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A ECONOMIA GEOGRÁFICA DE PAUL KRUG-

MAN E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA A TEORIA


DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL: UMA AVA- Ron Martin
Professor de Geografia Econô-
LIAÇÃO CRÍTICA*1 mica na Universidade de Cam-
bridge, Reino Unido
ron.martin@geog.cam.ac.uk
Peter Sunley
Professor de Geografia Econô-
O presente texto é a tradução em língua portuguesa do artigo “Paul Krugman's Geogra- mica na Universidade de Sou-
phical Economics and Its Implications for Regional Development Theory: A Critical Assessment” thampton, Reino Unido
publicado originalmente na revista Economic Geography, da Clark University, em julho de P.J.Sunley@soton.ac.uk
1996. Para a realização desta tradução, foi consultada também a versão em francês deste Tradução
artigo, que se encontra no livro La Richesse des Régions, organizado por G. Benko e A. Ana Maria Leite de Barros
Lipietz, publicado em 2000. Doutoranda do Programa de
Pós-Graduação em Geografia da
Universidade Federal do Espíri-
to Santo – UFES
RESUMO amleitedebarros@gmail.com
t
Os economistas, ao que parece, estão descobrindo a geografia. Ao longo da última Revisão Técnica
década, surgiram uma "nova teoria do comércio" e uma "nova economia da vantagem Claudio Luiz Zanotelli
Professor do Departamento e do
concorrencial" que, entre outras coisas, atribuem uma importância fundamental ao papel Programa de Pós-Graduação em
que a geografia interna de uma nação pode desempenhar na determinação do desempe- Geografia da Universidade Fe-
nho comercial das indústrias dessa nação. O trabalho de Paul Krugman, em particular, tem deral do Espírito Santo – UFES
sido muito influente na promoção desta visão. De acordo com Krugman, num mundo de clzanotelli@yahoo.com.br
concorrência imperfeita, o comércio internacional é impulsionado tanto pelos rendimen-
tos crescentes e pelas economias externas, como pela vantagem comparativa. Além disso,
essas economias externas são mais propensas a serem realizadas na escala local e regional
do que no nível nacional ou internacional. Para entender o comércio, portanto, Krugman
argumenta que é necessário entender os processos que conduzem à concentração de pro-
dução local e regional. Para este fim, ele se baseia em uma variedade de ideias geográficas,
que vão desde as economias de aglomeração Marshallianas, passando pela teoria tradi-
cional da localização, até as noções de causalidade cumulativa e especialização regional.
Nosso objetivo neste trabalho é fornecer uma avaliação crítica da "economia geográfica"
de Krugman e suas implicações para a geografia econômica contemporânea. Seu trabalho
levanta algumas questões importantes para a teoria do desenvolvimento regional em geral
e para a nova geografia industrial em particular. Mas, ao mesmo tempo, sua teoria também
possui limitações significativas. Argumentamos que, embora uma troca de ideias entre sua
teoria e o trabalho recente na geografia industrial sejam mutuamente benéficas, ambas as * - Esta é uma versão revisada de
abordagens são limitadas pelo tratamento que dão às externalidades tecnológicas e pelo artigo apresentado na Sessão Espe-
cial sobre Geografia Econômica re-
legado da economia neoclássica ortodoxa. alizada na Conferência Anual do
Palavras-chave: Krugman, comércio, economias externas, concentração industrial regio- Instituto de Geógrafos Britânicos,
nal, Política industrial regional. ocorrida em Newcastle, em janeiro
de 1995. Os autores agradecem aos
muitos comentários úteis e constru-
tivos feitos nessa ocasião e nós ten-
tamos respondê-lo o máximo possí-
vel. Também desejamos agradecer
os três avaliadores anônimos por
suas sugestões, o que também aju-
dou a aprimorar nosso argumento.

1- As notas indicadas como NT são


Nota dos Tradutores; todas as ex-
pressões entre colchetes também são
observações dos tradutores.

Revista do Programa de Pós-


Graduação em Geografia e do
Departamento de Geografia da
UFES
Janeiro-Junho, 2017 5
ISSN 2175 -3709
As relações entre a geografia econô- país na determinação da performance co-
mica e a economia foram, durante muito mercial das indústrias desse país3. Parece
tempo, assimétricas. Ao elaborar suas teo- que os economistas descobriram a geo-
rias e explicações sobre o desenvolvimen- grafia. Paul Krugman, o principal e muito
Revista do Programa de Pós- to regional, os pesquisadores em geografia prolífico representante da “nova teoria do
Graduação em Geografia e do
Departamento de Geografia da
econômica tem largamente recorrido às comércio”4, procurou mostrar, em particu-
UFES noções e conceitos das diferentes escolas lar, como no interior dos países, as trocas
Janeiro-Junho, 2017 das ciências econômicas; de seu lado, os são afetadas pelo processo de especializa-
ISSN 2175 -3709 economistas tem tendência de dar pouca ção industrial geográfica e, por sua vez, a
2 - NT: Traduzimos “Trade the- e, até mesmo, nenhuma atenção ao papel influenciam (Krugman, 1991a). Segundo
ory” por “Teoria do comércio”, mas da geografia nos processos econômicos. O sua concepção, a especialização e a con-
quando aparece a referência às
exemplo da teoria do comércio2 mostra centração industrial são tais que, no plano
“trocas internacionais” ou “trocas
desiguais” (mas também nacional perfeitamente isso. A teoria do desen- regional, a geografia econômica deveria
e/ou regional) às quais o artigo se volvimento regional sempre se interessou constituir uma sub-disciplina maior da
refere, já consagradas na história pela questão do comércio inter-regional, economia “no mesmo nível que o campo
do pensamento econômico, tradu-
na medida em que a capacidade de uma do comércio internacional e, mesmo, em
zimos “trade” por “trocas”. Ao longo
do artigo, fizemos distinções segun- região em exportar bens e serviços cons- certa medida, incluí-lo” (Krugman, 1991a,
do o contexto da frase no emprego titui as bases locais do crescimento eco- 33). Da mesma maneira, partindo de uma
comum em português do termo nômico e da geração de emprego (Erick- perspectiva diferente, mas em relação com
“trade” quando ele se refere ao “co-
son, 1989). A abordagem habitualmente a precedente, Michael Porter, eminen-
mércio” ou às “trocas”.
empregada no estudo do comércio inter- te especialista da economia de empresa,
3 - O conjunto das noções relativas -regional tomou emprestada e adaptou as afirmou que a concentração geográfica
à “nova teoria do comércio”, foi, no noções e modelos da teoria do comércio das indústrias em uma economia nacional
início, exposto em uma série de ar- a partir das vantagens comparativas (a tem um papel importante na determina-
tigos de Dixit et Norman (1990), dotação fatorial), tiradas da economia. Os ção dos setores que dispõem de uma van-
Lancaster (1980),Krugman
(1979, 1980, 1981) e Helpman economistas que trabalham com as trocas, tagem concorrencial no seio da economia
(1994). por outro lado, sempre consideraram a internacional (Porter, 1990, p.790).
economia nacional como aespacial, e mes- Os trabalhos de Paul Krugman são
4-A influência de Krugman foi mo o comércio internacional foi conside- particularmente dignos de atrair o inte-
tão grande na economia que Paul
Samuelson (1994, VII) fala dele
rado tradicionalmente como um sistema resse dos geógrafos. Ele escreveu sobre
como “a estrela em ascensão deste e de trocas desprovido de base geográfica, numerosos temas que tocam o problema
do próximo século”. um mundo no qual os bens e serviçs se do desenvolvimento regional: as trocas,
deslocam entre pontos sem dimensão, as externalidades, a localização industrial,
com custos de transporte nulos ou uni- a política industrial estratégica, o papel
formes. Essa atitude dos teóricos do co- da história e “a dependência em relação
mércio de não levar em conta a geografia a trajetória seguida”, as consequências da
explica a ausência de um quadro teórico integração econômica e monetária sobre o
geral canalizando a pesquisa geográfica crescimento regional. Uma das principais
no comércio internacional (Grant, 1994). contribuições de seus trabalhos consiste
A inexistência de tal quadro é particular- em colocar como primordial para a com-
mente flagrante em um momento no qual preensão das trocas o processo de desen-
a “globalização” das relações econômicas volvimento regional dos países. Alguns de
e a regionalização continental das trocas seus trabalhos buscaram explicar por que
recolocam em questão o peso territorial o desenvolvimento industrial tem todas
e regulador dos espaços econômicos na- as probabilidades de ser desigual. Para
cionais e privilegiam a natureza e os re- tal, ele utiliza diversas noções econômicas
sultados das economias regionais e locais e geográficas, levando em consideração
individualmente (Dunford e Kafkalas, desde as economias de aglomeração de
1992; Anderson e Blackhurst, 1993; Gibb Alfred Marshall até a casualidade cumu-
e Michalak, 1994). lativa, passando pelas teorias tradicionais
No entanto, recentemente tem-se no- da localização. Para Krugman, a geogra-
tado evoluções na economia que marcam fia econômica – ele a entende como “de-
talvez o início de uma relação mais estrei- senvolvimento regional desigual” – é um
ta com a geografia econômica em geral, e elemento central do processo que cria e
com a teoria do desenvolvimento regional mantém a riqueza econômica e as trocas
em particular. Ao longo da última década de um país.
apareceram uma “nova” teoria do comér- A nossa proposta é avaliar de forma
cio e uma nova economia das vantagens crítica a “economia geográfica” de Krug-
concorrenciais que, entre outras caracte- man e sua incidência sobre a geografia
rísticas importantes, dão um certo peso econômica atual. Uma troca de ideias en-
6 ao papel que a geografia pode ter em um tre sua teoria e trabalhos recentes em geo-

A Economia Geográfica de Paul Krugman e suas consequências para a teoria do desenvolvimento regional: Ron Martin
uma avaliação crítica Peter Sunley
Paginas 5 a 35
A Economia Geográfica de Paul Krugman e suas consequências para a teoria do desenvolvimento regional: Ron Martin
uma avaliação crítica Peter Sunley
Paginas 5 a 35

grafia econômica poderia se revelar pro- sobre a “as mais tênues bases empíricas”.
5 - Essa inclinação pela teoria da
veitosa para as duas partes. Não é fácil No entanto, os comentários de Krugman localização pareceria mesmo se re-
de organizar tal intercâmbio, devido aos são direcionados principalmente a seus forçar em seus dois trabalhos mais
obstáculos importantes existentes nos colegas que não conseguiram admitir recentes de “economia espacial”:
dois lados. Em primeiro lugar, as ideias que “o espaço deve ser levado em conta” Development, Geography and
Economic Theory (1995) e The
de Krugman estão longe de ser estáti- (Krugman 1991a,8), e nós deveríamos, Self-Organizing economy (1996).
cas. Suas concepções parecem estar em ao menos, felicitá-lo por querer “reintro- No primeiro, lamentando o aban-
constante evolução – recorrendo às vezes duzir a geografia na análise econômica”, dono pelos geógrafos dos modelos
a autocrítica – de modo que é indispen- mesmo se a forma de geografia específica quantitativos em favor das abor-
dagens marxistas e regulacionis-
sável basear qualquer avaliação sobre um que ele utiliza – que se parece essencial- tas em relação ao “pós-fordismo”,
conjunto de trabalhos publicados. Em se- mente com a ciência regional – possa ser Krugman reativa o que ele chama
gundo lugar, os escritos de Krugman es- criticada. Além disso, Geography and Tra- de as cinco “tradições banidas” da
tabelecem uma distinção marcante entre de dá somente um resumo das análises de geografia econômica: a teoria da lo-
calização, a física social, a casuali-
o que é teoricamente possível e o que é Krugman, e todo julgamento sobre a im- dade cumulativa, a modelização da
importante, nos planos empírico e prático, portância do trabalho de Krugman para utilização do solo e as externalida-
de modo que é necessário ler atentamente a geografia econômica deve igualmente des locais de Marshall. Na segunda
suas conclusões. A verdade é que a eco- se apoiar em outros numerosos trabalhos obra, o modelo de von Thünen e a
teoria dos lugares centrais ocupam
nomia geográfica de Krugman e a geogra- que ele escreveu sobre esse assunto. um lugar de destaque na teorização
fia econômica atual são exercícios acadê- Nós também temos críticas no que da economia espacial auto-organi-
micos diferentes, com estilos e convenções concerne ao tratamento da geografia eco- zadora.
de análise e de escrita diferenciadas no nômica por Krugman, mesmo que nós
6 - Não é difícil ver como os ge-
plano dos métodos (Krugman, 1993a). pensemos, por outro lado, que sua obra ógrafos podem se ofender com o
Aquela que Krugman emprega consiste, suscita algumas questões interessantes julgamento de Krugman sobre
a partir de um problema encontrado no para a teoria regional atual. Em primei- seus trabalhos. Em Gegraphy and
mundo real, construir um modelo a fim ro lugar, começaremos por sublinhar os Trade (1991a, p.3-4), ele escreve:
“A decisão tomada pelos especialis-
de apreender a sua “essência” (Krugman, argumentos e os componentes de sua tas em economia internacional de
1989, 1992). O modelo, em geral formali- “geografia econômica” que nós achamos ignorar que eles fazem geografia
zado matematicamente, é simplificado ao essenciais, nos interessando mais parti- não devia ter tanta importância
máximo possível, para efeitos de clareza, cularmente, na perspectiva do desenvol- se outros estivessem ocupados (...)
a estudar a localização e as trocas
ainda que ele forneça, na maior parte do vimento regional, por sua interpretação no interior dos países. Infelizmen-
tempo, uma explicação muito legível de das relações entre localização e trocas, te, ninguém o faz. Evidentemente,
seu modelo. O caráter matemático de seus pelo papel dos rendimentos crescentes se trata de uma afirmação injusta.
métodos pode explicar os fortes laivos da e das externalidades na localização in- Existem excelentes especialistas
de geografia econômica (...) En-
teoria da localização na maior parte de dustrial, pela importância da história, tretanto (...) praticamente não
sua economia geográfica5. No entanto, pelos “bloqueios”7 e pela dependência encontram-se geógrafos nos depar-
parece pouco provável que essa inclinação em relação à trajetória seguida. A sessão tamentos de economia, nem mesmo
metodológica e teórica atraia os inúmeros seguinte aborda essas noções de forma geógrafos dialogando com os econo-
mistas (...) Eles fazem um excelente
geógrafos que abandonaram os modelos mais detalhada e crítica, depois compara trabalho, mas que não aclara nem
formalizados e a exegese rigorosa por as teorias de Krugman àquelas que são têm impacto sobre o mundo da eco-
uma abordagem mais discursiva na qual originadas da “nova geografia industrial” nomia.” Poder-se-ia igualmente
os conceitos chaves (como a “especializa- ao longo dos últimos anos. Estudaremos retorquir que são os economistas que
negligenciaram o intercâmbio com
ção flexível”, o “pós-fordismo”) são mistu- em seguida os argumentos dele no que os geógrafos e que, como Krugman,
rados a estereótipos espaciais anedóticos concerne ao impacto da integração eco- eles ignoram em parte as principais
(como os “espaços industriais” e os “distri- nômica sobre o desenvolvimento regional, evoluções da geografia econômica
tos industriais”). e particularmente seus prognósticos sobre e industrial ao longo da última
década. É também tão irritante o
Essas diferenças explicam certamente as consequências regionais de integração comentário de Krugman em Deve-
em grande parte por que os trabalhos de no quadro da União Europeia assim como lopment, Geography and Economic
Krugman tiveram até então um impacto seu ponto de vista sobre a estabilização Theory (1995, p.88): “Enfim, nós
limitado na geografia econômica e expli- regional e a política industrial. Nós con- (os economistas) integraremos as
questões espaciais na economia por
cam também por que eles foram sumaria- cluiremos mostrando as principais forças meio de modelos (como os meus,
mente rejeitados por alguns geógrafos. Jo- e fraquezas da abordagem que Krugman mas não necessariamente) que dão
hnston (1992) rejeita Geography and Trade tem da geografia econômica. um sentido às ideias dos geógrafos
(1991a) como sendo “muito simplista” no Continua na próxima página...
que concerne à “geografia”, e “condes-
cendente” em seus comentários sobre os
trabalhos da geografia econômica6. De
uma veia quase similar, Joare(1992, 679) Revista do Programa de Pós-
Graduação em Geografia e do
critica a geografia econômica particular Departamento de Geografia da
utilizada por Krugman, que ele julga “his- UFES
toricamente e intelectualmente datada”, Janeiro-Junho, 2017 7
e a análise realizada por que ela se apoia ISSN 2175 -3709
Trocas, Externalidades e gem dos rendimentos crescentes de esca-
la11 em vez de uma capitalização a partir
Localização Industrial: Os das diferenças em dotações fatoriais na-
Revista do Programa de Pós- Fundamentos da “Geografia cionais. Contrariamente às hipóteses da
Graduação em Geografia e do concorrência perfeita e dos rendimentos
Departamento de Geografia da Econômica” de Krugman de escala constantes que fundam a teoria
UFES
Janeiro-Junho, 2017 ricardiana das vantagens comparativas
ISSN 2175 -3709 A nova teoria do comércio e a lo- e das trocas, a nova teoria considera a
em uma forma correspondente às calização concorrência imperfeita e os rendimen-
normas dos economistas”. Nós te- tos crescentes como as características das
mos o direito de questionar se os A economia geográfica e a teorização economias industriais atuais12. Se a es-
economistas possuem o monopólio
das normas analíticas ou teóricas... do desenvolvimento regional desigual de pecialização e as trocas são comandadas
Krugman têm raízes nas suas contribui- pelos rendimentos crescentes e as econo-
7- NT: No sentido, nos parece, de ções à “nova teoria do comércio”. Habi- mias de escala em vez de pela vantagem
persistências de determinadas for- tualmente, a economia do comércio se comparativa, os benefícios tirados das
mas de localização industrial.
funda na teoria das vantagens compara- trocas aumentam em razão da baixa dos
8 - NT: Os fatores de produção são tivas ricardanas (nas versões que deram custos de produção quando a produção é
os meios utilizados na combinação Heeckscher, Ohlin e Samuelson notada- realizada em grande escala. Em segundo
produtiva. A teoria econômica dis- mente), que estipula que, em condições lugar, segundo essa concepção, podemos
tingue habitualmente dois fatores
principais: o capital e o trabalho.
de concorrência perfeita, e levando em ver na especialização um acidente da his-
Alguns autores, de maneira espe- conta a quase-imobilidade de ao menos tória. A localização específica de uma mi-
cífica, levam em consideração os um dos fatores de produção, os países se cro-indústria permanece, em grande par-
recursos naturais. especializam nas indústrias nas quais eles te, indeterminada e tributária da história.
tem vantagens comparativas (recursos em Mas, uma vez o esquema de especializa-
9 - NT: Vantagem comparativa é
uma teoria ricardiana relativa às matéria prima, mão de obra barata, etc.) ção instalado, por alguma razão, ele pode
trocas internacionais, quando, no As dotações relativas em fatores de pro- se encontrar “travado” pela acumulação de
comércio entre dois ou mais países, dução8 dos diferentes países são, então, a ganhos obtidos das trocas. Existe então
um dos países não dispõe de algu-
origem da especialização e do comércio uma tendência forte de “dependência da
ma vantagem absoluta de um dos
fatores, mas ele tem, no entanto, internacional. O princípio da vantagem trajetória” nos esquemas de especialização
interesse em trocar, à condição que comparativa9 prediz, então, que os países e de trocas entre os países: a história deve
se especialize nos produtos pelos que tem dotações diferentes em recursos ser levada em conta. Em terceiro lugar, em
quais sua desvantagem é a mais
trocarão bens diferentes. A teoria não um quadro de concorrência imperfeita, a
fraca; o outro país, por outro lado,
se especializaria na produção pela pode predizer quais tipos de bens serão estrutura da demanda e a remuneração
qual sua vantagem é a maior. Para trocados pelos países que possuem dota- dos fatores de produção, para as trocas
Ricardo, desse modo, todos os países ções em recursos comparáveis. Ora, por intra-ramos, dependerá das condições téc-
ganhariam nas trocas.
uma grande parte, as trocas internacio- nicas da produção ao nível micro, sem que
10 - Existem de fato várias versões nais e a maior parte do comércio da zona possamos dizer a priori como evoluirá a
da nova teoria do comércio, mas da Organização para a Cooperação e o estrutura da demanda em fatores. Em
todas subscrevem os princípios ex- Desenvolvimento Econômico (OCDE) quarto lugar, ainda que suponhamos que
postos por Krugman em sua obra se realizam entre países que possuem
Rethinking International Trade
no modelo ricardiano a opção política
(1990) dotações fatoriais parecidas, e as trocas apropriada seja o livre mercado, a nova
ocorrem principalmente com produtos teoria afirma que, em razão da concor-
11 - NT: As economias de escala parecidos. Esse comércio intra-industrial rência imperfeita e dos rendimentos cres-
designam as baixas dos custos uni- conheceu uma expansão rápida ao longo centes, pode-se, por razões estratégicas,
tários dos produtos resultantes de
um aumento do volume da produ- das últimas décadas, apesar da conver- recorrer às políticas comerciais para criar
ção. Elas correspondem aos rendi- gência rápida desses países nos níveis de uma vantagem comparativa ao promover
mentos de escala crescente. qualificação e as dotações em capital por setores de exportação onde as economias
habitante (OCDE, 1994). A “nova teoria de escala – e as externalidades em parti-
12 - A ideia que os rendimentos
crescentes e as economias de escala
do comércio” é uma tentativa de levar em cular – constituem importantes fontes
possam ser alternativas à vanta- consideração esse tipo de troca. A nova de renda. Dito de outra forma, a política
gem comparativa para explicar teoria do comércio encontra na diferença comercial estratégica pode permitir a um
a especialização e as trocas inter- entre os países uma razão para a existên- país modificar a estrutura da especializa-
nacionais reenvia é claro à Ohlin
(1933), e mesmo a Adam Smith.
cia do comércio, mas ela vai além da con- ção econômica internacional em seu favor
Mas como sua importância foi reco- cepção tradicional essencialmente sobre (Krugman, 1980).
nhecida, demos-lhes um papel sub- quatro pontos (Krugman, 1990)10. De acordo com Krugman, essas evo-
sidiário na teoria das trocas. A no- Em primeiro lugar, ele afirma que luções da “nova teoria das trocas” neces-
vidade da “nova teoria das trocas”
é ter reintroduzido os rendimentos
a maior parte das trocas entre os países, sitam, tornando-a mais desenvolta, uma
crescentes e as economias de escala sobretudo as trocas de firmas intra-ramos aproximação entre a teoria das trocas e
na corrente dominante. entre países similares em termos de co- a teoria da localização. A economia geo-
8 mércio internacional são uma prova da gráfica é então uma construção híbrida a
especialização realizada para tirar vanta- partir de dois precedentes. Ela alia os mo-
A Economia Geográfica de Paul Krugman e suas consequências para a teoria do desenvolvimento regional: Ron Martin
uma avaliação crítica Peter Sunley
Paginas 5 a 35
A Economia Geográfica de Paul Krugman e suas consequências para a teoria do desenvolvimento regional: Ron Martin
uma avaliação crítica Peter Sunley
Paginas 5 a 35

delos de concorrência imperfeita às eco- regionais do que concentrações nacionais.


nomias de escala, utilizadas na nova teoria Além disso, segundo ele, “a melhor evi-
do comércio, dando ênfase, como na te- dência da importância prática das econo-
oria das localizações, na importância dos mias externas é tão óbvia que tende a ser
custos de transporte. A interação entre as esquecida: a forte tendência da atividade
economias de escala externas e os custos econômica em geral, particularmente as
de transporte está no cerne da explicação indústrias e os aglomerados de indústrias,
que Krugman dá da concentração indus- a se concentrar no espaço” (Krugman,
trial regional e da formação dos “centros” 1993b, 173). Essa tendência, ele argu-
e das “periferias” ao nível regional (Krug- menta, refuta completamente o modelo
man, 1991a; Krugman et Venables, 1990). concorrencial do equilíbrio econômico,
Seu modelo sugere que altos custos de quando se trata da localização da produ-
transporte agirão contra a concentração ção no espaço a “irrelevância do equilíbrio 13- NT: “bloquear” aqui parece ter
econômico” é fragrante e há múltiplos o sentido de “persistir”, mas muitas
geográfica da produção. Com alguma
vezes pode ter, em outras partes do
redução nos custos dos transportes, en- equilíbrios possíveis. A forma de uma texto, o sentido negativo de “blo-
tretanto, as firmas quererão se concentrar economia é determinada por contingên- quear” novas possibilidades de de-
em um lugar para realizar economias de cia, depende da trajetória anteriormente senvolvimento em função daquilo
seguida e das condições iniciais definidas que foi herdado e que pode impedir
escala tanto em produção como em trans-
as mudanças.
porte. Nas palavras de Krugman, “Em pela história ou pelo acaso. Conexões re-
função dos custos de transação imputá- troativas a montante e a jusante significam 14 - Esse termo deriva da primei-
vel às distâncias, um produtor individual que, uma vez estabelecida, a vantagem re- ra linha (QWERTYUIOP) do
preferirá localizações que gozam seja de gional pode se tornar cumulativa. Não há, teclado de máquinas de escrever e
computadores. Que essa ordem das
uma forte demanda, seja de uma dispo- portanto, nenhuma tendência em direção
letras seja atualmente a mesma
nibilidade de inputs particularmente inte- à uma solução ótima, pois distribuições utilizada nas primeiras máquinas
ressantes – mas essas localizações são em econômicas aparentemente “irracionais” de escrever do século XIX, ainda
geral aquelas escolhidas pelas outros pro- podem ser “bloqueadas” [persistiriam13] que sequências mais eficientes sejam
possíveis, representa uma forma de
dutores (1991a, 98). Se o custo do trans- por causa dos rendimentos crescentes.
“bloqueio” e persistência que permi-
porte continua a cair, o modelo sugere Mas, ao associar a geografia econômica te fazer estabelecer paralelos com
que a necessidade de se localizar próximo à dependência da trajetória, ou o que ele certas situações na economia.
aos mercados desaparecerá e a produção chama de “economia qwerty14”, Krugman
não rejeita a possibilidade de inversão de 15 - NT: Alfred Weber (1868-
pode se dispersar. Entretanto, sabe-se que 1958) foi considerado o fundador
mesmo fracos, os custos de transporte tendência ou de mudança. Ao contrário, do modelo de localização industrial.
subsistirão, a relação circular, ou feedback ele argumenta que quando ocorrem mu- Partiu de um esquema triangular
positivo, entre produção e demanda fa- danças na evolução regional, elas serão em que cada ângulo representa um
abruptas e imprevisíveis. Ele usa repeti- elemento da produção: energia, ma-
rão com que as regiões que tiveram uma téria-prima, mercado de consumo;
industrialização precoce, o que é tipica- damente o exemplo do Massachusetts pressupôs em seguida que os custos
mente acidental, atrairão a indústria e o como uma economia regional que entrou de transportes seriam proporcionais
crescimento das regiões dotadas de con- em colapso. Krugman (1991c) sugere que, à distância e ao peso. Em função dos
sob certas condições, expectativas auto- custos de transporte, ele definiu as
dições iniciais menos favoráveis. Krug- localizações ótimas das indústrias.
man (1991a,1991d) argumenta que esse -realizadoras podem superar as vantagens Mas, também, introduziu outros
modelo explica o surgimento do cinturão acumuladas, e expectativas pessimistas so- elementos no seu modelo de base,
da manufatura no nordeste dos Estados bre as perspectivas de uma região podem levando em conta, por exemplo, as
se auto-justificar. economias de aglomeração. Essas
Unidos no século XIX. Esse modelo tam- últimas dizem respeito ao fato das
bém tem sido aplicado no debate sobre o empresas estarem em espaço ur-
possível destino das regiões periféricas da Rendimentos crescentes e con- bano aglomerado onde os recursos
União Europeia (Krugman e Venables, são agrupados permitindo obter
corrência imperfeita economias externas, mas essa eco-
1990). Recentemente, Krugman (1993d) nomia deve ser superior aos custos
desenvolveu uma nova variante da abor- De acordo com Baldwin (1994), a de transporte que um eventual des-
dagem que argumenta que não é que as análise de Krugman representa uma nova locamento da indústria para essa
regiões bem sucedidas sistematicamente aglomeração acarrete.
teoria da localização genuína. Na verdade,
atrai as indústrias das áreas periféricas, sua teoria não somente faz eco a Ohlin 16 - NT: dos custos de transporte
mas são as trocas e as economias exter- (1933), Hirschman (1958) e Myrdal em relação ao aglomerado.
nas que produzem regiões mais especia- (1957), mas se assemelha bastante com o
lizadas, que são então mais vulneráveis à modelo de Weber (1929) sobre o fato de
“choques” aleatórios. que os custos de transportes são compen-
Com base nesse modelo de localiza- sados pelas economias de aglomeração15.
ção, Krugman (1993b) argumenta que as Enquanto Weber identificou as compen- Revista do Programa de Pós-
grandes regiões são unidades econômicas Graduação em Geografia e do
sações16 espaciais, o modelo Krugman- Departamento de Geografia da
mais significativas que o Estado-nação. -Venables introduz o nível geral dos cus- UFES
Ele escreve que a imagem de satélite do tos de transportes como uma variável que Janeiro-Junho, 2017 9
mundo à noite mostra mais aglomerações ISSN 2175 -3709
pode flutuar ao longo do tempo. Ten- pequena é baseada nos três tipos de eco-
do em conta esses predecessores, deve- nomias externas de Marshall: a concen-
mos considerar se existe algo de novo tração do mercado do trabalho, a dispo-
Revista do Programa de Pós- na economia geográfica de Krugman. nibilidade de fornecedores especializados
Graduação em Geografia e do Em vários trabalhos, ele mesmo diz que e a existência de efeitos de difusão de co-
Departamento de Geografia da nhecimento tecnológico. Entretanto, ele
simplesmente está recontando uma anti-
UFES
Janeiro-Junho, 2017 ga história de forma mais rigorosa. Seria coloca grande ênfase nas duas primeiras
ISSN 2175 -3709 tentador concluir, como alguns críticos e trata apenas brevemente das externali-
17- Hanink (1988, 1994) descre- fizeram, que não há nada de novo nisso. dades tecnológicas locais. Isso pode pare-
ve essas abordagens como teoria dos Entretanto, essa conclusão negligencia a cer estranho, pois em outros trabalhos ele
mercados diferenciados, e usa um forma na qual a análise de Krugman sobre argumentou que, empiricamente, a fonte
modelo estendido de Linder para
explicar as consequências da dife- a aglomeração foi sendo moldada tanto mais plausível de externalidades positi-
renciação geográfica dos produtos. pelos desenvolvimentos na teoria do co- vas das trocas é a inaptidão das firmas de
mércio como pelos modelos recentes de inovação em monopolizar o conhecimen-
organização industrial. Uma das princi- to que elas criam (Krugman 1987a,137).
pais razões porque a teoria tradicional do Mas os argumentos não são incompa-
comércio negligenciava as vantagens que tíveis, porque Krugman argumenta que
surgem dos rendimentos crescentes e das essas externalidades são difíceis de serem
economias de escala era a dificuldade em localizadas e de serem mensuradas e que
modelar a estrutura do mercado. Desen- muitas delas tem alcance nacional ou in-
volvimentos recentes na modelagem de ternacional (ver também Ethier 1982).
estrutura de mercado com rendimentos Então, ainda que sejam importantes as
não constantes têm, em certo sentido, fa- externalidades tecnológicas locais em
cilitado a nova teoria do comércio (Hel- certos distritos da indústria de ponta, ele
pman, 1984; Krugman, 1983a; Buchanan considera que o alcance da sua localização
and Yoon 1994; Smith 1994). Então, para é limitada em termos gerais.
entender a interpretação de Krugman dos Outras razões para a falta de ênfase
rendimentos crescentes, a melhor forma é de Krugman nos efeitos de difusão tec-
começar por esses modelos. Duas aborda- nológica se tornam aparentes quando
gens são particularmente relevantes para nos voltamos para o segundo modelo de
o trabalho de Krugman sobre a concen- estrutura de mercado que influenciou
tração geográfica, isto é, os modelos de a nova teoria das trocas, o modelo de
Marshal e Chamberlin. Chamberlin (Chamberlin, 1959). Esse
A abordagem Marshalliana para com- modelo de equilíbrio do mercado leva em
preender os rendimentos crescentes já é conta a competição entre firmas similares
muito conhecida em geografia econômi- que produzem produtos diferenciados
ca. É baseada em uma longa tradição que que são parecidos, mas não substitutos
vê as economias de escala principalmente perfeitos. Cada empresa enfrenta uma
como externalidades, surgidas da espe- curva de demanda decrescente e tem al-
cialização da divisão social do trabalho gum poder de monopólio. A entrada de
(Young 1928; Stigler 1951). Tipicamen- novas firmas produzindo produtos ligei-
te, economias de escala são consideradas ramente diferentes elimina as vantagens
como puramente externas, de modo que de monopólio, marcando então a exis-
os pressupostos da concorrência perfeita tência de vários pequenos monopolistas.
possam ser mantidos (Chipman 1970). Muitas explicações das trocas intra-ramo
Enquanto Krugman está ciente dessa pelos novos teóricos do comércio foram
longa tradição, ele sugere que os avanços desenvolvidas a partir desse modelo, as-
na modelagem dessas economias externas sumindo que as economias de escala são
(ver, por exemplo, Romer, 1990) lhes deu internas às firmas17. De acordo com Hel-
uma nova flexibilidade. Ele argumen- pman e Krugman (1985), essas economias
ta, em um artigo (Krugman, 1981), que internas são fáceis de serem justificadas.
as economias externas em nível nacional Eles argumentam que as firmas poderiam
são a chave do desenvolvimento desigual tanto realizar economias de escala como
dos países. No entanto, progressivamente, responder a uma demanda por produtos
Krugman tem sido relutante em tratar as diferenciados de outros produtores e con-
nações como unidades econômicas e tem sumidores ao se localizar em um lugar e
enfatizado a importância das economias desenvolver comércio intra-ramo (Krug-
externas na escala local e regional. De man, 1989). Krugman vê essa abordagem
fato, em Geography and Trade a sua expli- especialmente relevante para bens inter-
10 cação para a localização da indústria e da mediários e semi-acabados, para os quais
aglomeração em uma escala relativamente o leque de diferenciação é alto e o merca-

A Economia Geográfica de Paul Krugman e suas consequências para a teoria do desenvolvimento regional: Ron Martin
uma avaliação crítica Peter Sunley
Paginas 5 a 35
A Economia Geográfica de Paul Krugman e suas consequências para a teoria do desenvolvimento regional: Ron Martin
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do é frequentemente pequeno para tirar também tem significado real na prospe-


o máximo das economias de escala. Além ridade. Em outro trabalho Krugman es-
disso, ele argumenta que creveu,
onde não é possível comercializar bens Na última década (...) se tornou corrente
intermediários produzidos com economias que em presença de concorrência imperfeita
de escala, se buscará induzir a formação de e rendimentos crescentes, externalidades pe-
“complexos industriais” – grupos de indústrias cuniárias são importantes; por exemplo, se a
partilhando a mesma necessidade de concen- ação de uma firma afeta a demanda pelo pro-
trar em um mesmo lugar todos os usuários duto de outra firma cujo preço excede o custo
de bens intermediários de um mesmo país. marginal, e isso também é uma externalidade
Nesse casso o padrão de especialização e troca “real” assim como ocorre quando os resultados
do mundo de Chamberlin tende a se asseme- em pesquisa e desenvolvimento de uma firma
lhar como o padrão do mundo Marshalliano passa a fazer parte dos fundos comuns de co-
descrito anteriormente (Krugman 1987c, 319; nhecimento. Ao mesmo tempo, ao focar nas
compare Losch 1967, 109). externalidades pecuniárias, somos capazes de
fazer uma análise de forma muito mais con-
creta do que supor uma forma invisível para as
Esses dois modelos de competição [de economias externas. (Krugman, 1991b, 485).
Marshall e de Chamberlin] estão implí-
citos na discussão sobre externalidades Esse foco nas externalidades pecuniá-
locais e regionais que faz Krugman. rias molda a interpretação que Krugman
faz de Marshall (ver também David and
Rosenbloom, 1990). Por exemplo, ele
O papel e as implicações das ex- afirma que tanto a colocação em conjun-
ternalidades to do mercado de trabalho e a disponi-
bilidade de bens intermediários que não
Krugman utiliza a teoria das econo- são comercializados ilustram os efeitos 18- O termo “externalidade pe-
mias externas de Marsall para explicar a de tamanho do mercado19. Além disso, cuniária” foi usado por Scitovsky
aglomeração geográfica em escala relati- ele enfatiza as externalidades “pecuniá- (1954) para se referir às externa-
vamente pequena, a especialização ao ní- rias” que se originam tanto de economias lidades que surgem das imperfeições
vel de uma cidade ou de uma conurbação. do mercado, tanto no que se refere
de escala externa como de economias de à oferta como à procura. Efeitos do
Entretanto, a abordagem de Chamberlin escala interna. Ele nota que “ainda que tamanho do mercado são impor-
também tem sido importante em suas economias de escala sejam internas à fir- tantes formas de economia externa
considerações sobre externalidades. Na ma, economias internas na produção de pecuniária; quanto maior o merca-
visão de Krugman, a existência de rendi- do, mais firmas individuais podem
bens intermediários podem funcionar incrementar sua produção sem ter
mentos crescentes implica que a distinção como economias externas para as firmas que reduzir os preços Aumentar
ortodoxa entre externalidades “tecnológi- que os compram” (Krugman, 1981). Ele o tamanho do mercado permite
cas” e “pecuniárias” é falaciosa e inútil18. ainda, em um artigo recente sobre loca- rendimentos crescentes. Efeitos do
No modelo de equilíbrio concorrencial, as tamanho do mercado podem fun-
lização metropolitana (Krugman, 1993c), cionar em várias escalas geográ-
externalidades tecnológicas são definidas demonstra que “forças centrípetas” que ficas, desde a internacional até a
como as consequências daquelas ativida- mantém a coesão de uma cidade podem local. Externalidades tecnológicas
des que influenciam diretamente a função ser deduzidas da interação de economias referem-se à uma situação em que
produtiva de outra forma que aquela do há efeitos de difusão da função de
de escala, no nível da empresa e dos cus- produção de uma firma para as de
mercado. Elas têm consequências reais tos de transporte. Em consequência, ele outras firmas, por exemplo, quando
na prosperidade e na eficiência (Meade, argumenta, que não é necessário se supor uma firma produz uma inovação
1952; Mishan 1971). Em uma situação economias externas locais; elas são de- que outras firmas podem imitar.
de concorrência perfeita e rendimentos duzidas antes dos efeitos de tamanho e 19- Krugman também felicita Fu-
constantes, entretanto, externalidades de potencial de mercado. O ponto chave jita (1989) por sua ênfase nos efei-
pecuniárias que surgem da compra e ven- desses argumentos é que as economias in- tos de tamanho do mercado para
da no mercado são escassas (Scitovsky ternas de escala, ao aumentar o incentivo explicar as aglomerações urbanas.
1954). Krugman argumenta que esse tipo para as firmas se concentrarem em um
20- De forma similar, Porter
de distinção é falacioso. De acordo com lugar, intensifica a tendência para a con- (1990) argumenta que a concen-
suas palavras, “é válido apenas quando há centração geográfica da produção. Assim, tração geográfica de indústrias
rendimentos constantes e concorrência Krugman associa a ascensão do manufac- principais frequentemente reforça
perfeita; em um mundo de rendimentos e intensifica suas vantagens com-
turing belt norte-americano com a ascen-
petitivas.
crescentes e concorrência imperfeita, a são das grandes corporações de Chandler.
gama de economias externas importantes As análises de Krugman enfatizam
é muito maior. Em particular, existem re- que as externalidades que operam dentro
ais economias externas associadas a toda e entre as indústrias nessas aglomerações
uma série de efeitos ligados ao tamanho regionais fazem diferença nas vantagens Revista do Programa de Pós-
do mercado” (Krugman 1993b, 166). Em competitivas das firmas que as consti- Graduação em Geografia e do
resumo, há rendimentos crescentes na tuem. Nesse sentido, então, o trabalho de Departamento de Geografia da
produção, então o tamanho do mercado UFES
Krugman dá um sentido à competitivida- Janeiro-Junho, 2017 11
é importante e as economias pecuniárias de regional20. Ao mesmo tempo, seus es- ISSN 2175 -3709
critos recentes sobre economia interna- desse ponto de vista, é que as vantagens
cional têm criticado certas definições e não são igualmente partilhadas entre as
certos usos comuns da competitividade, e regiões de um mesmo país.
Revista do Programa de Pós- é importante situar seus trabalhos regio- Isso forma as bases do segundo con-
Graduação em Geografia e do nais no contexto de sua abordagem geral junto de consequências adversas identifi-
Departamento de Geografia da
das consequências das trocas (Krugman cadas por Krugman, os chamados custos
UFES
Janeiro-Junho, 2017 1994a, 1994b, 1994c, 1994d). Uma ques- de ajuste econômico. Ele argumenta que
ISSN 2175 -3709 tão essencial aqui é que Krugman vê todas apesar de ser dispendioso para o capital e
as formas de integração econômica inter- para o trabalho investir em novas indús-
nacional como essencialmente vantajosas. trias, estes custos representam uma for-
Por exemplo, a especialização produzida ma de investimento. Esses custos podem
pelas trocas aumenta a eficiência da eco- justificar uma compensação, mas não há
nomia mundial como um todo e produz razão para impedir ou retardar sua mo-
benefícios mútuos para os países que par- bilidade. Por outro lado, onde esses ajus-
ticipam dessas trocas (Krugman, 1994d). tes implicam custos sociais importantes,
Essa concepção é parcialmente fundada principalmente o desemprego, ele admite
em sua crença de que as vantagens com- que isso pode constituir um argumento
parativas ainda são importantes e úteis. contra uma mobilidade muito rápida. A
É também baseada em sua concepção de possibilidade dos custos de ajustamento
que o reconhecimento das externalidades se tornarem custos sociais reais não pode
e da concorrência imperfeita pela “nova” ser tratada de forma leviana. Krugman
teoria das trocas enfatiza os ganhos poten- destaca um fator de melhora ao nível das
ciais ligados à integração econômica. Tro- trocas entre os países industrializados: sua
cas crescentes permitem economias de es- intensificação depois da Segunda Guer-
cala mais importantes via racionalização ra Mundial, especialmente na Europa; o
e, em outras situações, pode ter efeitos crescimento das trocas foi essencialmente
vantajosos em mercados oligopolísticos intra-ramo. “A especialização que se es-
ao aumentar a concorrência. tabelece a medida que as trocas de bens
A complexidade de muitos dos traba- manufaturados aumentam leva a uma
lhos de Krugman também reflete o fato tendência de concentração, no interior do
que a existência de externalidades signifi- país, em diferentes nichos intra-setores ao
cativas e rendimentos não constantes abre invés de concentração de diferentes paí-
possibilidades de surgimento de efeitos ses em diferentes indústrias” (krugman
adversos engendrados pela integração e 1989, 364). Há claramente uma tensão no
intensificação das trocas. Krugman (1989) trabalho de Krugman entre sua avaliação
destaca duas principais fontes de efeitos positiva das trocas e a integração em geral
adversos. A primeira é a possibilidade de e sua demonstração de que consequên-
distribuição desigual dos benefícios asso- cias adversas significativas são possíveis.
ciados à existência de rendimentos muito Como vimos, a questão da distribuição
elevados em indústrias nas quais a con- desigual das vantagens e dos custos é
corrência é imperfeita. Um país que se provavelmente a mais importante. De
beneficia da existência de indústrias de fato, enquanto a “geografia econômica”
rendimentos elevados em detrimento de de Krugman mostra os efeitos positivos
outros países permite que políticas co- da aglomeração sobre a produtividade, é
merciais destinadas a favorecer a indústria também particularmente importante ex-
podem levar à um conflito comercial. As- plicar essas possíveis consequências ad-
sim, “ainda que a possibilidade de perdas versas.
reais resultantes das trocas permaneça
puramente acadêmica, há um problema
real de conflito pela divisão dos ganhos”
A Economia Geográfica
(Krugman 1989, 361). (Para um exemplo de Krugman e a Geografia
global, ver Krugman e Venables, 1994). Econômica: Uma Compara-
Há, também, claramente uma dimensão
regional para esse problema de distribui- ção Crítica
ção desigual. Dada a importância, em cer-
tas regiões, das economias externas e da
acumulação das vantagens ligadas à suas Krugman partilha, com inúmeros
trajetórias, é possível que essas regiões do- geógrafos econômicos, um interesse na
minantes capturem uma parte despropor- aglomeração regional e nas consequências
12 cional das vantagens resultantes de uma geográficas das trocas. Ao mesmo tempo,
grande integração. O obstáculo principal, o tratamento que ele dá a essas questões

A Economia Geográfica de Paul Krugman e suas consequências para a teoria do desenvolvimento regional: Ron Martin
uma avaliação crítica Peter Sunley
Paginas 5 a 35
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uma avaliação crítica Peter Sunley
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tem sido significantemente diferente das no entanto, essa afirmação evidencia uma
abordagens feitas pela geografia econô- importante fraqueza no trabalho de Krug-
mica recentemente. Nessa parte do arti- man. Ele afirma que as mesmas forças de
go, devemos examinar a mais importante localização que explicam a concentração
dessas diferenças e considerar as lições de no século XIX estão na base da ten-
que Krugman e geógrafos econômi- dência a aglomerar que continua até hoje.
cos podem aprender uns com os outros. Essa é, de fato, uma das razões de por que
Como já salientamos, uma diferença fun- ele é relutante em considerar os efeitos
damental entre a economia geográfica de de difusão tecnológica como um deter-
Krugman e as várias escolas contemporâ- minante principal dos clusters contem-
neas de geografia econômica se refere ao porâneos. Ao mesmo tempo, entretanto,
método utilizado. A confiança de Krug- Krugman faz várias referências rápidas
man em modelos formais significa que sobre como a natureza das aglomerações
seu trabalho é rigoroso e é apoiado em de- mudou com o tempo. Ele sugere, em um
monstrações matemáticas. Em seu ponto artigo, que as ferrovias a o barco a vapor
de vista, a dependência de muitos desses foram responsáveis pela emergência das
modelos de hipóteses pouco realistas não distinções centro-periferia, mas que a era
é um problema grave ou uma limitação desse tipo de divergência talvez já tenha
séria. Ao contrário, ele parece ver esses passado. Mas uma sugestão como essa re-
modelos como metáforas ou representa- quer maiores explicações. A base histórica
ções do cerne mesmo dos problemas reais da abordagem de Krugman permanece
do mundo (Krugman, 1995). Quando os pouco clara e cheia de ambigüidades. O
resultados dos modelos são inadequados, que está claro é que a ênfase que ele dá
suas hipóteses podem ser modificadas. na continuidade das forças responsáveis
Ao contrário de Krugman, boa parte da pela aglomeração de capitais contrasta
geografia econômica contemporânea tem com o foco dos geógrafos econômicos
abandonado o uso de modelos formais e nos padrões históricos de reestruturação.
tem sido dominada pelos vários tipos de Entretanto, os méritos relativos dessas
abordagem em economia política, que abordagens mais históricas dependem
buscam, acima de tudo, ser “realistas”. A precisamente em como as mudanças são
partir dessa perspectiva, os modelos de teorizadas e explicadas. É impossível aqui
Krugman não levam muito em conta o falar da geografia econômica como um
contexto geográfico e histórico. Knox e todo; selecionamos, portanto, duas áreas
Agnew (1994), por exemplo, argumentam relevantes de pesquisa: em primeiro lugar,
que o modelo centro-periferia de Krug- os escritos recentes da geografia industrial
man em Geography and Trade difere de que se interessam pelo processus de aglo-
outros modelos de localização por que ele meração regional; em seguida, a literatura 21- No fim das contas, muitas das
não supõe um processo de convergência recente que teoriza sobre a geografia do principais correntes da geografia
em longo prazo. Em vez disso, “o lon- comércio22. econômica da economia política
go prazo nunca chega” (Knox e Agnew, podem ser criticadas em bases si-
milares. Por exemplo, todas assu-
1994, 83). Existem múltiplos equilíbrios A Ressurgência das Economias mem que as leis básicas do desen-
onde as concentrações persistem por um volvimento econômico (da forma
Regionais
longo período de tempo, mas que podem como elas percebem) permanecem
ser desfeitas pelos novos padrões de con- essencialmente imutáveis enquan-
Durante a última década, a aborda- to o capitalismo evolui ao longo do
centração. Entretanto, Knox e Agnew in- tempo histórico.
gem mais influente sobre organização
sistem que
industrial dentro da geografia econômica
a concentração em determinado lugar... é 22- Há dois campos principais na
tem sido a noção de uma transição fun- geografia econômica contemporâ-
a regra. Então, ainda que seja aparentemente
atento às mudanças históricas, esse modelo damental da produção em massa fordista nea (pós-marxista). Seria neces-
é estático nas hipóteses relativas à operação para os métodos de produção mais flexí- sário outro artigo para analisar o
trabalho de Krugman em relação
dos princípios da localização econômica. Os veis, como a especialização flexível. Scott
mesmos princípios de rendimentos crescentes, ao trabalho da geografia como um
e Storper (1992a, 1992b), Scott (1988), todo sobre o desenvolvimento regio-
concorrência imperfeita e aglomeração são
utilizados da mesma maneira o tempo todo. Storper e Walker (1989) e outros afirma- nal desigual.
Desse ponto de vista, os resultados geográ- ram que as economias internas de escala e
ficos podem mudar, mas os processos que os de variedade tem sido postas em causa de-
comandam não (1994, 83; grifo dos autores) vido à crescente incerteza do mercado e às
Embora esse julgamento pareça ex- mudanças tecnológicas. Eles argumentam
Revista do Programa de Pós-
cessivo21, Krugman (1991a) afirma cla- que a resposta tem sido a desintegração Graduação em Geografia e do
ramente que os padrões de concentração vertical e horizontal ou a externalização Departamento de Geografia da
que ele descreve são típicos somente de da produção que permite mais habilidade UFES
para enfrentar as demandas diferenciadas Janeiro-Junho, 2017 13
algumas indústrias e sob certas condições; ISSN 2175 -3709
e maior adaptabilidade às forças do tamanho das empresas e desintegração
mercado. Onde uma multiplicidade de e, portanto, um movimento de retor-
Revista do Programa de Pós- relações é criada em que há custos de no à concorrência perfeita. Entretanto,
Graduação em Geografia e do transação sensíveis geograficamente, a a ideia da desintegração de uma firma
Departamento de Geografia da externalização é positivamente relaciona- como uma resposta necessária à incerteza
UFES da à aglomeração. Em seu ponto de vista pode ser criticada (ver, por exemplo, Lo-
Janeiro-Junho, 2017
ISSN 2175 -3709
“aglomeração é a estratégia que facilita vering, 1990; Phelps, 1992). Além disso,
23- NT: Economia de escopo diz interação em termos de transação para como Phelps (1992) observou, a análise
respeito ao panorama no qual o cus- os produtores porque a proximidade se de Scott sobre as causas da aglomeração
to total de uma firma para produ-
zir conjuntamente pelo menos dois
traduz em custos mais baixos e maiores refere-se essencialmente à situações que
produtos/serviços, é menor do que o oportunidades” (Scott e Storper 1992b, se aproximam à da concorrência perfeita.
custo de duas ou mais firmas produ- 13). Em resumo, a mudança para especia- Do ponto de vista de Phelps, “a hipótese
zirem separadamente estes mesmos lização flexível foi responsável pelo surgi- da concorrência quase perfeita está im-
produtos/serviços, a preços dados de
insumos. De forma similar às eco-
mento de novos distritos industriais e pela plícita na análise que considera firmas de
nomias de escala, as economias de renovação da importância da aglomeração um único estabelecimento e negligencia
escopo podem também ser entendi- industrial (Sabeel, 1989). Embora exista as considerações sobre o poder econômi-
das como reduções nos custos médios muitas diferenças entre essa “nova geo- co diferencial que se aplica nas estruturas
derivadas da produção conjunta
de bens distintos, a preços dados de
grafia industrial” e a economia geográfica em rede” (1992, 41). Isso é especialmente
insumos. de Krugman (ver tabela 1), devemos focar problemático quando a análise é aplica-
em três pontos: a estrutura industrial e a da às trocas internacionais. Como escreve
estrutura de mercado, a questão das ex- Markusen 1993, 287), “as mais impor-
ternalidades e as relações e transações não tantes indústrias que recorrem às trocas
mercantis. internacionais são multinucleadas, com
Como vimos, Krugman tende a se ba- grandes firmas nacionais impelidas em
sear em vários modelos abstratos sobre a uma concorrência vivaz com firmas de ta-
estrutura monopolista ou oligopolista do manho parecido e politicamente bem do-
mercado. As hipóteses desses modelos tadas de outras nações”. Ele afirma ainda,
são irrealistas em alguns aspectos, mas a “o número de concorrentes é relativamen-
racionalização subjacente a eles justifi- te pequeno, seus tamanhos e sua influên-
ca a sua utilização devido à presença de cia são variados e nenhum deles ignora o
concorrência imperfeita generalizada. Em comportamento dos vizinhos. Essas são
contraste, a abordagem relativa à especia- características de mercados oligopolísti-
lização flexível se utiliza de um novo tipo cos e não de mercados de concorrência
de concorrência que envolve redução do perfeita.

Tabela 1
Comparação entre a “Economia Geográfica” de Krugman e a
“Nova Geografia Industrial”

Krugman Nova Geografia Industrial

Marshallianas, especial- O trio Marshalliano,


mente mercado de trabalho Mercado de trabalho
em comum, fornecedores es- Fornecedores especializados
Externalidades
pecializados. Efeitos de difusão ligados à
Efeitos “pecuniários” de tecnologia e ao conhecimento
tamanho de mercado.

Clusters (agregados) locais


Distritos industriais funda-
Padrão inter-regional cen-
Aglomeração dos no artesanato, alta tecnolo-
tro-periferia
gia, centros financeiros

Imperfeita: monopolística Especialização flexível


Concorrência e oligopolística; economias de concorrencial; economias de
escala escopo23
14
Continua...

A Economia Geográfica de Paul Krugman e suas consequências para a teoria do desenvolvimento regional: Ron Martin
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24- NT: A teoria tradicional de


Krugman Nova Geografia Industrial crescimento econômico diz que
ele acontece em função de fatores
Custos de Padrão inter-regional exógenos (progresso técnico, cresci-
Custos de transação mento populacional). A teoria do
transferência centro-periferia crescimento endógeno considera que
Efeitos de difu- Imperfeita: monopolística Local e fundamental para o o crescimento resulta das ações dos
são tecnológica e oligopolística; economias de sucesso inovador em clusters de agentes econômicos: acumulação
de capital humano, progresso do
escala alta tecnologia conhecimento, pesquisa-desenvol-
vimento e inovação tecnológica,
Mercado de Estratégia de se assegurar Forma de enraizamento desenvolvimento de infraestrutu-
ras (essas últimas são consideradas
trabalho colocado contra o risco (para emprega- social em nível local “externalidades positivas” que tem
em comum dores e para assalariados) um papel importante na teoria).

Características Difíceis de formalizar e Pré-condição chave para 25- NT: A concorrência “pura e
sociais e culturais supostas a priori; deixada para uma localização de sucesso perfeita” constitui uma das hipó-
teses centrais do modelo neoclássico.
dos clusters os sociólogos Nessa teoria, o equilíbrio de merca-
do somente é possível no caso em que
o mercado está em situação de con-
corrência pura e perfeita (ou quase
Muitos argumentos têm sido usados é a abordagem de Marshall, que discu- perfeita), ou seja, que ele atenda a
para dar suporte à associação de concor- timos anteriormente. Eles sugerem que cinco condições fundamentais: ato-
micidade da oferta e da demanda
rência quase perfeita e aglomeração. Um certas partes da teoria do crescimento
(multiplicidade de compradores e
deles coloca em evidência que em algu- endógeno24 se inserem nessa abordagem. de vendedores de tamanho compa-
mas indústrias e em certos lugares, gran- Por exemplo, em um artigo sobre as ex- rável e onde nenhum possa influen-
des produtores estão localizados longe das ternalidades que surgem da formação de ciar na determinação do preço do
bem); fluidez do mercado ou livre
aglomerações industriais locais (Hoare, capital humano, Lucas (1988) tratou so-
entrada (todo agente deve poder, a
1975; Scott, 1986), o outro argumento é bre rendimentos crescentes em um nível qualquer momento, formular uma
a observação que o declínio de alguns dis- de economia ampla. O segundo tipo de oferta ou uma demanda); homoge-
tritos industriais tem sido associado com externalidade que De Melo e Robinson neidade dos produtos (os produtos
disponíveis no mercado devem es-
a concentração da produção em firmas identificaram são aqueles que resultam de
tar perfeitamente estandardizados.
maiores (Steed, 1971). São observações taxas de crescimentos desiguais e ocor- Essas três primeiras condições de-
contingentes, no entanto. Por exemplo, rem com concorrência imperfeita25. No- finem a “concorrência pura”. Mas
Scott (1992a) nota que os grandes pro- vamente, há exemplos que vem da teoria duas outras são necessárias para
que ela seja “perfeita”: Transpa-
dutores são parte integrante do distrito de do crescimento endógeno: para Romer
rência dos mercados (informação
informática do sul da Califórnia. Ainda (1990), o investimento em pesquisa e de- perfeita e gratuita sobre as condi-
que grandes firmas não sejam encontradas senvolvimento em uma situação de con- ções do mercado e sobre os preços dos
em clusters industriais locais, elas podem corrência monopolística é uma forma de que ofertam e dos que demandam);
mobilidade dos fatores (os fatores de
ter um papel central nas concentrações engendrar externalidades no campo do
produção devem poder em qualquer
regionais e metropolitanas modeladas por conhecimento. O terceiro tipo de exter- momento se deslocar do mercado de
Krugman. Não se pode supor que as eco- nalidade surge do efeito difusão da de- um produto ao de outro produto). A
nomias internas de escala e de variedade manda entre setores e indústria. Murphy, concorrência se chama “imperfei-
ta” quando uma das cinco condições
ajam contra a aglomeração. De fato, a li- Schleifer e Vishny (1989), por exemplo,
da concorrência pura e perfeita não
teratura sobre as trocas intra-ramo sugere afirmam que existem armadilhas de equi- se verifica. A concorrência mono-
que, com o aumento da diversificação de líbrio de baixo nível onde a industrializa- polística é um dos casos da con-
produtos, economias internas e aglomera- ção permanece não lucrativa. A produção corrência imperfeita, isso acontece
quando os que oferecem os produtos
ção se tornam cada vez mais estreitamen- industrial somente se torna lucrativa para
adotam uma estratégia de diferen-
te ligadas. Há claramente necessidade de firmas individuais em um contexto em ciação dos produtos, os bens não
pesquisas mais aprofundadas sobre as re- que as relações de demanda estão gene- sendo homogêneos eles são imper-
lações entre estrutura de mercado e dinâ- ralizadas. feitamente substituíveis. Por causa
disso as empresas que produzem e
mica locacional. Esse quadro fornece meios de com-
ofertam esses bens beneficiam de
Essas diferenças sobre a questão da parar as duas abordagens de aglomeração uma demanda própria e se compor-
concorrência têm consequências impor- (Tabela 2). O foco de Krugman nos efei- tam em curto prazo como um mo-
tantes na compreensão das externalida- tos de tamanho de mercado é claramente nopólio na determinação do preço.
26 - Próxima página...
des. A fim de comparar a representação próximo das externalidades financeiras26,
que Krugman faz das externalidades com das quais se inspira fortemente. Como
aquela que é utilizada pela “nova geogra- vimos, sua explanação da aglomeração lo-
fia industrial”, é importante situar as duas cal também invoca certas formas da eco-
abordagens no quadro geral. De Melo e nomia externa Marshalliana. É preciso Revista do Programa de Pós-
Graduação em Geografia e do
Robinson (1990) identificam as três prin- lembrar que ele tende a minimizar a im- Departamento de Geografia da
cipais abordagens sobre externalidade na portância das externalidades baseadas no UFES
literatura econômica recente. A primeira efeito difusão do conhecimento técnico. Janeiro-Junho, 2017 15
ISSN 2175 -3709
Krugman (1987c) as descreve como (Phelps, 1992). Até certo ponto essa limi-
“elusivas”, preferindo se concentrar nas tação tem sido enfraquecida pelos estudos
externalidades que podem ser modela- revisionistas dos distritos industriais que
Revista do Programa de Pós- das. A diferença entre a sua abordagem afirmam que as grandes empresas podem
Graduação em Geografia e do e a da “nova geografia industrial” é apa- imitar a descentralização. Entretanto, não
Departamento de Geografia da
UFES rente. Como dependem de situação de se pode resolver facilmente a contradição
Janeiro-Junho, 2017 concorrência quase perfeita, as economias entre, de um lado, um engajamento ma-
ISSN 2175 -3709 externas Marshallianas têm tido destaque nifesto visando à concorrência perfeita e,
26- Krugman (1993b, 1995) des- na literatura sobre os distritos industriais. de outro lado, a dependência dos modelos
creve esse tipo de economia externa Como afirmou Phelps, e como o traba- Schumpeteriano de “destruição criativa”
como similar àquelas previstas pe- lho de Krugman demonstrou, as econo- e dos efeitos locais de multiplicação do
las interpretações em “Big Push” da
industrialização. Ele argumenta mias externas que podem ser utilizadas progresso técnico em concorrência im-
que um programa de industria- nessa abordagem representam somente perfeita27.
lização em larga escala pode tirar uma ínfima parte de tudo o que é possível
vantagem das economias externas e
das complementaridades, o que re-
duz os riscos do investimento (ver Tabela 2
Rosenstein-Rodan, 1943).
Comparação entre o tratamento das externalidades na “Econo-
27 - Os modelos Schumpeterianos mia Geográfica” de Krugman e na “Nova Geografia Industrial”
de “destruição criativa”, os efeitos
de difusão e de crescimento endó-
geno dependem da concorrência Aplicação à aglomeração
imperfeita. Tipicamente, o incen-
tivo para as firmas desenvolverem Tipo de Externalidade Krugman Nova Geografia
novos produtos e processos decorre
dos lucros do monopólio temporário Aglomerações locais
que elas podem obter (Grossman e de indústria associadas Distritos associados
Helpman, 1991; Aghion e Howitt, a efeitos de tamanho de com a desintegração
1993). Isso não combina muito
bem com a ênfase da nova geografia Economias externas mercado (mercado de vertical e aos custos
industrial na concorrência quase Marshallianas trabalho em comum e de transação; efeitos
perfeita. fornecedores especiali- importantes de difusão
zados) com economias tecnológica
internas
Importante em algu- Não típicos; onde
Efeitos de difusão mas indústrias, mas não há presença de grandes
do conhecimento e da típicos; são difíceis de produtores, há tendência
tecnologia em condições de serem modeladas – “estão de adoção de formas
concorrência imperfeita muito na moda” organizacionais descen-
tralizadas e flexíveis
Especialização
Externalidades finan- regional e concentração Consideradas tipica-
ceiras (efeitos de difusão em larga escala (Centro- mente marshallianas; ên-
pela oferta e pela demanda) -periferia) através da fase maior em condições
interação entre tamanho não mercantis
do mercado, demanda e
custos de transporte

As diferenças entre a economia geo- norado a crescente internacionalização


gráfica de Krugman e os trabalhos recen- das estruturas das firmas e sua globaliza-
tes da geografia econômica relativos ao ção mais geral (Amin e Robbins, 1990;
desenvolvimento regional não se resumem Gertler, 1992) tem suscitado desconten-
às estruturas industriais e externalidades, tamento entre os geógrafos econômicos.
mas também se estendem às questões das Consequentemente, os geógrafos tem se
transações não mercantis. Outro con- interessado na forma como as grandes
traste importante entre a abordagem de firmas interagem com os distritos indus-
Krugman e a dos geógrafos econômicos triais. Mas enquanto Krugman privilegia
é a maneira na qual o poder crescente dos os efeitos do tamanho do mercado, os
grandes produtores tem sido relacionado geógrafos dão ênfase maior no entrelaça-
com a localização industrial contempo- mento da rede de empresas e da rede lo-
16 rânea. A maneira como os trabalhos que cal (Amin e Thrift, 1992; Grabher, 1993).
tratam da especialização flexível tem ig- Geralmente, redes têm sido definidas
A Economia Geográfica de Paul Krugman e suas consequências para a teoria do desenvolvimento regional: Ron Martin
uma avaliação crítica Peter Sunley
Paginas 5 a 35
A Economia Geográfica de Paul Krugman e suas consequências para a teoria do desenvolvimento regional: Ron Martin
uma avaliação crítica Peter Sunley
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como um tipo de relação organizacional curso do desenvolvimento regional. Mas,


que não são nem transação mercantil nem se elas devem ser levadas em conta, as an-
hierarquia, e o termo tem sido utilizado tecipações não podem ser tratadas como
para se referir às relações cooperativas e um “espírito animal” exógeno. Elas são
mutuamente vantajosas entre produtores uma parte importante das convenções e
(Cooke e Morgan, 1993). Usando essa dos valores sociais e sua formação deve
definição, os limites das empresas não fi- ser um campo importante para as pesqui-
cam nítidos e as firmas e distritos se mis- sas sobre região. Nossa conclusão, então, é
turam. De um lado, a ênfase de Krugman que há necessidade de maior intercâmbio
nas relações financeiras é um lembrete de ideias entre o trabalho de Krugman e a
aos geógrafos para não perder de vista os literatura geográfica. Mas isso não se apli-
efeitos de mercado. Mas, por outro lado, a ca somente às pesquisas sobre aglomera-
negligência de Krugman com as externa- ção regional, mas também àquelas sobre
lidades que são intangíveis – mas em que as trocas, de maneira mais geral.
o traçado pode ser apreendido imediata-
mente – parece ser muito restritiva. Como
A Nova Política Econômica das
Jaffe, Trajtenberg e Henderson (1993)
apontaram, fluxo de conhecimento às ve- Trocas
zes deixa um traço escrito, como no caso
do registro de patentes. Os últimos anos tem sido marcado
O interesse nas formas de organização por um crescente interesse dos geógrafos
em rede pela geografia econômica refle- econômicos nos padrões espaciais das tro-
te um interesse mais geral em estudar as cas internacionais. Ainda que falte nesses
formas nas quais as atividades econômicas trabalhos um quadro teórico abrangente,
estão “incorporadas” e tornadas possíveis eles tem sido, no entanto, caracterizados
pelas condições sociais e culturais. Isso por constatar a incapacidade das geogra-
tem sido aplicado fortemente por Storper fias tradicionais, baseadas nas vantagens
(1992a) para os distritos de alta tecnolo- comparativas de Ricardo, em explicar
gia. Como Harrison (1992) notou, esse totalmente o caráter complexo das estru-
interesse nesse enraizamento tem sido turas internacionais contemporâneas. De
uma contribuição original da literatura acordo com a “nova teoria do comércio”,
geográfica recente sobre distritos indus- esse renascimento geográfico acentuou a
triais28. Isso vai de encontro à rejeição de importância das mudanças na economia
Krugman das externalidades invisíveis. mundial e a emergência das trocas intra-
Entretanto, como Storper (1992b) afir- -ramo e intra-empresa. Um dos elemen-
ma, em um contexto de contestação cada tos marcantes desse renascimento tem
vez maior do mercado, é difícil explicar a sido o apelo para estudar as formas pelas
manutenção da vantagem concorrencial quais a geografia das trocas é moldada
de certos distritos se não for levado em pelos Estados e por seus regimes comer-
conta as suas convenções, suas regras de ciais. Essa ênfase na política de Estado, e
comportamento e seus acordos implíci- a interpretação das trocas a ela subjacente,
tos. Inversamente, o declínio de outras contrasta com a abordagem de Krugman
regiões parece ser parcialmente o resul- da maneira como emergem questões fun-
tado do “peso” de convenções e regras de damentais relativas ao comércio e suas
comportamento ultrapassadas (Grabher, implicações em termos políticos.
1993). A rejeição por Krugman das rela- Alguns anos atrás, Johnston (1989) 28- Para Amin e Thrift (1994)
demandou que as trocas fossem explica- essa incorporação é melhor resumi-
ções não mercantis parece ser em razão de da pela frase “profundidade insti-
que, se as externalidades não podem ser das como parte de uma teoria holística do tucional”. Ela é definida por forte
modeladas, então elas devem ser supostas desenvolvimento desigual que combina a presença institucional na região,
a priori, então o analista pode dizer qual- lógica do capitalismo e a política dos Es- altos níveis de interação entre essas
tados. Até certo ponto, seu apelo por uma instituições, estrutura social forte e
quer coisa que ele ou ela queira sobre os consciência coletiva de fazer parte
tipos de efeitos. Isso acaba por excluir ou- agenda de pesquisa mais ampla começou de uma empresa comum.
tros métodos de pesquisa e análises mais a ser reconhecida. Grant resume os de-
sociológicas. Além disso, a relutância de senvolvimentos dos últimos anos, como
Krugman em levar em conta as relações se segue:
não mercantis parece entrar em conflito O tema unificador das novas abordagens
é o estudo das interações entre governos e
com seu engajamento com a economia Revista do Programa de Pós-
firmas e suas conexões com as trocas e com
neo-keynesiana, em que as expectativas e Graduação em Geografia e do
a política industrial no contexto de uma eco-
Departamento de Geografia da
convenções são fundamentais. Ele mesmo nomia mundial concorrencial tanto no plano
UFES
mostra (Krugman, 1991c) que, sob certas econômico quanto no plano político, no qual 17
Janeiro-Junho, 2017
governos tentam “criar” o ambiente mais van-
condições, as antecipações podem afetar o ISSN 2175 -3709
tajoso para as empresas nacionais. Assim, es- gumas indústrias o crescimento rápido
sas abordagens recontextualizam as vantagens leva a um sucesso contínuo engendrado
comparativas para incluir a compreensão dos
desenvolvimentos no campo das políticas in- pelos rendimentos crescentes. Quarto,
Revista do Programa de Pós- dustriais e comerciais (1994, p. 301). devido à existência de rendimentos cres-
Graduação em Geografia e do centes, pode-se conceber que as vantagens
Departamento de Geografia da Alinhado com essa abordagem, Grant
UFES comparativas são criadas por intervenção
Janeiro-Junho, 2017
enfatiza o papel dos governos, especial- estratégica dos Estados-Nação e das au-
ISSN 2175 -3709 mente a formação dos blocos regionais, toridades regionais. A partir dessas bases,
29- Para um debate sobre a crítica assim o papel das firmas como base para eles afirmam que a concepção ortodoxa de
de Krugman, ver a discussão “The uma teoria mais abrangente. Além disso, que o livre comércio é sinônimo de cres-
fight over competitiveness” em Fo- ele afirma que as trocas em tecnologia de
reign Affairs (1994a), Friedman
cimento para todas as regiões está errada;
ponta ocupam um lugar chave em qual- ao contrário “há um perigo que com de-
(1994) e The Economist (“The Eco-
nomics of Meanings”, 1994) quer teoria nova, uma vez que o sucesso manda sem restrições do livre comércio na
nesse setor é um fator de ganho de pro- verdade se ataque os salários e os empre-
dutividade e de criação de postos de tra- gos e se engendre uma queda no nível de
balho de alta remuneração (ver também vida mundial (Howes e Markusen, 1993,
Drache e Gertler, 1991). Em seus recen- 35). Além disso, Markusen (1993) afirma
tes estudos sobre trocas nos setores têxtil que as estratégias de laissez-faire e de livre
e de vestuário, Glasmeier, Thompson e mercado nos Estados Unidos produziram
Kays (1993) também afirmam que é ne- desemprego persistente e desperdício de
cessário compreender como as ações do infraestrutura.
Estado influenciam a concorrência global. Ainda que essa teoria “revisionista di-
De fato, eles concluem que as ações do nâmica” enfoque, assim como Krugman,
Estado suplantaram as forças de mercado a “nova teoria das trocas”, ela é mais pa-
como força reguladora da evolução da ge- recida com as concepções do comércio
ografia industrial. estratégico de autores como Tyson (1992)
O movimento conceitual longe das e Reich (1991), que Krugman (1994a,
explicações ortodoxas das vantagens 1994c) criticou recentemente29. Como
comparativas foi mais completamente afirmamos, Krugman permanece con-
explicado em Trading Industries, Trading vencido que os benefícios mútuos de um
Regions, editado por Noponen, Graham comércio internacional maior superam
e Markusen (1993). Aqui novamente os custos. Além disso, em sua opinião, as
afirma-se que o sucesso nas trocas é fun- vantagens comparativas não são somente
damentalmente moldado pela interven- uma teoria especificamente setorial, mas
ção governamental. Em um dos capítulos seriam um princípio geral que explicam as
desse volume, Howes e Markusen afir- consequências benéficas das trocas. Esse
mam que os governos tem tido um papel conceito deixa claro que não é necessário
chave na criação e apoio à industrias de que um país tenha vantagem absoluta de
ponta, e que “em um mundo com gover- produtividade em algumas áreas para se
nos conduzindo com sucesso essas polí- beneficiar da integração econômica. As
ticas comerciais e industriais, economias trocas, assim sendo, não são um jogo de
abertas que não possuem esses suportes soma zero, então essa preocupação com a
seriam prejudicados pela penetração de competitividade nacional não tem propó-
importações e pela redução do seu merca- sito nem fundamento. Krugman (1987b)
do de exportações em potencial (Howes admite que o caso teórico do livre comér-
e Markusen, 1993, 4). De acordo com cio perfeito tem sido enfraquecido e não
eles, dotações fatoriais podem explicar a constitui um ideal absoluto, mas ele acre-
estrutura das trocas em minerais, produ- dita que ainda é a melhor política geral ou
tos agrícolas e alguns bens de consumo de a melhor regra a seguir. Mas a posição de
trabalho intensivo, mas a maioria das tro- Krugman levanta muitas questões impor-
cas entre mercados econômicos desenvol- tantes. A primeira é saber até que ponto o
vidos podem ser explicadas somente pela contínuo uso das vantagens comparativas
teoria “revisionista dinâmica”. Esta teo- é compatível com a ênfase que ele mesmo
ria tem quatro princípios principais que coloca sobre a presença generalizada dos
contradizem a teoria ortodoxa das trocas. rendimentos crescentes. Kaldor (1985),
Primeiro, a combinação setorial é impor- por exemplo, argumenta que a presença
tante, pois algumas indústrias apresentam de rendimentos crescentes e decrescentes
maiores diferenciais de crescimento e de entra em contradição com os princípios
produtividade. Segundo, o crescimento fundamentais das vantagens comparativas
18 não é restringido pelos fatores mas pela ricardiana. Em resumo, ele afirma que os
demanda pelo produto. Terceiro, em al- rendimentos decrescentes podem signifi-
A Economia Geográfica de Paul Krugman e suas consequências para a teoria do desenvolvimento regional: Ron Martin
uma avaliação crítica Peter Sunley
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car que os recursos liberados pelas trocas -se ênfase no segundo desses fatores, essa
não será necessariamente empregado em posição então é facilmente assimilada ao
outros setores, então há uma possibilidade ramo neoclássico da economia. A teoria
real de perda absoluta (um jogo de “soma de Krugman se presta então à ideia de que
negativa”). Inversamente, os rendimen- os mercados se adaptariam de forma efi-
tos crescentes de certas indústrias podem ciente e rápida se somente os indivíduos
inibir a transferência de recursos para se comportassem racionalmente. Isso é
outros lugares. A geografia econômica de exemplificado, talvez, no argumento de
Krugman não dá a devida atenção a esses Krugman (1993e) de que a euroesclero-
problemas. Isso se reflete em sua insistên- se, isto é, o problema persistente das altas
cia na inutilidade de tentar identificar os taxas de desemprego na Europa, tem sido
setores de altos rendimentos, de forma causado pela intervenção do Estado de
que a configuração setorial não importa bem-estar social no mercado de trabalho.
realmente30. Dada a importância que dá à O problema do ajustamento aos efeitos
produtividade, ele demonstra paradoxal- das trocas em seu conjunto é uma questão
mente pouco interesse à questão de quão que Krugman recentemente considerou
significativo é o ganho de produtividade explicitamente em termos do impacto da
que criam realmente os setores de alta integração econômica no desenvolvimen-
tecnologia, sobre os quais falaram certos to regional, particularmente na União
autores (por exemplo, Hanink, 1994). Europeia, e é a esse aspecto de seu traba-
A segunda questão é se Krugman su- lho que agora nos voltamos.
bestima a importância dos custos de ajus-
te e dos obstáculos ao ajuste regional. De
um lado, Krugman defende uma concep-
ção da geografia econômica em que não O Modelo de Integração
há um processo de convergência levando Econômica de Krugman e o
a um equilíbrio espacial, no qual todos os Desenvolvimento Regional:
fatores são igualmente remunerados. Ele
rejeita a crença neoclássica da eficiência Lições dos Estados Unidos
do mercado com base na ideia de que o para a Europa? 30 - O argumento de Krugman
resultado coletivo das escolhas individuais (1994c) é que é errado assumir que
pode “bloquear” um resultado ruim. De os setores de alta tecnologia como
a informática e o aeroespacial são
outro lado, sem um sentido metodológi- As consequências da integração eco- setores com o maior valor agregado
co, Krugman (1993a) insiste que todos nômica europeia surpreendentemente por trabalhador. De fato, ele nota
os modelos econômicos deveriam conter tem atraído pouca atenção dos geógrafos que nos Estados Unidos as indus-
um equilíbrio bem especificado. Ele quer econômicos. No coração desse problema
triais de alto valor agregado por
trabalhador são de setores extre-
dizer que esses modelos deveriam espe- está a questão de qual será o impacto do mamente capital-intensivos, como
cificar como os indivíduos se compor- processo de integração econômica e mo- a tabaco e do refino de petróleo. Isso
tam e mostrar como isso se concretiza no netária da União Europeia (UE) na estru- não quer dizer nada, no entanto,
mercado a partir da interação entre esses tura regional de crescimento econômico,
sobre a possibilidade de efeitos de
difusão positiva dos setores de alta
comportamentos individuais (Krugman, de emprego e de renda nos diferentes es- tecnologia.
1993a, 115-16). Ele concilia essas duas tados-membros. Os economistas têm for-
convicções contraditórias, parece, através mulado duas respostas contraditórias para 31- Além disso, a integração econô-
de seu engajamento com o ramo neokey- essa questão. De um lado, há aqueles que mica representa um grande choque
nesiano da economia. De acordo com para essas regiões, uma vez que ela
acreditam que a livre circulação de bens, as expõe à força total de concorrên-
esse ramo, as tendências e as estruturas serviços e capital associado à integração cia em todo o sistema. Tais choques,
econômicas são produtos de inúmeras econômica e monetária da Europa (União o argumento continua, deveriam
decisões individuais, mas essas decisões Econômica e Monetária - UEM) deve- (por meio de um tempo de ajusta-
não são perfeitamente racionais e não são mento) eliminar as firmas, as orga-
rá conduzir à convergência regional, não nizações de trabalho e os produtos
perfeitamente informadas. A maior parte somente em termos de rendimentos fa- ineficientes nas regiões deprimidas
do tempo, elas são de preferência qua- toriais e de performance econômica, mas e melhorar sua competitividade
se racionais e tomadas individualmente também no nível da estrutura econômica. e flexibilidade no que se refere à
são razoáveis e sensatas. Entretanto, em oferta.
Como os salários e outros custos são mais
mercados de concorrência imperfeita, o baixos nas regiões menos produtivas e de
resultado será instável e irracional. Em crescimento mais lento, a remoção das
suas palavras, “o que parece como resul- barreiras às trocas e à circulação de fato-
tado altamente irracional no mercado é res, afirma-se, deveria permitir às indús- Revista do Programa de Pós-
causado pela interação entre mercados trias e serviços dessas regiões um melhor Graduação em Geografia e do
imperfeitamente concorrenciais e indiví- Departamento de Geografia da
aproveitamento dessas vantagens compa- UFES
duos que não são perfeitamente racionais” rativas e atrair maior fluxo de capital para Janeiro-Junho, 2017 19
(Krugman, 1994c, 213). Mas, se coloca- investimentos31. ISSN 2175 -3709
Esse cenário otimista é aquele tomado mundial concorrencial tanto no plano econômi-
pela Comissão Europeia (Commission of co quanto no plano político, no qual governos
the European Communities, 1991, 1994). tentam “criar” o ambiente mais vantajoso para
as empresas nacionais. Assim, essas abordagens
Revista do Programa de Pós- Por outro lado, outros afirmam que a in- recontextualizam as vantagens comparativas
Graduação em Geografia e do tegração econômica intensificará os de- para incluir a compreensão dos desenvolvimen-
Departamento de Geografia da
sequilíbrios regionais na União Europeia tos no campo das políticas industriais e comer-
UFES ciais (1994, p. 301).
Janeiro-Junho, 2017 em termos de crescimento e renda em
ISSN 2175 -3709 vez de diminuí-los. Ao invés de condu- Essas idéias foram usadas de uma for-
32- Por que pensa-se que os ganhos
zir à movimentos centrífugo de firmas e ma um pouco diferente em seus trabalhos
esperados da realização dos mer- investimentos em direção às regiões de- anteriores para formular uma explicação
cados internos sejam engendrados primidas e periféricas dentro da União teórica que não trate somente dos pro-
principalmente por fatores endóge- Europeia, é possível que a integração eco- blemas que já destacamos, mas também
nos, os vários processos de alocação
de recursos vão certamente favo-
nômica estimule uma reconfiguração es- introduz elementos adicionais que podem
recer a acumulação de recursos nas pacial das atividades econômicas em favor provocar polêmicas.
regiões centrais principais. São as das regiões dinâmicas precisamente por- A essência desse segundo modelo
vantagens comparativas histori- que essas áreas são aquelas que já possuem pode ser resumido da seguinte forma:
camente estabelecidas das regiões
dinâmicas que as permitem captu-
mais vantagens comparativas em termos primeiramente, dada a existência de ren-
rar uma parte desproporcional dos de acesso aos mercados, às matérias pri- dimentos crescentes, a expansão do co-
benefícios da integração econômica. mas, à especialização e à infraestrutura de mércio inter-regional que a UEM vai en-
Quanto às regiões deprimidas e negócios32. gendrar conduzirá a uma concentração e
com atraso, a integração econômi-
ca é percebida como portadora de
Krugman pertence ao segundo cam- especialização industrial regional crescen-
problemas prolongados de ajusta- po, embora ele pareça estar inscrito nos tes, de acordo com linhas essencialmente
mento e fonte de necessidade de ní- dois muito pouco diferentes modelos de arbitrárias. Uma vez em curso, haverá a
veis maiores de gasto com políticas divergência regional. Em um artigo ante- tendência desse processo de especializa-
regionais.
rior (Krugman e Venables, 1990), ele uti- ção regional se tornar “bloqueado” pelo
liza um argumento centro-periferia que jogo das economias externas de localiza-
33- Em um artigo anterior, Krug- não contradiz o que foi desenvolvido em ção. Em segundo lugar, Krugman afirma
man (1989) mostrou que o aumen- Geography and Trade. Ainda que a supres- que essa especialização regional crescente
to da interdependência na Europa
são de barreiras às trocas, à circulação de tornará as regiões da Europa muito mais
funciona como um amortecedor
contra os choques regionais e na- capital e ao trabalho na União Europeia sensíveis a demanda aleatória idiossincrá-
cionais, mas esse efeito de amorte- aumente a competitividade relativa e o tica e aos choques tecnológicos, de forma
cimento só tem ação eficiente nos afluxo de capital para as regiões periféri- que as recessões e as crises especificamen-
casos de recessão de origem local
cas com baixos salários, considerando os te regionais tenham maior probabilidade
como aquelas provocadas por que-
das bruscas de investimento. custos de transporte, esse processo centrí- de ocorrer33. Em terceiro lugar, quando
fugo provavelmente será contrabalançado combinado com aumento do fator mo-
por uma concentração maior de indústria bilidade que a integração promoverá, tais
e emprego nas regiões centrais com altos choques regionais conduzirão à trajetórias
salários, porque essas regiões possuem de crescimento regional divergentes em
mercados mais vastos, economias exter- longo prazo. Em quarto lugar, dado que
nas e infraestrutura mais desenvolvidos os estados membros da UEM não terão
e vantagens comparativas em termos de mais a possibilidade de utilizar as taxas
acessibilidade relativa. de câmbio como instrumento de política
Sua segunda abordagem é mais en- econômica (ver também Krugman, 1989),
fática, mas diferente em argumentos a única maneira de resolver os problemas
específicos. Em seu artigo “Lessons of de ajustamento regional será transferir
Massachusetts for EMU”, ele apóia o uma parte significante do orçamento na-
movimento da integração econômica cional para a União Europeia para permi-
européia como “uma coisa globalmente tir que o federalismo fiscal funcione como
positiva”, mas ele afirma que isso levará um estabilizador automático.
a maior instabilidade regional e a uma Assim, ao contrário de seus trabalhos
divergência nas taxas de crescimento re- precedentes – por exemplo, em Geo-
gional (Krugman, 1993d, 241). Ao desen- graphy and Trade (1991a) e Krugman e
volver essa tese, ele começa por relembrar Venables (1990) – Krugman afirma que
as suas concepções anteriores relativas ao o processo de desenvolvimento regional
comércio e à localização das indústrias desigual que a UEM pode vir a produzir
que discutimos acima: não transformará um processo de diver-
O tema unificador das novas abordagens gência cumulativa em um modelo centro-
é o estudo das interações entre governos e fir- -periferia. Ele acredita que as forças que
mas e suas conexões com as trocas e com a po-
engendram essa forma de desenvolvimen-
20 lítica industrial no contexto de uma economia
to regional desigual já tenham atingido o

A Economia Geográfica de Paul Krugman e suas consequências para a teoria do desenvolvimento regional: Ron Martin
uma avaliação crítica Peter Sunley
Paginas 5 a 35
A Economia Geográfica de Paul Krugman e suas consequências para a teoria do desenvolvimento regional: Ron Martin
uma avaliação crítica Peter Sunley
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seu limite nas nações de industrialização análise são problemáticos.


avançada; de fato, ele sugere que as ativi-
dades industriais tanto na Europa como
Integração Econômica e Espe-
nos Estados Unidos estão cada vez mais
geograficamente distribuídas de maneira cialização Regional
uniforme (Krugman, 1993). De acordo
com seu ponto de vista, teremos um pro- O primeiro problema concerne à es-
cesso crescente de especialização regional pecialização regional. À qual escala o
de exportação que terá como resultado “regional” se refere? As “regiões” usadas
que a estrutura de crescimento e de de- por Krugman em suas comparações de
clínio regional sejam mais imprevisíveis, especialização regional e de disparidades
dependente de incidência particular de de taxas de crescimento regional nos Es-
choques de demanda aleatórios. Portanto, tados Unidos e na União Europeia são ex-
ao contrário do argumento de Geography tremamente agregadas: as quatro “Gran-
and Trade, o sucesso passado de uma re- des Regiões” seriam estados individuais
gião pode não se manter e mesmo regiões nos Estados Unidos e países inteiros na
prósperas podem experimentar uma re- Europa. Krugman afirma que essas uni-
versão repentina da sua fortuna. dades espaciais possuem tamanho bastan-
Outra característica distintiva de te similares e, por isso, são comparáveis.
Krugman é o método que ele utiliza para Pode até ser, mas mas elas não necessa-
dar apoio empírico a sua teoria. Os Es- riamente representam a escala geográfica
tados Unidos é tido como uma espécie na qual as economias externas e os pro-
de unidade econômica e monetária que cessos que levam à formação de clusters
a União Europeia está buscando imitar, industriais realmente operam. O ponto
então as experiências norte-americanas básico é que a análise das economias de
são consideradas um bom guia do que se localização requer a identificação de regi-
esperar na Europa. Utilizando medidas ões relevantes enquanto espaço econômi-
simples de dispersão da estrutura eco- co e do nível adequado de desagregação
nômica, Krugman (1991a, 1993d) mos- industrial que permita medir a extensão
tra que as grandes regiões dos Estados da especialização e da concentração ge-
Unidos são mais especializadas no plano ográfica. A literatura geográfica sobre os
industrial do que os países europeus. Ele “novos” distritos industriais flexíveis indi-
faz uma comparação entre a Bélgica com cam que esses clusters são de fato muito
o estado do Ohio para sugerir que as ta- localizados, em unidade espacial muito
xas de crescimento regional de emprego menor do que a usada por Krugman. Cer-
são mais instáveis nos Estados Unidos do tamente, na União Europeia, as diferenças
que na União Europeia. Ele então estuda locais na estrutura economica e nas taxas
as disparidades das taxas de crescimento de crescimento econômico dentro dos
em longo prazo entre certos estados dos estados membros (por exemplo, as ditas
Estados Unidos e os principais países da regiões NUTS1 e NUTS2) são muito
UE e mostra que essas disparidades são maiores do que as disparidades entre paí-
maiores nos Estados Unidos do que na ses (Collier, 1994; Dunford, 1993; Dun-
Europa. Além disso, ele usa a recessão ford e Kafkalas, 1992). Da mesma forma,
econômica recente na região da Nova In- como mostram von Hagen e Hammond
glaterra nos Estados Unidos para ilustrar (1994), a metrópole, mais do que o Esta-
como, em uma união monetária, a espe- do ou a região, é a escala mais significativa
cialização industrial regional pode ori- para analisar as diferenças geográficas na
ginar fortes instabilidades locais frente a concentração industrial e nas economias
choques estritamente locais de demanda de localização nos Estados Unidos, um
e como tais choques podem levar a baixos ponto de vista ao qual, como já notamos,
níveis de emprego permanente (Krug- Krugman aderiu em outros trabalhos.
man, 1993d). Esses vários resultados em- Esses resultados deixam implícito que o
píricos são utilizados para dar suporte a método de Krugman de comparação da
sua tese, na qual a integração crescente União Europeia com os Estados Unidos
do mercado na União Europeia levará gerará diferentes resultados de acordo
a uma maior especialização regional e a com a escala geográfica usada para definir
um maior crescimento desigual. No nosso as regiões econômicas em duas áreas. Na Revista do Programa de Pós-
ponto de vista, os exemplos e resultados verdade, pode até ser que em algumas es- Graduação em Geografia e do
empíricos de Krugman não são suficien- calas geográficas a especialização regional Departamento de Geografia da
não é, de fato, maior nas economias mais UFES
tes em si mesmos para comprovar a sua Janeiro-Junho, 2017 21
tese e muitos outros elementos de sua integradas dos Estados Unidos do que na ISSN 2175 -3709
União Europeia. De qualquer forma, o regional tanto nos Estados Unidos como
crescimento da especialização industrial na União Europeia antes de tomar o caso
é um resultado inevitável da integração norte-americano como um guia do que os
economica? Enquanto a existência de europeus devem esperar.
Revista do Programa de Pós-
Graduação em Geografia e do
economias externas e economias de lo-
calização na União Europeia pode con-
Departamento de Geografia da Integração econômica e a diver-
UFES duzir ao crescimento da especialização
Janeiro-Junho, 2017 regional que Krugman prediz (Baldwin gência no crescimento regional
ISSN 2175 -3709
e Lyons, 1990; Cabellero e Lyons, 1990,
34- Existe uma literatura abun- 1991; Martin e Rogers, 1994a, 1994b), Esse último ponto se relaciona com
dante sobre esse tópico, embora alguns observadores tem argumentado o terceiro elemento da tese de Krugman,
Krugman não tenha feito refe-
que a integração do mercado de bens na segundo o qual os choques de demanda
rência a respeito (por exemplo, ver
União Europeia aumentará a expansão na Europa integrada terão efeitos per-
Barth, Kraft e Wiest, 1975; Con-
roy, 1975; Brewer, 1984; Jackson, do comércio intraindústria ainda mais, e manentes de crescimento regional, da
1984; Kurre e Weller, 1989). Uma que é provável que isso faça com que as mesma maneira que as políticas tempo-
grande parte é baseada na chamada
estruturas industriais regionais se tornem rárias podem ter implicações de longo
abordagem de “portfólio” de análise
cada vez mais similares conforme passa o prazo (Krugman, 1987a). Suponhamos
da especialização industrial regio-
nal. Esse tipo de análise, aplicado tempo (Commission os European Com- que uma região experiencie declínio na
pela primeira vez em economia munities, 1991; Eichengreen, 1988). De demanda que afetem seus clusters de in-
regional por Conroy (1975), em-
fato, as possíveis evidências desse efeito dústria exportação. Isso resultaria em uma
presta o conceito de rendimentos
são fornecidas por Krugman para o caso pressão para baixar os salários relativos e
esperados e de risco da teoria da di-
versificação ótima dos portfólios fi- dos Estados Unidos: como ele mostrou, as os outros fatores de custos da região. Se os
nanceiros de Markowitz (1959). A estatísticas dos Estados Unidos indicam salários relativos e os outros custos caem,
estrutura industrial regional pode
que a especialização regional está em de- isso ajudaria a restaurar a competitividade
ser conceituada como um “portfólio”
clínio desde a Segunda Guerra Mundial da região em relação às outras regiões de
que fornece “rendimentos” à região
em forma de emprego, renda e arre- (Krugman, 1991a, cap. 3). Ele sugere que custos mais elevados, de forma que novas
cadação de impostos sobre a renda. isso pode ser uma ilusão estatística e que indústrias sejam atraídas e a demanda e
Esses rendimentos são associados ao
a especialização pode ter se tornado mais o crescimento sejam restaurados. Como
risco – que surge dos choques de de-
difícil de ser mensurada, mas não neces- Krugman coloca,
manda e de tecnologia – represen- Regiões que tenham tido má sorte em sua
tado pela variância e covariância sariamente menor. Entretanto, também herança de indústrias do passado terão custos
dos rendimentos. É a medida desse há evidências, na Europa, de que a inte- mais baixos do que as regiões afortunadas, e
risco, “a variância do portfólio” que será, portanto, mais provável que tenham
mede o grau de instabilidade de
gração econômica e o aumento das tro-
maiores chances de despontar nas indústrias
uma região. cas conduzirá à diversificação industrial
do futuro. Podemos esperar que esse processo
regional mais do que à especialização limite a extensão da divergência regional de
(Peschel, 1982). A definição da “especia- crescimento. (Krugman, 1993d, 248)
lização” econômica regional e a questão de
Infelizmente, no entanto, de acordo
como a especialização realmente influen-
com Krugman a mobilidade da força de
cia a instabilidade regional não podem ser
trabalho impede os mecanismos de fle-
respondidas de forma simples34. Como
xibilidade dos salários recolocar as taxas
muitos autores já mostraram, os esquemas
de crescimento regional nos trilhos. Ao
empíricos dos choques regionais tanto nos
contrário:
Estados Unidos como na União Europeia
Uma região desafortunada não terá cus-
parecem ser mais complexos do que foi tos fatoriais mais baixos por muito tempo: o
postulado por Krugman (ver, por exemplo capital e a força de trabalho vão se deslocar
Bayoumi e Eichengreen, 1993; Palmini para outras regiões até que as remunerações se
equalizem. Isso significa, no entanto, que não
e Cray, 1992; von Hagen e Hammond,
há nenhuma razão em particular para esperar
1994). Parece não haver relação simples que uma região cujas indústrias tradicionais
entre integração econômica, especializa- estejam indo muito mal atraia novas indús-
ção regional e choques regionais. Tanto trias. Ao contrário, isso pode fazer as pessoas
fugir. O resultado é que a produção e o em-
o padrão como a severidade dos choques
prego relativos das regiões deveriam parecer
dependerá não somente do grau e da ge- mais um caminhar aleatório do que um pro-
ografia da especialização industrial regio- cesso que retorna a alguma norma. (Krugman,
nal, mas também da maneira como esses 1993d, 248)
choques são transmitidos entre as regiões
(por exemplo, através das relações regio- Ao desenvolver seu argumento Krug-
nais de entrada-saída e do impacto da po- man retoma o estudo de Blanchard e Katz
líticas governamentais) e do quão flexível (1992) sobre a estrutura de crescimento
é o mercado de trabalho regional para se dos estados dos Estados Unidos. De acor-
ajustar a essas perturbações. Em resumo, do com esses autores, enquanto as taxas
é necessário muito mais análise teórica e de crescimento diferem consistentemen-
22
empírica sobre a especialização industrial te entre os estados norte-americanos, as

A Economia Geográfica de Paul Krugman e suas consequências para a teoria do desenvolvimento regional: Ron Martin
uma avaliação crítica Peter Sunley
Paginas 5 a 35
A Economia Geográfica de Paul Krugman e suas consequências para a teoria do desenvolvimento regional: Ron Martin
uma avaliação crítica Peter Sunley
Paginas 5 a 35

taxas de desemprego e de salários variam dores. Mas se essa forma de ajustamento


muito menos, sugerindo que quando os aos choques regionais permanece lenta,
estados são atingidos por choques de de- para onde vai a concepção de Krugman
manda os trabalhadores reagem se realo- das diferenças regionais de crescimento a
cando (ver também Barro e Sala-i-Mar- longo prazo em uma União Europeia in-
tin, 1992). Não há nenhuma tendência tegrada?
descernível de que os estados recuperem A implicação de seu modelo é que se
os empregos perdidos: o desemprego re- a mobilidade da força de trabalho é baixa,
gional relativo volta ao normal através então a flexibilidade dos salários relativos
da emigração da força de trabalho. Pare- locais (em queda) servirá para restringir
ce que isso se opõe ao processo de ajus- o grau de divergência entre as taxas de
tamento na União Europeia na qual o crescimento. Infelizmente, os salários na
fator mobilidade historicamente tende a União Europeia não parecem ser particu-
ser bem mais baixo do que nos Estados larmentre flexíveis: o mercado de trabalho
Unidos e as disparidades do desemprego europeu parece ser mais rígido ou “es-
regional parecem ser caracterizadas por clerótico” do que o norte-americano, um
grande histerese (Eichengreen, 1993). ponto destacado por Krugman (1993e).
Krugman deduz uma implicação óbvia de Nas regiões europeias, choques de de-
que se a Europa chega aos mesmos níveis mandas setorial adversas desencadeiam
de especialização regional e de fator mo- mais desemprego, sem os mecanismos de
bilidade dos Estados Unidos, é esperado equilíbrio possibilitados pela migração da
que aumentem as disparidades nas taxas força de trabalho ou pela flexibilidade de
de crescimento entre os países e regiões. redução dos salários relativos (a rigidez
A mobilidade da força de trabalho é desse último aspecto possivelmente refle-
então de uma importância central no mo- te as taxas consideravelmente mais altas
delo de Krugman de crescimento regional de salário institucionalizado na Europa
divergente. A esse respeito sua análise é do que nos Estados Unidos, bem como a
similar aos modelos de “crescimento en- os benefícios do seguro desemprego mais
dógeno”, no qual a mobilidade da força de generoso na União Europeia do que nos
trabalho intensifica as disparidades locais Estados Unidos). A Comissão das Co-
na acumulação de capital humano e, por- munidades Europeias (1990) afirma que a
tanto, do desenvolvimento a longo prazo UEM, ao credibilizar o engajamento das
(Grossman e Helpman, 1991; Bertola, autoridades fiscais a não socorrer as regi-
1993). Sobre esse ponto de vista, pen- ões em dificuldade, deveria encorajar os
samos que é curioso que Krugman tenha trabalhadores a moderar as reivindicações
dificuldade em diferenciar seu modelo salariais, dando, assim, maior flexibilidade
de desenvolvimento regional desigual na salarial local. Na prática, pouco é sabido
União Europeia não somente dos mo- sobre o quanto os salários relativos regio-
delos “centro-periferia” de concentração nais precisam diminuir para estimular flu-
cumulativa, mas também dos modelos de xos de capitais e para restaurar o emprego.
“crescimento local endógeno” (Krugman, Também sabemos muito pouco sobre os
1993d). Seu próprio modelo implica um efeitos de difusão inter-regional da pro-
mecanismo similar de crescimento di- dutividade e da tecnologia, que poderia li-
vergente cumulativo, pelo menos no sen- mitar a necessidade da redução de salários
tido de que as migrações inter-regionais ( Jaffe, Traitenberg e Henderson, 1993;
do trabalho impedem o reequilíbrio das Audretsch e Feldman, 1994). Em resumo,
taxas de crescimento regional. O ques- não é óbvio que o aumento da integração
tionamento que podemos fazer sobre sua na União Europeia vai conduzir à diver-
análise é sobre como exatamente a mobi- gência ou à convergência do crescimento
lidade da força de trabalho vai aumentar regional. A evidência até então parece su-
na Europa integrada. Embora as migra- gerir que os “grupos de convergência” po-
ções inter-regionais através das fronteiras dem ser os resultados mais prováveis, com
nacionais sejam, em princípio, irrestritas, uma convergência nas regiões centrais no
existem outras razões para duvidar que Norte de um lado e uma outra convergên-
a mobilidade da força de trabalho [na cia, de outro lado, entre as regiões regiões
União Monetária e Econômica Europeia] periféricas do Sul, mas com pouca ou ne-
atingirá os mesmos níveis dos Estados nhuma convergência entre esses dois gru- Revista do Programa de Pós-
Unidos. As diferenças culturais e linguís- pos (Buttom e Pentecost, 1993; Neven e Graduação em Geografia e do
Departamento de Geografia da
ticas bem marcadas na Europa continua- Gouyette, 1994). Ainda que interessantes,
UFES
rão sendo uma barreira significante para a os argumentos de Krugman relativos aos Janeiro-Junho, 2017 23
migração de muitos grupos de trabalha- impactos da integração econômica sobre a ISSN 2175 -3709
especialização, a instabilidade e as trocas lio ou expandir um monopólio já existen-
regionais, e sobre as disparidades de cres- te para os fatores nacionais nas indústrias
cimento a longo prazo na União Europeia, que praticam trocas internacionais, então
Revista do Programa de Pós- são limitados e problemáticos. A compa- uma política industrial direcionada pode,
Graduação em Geografia e do
ração entre os Estados Unidos e a União em princípio, aumentar a renda do país
Departamento de Geografia da
UFES Europeia em termos de “região” e suas às custas do exterior. Em segundo lugar,
Janeiro-Junho, 2017 estruturas, choques e reações à eles não é uma política direcionada pode aumentar
ISSN 2175 -3709 tão válida como Krugman e outros (como as rendas se existem setores nos quais os
Eichengreen) supõem. Não temos um ce- recursos produzidos por firmas individu-
nário alternativo para os Estados Unidos ais aumentam indiretamente os recursos
– isto é, uma representação do que seria das outras firmas – isto é, onde as econo-
o desenvolvimento regional se os Estados mias externas são geradas. Em ambos os
Unidos não fossem uma união econômica casos, o argumento consiste em afirmar
e monetária. Também não sabemos o que que é sem dúvida possível definir os “seto-
aconteceria às regiões dos países europeus res estratégicos” que são mais rentáveis do
na ausência da Comunidade Europeia ponto de vista da produtividade marginal
e de seus avanços recentes em direção à do que outros, e que a promoção desses
UEM. Finalmente, quais são os pontos de setores através do protecionismo, de sub-
vista de Krugman sobre as implicações da sídios à exportação, de apoio à pesquisa e
integração europeia em termos da polí- desenvolvimento e assim por diante, po-
ticas regionais? Para abordar esse aspec- deria aumentar a riqueza nacional.
to de sua análise, precisamos examinar o Mais recentemente, entretanto, Krug-
debate sobre a política a implementar na man reagiu contra a política comercial es-
nova teoria das trocas em geral. tratégica. Em Peddling Prosperity (1994c),
ele questiona a validade teórica das políti-
As Trocas e a Questão da cas industriais estratégicas e repreende os
principais líderes políticos norte-ameri-
Política Regional canos (especialmente o presidente Clin-
ton) e seus conselheiros econômicos (es-
A política comercial estratégica pecialmente Thurow e Reich) por terem
se apropriado de forma errônea da teoria
Como em muitos de seus outros tra- do comércio estratégico e por aplicá-la
balhos, os pontos de vista de Krugman de “forma ingênua”. Tanto Reich (1991)
sobre o papel do comércio e da política como Thurow (1994) foram criticados por
industrial foram mudando conforme o vender uma ideia de que, se os Estados
tempo. Em seus escritos mais antigos, Unidos devem entrar em concorrência na
ele reagiu contra a ideia de políticas in- economia global, o governo deveria aban-
dustriais direcionadas porque elas seriam donar as ideias de livre comércio e de in-
baseadas em erros grosseiros e mesmo tervenção industrial mínima e, ao contrá-
que invocássemos teorias mais sofistica- rio, perseguir uma política mais ativa que
das, tais políticas provavelmente não se- vise promover a mudança da indústria
riam eficazes na prática (Krugman, 1983, norte-americana em direção à setores de
1983b, 1984). Não muito tempo depois, “alto valor agregrado” (Reich) e aos seto-
entretanto, ele construiu uma sofisticado res “em plena expansão” (Thurow). Krug-
argumento teórico para uma “política man acredita que tais ideias são baseadas
comercial estratégica”. Um dos aspectos em teorias falaciosas, políticas impossíveis
mais contestados da nova teoria das tro- de serem colocadas em prática e uma ob-
cas foi o debate que ela suscitou a respeito sessão errônea da ideia de “competitivida-
da política industrial estratégica. Enquan- de”: “enquanto os problemas de concor-
to a teoria convencional das trocas nega rência podem emergir em princípio como
a existência de um comércio “ativista”, a uma questão prática, empírica, as grandes
nova teoria da trocas contesta diretamen- nações do mundo não estão, de forma
te essa concepção tradicional. De acordo significativa, em concorrência econômica
com Krugman (1986) e outros teóricos da umas com as outras” (Krugman, 1994a,
nova teoria da trocas (por exemplo, Bran- 35). De acordo com ele, a competitivida-
der e Spencer 1983, 1985), uma política de se baseia na metáfora de um país ser
comercial “ativista” pode beneficiar um uma grande corporação quando, na verda-
país no que diz respeito ao livre-comércio de, países (e regiões) não são nada iguais
de duas formas. A primeira é através da a uma corporação. É muito difícil estabe-
24 lecer uma definição de competividade na-
“criação de renda”. Se um governo pode
promover uma nova posição de monopó- cional ou regional. Além disso, ele afirma
A Economia Geográfica de Paul Krugman e suas consequências para a teoria do desenvolvimento regional: Ron Martin
uma avaliação crítica Peter Sunley
Paginas 5 a 35
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que é errado ver o comércio internacional explicitamente, é que a única forma jus-
como uma competição – como um jogo tificável de política industrial (comercial)
de soma zero – quando na verdade se trata é de fato uma política regional de desen-
de um processo de trocas que envolve be- volvimento industrial. Conformemente à
nefícios mútuos. No início dos anos 1990, teoria do comércio estratégico, a premisa
Krugman denunciava a política comercial subjacente é que a vantagem comparativa
estratégica como “ruim para a economia”. industrial nacional pode ser criada através
Ainda que Krugman tenha atacado de de políticas industriais de apoio orientado
forma virulenta todas as políticas identi- cujo objetivo é criar e facilitar especiali-
ficadas como “política comercial estraté- zações setoriais chave. A virada no argu-
gica”, parece que agora ele vislumbra um mento de Krugman, entretanto, é que a
papel importante para a política industrial escala mais eficaz para criar essa vantagem
orientada e de porte limitado. é o nível dos clusters regionais. O mesmo
argumento está essencialmente implícito
Os clusters geográficos e as polí- no importante trabalho de Porter (1990)
sobre as vantagens concorrenciais das
ticas industriais estratégicas
nações. De fato, ele agora considera que
as políticas de desenvolvimento local e
Em uma artigo recente, Krugman
econômico tem a função instrumental de
(1993b, 160) constata que ele “agora mu-
fomentar a competitividade industrial na-
dou de ideia e (...) tem, pelo menos um
cional (Porter, 1994).
pouco, mudado sua posição em relação à
É um pequeno passo, a partir disso,
política industrial”. Seu ceticismo inicial
para argumentar que a promoção de clus-
quanto às credenciais teóricas e à aplica-
ters especializados de exportação é também
bilidade prática da noção de economias
a abordagem mais viável para reviver e re-
externass para as políticas industriais
generar as regiões industriais antigas. Isso
orientadas era baseado na ideia de que
é, de fato, o que alguns autores sugeriram
apenas externalidades tecnológicas, e não
sobre especialização flexível e distritos in-
financeiras, eram importantes e que essas
dustriais. Esses autores usam o sucesso de
externalidades tecnológicas tem signifi-
alguns distritos industriais especializados
cância limitada devido ao seu caráter mais
(geralmente orientados para a exportação)
internacional do que nacional (Krugman,
bem conhecidos como modelo para mais
1983b, 1984). Mas, como vimos, ele agora
geral de regeneração econômica local “en-
acredita que as economias externas asso-
dógena” (ver por exemplo, Hirst e Zeitlin,
ciadas aos efeitos de tamanho do mer-
1989; Pyke, Becattini e Sengerberger,
cado são substanciais e demonstráveis (e
1989; Sabel, 1989; Stohr, 1989; Cooke,
frequentemente difíceis de distinguir das
1990; Scott, 1992b). O caminho para a
economias externas tecnológicas), e isso
reindustrialização das regiões deprimidas
significa que as políticas industriais orien-
é visto via a promoção e o apoio à firmas
tadas tem um papel potencial no final das
pequenas neomarshallianas, complexos de
contas (Krugman, 1987a, 1993b). Além
produção especializados flexíveis envol-
disso,
vendo uma densa rede local de coopera-
a maior parte dos principais efeitos de ção, de concorrência e interdependência.
tamanho de mercado não se aplica ao nível
da economia nacional ou internacional, mas a
De certa forma, esse apoio à uma estraté-
um nível local ou regional. O argumento se- gia industrial local baseada em externali-
gundo o qual os ganhos originados do apoio dades múltiplas é similar à política indus-
às indústrias que geram economias externas se trial defendida por Krugman. Entretanto,
volatizarão no estrangeiro é, em grande parte,
falso (Krugman, 1993b, 167).
a defesa por uma especialização regional
voltada para a exportação como estraté-
Nessa concepção revisada da políti-
gia de desenvolvimento econômico local
ca industrial, os clusters industriais locais
ou como forma de política comercial, é
e regionais não são considerados apenas
polêmica.
como fornecedores de evidência empírica
A questão principal sobre a promo-
da importância das economias externas,
ção da especialização industrial regional
mas tais clusters ajudam a definir qual tipo
é saber se as vantagens potenciais são
de indústria deve receber apoio. Uma con-
superadas pela probabilidade de maiores
centração geográfica justifica a interven-
choques e maior instabilidade regional Revista do Programa de Pós-
ção industrial e o objetivo dessa interven-
e o risco de depressão estrutural. Como Graduação em Geografia e do
ção deveria ser encorajar as externalidades Departamento de Geografia da
Krugman (1993c) nota para o caso de
locais. Na verdade, o que Krugman parece UFES
Massachussets, a especialização industrial 25
sugerir, ainda que ele não use o termo Janeiro-Junho, 2017
regional é uma faca de dois gumes: pode ISSN 2175 -3709
ser a base de uma alta taxa de crescimento estabilização” (Krugman, 1993d, 259)
econômico local voltado para a exporta- Entretanto, enquanto as transferên-
ção em um período, mas também a fonte cias fiscais automáticas podem vir a ajudar
Revista do Programa de Pós- de depressão econômica local prolongada a aliviar e estabilizar os problemas de ren-
Graduação em Geografia e do
se a demanda que alimentava essa região da e de crescimento associados às regiões
Departamento de Geografia da
UFES desaparece ou se for capturada por ou- economicamente deprimidas, elas não são
Janeiro-Junho, 2017 tras regiões concorrentes (muitas vezes a resposta adequada ao desenvolvimento
ISSN 2175 -3709 de outros países). Isso é precisamente o regional desigual. Sozinhos elas não são
35- No caso europeu, ainda que o que aconteceu a muitos dos distritos in- suficientes para reformular as estrutu-
federalismo fiscal seja um corolário dustriais especializados celebrados por ras e as dinâmicas do desenvolvimento
da UEM, governos nacionais na
futura união econômica e monetá- Alfred Marshall no início do século XX regional para melhorar a performance
ria não perderão todos os seus ins- (por exemplo, ver Sunley, 1992). Podemos econômica a longo prazo e a riqueza das
trumentos de política econômica. As também citar como exemplo convincen- regiões em causa. É por causa disso que
políticas orçamentárias nacionais te o fato de que a diversificação industrial, historicamente muitos países europeus
continuarão ter algum papel de es-
tabilização, ainda que restrito (ver mais do que a especialização, é a via mais tem desenvolvido elaborados sistemas
Boonstra (1991) sobre os limites apropriada de política de desenvolvimento complexos de ajuda e de assistência ao de-
que a UEM vai impor à autono- regional, pois, ao diversificar o “portfolio” senvolvimento, especificos às regiões, e é por
mia orçamentária nacional). Nes- industrial regional, reduz-se os choques isso que a União Europeia tem reforçado
se sentido, os estados membros da
UEM europeia diferem dos estados adversos e as crises estruturais localizadas e reformado seu próprio fundo estrutural
individuais dos Estados Unidos. (esse é a conclusão geral dos estudos de regional administrado de maneira centra-
portfolio a que nos referimos anterior- lizada visando uma integração econômica
mente; ver também Geroski, 1989) maior e um alargamento a outros países
Krugman, por outro lado, parece acre- da União (ver, por exemplo, Martin, 1993;
ditar que a resposta política mais impor- Collier, 1994). A distinção que Krugman
tante à possibilidade de instabilidade re- faz das instabilidades regionais devido aos
gional em regiões mais especializadas é a choques idiossincráticos de demanda e
estabilização fiscal. No caso da integração os problemas regionais de natureza mais
econômica europeia, por exemplo, Krug- “centro-periferia” e estrutural é surpreen-
man sugere que os orçamentos nacionais dente e questionável. Porque se, como ele
terão que ser substancialmente centrali- argumenta, os choques regionais de curto
zados para que as transferências fiscais e prazo tem efeitos de longo prazo no cres-
federais europeias possam desempenhar o cimento regional, então a estabilização
papel de estabilização requerido quando fiscal inter-regional é uma resposta polí-
ocorrerem os choques regionais assimé- tica inadequada e outras formas estraté-
tricos35. gicas de política regional são necessárias.
Ele nota que a forma na qual o orça- Em nosso ponto de vista, a proposta de fe-
mento federal dos Estados Unidos tende deralismo fiscal não atenua a preocupação
automaticamente a redistribuir recur- de que os clusters regionais de indústria
sos para as regiões afetadas por choques especializada serão instáveis e frágeis. A
econômicos negativos (via ajustamentos tensão básica na argumentação de Krug-
compensatórios para os impostos e para man permanece – a saber, como conciliar
os pagamentos relacionados às contribui- sua sugestão de que o objetivo da política
ções sociais nas diferentes regiões): industrial deve ser promover clusters regio-
Enquanto os Estados Unidos não lidam nais especializados de base industrial com
perfeitamente com os problemas (como as sua tese de que o aumento da concentra-
atuais dificuldades não somente na Nova In-
glaterra, mas também no Nordeste e, de forma
ção e da especialização industrial regional
cada vez maior, na Califórnia, demontram), leva a instabilidade econômica regional e
um sistema fiscal altamente federalizado é a vias de crescimento divergente a longo
de grande ajuda. A falta de um sistema como prazo. A resposta da nova geografia in-
esse na Europa é, então, um grande problema
(Krugman, 1993d, 258).
dustrial a esse dilema, é claro, é insistir em
que os distritos industriais especializados
Krugman distingue dificilmente essa flexíveis são mais adaptados à mudanças
forma de resposta política regional da- econômicas e tecnológicas em virtude do
quelas necessárias para melhor as estru- dinamismo e da rede de pequenas em-
turas do tipo “centro-periferia” do de- presas que os compõem (ou que acredita-
senvolvimento regional desigual ou do -se que os compõem). Entretanto, essa
declínio regional devido à especialização afirmação está longe de ser comprovada.
em indústrias e produtos ultrapassados. Além do mais, a quantidade de distritos
A resposta política a esses problemas re- especializados flexíveis permanece peque-
26 gionas, ele diz, “está muito menos relacio- na e suas origens e dinâmicas são matérias
nada com a UEM do que o problema de sujeitas ao debate (ver Markusen, 1993;
A Economia Geográfica de Paul Krugman e suas consequências para a teoria do desenvolvimento regional: Ron Martin
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Markusen e Park, 1993). Não se trata de alvo móvel. No entanto, acreditamos que
rejeitar a nova abordagem “endógena” de tivemos sucesso suficiente em isolar os
política regional baseada nos argumentos componentes centrais de seus argumen-
do desenvolvimento regional especializa- tos para tornar possível identificar as suas
do (flexível); mas é preciso assinalar que principais forças e as suas principais fra-
essa abordagem nada mais é do que uma quezas, principalmente no que concerne
panaceia para o desenvolvimento regio- à questão do desenvolvimento e do cres-
nal desigual do que era o velho modelo cimento regional. Sob muitos aspectos, a
de política redistributiva regional. Não abordagem que Krugman faz da geografia
queremos também dar a entender que os econômica se assemelha à ciência regio-
rendimentos crescentes e que as econo- nal, retrabalhando os conceitos e mode-
mias externas não são importantes para o los da teoria tradicional da localização.
debate sobre política regional. Ao contrá- A nova geografia econômica e regional,
rio, não somente há evidências na Euro- é claro, se distanciou bem dessa tradição.
pa de que as indústrias com rendimentos Por essa razão, poderíamos questionar se
crescentes estão concentradas em regiões o trabalho de Krugman tem algo de novo
com melhor infraestrutura, especialmen- ou que seja útil para os geógrafos econô-
te estruturas tecnológicas e educacionais micos. Seria errado ser assim tão categó-
(Martin e Rogers, 1994a), como a teoria rico, no entanto. O trabalho de Krugman
do crescimento endógeno também sugere não é tão simplista como Johnston e ou-
que os efeitos de difusão tecnológica são tros sugeriram (os trabalhos geográficos
mais prováveis de ter um papel funda- nem sempre são tão sofisticados como
mental no processo de crescimento local quem os pratica quer fazer crer). Talvez
na Europa integrada. Mas, para nós, há os resultados específicos das análises de
uma necessidade urgente de uma reflexão Krugman sejam menos importantes para
muito mais aprofundada para saber como a geografia econômica do que o estímulo
as políticas de desenvolvimento local e que eles suscitam para pesquisas futuras. A
regional podem encorajar e dar sustenta- esse respeito, nós estamos de acordo com
ção a essas externalidades sem, ao mesmo a ideia de que o trabalho de Krugman “é
tempo, restringir a base industrial e sem rico em ideias, é sedutor em nos conduzir
aumentar a vulnerabilidade de região aos a partir de argumentos lógicos simples a
choques de demanda. conclusões surpreendentes e é tão auto-
-confiante na discussão de suas hipóteses
e premissas que lê-las é, ao mesmo tempo,
Conclusões um bom divertimento e uma desafio con-
tínuo” (Casella, 1993, 261-62). O desafio,
Há alguns anos atrás, Neil Smith como o vemos, é buscar um intercâmbio
(1989) argumentou em favor da recons- mais estreito entre a “economia geográ-
trução da teoria regional na geografia fica” de Krugman e a nova geografia in-
baseado em uma síntese das ideias da dustrial e econômica. Ninguém pode rei-
teoria da localização e da teoria do de- vindicar ter o monopólio da perspicácia,
senvolvimento desigual. Mais recente- mas acreditamos que uma intercâmbio de
mente, Krugman (1993a) argumentou ideias pode ser mutuamente benéfico.
pela síntese da teoria da localização e da Um dos pontos fortes do trabalho de
teoria das trocas, usando a geografia eco- Krugman, sem dúvida, é a ligação que ele
nômica como um componente chave na faz das economias externas e da aglome-
construção da nova “economia geográfica” ração industrial regional com o comércio,
das trocas. Neste artigo, nós procuramos o que fornece uma importante correção
fazer uma avaliação crítica das ideas de à tese da especialização flexível da nova
Krugman sobre a geografia econômica e geografia industrial, segundo à qual o de-
suas tentativas de forjar uma “economia senvolvimento industrial regional é con-
geográfica”. Em razão do grande volume siderado como um processo endógeno e
e da penetração dos seus escritos, tivemos o papel do comércio ou lhe é subordinado
que passar rapidamente por muitas de ou é negligenciado. Além disso, a ênfase
suas ideias, e, como resultado, sem dúvi- de Krugman na concorrência imperfeita
da nós falhamos em conceder a algumas e nas externalidades financeiras também
delas a atenção que elas merecem. Além desvela as limitações das concepções de- Revista do Programa de Pós-
do mais, a tendência constante de Krug- externalidades que prevalecem atualmen- Graduação em Geografia e do
man em revisar e mesmo rejeitar as suas Departamento de Geografia da
te na literatura geográfica. O impulso das
UFES
ideias anteriores torna essa tarefa de ava- ideias de especialização flexível na geo- Janeiro-Junho, 2017 27
liação semelhante ao rastreamento de um grafia econômica é que a aglomeração é ISSN 2175 -3709
associada com mudanças na integração micas também se funda nas questões da
vertical para a integração horizontal das dependência da trajetória e de bloqueio.
atividades relacionadas entre pequenas De acordo com Krugman, o papel desem-
Revista do Programa de Pós- firmas concorrentes que se aglomeram penhado pela geografia na determinação
Graduação em Geografia e do para minimizar os custos de transação. do “bloqueio” é estritamente um fenôme-
Departamento de Geografia da
UFES
A economia williansoniana de custos de no de rendimentos crescentes, na forma
Janeiro-Junho, 2017 transação – que é em si mesma uma for- de externalidades Marshallianas associa-
ISSN 2175 -3709 ma de economia institucional de orienta- das com a aglomeração industrial local
ção neoclássica – tem sido usada para dar (ou, sob certas circunstâncias, na forma
uma nova sustentação teórica à noção de de expectativas auto-realizadoras). Ele
Marshall da localização industrial. O foco falha em considerar a influência exercida
de Krugman nas externalidades financei- pelas estruturas institucionais, sociais e
ras, especialmente os efeitos de tamanho culturais locais em facilitar ou constran-
de mercado, e o papel que os grandes ger o desenvolvimento econômico local.
produtores oligopolísticos podem ter na Essa negligência parece vir, em grande
aglomeração industrial sugere que os ge- parte, da queixa de Krugman de que os
ógrafos industriais precisam levar isso em fatores “sociais” e os não econômicos não
conta a fim de reajustar suas explicações são facilmente modeláveis e que, portanto,
teóricas nesse sentido. Mas, ao mesmo eles deveriam ser deixados aos sociólogos.
tempo, uma das limitações mais impor- Mas, como estudos recentes da nova geo-
tantes da economia geográfica de Krug- grafia econômica e industrial começaram
man é a sua concentração teimosa apenas a mostrar, a “densidade” e a natureza de
naquelas externalidades que podem ser dessas “externalidades” socio-institucio-
matematicamente modeladas, e, então, nais são fundamentais para a emergência,
a sua reticência em discutir os impactos trajetória e adaptabilidade dos distritos
geográficos dos efeitos de difusão tecno- industriais e das economias regionais. As-
lógica e do conhecimento. Embora a lite- sim, Krugman tem razão ao enfatizar o
ratura geográfica recente tenha começado papel da geografia na natureza histórica
a atribuir importância primordial às mu- e singular do processo econômico, mas ele
danças técnicas e às externalidades tecno- falha em explicar a natureza dessa papel.
lógicas em moldar e transformar a econo- Um terceiro aspecto da economia
mia espacial, e tire importantes lições da geográfica de Krugman que queremos
análise de Krugman a esse respeito, ainda destacar e que também tem tanto pontos
lhe resta explorar inteiramente os efeitos fortes como fraquezas, é a sua análise da
cumulativos e os efeitos de difusão asso- forma como os choques regionais especí-
ciados às transformações tecnológicas. ficos podem ter consequências em longo
Um segundo aspecto significativo prazo sobre o crescimento. Como as regi-
da geografia de Krugman é o reconhe- ões respondem e se ajustam aos choques
cimento do desenvolvimento econômi- de oferta e de demanda, tanto em curto
co regional como um processo histórico como em longo prazo, em um mundo
dependente da trajetória anterior. Sua cada vez mais incerto, impulsionado pelo
constante exortação de que a “história mercado e tendendo para a desregulação,
importa”, tanto em termos das condições é um objeto de pesquisa primordial, mas
arbitrárias iniciais e dos eventos aciden- que tem sido negligenciado pela nova ge-
tais que deslancham padrões particulares ografia industrial. A análise de Krugman
de desenvolvimento industrial ao lon- para as regiões da União Europeia, usan-
go do tempo e do espaço, mas também do as regiões dos Estados Unidos para
o “bloqueio” que decorre em função dos comparação, fornece uma base útil para
efeitos de auto-reforçamento, não é, cla- desenvolver pesquisa nesse campo. Entre-
ro, particularmente novidade para os tanto, como vimos, sua análise está longe
geógrafos econômicos. Os geógrafos de não ter problemas. Tirando o fato de
há muito tempo reconheceram que um ser muito centrada nos Estados Unidos
dado padrão de desenvolvimento regio- (como exemplificado pela sua ênfase no
nal desigual, uma vez estabelecido, tende papel central que teria a mobilidade do
a exibir um alto grau de persistência ou trabalho, que é consideravelmente maior
de “inércia” ao longo do tempo, e que essa nos Estados Unidos do que na Europa),
inércia pode operar tanto na promoção do seus modelos não explicam adequada-
desenvolvimento regional quanto em seu mente por que uma economia regio-
retardamento. O interesse mais recente nal próspera (como Massachussets, por
28 dos geógrafos pelo “enraizamento” local exemplo) pode subitamente enfrentar um
socio-institucional das atividades econô- situação reversa, ou porque a geografia do
A Economia Geográfica de Paul Krugman e suas consequências para a teoria do desenvolvimento regional: Ron Martin
uma avaliação crítica Peter Sunley
Paginas 5 a 35
A Economia Geográfica de Paul Krugman e suas consequências para a teoria do desenvolvimento regional: Ron Martin
uma avaliação crítica Peter Sunley
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desenvolvimento regional desigual pode visão de Kaldor de um mundo dinâmico mo-


sofrer reconfigurações significantes (as vido por processos cumulativos do que pelos
modelos padrão de rendimentos constantes
reversões espaciais) ou porque algumas (1991a, p.9-10).
regiões parecem mais aptas que outras
para resistir ou se ajustar aos choques ex- Krugman chega até mesmo a admitir
ternos negativos. Krugman escolhe a es- que, num certo sentido, seu próprio tra-
pecialização industrial como o fator prin- balho é somente um “repetição” das ideias
cipal em moldar a estabilidade relativa de de Kaldor. No entanto, há duas diferenças
diferentes regiões e do mercado trabalho significativas entre os dois. Em sua bus-
como o determinante chave do processo ca pelo rigor econômico, a formalização
de ajustamento regional. Mas um estudo matemática que Krugman faz do processo
completo deve certamente considrar as de aglomeração industrial e do desenvol-
outras razões para as crises e a reestrutu- vimento regional desigual o levou para
ração regionais e os outros mecanismos longe da riqueza da abordagem original
da flexibilidade do mercado de trabalho de Kaldor e em direção às paisagens abs-
que explicam as diferenças e o grau de tratas limitadas da ciência regional. De
ajustamento regional. fato, em Development, Geography and
Há, então, um campo considerável Economic Theory (Krugman, 1995) e
para uma frutífera fertilização cruzada The Self-Organising Economy (1996),
entre as ideias da economia geográfica de seu modelo parece ser aquele do decano
Krugman e a nova geografia industrial e da ciência regional Walter Isard, mais do
econômica, e para a elaboração de cada que o de Nicholas Kaldor, que, suspeita-
uma. Globalmente ambas se referem a -se, tem sido extremamente cético à cons-
uma visão Marshalliana da localização in- trução de modelos dedutivos irreais que é
dustrial. Mas, enquanto a nova geografia a marca da tradição da ciência regional. E
industrial tem procurado reintepretar os apesar da aparente concordância de Krug-
dados Marshallianos em termos de cus- man com os argumentos de Kaldor sobre
tos de transação econômica, Krugman, a “irrelevância do equilíbrio econômico”,
ao contrário, tenta ligar a localização in- os fantasmas da maximização e as solu-
dustrial Marshalliana com a economia ções de equilíbrio ainda assombram uma
da concorrência imperfeita, rendimentos grande parte da sua análise36.
crescentes, dependência da trajetória e Para nós, ganharíamos muito se tan-
causalidade cumulativa. Essas preocupa- to a economia geográfica de Krugman e
ções estavam no centro do trabalho se- a nova geografia econômica e industrial
minal de Nicholas Kaldor (1978, 1981, revisitassem o método e a mensagem
1985) sobre comércio, crescimento en- da obra de Kaldor. Mas isso, como diria
dógeno e desenvolvimento regional, uma Krugman, é outra história.
dívida que Krugman reconhece:
36- O mesmo é verdade para a
Essa clara dependência da história é a nova teoria da trocas e para a nova
evidência disponível mais convincente de que teoria do crescimento endógeno
vivemos em uma economia mais próxima da mais geralmente. Muitas das idéias
encontradas nessas teorias foram de
fato antecipadas por Kaldor. Mas
enquanto ele evitou o raciocínio
dedutivo e matemático, preferindo
REFERÊNCIAS o raciocínio indutivo e realístico
(como expressado em sua ênfase nos
“fatos estilizados” e no não-equilí-
brio) os novos teóricos têm procura-
do deliberadamente “sistematizar”
suas idéias através do formalismo
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A Economia Geográfica de Paul Krugman e suas consequências para a teoria do desenvolvimento regional: Ron Martin
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Paginas 5 a 35
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