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E LEGISLAÇÃO
DA EDUCAÇÃO
Introdução
A inclusão escolar tem sido discutida e fomentada nas últimas décadas no
Brasil, ao encontro do entendimento de que deve ser garantido a todos
os grupos culturais o acesso a uma educação igualitária e de qualidade.
Como o Brasil historicamente produziu muitas diferenças e distancia-
mentos entre alguns grupos étnicos, é necessário o estudo a respeito
das relações étnico-raciais dentro e fora da escola.
Neste capítulo, você vai ler sobre os aspectos históricos que en-
volvem as questões étnico-raciais e a geração de desigualdades em
âmbito nacional. Também vai ler sobre algumas das políticas públicas
e práticas que visam combater o racismo e proporcionar maior equi-
dade na área da educação. Você vai ler, ainda, sobre as questões que
envolvem a inclusão escolar e os conceitos de diversidade e equidade,
em discussão na esfera acadêmica, que procuram construir uma escola
que contemple a todos.
2 Relações étnico-raciais no Brasil
Oliveira e Candau (2010, documento on-line) asseveram que a exclusão social pode
ser observada também no interior das escolas e pode ser mais bem compreendida
pelo “[...] crescimento das lutas dos movimentos negros e da emergência de novas
produções acadêmicas sobre questões relativas à diferença étnica, ao multiculturalismo
e às identidades culturais”. Partindo da citação dos autores, percebemos a importância
da participação dos movimentos sociais de cunho identitário para que se possa
garantir o direito a uma educação mais igualitária e que inclua a todos, sem exceção.
[...] educou o olhar deste sujeito branco que julga; ela educou seu modo de
compreensão sobre a pertença racial. Ela o educou para pensar que ele, branco,
não tem raça nem cor e, portanto, pode, do alto de seu estatuto de incolor,
julgar quem são, afinal, os “de cor” (KAERCHER, 2010, p. 87).
https://goo.gl/Go6Kse
Relações étnico-raciais no Brasil 5
desigual” (CARNEIRO, 2006, p. 99). Talvez por esse fato tenhamos percebido a
movimentação de muitos grupos identitários em busca do seu espaço de aceitação
e igualdade na sociedade nas primeiras décadas do século XXI, no Brasil, enten-
dendo que fazer parte das discussões que ocorrem na escola é uma das formas
mais potentes de modificar o modo como se pensam os temas e os jeitos de viver.
Embora a Lei nº. 10.639/2003 ainda seja referenciada devido à sua importância para os
movimentos sociais associados aos grupos identitários afrodescendentes, em especial
o Movimento Negro, ela foi alterada novamente pela Lei nº. 11.645, de 10 de março de
2008, que incorporou ao texto da LDB também a questão indígena, antes negligenciada.
Ações afirmativas
No que concerne às práticas que objetivam minimizar desigualdades sociais,
é essencial que você domine o conceito de ações afirmativas. Para isso, vamos
nos valer do que prevê o Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº. 12.288, de 20
de julho de 2010), o qual define ações afirmativas como “[...] os programas e
medidas especiais adotados pelo Estado e pela iniciativa privada para a correção
das desigualdades raciais e para a promoção da igualdade de oportunidades”
(BRASIL, 2010, documento on-line).
As políticas de ações afirmativas são consideradas recentes no Brasil e no
mundo. A esse respeito, Munanga (2001, p. 31) destaca que “[...] visam ofe-
recer aos grupos discriminados e excluídos um tratamento diferenciado para
compensar as desvantagens devidas à sua situação de vítimas do racismo e de
outras formas de discriminação”. Mesmo tendo se tornado lei por conquista
do Movimento Negro, o Estatuto da Igualdade Racial explicita, no art. 2º, que:
[...] garante a reserva de 50% das matrículas por curso e turno nas 59 univer-
sidades federais e 38 institutos federais de educação, ciência e tecnologia a
alunos oriundos integralmente do ensino médio público, em cursos regulares
ou da educação de jovens e adultos (BRASIL, 2012, documento on-line).
Por meio dessa medida, os jovens que foram prejudicados pela falta de
qualidade da educação pública podem competir em igualdade de condições
para o ingresso no ensino superior nas instituições federais de ensino.
As estatísticas de cor ou raça produzidas pelo IBGE mostram que o Brasil ainda
está muito longe de se tornar uma democracia racial. Em média, os brancos
têm os maiores salários, sofrem menos com o desemprego e são maioria
entre os que frequentam o ensino superior, por exemplo. Já os indicadores
socioeconômicos da população preta e parda, assim como os dos indígenas,
costumam ser bem mais desvantajosos.
Inclusão escolar
Antes iniciarmos o debate a respeito da inclusão escolar, vamos retomar
alguns pontos importantes já comentados. O primeiro diz respeito ao conceito
de cultura, aqui entendida como um termo utilizado “[...] para se referir a
tudo o que seja característico sobre o ‘modo de vida’ de um povo, de uma
comunidade, de uma nação ou de um grupo social” (HALL, 2016, p. 19).
Essa defi nição do autor é importante para nos fazer pensar nos aspectos
antropológicos e sociológicos da cultura, uma vez que não se restringe
somente a um conjunto de coisas — literatura, arte ou programas de TV
— mas, principalmente, engloba um conjunto de práticas (HALL, 2016).
Logo, os indivíduos que partilham da mesma cultura tendem a apresentar
uma interpretação do mundo similar, pois foram ensinados, no interior das
práticas cotidianas da sua sociedade, a se comportar e a pensar de acordo
com determinados valores.
O problema aqui é quando uma cultura se define de forma monocultu-
ralista, como aquela detentora de saberes e como o caminho mais correto
ou único a ser seguido, servindo para orientar sobre tudo e todos. Assim,
todos aqueles que não se enquadram nos padrões por ela estabelecidos são
marginalizados de alguma forma. O que se busca com a ideia da inclusão
escolar é justamente estender àqueles que possam ser considerados diferentes
um espaço garantido nas escolas, para que desfrutem com equidade o seu
processo de escolarização. “O conceito de diferença, considerando a escola
e o currículo, é, geralmente, traduzido como diversidade ou identidade”
(LOPES; DAL’IGNA,2007, p. 13).
10 Relações étnico-raciais no Brasil
Salientamos que as diferenças de qualquer ordem não deveriam intervir no juízo de valor
sobre as pessoas, uma vez que “[...] temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos
inferioriza; e temos o direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza.
Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença
que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades” (SANTOS, 2003, p. 56).
Para aprofundar o entendimento sobre o significado das ações afirmativas, acesse o link
abaixo. Essa animação, proposta por Hugo da Costa, apresenta alguns dos principais
fundamentos da construção de tais ações, proporcionando reflexões sobre elas.
https://goo.gl/yystW8
BANTON, M. Dicionário das relações étnicas e raciais. São Paulo: Selo Negro, 2000.
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BRASIL. Ministério da Educação. Lei Federal nº. 12.711, de 25 de maio de 2012. Diário
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<http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/180155/Estatuto%20da%20
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Relações étnico-raciais no Brasil 13
Leituras recomendadas
DUSCHATZKY, S.; SKLIAR, C. Os nomes dos outros: reflexões sobre os usos escolares da
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