começos da
grande guerra de 1914-18. Como perante toda realidade de arte, houve, da parte daqueles
que tinham o espírito fechado ao júbilo da poesia, sorrisos e muitas vezes manifestações
da franca antipatia. Aquele paganismo florido não chegou, porém, a assustar. Nem mais
os assusta, hoje, porque, afinal, passou como breve visão mágica, projetada em irisada
nuvem... Nós sentíamos, obscuramente, como a um fenômeno de concretização duma
graciosa fantasia...” pág 216
“A paisagem curitibana não era grega. Era a da Grécia que nós idealizávamos...” pág
216
“Dario já era, de tudo isso, como a própria encarnação quando lhe veio às mãos
instrumento decisivo de eficiência apostolar: O professorado, na cátedra de História
Universal e do Brasil do Ginásio Paranaense (hoje Colégio Estadual) e da Escola Normal”
pág 218
“Dario Vellozo não era um Sócrates, como Euzebio Mota se he afigurava ser. Era
realmente o aedo, o vates, em missão de preselitismo e de encantamento. Dificilmente
algum aluno teve coragem, mesmo intimamente, de resistir à sua lição. Nem mesmo teria
qualquer disposição defensiva pessoal consciente em relação a ele. Depõe Tasso da
Silveira [...] “Ele é o Mestre querido e evocado a todos os instantes. Amam-no os jovens
com um amor que é antes paixão exclusiva, admiração que não admite restrições,
entusiasmo que não quer mais analisar” pág 218
FESTA DA PRIMAVERA
“Daí pôde Dario Vellozo dar um passo para diante. A antiga Grécia daria sua preferência
para nela situar o seu sonho corporificado [...] A realização da “Festa da Primavera”. Os
001 L IC 19.20
“Dario Vellozo sobreviveu ao moremoto da guerra mundial em 1914, que fez desvanecer-
se o seu sonho helênico. Dai, talvez, o ter resolvido dar-lhe corpo diferente, dessa vez
concreto, promoveu a edificação dum “Templo das Musas”, de estilo rigorosamente
helênico, no seu querido Retiro Saudoso..” pág 221
“Dario, antes poeta do que pensador, era um romântico com raízes pré-clássicas.
Num poeta, a Grécia de Fídias, de Praxiteles, de Apeles e Parrásio, de Sófocles e
Aristófanes, representaria facilmente um risco de neo-classicismo acadêmico e de
Parnasianismo [...] Platão, guia de Euzébio, trata com ironia o Osfismo em várias dos seus
livros.” Pág 254
“Já se estará vendo que o universo poético-doutinário criado por Dario Vellozo não
representa um simples retorno optativo ao paganismo helênico. Na resistência, e até, direi,
hostilidade ao Cristianismo, tão decidida nele, nenhuma influência poderia ter tido o
idealismo místico do platonismo, instrumento do cristianismo de Plotino e indiretamente
de Sto. Agostinho e Santo Tomás...” Pág 254
“Schuré ligava Wagner à Grécia antiga, como este exigia: a sua celebrada “união das artes”
teria uma pretensão na tragédia grega e nos mistérios órficos. Nietzsche, que era helenista
profissional, fizera o mesmo na Origem da Tragédia, tratando de Wagner, antes de ataca-
lo com violência que, no fundo, observou Thomas Mann, não passou de paradoxal
sublimação dum amor irremissível.” Pág 260
“Dario, mais que um “Grego” [...]era um seduzido pelo Oriente, de onde provinha também
a tradição esotérica da Hélade” pág 261
OS UNIVERSAIS
001 L IC 19.20
BIBLIOGRAFIA CITADA