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Biografias
Um dos gêneros literários mais lidos em todo o mundo são as chamadas biografias,
livros nos quais o autor narra a vida e a história de uma pessoa.
Ocorre que ao mesmo tempo em que as biografias geram paixão e interesse dos leitores,
algumas vezes despertam também polêmicas.
a) AUTORIZADA: na qual o indivíduo que será retratado no livro concordou com a sua
divulgação (ou seus familiares, se já tiver falecido) e até forneceu alguns detalhes para
subsidiar a obra. Geralmente são obras menos interessantes porque representam a
“versão oficial” da vida do biografado, ou seja, apenas os fatos e circunstâncias que ele
quer que sejam mostrados, perdendo um pouco da imparcialidade do relato.
Quando o art. 20 fala em “imagem”, ele não está apenas se referindo à imagem
fisionômica do indivíduo (seu retrato). A palavra “imagem” ali empregada tem três
acepções:
Diante disso, o biografado poderia, invocando seu direito à imagem e à vida privada,
pleitear judicialmente providências para impedir ou fazer cessar essa publicação (art. 21
do CC). Em outras palavras, o biografado poderia impedir a produção da biografia ou,
se ela já estivesse pronta, a sua comercialização.
ADI 4815
Em 2012, a Associação Nacional dos Editores de Livros (ANEL) ajuizou uma ação
direta de inconstitucionalidade no STF com o objetivo de declarar a
inconstitucionalidade parcial dos arts. 20 e 21 do Código Civil.
O pedido principal da autora foi para que o STF desse interpretação conforme a
Constituição e declarasse que não é necessário consentimento da pessoa biografada para
a publicação ou veiculação de obras biográficas, literárias ou audiovisuais.
Liberdade de expressão
A CF/88 consagra a liberdade de expressão em seu art. 5º, IX, prevendo que “é livre a
expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença”.
No art. 220, § 2º, a Carta afirma que é “vedada toda e qualquer censura de natureza
política, ideológica e artística”.
Desse modo, uma regra infraconstitucional (Código Civil) não pode abolir o direito de
expressão e criação de obras literárias.
Direitos do biografado
Os Ministros fizeram, no entanto, a ressalva de que os direitos do biografado não ficarão
desprotegidos. A biografia poderá ser lançada mesmo sem autorização do biografado,
mas se se ficar constatado que houve abuso da liberdade de expressão e violação à
honra do indivíduo retratado, este poderá pedir:
• a reparação dos danos morais e materiais que sofreu;
• a retificação das informações veiculadas;
• o direito de resposta;
• e até mesmo, em último caso, a responsabilização penal do autor da obra.
Em suma:
Para que seja publicada uma biografia NÃO é necessária autorização prévia do
indivíduo biografado, das demais pessoas retratadas, nem de seus familiares. Essa
autorização prévia seria uma forma de censura, não sendo compatível com a liberdade
de expressão consagrada pela CF/88.
Caso o biografado ou qualquer outra pessoa retratada na biografia entenda que seus
direitos foram violados pela publicação, ele terá direito à reparação, que poderá ser feita
não apenas por meio de indenização pecuniária, como também por outras formas, tais
como a publicação de ressalva, de nova edição com correção, de direito de resposta etc.
STF. Plenário. ADI 4815, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/06/2015.