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HARDMAN, Francisco Foot; LEONARDI, Victor.

História da indústria e do trabalho no


Brasil: das origens aos anos 20. São Paulo: Global Editora, 1982.

Cap. 12 – Internacionalismo e imigração

“Autores como S. Maram e M. Hall acentuaram o caráter de extrema heterogeneidade étnico-


nacional que predominou na força de trabalho industrial de centros como São Paulo, Santos e Rio
de Janeiro. Estes pesquisadores enfatizaram o papel desorganizador exercido pela imigração
estrangeira sobre as tentativas fragmentárias de organização do movimento operário em seu
conjunto. Claro está que a diversidade de etnias e nacionalidades representou, em geral, uma
dificuldade a mais para a organização do proletariado no plano sindical e político”. (p. 227)

“[…] a imigração jogou um papel positivo no processo de formação do proletariado como classe
‘para si’. A presença de núcleos de militantes vinculados à experiência internacional da classe
contribuía […] para que se estabelecesse uma ponte mediadora entre a consciência do operariado
em formação, no Brasil, e o proletariado internacional. O internacionalismo, nesta medida, não foi
apenas uma ‘ideologia importada’, nem um mero recurso retórico de propaganda doutrinária.
Inscrevia-se, pelo contrário, no processo do movimento operário brasileiro tornando-o […] parte
específica e constitutiva do movimento operário internacional”. (p. 227) – Ideia de que a imigração
jogou um papel mais positivo do que negativo e desintegrador é dos autores, em contraposição à
Maram e Hall.

“[…] não nos deve espantar o fato de que os núcleos organizados, no plano sindical e no plano
partidário, sempre constituíram minoria em relação ao conjunto da classe. Isto sempre ocorreu, em
maior ou menos grau, na história do movimento operário. […] As oscilações e relativa instabilidade
dos organismos operários também não expressam nenhum tipo particular de ‘desvio’ ou
‘incapacidade’, ou, ainda, de ‘atraso’. Expressam, pelo contrário, determinadas variações na
correlação de forças entre as classes, as dificuldades econômicas, sociais, culturais e políticas de
organização do proletariado, etc”. (p. 228)

Capítulo 15 – Expressões regionais do movimento operário brasileiro: o proletariado nas regiões


norte, nordeste, sul e interior do sudeste

“Até a Guerra de 1914 os desequilíbrios regionais não eram ainda tão acentuados. Fora de São
Paulo e Rio de Janeiro, onde o crescimento industrial provocara o aparecimento de operários das
mais variadas categorias, as fábricas acompanhavam as necessidades locais e baseavam-se nas
matérias-primas regionais: a indústria do sal no Rio Grande do Norte, por exemplo, as serrarias e
carpintarias no Paraná, a fabricação de laticínios em Minas Gerais. Dadas as características desses
ramos industriais e sua localização, o operariado que aí foi surgindo, na maior parte dos casos,
encontrava-se pouco concentrado (exceção feita às minas e certas grandes fábricas de tecido) e vivia
longe das grandes cidades. Isso, como é óbvio, não pode deixar de influir sobre sua experiência
sindical e política [...]”. (p. 287)

“As serrarias do Pará e as fábricas de fósforo do Paraná enquadravam-se na mesma tendência, assim
como as pequenas fundições (p. 287) e obras sobre metais existentes no Amazonas, decorrentes do
desenvolvimento da navegação fluvial. A indústria têxtil, nesse sentido, além de ser o setor mais
dinâmico, é o que aparece em quase todas as capitais e cidades com certo porte. Havia operários
têxteis no Ceará, no Piauí, no Pará e em quase todos os estados brasileiros. Em Pernambuco havia,
em 1907, operários trabalhando em fábricas de tecido, sabão e velas, cal e cimento, fumo, refinação
de açúcar, produtos químicos e alimentares”. (pp. 287-288)

“No Rio Grande do Sul a indústria também era relativamente diversificada, com operários dos
seguintes ramos no ano de 1907: têxtil, chapéus, calçado, móveis, conservas de carne e peixe, sabão
e velas, banha, vinhos, metalurgia, cerveja e fumo”. (p. 289)

“Além do proletariado fabril, em quase todos os estados havia estivadores, portuários e


ferroviários”. (p. 289)

“As desigualdades regionais […] são responsáveis pela presença, desde o início do século, do
proletariado nos diversos estados da Federação, como também por sua concentração relativamente
baixa fora do Rio, São Paulo e outras grandes cidades da época”. (p. 295)

“Recife seria um dos principais polos irradiadores do movimento operário nordestino. Foi a partir
de lá, por exemplo, que se desenvolveu a primeira greve geral abrangendo toda uma categoria
profissional e vários estados da região: a dos ferroviários da Great Western, em 1909. Durou 12
dias, envolvendo diretamente oito mil e quinhentos trabalhadores de Pernambuco, Alagoas, Paraíba
e Rio Grande do Norte. Foi apelidada de a ‘greve dos 1.300 quilômetros’. Além do transporte
ferroviários, a greve paralisou as comunicações telegráficas em toda a região. A greve envolveu
toda a sociedade: (p. 296) enquanto as classes dominante reclamavam dos prejuízos no escoamento
dos produtos primários, o imperialismo recebia um duro golpe numa extensa área que tinha sob
controle monopolista, através da companhia inglesa Great Western. Setores da pequena burguesia,
por outro lado, manifestaram viva solidariedade aos grevistas. Estes organizaram-se rapidamente
numa Comissão de Greve, eleita diretamente pelos trabalhadores. O governo federal, através do
Ministro da Viação, chegou a ameaçar de intervir om o envio de tropas, desde que requisitadas pela
companhia. […] As reivindicações dos grevistas eram elementares, dizendo respeito a melhores
salários e melhores condições de trabalho. A centralização da organização do movimento era no
Centro dos Operários, à rua Estreita do Rosário, em Recife. O sistema telegráfico da ferrovia ficou
sob controle dos grevistas. As reivindicações seriam, ao final, parcialmente atendidas”. (pp. 296-
297)

“Um grande passo no sentido da unificação sindical do movimento operário pernambucano foi a
criação, em 1914, de uma Federação de âmbito estadual. Tratava-se de uma iniciativa ligada aos
resultados do Segundo Congresso Operário Brasileiro (1913), onde o anarco-sindicalismo tinha
imperado como tendência hegemônica. Do Rio de Janeiro, veio o líder operário José Elias, para
articular o nascimento da Federação sindical, que instalou-se num prédio da rua das Águas Verdes,
no bairro de São José, em Recife, tendo como entidades filiadas: a União dos Estivadores, Liga dos
Trabalhadores das Fábricas de Tecidos, União da Resistência (operários dos armazéns e trapicheiros
da zona portuário) e o Sindicato de Ofícios Vários”. (p. 297)

Primeiras expressões organizativas do operariado em Pernambuco: “No dia 20 de julho de 1890


fora criada uma associação de trabalhadores intitulada Congresso Artístico-Operário de
Pernambuco, ‘composta de comissões de diversas sociedades artísticas-operárias de Recife para
pugnar pelos direitos e interesses da classe que representa’. No 1º de Maio de 1892 essa associação
realizou uma assembleia em Recife que decidiu lutar para ‘estabelecer para todo o operariado no
Brasil, quer nas oficinas do governo, quer nas particulares, oito horas de trabalho diário’. A nosso
conhecimento, esta é a primeira proposta de luta pelas oito horas em nosso país”. (p. 298)

“Já em 1902, o jornal Aurora Social, de Recife, convocava a preparação, através do Centro Protetor,
de um Congresso Operário de Pernambuco, com a finalidade de deliberar sobre a formação do
Partido Socialista e designação de delegados que representariam aquele estado no próximo
Congresso Socialista Internacional. Pode-se notar, pelos exemplos presentes na imprensa operária
de Recife, a preocupação do movimento em relação à questão agrária e a prática de solidariedade
aos trabalhadores rurais”. (p. 298)

“Em Alagoas, desde 1902 aparecera o jornal O Proletário, ‘órgão de propaganda das classes
trabalhadoras do Estado’, editado em Maceió por João Ferro, José Grevy e Norberto Carlos,
reivindicando-se do movimento socialista e adotando como epígrafe a classe frase final do
Manifesto. Este jornal durou, pelo menos, até 1908. Por volta de 1905, aparecia na cidade de
Alagoas (antiga capital do estado e futura Marechal Deodoro) uma publicação especial intitulada Os
Mártires de Chicago (número único), redigida por G. Lemos. J; Soares e J. Magalhães e inspirada,
também, na célebre epígrafe. Já em 1906, a partir do Primeiro de Maio, também na cidade de
Alagoas, (p. 298) aparecia O Trabalhador Livre, vinculado a uma associação de classe […] e
dirigido por Joaquim Moreno e Guilherme Lemos. Ligado, igualmente, ao movimento socialista,
esse jornal saía três vezes por mês […]. Entre 1909 e 1910 foi editada uma revista ‘consagrada aos
interesses da classe proletária’, em Maceió, intitulada Perseverança”. (pp. 298-299)
“Apesar de possuir, certamente, um proletariado reduzido, o estado de Alagoas conhecera um
esboço de crescimento industrial no ramo têxtil, desde meados do século XIX. Além disso, a
subsequente concentração de usinas de açúcar, a presença de ferrovias e do Porto de Jaraguá
expandiam o trabalho assalariado”. (p. 299) – Além disso, lideranças importantes do movimento
operário se formaram em Alagoas: Octávio Brandão e Antonio Canellas.

“Na Bahia, no início do século XX, os socialistas editavam o jornal Imprensa Social. Os proletários
baianos organizavam-se em associações mutualistas e de resistência, em 1903, as principais
associações operárias em Salvador eram as seguintes: Associação Tipográfica Bahiana; Centro
Operário da Bahia; Liga Socialista Protetora dos Sapateiros; Club dos Machinistas; Associação dos
Empregados no Comércio; União dos Alfaiates; Sociedade Beneficente dos Mares; e Associação
dos Empregados em Restaurantes”. (p. 300)

“Em 1906, esse Centro [Operário da Bahia] ainda mantinha relações com a Segunda Internacional.
Sua direção, eleita para o período 1903-1907, era formada por um Conselho Executivo (Fernando
da Costa Bastos, José Falcão, Anastácios Machado Menezes, Boaventura Gomes da Silva) e por um
corpo de 17 vogais. A simples leituras desses nomes indica que o número de imigrantes estrangeiros
entre os operários era insignificante na Bahia: Epifânio, Hilarino, Felipe Tranquilo, Boaventura,
Genésio e outros”. (p. 300)

“Nos anos seguintes, a aparição de alguns jornais e associações, indica a clara influência do anarco-
sindicalismo no movimento operário bahiano: A Voz do Trabalhador (1908), órgão da Federação
Operária da Bahia; Germinal (1920), editado por Agripino Nazareth; A Voz do Trabalhador (1920-
1922), o mais importante deles, publicado pelo Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais
Classes”. (p. 300)

“As primeiras associações operárias que, no Rio Grande do Sul, conseguem sair do quadro estreito
das mutualistas, aparecem por volta de 1890 no porto de Rio Grande em Pelotas. Três anos antes,
em 1887, um Congresso Operário já havia se reunido em Pelotas, ainda na época da escravidão,
portanto. Desse Congresso resultou a criação (p. 300) da Liga Operária de Pelotas. Na verdade,
apesar do nome, tal reunião não havia sido propriamente um congresso da classe operária, pois dele
haviam participado, além dos assalariados, artesãos e pequenos fabricantes de calçados. Os
operários que aderiram à Liga passaram a editar um jornal – O Operário – que encontrou forte
oposição por parte da direção da Liga, da qual participavam pequenos proprietários. Os editores do
jornal levaram, durante alguns anos, um combate visando criar uma associação operária sem
patrões, fracassando devido ao início da revolta de 1893 e à repressão que se abateu sobre o
movimento operário. Ainda em 1893, em Pelotas, João Tolentino de Souza, Guilherme Sauter e
Alberto F. Rodrigues fundavam o jornal Democracia Social e pregavam a ‘emancipação das classes
proletárias através da guerra contra o capital’. O jornal durou apenas cerca de seis meses, em função
dos efeitos de refluxo ocasionados pela Revolta Federalista”. (pp. 300-301)

“Já na cidade de Rio Grande, por volta de 1898, registrava-se a existência de uma União Operária,
que afirmava possuir 800 associados. Dirigia greves e mantinha um montepio, uma escola e uma
cooperativa. Nessa época, publicava-se ali um dos raros jornais socialistas semanais no país, o Echo
Operário, dirigido por Antonio Guedes Coutinho. Em Porto Alegre, desde 1895, funcionava a Liga
Operária Internacional, que preparou e realizou o I Congresso Operário do Rio Grande do Sul, em
1898”. (p. 301)

“O movimento operário em Minas Gerais enfrentou dificuldades de organização, em parte devido


ao caráter extremamente descentralizado e disperso da indústria local. Entre os anarquistas, é digno
de nota o papel relativamente isolado levado a cabo pelo escritor Avelino Fóscolo, em torno do
jornal A Nova Era (1906-1907), editado na (p. 30) cidade de Taboleiro Grande. Parece que os
libertários estiveram também presentes na greve dos operários das minas de Morro Velho, em Vila
Nova Lima, no ano de 1907, onde apareceu – episodicamente – o jornal A Luz Social”. (pp. 301-
302) – Os autores atribuem o “vazio” das tendências revolucionárias à influência majoritária de
setores mais reformistas no movimento operário mineiro.

“Ao nível da imprensa operária, é importante assinalar a presença de grupos políticos de


propaganda, que agitavam suas ideias em folhas editadas com muita dificuldade, especialmente em
centros mais isolados. Em Curitiba, o jornal Il Diritto era órgão de um grupo anarquista, que chegou
a ser liderado por Gigi Damiani. Em 1900, fundou-se um ‘grupo socialista anárquico’, que adotou o
nome fatídico de Germinal. […] Nas páginas dos exemplares de Il Diritto do ano de 1900
apareceram contribuições de trabalhadores de Paranaguá e de Palmeira e recebem subscrições
financeiras voluntárias de pessoas que adotavam pseudônimos reveladores de suas posições
políticas e categoria profissional: um sapateiro; um alfaiate; um anticlerical; um anárquico
brasileiro; um revolucionário, etc. O n. 32 desse jornal anuncia, em 1900, a fundação da Liga dos
Trabalhadores do Paraná. Ao contrário do Nordeste, no Paraná deveria ser predominante o operário
imigrante”. (p. 303)

“Também havia socialistas no Paraná. Conhecemos um jornal dessa época, A Voz do Povo […]
editado em Curitiba por Martinho Chaves. O primeiro número aparece em agosto de 1892 [...]”. (p.
304)

“Mesmo nos estados onde havia poucas fábricas, o movimento operário iniciou-se ainda no séc.
XIX. No Maranhão, por exemplo, desde 1892, organizaram-se trabalhadores em São Luís, passando
a editar o jornal O Operário, que publica em seu n. 15 o Programa adotado pelos socialistas no
Congresso Brasileiro de 1892. Porém, o isolamento e as características semi-artesanais do
proletariado local marcavam profundamente esse movimento inicial. Doutrinário, o jornal citado era
distribuído em pontos de venda localizados em barbearias, oficinas de sapateiros e funilarias de São
Luís, seguramente pertencentes a membros ou simpatizantes do grupo. Além das páginas de
doutrina, o jornal assume algumas reivindicações de (p. 304) carpinteiros, calafates e outros
trabalhadores de construção naval, alfaiates e gráficos, tanto artesãos como assalariados. O jornal
mantém-se durante poucos anos [até 1894] […]. Em 1893, o grupo parece ter alguma penetração na
fábrica de Fiação e Tecidos Maranhense. Leva também uma campanha contra a alta do custo de
vida, em particular contra os preços do ‘kilograma de cerne verde’. […] O jornal tinha quatro
páginas e era semanal. Seu diretor era Raimundo Villar”. (pp. 304-305)

“Na região Norte havia núcleos socialistas e anarquistas dispersos, tanto no Amazonas como no
Pará, não só nas capitais, mas também em algumas cidades do interior, como Parintins (AM) – onde
foi fundado em 1905 um Grêmio Operário – e Cametá (PA). Nesta última cidade, editava-se O
Artista, ‘Órgão da Classe Operária’, em 1891. Dado o afluxo de trabalhadores para a região
amazônica durante o período de expansão da borracha, não é de se espantar o grande número de
pequenos jornais de tipo sindical e partidário ali existentes, mais em Belém do que em Manaus”. (p.
309) – De Belém: A Dor do Operário (1906-1907), O Marítimo (1908), O Socialista (1906-1907), O
Trabalho (1901-1907), A Voz do Operário (1902), Tribuna Operária (“Órgão do Partido Operário”,
1891-1893), Gazeta Marítima (1901), O Telefonista (1893), A Voz do Trabalhador (“Órgão
Sindicalista da Federação das Classes Trabalhadoras”, 1921-1924). De Manaus: O Operário (1892),
A Lucta Social (1914), O Extremo Norte (1920).

“Dentro desse quadro de expansão urbana e comercial [propiciado pelo chamado “ciclo da
borracha”], proletários e associações despontaram já no final do séc. XIX. Sinais da presença da
social-democracia já aparecem entre 1891-93, em Belém, com a publicação de Tribuna Operária,
jornal do Partido Operário local. As edições especiais de O Socialista, em comemoração ao
Primeiro de Maio (1906-1907), retomaram, provavelmente, a irregular e descontínua evolução
dessa tendência. Vários periódicos estavam voltados para categorias profissionais e associações de
tipo sindical, como por exemplo, os marítimos”. (p. 310)

“É interessante notar que, apesar da grande maioria de trabalhadores da região ser de origem
nacional (imigrantes nordestinos, descendentes de imigrantes portugueses e caboclos), um núcleo
certamente diminuto de anarquistas italianos radicados em Belém, editaram uma folha especial,
bilíngue a 4 pp., dedicada a protestar contra a condenação do operário Gaetano Bresci […], autor da
ação individual e anárquica de assassinato do rei Humberto, da Itália, em 1900”. (p. 311)

“Uma outra corrente, certamente mais relevante, era a dos ‘trabalhistas’, um setor organizado em
torno do jornal O Trabalho (que apareceu, em Belém, entre 1901-1907, mantendo uma expressiva
periodicidade, superando, de muito, a casa dos 165 números), porta-voz oficial do Partido de
Artistas e Operários do Pará”. (p. 311)

“Em oposição a essa corrente, organizar-se-ia, se bem que comente vários anos depois, o anarco-
sindicalismo no Pará. A primeira manifestação mais efetiva dessa tendência é a participação da
União dos Operários Sapateiros, de Belém, no II Congresso Operário Brasileiro (RJ, 1913), através
dos delegados Ângelo Sperduto e Célio de Britto, entidade filiada à COB e que tenta se implantar
na região, mantendo contatos com outras categorias e cidades (Manaus, p. ex.). Porém, somente nos
anos 20 surgiria uma expressão mais significativa do anarco-sindicalismo no Pará, através da
organização de uma Federação das Classes Trabalhadoras, numa tentativa de implantar uma base
estadual, em torno do jornal A Voz do Trabalhador (1920-24, aproximadamente), que pretendia
aplicar as resoluções do III COB (1920) e a experiência da própria Confederação Operária
Brasileira”. (p. 312)

“Já no Amazonas, são mais raros os sinais da presença do movimento operário no período estudado.
Registra-se o jornal O Operário, (p. 313) de 1892 e O Extremo Norte […], ambos de Manaus, o
primeiro deles, provavelmente ligado ao surto de pequenos partidos social-democratas nascidos nos
primeiros anos da República”. (p. 314) – Além do anarquista A Lucta Social, editado entre 1913 e
1914 por Tércio Miranda.

“Este grupo estava organizado em torno da Sociedade das Artes Graphicas, de Manaus, entidade
que na época se orientava pelo anarco-sindicalismo, chegando a participar do II COB, no Rio de
Janeiro, em 1913, com o envio do delegado Rozendo dos Santos [acredito que o Rozendo na
verdade era carioca, mas foi o delegado escolhido para representar a sociedade no II COB]. Os
gráficos teriam, assim, tanto em Manaus como em todos os centros, maiores ou menores, pelas
próprias características de seu ofício, um papel pioneiro na aglutinação da vanguarda operária
através da imprensa classista e do sindicalismo combativo. […] Em março de 1914, anunciavam-se
duas greves em Manaus: a dos gráficos de O Tempo (órgão da oligarquia situacionista); e a dos
empregados da Limpeza Pública. Entre as associações operárias existentes em Manaus, na época,
citam-se: Sociedade dos Práticos (de navegação); Federação Marítima; Sociedade dos Mestres de
Pequena Cabotagem; Uniões dos Maquinistas e Foguistas (de navios a vapor); Sociedade dos
Artistas Alfaiates; União dos Chauffeurs, Carroceiros e Boleeiros. […] Como se percebe, o setor
dos trabalhadores na navegação fluvial era o mais representativo: a Federação dos Marítimos
incluía moços, marinheiros, criados de copa, taifeiros, maquinistas, pilotos, práticos, foguistas e
comandantes”. (p. 314)

“Em maio de 1914, o jornal publica com grande destaque um projeto de estatutos para a criação da
Federação do Trabalho no Amazonas, segundo os princípios do anarco-sindicalismo e filiada à
COB”. (p. 314)
“Ainda em 1914, convém ressaltar os contatos d’A Lucta Social com o núcleo anarco-sindicalista
de Belém, organizado na União dos Operários Sapateiros do Pará”. (p. 315)

“Desde muito cedo organizaram-se os trabalhadores sergipanos, que já em 1891 editavam O


Operário. O jornal sofre várias interrupções e aparece mais tarde com o mesmo título. […] Neste
mesmo ano [1911], foi criado o Centro Operário Sergipano, em reunião convocada por Antonio
Mello, José Costa e Rodrigues Vianna, da qual participaram 26 membros ‘das classes laboriosas’”.
(p. 315) – Predomínio da social-democracia.

Cap. 16 – Aspectos culturais do movimento de classe

“[…] havia diferenças evidentes entre os costumes de operários imigrantes e qualificados, cujos
raros momentos de lazer incluíam o passeio a jardins públicos […], piqueniques nos bosques
naturais dos arrabaldes […] e os hábitos às vezes rurais da massa operária de origem nacional. […]
havia uma característica que identificava a vida dos diferentes setores étnicos da classe operária no
Brasil: o convívio cotidiano como o meio ecológico e com a paisagem natural próxima”. (p. 321) –
Os autores argumentam que o operário de origem nacional geralmente passava seu tempo livre pela
vizinhança. Me parece meio furada essa separação tão estanque entre lazer do imigrante e lazer do
nacional, mas…

“Em São Paulo, lá pelos anos 20, havia excursões ao litoral santista, promovidas pelos jornais
operários ou associações de classe. Neste tipo de realização, a iniciativa partia quase sempre dos
núcleos de militantes e dirigentes, em especial os de tendência libertária anarquista. Combinavam-
se, nessas reuniões campestres, formas de lazer – como música, jogos, danças e refeições coletivas
– com conferências de propaganda, debates públicos, comícios, palestras e as tradicionais
encenações de grupos amadores do chamado ‘teatro operário’, cujas peças sempre expressavam um
conteúdo sócio-político sobre a luta de classes”. (p. 322) – A grande maioria das peças encenadas
era de autoria militante. Peças populares: O Infanticídio (Mota Assunção), O Semeador (Avelino
Fóscolo), Il Primo Maggio (Pietro Gori), Operários em Greve (F. Napoleão de Victoria), Gaspar, o
Serralheiro (autor não é indicado, mas os autores a apontam como uma “das mais encenadas e
populares”), A Greve dos Inquilinos e Pecado de Simonia (Neno Vasco).

“Além do teatro, a própria imprensa operária, de tendência anarquista, anarco-sindicalista, socialista


ou meramente sindicalista, era uma atividade político-cultural das mais decisivas. Eram, via de
regra, jornais e revistas de propaganda, pequenos e de periodicidade irregular, os quais viviam à
base de listas de subscrição voluntária por parte de militantes e leitores simpatizantes”. (p. 323)

“Na imprensa operária, muitas vezes aparecia a preocupação em torno da necessidade da


propaganda em língua portuguesa e a questão do analfabetismo, com vistas à aglutinação dos
operários de origem nacional. Além de revistas de caráter doutrinário [Aurora de São Paulo e A
Vida do Rio de Janeiro, por ex.] os grupos anarquistas e socialistas editavam opúsculos, livros e
folhetos que traduziam originais de militantes e dirigentes europeus, sobre vários temas do
movimento operário, como o anti-militarismo, anticlericalismo, internacionalismo proletário, amor
livre, a questão feminina, sindicalismo revolucionário, etc”. (p. 324)

“Um outro aspecto dessa produção cultural ligada à emergência social do proletariado brasileiro foi
a literatura libertária, de cunho anarquista, que apareceu nos primeiros anos deste século. Autores
ausentes de história literária oficial, esses militantes operários ou intelectuais simpáticos às ideias
libertárias escreviam ‘poesia social’, em geral sob a forma tradicional e consagrada dos velhos
sonetos que apareciam nas páginas da imprensa operária, regularmente”. (p. 324)

“Além da poesia e do teatro, havia uma produção em prosa, através dos chamados ‘romances
sociais’”. (p. 325) – Entre os de maior destaque: Ideólogo (1903), Os Emancipados (1906), Elias
Barrão e Xica Maria (1915), Virgem-Mãe, Sérgio e Chloé (1910), todas de Fábio Luz; Regeneração
(1904), de Curvelo de Mendonça; No Hospício (1905), de Rocha Pombo; Sê Feliz (1904), Cravo
Vermelho (1907) e Vãs Torturas (1911), de Domingos Ribeiro Filho; Entre Neblinas (1919), de
Saturnino de Brito; O Caboclo (1902), O Mestiço (1903), Vulcão (1920) e A Vida (1921), de
Avelino Fóscolo”. (p. 325)

“As festas realizadas nas sedes das associações operárias eram outro acontecimento importante na
vida coletiva da classe. Em seus programas incluíam: palestras e conferências libertárias; peças de
‘teatro social’; terminando, às vezes, de acordo com os anúncios estampados frequentemente na
imprensa operária, com um ‘baile familiar’, apesar das restrições anarquistas a esse ‘recíproco
roçamento’. […] Boris Fausto […] assinalou muito bem a forte presença de um puritanismo ético
no ideário anarquista, que se expressa no tom e conteúdo da crítica libertária ao álcool, futebol,
baile, carnaval, etc. Tais festas, bem como os festivais ao ar livre, eram promovidos, via de regra,
em benefício das associações de classe, de jornais operários, de ‘escolas livres’, ou mesmo em
solidariedade a militantes presos e deportados, ou ainda para arrecadação de fundos coletivos,
durante a eclosão de greves”. (p. 325)

“No Brasil, parece que a concepção privatista do ‘ensino livre’ predominou nos meios libertários.
[…] No Rio de Janeiro, em 1904, foi fundada a Universidade Popular de Ensino Livre, sob a
iniciativa de líderes sindicalistas locais, e que constava, em seu corpo docente, com intelectuais
famosos, como Elysio de Carvalho, Sílvio Romero, José Veríssimo, Rocha Pombo e Fábio Luz,
além do dirigente operário reformista Vicente de Souza. Funcionava na sede do Centro
Internacional dos Pintores, na Rua da Constituição n. 47. Esta universidade fracassou pouco tempo
após sua criação, devido ao déficit financeiro e à distância existente entre o discurso erudito dos
mestres e o analfabetismo predominante na classe operária carioca”. (p. 326)
“Edgar Rodrigues levantou pelo menos cerca de 25 Escolas Livres ou Modernas, ou ainda de
Ensino Profissional, que foram criadas por associações sindicais ou por militantes anarquistas, no
Brasil, até 1920: São Paulo, Rio, Niterói, Petrópolis, Belém do Pará, Recife, Porto Alegre,
Sorocaba, Campinas e Santos foram algumas das cidades que tiveram escolhas de trabalhadores
dedicadas ao ensino dos operários e de suas crianças”. (p. 326) – Destaques: Escolas Modernas do
Belenzinho (dirigida por João Penteado) e do Brás (dirigida por Adelino de Pinho), que
conseguiram sobreviver, precariamente, entre 1913 e 1919. Levantamento do Edgar Rodrigues
mencionado é feito no livro Nacionalismo e Cultura Social, pp. 447-448.

Cap. 17 – Anarco-sindicalismo e congressos operários no Brasil

“111 greves operárias foram realizadas no Brasil, entre 1900-1910; e 258, no período 1910-1920, de
acordo com o levantamento feito pelo historiador Edgar Rodrigues, que exclui a conjuntura 1917-
1918. […] O mesmo Edgar Rodrigues relacionou, para o período anterior a 1922, a criação no
Brasil, pela classe operária, de 99 uniões operárias, 4 alianças operárias, 70 cooperativas e
associações de auxílio e socorro mútuo, 29 grupos anarquistas específicos, 59 ligas operárias, 40
associações e sociedades operárias, 13 clubes, círculos e movimentos operários, 16 bibliotecas, 21
grupos de teatro social, 26 escolas livres, 40 sindicatos; além da realização de 110 conferências de
cunho social, 42 cursos culturais, 7 Congressos Nacionais Operários e 12 Estaduais; e a formação
de 26 Federações Regionais Operárias e da Confederação Operária Brasileira […]. Tais
levantamentos certamente são incompletos, dado o próprio caráter descontínuo e fragmentado da
documentação historiográfica do movimento operário”. (p. 333) – Levantamentos do Edgar
Rodrigues são feito em: Trabalho e Conflito, p. 371 (número de greves) e Nacionalismo e Cultura
Social, pp. 446-451 (número de associações).

“O antimilitarismo, associado intimamente à bandeira do internacionalismo proletário, foi outro


aspecto fundamental da militância anarquista naquele período. Em 1908, diante da manobra
militarista envolvendo os governos brasileiro e argentino, vários líderes anarquistas desenvolveram
intensa campanha de mobilização popular contra o serviço militar obrigatório, no Rio de Janeiro e
em São Paulo. […] O auge da luta anarquista contra a guerra, no Brasil, foi marcado pela realização
do Congresso Internacional da Paz, no Rio de Janeiro, de 14 a 16 de outubro de 1915; coordenado
pela Confederação Operária Brasileira, dele participaram dezenas de organizações operárias do Rio
de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Alagoas, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, além de delegações
internacionais da Argentina, Portugal e Espanha”. (p. 334)

“A COB tomara semelhante iniciativa após a proibição, pelo governo espanhol, da realização de um
congresso internacional semelhante, que deveria ter se reunido em El Ferrol, no final do mês de
abril daquele mesmo ano. Com a proibição decretada por Afonso XIII, quando já chegavam os
delegados de outro países à Espanha, decidiu-se realizar pelo menos uma reunião”. (p. 334)

“Entre as numerosas greves ocorridas entre a virada do século e 1906, é importante destacar: uma
greve nas docas de Santos em 1897 que, seguindo a velha tradição de luta do proletariado santista,
assume características de greve geral em toda a cidade; a importante greve dos cocheiros e
condutores, contra a Cia. Carris Urbana, em 1898, no Rio de Janeiro, marcada por violentos
choques com a polícia, movimento que paralisou toda a cidade; várias greves esparsas, no Rio de
Janeiro e em São Paulo, durante o ano de 1901; a greve generalizada na cidade do Rio de Janeiro,
em 1903, envolvendo cerca de 25 mil operários (tecelões, alfaiates, chapeleiros, carpinteiros,
ourives, sapateiros, ferroviários, motorneiros e outros), greve dos catraieiros e marinheiros em
Fortaleza em 1904, marcada por violentos conflitos; greve dos sapateiros em Curitiba, em 1904;
greves generalizadas nas docas de Santos, já em 1905”. (p. 339)

“O ano de 1906 foi marcado por um nítido aumento das lutas operárias. Além da realização do I
Congresso Operário Brasileiro, inúmeras greves ocorreram, entre elas a paralisação dos sapateiros,
no Rio de Janeiro, greve organizada pela União Auxiliadora dos Artistas Sapateiros, a qual
conseguiu vitoriosamente impor sua tabela de reajustes salariais aos patrões”. (p. 339)

“Mas a mais importante foi a greve dos ferroviários da Cia. Paulista, deflagrada em 15 de maio pela
Liga Operária de Jundiaí, chegando a ganhar características de greve geral no estado de São Paulo,
durante seus 15 dias de duração. Ao contrário da maioria das greves do período, de reivindicações
salariais, esta foi iniciada devido a conflitos entre os empregados e um dos chefes da empresa, em
solidariedade a um companheiro removido arbitrariamente. As assembleias operárias, realizadas no
Teatro São José, em Jundiaí, eram massivas e acaloradas: a direção do movimento coube aos
anarco-sindicalistas, através da Liga Operária de Jundiaí e da Federação Operária e São Paulo, que
se enfrentavam contra a associação criada pela empresa para dividir os operários, a ‘Sociedade
Beneficente’. Enquanto a Liga Operária era subvencionada por contribuições voluntárias de seus
filiados, o que lhe garantia autonomia sindical em face dos patrões e do Estado, a Sociedade
Beneficente dos Empregados, entidade patronal, sustentava-se à base de um desconto obrigatório de
10% dos salários dos trabalhadores [...]”. (p. 339)

“[…] O movimento alastrou-se rapidamente: as unidades de São Paulo, Jundiaí, Campinas e Rio
Claro paralisaram totalmente; ferroviários da Mogiana, em Ribeirão Preto, da Sorocabana, em
Sorocaba, têxteis, chapeleiros, barbeiros, artistas e pequenos comerciantes, trabalhadores santistas e
do Rio de Janeiro, da capital e do interior paulista manifestaram sua solidariedade, através de greves
e comícios. A Federação Operária de São Paulo declarou greve geral em todo o estado, dia 26.
Nessa data, ‘São Paulo transforma-se num capo de batalha com mais de 6 mil trabalhadores
protestando contra as violências policiais praticadas para defender a Cia. Paulista’. Num comício
efetuado no largo de São Francisco, convocado pela União dos Trabalhadores Gráficos, os
estudantes, através de suas lideranças, hipotecaram total solidariedade à luta dos operários. A
política invadiu a Faculdade de Direito, prendendo vários estudantes e trabalhadores. A greve
termino, derrotada, em 30 de maio, com a dissolução de um comício em Jundiaí e a morte de dois
operários, a tiros, pela polícia estadual. Apesar desta derrota, o movimento foi importante como
experiência de solidariedade de vários setores do proletariado, além de outros setores sociais:
estudantes, pequenos comerciantes, jornalistas e advogados”. (p. 340)

“[…] a greve pela redução da longa jornada de trabalho para 8 horas [de 1907] foi um dos
momentos mais decisivos do movimento no período. O I Congresso Operário havia deliberado que
o Primeiro de Maio de 1907 deveria converter-se numa jornada de lutas em que ‘o operariado do
Brasil […] imponha as 8 horas de trabalho’. Seguindo o apelo, a Federação Operária de São Paulo
preparou manifestação pública, proibida pela polícia. A greve generalizou-se rapidamente: São
Paulo, Santos, Rio Claro, Salto, Campinas, Ribeirão Preto, S. José do Rio Pardo, São Roque,
Ipiranguinha, Pilar e Bauru, no estado de São Paulo, além do Rio de Janeiro e outros estados.
Iniciada pelos metalúrgicos e construção civil, a greve ganha apoio de canteiros, serradores,
pintores, operários em fábricas de pregos, de parafusos, pentes, barbantes, tecelões, ladrilheiros,
marmoristas, costureiras, cigarreiros, gráficos, garçons e empregados de hotéis, vidreiros, operários
em fábricas de guarda-chuvas, operários de curtumes, etc”. (p. 341)

“O movimento se estenderia, de forma espontânea e dispersa, durante o mês de junho. Enquanto as


grandes empresas (mecânicas e têxteis) reuniam seus proprietários e formavam um verdadeiro cerco
impermeável às reivindicações, os operários das pequenas empresas (fundições, construção civil
etc.), via de regra, foram melhor sucedidos, conquistando a tão almejada jornada de 8 horas. Esta
greve esteve marcada por violentos conflitos, inclusive com a prisão de líderes e invasão de
sindicatos, entre os quais a sede da Federação Operária de S. Paulo”. (p. 341)

“Em 1908, entre vários episódios do movimento operário, nova greve nas docas do porto de Santos
paralisou toda aquela cidade, com violentos choques de rua e até mesmo a presença intimidatória de
dois navios de guerra, enviados pelo governo federal. Em 109, eclodiram greves entre trabalhadores
da Light (Rio de Janeiro), do gás, marítimos do Lloyd Brasileiro em Recife, foguistas dos navios da
Cia. Pernambucana e ferroviários baianos. A mais importante foi a greve geral dos ferroviários da
Great Western, no Nordeste”. (p. 341)

“O movimento operário entrou em relativo refluxo (1909-1912). Reapareceria com maior


intensidade após esta baixa, no ano de 1912, marcado por várias greves operárias, com um grau
maior de espontaneidade, a partir do agramento das condições de vida dos trabalhadores: aumento
acelerado do custo de vida, escassez e precariedade de habitações, baixa acentuada do salário real.
Em São Paulo, por volta do Primeiro de Maio, é criado por anarquistas e social-democratas o
‘Comitê de Agitação Contra a Carestia de Vida’, que realiza comícios em vários bairros operários”.
(p. 342)

“O ano de 1913 foi importante pois, além de várias greves, realizou-se, no Rio de Janeiro, o II
Congresso Operário Brasileiro, convocado pela COB, após intensa campanha de agitação por todo o
país, contra a Lei Adolfo Gordo de expulsão de estrangeiros. Através de seu porta-voz, A Voz do
Trabalhador, convocam-se comício de protesto simultâneos em todo o Brasil, no dia 20 de maio de
1913”. (p. 342)

“[…] havia uma atividade internacionalista sempre presente, assinalada nos relatórios: a Federação
Operária do Rio de Janeiro manteve discussões frequentes, a partir de 1907, com a Federación
Obrera Regional Argentina a respeito da possibilidade de realização de um Congresso Operário Sul-
Americano; a Federação Operária de Santos chega a enviar um propagandista à Europa, em 1913,
para informar da necessidade de luta conjuntura contra a Lei de Expulsão que, no Brasil, ameaçava
os militantes emigrados; no mesmo ano, a Federação Operária do Rio de Janeiro adere e participa
da campanha internacional organizada contra a prisão do ‘companheiro professor Brizel’, pela
polícia portuguesa. Envia protesto, igualmente, pelo fechamento da ‘Casa Sindical’ de Lisboa”. (p.
343)

“Em 1914, o início da Primeira Guerra Mundial veio agravar ainda mais o estado de penúria da
classe trabalhadora, com a carestia crescente e o fantasma do desemprego. Porém, não houve uma
reação imediata do movimento operário; pelo contrário, diminuíram as greves; os grupos
anarquistas e socialistas refluíram e em suas atividades de organização. As federações anarco-
sindicais e os sindicatos operários perderam sensivelmente seus contingentes ou até mesmo
desapareceram (como é ocaso da importante Federação Operária de São Paulo, que já deixara de
existir por ocasião do congresso de 1913). Somente em julho de 1917, com a greve geral em São
Paulo, se abriria um novo período de ascenso do movimento operário, que se estenderia até 1920”.
(p. 348)

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