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unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

FACULDADE DE ENGENHARIA DE ILHA SOLTEIRA


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA

TRANSFERÊNCIA DE CALOR E MASSA


PARTE II: CONVECÇÃO

Prof. Dr. João Batista Campos Silva

Ilha Solteira, outubro de 2009


_____________________________________________RESUMO

Este material foi escrito para servir de apoio aos alunos da disciplina:
Transferência de Calor e Massa II (TCMII), do Curso de Engenharia Mecânica da
UNESP-Ilha Solteira. O conteúdo de TCMII corresponde ao transporte convectivo de
calor e massa. Aqui são apresentados os conceitos fundamentais de convecção e
maneiras de se determinar o coeficiente de transferência convectiva de calor e massa.
São abordados casos de convecção externa em superfícies planas e rombudas,
convecção em escoamentos internos, convecção natural, convecção com mudança de
fase e transferência de massa incluindo também difusão. Durante o curso são realizados
alguns experimentos em laboratório com a finalidade de medir o coeficiente de
transferência de calor, verificar a conservação de energia e analisar processos de
convecção natural.
SUMÁRIO
Transferência de Calor e Massa por Convecção ............................................................ 1 
0. Introdução .................................................................................................................... 1 
0.1 Importância de Transferência de Calor (Energia) e Massa .................................... 1 
0.2 Conceitos .................................................................................................................... 2 
0.2.1 Sistema Físico ......................................................................................................... 2 
0.2.2 Equilíbrio Termodinâmico ..................................................................................... 3 
0.2.3 Equilíbrio Termodinâmico Local ........................................................................... 3 
0.2.4 Meio Contínuo ........................................................................................................ 4 
0.3 Modos Principais de Transferência de Energia ....................................................... 5 
0.4 Objetivos e Convenções ............................................................................................. 6 
1. Fundamentos da Convecção ....................................................................................... 9 
1.1 Fluxo Convectivo ....................................................................................................... 9 
1.2 Condução e Convecção Combinadas numa Parede ............................................... 10 
1.3 Coeficiente de Transferência de Calor Convectiva ................................................ 11 
1.4 Taxa de Calor numa Superfície .............................................................................. 13 
1.5 Estimativas do Coeficiente de Transferência de Calor Convectiva ....................... 14 
1.5.1 Estimativas do Coeficiente de Transferência por Análise Dimensional ............ 14 
1.5.2 Significado dos Grupos Adimensionais ............................................................... 20 
1.6 Equações Gerais de Balanço ................................................................................... 23 
1.6.1 Balanço Unidimensional ...................................................................................... 26 
1.6.2 Equação de Balanço Incluindo Transporte Molecular e Convectivo ................ 28 
1.6.3 Equação de Balanço Tridimensional................................................................... 29 
1.6.4 Equações de Balanço em Notação Tensorial (Indicial)...................................... 31 
1.7 Escoamentos com Transferência de Calor e Massa............................................... 34 
2. Convecção Externa Laminar. Camada Limite ......................................................... 36 
2.1 Camadas Limites Hidrodinâmica e Térmica .......................................................... 36 
2.2 Adimensionalização das Variáveis .......................................................................... 40 
2.3 Solução Exata das Equações de Camada Limite ................................................... 41 
2.4 Camada Limite Térmica .......................................................................................... 48 
2.4.1 Camada Limite Térmica Espessa (Parede Isotérmica) ....................................... 51 
2.4.2 Camada Limite Térmica Fina (Parede Isotérmica) ............................................ 53 
2.5 Solução Aproximada das Equações de Camada Limite (Método Integral) .......... 56 
2.5.1 Camada Limite Hidrodinâmica............................................................................ 56 
2.5.2 Camada Limite Térmica ....................................................................................... 60 
2.6 Escoamentos Externos sobre Corpos Rombudos ................................................... 61 
2.7 Equações Diferenciais de Escoamentos Turbulentos ................................................... 62 
2.7.1 Equações Instantâneas de Turbulência ...................................................................... 62 
2.7.2 Decomposição de Reynolds .......................................................................................... 63 
2.7.3 Equações Médias de Reynolds de Transporte Turbulento (RANS) ......................... 64 
2.7.4 Camada Limite Hidrodinâmica................................................................................... 67 
2.7.5 Camada Limite Térmica .............................................................................................. 72 
3. Convecção Forçada no Interior de Dutos ................................................................ 75 
3.1 Escoamento laminar num tubo com simetria axial ............................................... 75 
3.2 Escoamento laminar em um canal de placas paralelas ......................................... 78 
3.3 Fator de atrito de Fanning e Queda de Pressão..................................................... 78 
3.3 Transferencia de Calor em Escoamento Laminar - Entrada Térmica ................. 80 
3.4 Escoamentos Turbulentos ....................................................................................... 84 
3.5 Variação da temperatura média de mistura ........................................................... 92 
3.6 Taxa total de transferência de calor ....................................................................... 92 
3.7 Experimento 01: Convecção Forçada em Dutos .................................................... 95 
3.8 Experimento 02: Trocador de Calor Duplo Tubo .................................................. 99 
4. Convecção Natural .................................................................................................. 102 
4.1 O que causa o escoamento por convecção natural............................................... 102 
4.2. Camada Limite ao longo de uma parede vertical ................................................ 103 
4.2.1 Equações simplificadas da camada limite ......................................................... 103 
4.2.2 Análise de escala em regime laminar ................................................................ 106 
4.2.3 Parede isotérmica (escoamento laminar) .......................................................... 109 
4.2.4 Transição e Efeito de Turbulência sobre a Transferência de calor ................. 112 
4.2.5 Fluxo de Calor Uniforme na Parede ................................................................. 115 
4.3 Outras Configurações de Escoamentos Externos ................................................ 116 
4.3.1 Reservatório Fluido Estratificado Termicamente ............................................. 116 
4.3.2 Paredes Inclinadas ............................................................................................. 117 
4.4 Configurações de Escoamentos Internos ............................................................. 119 
4.4.1 Canais Verticais .................................................................................................. 119 
4.4.2 Cavidades Aquecidas do Lado ............................................................................ 122 
4.4.3 Cavidades aquecidas por Baixo ......................................................................... 125 
4.4.4 Cavidades Inclinadas .......................................................................................... 125 
4.4.5 Outras Formas de Cavidades: Espaço Anelar entre Cilindros e Esferas
Concêntricas ................................................................................................................ 126 
4.5 Experimento 03: Convecção Natural em Corpos Submersos .............................. 127 
5. Convecção com Mudança de Fase .......................................................................... 131 
5.1 Transferência de Calor na Condensação ............................................................. 131 
5.1.1 Filme Laminar sobre uma Superfície Vertical .................................................. 131 
5.1.2 Filme Turbulento sobre uma Superfície Vertical ............................................. 136 
5.1.3 Filme de Condensação em Outras Configurações ............................................ 139 
5.1.4 Condensação em gotas por Contato Direto ....................................................... 142 
5.2 Transferência de Calor na Ebulição..................................................................... 143 
5.2.1 Regimes de Ebulição em Vaso Aberto ............................................................... 143 
5.2.2 Nucleação da Ebulição e Fluxo de Calor de Pico ............................................. 145 
5.2.3 Filme da Ebulição e Mínimo Fluxo de Calor.................................................... 146 
5.2.4 Escoamento com Ebulição ................................................................................. 147 
6. Transferência de Massa .......................................................................................... 149 
6.1 Analogia entre Transferência de Massa e Transferência de Calor..................... 149 
6.2 A Conservação das Espécies Químicas................................................................. 150 
6.2.1 Velocidade das Espécies Versus Velocidade Média .......................................... 150 
6.2.2 Fluxo de Massa por Difusão .............................................................................. 152 
6.2.3 Lei de Fick .......................................................................................................... 153 
6.2.4 Concentração Molar e Fluxo Molar .................................................................. 154 
6.3 Difusão através de um Meio Estacionário............................................................ 156 
6.3.1 Difusão em Regime Permanente ........................................................................ 156 
6.3.2 Difusividades de Massa ...................................................................................... 158 
6.3.3 Condições de Contorno ...................................................................................... 160 
6.3.4 Difusão Dependente do Tempo .......................................................................... 161 
6.4 Convecção .............................................................................................................. 165 
6.4.1 Convecção Forçada em Escoamento de Camada Limite Laminar .................. 165 
6.4.2 O Modelo de Superfície Impermeável................................................................ 168 
6.4.3 Convecção Externa Forçada Sobre Outras Configurações .............................. 169 
6.4.4 Convecção Forçada Interna ............................................................................... 172 
6.4.5 Convecção Natural ............................................................................................. 174 
Bibliografia .................................................................................................................. 177 
1

Transferência de Calor e Massa por Convecção

0. Introdução

Neste tópico apresenta-se uma breve descrição, importância e alguns exemplos


de aplicações de transferência de calor e massa.

0.1 Importância de Transferência de Calor (Energia) e Massa

A Civilização Moderna depende fortemente de como ela manuseia e usa sua


energia, energia esta suprida através de recursos naturais, nem sempre fáceis de serem
explorados.
O uso de energia pode ser identificado como trabalho, potência e calor, mas na
realidade o trabalho e potência que são usados finalmente degeneram em calor. Calor é
a troca de energia entre objetos (sistemas) “quentes” e “frios” e a troca ocorre
espontaneamente do “quente” para o “frio”
(Transferência) de Calor é a ciência que explica e prediz quão rápida ocorre a
troca de energia como calor. É a ciência que integra as várias ferramentas analíticas e
empíricas provendo um fórum, um corpo de conhecimento, para projetistas,
construtores, operadores, gerentes e pesquisadores de forma mais acurada estudar calor
como uma troca de energia.
A preocupação com energia, sua conservação ou economia pela sociedade
requer numa extensão importante a compreensão dos conceitos de transferência de calor
e transferência de massa.
Alguns casos de aplicação de transferência de calor:
- isolamento (por fibra de vidro) de tetos e paredes de edifícios para manter
determinadas condições climáticas;
- quantificação da perda de energia através de janelas modernas e isoladas para
manter o ambiente confortável tanto no inverno quanto no verão;
- projeto e operação de geradores de vapor (caldeiras) ou ebulidores requer a
compreensão da transferência de calor que ocorre da queima (combustão) de carvão,
gás ou óleo para a água nos tubos;
2

- projeto e construção de um radiador (convector) para um motor de automóvel para


mantê-lo “frio” quando em operação envolve transferência de calor e massa;
- dissipação de calor em linhas de potência elétrica devido à resistência elétrica;
- proteção de cabos elétricos contra fogo e altas temperaturas;
- manutenção de temperaturas adequadas em circuitos de computadores e outros
sistemas;
- condicionamento de ar para conforto térmico;
- processos sanitários, manuseio de lixo, esterilização;
- manuseio e processamento de alimentos.
Transferência de massa é o estudo do movimento de massa de um local para
outro através do uso de dispositivos mecânicos ou naturalmente devido a diferença de
densidade. A diferença de densidade provoca difusão (transporte microscópico) de
massa (uma espécie penetra em outra) ou convecção natural (transporte macroscópico)
de massa. Os dispositivos mecânicos (bombas, ventiladores e compressores) provocam
difusão e convecção forçada de massa. Exemplos onde ocorre transferência de massa:
- processos químicos;
- poluição do ar;
- combustão;
- processos criogênicos (baixas temperaturas) tais com produção de N2, H2 e O2
líquidos, gelo seco (CO2 líquido)

0.2 Conceitos

0.2.1 Sistema Físico

Um sistema físico pode ser considerado com sendo constituído de um sistema


material (subsistema 1) mais um campo de radiação (subsistema 2). O sistema material,
geralmente, considerado como meio contínuo, é composto em nível elementar de
moléculas (incluindo íons e átomos), de elétrons e de partículas fictícias tais como
fónons (quanta de energia vibracional num sólido), etc.
Um meio pode ser considerado como contínuo quando o menor elemento de
volume ainda contém de 1015 a 1020 moléculas. Sob determinadas condições físicas, tais
elementos podem ser caracterizados estatisticamente por propriedades físicas
3

macroscópicas médias sobre todas as moléculas que eles contêm (massa média,
velocidade, pressão ou temperatura).
O campo de radiação eletromagnética é caracterizado em escala macroscópica
G
pela definição em cada ponto r do espaço e para cada direção Δ de uma quantidade
Iν′ , a intensidade monocromática relacionada com a freqüência ν . O campo de radiação

resulta da distribuição de fótons (quanta de energia particular de Bose-Einstein que em


G
repouso possuem massa nula) cada caracterizado pela freqüência ν , momentum p e
spin s. Um quantum tem energia e = hν , onde h = 6,626 x10−34 Js é a constante de Planck.

0.2.2 Equilíbrio Termodinâmico

Em termodinâmica, o conceito de equilíbrio termodinâmico perfeito envolve


equilíbrio térmico (T uniforme), equilíbrio mecânico (p uniforme) e equilíbrio químico
(potencial químico μ uniforme) e é utilizado para equacionamento dos problemas. O
equilíbrio térmico significa que o sistema material é isotérmico a temperatura T; o
campo de radiação tem uma distribuição uniforme dependente apenas de T; o campo de
radiação e sistema material estão na mesma temperatura. Entretanto, para ocorrer
transferência de calor, os sistemas devem estar em não equilíbrio térmico.

0.2.3 Equilíbrio Termodinâmico Local

O não equilíbrio térmico causa a transferência de calor devido colisões entre


moléculas ou entre moléculas e uma parede; interações moléculas/fótons (absorção,
emissão espontânea, emissão estimulada); interações entre fónons, entre fónons e
elétrons, elétrons e fótons, outras interações. Como as leis da termodinâmica são
utilizadas para equacionar problemas de transferência, tem-se que lançar mão do
conceito de equilíbrio termodinâmico local (LTE).
A hipótese de equilíbrio termodinâmico local permite definir variáveis físicas
G G G G
T (r , t ), p(r , t ), μ (r , t ) , etc. em qualquer instante de tempo e para cada ponto r . Sob
esta hipótese, pode-se assumir que durante um intervalo dt e em um elemento de
volume arbitrariamente pequeno (mas macroscópico, contínuo) o sistema material está
4

localmente infinitamente próximo a um estado de equilíbrio, descrito por propriedades


intensivas e extensivas.
Em LTE adotado para estudo de problemas de transferência de calor o sistema
físico é o local dos seguintes processos macroscópicos irreversíveis com os quais um
fluxo está associado:
- relativo a um elemento de matéria, o efeito cumulativo em escala macroscópica do
transporte de várias quantidades físicas (carga elétrica, no de um dado tipo, energia)
por partículas (moléculas, elétrons, fónons, etc) traduz para fluxos por difusão:
condução elétrica, difusão de uma espécie em outra, condução térmica;
- simultaneamente associado com cada transferência macroscópica por um
movimento global de parte do sistema material estão associados fluxos
macroscópicos de carga elétrica, energia, etc. Estes são chamados fenômenos
convectivos: convecção elétrica, convecção térmica, etc.;
- interações entre moléculas do sistema material e os fótons do campo de radiação,
quando eles não estão em equilíbrio térmico resulta num fluxo macroscópico de
energia na forma de radiação.

0.2.4 Meio Contínuo

Em teoria cinética dos gases o conceito de meio contínuo é apresentado através


da seguinte definição de temperatura:


3 mv s2
Nk B T = (0.1)
2 s =1
2

na qual N é o no de átomos idênticos de massa m cada em equilíbrio térmico num


elemento de volume dV ( N ≈ 1015 − 10 20 ) o meio é considerado contínuo;
k B = 1,38054 x10 −23 J / K é a constante de Boltzmann e v s é velocidade de um átomo
em relação a dV.
5

0.3 Modos Principais de Transferência de Energia

Os modos principais de transferência de energia na forma de calor são condução,


convecção e radiação. A condução térmica ocorre através de um elemento material no
qual existe um gradiente de temperatura. Ela representa o efeito global do transporte de
energia por portadores elementares (moléculas, fónons, elétrons, etc).
Em fluidos os portadores elementares (moléculas, átomos, íons, etc.) são
caracterizados por energia de translação, possivelmente vibração e rotação, energia
eletrônica.
Em sólidos os átomos são arranjados em uma estrutura cristalina mais ou menos
perfeita. Os vetores de energia são fónons (quanta de vibração da estrutura cristalina) e
talvez elétrons livres (condução elétrica e térmica).
Em radiação, energia é permanentemente trocada entre um sistema material e
um campo de radiação pelos seguintes processos:
- emissão espontânea de radiação que consiste na conversão de energia térmica
(energia de vibração ou rotação, energia eletrônica, energia de fónons, etc. para uma
energia radiativa (de fótons);
- absorção de radiação pela conversão inversa de energia radiativa para energia
térmica.
Sob o ponto de vista de radiação, pode-se definir três tipos de meio:
- meio transparente como aquele que não emite, não absorve, não reflete ou difunde,
mas transmite toda radiação incidente qualquer que seja sua direção e freqüência;
- meio opaco que não transmite qualquer radiação incidente (Ii) que pode ser
absorvida (Ia) ou refletida (Ir). O meio opaco também pode emitir a radiação (Ie);
- meio semi-transparente que reflete, absorve ou difunde a radiação incidente, ou
transmite ela em distâncias finitas.
6

Figura 0.1 Radiação em meios transparente e opaco

Os modos de transferência de energia por condução e radiação foram objeto de


estudo da parte I deste curso. O modo de transferência de energia apor convecção será o
objeto de estudo do presente curso e será abordado ao longo do mesmo.

0.4 Objetivos e Convenções

O objetivo principal é determinar para qualquer sistema em LTE, a evolução do


G
campo de temperatura T (r , t ) e o fluxo de energia (para todas as formas de energia) que
é necessário para controlar o processo. Um processo será em regime transiente (RT) se
as quantidades físicas A (escalares, vetores, tensores) dependem do tempo, isto é,

G
∂A(r , t )
≠0 (0.2)
∂t

Para processos em regime permanente (RP), não há variação das grandezas físicas com
o tempo. Ou seja,

G
∂A(r , t )
=0 (0.3)
∂t
7

Define-se fluxo de energia como a potência dΦ (em Watts) atravessando um


G G
elemento de superfície dS , cuja normal é n e cujo vetor densidade de fluxo é q
[W/m2]. Numericamente,

G G
dΦ = q • n dS . (0.4)

Define-se a densidade de fluxo [W/m2] como

G G
q ′′ = q • n . (0.5)
ou


q ′′ = . (0.6)
dS

G
Figura 0.2 Vetor densidade de fluxo através de um elemento dS com normal n .

Nos processos de condução térmica, define-se o vetor densidade de fluxo


condutivo, pela Lei de Fourier, como

G G
q cd = −k∇T , (0.7)

na qual k é denominada condutividade térmica do material que pode depender da


GG G
G
temperatura e da direção espacial (caso em que k é um tensor e q cd = −k • ∇T ). O
8

sinal negativo na Lei de Fourier é requerido pela 2a Lei da Termodinâmica. O fluxo


condutivo pode, então, ser calculado na forma

G G G G ∂T
q ′′ = q cd • n = −k∇T • n = −k , (0.8)
∂n

para q ′′ no sentido da normal ao contorno.


Compare a Lei de Fourier com as leis de Ohm e Fick. A Lei de Ohm estabelece
G
que o vetor densidade de corrente j é dado na forma:

G G G
j = σE = −σ∇Vel , (0.9)

G
na qual E é o campo elétrico, σ é a condutividade elétrica e Vel é o potencial elétrico.
G
Já a Lei de Fick de difusão de massa, estabelece que a taxa de difusão jα de uma

espécie α numa espécie β é definida pela equação

G G
jα = − Dαβ ∇Cα , (0.10)

na qual Dαβ é a difusividade de α em β e Cα é a concentração molar definida por

ρ nα
Cα = , (0.11)
M n
onde ρ é a massa específica da mistura e M é o peso molecular da mistura.
9

1. Fundamentos da Convecção

1.1 Fluxo Convectivo

Considere um escoamento de fluido num tubo de corrente elementar de área de


seção transversal dA , a taxa de escoamento de massa será

G G
dm = ρ (r )V • ndA (1.1)

Associado a esta transferência de massa existe transferência de entalpia especificada por


um fluxo convectivo na forma:

G G
d Φ cv = ρ (r )V • ndA ⋅ i = dm ⋅ i (1.2)

O vetor densidade de fluxo convectivo será

G G G
q cv = ρ (r )V ⋅ h (1.3)

de modo que o fluxo convectivo será calculado como

G G G
q ′′ = ρ (r )V • n ⋅ h (1.4)

A convecção térmica pode ser dividida em três tipos:


- convecção forçada, quando o escoamento do fluido é imposto por equipamento
(bombas, turbina, ventiladores, etc.);
- convecção natural ou livre, quando um gradiente de temperatura provoca diferenças
de densidade o que faz com que o escoamento seja espontâneo e
- convecção mista, quando estão presentes tanto a convecção forçada quanto a
convecção natural.
O escoamento de fluido pode ser laminar, quando ocorre a baixas velocidades ou
turbulento quando ocorre a velocidades altas. Em problemas de convecção é necessário
10

determinar os campos de velocidade e temperatura simultaneamente para calcular os


fluxos convectivos.

1.2 Condução e Convecção Combinadas numa Parede

Considere um fluido a temperatura T f escoando paralelo a uma parede mantida

a uma temperatura Ts diferente da temperatura do fluido, Figura 1.1. Na interface do


lado sólido o fluxo por condução será
∂Ts
q scd = − k s (1.5)
∂y w

Figura 1.1 Escoamento sobre uma parede

O fluxo condutivo do lado do fluido pode ser definido com

∂T f
q cdf = − k f (1.6)
∂y w

de modo que se tem a igualdade dos fluxos, ou seja

∂Ts ∂T f
− ks = −kf (1.7)
∂y w
∂y w

Para o fluxo condutivo do lado do fluido, o problema é determinar o gradiente de


∂T f
temperatura na parede que depende da convecção. Este fluxo deveria chamar
∂y

fluxo conduto-convectivo q cc (mas é erroneamente chamado de fluxo convectivo).


11

1.3 Coeficiente de Transferência de Calor Convectiva

G G G
Considere o escoamento de um fluido com velocidade V (r ) e temperatura T (r )
num canal de altura l, cuja parede inferior (y = 0) está a T1 e a parede superior (y = l)
está a T2 . Suponha que a distribuição de temperatura em função de y seja como
ilustrado na Figura 1.2

Figura 1.2 Temperatura de um fluido num canal em função de y.

O fluxo conduto-convectivo na parede inferior pode ser definido como


12

∂T f Tm − T1
q cc = −kf = −k f = h(T1 − Tm ) (1.8)
y =0 ∂y y =0
ξ

na qual h = função( propriedades do fluido, natureza do escoamento) e é denominado


de coeficiente de transferência de calor por convecção. Generalizando pode-se calcular
o fluxo conduto convectivo por

q cc = h Tw − Tc (1.9)

na qual Tw é a temperatura na parede e Tc é uma temperatura característica do fluido. A


ordem de grandeza do coeficiente de transferência de calor é apresentada na Tabela 1.1.

Tabela 1.1. Valores de h para determinados escoamentos


Tipo Fluido H [Wm-2K-1]
gás 5-30
Convecção natural
água 100-1000
gás 10-300
água 300-12000
Convecção forçada
óleo 50-1700
metal líquido 6000-110000
ebulição (água) 3000-60000
Mudança de fase
condensação (água) 5000-110000

Uma questão: por que usar convecção? Pode-se responder a esta questão
comparando os fluxos por condução e conduto-convectivo entre as duas paredes. Estes
fluxos podem ser definidos como

Tm − T1
q cc = −k f e (1.10)
y =0 ξ

T2 − T1
q cd = −k f (1.11)
y =0 l
13

Se T2 − T1 e Tm − T1 forem da mesma ordem de grandeza, então

q cc l
= . Como l >> ξ ⇒ q cc >> q cd .
q cd
ξ

O fluxo conduto-convectivo será denominado pela sigla convencional, q cc = q ′′

ou simplesmente q (este último símbolo em T.C. é equivalente a Q ). Desta forma

q ′′
h= , para Tw > T f (1.12)
Tw − T f

ou
−k ⎛ ∂T ⎞
h= ⎜⎜ ⎟⎟ (1.13)
Tw − T f ⎝ ∂y ⎠ y =0

h é uma propriedade do escoamento; k é a condutividade térmica do fluido; Tw é a

temperatura em y = 0 que coincide com a interface entre o fluido e o outro meio (por
exemplo, um parede sólida); T f é uma temperatura característica da corrente de fluido

⎛ ∂T ⎞
longe da parede; ⎜⎜ ⎟⎟ é o gradiente de temperatura do lado do fluido na interface.
⎝ ∂y ⎠ y =0

1.4 Taxa de Calor numa Superfície

Uma vez calculado o fluxo por convecção, a taxa de calor numa superfície pode
ser calculada como

∂T
q = q ′′Aw = hAw (Tw − T f ) = − k Aw (1.14)
∂y w
14

∂T
na qual k é a condutividade térmica do fluido; é o gradiente de temperatua na
∂y w

parede cuja normal é y. Geralmente, Aw = pL , onde p é o perímetro ou largura e L é


um determinado comprimento.

q ′′ = h(Tw − T f ) é denominada Lei de Newton de resfriamento ou aquecimento.

Como h é uma propriedade do escoamento, seu cálculo requer a determinação do


K
campo de velocidade, U , com será visto posteriormente.

1.5 Estimativas do Coeficiente de Transferência de Calor Convectiva

O coeficiente de transferência de calor é uma propriedade do escoamento e seu


cálculo, em geral, requer a determinação dos campos de velocidade e de temperatura,
para se determinar a taxa de calor numa dada superfície. Existem vários níveis de
solução do campo de velocidade: usando o conceito de camada limite, resolvendo as
equações de Navier-Stokes, usando análise dimensional, etc. Uma dos primeiros
métodos utilizados foi o da análise dimensional, que será brevemente abordado a seguir.
Os demais serão vistos na seqüência do curso.

1.5.1 Estimativas do Coeficiente de Transferência por Análise


Dimensional

Qualquer que seja o tipo de transferência de calor convectiva considerado


(laminar, turbulenta, livre ou forçada), os fenômenos que estão envolvidos na expressão
do tipo do fluxo conduto-convectivo na parede dentro de um fluido transparente são:
- uma transferência axial de momentum convectiva (paralela à parede);
- uma dissipação viscosa perpendicular à direção do movimento (difusão de
momentum);
- uma transferência axial de entalpia;
- uma transferência transversal condutiva (difusão de entalpia).
15

Figura 1.3. Processos de transferência próxima a uma parede.

A densidade de fluxo conduto-convectivo (ou simplesmente fluxo convectivo)


pode ser definida, considerando os processos ilustrados na Figura 1.3, como

∂T
ϕ cc = −k = h(Tw − T f ) (1.15)
∂x 2 w

Exemplo 1: Convecção Forçada. Considere uma parede plana de comprimento L na


direção x1 , mantida a uma temperatura Tw , Figura 1.4. Um fluido de velocidade u 0 e

temperatura T0 longe da parede plana troca energia com a placa entre a entrada ( x1 = 0)

e a saída ( x1 = L) . Assumindo as propriedades físicas do fluido constantes e avaliadas


T0 + Tw
na temperatura média ( ):
2
ρ : massa específica (ML-3);
k : condutividade térmica do fluido (MLT-3θ-1);
μ : viscosidade dinâmica (ML-1T-1);
c p : calor específico a pressão constante (L2T-2θ-1)
16

Figura 1.4. Convecção forçada junto à uma parede plana

Os símbolos M, L, T e θ representam as dimensões de massa comprimento, tempo e


temperatura respectivamente. Definem-se os coeficientes local (na posição x1 ) e médio
por

∂T
ϕ ( x1 ) = h( x1 )(Tw − T0 ) = −k ( x1 ) (1.16)
∂x 2 w

ϕ = h (Tw − T0 ) . (1.17)

O problema térmico é completamente determinado por sete quantidades físicas:


h , ρ , μ , k , c p , L, u 0 cujas dimensões são MT-3θ-1, ML-3, ML-1T-1, MLT-3θ-1, L2T-2θ-1,

L e LT-1 expressas em termos de quatro dimensões fundamentais independentes (M, L,


T e θ). De acordo com o Teorema dos π’s é possível formar 7-4=3 grupos
adimensionais: π 1 , π 2 , π 3 . Desta forma, propõe-se a seguinte relação funcional

h ρ a μ b k c c dp u 0e L f = cte (1.18)
17

da qual se obtém
d
⎛ L2 ⎞ ⎛ L ⎞
a b c e
M ⎛ M ⎞ ⎛ M ⎞ ⎛ ML ⎞
⎜ ⎟ ⎜ ⎟ ⎜ ⎟ ⎜⎜ 2 1 ⎟⎟ ⎜ ⎟ (L ) f = cte (1.19)
T 3 Θ1 ⎝ L3 ⎠ ⎝ LT ⎠ ⎝ T 3 Θ1 ⎠ ⎝T Θ ⎠ ⎝T⎠

Igualando os expoentes nas dimensões nos dois lados da Eq. (1.19) resulta:

de θ: -c-d-1 = 0 ou c = -d-1 (1)


de M: 1+a+b+c = 0 ou b= -a-c-1 ou b = d-a (2)
de T: -3-b-3c-2d-e=0 ou –3-d+a+3d+3-2d-e ou e = a (3)
de L: -3a-b+c+2d+e+f = 0 ou –3a-a-d-1+2d+a+f=0 ou f = a+1 (4)

Fazendo α = −a e β = − d e substituindo em (1.18) resulta

h ρ −α μ α − β k β −1c −p β u 0−α L1−α = cte (1.20)

ou reagrupando os termos sob o mesmo expoente, chega-se que

α β
hL ⎛ ρu L ⎞ ⎛ μcp ⎞
= cte⎜⎜ 0 ⎟⎟ ⎜⎜ ⎟⎟ (1.21).
k ⎝ μ ⎠ ⎝ k ⎠

Freqüentemente, a Eq. (1.21) é reescrita como

Nu L = cte(Re L ) (Pr )
α β
(1.22)

na qual
hL
Nu L = é o número de Nusselt baseado no comprimento L;
k
ρ u0 L
Re L = é o número de Reynolds baseado em L e
μ
μcp
Pr = é o número de Prandtl.
k

Analogamente pode-se obter


18

α β
h( x1 ) x1 ⎛ ρu x ⎞ ⎛ μcp ⎞
= cte⎜⎜ 0 1 ⎟⎟ ⎜⎜ ⎟⎟ (1.23)
k ⎝ μ ⎠ ⎝ k ⎠

em que

h( x1 ) x1
Nu x1 ( x1 ) = é o número de Nusselt local em x1 ;
k
ρ u 0 x1
Re x1 = é o número de Reynolds baseado em x1 .
μ

Exemplo 2: Convecção Natural. Considere uma parede plana vertical de comprimento L


na direção x1 , mantida a uma temperatura Tw num fluido a temperatura T0 e em
repouso longe da parede, Figura 1.5. Assumindo as propriedades físicas do fluido
( μ , c p , k ) constantes, mas ρ varia com a temperatura na forma;

ρ (T ) = ρ 0 (T0 )[1 − β (T − T0 )] (1.24)

Figura 1.5. Conveção natural sobre uma parede vertical.


19

Na realidade, é esta mudança de densidade que dá origem aos fenômenos de convecção


natural, visto que isto cria uma força de empuxo ρ 0 β (T − T0 ) g que é balanceada
principalmente por forças viscosas de atrito.

Hipótese de Boussinesq:
- As variações de temperatura são pequenas de modo que β (T − T0 ) << 1 ;

- A variação de ρ com T só é considerada no termo de força de campo devido a


gravidade na eq. de balanço de quantidade de movimento (como será visto mais
adiante).
O problema de transferência global de calor é completamente definido por sete
quantidades h , ρ 0 , μ , k , c p , L e o termo de empuxo gβ (Tw − T0 ) . Os resultados

anteriores para convecção forçada podem ser utlizados, desde que se defina uma
velocidade de referência u r . Pode definir essa velocidade de referência em função de
gβ (Tw − T0 ) e então substituir u 0 por u r nas expressões de Nu L e Nu x . Admitindo
que a força de empuxo máxima por unidade de volume é balanceada pelas forças
viscosas por unidade de volume, resulta

μ ur
ρ 0 gβ (Tw − T0 ) = (1.25)
L2

ou
ρ 0 gβ (Tw − T0 ) L2
ur = (1.26)
μ

As sete quantidades físicas no problema de convecção natural serão então:


h , ρ , μ , k , c p , L, u r . O número de Reynolds pode ser expresso por

ρ 0 u r L ρ 02 gβ (Tw − T0 ) L3
= = GrL , conhecido, agora, como número de Grashof,
μ μ2
baseado em L. Pode-se fazer um paralelo entre os dois tipos de convecção como
mostrado a seguir:
20

Convecção Forçada Convecção Natural

Nu L = cte(Re L ) (Pr ) Nu L = cte(GrL ) (Pr )


α β α β

Nu x ( x) = cte(Re x ) (Pr ) Nu x ( x) = cte(Grx ) (Pr )


α β α β

ρ 02 gβ (Tw − T0 ) x 3
Grx =
μ2

Os resultados obtidos são bastante gerais, mas o comprimento característico L


que aparece em Nu L e GrL claramente depende da geometria considerada. É comum
em problemas de convecção natural definir outro número adimensional, conhecido
como número de Rayleigh,

gβ (Tw − T0 ) x 3
Ra x = Grx Pr = (1.27)
να

e então, calcular os números de Nusselt local e médio por

Nu x = cte(Ra x ) (Pr )
α′ β′
(1.28)

Nu L = cte(Ra L ) (Pr )
α′ β′
(1.29)

1.5.2 Significado dos Grupos Adimensionais

ρ u0 L
1. Re L = representa a razão das forças de inércia (convecção de momentum) para
μ
as forças viscosas (difusão de momentum).

−1
⎛ ρu 2 ⎞⎛ μu ⎞
Re = 2⎜⎜ ⎟⎟⎜ 2 ⎟ caracteriza o escoamento (laminar ou turbulento). O número de
⎝ 2 L ⎠⎝ L ⎠
Reynolds é que tem o maior efeito sobre o número de Nusselt.
21

μcp
2. Pr = representa a razão da difusividade de momentum ν (difusividade
k
cinemática) para a difusividade térmica α

−1
⎛ μ ⎞⎛ k ⎞ ν
Pr = ⎜⎜ ⎟⎟⎜ ⎟ = . O número de Prandtl compara dois fenômenos de difusão
⎝ ρ ⎠⎜⎝ ρc p ⎟
⎠ α

dissipativa transversal, condução térmica e difusão viscosa. Pr só depende das


propriedades do fluido e caracteriza três classes de fluido:
- gases ( Pr ≅ 1 ) e líquidos comuns (água, óleos leves, etc.) para os quais Pr é da
ordem de grandeza em trono de 1; ( Pr = 7 para água a 20oC),
- metais líquidos (K,Na, Li, NaK, etc) que são bons condutores (frequentemente
usados como fluidos de transferência de calor) com ( Pr ≅ 10 −2 ) e
- óleos muito pesados ( Pr > 1000) .

h( x1 ) x1
3. O número de Nusselt local Nu x1 ( x1 ) = representa o gradiente de temperatura
k
y T − Tw
adimensional na parede. Em coordenadas cartesianas, definido y + = e T+ = ,
x T0 − Tw
então,
∂T
h( x)(Tw − T0 ) = −k ( x)
∂y w

h( x)(Tw − T0 ) ∂T ∂y + ∂T +
=− +
k ∂T ∂y ∂y +

h( x)(Tw − T0 ) 1 ∂T +
= −(T0 − Tw ) ( x)
k x ∂y + w

h( x) x ∂T + ∂T +
= + ou Nu x ( x) = .
k ∂y w
∂y + w
22

Compare a expressão do número de Nusselt local com aquela do coeficiente de


atrito c f da mecânica de fluidos

τw μ ∂u / ∂y w ( x)
cf = = .
1 2 1 2
ρu 0 ρu 0
2 2

y u
Com y + = e u+ = , resulta
x u0

2 ∂u +
c f ( x) = ( x)
Re x ∂y + w

hL
4. O Nu L = é usado para calcular a transferência global de calor para a placa ou da
k
placa. Ele é corresponde ao coeficiente médio de transferência de calor


L
Nu x ( x)dx
Nu L = (não é o valor médio de Nu x (x) )
0 x

α
hL ⎛ ρu L ⎞ ⎛ μc p ⎞
Nu L = = cte⎜⎜ 0 ⎟⎟ ⎜⎜ ⎟⎟
k ⎝ μ ⎠ ⎝ k ⎠

α
h( x ) x ⎛ ρu x ⎞ ⎛ μc p ⎞
Nu x ( x) = = cte⎜⎜ 0 ⎟⎟ ⎜⎜ ⎟⎟
k ⎝ μ ⎠ ⎝ k ⎠
Nu x ( x) h( x)
=
x k

⎛1 h( x)dx ⎞
∫ ∫
L L
Nu x ( x) hL
dx = ⎜ ⎟L =
0 x ⎝L 0 k ⎠ k


L
Nu x ( x)dx
Nu L =
0 x
23

Obs.:
a) Outros grupos adimensionais, relevantes a uma geometria particular podem
aparecer,
b) Grupos anteriores podem ser combinados:

- Péclet: Pe = Re Pr ,
Nu
- Stanton: St = ,
Pe

c) Convecção em tubos:

h( x ) D
Nu D ( x) = e
k

hD
Nu D , L =
k

1.6 Equações Gerais de Balanço

As equações gerais de balanço podem ser deduzidas de várias formas. Aqui será
feita uma dedução baseada no transporte das grandezas em nível molecular (difusão) e
macroscópico (movimento de fluido). Antes, será apresenta uma breve conceituação do
mecanismo de transporte molecular. Pode-se definir taxa como a razão de uma força
Força Motora
motora por uma resistência, ou seja, Taxa = . Veja os casos mais
Re sistência
clássicos de transferência de calor, massa e quantidade de movimento. No caso de
transferência de calor unidimensional, tem-se que o fluxo de calor é proporcional ao
gradiente de temperatura, pela Lei de Fourier

∂T
(q / A)x = −k (1.30)
∂x
24

− ∂T ∂x
q= . Neste caso a força motora é ∂T e a resistência é e a taxa é q .
∂x kA
kA
No caso de transferência de massa tem-se

∂C A ⎧T = cte
( J A / A) x = −D ⎨ (1.31)
∂x ⎩ p = cte

na qual J A é o fluxo molar da espécie A, D é difusividade de massa e C A a


concentração molar. A transferência de momentum, também pode ser definida de forma
análoga, conforme ilustrado no esquema da Figura 1.6

Figura 1.6. Ilustração da difusão de quantidade de movimento.

∂U x
(F / A) = τ yx = −μ . (1.32)
∂y

Observando as definições dos fluxos moleculares de calor, massa e momentum


pode-se definir formas análogas como

∂φ
Ψx = −δ (1.33)
∂x

na qual Ψx é o fluxo na direção x; δ é uma constante de proporcionalidade

(difusividade), ∂φ / ∂x é o gradiente da concentração da propriedade Ψ e


unidade da propriedade ou grandeza física transferida
φ= .
unidade de volume
25

Têm-se, nos casos transferência de calor, massa e momentum, as seguintes grandezas na


Eq. (1.33):

- Transferência de Calor

⎛q⎞ J W
Ψx = ⎜ ⎟ em 2 ou 2 ,
⎝ A⎠x m s m

J
φ = ρi , [ ρi ] = ; i = c pT
m3

m2
difusividade térmica, [α ] =
k
δ =α =
ρc p s

⎡ ∂ (ρc p T )⎤
(q / A)x = −α ⎢ ⎥;
⎣ ∂x ⎦

- Transferência de Massa

⎛J ⎞ kmol
Ψx = ⎜ A ⎟ em 2 ,
⎝ A ⎠x m s

φ = C A , [C A ] =
kmol
m3

m2
δ = D difusividade, [D ] =
s

- Transferência de Momentum

⎛F⎞ ⎛ μ ⎞ ⎡ ∂ ( ρU x )⎤ ⎡ ∂ ( ρU x ) ⎤ kg
Ψx = τ yx = ⎜ ⎟ = −⎜⎜ ⎟⎟ ⎢ ⎥ = −ν ⎢ ⎥ em 2 ,
⎝ A⎠ ⎝ ρ ⎠ ⎣ ∂y ⎦ ⎣ ∂y ⎦ m s
26

φ = ρU x , [ρU x ] =
kg m / s
m3

m2
δ = ν viscosidade cinemática, [ν ] =
s

Generalizando para o caso tridimensional, a Eq. 1.33 pode ser reescrita como

G G
Ψ = −δ∇φ (1.34)

Assim nos três de transporte considerado tem-se


- Transferência de Calor
G G
q
= −k∇T (1.35)
A

- Transferência de Massa
G
jA G
= − D∇C A {T , p ctes (1.36)
A

- Transferência de Momentum (escoamento de fluido incompressivel)

GG G G G G
(
τ = − μ ∇U + ∇ T U ) (1.37)

1.6.1 Balanço Unidimensional

Considere o volume de controle ilustrado na Figura 1.7. A equação geral de


balanço tem a forma:
entrada + geração = saida + acumulação (1.38)
27

Figura 1.7. Balanço num escoamento unidimensional.

Em termos das grandezas definidas resulta

(Ψx A)1 + Geração = (Ψx A)2 + Acumulação (1.39)

na qual a geração e acumulação podem ser definidas como

 V = Ψ ′′′V
Geração = ΨG

∂φ
Acumulação = V
∂t

A equação de balanço pode então ser reescrita como

(Ψx A)1 + Ψ GV = (Ψx A)2 + ∂φ V (1.40)


∂t

A Eq. (1.40) pode ser rearranjada na seguinte forma

∂φ 
− ΨG = −[(Ψx A)2 − (Ψx A)1 ]/ V (1.41)
∂t

ou de maneira análoga

∂φ 
− ΨG = −[(Ψx A)2 − (Ψx A)1 ] / ΔV (1.42)
∂t
28

Figura 1.8. Elemento de volume para escoamento unidimensional

em que ΔV = ( Ax )2 − ( Ax )1 , Figura 1.8. No limite quando o elemento de volume tende a


zero tem-se

lim ⎡ (Ψx A)2 − (Ψx A)1 ⎤ Δ(Ψx A) ∂ (Ψx A)


ΔV → 0 ⎢⎣ ΔV ⎥ = ΔV = ∂V

que substituído na Eq. (1.42) resulta

∂φ  ∂ (Ψx A)
− ΨG = − (1.43)
∂t ∂V

Com dV = d ( Ax) e A constante, pode-se obter

∂φ  ∂Ψx
− ΨG = − (1.44)
∂t ∂x

1.6.2 Equação de Balanço Incluindo Transporte Molecular e Convectivo

O transporte de alguma grandeza pode ser por difusão e conveção, na forma


Ψx = Ψx ,m + Ψx ,c , onde os transportes molecular e convectivo são definidos

respectivamente por
29

∂φ
Ψx ,m = −δ e Ψ x ,c = U xφ (1.45)
∂x
que substituídos na Eq. (1.44) resulta na equação de balanço unidimensional na forma

∂φ  ∂ ⎛ ∂φ ⎞ ∂ (U xφ )
− ΨG = − ⎜ − δ ⎟− ou
∂t ∂x ⎝ ∂x ⎠ ∂x

∂φ ∂ (U xφ ) ∂ ⎛ ∂φ ⎞ 
+ = ⎜δ ⎟ + ΨG (1.46)
∂t ∂x ∂x ⎝ ∂x ⎠

Ex: Obter as equações de balanço para os casos de transferência de calor, massa e


momentum.

1.6.3 Equação de Balanço Tridimensional

No caso tridimensional haverá fluxo nas três direções dos eixos de coordenadas,
Figura 1.9. Pode-se mostrar de maneira análoga que a equação equivalente à Eq. (1.44)
é:

∂φ  ⎛ ∂Ψ ∂Ψ y ∂Ψz ⎞
− ΨG = −⎜⎜ x + + ⎟ (1.47)
∂t ⎝ ∂x ∂y ∂z ⎟⎠

ou

∂φ  G G
− ΨG = −∇ • Ψ (1.48)
∂t

G G G G
na qual Ψ = i Ψx + j Ψ y + k Ψz e operador del ou nabla é definido como
G G ∂( ) G ∂( ) G ∂( )
∇( ) = i + j +k .
∂x ∂y ∂z
30

Figura 1.9. Elemento de volume em escoamento tridimensional.

No caso tridimensional, o transporte molecular e convectivo são grandezas


vetoriais e são definidos como

G G G G
Ψm = −δ∇φ e Ψc = Uφ (1.49)

G G G
Com Ψ = Ψm + Ψc , a Eq. (1.48) fica na forma

∂φ G G G G
∂t
( ) 
+ ∇ • Uφ = ∇ • δ∇φ + Ψ G ( ) (1.50)

Ex: Obter as equações 3D de balanço de calor, massa e quantidade de movimento.

Usando as definições de grandezas anteriores, resulta o conjunto de equações:

∂ (ρc p T ) G G G G
∂t
( ) ( 
+ ∇ • Uρc p T = ∇ • α∇ρc p T + Ψ G) (1.51)

∂ρ A G G G G
∂t
( ) 
+ ∇ • Uρ A = ∇ • D∇ρ A + Ψ G( ) (1.52)
31

G
∂ ρU ( ) G G G
(
G GG
) 
+ ∇ • UρU = ∇ • τ + Ψ (1.53)
∂t
G

GG G G G
(
τ = μ ∇U + ∇ T U ) (1.54)

As Equações (1.51)-(1.52) devem ainda estare sujeitas à restrição de


 = 0, φ = ρ
conservação da massa, que pode ser obtida fazendo, na equação (1.48), ΨG
G
e Ψ = − ρU , resultando

∂ρ G G
∂t
+ ∇ • ρU = 0( ) (1.55)

No caso especial de escoamento,

G
 = −∇p + ρgG
Ψ (1.56)
G

Ex.: Obter as equações de balanço no sistema de coordenadas cilíndricas.

1.6.4 Equações de Balanço em Notação Tensorial (Indicial)

Em notação indicial ou tensorial vetores e tensores podem ser representados por


G
seus componentes. Na notação comum, um vetor A pode ser representado, num sistema
de coordenadas ortogonais x1 , x 2 , x3 , com vetores de base e1 , e2 , e3 , na forma:

G G G G
A = A1e1 + A2 e2 + A3 e3 (1.57)

na qual A1 , A2 , A3 são os componentes do vetor nos eixos x1 , x 2 , x3 respectivamente.


Outra maneira de apresentar o vetor é usar notação de índices como a seguir:

G G
A = Ai ei , i = 1,2,3 (1.58)
32

A convenção é que índice repetido na mesma posição indica soma, ou seja, no caso, em
questão,

G G G G G
A = Ai ei = A1e1 + A2 e2 + A3 e3 (1.59)

G 3


G
Esta convenção evita ter de carregar a notação inconveniente, A = Ai ei e deixa a
i =1

notação mais compacta. O operador nabla ou del em notação de índices pode ser
representado como

G G ∂( ) G ∂( ) G ∂( ) G ∂( )
∇( ) = e j = e1 + e2 + e3 (1.60)
∂x j ∂x1 ∂x 2 ∂x3

G G
As operações com vetores, considerando dois vetores A e B , podem ser
representadas como

-produto escalar

G G G G G G G G
A • B = AB cosθ ou A • B = Ai ei • B j e j = Ai B j ei • e j (1.61)

o produto escalar entre os vetores de base (note que o ângulo entre os vetores de base é
90o) tem o seguinte resultado

G G ⎧1, se i = j
ei • e j = δ ij = ⎨
⎩0, se i ≠ j
na qual δ ij é um tensor unitário conhecido com delta de Kronecker. Assim o produto

escalar de dois vetores, pode finalmente ser escrito usando índices como

G G
A • B = Ai Bi = A1 B1 + A2 B2 + A3 B3 (1.62)
33

-produto vetorial

G G G G G G G G
A × B = AB sen θ ou A × B = Ai ei × B j e j = Ai B j ei × e j (1.63)

o produto vetorial entre os vetores de base tem o seguinte resultado

G G G
ei × e j = ε ijk ek (1.64)

na qual o símbolo ε ijk é denominado tensor alternante e tem os seguintes valores:

⎧1, se ijk = 123, 231, 312 permutação cíclica



ε ijk = ⎨− 1, se ijk = 213, 132, 321 permutação acíclica
⎪0 se quaisquers dois índices são iguais

O produto vetorial pode então ser finalmente representado por

G G G G G G G
A × B = Ai ei × B j e j = Ai B j ei × e j = ε ijk Ai B j ek (1.65)

-produto diádico

GG GG
AB = Ai B j ei e j (1.66)

que resulta nove componentes, o produto diádico constitui um tensor de segunda ordem.
GG G G
Os componentes de um tensor podem ser representados por índices. Seja T = AB , então

GG GG
T = Tij ei e j (1.67)

na qual Tij = Ai B j .

G G G G
Nos casos especiais em que A = ∇ e B = U , resultam os seguintes resultados
das operações vetoriais
34

G G ∂U i ∂U 1 ∂U 2 ∂U 3
∇ •U = = + + (1.68)
∂xi ∂x1 ∂x 2 ∂x3

G G ∂U i G
∇ × U = ε ijk ek (1.69)
∂x j

G G ∂U i G G G T G ∂U j G G
∇U = ei e j , ∇ U = e j ei (1.70)
∂x j ∂xi

GG
As operações com tensores também são possíveis. Seja o tensor T , assim,
resulta, por exemplo, o divergente do tensor na forma

G GG ∂Tij G ⎛ ∂T11 ∂T12 ∂T13 ⎞ G ⎛ ∂T21 ∂T22 ∂T23 ⎞ G


∇ •T = ei = ⎜⎜ + + ⎟⎟e1 + ⎜⎜ + + ⎟⎟e2 +
∂x j ∂
⎝ 1x ∂x 2 ∂x 3 ⎠ ∂
⎝ 1x ∂x 2 ∂x 3 ⎠
(1.71)
⎛ ∂T31 ∂T32 ∂T33 ⎞ G
⎜⎜ + + ⎟ e3
⎝ ∂x1 ∂x 2 ∂x3 ⎟⎠

1.7 Escoamentos com Transferência de Calor e Massa

Nos casos de escoamentos com transferência de calor e massa resulta o conjunto


de equações a ser resolvido (em notação de divergente livre):

∂ρ G G
∂t
+ ∇ • ρU = 0( ) (1.72)

G
∂ ρU ( ) G G G
(
G G G GG
)
+ ∇ • UρU = −∇p + ρg + ∇ • τ (1.73)
∂t

GG ⎛G G G 2 G GG ⎞
τ = μ ⎜ ∇U + ∇ T U − ∇ • U I ⎟ (1.74)
⎝ 3 ⎠

∂ ( ρh) G G G ⎛μ G ⎞
∂t
( )
+ ∇ • U ρ h = ∇ • ⎜ ∇h ⎟ + Φ + q′′′ (1.75)
⎝ Pr ⎠
35

∂ρ A G G G G
∂t
( )
+ ∇ • Uρ A = ∇ • D∇ρ A + R ( ) (1.76)

f ( ρ , T , p) = 0 (1.77)

Este conjunto de equações pode ser reescrito em notação tensorial ou de índices


como

∂ρ ∂ ( ρU i )
+ =0 (1.78)
∂t ∂xi

∂ (ρU i ) ∂ (U j ρU i ) ∂p ∂τ ij
+ = + ρg i + (1.79)
∂t ∂x j ∂xi ∂x j

⎛ ∂U ∂U j 2 ∂U ⎞
τ ij = μ ⎜⎜ i + − k
δ ij ⎟⎟ (1.80)
⎝ ∂x j ∂x i 3 ∂x k ⎠

∂ ( ρh) ∂ (U i ρ h ) ∂ ⎛ μ ∂h ⎞ ∂U j ⎛ ∂p ∂p ⎞
+ = ⎜ ⎟ + τ ij + T β ⎜ + Ui ⎟ (1.81)
∂t ∂xi ∂xi ⎝ Pr ∂xi ⎠ ∂xi ⎝ ∂t ∂xi ⎠

∂ρ A ∂ (U i ρ A ) ∂ ⎛ ∂ρ A ⎞
+ = ⎜D ⎟+ R (1.82)
∂t ∂xi ∂xi ⎜⎝ ∂xi ⎟⎠
36

2. Convecção Externa Laminar. Camada Limite

Neste item serão considerados escoamentos externos sobre superfícies planas ou


curvas e a convecção térmica será analisada usando o conceito de camada limite.

2.1 Camadas Limites Hidrodinâmica e Térmica

Considere o problema ilustrado na Figura 2.1. Um fluido com velocidade u 0 e

temperatura T0 a partir de uma dada coordenada passa a escoar sobre uma superfície

plana de comprimento L, mantida à temperatura Tw .

Figura 2.1 Escoamento laminar sobre uma superfície plana.

Sendo a placa suficientemente larga, este escoamento pode ser considerado


como 2D. Em coordenadas cartesianas, sob hipótese de regime permanente e
propriedades constantes, este escoamento pode ser modelado pelo conjunto de equações
a seguir:

1) Equação de Continuidade
37

∂u ∂v
+ =0 (2.1)
∂x ∂y

2) Equações e Quantidade de Movimento em x e y

∂u ∂u 1 ∂p ⎛ ∂ 2u ∂ 2u ⎞
x: u +v =− + ν ⎜⎜ 2 + 2 ⎟⎟ ; (2.2)
∂x ∂y ρ ∂x ⎝ ∂x ∂y ⎠

∂v ∂v 1 ∂p ⎛ ∂ 2v ∂ 2v ⎞
y: u + v =− + ν ⎜⎜ 2 + 2 ⎟⎟ (2.3)
∂x ∂y ρ ∂y ⎝ ∂x ∂y ⎠

3) Conservação de Energia Térmica

∂T ∂T ⎛ ∂ 2T ∂ 2T ⎞
u +v = α ⎜⎜ 2 + 2 ⎟⎟ (2.4)
∂x ∂y ⎝ ∂x ∂y ⎠

As seguintes condições de contorno se aplicam

u ( x ,0 ) = 0 v ( x ,0 ) = v w T( x,0 ) = Tw
u ( x, ∞ ) = u ∞ ( x ) v ( x, ∞ ) = 0 T( x,∞ ) = T∞ ( x ) (2.5)
u (0, y ) = u 0 ( y ) v(0, y ) = 0 T( 0, y ) = T0 ( y )

Para obter as equações de camada limite, aquela região em que o efeito viscoso é
predominante e grandes gradientes de temperatura ocorrem, uma análise de ordem de
∂ 1
grandeza dos termos das equações (2.1)-(2.5) será realizado. Supondo que ≈ ,
∂x L
∂2 1 ∂ 1 1 ∂2 1 1
≈ , ≈ ou , ≈ 2 ou 2 . Da equação de continuidade pode se
∂x 2
L2
∂y δ δ t ∂y 2
δ δt
demonstrar que

∂u ∂v u v δ
+ ⇒ + ⇒v≈ u
∂x ∂y L δ L
38

∂ ∂ u
u ≈v ≈
∂x ∂y L

⎛ ∂2 1 ⎞ ⎛ ∂2 1 1 ⎞
⎜⎜ 2 ≈ 2 ⎟⎟ ≤ ⎜⎜ 2 ≈ 2 ou 2 ⎟

⎝ ∂x L ⎠ ⎝ ∂y δ δt ⎠

Na equação de momentum têm-se os termos de inércia, de pressão e de atrito


viscoso. A Tabela 2.1 indica a ordem de grandeza destes termos na equação de
quantidade de movimento em x.

Tabela 2.1. Ordem de grandeza de termos na equação de quantidade de movimento x


Inércia Pressão Fricção
u u δ u p u u
u , v = u ν , ν 2
L δ L δ ρL L2
δ

Observando a ordem de grandeza dos termos na Tabela 2.1, pode-se concluir que
u∂u / ∂x e v∂u / ∂y são da mesma ordem. Se δ << L , a ordem de grandeza dos termos
u
de atrito será ν . Após esta análise pode-se reescrever a Eq. (2.2) como
δ2

∂u ∂u 1 ∂p ∂ 2u
u +v =− +ν 2 . (2.6)
∂x ∂y ρ ∂x ∂y

A partir da Eq. (2.6) pode-se dizer que a ordem de grandeza do gradiente de


pressão em x será:

∂p u2 ∂p u
=ρ ou =μ 2
∂x L ∂x δ

Na equação de quantidade de movimento em y, a ordem de grandeza dos termos será

∂v u δu ⎛ δ ⎞ u 2 ∂u u 2
u ≈ =⎜ ⎟ << u ≈
∂x L L ⎝ L ⎠ L ∂x L
39

∂v δu 1 δu ⎛ δ ⎞ u 2 ∂u δu u ⎛ δ ⎞ u 2
2

v ≈ =⎜ ⎟ << v ≈ =⎜ ⎟
∂y L δ L ⎝ L ⎠ L ∂y L δ ⎝ L⎠ δ

Uma análise mostra que o gradiente de pressão em y será de ordem de grandeza

∂p μ v δ 1 ⎛δ ⎞ u
≈ 2 = μ u 2 = ⎜ ⎟μ 2
∂y δ L δ ⎝ L⎠ δ

Portanto,

∂p ∂p ⎛δ ⎞
/ ≈ O⎜ ⎟
∂y ∂x ⎝ L⎠
Considerando p = p ( x, y ) , então

∂p ∂p dp ∂p ∂p dy
dp = dx + dy ou = + .
∂x ∂y dx ∂x ∂y dx

Assim, ∂p / ∂x = dp / dx , o que sugere que p = p(x) e deve ser da mesma ordem da


pressão fora da camada limite, ou seja

dp dp ∞
=
dx dx

Na região fora da camada limite, considera-se o escoamento como potencial. Se


u ∞ = u ∞ (x),

1 dp ∞ 1 du ∞2
+ =0
ρ dx 2 dx

podendo-se concluir que

1 dp 1 du ∞2
− =
ρ dx 2 dx
40

No caso em que u ∞ não varia, dp / dx = 0 .

Em resumo as equações da camada limite serão

∂u ∂v
+ =0 (2.7)
∂x ∂y

∂u ∂u 1 ∂p ∂ 2u
u +v =− +ν 2 (2.8)
∂x ∂y ρ ∂x ∂y

∂p
=0 (2.9)
∂y

∂T ∂T ∂ 2T
u +v =α 2 (2.10)
∂x ∂y ∂y

sujeitas às condições de contorno:

u ( x ,0 ) = 0 v ( x ,0 ) = v w T ( x,0) = Tw
u ( x, ∞ ) = u ∞ ( x ) v ( x, ∞ ) = 0 T ( x, ∞) = T∞ ( x) (2.11)
u (0, y ) = u 0 ( y ) v(0, y ) = 0 T (0, y ) = T0 ( y )

2.2 Adimensionalização das Variáveis

Na solução das equações (2.7) a (2.11) é necessário se conhecer as propriedades


do fluido. Estes valores de propriedades nem sempre estarão disponíveis. Uma maneira
de evitar o problema de encontrar as propriedades é adimensionalizar as variáveis nas
equações, formando grupos de números adimensionais pela combinação de
propriedades e parâmetros do escoamento. Com este propósito se define o seguinte
grupo de variáveis adimensionais:
41

x y u v p T − Tw u L
X = ; Y= ; U= ; V = ; P= ; θ = ; Re L = 0 ;
L L u0 u0 ρu 0
2
T0 − Tw ν
u0 L
Pe L = Re L Pr =
α

Nas variáveis adimensionais, as equações serão

∂U ∂V
+ =0 (2.12)
∂X ∂Y

∂U ∂U ∂P 1 ∂ 2U
U +V =− + (2.13)
∂X ∂Y ∂X Re L ∂Y 2

∂P
=0 (2.14)
∂Y

∂θ ∂θ 1 ∂ 2θ
U +V = (2.15)
∂X ∂Y Pe ∂Y 2

sujeitas às condições de contorno:

U ( X ,0) = 0 V ( X ,0) = Vw θ ( X ,0) = 0


U ( X , ∞) = U ∞ ( X ) V ( X , ∞) = 0 θ ( X , ∞) = θ ∞ ( X ) (2.16)
U (0, Y ) = 1 V (0, Y ) = 0 θ (0, Y ) = 1

Em geral se assume u ∞ = u 0 e T∞ = T0 , de modo que U ( X , ∞) = 1 e θ ( X , ∞) = 1 .

2.3 Solução Exata das Equações de Camada Limite

A solução exata das equações e camada limite é possível em alguns casos


particulares. Uma técnica para é admitir que ao longo de x os perfis de velocidade são
similares e definir uma variável de similaridade e usar o conceito de função de corrente.
42

Assumindo que a velocidade do escoamento externo à camada limite seja da forma


u ∞ ( x) = cx m com c e m constantes, pode-se obter o gradiente de pressão a partir de

dp dp du
− = − ∞ = ρu ∞ ∞ (2.17)
dx dx dx

Define-se a função de corrente de modo que

∂Ψ ∂Ψ
u= v=− (2.18)
∂y ∂x

e a equação de continuidade é automaticamente satisfeita, ou seja

∂u ∂v ∂ 2Ψ ∂ 2Ψ
+ =0⇒ − =0 (2.19).
∂x ∂y ∂x∂y ∂y∂x

Agora define-se uma variável de similaridade e uma função de corrente adimensional


como a seguir

m +1 y m +1 Ψ
η= Re x f (η ) = Re x (2.20)
2 x 2 u∞ x

u∞ x
em que Re x = . A equação (2.20) pode ser simplificada após substituição de Re x e
ν
u ∞ , resultando

m + 1 c (m −1) / 2 m + 1 1 −(m +1) / 2


η= x y f (η ) = x Ψ (2.21)
2 ν 2 cν

Os componentes de velocidade e suas derivadas em função de η e f (η ) serão

∂Ψ df df
u= = cx m = u∞ (2.22)
∂y dη dη
43

∂Ψ 2cν (m −1) / 2 ⎛ m + 1 m − 1 df ⎞
v=− =− x ⎜⎜ f (η ) + η ⎟ (2.23)
∂x m +1 ⎝ 2 2 dη ⎟⎠

∂u df m + 1 c ⎛ m − 1 ⎞ (m −3 ) / 2 d 2 f
= cmx m −1 + cx m ⎜ ⎟x y (2.24)
∂x dη 2 ν⎝ 2 ⎠ dη 2

∂u m + 1 c (m −1) / 2 d 2 f
= cx m x y (2.25)
∂y 2 ν dη 2

∂ 2u m m + 1 c ( m −1) d f
3
= cx x (2.26)
∂y 2 2 ν dη 3

Substituindo as equações (2.22) a (2.26) na equação (2.8), após várias


manipulações, chega-se a

2m ⎡⎛ df ⎞ ⎤
2
d3 f d2 f
+ f − ⎢ ⎜ ⎟ − 1⎥=0 (2.27)
dη 3 dη 2 m + 1 ⎢⎣⎜⎝ dη ⎟⎠ ⎥⎦

2m
Definindo β = , a equação (2.27) fica na forma:
m +1

d3 f d2 f ⎡⎛ df ⎞ 2 ⎤
+ f − β ⎢⎜⎜ ⎟⎟ − 1⎥ = 0 . (2.28)
dη 3 dη 2 ⎢⎣⎝ dη ⎠ ⎥⎦

A equação (2.28) é denominada na literatura de equação de Falkner-Skan. As condições


de contorno na variável f serão

df
η = 0; = 0, f =0 (2.29)

df
η → ∞; =1 (2.30)

44

Após a solução da equação (2.28) com as condições de contorno (2.29) e (2.30),


pode-se calcular os componentes de velocidade como

df m + 1 u∞ ⎛ m − 1 df ⎞
u = u∞ e v= ⎜⎜ − η − f ⎟⎟ (2.31)
dη 2 Re x ⎝ m + 1 dη ⎠

df d2 f
Definindo =g e = h , a equação (2.28) pode ser transformada num
dη dη 2
sistema de equações diferenciais ordinárias como a seguir

df
=g

dg
=h (2.32)

dh

(
= − fh + β g 2 − 1)

com as seguintes valores iniciais

f (0) = 0
g (0) = 0 (2.33)
h(0) = desconhecido

Como pode ser observado na equação (2.33) a valor inicial para h é desconhecido e
também deve ser determinado na solução do problema. O valor inicial correto para h é
aquele que leva a condição da equação (2.30). Portanto, a solução do sistema (2.32)
deve ser obtida de forma iterativa.
No caso especial de m = 0 , definindo η * = η / 2 e f * = f / 2 , obtém-se a
partir da equação (2.28), nas novas variáveis, mas omitindo o asterisco.

d3 f f d2 f
+ =0 (2.34)
dη 3 2 dη 2
45

que é conhecida como equação de Blasius. A partir da equação (2.32) obtém-se com
β = 0 que

df
=g

dg
=h (2.35)

dh
= − fh / 2

com as condições iniciais da equação (2.33) e com a restrição que df (∞) / dη → 1 . Os


perfis de velocidade serão

u df v 1
= = f ′(η ) e = (η f ′ − f ) (2.36)
u ∞ dη u∞ 2 Rex

O perfil de velocidade longitudinal em função de η é apresentado na Figura 2.2.

Figura 2.2. Perfil de velocidade longitudinal em função de η


46

O fator de atrito local é definido por

∂u 1 2
c f ,x = μ / ρu ∞ (2.37)
∂y y =0
2

Nas variáveis η e f , o fator de atrito pode ser expresso como

⎛d2 f ⎞
c f ,x = 2⎜⎜ 2 ⎟⎟ / Re x (2.38)
⎝ dη ⎠η = 0

⎛d2 f ⎞
A partir da solução de f obtém-se ⎜⎜ 2 ⎟⎟ = 0,332 . Portanto o fator de atrito será
⎝ dη ⎠η = 0
expresso como

0,664
c f ,x = (2.39)
Re x


x
A força de cisalhamento numa parede de comprimento x é: τ w, x dx = xτ w, x .
0

Assim, obtém-se

τ w, x

1 x
= c f ,x = c f , x dx (2.40)
1 2 x 0
ρu ∞
2

O coeficiente médio de atrito, após substituir o coeficiente local na equação (2.40) e


resolver a integral será

1,328
c f , x = 2c f , x = (2.41)
Re x

A partir da solução de u pode-se mostrar que u = 0,99u ∞ em η ≅ 4,92 . Fazendo


um balanço entre inércia e atrito na equação de quantidade de movimento resulta
47

u∞ u
u∞ ≈ ν ∞2
x δ

da qual pode-se concluir que a espessura da camada limite será

νx δ 1
δ ≈ ou ∝
u∞ x Re x

y
De η = Re x , para η = 4,92 → y = δ 99 , resultando para a espessura da camada
x
limite

δ 99 4,92
= (2.42)
x Re x

Outras espessuras de camada limite também são definidas na literatura:


espessura de deslocamento ( δ * ) e espessura de momentum (δ ** ) , que são
respectivamente definas como


⎛ ⎞ ∞
⎛ ⎞
∫ ∫
u u u
δ* = ⎜⎜1 − ⎟⎟dy e δ ** = ⎜⎜1 − ⎟⎟dy (2.43)
0 ⎝ u∞ ⎠ 0 u∞ ⎝ u∞ ⎠

Substituindo perfil de velocidade na equação (2.43) obtém-se

δ* 1,72 δ ** 0,664
= = (2.44)
x Re x x Re x

Exemplo 2.1: Camada Limite de Velocidade Laminar


Uma solução 0,01% de água e sal escoa sobre uma parede com velocidade
u ∞ = 0,6 cm/s. Calcule as espessuras δ 99 , δ * , δ ** 20 cm abaixo da borda de ataque.
Calcule também os coeficientes de atrito local e médio e as respectivas tensões de
cisalhamento.
48

2.4 Camada Limite Térmica

A camada limite térmica geralmente é analisada considerando o caso Pr = 1 e o


caso geral para qualquer número de Pr . O caso Pr = 1 pode ser analisado a partir da
equação (2.13) sem gradiente de pressão e equação (2.15), que ficam na forma

∂U ∂U 1 ∂ 2U
U +V = (2.45)
∂X ∂Y Re L ∂Y 2

∂θ ∂θ 1 ∂ 2θ
U +V = (2.46)
∂X ∂Y Re L ∂Y 2

A equação (2.46) é similar à equação (2.45), então ambas as soluções devem ser
idênticas. O número de Nusselt é definido por

∂θ ( X ,0)
Nu x ( X ) = (2.47)
∂Y

e o fator de atrito é definido por

2 ∂U ( X ,0) 0,664
c f ,x ( X ) = = (2.48)
Re x ∂Y Re x

A partir da equação (2.48) obtém-se que derivada da velocidade na parede é:

∂U ( X ,0)
= 0,332 Re x
∂Y

∂θ ( X ,0) ∂U ( X ,0)
e portanto, como = , obtém-se o número de Nusselt neste caso
∂Y ∂Y
definido por

Nu x ( X ) = 0,332 Re x (2.50)
49

No caso mais geral de qualquer número de Prandtl não unitário assume-se que
⎛ Re L ⎞
θ ( X , Y ) = θ (η ) = θ ⎜⎜ Y ⎟ . A partir da equação de energia

⎝ X ⎠

∂θ ∂θ 1 ∂ 2θ
U +V =
∂X ∂Y Pr Re L ∂Y 2

df 1
com U (η ) = = f ′(η ) e V ( η ) = (η f ′ − f ) , pode-se demonstrar que
dη 2 Rex

d 2θ Pr f dθ
+ =0 (2.51)
dη 2 2 dη

sujeita as seguintes condições de contorno

θ (0) = 0
(2.52)
θ (∞ ) = 1

dθ dg d 2θ η
Definindo g =

, então =
dη dη 2
. Daí θ (η ) =
∫ g (η ′)dη ′ . A partir da
0

equação (2.51) pode-se obter a equação

dg Pr f
+ g=0 (2.53)
dη 2

A solução da equação (2.53) pode ser prontamente obtida como

η′
⎛ Pr ⎞
g (η ′) = C exp⎜ −
⎝ 2 ∫ f (η ′′)dη ′′⎟⎠
0

resultando a solução da distribuição de temperatura na forma


50

η η′
⎛ Pr ⎞
θ (η ) =

0
C exp⎜ −
⎝ 2 ∫ f (η ′′)dη ′′⎟⎠dη ′
0
(2.54)

A condição de contorno θ (∞) = 1 fornece a constante C

1
C= η′

⎛ Pr ⎞
∫ 0
exp⎜ −
⎝ 2 ∫ 0
f (η ′′)dη ′′ ⎟dη ′

que substituída na equação (2.54) resulta

η η′
⎛ Pr ⎞
0 ∫
exp⎜ −
θ (η ) = ∞ ⎝
2 ∫
0
f (η ′′)dη ′′ ⎟dη ′
⎠ (2.55)
η′
⎛ Pr ⎞
0 ∫
exp⎜ −
⎝ 2 ∫
0
f (η ′′)dη ′′ ⎟dη ′

O número de Nusselt será então

∂θ ( X ,0) dθ ∂η Re L dθ (0)
Nu x ( X ) = = = (2.56)
∂Y dη ∂Y X dη

A partir da equação (2.56) pode-se obter correlações para calcular o número de


Nusselt. Schilichting (1968) sugere as correlações, para 0,6 ≤ Pr ≤ 10 :

Nu x ( X ) = 0,332 Re1x/ 2 Pr 1 / 3 (2.57)

e para o Nusselt global resulta


L
Nu x ( X )
Nu L = dX = 0,664 Re1L/ 2 Pr 1 / 3 (2.58)
0 X
51

2.4.1 Camada Limite Térmica Espessa (Parede Isotérmica)

A distribuição de temperatura no escoamento paralelo a uma parede isotérmica


na temperatura Tw é ilustrada na Figura 2.3. Neste caso, a espessura da camada limite
térmica é bem maior do a espessura da camada limite hidrodinâmica, ou seja

δ T >> δ (2.59)

Figura 2.3. Camada térmica em fluidos com baixos números de Prandtl.

A partir da equação de energia,

∂T ∂T ∂ 2T
u +v = α , (2.60)
∂x ∂y ∂y 2



convecção condução transversal

pode-se demonstrar a ordem de grandeza dos termos convectivos e condução


transversal, obtendo-se

ΔT ΔT ΔT
u ,v ≈α 2 (2.61)
x δ δt

δ
Fora da camada limite hidrodinâmica a velocidade transversal, ν ≈ u ∞ . Então
x
obtém-se para o termo convectivo transversal

ΔT ΔT δ
ν ≈ u∞ (2.62)
δt x δt
52

δ
em que << 1 . Daí pode concluir a partir da equação (2.61) que o termo convectivo
δt
transversal é bem menor do o termo longitudinal, portanto,

ΔT ΔT
u ≈α 2 (2.63)
x δt
A ordem de grandeza da velocidade longitudinal dentro da camada limite
térmica será u ≈ u ∞ . A partir da equação (2.63), pode-se então deduzir

ΔT ΔT (α / ν ) x 2 x2
u∞ ≈ α 2 ⇒ δt ≈
2
≈ (2.64)
x δt u∞ x Pr Re x
ν

A espessura da camada limite térmica será proporcional a razão de x pela raiz quadrada
do número de Péclet, ou seja

x u∞ x
δt ≈ , Pe x = (2.65)
Pe x α

O fluxo condutivo transversal À parede será

∂T
q w, x = − k = h(Tw − T∞ ) (2.66)
∂y y =0

∂T ΔT
O gradiente de temperatura junto à parede ≈ , ΔT = Tw − T∞ . O fluxo de calor
∂y δt
ΔT
será então da ordem de grandeza q w, x ≈ k . O número de Nusselt definido como
δt
h( x ) x
Nu x = , pode ser reescrito em função do fluxo de calor como
k

q w, x x ΔT 1 x
Nu x = ≈k (2.67)
ΔT k δ t ΔT k
53

O número de Nusslet será, então, proporcional x / δ t , obtendo-se, após substituir a


espessura da camada limite que

x x
Nu x ≈ = ou que
δt xPe x−1 / 2

Nu x ≈ Pe1x / 2 (Pr << 1) (2.68).

A demonstração da validade da equação (2.68) também pode ser feita como a


seguir:

1/ 2
⎛ νx ⎞
δ t >> δ ⇒ xPe −1 / 2
x >> ⎜⎜ ⎟⎟
⎝ u∞ ⎠

1/ 2
⎛ νx ⎞ ⎛ν ⎞
1/ 2
x
>> ⎜⎜ ⎟⎟ ⇒ x >> ⎜ ⎟ x ⇒ Pr 1 / 2 << 1 ⇒ Pr << 1
⎝α ⎠
1/ 2
⎛ αx ⎞ ⎝ u∞ ⎠
⎜⎜ ⎟⎟
⎝ u∞ ⎠

Os fluidos com Prandtl muito baixos são os metais líquidos mercúrio e sódio.

2.4.2 Camada Limite Térmica Fina (Parede Isotérmica)

No caso da camada limite térmica ser bem mais fina do que a camada limite
hidrodinâmica, Figura 2.4

Figura 2.4. Camada limite térmica para fluidos com altos números de Prandtl
54

δ T << δ (2.69)

Neste caso em δ , u ≈ u ∞ e em δ t , u ≈ u , portanto,

u u∞ δt
≈ ⇒u≈ u∞ (2.70)
δt δ δ

A partir da equação (2.63), resulta

δt ΔT ΔT
u∞ ≈ α 2 ou δ t3 ≈ xαδ (2.71)
δ x δt

A equação (2.71) pode ser manipulada após substituir a espessura da camada limite
hidrodinâmica:

1/ 2
⎛ ⎞
1/ 2 ⎜ ⎟ 1/ 2
xα ⎛ ν ⎞ α ν ⎜ x ⋅ x ⎟ 1 x ⎛ 1 ⎞
δ ≈3
⎜ ⎟⎟ ⇒ δ t3 ≈ x ⇒δ ≈ x
3 2
⎜ ⎟⎟
u ∞ ⎜⎝ xu ∞ ν u ∞ ⎜ xu ∞ ⎟ Pr u ∞ x ⎜⎝ Re x
t t
⎠ ⎜ ⎟ ⎠
⎝ ν ⎠ ν

x3 1
δ ≈
t
3

Pr Re 3x / 2

δ t ≈ x Pr −1 / 3 Re −x 1 / 2 (2.72)

q w, x x
O número de Nusselt definido por Nu x = terá, portanto, a ordem de
ΔT k
x
grandeza Nu x ≈ , resultando após substituição da equação (2.72) que
δt

Nu x ≈ Re1x/ 2 Pr 1 / 3 , Pr >> 1 (2.73)

Fluidos com número de Prandtl altos incluem água e óleos pesados.


55

Na literatura aparecem correlações da forma

Nu x = 0,564 Re1x/ 2 Pr 1 / 2 , (Pr ≤ 0,5) (2.74a)

Nu x = 0,332 Re1x/ 2 Pr 1 / 3 , (Pr ≥ 0,5) (2,74b)

A transferência de calor total num comprimento x é:

∫ ∫
x x
Nu x
q w, x dx = xq w, x ⇒ kΔT dx = xq w, x
0 0 x

obtendo-se após algumas transformações o número de Nusselt global

∫ ∫
q w, x x x
Nu x x
h( x ) x
= dx = dx
kΔT 0 x 0 kx


q w, x x x1 x h ( x) x
= h( x)dx =
kΔT k x 0 k

q w, x x
Nu x = = 1,128 Re1x/ 2 Pr 1 / 2 (Pr ≤ 0,5) (2.75a)
kΔT

N u x = 0,664 Re1x/ 2 Pr 1 / 3 (Pr ≥ 0,5) (2.75b)

u∞ x
Na literatura aparece para Pe x = > 100 , a correlação para todo faixa de
α
número de Prandtl:

0,928 Re1x/ 2 Pr 1 / 3
Nu x =
[1 + (0,0207 / Pr ) ]
(2.76)
2 / 3 1/ 4

Outras situações de transferência de calor podem ocorrer: parede com um


comprimento inicial não aquecido (isolado termicamente); temperatura de parede não
56

uniforme, fluxo de calor uniforme na parede ou fluxo de calor não uniforme na parede.
Vide Bejan (1993).

Exemplo 2.2: Camada Limite Térmica


Uma placa fina de espessura 0,5 mm é mantida a temperatura Tw = 35 o C . Uma

corrente de água a temperatura T∞ = 25 o C com velocidade u ∞ = 0,6 cm/s escoa sobre


a placa cujo comprimento é 20 vezes a sua espessura. Calcule (a) o fluxo de calor local
na saída da placa, (b) o fluxo de calor médio, (c) o coeficiente de transferência de calor
(d) a taxa total de transferência de calor entre a placa e a corrente de água.

2.5 Solução Aproximada das Equações de Camada Limite (Método Integral)

2.5.1 Camada Limite Hidrodinâmica

No caso do escoamento sobre a placa plana com velocidade da corrente externa


uniforme a equação da camada limite hidrodinâmica fica na forma:

∂u ∂u ∂ 2u
u +v =ν 2 (2.77)
∂x ∂y ∂y

sujeitas às condições de contorno:

u ( x,0) = v( x,0) = 0
(2.78)
u ( x, δ ) = u ∞

Integrando a equação (2.77) em y resulta

δ
∂u δ
∂u ∂u
∫0
u
∂x
dy +

0
v
∂y
dy = −ν
∂y y =0
(2.79)

A segunda integral na equação (2.80) pode ser avaliada como


57

δ
∂u δ
∂v δ
∂v
∫ ∫ ∫
δ
v dy = uv 0 − u dy = u ∞ v δ − u dy (2.80)
0 ∂y 0 ∂y 0 ∂y

A equação de continuidade permite calcular a velocidade transversal na fronteira da


camada limite e a ultima integral na equação (2.80) como

δ
∂u
vδ = −
∫0 ∂x
dy (2.81a)

δ
∂v δ
∂u
∫0
u
∂y
dy = −
∫0
u
∂x
dy (2.81b)

Assim resulta

δ
∂u δ
∂u δ
∂u
∫0
v
∂y
dy = −u ∞
∫0 ∂x
dy +
∫ u ∂x dy
0
(2.82)

A equação (2.80) pode então ser reescrita na forma:

δ
∂u δ
∂u δ
∂u ∂u
∫0
u
∂x
dy − u ∞
∫ 0 ∂x
dy +
∫ u ∂x dy = −ν ∂y
0
y =0
ou

δ
∂u δ
∂u ∂u
∫0
2u
∂x
dy − u ∞
∫ 0 ∂x
dy = −ν
∂y y =0

δ
∂u 2 δ
∂u ∂u
∫0 ∂x
dy −

0
u∞
∂x
dy = −ν
∂y y =0

δ
∂u 2 δ
∂u ∂u
∫0 ∂x
dy −
∫u
0

∂x
dy = −ν
∂y y =0

δ
∂ (u 2 − u ∞ u ) ∂u
∫0 ∂x
dy = −ν
∂y y =0
58

d ⎛ δ
⎞ ∂u

∫ (u − u ∞ u )dy ⎟ = −ν
2
(2.83)
dx ⎝ 0 ⎠ ∂y y =0

A solução da equação (2.83) requer que se conheça o perfil de velocidade para


se efetuar a integração. Será assumido um perfil cúbico na forma:

2 3
⎛ y⎞ ⎛ y⎞ ⎛ y⎞
u ( x, y ) = a 0 + a1 ⎜ ⎟ + a 2 ⎜ ⎟ + a3 ⎜ ⎟ (2.84)
⎝δ ⎠ ⎝δ ⎠ ⎝δ ⎠

∂u ( x, δ ) ∂u ( x, δ )
A equação (2.78) possibilita escrever que =0 e = 0 que
∂x ∂y

∂ 2 u ( x, δ )
substituídas na equação (2.77) leva a = 0 . Assim, pode-se reescrever novas
∂y 2
condições de contorno como

u ( x,0) = 0
u ( x, δ ) = u ∞
∂u ( x, δ )
=0 (2.85)
∂y
∂ 2 u ( x, δ )
=0
∂y 2

As condições da equação (2.85) possibilitam a determinação dos coeficientes na


equação (2.84), resultando

a0 = 0
a1 + a 2 + a3 = u ∞
(2.86)
a1 + 2a 2 + 3a3 = 0
2a 2 + 6a 3 = 0

3 1
A solução do sistema (2.86) resulta os valores a1 = u ∞ , a 2 = 0 e a3 = − u ∞
2 2
que substituídos em (2.84) leva ao perfil de velocidade
59

⎛ 3 ⎛ y ⎞ 1 ⎛ y ⎞3 ⎞
u ( x, y ) = u ∞ ⎜ ⎜ ⎟ − ⎜ ⎟ ⎟ (2.87)
⎜ 2⎝δ ⎠ 2 ⎝δ ⎠ ⎟
⎝ ⎠

O perfil de velocidade inserido na equação (2.83) leva ao resultado

d ⎛ 39 ⎞ 3ν
⎜ δ ( x) ⎟ = ou
dx ⎝ 280 ⎠ 2u ∞δ ( x)

140 ν
δ ( x)dδ = dx (2.88)
13 u ∞

com δ (0) = 0 .

A solução da EDO (2.88) leva ao resultado da expressão da espessura da camada


limite hidrodinâmica na forma

280 νx
δ 2 ( x) = ou
13 u ∞

280 νx
δ ( x) =
13 u ∞

δ ( x) 4,64
= (2.89)
x Re x

∂u 3 u∞
O gradiente de velocidade na parede é definido por = . Assim o
∂y y =0
2 δ ( x)

2ν ∂u
fator de atrito será definido na forma c f , x = , da qual se obtém
u ∞2 ∂y y =0

3 2ν Re x 3 Re x 0,646
c f ,x = u∞ 2 = = (2.90)
2 u ∞ x 4,64 u ∞ x 4,64 Re x
ν
60

Compare os resultados da solução do método integral com os resultadoos da


solução similar

0,646 0,664
c f ,x = exato c f , x = (2.91)
Re x Re x

δ ( x) 4,64 δ ( x) 4,92
= exato = (2.92)
x Re x x Re x

2.5.2 Camada Limite Térmica

No caso da camada limite térmica tem-se as seguintes condições de contorno

T ( x,0) − Tw = 0
T ( x, δ t ) − Tw = T∞ − Tw
∂T ( x, δ t )
=0 (2.93)
∂y
∂ 2 T ( x, δ t )
=0
∂y 2

De maneira análoga ao que foi feito para o caso da camada limite hidrodinâmica,
obtém-se neste caso o perfil de temperatura

⎛3⎛ y ⎞ 1⎛ y ⎞
3

T ( x, y ) − Tw = (T∞ − Tw )⎜ ⎜⎜ ⎟⎟ − ⎜⎜ ⎟⎟ ⎟ (2.94)
⎜ 2 ⎝δt ⎠ 2 ⎝δt ⎠ ⎟
⎝ ⎠

A integração da equação de energia leva ao resultado

δt
∂T δt
∂T ∂T
∫0
u
∂x
dy +

0
v
∂y
dy = −α
∂y y =0
(2.95)

Após várias substituições e manipulações de equações resulta finalmente


61

⎛δt ⎞ 1 ⎛δ ⎞
3 5
0,93
⎜ ⎟ − ⎜ t⎟ = (2.96)
⎝ δ ⎠ 14 ⎝ δ ⎠ Pr

A equação permite concluir que no caso Pr = 1 , as espessuras das camadas limites


hidrodinâmica e térmica serão iguais, δ t = δ . Na literatura aparece correlação do tipo

δt
= Pr −1 / 3 , Pr ≥ 0,7 (2.97)
δ

O número de Nusselt será no presente caso

h( x) x x − k ∂T / ∂y y =0 3 x 3 x Pr 1 / 3
Nu x ( x) = = = = (2.98)
k k T∞ − Tw 2 δ t ( x) 2 δ

Após a substituição de δ na equação (2.98) obtém-se

Nu x = 0,323 Re1x/ 2 Pr 1 / 3 , (Pr ≥ 0,5) (2.99)

Compare esse resultado com o valor exato obtido anteriormente

Nu x = 0,332 Re1x/ 2 Pr 1 / 3 , (Pr ≥ 0,5)

O coeficiente de transferência de calor também pode também pode ser obtido, no


caso, com

3 k
h( x ) = (2.100)
2 δ t ( x)

2.6 Escoamentos Externos sobre Corpos Rombudos

De maneira similar ao caso do escoamento sobre a placa plana, pode-se obter


correlações para se calcular o coeficiente de transferência de calor sobre corpos
62

rombudos tais com cilindros e esferas ou arranjos de banco de tubos. Em geral nestes
casos o comprimento característico é o diâmetro do tudo ou da esfera. Estas correlações
podem ser encontradas na literatura. Vide por exemplo Bejan (1993).

2.7 Equações Diferenciais de Escoamentos Turbulentos

Os escoamentos turbulentos são descritos matematicamente pelas equações de


Navier-Stokes. Entretanto a solução daquelas equações por métodos numéricos requer
malhas muito refinadas e passos de tempo muito pequenos. Isto torna a tarefa de obter
tais soluções de custo muito elevado. As alternativas são então modelar a turbulência de
alguma forma e resolver equações mais simplificadas. Uma maneira de simplificar as
equações é usar o conceito de decomposição das variáveis numa parte média mais uma
parte flutuante como proposto por Reynolds. Este procedimento será visto a seguir.

2.7.1 Equações Instantâneas de Turbulência

As equações instantâneas são as próprias equações diferenciais deduzidas


anteriormente, e em notação tensorial podem ser escritas como:

∂ρ ∂ ( ρu i )
+ =0 (2.101)
∂t ∂xi

∂ (ρu i ) ∂ (u j ρu i ) ∂p ∂τ ij
+ =− + ρg i + (2.102)
∂t ∂x j ∂xi ∂x j

⎛ ∂u ∂u j 2 ∂u ⎞
τ ij = μ ⎜⎜ i + − k
δ ij ⎟⎟ (2.103)
∂x
⎝ j ∂x i 3 ∂x k ⎠

(
∂ ρh + ) (+
∂ u i ρh +
=
) ∂ ⎛⎜ μ ⎛ ∂h +
⎜ −
∂ ⎛ u ju j
⎜⎜
⎞ ⎞ ⎞⎟
⎟⎟ ⎟ +
∂xi ⎜⎝ Pr ⎜ ∂x ⎟
∂t ∂xi ⎝ i ∂x i ⎝ 2 ⎠ ⎠ ⎟⎠
(2.104)
∂u j ⎛ ∂p ∂p ⎞
τ ij + βT ⎜⎜ + u i ⎟
∂xi ⎝ ∂t ∂xi ⎟⎠
63

∂ ( ρu i u i / 2 ) ∂ (u j ρu i u i / 2 ) ∂σ ji
+ = ρu i g i + u i (2.106
∂t ∂x j ∂x j

σ ij = pδ ij + τ ij (2.107

2.7.2 Decomposição de Reynolds

Reynolds propôs que uma grandeza instantânea pode ser decomposta numa parte
média mais uma parte flutuante devido o efeito da turbulência, na forma:

φ = φ +φ′ (2.108)

na qual a parte média pode ser definida de várias formas. Uma média que normalmente
é definida é media no tempo

G lim 1 t0 +t G
φ (x) =

φ ( x , t )dt
t → ∞ t t0
(2.109)

Se tomarmos, por exemplo, a velocidade como grandeza instantânea, para um


período de tempo longo pode-se definir

1 t0 +t G
ui =
t t0∫
u i ( x , t )dt (2.110)

t0 + t t0 +t
G
∫ [u i ( x , t ) − u i ]dt =
∫ ui′dt
1 1
u i′ = (2.111)
t t0 t t0

Portanto

u i′ = 0 (2.112)

G
A variância ou segundo momento de u i′ em x é obtida como
64

t 0 +t
u i′u i′ = u i′ 2 =
1
∫ [ui ( xG, t ) − u i ]2 dt ≠ 0 (2.113)
t t0

A correlação dupla de velocidade ou covariância é obtida como

u i ( x , t ) − u i ][u j ( x , t ) − u j ]dt ≠ 0
t 0 +t
G G
∫ [
1
u i′u ′j = (2.114)
t t0

Algumas regras da decomposição de Reynolds são:

φ = φ (regra da média da média)

φ + ψ = φ + ψ (regra da soma)

φ ′ = 0, φ φ ′ = φ φ ′ = 0 (regra da média da flutuação)

φψ = (φ + φ ′)(ψ + ψ ′)
= φ ψ + φ ψ ′ + φ ′ψ + φ ′ψ ′ (regra do produto)
= φ ψ + φ ′ψ ′ = φ ψ + φ ′ψ ′

∂φ ∂φ ∂φ ∂φ
= , =0⇒ = 0 (regra da derivada)
∂x ∂x ∂t ∂t

2.7.3 Equações Médias de Reynolds de Transporte Turbulento (RANS)

Usando a decomposição de Reynolds nas equações (2.101) e (2.102) e as regras


previamente estabelecidas como conseqüência da definição da média, par um fluido
com massa especifica constante

∂u i
=0 (2.115)
∂xi
65

+
( )
∂ ( ρu i ) ∂ ρu j u i + ρ u ′j u i′
=
∂p
+ ρg i +
∂τ ij
(2.116)
∂t ∂x j ∂xi ∂x j

Devido ao processo de decomposição e média aparece o termo de correlação


dupla de flutuação das velocidades no termo de inércia da equação (2.116). Este termo
é denominado na literatura de tensões de Reynolds é considerado representar o efeito da
turbulência no escoamento. Assim define-se

Rij = ρ u ′j u i′ (2.117)

O fechamento das equações requer a modelagem das tensões de Reynolds, que


em geral são modeladas a ter uma forma similar as tensões viscosas através do conceito
de viscosidade turbulenta. Boussinesq propôs a seguinte modelagem:

1 2
− Rij = − ρ u i′u i′ + μ tτ ij = − ρkδ ij + τ ijt (2.118)
3 3

na qual

⎛ ∂u i ∂u j ⎞
τ ijt = μ t ⎜⎜ + ⎟ (2.119)
⎝ ∂x j ∂xi ⎟⎠

A equação (2.102) pode então ser reescrita como

∂ ( ρu i ) ∂ (ρu j u i ) ∂ ( p + ρ 2k / 3) ∂ ⎛ ⎛ ∂u
⎜ ( μ + μ )⎜ ∂u i + j
⎞⎞
⎟⎟
+ =− + ρg i + t ⎜ (2.120)
∂t ∂x j ∂xi ∂x j ⎜ ⎟⎟
⎝ ⎝ ∂x j ∂xi ⎠⎠

As hipóteses simplificadoras de camada limite permitem escrever, no caso de


escoamento turbulento sobre uma placa plana, o conjunto de equações

∂u ∂v
+ =0 (2.121)
∂x ∂y
66

∂u ∂u 1 dp ∂ ⎡ ∂u ⎤
u +v =− + ⎢(ν + ν t ) ⎥ (2.122)
∂x ∂y ρ dx ∂y ⎣ ∂y ⎦

∂T ∂T ∂ ⎡⎛ ν t ⎞ ∂T ⎤
u +v = ⎢⎜⎜α + ⎟ ⎥ (2.123)
∂x ∂y ∂y ⎣⎝ Prt ⎟⎠ ∂y ⎦

A determinação da viscosidade turbulenta (eddy viscosity) é assunto de modelos


de turbulência e incluem modelos algébricos, modelos a uma equação, modelos a duas
equações, modelos de tensões algébricas e equações de transporte para as tensões de
Reynolds.
Entre modelos algébricos tem-se o modelo do comprimento de mistura de
Prandtl no qual se define a viscosidade turbulenta como

∂u
νt = l2 (2.124)
∂y

com o comprimento de mistura definido, por exemplo, na forma

l = ky (2.125)

e a constante de von Karman, k = 0,4 .


Uma vez conhecida a viscosidade turbulenta pode-se definir a tensão aparente e
o fluxo de calor aparente

∂u ∂u ∂u
τ ap = τ mol + τ t = μ + ρν t = ρ (ν + ν t ) (2.126)
∂y ∂y ∂y

∂T ν ∂T ∂T
′′ = q mol
q ap ′′ + qt′′ = − k − ρc p t = −(k + ρc pα t ) (2.127)
∂y Prt ∂y ∂y

Um esquema da estrutura da camada limite turbulenta é apresentado na Figura


2.5
67

Figura 2.5. Estrutura da camada limite turbulenta

2.7.4 Camada Limite Hidrodinâmica

O perfil de velocidade na camada limite turbulenta é conhecido como lei de


parede. Uma Lei de Parede bem conhecida na literatura é

⎧ y + (subcamada viscosa,ν >> ν t )



u+ = ⎨1 (2.128)
⎪ ln( y ) + B (subcamada completamente turbulenta, ν t >> ν )
+

⎩k

na qual B = 5,5 , k = 0,41 e as coordenadas de parede são definidas como

y u
y + = ut ; u+ = (2.129)
ν ut

u t é conhecida como velocidade de atrito sendo definida como

τ w, x
ut = (2.130)
ρ
68

A lei de parede pode ser demonstrada com a seguir. A equação de quantidade de


movimento pode ser escrita na forma alternativa

∂u ∂u dp ∂τ
ρu + ρv + = (2.131)
∂x ∂y dx ∂y

∂u
Admitindo que próximo à parede ρu = 0 , u = u ( y ) e v = v0 , então
∂y

du dp dτ
ρv0 + = (2.132)
dy dx dy

Na parede, y = 0; u = 0; τ = τ w, x . Integrando a equação (2.132) de 0 a y obtém-se

dp
τ − τ w , x = ρv 0 u + y (2.133)
dx

a qual pode ser rearranjada como

τ ρv0 u dp y
= 1+ + (2.134)
τ w, x τ w, x dx τ w, x

A equação (2.134) pode ser modificada introduzindo nela a velocidade de atrito.


Sabe-se que

τ w, x u
= c f ∞ = u t2 (2.135)
ρ 2

Definindo as seguintes variáveis adimensionais


69

y τ w, x / ρ yu ∞ c f / 2 u u / u∞ v v /u
y + = ut =y = ; u+ = = ; v0+ = 0 = 0 ∞ ;
ν ν ν ut cf /2 ut cf /2

μdp / dx
p+ = (2.136)
ρ 1 / 2τ w3 ,/x2

e substituindo na equação 2.134 obtém-se

τ
= 1 + v0+ u + + p + y + (2.137)
τ w, x

Pode-se verificar, imediatamente, que no caso p + = 0 e v 0+ = 0

τ
=1 (2.138)
τ w, x

como

τw
= (ν + ν t )
du
(2.139)
ρ dy

obtém-se para a subcamada viscosa, onde ν >> ν t

τw du

ρ dy

τw
du = dy
μ

τw
∫ ∫ dy
u y
du =
o μ 0

τw
u= y
μ
70

τw
u= y
μ
u τw y 1 y u t2 u t y
= = =
ut ρ ν ut ν ut ν

⎧⎪u + ≤ 10,8
u+ = y+ ⎨ + (2.140)
⎪⎩ y ≤ 10,8

Na subcamada completamente turbulenta, ν t >> ν , então

τw du
=νt
ρ dy

usando o comprimento de mistura de Prandtl, a viscosidade turbulenta fica na forma

du du
νt = l2 = k 2 y2 (2.141)
dy dy

A tensão de cisalhamento na parede será então definida por

2
τw ⎛ du ⎞ du τw 1
= k 2 y 2 ⎜⎜ ⎟⎟ ⇒ = (2.142)
ρ ⎝ dy ⎠ dy ρ ky

Nas variáveis adimensionais resulta

du + 1
+
= +
dy ky

u+ y+
dy +
∫ ∫
+
du = +
10 ,8 10 ,8 ky

1 ⎛ y+ ⎞
u + − 10,8 = ln⎜ ⎟
k ⎜⎝ 10,8 ⎟⎠
71

u + = 2,44 ln y + + 5 ( ) (2.143)

Na literatura aprecem outras leis de parede, uma delas é Lei de Potência 1/7 de
Prandtl que propôs

u + = 8,7 y + ( ) 1/ 7
ou

1/ 7
u ⎛u y⎞
= 8,7⎜ t ⎟ (2.144)
ut ⎝ ν ⎠

que se supõe ser válida também em y = δ , onde u = u8 , resultando

⎛u δ ⎞
1/ 7
u∞
= 8,7⎜ t ⎟ ou
ut ⎝ ν ⎠

1/ 7
u∞ ⎛δ ⎛ τ w, x ⎞
1/ 2

= 8,7⎜ ⎜⎜ ⎟⎟ ⎟ (2.145)
(τ w, x / ρ)
1/ 2 ⎜ν
⎝ ⎝ ρ ⎠ ⎟

Pelo método integral pode-se obter

d ⎛ δ ⎞ τ w, x
dx ⎝ 0 ∫
⎜ u (u − u ∞ )dy ⎟ =
⎠ ρ
(2.146)

Inserindo o perfil de velocidade da equação (2.144) na equação (2.146), resulta para


tensão na parede a equação:

−1 / 5
τ w, x 1 ⎛ u∞ x ⎞
= c f , x u ∞ = 0,0296⎜
2
⎟ (2.147)
ρ 2 ⎝ ν ⎠

Daí resulta para a tensão média e espessura da camada limite, as correlações:


72

τ w, L = 0,037 ρu ∞2 Re −L1 / 5 (2.148)

−1 / 5
δ ⎛u x⎞
= 0,37⎜ ∞ ⎟ (2.149)
x ⎝ ν ⎠

2.7.5 Camada Limite Térmica

O fluxo de calor aparente foi definido como

∂T
q w, x = −(k + ρc pα t ) (2.150)
∂y

O coeficiente de transferência de calor pode ser definido como

q w, x
h( x ) = (2.151)
Tw − T∞

Dividindo a tensão de parede, equação (2.139) pelo fluxo de calor (2.150) resulta

τ w, x ρ (ν + ν t ) du
= (2.152)
q w, x ρc p (α + α t ) dT

No caso particular de α = ν , α t = ν t o que é equivalente de se ter Pr = 1 e Prt = 1 ;


resulta

1 du τ w, x
= (2.153)
c p dT q w, x

Na parede, y = 0; u = 0, T = Tw . Em y → ∞; u = u ∞ , T = T∞ . Portanto

1 u∞ τ w, x
= (2.154)
c p (Tw − T∞ ) q w, x
73

Define-se o número de Stanton como

h( x ) q w, x τ w, x
St x = = = (2.155)
ρc p u ∞ ρc p u ∞ (Tw − T∞ ) ρu ∞2

ou

Nu x Nu x
St x = = (2.156)
Pe x Re x Pr

No caso de Pr = 1 e Prt = 1 , obtém-se a equação

1
St x = c f ,x (2.157)
2

que é conhecida como Analogia de Reynolds.

No caso de Pr ≠ 1 e para Pr ≥ 0,5 Colburn sugeriu a correlação

1
St x Pr 2 / 3 = c f ,x (2.158)
2

Neste caso o Nusselt local fica na forma

1
Nu x = c f , x Re x Pr 1 / 3 = 0,0296 Re 4x / 5 Pr 1 / 3 (2.159)
2

conhecida como Analogia de Colburn entre atrito e transferência de calor.


O coeficiente médio de transferência de calor pode ser definido na forma

∫ ∫
1 xtr 1 L
hL = hx ,lam dx + hx ,turb dx (2.160)
L 0 L xtr

O número de Nusselt global ficara na forma


74

Nu L =
hL L
k
(
= 0,664 Pr 1 / 3 Re1x/tr2 + 0,037 Pr 1 / 3 Re 4L / 5 − Re 4xtr/ 5 ) (2.161)

Se Re xtr = 5 x10 5 , então

( )
N u L = 0,037 Pr 1 / 3 Re 4L / 5 − 23550 ; 5 x10 5 < Re L < 10 8 , Pr ≥ 0,5 (2.162)

Para Re L < 5 x10 5

N u L = 0,664 Pr 1 / 3 Re1L/ 2 (2.163)

A Figura 2.7 ilustra a variação do coeficiente de transferência de calor com x para


escoamentos laminares e turbulentos.

Figura 2.7. Coeficiente local de transferência de calor


75

3. Convecção Forçada no Interior de Dutos

Neste item serão considerados escoamentos internos em dutos e canais com


convecção térmica forçada. Os escoamentos podem ser laminares ou turbulentos e
podem ocorrer as seguintes combinações: 1) escoamento laminar hidrodinâmica e
termicamente desenvolvidos; 2) escoamento laminar hidrodinamicamente desenvovido
e termicamente em desenvolvimento; 3) escoamento laminar com desenvolvimento
simultâneo e 4) escoamentos turbulentos

3.1 Escoamento laminar num tubo com simetria axial

Considere o problema ilustrado na Figura 3.1. Um fluido com velocidade U e


temperatura T0 entra num tubo de raio rw , de comprimento L, cuja temperatura de

parede é mantida à temperatura Tw . O escoamento se desenvolve hidrodinamicamente e


se a temperatura de parede for diferente da temperatura do fluido haverá troca de calor e
o desenvolvimento do perfil de temperatura.

Figura 3.1 Escoamento laminar num tubo.


76

Em coordenadas cilíndricas, sob hipótese de regime permanente, propriedades


constantes e simetria axial, este escoamento pode ser modelado pelo conjunto de
equações a seguir, já simplificadas:

1) Equação de Continuidade

∂u 1 ∂ (rv )
+ =0 (3.1)
∂z r ∂r

2) Equações e Quantidade de Movimento em z e r

∂u ∂u 1 ∂p ⎛ ∂ 2 u 1 ∂ ⎛ ∂u ⎞ ⎞
z: u +v =− + ν ⎜⎜ 2 + ⎜ r ⎟ ⎟ + Fz ; (3.2)
∂z ∂r ρ ∂z ⎝ ∂z r ∂r ⎝ ∂r ⎠ ⎟⎠

∂v ∂v 1 ∂p ⎛ ∂ 2 v ∂ 2 v 1 ∂v v ⎞
r: u +v =− + ν ⎜⎜ 2 + 2 + − ⎟ + Fr (3.3)
∂z ∂r ρ ∂r ⎝ ∂z ∂r r ∂r r 2 ⎟⎠

3) Conservação de Energia Térmica

∂T ∂T ⎛ ∂ 2T 1 ∂ ⎛ ∂T ⎞ ⎞
u +v = α ⎜⎜ 2 + ⎜r ⎟ ⎟ + q ′′′ (3.4)
∂z ∂r ⎝ ∂z r ∂r ⎝ ∂r ⎠ ⎟⎠

As condições de escoamento completamente desenvolvido podem ser expressas


por:

v=0
u = u (r ) (3.5)
p = p( z )

Desta forma a Eq. (3.2) pode ser simplificada resultando

dp ⎛ d 2 u 1 du ⎞
= μ ⎜⎜ 2 + ⎟. (3.6)
dz ⎝ dr r dr ⎟⎠
77

A Eq. (3.6) implica que ambos os lados devem ser iguais a uma constante, ou
seja,

dp ⎛ d 2 u 1 du ⎞
= cons tan te = μ ⎜⎜ 2 + ⎟ (3.7)
dz ⎝ dr r dr ⎟⎠

Se o comprimento de desenvolvimento for muito menor do que o comprimento do tubo,


Le << L , pode-se aproximar o gradiente de pressão como

dp ΔP p − pL
=− =− 0 (3.8)
dz L L

As condições de contorno para solução da Eq. (3.7) são:

u = 0; r = rw
du (3.9)
= 0; r = 0
dr

Portanto, a solução da Eq. 3.7 é da forma:

rw2 ⎛ dp ⎞ ⎡ ⎛ r ⎞ ⎤
2

u= ⎜ − ⎟ ⎢1 − ⎜ ⎟ ⎥ (3.10)
4 μ ⎝ dz ⎠ ⎢ ⎜⎝ rw ⎟⎠ ⎥
⎣ ⎦

A velocidade média é definida

rw2 ⎛ dp ⎞ ⎡ ⎛ r ⎞ ⎤
2

∫ ∫
rw
1 1
U= u (r )dA = 2 ⎜ − ⎟ ⎢1 − ⎜ ⎟ ⎥ 2πrdr (3.11)
A A πrw 4 μ ⎝ dz ⎠ ⎢ ⎜⎝ rw ⎟⎠ ⎥
⎣ ⎦
0

Efetuando a integral na Eq. (3.11), resulta

rw2 ⎛ dp ⎞
U= ⎜− ⎟ (3.12)
8μ ⎝ dz ⎠
78

Substituindo a Eq. (3.12) na Eq. (3.10) obtém o perfil de velocidade do escoamento


completamente desenvolvido, na forma:

u ⎡ ⎛ r ⎞2 ⎤
= 2 ⎢1 − ⎜⎜ ⎟⎟ ⎥ (3.13)
U ⎢⎣ ⎝ rw ⎠ ⎥⎦

3.2 Escoamento laminar em um canal de placas paralelas

Um canal de placas paralelas possui a largura muito maior do que o espaçamento


entre as placas. Uma análise similar a que foi para o tubo leva ao seguinte resultado para
o perfil de velocidade

u 3⎡ ⎛ y⎞ ⎤
2

= ⎢1 − ⎜ ⎟ ⎥ (3.14)
U 2 ⎢⎣ ⎝ h ⎠ ⎦⎥

em que a velocidade média é dada por

U=
(2h ) ⎛ dp ⎞
2

⎜ ⎟ (3.15)
12μ ⎝ dx ⎠

e h é metade do espaçamento entre as placas.

3.3 Fator de atrito de Fanning e Queda de Pressão

A tensão na parede é definida por, no caso do escoamento laminar no tubo,


como

⎛ du ⎞ U
τ w = μ⎜ − ⎟ = 4μ (3.16)
⎝ dr ⎠ r = rw rw

O fator de atrito de Fanning é definido por


79

τw 4 μU 1 16 16
f = = = = (3.17)
1 rw 1 ρUD Re D
ρU 2 ρU 2
2 2 μ

ρUD
com Re D = . Na literatura também aparece o fator de atrito de Darcy-Weisbach
μ

64
f * = 4f = (3.18)
Re D

Em dutos de seção não circular define-se o diâmetro hidráulico na forma

4A ⎧ A = área da seção transversal


Dh = ⎨ (3.19)
P ⎩P = perímetro molhado

Alguns casos de dutos não circular são:


a) duto de seção quadrada; Dh = a (onde a é o lado do quadrado)

8
b) duto de seção retangular, a × 4a ; Dh = a (onde a é o comprimento do menor
5
lado)
c) canal de placas paralelas; Dh = 2a (onde a é o espaçamento entre as placas)

a
d) triângulo equilátero; Dh = ( onde a é o lado do triângulo)
3

A queda de pressão no duto ou tubo pode ser calculada a partir de um balanço de


forças

ΔpA = τ w PL

L 1
Δp = f ρU 2
A/ P 2

L 1
Δp = 4 f ρU 2 (3.20)
Dh 2
80

Em geral o fator de atrito pode ser definido na forma:

C
f = (3.21)
Re Dh

na qual C depende da forma da seção transversal do duto. Re Dh = UDh / ν . Na

literatura encontra-se correlações do tipo

C ≅ 16 exp(0,294 B 2 + 0,068B − 0,318) (3.22)

πDh2 / 4
com B = .
A

Ex. 3.1 Calcule ΔP / L para escoamento de água a 20oC num tubo de D=2,7 cm e
U = 6 cm/s. Determine também p comprimento da região de entrada. Compare com o
comprimento adotado na prática ( Le = 0,05D Re D ).

3.3 Transferencia de Calor em Escoamento Laminar - Entrada Térmica

No caso de escoamentos internos define-se a temperatura média de mistura na


forma

1
ρ c pUA ∫A
Tm = ρ c p uTdA (3.23)

O coeficiente de transferência de calor pode então ser definido como

q ′w′
h= (3.24)
Tw − Tm

No caso de escoamento completamente desenvolvido termicamente num tubo


tem-se
81

∂T Tw − Tm
≈ (3.25)
∂r r = rw rw

Um balanço de energia num elemento de fluido de comprimento dz resulta

∫ ρu(i
A
z + dz − i z )dA = q ′w′ Pdz

∫ ρuc dTdA = q′′ Pdz


A
p w

d ( ∫ ρ c uTdA) = q′′ Pdz


A
p w

dTm P q ′w′
= (3.26)
dz A ρc p U

No caso de tubo resulta

dTm 2 q ′w′ hπD(Tw − Tm )


= = (3.27)
dz rw ρc pU m c p

A equação de energia em escoamento completamente desenvolvido


hidrodinâmica e termicamente é:

∂T 1 ∂ ⎛ ∂T ⎞
ρc p u (r ) =k ⎜r ⎟ (3.28)
∂z r ∂r ⎝ ∂r ⎠

Uma análise de ordem de grandeza dos termos nesta equação mostra que

1 q ′w′ ΔT k
ρc pU ≈ k 2 ou h ≈ (constante) (3.29)
rw ρc pU rw rw
82

hDh
Como o número de Nusselt é definido por Nu Dh = , então, Nu D ≈ O(1) .
k

Para satisfazer a condição de h constante o perfil de temperatura deve ser da


forma:

⎛ r ⎞
T (r , z ) = Tw ( z ) − [Tw ( z ) − Tm ( z )]φ ⎜⎜ ⎟⎟ (3.30)
⎝ rw ⎠

na qual φ é uma função apenas de r. No caso de parede com fluxo de calor uniforme
resulta

dTw dTm
= (3.31)
dz dz

∂T dTw dTm
= = (3.32)
∂z dz dz

Neste caso, pode-se obter

u (r ) q ′w′ 1 d ⎛ dφ ⎞
=− ⎜r ⎟ (3.33)
U krw ΔT r dr ⎝ dr ⎠

Com

u ⎡ ⎛ r ⎞2 ⎤
= 2 ⎢1 − ⎜⎜ ⎟⎟ ⎥ e
U ⎢⎣ ⎝ rw ⎠ ⎥⎦

φ (rw ) = 0
(3.34)
φ ′(0) = 0 ( simetria )
83

resulta a solução da Eq. (3.33) na forma

q ′′ r ⎡ 3 ⎛ r ⎞2 1 ⎛ r ⎞4 ⎤
φ (r ) = w w ⎢ − ⎜⎜ ⎟⎟ + ⎜⎜ ⎟⎟ ⎥ (3.35)
kΔT ⎢⎣ 4 ⎝ rw ⎠ 4 ⎝ rw ⎠ ⎥

Assim com fluxo de calor constante na parede resulta o número de Nusselt

Nu D = 48 / 11 = 4,364 (q ′w′ = cte ) (3.36)

Churchill & Ozoe propuseram uma expressão válida tanto para o comprimento
de entrada quanto para a região completamente desenvolvida:

1/ 3
⎧ ⎡ ⎤
3/ 2

Nu D ⎪ Gz / 19,04 ⎪
= ⎨1 + ⎢ ⎥ ⎬
[ ] [ ] [ ]
(3.37)
4,364 1 + (Gz / 29,6 ) ⎪⎩ ⎢⎣ 1 + (Pr/ 0,0207 ) 1 + (Gz / 29,6 )
2 1/ 6 2 / 3 1/ 2 1/ 3
2
⎥⎦ ⎪⎭

na qual Gz é o número de Graetz definido como

−1
πD 2U π ⎛ z / D ⎞
Gz = = ⎜⎜ ⎟ (3.38)
4αz 4 ⎝ Re D Pr ⎟⎠

Para parede isotérmica o fluxo de calor é calculado como

q ′w′ = h(Tw − Tm (z ) ) (3.39)

e o gradiente da temperatura média de mistura será:

dTm
=
2h
[Tw − Tm ( z )] (3.40)
dz rw ρc pU

Integrando a Eq. (3.40) de z1 onde Tm = Tm ,1 , obtém-se


84

Tw − Tm ( z ) ⎡ 2h( z − z1 ) ⎤
= exp ⎢− ⎥ (3.41)
Tw − Tm,1 ⎣⎢ rw ρc pU ⎦⎥

No caso de temperatura uniforme na parede do tubo, o número de Nuselt do


escoamento completamente desenvolvido será

Nu D = 3,66 (3.42)

e o fluxo de calor na parede pode ser calculado como

⎡ 3, 66α ( z − z1 ) ⎤
qw′′ = 3, 66
k
( Tw − Tm,1 ) exp ⎢ −
rw2U
⎥ (3.43)
D ⎣ ⎦

Ex. 3.2 Uma corrente de água à temperatura ambiente é aquecida quando escoa através
W
de um tubo com fluxo de calor uniforme na parede q ′w′ = 0,1 . O escoamento é
cm 2
completamente desenvolvido hidrodinamica e termicamente. A vazão mássica é
m = 10 g / s e o raio do tubo é rw = 1 cm . As propriedades da água na temperatura são

g W
μ = 0,01 e k = 0,006 . Calcule a) a velocidade média U; b)o número de
cm ⋅ s cm ⋅ K
Reynolds baseado no diâmetro; c) o coeficiente de troca de calor h e d) a diferença entre
a temperatura local de parede e a temperatura média local.

3.4 Escoamentos Turbulentos

A maioria dos escoamentos ocorrendo na natureza e em aplicações industriais


são turbulentos. No caso de escoamento em tubo de seção circular a transição de
escoamento laminar para turbulento ocorre para número de Reynolds em na faixa de
2000 a 2300. Geralmente, considera-se
85

⎧ até ≅ 2000 (laminar)



Re D = ⎨2000 a 2300 (transição)
⎪> 2300 (turbulento)

As equações para análise de escoamentos turbulentos são as equações médias de


Reynolds, que no caso do escoamento no tubo são:

1) Equação de Continuidade

∂u 1 ∂ (rv )
+ =0 (3.44)
∂z r ∂r

2) Equações e Quantidade de Movimento em z e r

∂u ∂u 1 ∂p 1 ∂ ⎡
z: u +v =− + ⎢ (ν + ν t )r ∂u ⎤⎥ + ∂ ⎡⎢(ν + ν t ) ∂u ⎤⎥ + Fz ; (3.45)
∂z ∂r ρ ∂z r ∂r ⎣ ∂r ⎦ ∂z ⎣ ∂z ⎦

∂v ∂v 1 ∂p 1 ∂ ⎡ ∂v ⎤ ∂ ⎡ ∂v ⎤
r: u +v =− + (ν + ν )r − (ν + ν ) v
+ (ν + ν ) + Fr
∂z ∂r ρ ∂r r ∂r ⎢⎣ ∂r ⎥⎦ ∂z ⎢⎣ ∂z ⎥⎦
t t 2 t
r
(3.46)
3) Conservação de Energia Térmica

∂T ∂T 1 ∂ ⎡ ⎤ ∂ ⎡ ∂T ⎤
u +v = ⎢ (α + α t )r ∂T ⎥ + ∂z ⎢(α + α t ) ∂z ⎥ (3.47)
∂z ∂r r ∂r ⎣ ∂r ⎦ ⎣ ⎦

No caso de considerar o conceito de camada limite, pode-se definir a tensão e o


fluxo de calor aparentes como

∂u ∂u
τ ap = − μ − ρν t (3.48)
∂r ∂r

∂T ∂T
q ap = −k − ρc pα t (3.49)
∂r ∂r
86

O perfil de velocidade e a tensão aparente são ilustradas na Figura 3.2

Figura 3.2. Perfil de velocidade turbulento e tensão aparente.

No caso do escoamento turbulento ser completamente desenvolvido


hidrodinâmica e termicamente tem-se

v =0
u = u (r ) (3.50)
p = p( z)

As equações de quantidade de movimento e energia ficam na forma simplificada

1 dp 1 ∂ (rτ ap )
0=− − (3.51)
ρ dz ρr ∂r

u
∂T
=
1 ∂
∂z ρc p r ∂r
rq ap [ ] (3.52)

Integrando a Eq. (3.51) obtém-se

∫ ∫
rw rw
dp
0= rdr + d (rτ ap )
0 dz 0
87

dp rw2
+ rwτ w = 0
dz 2

dp 2τ w
− = (3.53)
dz rw

Substituindo a Eq. (3.53) em (3.51) e integrando até um r genérico resulta

τ ap r
= (3.54)
τ w rw

Bem próximo da parede, τ ap ≅ τ w e com as coordenadas de parede, u + = u / (τ w / ρ )


1/ 2
,

y+ =
y
(τ w / ρ )1 / 2 resulta
ν

⎧ y + se ν >> ν t

u+ = ⎨1 (3.55)
⎪ ln( y ) + B se vt >> ν
+

⎩k

ou

u + = 8,7 y +( ) 1/ 7
(3.56)

Para calcular o fator de atrito e a queda de pressão no tubo, pode-se, por


exemplo, integrar a Eq. (3.56). A velocidade média no, caso será

∫ ∫
rw
1
U= dθ u rdr (3.57)
πrw2 0 0

A velocidade no centro do tubo ( r = 0 ) é u = u c . Assim obtém-se

1/ 7
uc ⎡r ⎛τ w ⎞
1/ 2

= 8,7 ⎢ w ⎜⎜ ⎟⎟ ⎥ (3.58)
(τ w / ρ )1 / 2 ⎢⎣ ν ⎝ ρ ⎠ ⎥⎦
88

τw
Da definição do fator de atrito, f = resulta
1
ρU 2
2

1/ 2
⎛τ w ⎞
1/ 2
⎛f⎞
⎜⎜ ⎟⎟ = U⎜ ⎟ (3.59)
⎝ ρ ⎠ ⎝2⎠

Combinando as Eqs. (3.58) e (3.59) pode-se mostrar que

0,079
f ≅ ; 2 x10 3 < Re D < 2 x10 4 (3.60)
(Re D ) 1/ 4

Existem na literatura várias correlações para cálculo do fator de atrito. Para


tubos lisos e altos números de Reynolds tem-se

0,046
f ≅ ; 2 x10 4 < Re D < 2 x10 6 (3.61)
(Re D ) 1/ 5

A correlação de Karman-Nikuradse é do tipo

1
1/ 2
= 1, 737 ln( f 1/ 2 Re D ) − 0,396 (3.62)
f

Para tubos rugosos e altos números de Reynolds tem-se

1
f = 2
(3.63)
⎡ ⎛D⎞ ⎤
⎢1,74 ln⎜⎜ ⎟⎟ + 2,28⎥
⎣ ⎝ ks ⎠ ⎦

na qual k s é a rugosidade da parede do tubo.

A eq. (3.52) também pode ser integrada resultando


89

∂T

r
2π ρc p u rdr = 2πrq ap (3.64)
0 ∂z

Para r = rw , resulta

∂T

rw
ρc p u rdr = rw q ′w′ (3.65)
0 ∂z

Combinando as Eqs. (3.64) e (3.65) resulta

q ap r
=M (3.66)
q ′w′ rw

em que

∂T

r
1
u rdr
M = r
2
0 ∂z (3.67)
∂T

rw
1
u rdr
rw2 0 ∂z

∂T
Se q ′w′ é independente de z, é independente de r, a Eq. (3.67) fica então na forma
∂z

∫ u rdr
r
1
2
M = r 0
(3.68)
∫ u rdr
rw
1
rw2 0

O perfil de velocidade u (r ) é quase plano, desta forma, M ≅ 1 , obtendo-se a


relação do calor aparente para o calor da parede

q ap r
≅ (3.69)
q ′w′ rw
90

Para r ≤ rw , q ap = cte = q ′w′ . O coeficiente de troca de calor pode ser calculado pela

analogia entre transferência de quantidade de movimento e transferência de calor.


Sabe-se o número de Stanton e definido como

h 1
St = = f / Pr 2 / 3 ; Pr ≥ 0,5 (3.70)
ρc pU 2

Para tubos lisos resulta a correlação para cálculo do coeficiente de transferência


de calor

hD
Nu D = = 0,023 Re 4D/ 5 Pr 1 / 3 ; 2 x10 4 < Re D < 10 6 (3.71)
k

Uma correlação muito utilizada é a de Dittus-Boelter:

⎧2500 < Re D < 1,24 x10 5



⎪0,7 < Pr < 120
hD ⎪
Nu D = = 0,023 Re 4D/ 5 Pr n ; ⎨ L / D > 60 (3.72)
k ⎪n = 0,4 se T > T
⎪ w m

⎪⎩n = 0,3 se Tw < Tm

Na correlação de Dittus-Boelter, as propriedades são avaliadas a Tm . Para aplicações em


que a influência da temperatura sobre as propriedades é significante, Sieder & Tate
propuseram

0, 4
hD 1/ 3 ⎛ μ ⎞ ⎧Re D > 10 4
Nu D = = 0,027 Re D Pr ⎜
4/5
⎜ ⎟
⎟ ; ⎨0,7 < Pr < 16700 (3.73)
k ⎝ μw ⎠ ⎩

com as propriedades avaliadas a Tm , exceto μ w que é avaliada na temperatura de

parede Tw .
A correlação mais acurada é de Gnielinski (1976) na forma:
91

Nu D =
hD
=
( (
f / 2) Re D − 10 3 Pr )
⎪⎧2300 < Re D < 5 x10
; ⎨
6

( )
(3.74)
1 + 12,7( f / 2) Pr 2 / 3 − 1 ⎪⎩0,5 < Pr < 10 6
1/ 2
k

Na Eq. (3.74) o fator de atrito é obtido do Diagrama de Moody, Figura 3.3

Figura 3.3. Fator de atrito para escoamento laminar e turbulento completamente


desenvolvido em um tubo.

Outras correlações alternativas, propostas por Gnielinski, a Eq. (3.74) aparecem


na literatura, são elas:

⎧10 4 ≤ Re D ≤ 5 x10 6
Nu D =
hD
(
= 0,0214 Re D − 100 Pr ; ⎨
0 ,8 0, 4
) (3.75)
k ⎩0,5 ≤ Pr ≤ 1,5

⎧3 x10 3 ≤ Re D ≤ 10 6
= 0,012(Re 0D,8 − 280)Pr 0, 4 ; ⎨
hD
Nu D = (3.76)
k ⎩1,5 ≤ Pr ≤ 500

Para metais líquidos são recomendadas as correlações, Notter & Sleicher (1972)
92

hD ⎪⎧6,3 + 0,0167 Re D Pr ; (q ′w′ = cte ) ⎧0,004 < Pr < 01


0 ,85 0 , 93

Nu D = =⎨ ; ⎨ (3.77)
k ⎪⎩4,8 + 0,0156 Re 0D,85 Pr 0,93 ; (Tw = cte ) ⎩10 4 < Re D < 10 6

com as propriedades avaliadas a Tm .

3.5 Variação da temperatura média de mistura

A variação da temperatura média de mistura para parede isotérmica e fluxo e


fluxo de calor uniforme na parede é ilustrada na Figura 3.4

Figura 3.4. Variação da temperatura média de mistura: esquerda, Tw = cte ; direita,

q ′w′ =cte.

Para calcular as propriedades é recomendável fazer Tm = (Te + Ts ) / 2 , em que Te = Tm ,e

e Ts = Tm , s

Ex. 3.3 O tubo interno de um trocador de calor coaxial usado para extração de energia
geotérmica tem diâmetro de 16 cm. O material do tubo é aço comercial. Numa certa
localidade ao longo do tubo, a temperatura média da corrente de água é 80oC. Ofluxo de
água é de 100 ton/h. Calcule a queda de pressão por unidade de comprimento.

3.6 Taxa total de transferência de calor

Bejan propõe calcular a taxa total de transferência de calor na forma:

q = hAw ΔTlm (3.78)


93

Para escoamento turbulento completamente desenvolvido com parede isotérmica,


ΔT = Tw − Tm decresce exponencialmente na direção jusante, entre um certo valor na

entrada do tubo e o menor valor na saída do tubo. Se ΔTe = Tw − Te e ΔTs = Tw − Ts ,

ΔTlm está entre ΔTe e ΔTs . Também a taxa de calor pode ser calculada como

q = m c p (Ts − Te ) = m c p [(Tw − Te ) − (Tw − Ts )] = m c p (ΔTe − ΔTs ) (3.79)

O fluxo de calor na parede pode ser estimado como

q ′w′ = h(Tw − Tm ) (3.80)

dTm P q ′w′
como = , obtém-se
dz A ρc pU

dTm P h
= dz (3.81)
Tw − Tm A ρc pU

a qual integrada entre z = 0; (Tm = Te ) e z = L; (Tm = Ts ) resulta

⎛ T − Te ⎞ hPL
ln⎜⎜ w ⎟⎟ = ou
⎝ Tw − Ts ⎠ ρUAc p

⎛ ΔT ⎞ hA
ln⎜⎜ e ⎟⎟ = w (3.82)
⎝ ΔTs ⎠ m c p

Comparando as Eqs. (3.79) e (3.82) pode-se concluir que

ΔTe − ΔT
ΔTlm = (3.83)
⎛ ΔT ⎞
ln⎜⎜ e ⎟⎟
⎝ ΔTs ⎠
94

que é denominada de diferença média logarítmica de temperatura. Alternativamente a


taxa total de transferência de calor pode ser calculada como

⎡ ⎛ − hAw ⎞⎤
q = m c p ΔTe ⎢1 − exp⎜ ⎟⎥ (3.84)
⎜  ⎟⎥
⎣⎢ ⎝ m c p ⎠⎦


Se o coeficiente h = h( z ) , então h = h( z )dz / L .
L

Pode-se verificar imediatamente que no caso de fluxo de calor uniforme na


parede:

ΔTlm = ΔTe = ΔTs

ΔTe
que é um caso especial da Eq. (3.83) quando → 1.
ΔTs
95

3.7 Experimento 01: Convecção Forçada em Dutos

O objetivo nesta primeira experiência é determinar o coeficiente de transferência


de calor por convecção forçada, h, o número de Reynolds e uma correlação para o
número de Nusselt, Nu = f (Re, Pr) , para escoamento no interior de dutos.
O aparato experimental consiste de um tubo com aquecimento por resistência
elétrica (efeito Joule) equipado com um medidor de vazão do tipo placa de orifício e
doze termopares: um para medir a temperatura na entrada do tubo, outro parta medir a
temperatura na saída do tubo e dez termopares para medir as temperaturas em dez
pontos na superfície do tubo. A resistência é enrolada em torno do tubo e o conjunto é
isolado termicamente do meio externo. O tubo possui um comprimento de 2002 mm e a
resistência elétrica possui comprimento de 1830 mm. Os diâmetros interno e externo do
tubo são 32 e 38 mm respectivamente. A razão entre as áreas do furo da placa de
orifício e área da seção transversal do tubo é Ad / Ast = 0, 45 . A Figura 3.5 ilustra o
aparato experimental.

Figura 3.5 – Aparato experimental para medida de h em escoamento de ar. (por mvtn)

No caso, a taxa de transferência de calor constante para ar escoando dentro do


tubo é dada por
q = E⋅I (3.86)
96

Na qual E é a tensão elétrica e I a corrente passando pela resistência.


Consequentemente, o fluxo de calor será
E⋅I
q′′ = (3.87)
π DL

Da definição do coeficiente de transferência de calor

q′′
h= (3.88)
Tw, z − Tm , z

na qual Tw, z é a temperatura da parede na posição z e Tm, z pode ser obtida diretamente

da integração da equação (3.89)

dTm P q ′w′
= (3.89)
dz A ρc p U

resultando, no presente caso, de fluxo de calor constante, a equação

Per qw′′
Tm, z = Tm,e + z (3.90)
c p m

A vazão mássica de ar é determinada como m = ρ arUAst . Pelo uso da placa de


orifício, mede-se a diferença de pressão através da placa de orifício e determina-se a
velocidade no orifício, a partir da Equação de Bernoulli e de conservação da massa, por

1 2Δp 1 2Δp
ud = = ; β =d/D (3.91)
⎡1 − ( Ad / Ast )2 ⎤ ρ ar 1− β 4 ρ ar
⎣ ⎦

A vazão mássica teórica é determinada como m t = ρ ar ud Ad , ou seja

ρ ar 2Δp Ad
m t = Ad = 2 ρ ar Δp (3.92)
1− β 4 ρ ar 1− β 4
97

Pode-se demonstra também que a diferença de pressão está relacionada com diferença
de coluna do fluido manométrico
Δp = p1 − p2 = g ρ agua ΔH (3.93)

Para se calcular a vazão mássica real, multiplica-se a vazão mássica teórica pelo
coeficiente de descarga
Cd Ad
m = Cd m t = 2 ρ ar Δp = Cq Ad 2 ρ ar Δp (3.94)
1− β 4

A velocidade média do escoamento será

Ad 2Δp 2 g ρ agua ΔH
U = Cq = Cq 0, 45 (3.95)
Ast ρ ar ρ ar
O número de Reynolds do escoamento é calculado como

ρ arUD ρ ar DCq 0, 45 2 g ρ agua ΔH


Re D = = (3.96)
μ μ ρ ar
O coeficiente de vazão da placa de orifício é função do Reynolds, por sua vez o
número de Reynolds depende de Cq , desta foram o cálculo de Cq é feito de forma

iterativa, resolvendo a equação, por exemplo, pelo método de Newton-Raphson:


ρ ar DCq ( Re D ) 0, 45 2 g ρ agua ΔH
Re D − =0 (3.97)
μ ρ ar
Calculado o número de Reynolds, determina-se a vazão mássica por
π Dμ Re D
m = (3.98)
4
Portanto, a sequência de cálculo e de medidas é:
ρ ar DCq ( Re D ) 0, 45 2 g ρ agua ΔH
1) Calcula-se Re D : Re D − = 0 ; após medir ΔH e
μ ρ ar

⎛ 60000 − Re ⎞
estimar o coeficiente de vazão: Cq ( Re ) = 0, 67522 + 0, 01164 exp ⎜ ⎟
⎝ 30806,98 ⎠
π Dμ Re D
2) Calcula-se m =
4
Per qw′′
3) Calcula-se a temperatura média de mistura Tm, z = Tm,e + z após calcular
c p m

E⋅I
q′′ = com E e I medidos
π DL
98

4) Mede-se a temperatura Tw, z nas posições: z [m] = 0,06; 0,14; 0,4; 0,6; 0,8; 1,0; 1,2;

1,4; 1,6 1,8


q′′
5) Calcula-se h: h =
Tw, z − Tm , z

hD
6) Calcula-se o número de Nusselt local, para cada vazão medida: Nu, z =
kar
N

∑ Nu, z
7) Calcula-se o número de Nusselt médio, para cada vazão medida: Nu = i =1

N
8) Obtenha uma correlação Nu = Nu ( Re Pr )

9) Compare o Nu experimental com o Nu da literatura.


Os dados medidos podem ser organizados como
med E[V] I[A] ΔH [m] T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10 T11 T12
1 0,144
2 0,135
3 0,124
4 0,113
5 0,104
6 0,094
7 0,084
8 0,075
9 0,064
10 0,053

A curva de calibração dos termopares é da forma

T ⎡⎣ o C ⎤⎦ = 22,819 E [ mV ] + 4, 229
99

3.8 Experimento 02: Trocador de Calor Duplo Tubo

O objetivo nesta experiência é calcular o coeficiente global de transferência de


calor U em um trocador de calor duplo tubo e verificar o princípio de conservação de
energia.
O experimento consiste em medir as temperaturas de entrada e de saída dos
fluidos quente e frio em um trocador de calor de tubos concêntricos, denominado
trocador duplo tubo. O fluido quente escoa no tubo interno e o fluido frio no tubo
externo, podendo o escoamento ser paralelo (mesmo sentido) ou em contra corrente
(sentidos opostos). O aparato experimental é ilustrado na Figura 3.6.

Figura 3.6 – Aparato experimental para medir o coeficiente global de transferência de


calor. (por mvtn)

As dimensões do trocador de calor são: L = 5,2m; Di , q = 0, 0415m ;

De ,q = 0, 048m ; De, f = 0, 089m ; Di , f = 0, 079m

O cálculo do coeficiente global baseia-se na expressão

q = UAΔTlm (3.99)

na qual a diferença média logarítmica de temperatura é estimada como


100

ΔT1 − ΔT2
ΔTlm = (3.100)
ln ( ΔT1 / ΔT2 )

e
ΔT1 = Tq ,e − T f ,e ; ΔT2 = Tq , s − T f , s para o trocador de correntes paralelas;

ΔT1 = Tq ,e − T f , s ; ΔT2 = Tq , s − T f ,e para o trocador de correntes opostas.

Na expressão de cálculo de U, a taxa de calor pode ser estimada como

q f + qq
q=
2

na qual
q f = m f c p , f (T f , s − T f ,e ) ; qq = m q c p ,q (Tq ,e − Tq , s ) . (3.101)

O coeficiente global pode ser baseado ou na área interna ou externa da parede

q = U i Ai ΔTlm = U e Ae ΔTlm (3.102)


Desta forma

q
Ue = ; Ae = π De ,q L . (3.103)
Ae ΔTlm

Pela literatura, U pode ser calculado na forma

1
Ue = (3.104)
Ae A ln ( De / Di ) 1
+ e +
hi Ai 2π kw L he

em que os coeficientes hi e he podem ser estimados pelas correlações de Petukov


(1970) ou Gnielinski (1976).
101

( f / 2 ) ( Re D − 103 ) Pr ⎪⎧0,5 ≤ Pr ≤ 106


Nu D = ; ⎨ (3.105)
1 + 12, 7 ( f / 2 ) ( Pr 2 / 3 − 1) ⎪⎩2300 ≤ Re D ≤ 5 x106
1/ 2

com f obtido do Diagrama de Moody. Duas correlações alternativas são:


⎧0,5 ≤ Pr ≤ 1,5
NuD = 0, 0214 ( Re0,8
D − 100 ) Pr
0,4
; ⎨ 4 (3.106)
⎩10 ≤ Re D ≤ 5 x10
6

⎧1,5 ≤ Pr ≤ 500
NuD = 0, 012 ( Re0,87 − 280 ) Pr 0,4
; ⎨ (3.107)
⎩3 x10 ≤ Re D ≤ 10
D 3 6

As medidas podem ser organizadas na forma

m q [l/h] m f [l/h] T f ,e [K] T f , s [K] Tq ,e [K] Tq , s [K]

800 800
800 700
800 600
800 500
800 400
800 300
102

4. Convecção Natural

4.1 O que causa o escoamento por convecção natural

Figura 4.1 Convecção natural junto a uma parede vertical

Em convecção natural, ou convecção livre, o fluido escoa naturalmente (por si


só) , quando ele é movido pelo efeito do empuxo. Este efeito é distribuído através do
fluido, e associado com a tendência de fluidos para expandir ( ou, em casos especiais de
contrair), quando aquecido a pressão constante. A camada que sente a parede vertical
quente na Figura 4.1 se torna mais leve do que o resto do fluido. Esta leveza força-a a
escoar para cima, para varrer a parede e coletar calor da parede numa maneira que
lembra a camada limite externa vista anteriormente, entretanto, o escoamento é um jato
vertical paralelo à parede, enquanto o restante do fluido longe da parede está estagnado.
É instrutivo mostrar que princípio da termodinâmica é responsável pelo movimento do
fluido em convecção natural. Considere um pequeno pacote de fluido de massa Δm
(sistema fechado) em movimento horário. Próximo a parede aquecida, o pacote fluido é
aquecido por difusão térmica da parede. Δm expande ao atingir altitudes onde a pressão
estática imposta pelo reservatório é mais baixa. A conservação da massa requer que o
escoamento para cima do jato de parede seja complementado por um escoamento para
baixo suficiente do reservatório fluido frio. Assim, o pacote de fluido Δm ,
eventualmente, retorna para a parede aquecida, pelo escoamento para baixo (muito
vagarosamente) através do reservatório. Por último, o pacote fluido é resfriado e
comprimido enquanto desce para níveis de maior pressão. Pode-se que o processo forma
um ciclo: aquecimento-expansão-resfriamento-compressão (ciclo de produção de
103

potência). O trabalho finito realizado por Δm é usado para acelerar e aumentar a


energia cinética de Δm para o ponto onde qualquer trabalho adicional é dissipado
completamente pelo efeito de atrito entre Δm e outros pacotes de fluido com os quais
ele entra em contato. Olhando para o campo inteiro de escoamento como a soma de
pacotes de fluido do tipo Δm , vê-se a roda de um motor térmico movido pela diferença
de temperatura Tw − T∞ .

4.2. Camada Limite ao longo de uma parede vertical

4.2.1 Equações simplificadas da camada limite

Considere o escoamento ilustrado na Figura 4.2. Na Fig. 4.2 estão ilustrados


também os perfis de temperatura e de velocidade no caso de fluidos com altos números
de Prandtl. O coeficiente de transferência de calor pode ser definido como

q w" , y k (∂T / ∂x ) x =0
hy = =− (4.1)
Tw − T∞ Tw − T∞

Figura 4.2 Escoamento laminar sobre uma superfície plana vertical.

As equações governantes do escoamento considerado, sem hipótese de camada


limite, podem ser escritas como a seguir:
104

1) Equação de Continuidade
∂u ∂v
+ =0 (4.2)
∂x ∂y

2) Equações e Quantidade de Movimento em x e y

⎛ ∂u ∂u ⎞ ∂p ⎛ ∂ 2u ∂ 2u ⎞
x: ρ ⎜⎜ u + v ⎟⎟ = − + μ ⎜⎜ 2 + 2 ⎟⎟ ; (4.3)
⎝ ∂x ∂y ⎠ ∂x ⎝ ∂x ∂y ⎠

⎛ ∂v ∂v ⎞ ∂p ⎛ ∂ 2v ∂ 2v ⎞
y: ρ ⎜⎜ u + v ⎟⎟ = − + μ ⎜⎜ 2 + 2 ⎟⎟ − ρg (4.4)
⎝ ∂x ∂y ⎠ ∂y ⎝ ∂x ∂y ⎠

2) Conservação de Energia Térmica

∂T ∂T ⎛ ∂ 2T ∂ 2T ⎞
u +v = α ⎜⎜ 2 + 2 ⎟⎟ (4.5)
∂x ∂y ⎝ ∂x ∂y ⎠

As seguintes condições de contorno se aplicam

u (0, y ) = 0 v(0, y ) = 0 T (0, y ) = Tw


u ( ∞, y ) = 0 v (∞, y ) = 0 T (∞, y ) = T∞ ( y ) (4.6)
u ( x,0) = 0 v ( x ,0 ) = v 0 u ( x,0) = T0 ( x)

Para obter as equações de camada limite, aquela região em que o efeito viscoso é
predominante e grandes gradientes de temperatura ocorrem, uma análise de ordem de
grandeza dos termos das equações (4.2)-(4.5) pode ser realizada como no caso da
camada limite forçada sobre a placa horizontal. Assumindo que δ t é muito menor do y

∂2 ∂2
( δ t << y ) pode-se desprezar em relação a . Também se assume que
∂y 2 ∂x 2

dp ∞
p ( x, y ) ≅ p ( y ) = p ∞ ( y ) e = − ρ ∞ g . As equações de camada limite então se tornam
dy
105

∂u ∂v
(m) + =0 (4.7)
∂x ∂y

⎛ ∂v ∂v ⎞ ∂ 2v
(M) ρ ⎜⎜ u + v ⎟⎟ = μ 2 + (ρ ∞ − ρ )g (4.8)
⎝ ∂x ∂y ⎠ ∂x

∂T ∂T ∂ 2T
(E) u +v =α 2 (4.9)
∂x ∂y ∂x

Tomando a massa específica como uma função da temperatura e pressão


ρ = ρ (T , p) , pode demonstrar que

⎛ ∂ρ ⎞ ⎛ ∂ρ ⎞
ρ ≅ ρ∞ + ⎜ ⎟ (T − T∞ ) + ⎜⎜ ⎟⎟ ( p − p 0 ) + " (4.10)
⎝ ∂T ⎠ p ⎝ ∂p ⎠ T

na qual p 0 é uma pressão de referência. Em processos de convecção, geralmente,

( p − p 0 ) << (T − T∞ ) . Assim, a Eq. (4.10) pode ser escrita como

ρ ≅ ρ ∞ − ρ ∞ β (T − T∞ ) + " (4.11)

ou
ρ ∞ − ρ = ρ ∞ β (T − T∞ ) + " (4.12)

1 ⎛ ∂ρ ⎞
em β = − ⎜ ⎟ é o coeficiente de expansão volumétrica térmica. Geralmente,
ρ ⎝ ∂T ⎠ p

β (T − T∞ ) << 1 . A Eq. (4.8) ode, então ser escrita na seguinte forma:

⎛ ∂v ∂v ⎞ ∂ 2v
ρ ∞ [1 − β (T − T∞ )]⎜⎜ u + v ⎟⎟ = μ 2 + ρ ∞ β (T − T∞ )g ou
⎝ ∂x ∂y ⎠ ∂x

∂v ∂v ∂ 2v
u +v = ν 2 + β (T − T∞ )g (4.13)
∂x ∂y

 ∂x


empuxo
inércia fricção
106

Na equação de momentum têm-se os termos de inércia, de atrito viscoso e de empuxo.

4.2.2 Análise de escala em regime laminar

Em escoamentos em regime laminar, a ordem de grandeza do coeficiente de


transferência de calor e dos termos nas equações são como a seguir:

k
hy ≈ (4.14)
δt

u v
(m) ≈ (4.15)
δt y

v v v
(M) u ,v ≈ ν 2 , gβΔT (4.16)
δt y δt

ΔT ΔT ΔT
(E) u ,v ≈α 2 (4.17)
δt y δt

Substituindo a Eq. (4.15) nas Eqs. (4.16) e (4.17) resulta

v2 v
(M) ≈ ν 2 + gβ ΔT (4.18)
y δt

ΔT ΔT
(E) v ≈α 2 (4.19)
y δt

Empuxo balanceado por atrito

Na Eq. (4.18) pode-se ter o empuxo balanceado por atrito ou por inércia. No
v
caso de empuxo balanceado por atrito ν ≅ gβ ΔT que combinada com as Eqs. (4.15)
δ t2
e (4.19) leva aos seguintes resultados:
107

α α
u≈ Ra 1y/ 4 ; v ≈ Ra1y/ 2 ; δ t ≈ yRa y−1 / 4 (4.20)
y y

na qual Ra y é o número de Rayleigh definido como

gβ (Tw − T∞ ) y 3
Ra y = (4.21)
αν

Também pode-se demonstrar que o coeficiente de transferência de calor convectiva é


proporcional a

hy ≈
k
(Ra y )1 / 4 (4.22)
y

hy y
e portanto o número de Nusselt local, definido como Nu y = , será proporcional
k

Nu y ≈ (Ra y )
1/ 4
(4.23)

v2 v
Os resultados acima são válidos quando < ν 2 ou para α < ν ou 1 < Pr .
y δt
Ou seja, para número de Prandtl da ordem de 1 ou maior que 1, Pr ≥ 1 . Uma análise
para a camada limite hidrodinâmica levará ao resultado

δ ≈ yRa y−1 / 4 Pr 1 / 2 ou

δ
≈ Pr 1 / 2 > 1 (4.24)
δt

Se Ra 1y/ 4 > 1 ⇒ Ra 1y/ 4 Pr 1 / 2 > 1 . Geralmente, escoamentos com convecção natural são

caracterizados por altos Ra.

Empuxo balanceado por inércia


108

v2
No caso de empuxo balanceado por inércia, ≅ gβ ΔT e a ordem de grandeza
y
da espessura de camada limite e das velocidades será:

α α
u≈ (Ra y Pr ) ; v ≈
1/ 4
(Ra y Pr )
1/ 2
; δ t ≈ y (Ra y Pr )
−1 / 4
(4.25)
y y

O produto do número de Rayleigh pelo número de Prandtl é definido como número de


Boussinesq

gβ (Tw − T∞ ) y 3
Bo y = Ra y Pr = (4.26)
α2

Neste caso, o número de Nusslet será proporcional

Nu ≈ (Ra y Pr )
1/ 4

Os resultados obtidos quando o empuxo é balanceado por inércia são válidos


para Pr ≤ 1 e as camadas limites e os perfis de velocidade e temperatura são ilustrados
na Figura 4.3

Figura 4.3. Camada limite para fluidos com baixos números de Prandtl.
109

A espessura da camada limite hidrodinâmica neste caso será proporcional a


razão do número de Rayleigh pelo número de Prandtl na forma:

−1 / 4
⎛ Ra y ⎞
δ s ≈ y⎜⎜ ⎟⎟ (4.27)
⎝ Pr ⎠

Pode-se demonstrar, então, que

−1 / 4
⎛ Ra ⎞
δ s ≈ y⎜ ⎟ ou
⎝ Pr ⎠

δ
≈ Pr 1 / 2 < 1 (4.28)
δt

A razão do número de Rayleigh pelo número de Prandtl é definida com o número de


Grashof, ou seja,

Ra y gβ (Tw − T∞ ) y 3
Gry = = (4.29)
Pr ν2

Os resultados no limite de baixo Prandtl são válidos se as camadas limites


hidrodinâmica e térmica são estreitas e longas, isto requer que

1/ 4
⎛ Ra y ⎞
⎜⎜ ⎟⎟ > 1 ; (Ra y Pr ) >1
1/ 4
(4.30)
⎝ Pr ⎠

4.2.3 Parede isotérmica (escoamento laminar)

A análise por variável de similaridade também pode ser aplicada neste caso de
convecção natural ou livre. Definindo a variável de similaridade e a velocidade
adimensional como
110

x
η=
y (Ra y )
−1 / 4
(4.31)

G (η , Pr ) =
v
(4.32)
(α / y )Ra1y/ 2

Definindo a função de corrente por

∂ψ ∂ψ
u= ; v=− (4.33)
∂y ∂x

a função de corrente adimensional pode ser definida como

ψ
F (η , Pr ) = (4.34)
αRa 1y/ 4

dF
Daí pode-se demonstrar que G = − . Definindo a temperatura adimensional como

T − T∞
θ (η , Pr) = (4.35)
Tw − T∞

Nas variáveis de similaridade, as equações de quantidade de movimento e de


energia são:

1 ⎛1 2 3 ⎞
⎜ F ′ − FF ′′ ⎟ = − F ′′′ + θ (4.36)
Pr ⎝ 2 4 ⎠

3
Fθ ′ = θ ′′ (4.37)
4

com as seguintes condições de contorno


111

F = 0; η = 0; (u = 0)
F ′ = 0; η = 0; (v = 0)
θ = 1; η = 0; (T = Tw ) (4.38)
F ′ → 0; η → ∞; (v = 0)
θ → 0; η → ∞; (T = T∞ )

A solução das equações acima permite obter correlações para o coeficiente de


transferência de energia convectiva. O número de Nusselt pode ser calculado na forma

hy y y ⎛ ∂T ⎞
Nu y = = ⎜− k ⎟
k kΔT ⎝ ∂x ⎠ x =0
(4.39)
⎛ dθ ⎞
= ⎜⎜ − ⎟⎟ Ra 1y/ 4
⎝ dη ⎠η =0

Uma correlação de Nusselt válida em toda faixa de número de Prandtl é da forma:

1/ 4
⎛ Pr ⎞
Nu y = 0,503⎜⎜ ⎟⎟ Ra 1y/ 4 (4.40)
⎝ Pr + 0,986 Pr + 0,492 ⎠
1/ 2

Nos limites de números de Prandtl muito altos ou muito baixos têm-se as correlações:

Nu y = 0,503Ra 1y/ 4 ; (Pr >> 1) (4.41)

Nu y = 0,600(Ra y Pr ) ; (Pr << 1)


1/ 4
(4.42)

O número de Nusselt global pode ser definido como

hy y q w′′, y
y
Nu y = = (4.43)
k Tw − T∞ k

O fluxo de calor num comprimento y de placa pode ser calculado como


112

1 y
y ∫y =0
q w′′, y = q ′w′ , y dy (4.44)

Pode-se definir também, q ′w, y = q w′′, y y . Se W e a largura da placa, a taxa de calor pode

ser calculada como

q w, y = q ′w, yW = q w′′, yW ⋅ y (4.45)

O número de Nusselt global definido como N u y = q ′w, y / kΔT , será calculado

pela seguinte correlação

1/ 4
⎛ Pr ⎞
N u y = 0,671⎜⎜ ⎟⎟ Ra 1y/ 4 (4.46)
⎝ Pr + 0,986 Pr + 0,492 ⎠
1/ 2

No caso de ar (Pr = 0,72 ) , resulta a correlação:

N u y = 0,517 Ra1y/ 4 (4.47)

Ex.: 4.1. A porta de um forno de cozinha é um retângulo vertical de área 0,5 m de altura
e 0,65 m de largura. A superfície externa da porta do forno está a 40oC, enquanto o ar
do ambiente está a 20oC. Calcule a taxa de transferência de calor da porta par o ar
ambiente.

4.2.4 Transição e Efeito de Turbulência sobre a Transferência de calor

A camada limite permanece laminar se o número de Rayleigh não excede um


determinado valor, ou seja, para baixos valores de y. De acordo com Bejan, a transição
de laminar para turbulento ocorre na posição y onde Gry ≈ 10 9 . A Figura 4.4 ilustra a

transição de escoamento laminar ara turbulento na parede vertical. Alguns autores


baseiam no em Ra y ≈ 10 9 , independente do número de Prandtl. Mas isso só seria

verdade para Pr = 1 . Portanto o critério de transição é adotado como


113

Gry ≈ 10 9 (10 −3 ≤ Pr ≤ 10 3 ) (4.48)

Figura 4.4. Seções laminar, transição e turbulenta em convecção natural na parede


vertical.

O critério de transição também pode ser baseado no número de Rayleigh,


Ra y = Gry Pr

Ra y ≈ 10 9 Pr (10 −3 ≤ Pr ≤ 10 3 ) (4.49)

Desta forma o critério de basear-se em Ra y ≈ 10 9 como critério de transição só é válido

( )
para Pr = 1 . Pode-se ver que no caso de metais líquidos Pr ≈ 10 −3 − 10 −2 o número de

Rayleigh estaria na faixa 10 6 − 10 7 que é bem abaixo de Ra y ≈ 10 9 .

O critério de transição também pode ser baseado no número de Reynolds em


função da espessura da camada limite. Este Reynolds e estimado como
114

−1 / 4
δ t v yRa y α 1 / 2
Re ≈ ≈ Ra y ≈ Ra 1y/ 4 / Pr (4.50)
ν ν y

No caso de Pr = 1 , obtém-se

Re ≈ Gry1 / 4 (Pr = 1) (4.51)

O que leva ao valor de

Re ≈ (10 9 )1 / 4 = 178 (Pr = 1) (4.52)

na transição.
A correlação para cálculo do coeficiente de transferência de calor na faixa
laminar e transição e turbulenta foi proposta por Churchill e Chu:

2
⎧⎪ 0,387 Ra 1y/ 6 ⎫⎪
N u y = ⎨0,825 + 8 / 27 ⎬
(4.53)
⎪⎩ [
1 + (0,492 / Pr) 9 / 16 ] ⎪⎭

Correlação válida para 10 −1 < Ra y < 1012 e todos números de Prandtl. Para ar a

correlação (4.53) se reduz a

{
N u y = 0,825 + 0,325 Ra 1y/ 6 }2
(Pr = 0,72) (4.54)

No faixa laminar, Gry < 10 9 , a correlação que representa os experimentos mais

acuradamente é:

0,67 Ra 1y/ 4
N u y = 0,68 + (4.55)
[1 + (0,492 / Pr) ] 9 / 16 4 / 9

A qual no caso do de ar reduz a

N u y = 0,68 + 0,515 Ra 1y/ 4 (Pr = 0,72) (4.56)


115

4.2.5 Fluxo de Calor Uniforme na Parede

No caso de fluxo de calor uniforme na parede a temperatura da parede é


desconhecida, então surge um dilema de como definir o número de Rayleigh, uma vez
que Tw ( y ) − T∞ é incógnita também. Para fluidos com altos números de Prandtl foi

demonstrado que Nu y ≈ (Ra y ) , da qual obtém-se


1/ 4

⎡ gβ (Tw − T∞ ) y 3 ⎤
1/ 4
hy y
≈⎢ ⎥ ou
k ⎣ αν ⎦

y ⎡ gβ (Tw − T∞ ) y 3 ⎤
1/ 4
q ′w′

(Tw ( y ) − T∞ ) k ⎢⎣ ⎥ (4.57)
αν ⎦

da qual se conclui que Tw ( y ) − T∞ é proporcional a y 1 / 5 . Desta forma a Eq. (4.57) pode


ser escrita em função do fluxo de calor na parede como

1/ 5
q ′w′ y ⎡ gβq ′w′ y 4 ⎤

(Tw ( y ) − T∞ ) k ⎢⎣ ανk ⎥⎦
(4.58)

O lado direito da Eq. (4.58) é definido como um número de Rayleigh modificado, ou


seja,

gβq ′w′ y 4
Ra *y = (4.59)
ανk

Para escoamento laminar com alto número de Prandtl, obtém-se a correlação

1/ 5
⎛ Pr ⎞
Nu y ≅ 0,616⎜ ⎟ (Ra )
* 1/ 5
(4.60)
⎝ Pr + 0,8 ⎠
y

Para fluidos com Prandtl no range ar-água, a transição a turbulência ocorre para
Ra *y ≈ 1013 . Neste caso, as seguintes correlações
116

(
Nu y = 0,6 Ra *y )
1/ 5


⎬ laminar, 10 < Ra y < 10
5 * 13
(4.61)
( 1
N u y = 0,75 Ra y ⎪⎭
* / 5
)

( )
Nu y = 0,568 Ra *y
0 , 22


0 , 22 ⎬
turbulento, 1013 < Ra *y < 1016 (4.62)
Nu y = 0,645(Ra ) *
y ⎪⎭

Nas correlações (4.61) e (4.62) o Nusselt global é baseado na diferença média de


temperatura, Tw ( y ) − T∞ . Existem várias outras correlações disponíveis na literatura.
Vide Bejan.

4.3 Outras Configurações de Escoamentos Externos

4.3.1 Reservatório Fluido Estratificado Termicamente

Em muitas situações o reservatório que banha a parede aquecida não é


isotérmico. Neste caso define-se um parâmetro de estratificação do fluido como
ΔTmax − ΔTmin
b= (4.63)
ΔTmax

A variação do parâmetro de estratificação é mostrada na Figura 4.5. O caso b = 0


corresponde ao reservatório isotérmico e o caso b = 1 corresponde à máxima
estratificação.
117

Figura 4.5 Número de Nusselt global (médio) para escoamento laminar numa parede
isotérmica e fluido estratificado termicamente.

Para escoamento laminar o Nusselt “médio” definido como

q w′′, H H gβΔTmax H 3
Nu H = ; Ra H = (4.64)
ΔTmax k αν

é calculado como

N u H = f (b, Pr) Ra 1H/ 4 (4.65)

4.3.2 Paredes Inclinadas

Escoamentos por convecção natural sobre paredes inclinadas são ilustrados na


Figura 4.6.
118

Figura 4.6. Transferência de calor por convecção natural em paredes inclinadas.

A seguinte correlação foi proposta para escoamento laminar:

0,67 Ra 1y/ 4
N u y = 0,68 +
[1 + (0,492 / Pr ) ]
(4.66)
9 / 16 4 / 9

g cos φβ (Tw − T∞ ) y 3
na qual Ra y = para parede isotérmica (Tw = cte) e
αν
g cos φβq ′w′ y 3
Ra *y = para parede com fluxo calor uniforme q ′w′ = cte . No caso de
ανk
escoamentos turbulentos foi encontrado que as correlações dão melhores resultados com
g no lugar de g cos φ . A Tabela 4.1 mostra valores de número de Rayleigh na transição
de escoamento laminar de água para turbulento para fluxo uniforme e parede isotérmica
em função da inclinação da parede.
119

Tabela 4.1. Valores de número de Rayleigh na transição em água (Pr ≅ 6,5) .


q ′w′ = cte

φ Ra *y

0 5x1012 - 1014
30o 3x1010 - 1012
60o 6x107 – 6x109
Tw = cte

φ Ra y

0 8,7x108
20o 25x108
45o 1,7x107
60o 7,7x105

Dentro deste tópico outras configurações estão também os casos de convecção


natural em paredes horizontais, cilindros horizontais e verticais, esfera e corpos de
outras formas geométricas, cujas correlações podem ser encontradas na literatura. Vide
Bejan (1993).

4.4 Configurações de Escoamentos Internos

4.4.1 Canais Verticais

Agora serão considerados casos em que paredes confinam o fluido em


escoamento por convecção natural. A Figura 4.7 ilustra os casos de escoamentos em
canais largos e estreitos.
120

Figura 4.7 canal vertical com paredes isotérmicas; as extremidades do canal comunicam
com um fluido isotérmico.

No caso do canal largo suficientemente, de modo que, não haja interação das
camadas limites, pode-se usar os resultados do escoamento sobre uma placa. Com os
comprimentos característicos H e L, para Pr ≥ 1 , o canal largo pode ser representado
pelos seguintes limites:

L L
> Ra H−1 / 4 ou > Ra L−1 (4.67)
H H

O canal estreito tem interesse especial. Pode-se ver pela Fig. 4.7 que, quando o
canal é estreito, o perfil de velocidade nas paredes interage formando um perfil similar
ao do escoamento num canal de placas paralelas (esc. Hagen-Poiseuille). O perfil de
temperatura tem o comportamento mostrado ao lado do canal estreito, de forma que
pode-se assumir

Tw − T ( x, y ) < Tw − T∞ (4.68)

O escoamento é puramente vertical e com a hipótese de escoamento


completamente desenvolvido, a equação de quantidade de movimento se reduz a
d 2v
0 =ν + gβ (T − T∞ ) (4.69)
dx 2
121

d 2v gβ
≅− (T − T∞ ) = cte (4.70)
dx 2
ν

A solução da Eq. (4.70) é similar ao caso de convecção forçada num canal de


placas paralelas e é da forma

gβΔTL2 ⎡ ⎛ x ⎞ ⎤
2

v= ⎢1 − ⎜ ⎟ ⎥ (4.71)
8ν ⎣⎢ ⎝ L / 2 ⎠ ⎦⎥

e a vazão mássica por unidade de comprimento pode ser calculada como

ρgβΔTL3

L/2
m ′ = ρvdx = (4.72)
−L / 2 12ν

Pela inspeção das Eqs. (4.71) e (4.72), pode-se verificar que a velocidade e
vazão mássica independem da altura do canal H.
A taxa total de transferência de calor extraída pela corrente m ′ das duas paredes
verticais é:

ρgβc p (ΔT )2 L3
q ′ = m ′c p (Tw − T∞ ) = (4.73)
12ν

q′
q ′′ = (4.74)
2H

O número de Nusselt “médio” é calculado como

q ′′ H 1
Nu H = = Ra L (4.75)
ΔT k 24

Tendo em vista a Eq. (4.68) pode-se concluir que


q ′′L
< (Tw − T∞ ) = ΔT (4.76)
k
122

Portanto no limite de canal estreito

H
Ra L < (4.77)
L

O escoamento num canal estreito, também denominado de escoamento em


chaminé, em dutos de outras seções, possui N u H / Ra Dh constante, em que Dh é o

diâmetro hidráulico. Na Tabela 4.2 apresentam-se alguns resultados

H
Tabela 4.2. Escoamento em chaminé (canal estreito, Ra Dh < )
Dh

Forma da seção do canal N u H / Ra Dh

Placas paralelas 1/192


Circular 1/128
Quadrada 1/113.6
Triângulo equilátero 1/106.4

4.4.2 Cavidades Aquecidas do Lado

Um caso importante de convecção natural interna é o de escoamentos induzidos


em espaços fechados que estão sujeitos a variação de temperatura horizontal. A Figura
4.8 ilustra o caso de um fluido aquecido em uma parede e resfriado na parede oposta.
123

Figura 4.8. Regimes de escoamentos para convecção natural em cavidades aquecidas do


lado para fluidos com Pr ≥ 1

Da mesma forma, tem-se neste caso, cavidades largas e cavidades estreitas. A


cavidade é larga quando a espessura da camada limite é menor do que a dimensão
horizontal, δ t < L o que é equivalente L / H > Ra H−1 / 4 . As correlações para o número de
Nusselt médio são:

0 , 28 0 , 09
⎛ Ra H Pr ⎞ ⎛L⎞
N u H = 0,22⎜ ⎟ ⎜ ⎟
⎝ 0,2 + Pr ⎠ ⎝H⎠ (4.78)
H
2< < 10; Pr < 10 5 ; Ra H < 1013
L

0 , 29 −0 ,13
⎛ Ra H Pr ⎞ ⎛L⎞
N u H = 0,18⎜ ⎟ ⎜ ⎟
⎝ 0,2 + Pr ⎠ ⎝H⎠
3
(4.79)
H Pr Ra H ⎛ L ⎞
1< < 2; 10 −3 < Pr < 10 5 ; 10 3 < ⎜ ⎟
L 0,2 + Pr ⎝ H ⎠

q ′′H
O Nusselt médio e número de Rayleigh são definidos como N u H =
kΔT
gβ (Th − Tc )H 3
Ra H = .
αν
124

No caso oposto de cavidade estreita, L / H < Ra H−1 / 4 tem-se

q ′′H ⎛ kΔT ⎞ H H
Nu H = =⎜ ⎟ = (4.80)
kΔT ⎝ L ⎠ kΔT L

indicando que neste caso a transferência de calor é puramente por condução ou difusão.

Toda a precedente discussão refere-se a cavidades quadradas ou altas em que


H / L ≥ 1 . No caso de H / L < 1 pode-se Ter jatos horizontais distintos nas paredes de
topo e fundo. Pode-se encontrar o Nusselt médio em função de Rayleigh em gráficos da
literatura (Bejan, pg 370).
No caso de cavidades aquecidas e resfriadas por fluxos de calor constantes
também é possível se obter correlações para o número de Nusselt. No regime de camada
limite, a temperatura varia linearmente na direção vertical ao longo da parede aquecida,
parede resfriada e no centro, e de acordo com Bejan

∂T αν ⎛ H ⎞
4/9

= 0,0425 ⎜ ⎟ Ra H*8 / 9 = cte (4.81)


∂y gβH 4 ⎝ L ⎠

Desde que a temperatura aumenta a mesma taxa em ambas paredes na direção vertical,
em cada nível, Th ( y ) − Tc ( y ) = ΔT = cte . A solução teórica para o Nusselt médio

q ′′H
Nu H = na camada limite para fluidos com Pr ≥ 1 é
kΔT

1/ 9
⎛H⎞
N u H = 0,34 Ra H*2 / 9 ⎜ ⎟ (4.82)
⎝L⎠

na qual Ra H* = gβH 4 q ′′ /(ανk ) . Se o número de Rayleigh for baseado em ΔT ,

Ra H = Ra H* / N u H = gβΔTH 3 /(αν ) . Neste caso, a eq. 4.82 fica na forma


1/ 7
⎛H⎞
N u H = 0,25Ra 2/7
H ⎜ ⎟ (4.83)
⎝L⎠
125

4.4.3 Cavidades aquecidas por Baixo

Nas cavidades aquecidas do lado, o escoamento acontece tão logo a uma


pequena diferença de temperatura Th − Tc seja imposta entre as duas paredes. Já na
cavidade aquecida por baixo, a diferença de temperatura imposta deve exceder um valor
crítico para que o escoamento e transferência de calor sejam detectados. Quando a
cavidade é longa e larga na horizontal, para Ra H = gβ (Th − Tc )H 3 (αν ) ≥ 1708 formam-
se dois rolos quase quadrados que giram em sentidos opostos, como ilustrado na Figura
4.9. Este tipo de escoamento é conhecido com convecção de Bénard.

Figura 4.9 Camada de fluido horizontal entre duas paredes paralelas e aquecidas por
baixo. Esquerda: Ra H < 1708; N u H = 1 . Direita: Ra H > 1708; N u H > 1

O efeito do escoamento celular é aumentar a transferência de calor na direção


vertical. Neste caso o número de Nusselt médio definido como N u H = q ′′H /(kΔT ) é
dado pela correlação:

N u H = 0,069 Ra 1H/ 3 Pr 0,074 ; 3x10 5 < Ra H < 7 x10 9 (4.84)

na qual as propriedades físicas para se calcular N u H , Ra H , Pr são avaliadas na


temperatura média (Th + Tc ) / 2 .

4.4.4 Cavidades Inclinadas

As correlações para este caso podem ser encontradas no livro de Adrian Bejan
(1993).
126

4.4.5 Outras Formas de Cavidades: Espaço Anelar entre Cilindros e Esferas


Concêntricas

Espaços anelares entre um cilindro ou esfera internos aquecidos e os externos


resfriados, por exemplo, formam cavidades onde podem ocorrer escoamentos ou células
de escoamentos por convecção natural. As correlações de transferência de calor são da
forma:

Cilindro:

2,425k (Ti − To ) ⎛ Pr Ra Di ⎞
1/ 4

q′ ≅ ⎜ ⎟
[ ]
em W/m (4.85)
3 / 5 5 / 4 ⎜ 0,861 + Pr ⎟
1 + (Di / Do ) ⎝ ⎠

na qual Ra H = gβ (Ti − To )Di3 /(αν ) . A Eq. (4.85) é válida quando

Do Ra D−1o / 4 > ( Do − Di ) (4.86)

Esfera:

2,325kDi (Ti − To ) ⎛ Pr Ra Di ⎞
1/ 4

q′ ≅ ⎜ ⎟
[ ]
em W/m (4.87)
7 / 5 5 / 4 ⎜ 0,861 + Pr ⎟
1 + (Di / Do ) ⎝ ⎠

Nas correlações acima, o sub-índice i refere-se ao cilindro ou esfera internos e o


sub-índice o aos externos. Nestes casos as propriedades são avaliadas a (Ti − To ) / 2 .
127

4.5 Experimento 03: Convecção Natural em Corpos Submersos

Nesta experiência deseja a) analisar o processo de transferência de calor por


convecção natural; b) obter o coeficiente de transferência por convecção natural para
corpos submersos e c) avaliar a influência do material e das dimensões dos corpos no
valor do c coeficiente de transferência por convecção natural.
Para realização desta experiência, corpos metálicos (alumínio e cobre) de
formato cilíndrico, inicialmente, à temperatura ambiente, são imersos em água quente e
cronometra-se o tempo até que o corpo atinja o equilíbrio térmico com a água. São
feitas leituras de temperatura em intervalos de tempo para se obter a dependência da
temperatura com o tempo. A análise baseia-se no principio da capacitância concentrada.
A essência do método da capacitância concentrada é a hipótese de que a temperatura do
sólido é espacialmente uniforme em qualquer instante durante o processo transiente. Ou
seja, despreza-se o gradiente de temperatura no interior do corpo. Sob determinadas
condições, o modelo de capacitância concentrada pode ser aplicado. Normalmente, um
processo de condução transiente inicia-se pela convecção imposta na superfície do
sólido, mas dependendo do nível de temperatura pode ocorrer transferência radiativa. A
Figura 4.10 ilustra o processo.

Figura 4.10 – Resfriamento de um sólido por imersão num líquido.

Considere uma situação na qual as condições térmicas de um sólido podem ser


alteradas por convecção, radiação e fluxo de calor aplicados à superfície e geração
interna de energia. Assume-se que no instante t = 0 a temperatura do sólido seja Ti

diferente da temperatura do fluido T∞ e da temperatura da vizinha Tviz . Em parte da


128

superfície é imposto um fluxo q′′ e a geração interna é q g . Desprezando gradientes de

temperatura no interior do sólido, um balanço de energia fornece


dT
q′′As ,h + q g − qc′′As ,c − qr′′As ,r = ρVc (4.88)
dt
Substituindo os fluxos de calor convectivo e radiativo na equação (4.88) resulta a
equação

( )
q′′As ,h + q g − h (T − T∞ ) As ,c − εσ T 4 − Tviz4 As ,r = ρVc
dT
dt
(4.89)

A equação (4.89) é uma equação diferencial ordinária não linear que pode ser
rearranjada na forma

q′′As ,h + q g − ⎢ hAs ,c + εσ
(
T 4 − Tviz4 ) ⎤
As ,r ⎥ (T − T∞ ) = ρVc
dT
(4.90)
⎢⎣ (T − T∞ ) ⎥⎦ dt

ou definindo o excesso de temperatura, θ = T − T∞ , resulta após algumas manipulações

dθ he (θ ) As ,c ⎛ q′′As ,h + q g ⎞
+ θ −⎜ ⎟=0 (4.91)
dt ρVc ⎝ ρVc ⎠
na qual

he (θ ) = h + εσ

(
T 4 − Tviz4 As ,r ⎤

) (4.92)
⎢⎣ (T − T∞ ) As ,c ⎥⎦
Definindo
he As ,c q′′As ,h + q g
a= ; b= (4.93)
ρVc ρVc
a equação (4.91) pode ser reescrita como
dθ ( t )
+ a ( t )θ ( t ) − b ( t ) = 0 (4.94)
dt
com a condição inicial
θ ( 0 ) = θi (4.95)

A solução da Eq. (4.94) com condição inicial (4.95) é da forma

( 0
t
) (
θ ( t ) = θi exp − ∫ a ( t ′ ) dt ′ + exp − ∫ a ( t ′ ) dt ′
0
t
)∫
0
t
( t′
)
b ( t ′ ) exp − ∫ a ( t ′′ ) dt ′′ dt ′ (4.96)
0

No caso em que se tenha somente convecção no contorno do sólido e nenhuma


geração interna
129

hAs
a= , b=0 (4.97)
ρVc
Em tal caso, resulta a solução
T ( t ) − T∞ ⎛ hA ⎞
= exp ⎜ − s t ⎟ (4.98)
Ti − T∞ ⎝ ρVc ⎠
Uma análise mostra que o modelo de capacitância concentrada é válido quando
o número de Biot que é razão da resistência condutiva pela resistência convectiva for
hLc
Bi = < 0,1 (4.99)
k
Aplicando logaritmo natural a ambos os lados da equação (4.98) se obtém
hAs
ln ( y ) = − t (4.100)
ρVc
T ( t ) − T∞
na qual foi definido y = . Graficando a função ln ( y ) em função do tempo,
Ti − T∞
com os demais parâmetros fixos, obtém-se uma reta de coeficiente angular negativo, ou
seja, se α é o ângulo de inclinação da reta,

− hAs
tg (α ) = (4.101)
ρVc
A partir dos dados experimentais da temperatura em função do tempo, grafica-se
⎡ T ( t ) − T∞ ⎤
ln ⎢ ⎥ em função do tempo o obtém-se tg (α ) do gráfico resultante. A partir
⎣ Ti − T∞ ⎦
desse valor calcula-se
tg (α ) ρVc
h= (4.102)
As
São usados 4 corpos de prova; três de alumínio e um de cobre, cujas dimensões
são:
Dimensões 1(Al) 2(Al) 3(Al) 4(Cu)
D[mm] 50 50 35 50
L[mm] 200 85 200 200

Um esquema do aparato experimental é mostrado na Figura 4.11. As


propriedades do alumínio e do cobre são:
130

Aluminio (Al) c = 903 J/kgK r = 2702 kg/m3

Cobre (Cu) c = 385 J/kgK r = 8933 kg/m3

Figura 4.11 – Aparato experimental para medida de h em convecção natural. (por mvtn)

Os termopares inseridos nos corpos de prova são de cobre-constantan (tipo T) e


tem curvas de calibração na forma
T ⎡⎣ o C ⎤⎦ = 22,877 E [ mV ] + 3,9395

As medidas de temperatura em função do tempo podem ser organizadas, por


exemplo, em intervalos de 30 s ou 60 s.
tempo t0 t1 .... tequlibrio ( T= T∞ )
(Al) T1
(Al) T2
(Al) T3
(Cu) T4
131

5. Convecção com Mudança de Fase

5.1 Transferência de Calor na Condensação

5.1.1 Filme Laminar sobre uma Superfície Vertical

Nos capítulos anteriores independentemente do aquecimento ou resfriamento, o


fluido sempre permanecia numa única fase. Neste capítulo, consideram-se os casos em
que o fluido sofre uma mudança de fase durante a convecção. Condensação pode
ocorrer quando um reservatório contendo um vapor tem sua parede resfriada, como
ilustrado na Figura 5.1, na qual também são ilustrados os perfis de velocidade e
temperatura. Na interface entre o filme líquido e o vapor a temperatura é igual a
temperatura de saturação.

Figura 5.1 Regimes de escoamento de filme de condensado sobre uma parede vertical
resfriada.

Considere, agora, só a região laminar ilustrada na Figura 5.2, em que um vapor


saturado e estacionário entra em contato com uma parede resfriada. Na hipótese de
camada limite a equação de movimento fica na forma:
132

Figura 5.2 Filme laminar de condensado suprido por um reservatório de vapor saturado
estacionário

⎛ ∂v ∂v ⎞ ∂p ∂ 2v
ρ l ⎜⎜ u + v ⎟⎟ = − + μ l 2 + ρ l g (5.1)
⎝ ∂x ∂y ⎠ ∂y ∂x

Admitindo que a distribuição de pressão seja dada pelo vapor, dp / dy = ρ v g , então a


Eq. (5.1) pode ser reescrita como

⎛ ∂v ∂v ⎞ ∂ 2v
+ v ⎟⎟ = μ l 2 + g (ρ l − ρ v )
ρ l ⎜⎜ u (5.2)
∂x ∂y ∂x


⎝
⎠ fricção sumidouro
inércia

Supondo que os termos de inércia sejam desprezíveis em relação ao atrito


viscoso, resulta a equação:

∂ 2v
0 = μ l 2 + g (ρ l − ρ v )
 ∂x


sumidouro
fricção

com as condições de contorno


133

v = 0; x = 0
∂v (5.3)
= 0; x = δ ( y )
∂x

Integrando duas vezes em x, obtém-se a distribuição da velocidade do filme de


condensado:

⎡ x 1 ⎛ x ⎞2 ⎤
v ( x, y ) =
g
(ρ l − ρ v )δ ⎢ − ⎜ ⎟ ⎥
2
(5.4)
μl ⎣⎢ δ 2 ⎝ δ ⎠ ⎦⎥

na qual δ ( y ) é a espessura do filme líquido que é desconhecida.


A taxa total de escoamento de massa através da seção de filme é:

δ gρ l
Γ( y ) = ∫ ρ l vdx = (ρ l − ρ v )δ 3 em [kg/s/m] (5.5)
0 3μ l

Pode se notar que a velocidade e vazão mássica são proporcionais a g (ρ l − ρ v ) e

inversamente proporcionais a μ l .

Para estimar a espessura do filme de líquido aplica-se a primeira lei da


termodinâmica ao volume de controle δ x dy , obtendo-se

H − q ′w′ dy + hg dΓ = H + dH ; dH = ρ l vdxh (5.6)

que integrada fornece

δ
[ ]
H = ∫ ρ l v h f − c p ,l (Tsat − T ) dx
0
(5.7)

Visto que o fluido levemente sub-resfriado ( T < Tsat ) a entalpia específica será menor

do que a entalpia do líquido saturado ( h < h f ) . Nusselt propôs a seguinte relação:


134

Tsat − T x
≅ 1− (5.8)
Tsat − Tw δ

que substituída na Eq. (5.7) juntamente com a Eq. (5.4) leva à equação para cálculo da
entalpia

⎡ ⎤
H = ⎢h f − c p ,l (Tsat − Tw )⎥ Γ
3
(5.9)
⎣ 8 ⎦

O fluxo de calor na parede é:

Tsat _ Tw
q ′w′ ≅ k l (5.10)
δ
Do balanço de energia

dH = −q ′w′ dy + hg dΓ (5.11)

e, portanto, com o uso das Eqs. (5.5), (5.9) e (5.11) obtém-se

⎡ ⎤ T − Tw
− ⎢h f − c p ,l (Tsat − Tw )⎥ dΓ + hg dΓ − k l sat
3
dy = 0 ou
⎣ 8 ⎦ δ

Tsat − Tw ⎡ ⎤
dy = ⎢h fg + c p ,l (Tsat − Tw )⎥ dΓ
3
kl
δ ⎣ 8 ⎦ (5.12)
= h ′fg dΓ

Pela Eq. (5.5)

gρ l
dΓ = (ρ l − ρ v )3δ 2 dδ (5.13)
3μ l

a qual substituída em (5.12) resulta


135

k lν l (Tsat − Tw )
dy = δ 3 dδ (5.14)
h fg g (ρ l − ρ v )

Integrando a Eq. (5.14) de y = 0 até y = δ obtém-se a espessura de filme líquido:

⎡ 4k ν (T − Tw ) ⎤
1/ 4

δ ( y ) = ⎢ y l l sat ⎥ (5.15)
⎣⎢ h ′fg g (ρ l − ρ v ) ⎦⎥

Os coeficientes local e médio de transferência de calor podem ser calculados


como

k l (Tsat − Tw ) / δ k l ⎡ k l h ′fg g ( ρ l − ρ v ) ⎤
1/ 4
q ′w′
3

hy = = = =⎢ ⎥ (5.16)
Tsat − Tw (Tsat − Tw ) δ ⎣⎢ 4 yν l (Tsat − Tw ) ⎦⎥

hy=L 4
hL = = hy=L (5.17)
1 + ( − 1 / 4) 3

O número de Nusselt global (médio) é então calculado pela correlação

⎡ L3 h ′fg g ( ρ l − ρ v ) ⎤
1/ 4
hL L
Nu L = = 0,943⎢ ⎥ (5.18)
kl ⎣⎢ k lν l (Tsat − Tw ) ⎦⎥

A partir das Eqs. (5.15) e (5.18) pode-se demonstrar que

⎡ L3 h ′fg g (ρ l − ρ v ) ⎤
1/ 4
L
= 0,707 ⎢ ⎥ (5.19)
δ ( L) ⎣⎢ k lν l (Tsat − Tw ) ⎦⎥

As propriedades são avaliadas a temperatura (Tw + Tsat ) / 2 e a entalpia de condensação

é avaliada de tabelas de propriedades termodinâmicas a Tsat . Para perfil de temperatura


não linear Rohsenow propôs
136

h ′fg = h fg + 0,68c p ,l (Tsat − Tw ) ou (5.20)

h ′fg = h fg (1 + 0,68 Ja) (5.21)

na qual

c p ,l (Tsat − Tw )
Ja = (5.22)
h fg

é o número de Jakob que mede o grau de subresfriamento do filme líquido.

A taxa total de calor absorvida pela parede por unidade de largura é

q ′ = hl L(Tsat − Tw ) = k l (Tsat − Tw )N u L (5.23)

Se y = L , a taxa total de condensação é

q′ k
Γ( L) = = l (Tsat − Tw )N u L (5.24)
h ′fg h′fg

Em muitos casos ρ l >> ρ v ⇒ ρ l − ρ v ≅ ρ l .

Ex. 5.1 Uma parede plana vertical na temperatura Tw = 60 o C faceia um espaço cheio

de vapor saturado estagnante a pressão atmosférica. A altura da parede é 2 m.


Assumindo escoamento laminar, calcule a taxa em que vapor se condensa na parede
vertical.

5.1.2 Filme Turbulento sobre uma Superfície Vertical

O filme líquido se torna ondulado e mais abaixo, turbulento quando a ordem de


grandeza do Reynolds local é maior do que 100. O Reynolds local do filme líquido pode
137

ρ l v δ ( y)
ser calculado na forma Re y = , em que o numerador e igual à taxa de
μl
condensação, Γ = ρ l v δ ( y ) . O Reynolds local tem sido, entretanto, definido como

4Γ ( y )
Re y = (5.25)
μl

Experimentos mostram que o escoamento laminar cessa quando Re y ≈ 30 e é

ondulado na faixa 30 ≤ Re y ≤ 1800 . Foi proposto por Chen et al. a correlação

1/ 3
⎛ ν l2 ⎞
hl

⎜ g

⎟ [
= Re −L0, 44 + (5,82 x10 −6 ) Re 0L,8 Prl1 / 3 ]
1/ 2
; Re L ≥ 30 (5.26)
kl ⎝ ⎠

Para Re L abaixo de 30 pode-se usar a equação (5.18) que para ρ l >> ρ v reduz a

1/ 3
hL ⎛ ν l2 ⎞
⎜ ⎟ = 1,468 Re −L1 / 3 (5.27)
⎜ g ⎟
kl ⎝ ⎠

Pode-se verificar que ambos o número de Reynolds e a taxa de condensação são


desconhecidos, portanto é proposto resolver a Eq. (5.26) na forma:

1/ 3
hL ⎛ ν l2 ⎞ Re L
⎜ ⎟ = (5.28)
⎜ g ⎟
kl ⎝ ⎠ B

na qual

1/ 3
4k l ⎛ g ⎞
B = L(Tsat − Tw ) ⎜ 2
⎜ν

⎟ (5.29)
μ l h′fg ⎝ l ⎠

Por comparação com as Eqs. (5.26) e (5.27) pode-se mostrar


138

[
B = Re L Re −L0, 44 + (5,82 x10 −6 ) Re 0L,8 Prl1 / 3 ]
−1 / 2
(5.30)

B = 0,681 Re 4L / 3 (5.31)

Um gráfico da variação de B com Reynolds local é mostrado na Figura 5.3.

Figura 5.3 Filme de condensação numa parede vertical: taxa total de condensação em
função de B.

Ex. 5.2 Refazer o Ex. 5.1


139

5.1.3 Filme de Condensação em Outras Configurações

Os resultados descritos até agora são válidos não só para superfícies planas, mas
também para superfícies curvas em que o filme de condensado seja suficientemente
fino. Superfícies curvas englobam, por exemplo, cilindros e esferas, e desde que o
diâmetro seja maior do que a espessura do filme pode-se usar os resultados anteriores.
Um filme sobre uma esfera pode ser considerado como um processo de condensação
sobre uma parede inclinada. Alguns exemplos são ilustrados na figuras a seguir.

Figura 5.4 Filme de condensado em superfícies planas, curvas e inclinadas.

No caso de superfícies curvas a componente tangencial da gravidade varia ao


longo do filme Um exemplo é uma superfície esférica. Para filme laminar ao redor da
esfera, a correlação para calcular o Nusselt médio é da forma

⎡ D 3 h ′fg g (ρ l − ρ v )⎤
1/ 4
h D
N u D = D = 0,815⎢ ⎥ (5.32)
kl ⎣⎢ k lν l (Tsat − Tw ) ⎦⎥

Para escoamento laminar em torno de um único cilindro a correlação é

⎡ D 3 h ′fg g (ρ l − ρ v ) ⎤
1/ 4
hD D
Nu D = = 0,729 ⎢ ⎥ (5.33)
kl ⎣⎢ k lν l (Tsat − Tw ) ⎦⎥

No caso de uma fileira vertical de cilindros horizontais, Figura 5.5, foi proposto

⎡ D 3 h ′fg g (ρ l − ρ v ) ⎤
1/ 4
hD , n D
Nu D = = 0,729 ⎢ ⎥ (5.34)
kl ⎢⎣ nk lν l (Tsat − Tw ) ⎥⎦
140

Comparando a Eq. (5.34) com a Eq. (5.33) pode demonstrar que


hD
hD , n = (5.35)
n1 / 4

Figura 5.5 .Filme de condensado em escoamentos em tubos horizontais

Outras configurações podem ser encontradas por exemplo, no livro do Bejan. A


Figura 5.6 ilustra condensação numa superfície horizontal de uma tira ou disco. Um
caso interessante é o caso de condensação num cilindro num escoamento cruzado por
convecção forçada ou paralelo a uma placa, Figura 5.7. Vapor escoando verticalmente
num tubo é ilustrado Figura 5.8. Escoamentos rápido e lento de vapor em tubos
horizontais são ilustrados na Figura 5.9
141

Figura 5.6 Filme de condensado numa fita horizontal de largura L ou disco de diâmetro
D.

Figura 5.7 Filme de condensação sobre um cilindro horizontal em escoamento cruzado e


sobre uma placa plana paralela ao escoamento.
142

Figura 5.8 Condensação num tubo vertical com escoamento co-corrente do vapor.

Figura 5.9 Condensação como um filme anelar num tubo com escoamento rápido de
vapor (esquerda) e acumulação no fundo com escoamento lento de vapor (direita).

5.1.4 Condensação em gotas por Contato Direto

A condensação pode ocorrer quando a tensão superficial for alta, o condensado


forma gotas que escorrem pela superfície quando o tamanho das gotas aumentam. Veja
ilustração no livro Bejan.
143

5.2 Transferência de Calor na Ebulição

5.2.1 Regimes de Ebulição em Vaso Aberto

Nesta seção considera-se o caso de transferência de calor na ebulição, que ocorre


quando a temperatura de uma superfície sólida é suficientemente mais alta do a
temperatura de saturação do líquido que está em contato com ela. Ebulição é sinônimo
de transferência de calor convectiva com mudança de fase líquido para vapor quando o
líquido está sendo aquecido por uma superfície suficiente quente. Este é o processo
inverso da condensação em que vapor se torna líquido quando ele é resfriado em contato
com uma superfície fria. O processo de ebulição em vaso (pool boiling) é ilustrado na
Figura 5.10. No caso do líquido estar inicialmente subresfriado as bolhas de vapor
formado não conseguem alcançar a superfície livre e se condensam novamente. Quando
o líquido já esta na temperatura de saturação as bolhas de vapor alcançam a superfície
livre.

Figura 5.10 Nucleação de ebulição em vaso, líquido subresfriado (esquerda) e líquido


saturado (direita).

Os regimes de ebulição em vaso são ilustrados na Figura 5.11. No experimento


com temperatura controlada consegue-se reproduzir a curva de ebulição, já no
experimento com potência controlada quando o fluxo de calor atinge o máximo (que é
chamado ponto de queima, pois a temperatura atinge o ponto de fusão do aquecedor),
daí não se consegue reproduzir a parte descendente da curva, no regime de transição. Se
144

for um processo de resfriamento, quando o fluxo de calor atinge o mínimo, o filme de


vapor se colapsa e inicia-se o processo de nucleação de bolhas, também não se
conseguindo reproduzir a parte da curva de ebulição no regime de transição.

Figura 5.11 Os quatro regimes de ebulição de água em vaso a pressão atmosférica

Figura 5.12 Curva de ebulição em vaso, em um experimento com temperatura


controlada (esquerda) e em um experimento com potência controlada
145

5.2.2 Nucleação da Ebulição e Fluxo de Calor de Pico

O regime mais importante de ebulição ilustrado na curva da Figura 5.11 é o de


nucleação da ebulição, porque é neste regime que o coeficiente de transferência de calor
definido por

q ′w′
h= (5.36)
Tw − Tsat

atinge altos valores, no range de 103-105 W/(m2K).


Muitos estudos têm sido realizados, uma correlação proposta para por Rohsenow
tem a forma:

1/ 3
h fg ⎡ q ′′ ⎛ σ ⎞
1/ 2

Tw − Tsat = Pr C sf ⎢ w
s
⎜⎜ ⎟⎟ ⎥ (5.37)
c p ,l
l
⎢⎣ μ l h fg ⎝ g ( ρ l − ρ )
v ⎠ ⎥⎦

a qual se aplica para superfícies limpas e como uma aproximação de engenharia é


insensível a orientação da superfície. Ele depende de duas constantes empíricas C sf e

s . C sf é um coeficiente que leva em conta a combinação do líquido com a superfície do

material e s é um expoente que depende do líquido. Estes valores podem ser


encontrados na Tabela 8.1 do livro do Bejan (Heat Transfer, pg. 425). σ [N/m] é a
tensão superficial do líquido em contato com seu vapor. Se considerar uma bolha de
vapor de forma esférica seu raio pode ser estimado como: r = 2σ /( pv − pl ) , em que p v

é pressão dentro da bolha e pl é pressão fora.

No caso em que a diferença de temperatura Tw − Tsat é conhecida a Eq. (5.37)


pode ser rearranjada para se determinar o fluxo de calor na forma

⎛ g (ρ l − ρ v ) ⎞ ⎡ c p ,l (Tw − Tsat ) ⎤
1/ 2 3

q ′w′ = μ l h fg ⎜ ⎟ ⎢ ⎥ (5.38)
⎝ σ ⎠
s
⎣⎢ Prl C sf h fg ⎦⎥

O fluxo de calor de pico sobre uma grande superfície horizontal baseado em


análise dimensional é da forma:
146

′′ = 0,149h fg ρ v1 / 2 [σg ( ρ l − ρ v )]
q max
1/ 4
(5.39)

que independe da superfície do material. Esta correlação se aplica para superfícies cujo
comprimento linear é muito maior do que o tamanho das bolhas de vapor.

Ex.: 5.3 Um elemento cilíndrico de aquecimento de diâmetro 1 cm e comprimento 30


cm é imerso horizontalmente numa piscina de água saturada a pressão atmosférica. A
superfície cilíndrica é coberta com níquel. Calcule o fluxo de calor e a taxa total de
transferência de calor do cilindro para a piscina de água, quando Tw = 108 o C . Calcule
também o fluxo crítico de calor.

5.2.3 Filme da Ebulição e Mínimo Fluxo de Calor

Filme de ebulição é uma camada contínua de vapor (0,2-0,5 mm de espessura)


que separa a superfície aquecida do resto do líquido. O fluxo mínimo de calor é
registrado na temperatura mais da superfície do aquecedor que ainda mantém o filme
contínuo. Para superfícies horizontais extensas, o fluxo mínimo é da forma:

⎡ σg ( ρ l − ρ v ) ⎤
1/ 4

′′ = 0,09h fg ρ v ⎢
q min 2 ⎥
(5.40)
⎣⎢ ( ρ l + ρ v ) ⎦⎥

Para um cilindro horizontal a correlação é da forma:

⎡ D 3 h ′fg g ( ρ l − ρ v )⎤
1/ 4
hD D
Nu D = = 0,62 ⎢ ⎥ (5.41)
kv ⎣⎢ k vν v (Tw − Tsat ) ⎦⎥

na qual as propriedades são do vapor. Para filme de ebulição sobre uma esfera tem-se

⎡ D 3 h ′fg g ( ρ l − ρ v ) ⎤
1/ 4
hD D
Nu D = = 0,67 ⎢ ⎥ (5.42)
kv ⎢⎣ k vν v (Tw − Tsat ) ⎥⎦
147

Em que

h′fg = h fg + 0,4c p ,v (Tw − Tsat ) (5.43)

e neste caso k v , ν v , ρ v , c p ,v são avaliados a (Tw + Tsat ) / 2 .

Se a temperatura do aquecedor aumenta, o efeito de radiação térmica deve ser


levado através do filme se torna importante. Para se considerar a radiação pode-se
definir um coeficiente equivalente na forma:

3
h = hD + hrad ; hD > hrad (5.44)
4
na qual

σε w (Tw4 − Tsat4 )
hrad = (5.45)
Tw − Tsat

Na Eq. 5.45 a constante de Stefan-Boltzmann tem o valor σ = 5,669 x10 −8 W/m2K4. Para

água se Tw − Tsat > 550 − 600 o C , deve-se considerar radiação. No caso em que

hrad > hD o coeficiente pode ser calculado na forma

1/ 3
⎛h ⎞
h = hD ⎜⎜ D ⎟⎟ + hrad ; hD ≤ hrad (5.46)
⎝ h ⎠

Ex.: 5.4 Refazer o Ex. 5.3 considerando radiação. Adote Tw = 300 o C e ε w = 0,8 .

5.2.4 Escoamento com Ebulição

Se o líquido for forçado sobre o aquecedor, o fluxo de calor deve ser calculado
na forma:

q ′′ = q ′w′ + q c′′ (5.47)


148

na qual q ′w′ é calculado pela Eq. (5.38) e o fluxo de calor devido ao escoamento pode ser
calculado como

q c′′ = hc (Tw − Tl ) (5.48)

O coeficiente de troca convectiva pode ser avaliado como nos capítulos anteriores como
nos casos de convecção forçada externa ou interna ou convecção natural. Por exemplo
para ebulição num duto, uma correlação usada é da forma:

hc D
Nu D = = 0,019 Re 4D/ 5 Pr 0, 4 (5.49)
k
149

6. Transferência de Massa

6.1 Analogia entre Transferência de Massa e Transferência de Calor

Neste capítulo considera-se a transferência de massa, ou transporte de alguma


espécie química através de um meio em que a espécie atua como um contaminante. Os
processos de transferência de massa são abundantes na natureza e em muitos processos.
Um exemplo bem familiar é a secagem de uma superfície molhada exposta ao vento. A
lamina de ar que faz contato com a superfície da camada de água se torna saturada de
vapor d’água. O vapor é a espécie de interesse na mistura de gás ideal representada por
ar úmido.
A concentração de vapor d’água no próximo a superfície, ρ w,0 , é geralmente

diferente da concentração na corrente livre, ρ w,∞ . A diferença de concentração

ρ w,0 − ρ w,∞ > 0 faz com mais vapor deixe a superfície de camada de água. Este
processo de evaporação pode ser aumentado a medida que a velocidade longitudinal da
corrente livre varre a superfície molhada, como ilustrado na Figura 6.1

Figura 5.1 Camada limite de concentração próximo a uma superfície molhada varrida
por ar.

Mesmo que não ocorra escoamento, pode ocorrer transferência de massa por
difusão como ilustrado na Figura 6.2. Um vaso cilíndrico de paredes impermeáveis
contém um líquido i. O vapor i difundirá para cima na coluna de ar estacionária. Ar
úmido de água é menos denso que ar seco. Se a coluna é larga o bastante, ar úmido sobe
150

por convecção natural através do centro da coluna, enquanto ar seco toma seu lugar
descendo ao das paredes.

Figura 6.2 Difusão vertical de vapor i através de uma coluna unidimensional de ar


acima de um líquido i.

O processo de transferência de massa por difusão (meios estacionários) é


análogo ao processo de condução ou difusão de energia e a convecção tem analogia com
∂ρ w
a convecção térmica. O gradiente de concentração tem comportamento similar
∂y y =0

∂T
a .
∂y y =0

6.2 A Conservação das Espécies Químicas

6.2.1 Velocidade das Espécies Versus Velocidade Média

Se ρ i ( x, y, t ) é a concentração de espécies químicas i num meio bidimensional,

então a densidade do meio, ρ , é a soma das densidades individuais:


151

∑ρ
N

ρ= i (6.1)
i =1

Pode-se demonstrar através de balanço de massa que

∂ρ i ∂ (u i ρ i ) ∂ (vi ρ i )
+ + = m i′′′ (6.2)
∂t ∂x ∂y

Na qual u i , vi são as velocidades das espécies i relativas ao volume de controle e m i′′′

resulta de reações químicas. Se não há reações químicas m i′′′ = 0 , e mesmo no caso de

∑ m ′′′= 0 .
N

ocorrer reações químicas a soma de todas as criações de espécies se anula i


i =1

Aplicando o operador somatório a Eq. (6.2) resulta

∂ ⎛⎜ ⎞ ∂ ⎛⎜ ⎞ ∂ ⎛ ⎞
∑ ∑ ∑
N N N

ρi ⎟ + ui ρ i ⎟ + ⎜ vi ρ i ⎟ = 0 (6.3)
∂t ⎜⎝ i =1

⎠ ∂x ⎜⎝ i =1
⎟ ∂y ⎜
⎠ ⎝ i =1

ou pelo uso da Eq. (6.1) obtém-se a conservação da massa ou equação de continuidade

∂ρ ∂ (uρ ) ∂ (vρ )
+ + =0 (6.4)
∂t ∂x ∂y

na qual ρ é a densidade do meio fluido composto pelas espécies i e u, v são os


componentes de velocidade do meio fluido relativas ao mesmo volume de controle onde
estão as espécies i. Por comparação das Eqs. (6.3) e (6.4) pode-se concluir que

∑ ∑v ρ
N N
1 1
u= ui ρ i , (6.5)
ρ ρ
i i
i =1 i =1

A velocidade média difere das velocidades das espécies como ser ilustrado na
Figura 6.3. No instante t = 0 , uma coluna vertical de ar seco a é colocada sob uma
coluna de ar saturado com vapor d’água v . Ao longo do tempo, vapor d’água difunde
152

para baixo dentro da coluna de mistura (ar-vapor) relativamente seca, enquanto ar seco
difunde para cima dentro da mistura úmida. Em cada seção da coluna, a velocidade de
cada espécie é finita, uma positiva (v a > 0 ) e a outra negativa (vv < 0) . A velocidade
média do meio, no entanto, é nula, porque as extremidades da coluna são vedadas.
Pode-se concluir que a componente de velocidade das espécies vi na Eq. (6.4) é, em

geral, diferente da componente de velocidade média v . Ou seja, as espécies podem se


mover em relação ao meio como um todo.

Figura 6.3 Coluna com ambas extremidades fechadas: difusão de vapor de água para
baixo e difusão de ar seco para cima num meio estacionário.

6.2.2 Fluxo de Massa por Difusão

A diferença de velocidade vi − v é reconhecida como velocidade de difusão da

espécie i na direção y. O grupo ρ i (vi − v ) representa a taxa de escoamento da espécie i


na direção y e relativa ao movimento médio do meio. Um nome para este grupo é fluxo
de massa por difusão j y ,i . Assim pode-se definir

j x ,i = ρ i (u i − u ) (6.6)
153

j y ,i = ρ i (vi − v ) (6.7)

e usando a Eq. (6.2) resulta

∂ρ i ∂ (uρ i ) ∂ (vρ i ) ∂j x ,i ∂j y ,i
+ + =− − + m i′′′ (6.8)
∂t ∂x ∂y ∂x ∂y

ou na forma não conservativa

∂ρ i ∂(ρ i ) ∂(ρ i ) ∂j x ,i ∂j y ,i
+u +v =− − + m i′′′ (6.9)
∂t ∂x ∂y ∂x ∂y

6.2.3 Lei de Fick

Numa mistura binária (espécie 1 e espécie2) pode-se seguir o que foi proposto
por Fick:

∂ρ1
j x ,1 = − D12 (6.10)
∂x

∂ρ1
j y ,1 = − D12 (6.11)
∂y

nas quais a constante de proporcionalidade D12 é difusividade de massa da espécie 1 na


espécie 2 ou coeficiente de difusão de 1 em 2. A dimensão de D12 é a mesma de
viscosidade cinemática (difusão de quantidade de movimento) e difusividade térmica
(difusão de calor) m2/s. A equação de concentração para D12 = D , ou seja, difusividade
constante, será da forma:

∂ρ i ∂(ρ i ) ∂(ρ i ) ⎛ ∂2ρ ∂ 2 ρi ⎞


+u +v = D⎜⎜ 2 i + ⎟ + m i′′′
⎟ (6.12)
∂t ∂x ∂y ⎝ ∂x ∂y 2 ⎠
154

Compare a Eq. (6.13) com a equação de energia:

∂T ∂ (T ) ∂ (T ) ⎛ ∂ 2T ∂ 2T ⎞ q ′′′
+u +v = α ⎜⎜ 2 + 2 ⎟⎟ + (6.13)
∂t ∂x ∂y ⎝ ∂x ∂y ⎠ ρc p

|As equações (6.12) e (6.13) mostra a analogia entre transferência de massa e


transferência de calor.

6.2.4 Concentração Molar e Fluxo Molar

No estudo de misturas e soluções, define-se fração molar e fração em massa. As


seguintes relações são definidas, em termodinâmica, para uma mistura de N
componentes i

ni
xi = (6.14)
n

∑x =1
N

i (6.15)
i =1

mi
ρi = (6.16)
V

mi
ni = (6.17)
M

m
n= (6.18)
M

∑x M
N

M = i i (6.19)
i =1
155

⎛ M ⎞
xi = ⎜⎜ ⎟⎟ ρ i (6.20)
⎝ ρM i ⎠

Num meio estacionário 3D:

∂xi ⎛ ∂2x ∂2x ∂2x ⎞


= D⎜⎜ 2i + 2i + 2i ⎟
⎟ (6.21)
∂t ⎝ ∂x ∂y ∂z ⎠

A concentração molar é definida como

ni
Ci = (6.22)
V

Da definição de concentração molar resulta

ρ
Ci = xi (6.23)
M

ρ i = M i Ci (6.24)

Pode-se definir também o fluxo por difusão molar

ˆj x ,i = − D ∂C i (6.25)
∂x

As relações definidas acima se aplicam para qualquer mistura unifásica gasosa, líquida
ou sólida. No caso de mistura de gases ideais tem-se que a fração molar e proporcional a
pressão parcial

pi
xi = (6.26)
p
156

6.3 Difusão através de um Meio Estacionário

6.3.1 Difusão em Regime Permanente

A classe mais simples de transferência de massa por difusão é aquela em que a


mistura é estacionária e já tenha se passado tempo suficiente desde a imposição de
condições de contorno, de modo que, a difusão da espécie seja independente do tempo.
Considere o caso de um meio unidimensional de espessura L como mostrado no
lado esquerdo da Figura 6.4

(a) (b)
Figura 6.4 Difusão unidirecional permanente através de um meio estacionário; (a)
espessura constante, (b) anel formado entre cilindros ou esferas concêntricos

Considerando a geometria do lado esquerdo da Figura 6.4 a Eq. (6.21) se reduz


a

d 2 xi
=0 (6.27)
dy 2

com as condições de contorno

xi = x0 em y = 0
(6.28)
xi = x L em y = L

A solução da Eq. (6.27) com as condições de contorno (6.28) é da forma:


157

xi = ( x L − x 0 )
y
+ x0 (6.29)
L

A partir de (6.29) pode-se calcular os fluxos de difusão molar e em massa como

ˆj y ,i = − D dC i = − D ρ dxi
dy M dy
ρ x0 − x L
=D (6.30)
M L
C − CL
=D 0
L

Dρ i ρM i dxi
j y ,i = − D = −D
dy M dy
ρM i x0 − x L
=D (6.31)
M L
ρ − ρL
=D 0
L

No caso de uma região anelar entre dois cilindros concêntricos a equação de


fração molar no meio será

ln (r / r0 )
xi = x 0 − ( x 0 − x L ) (6.32)
ln (rL / r0 )

Os fluxos molar e de massa por unidade de comprimento serão:

- fluxo molar

( )
n i′ = 2πr0 ˆj r ,i r = r0
⎛ dC ⎞
= 2πr0 ⎜ − D i ⎟
⎝ dr ⎠ r = r0
(6.33)
2πD
= (C 0 − C L )
ln (rL / r0 )

- fluxo em massa
158

⎛ dρ ⎞
m i′ = 2πr0 ( j r ,i )r = r = 2πr0 ⎜ − D i ⎟
0
⎝ dr ⎠ r = r0
(6.34)
2πD
= (ρ 0 − ρ L )
ln (rL / r0 )

A relação entre os fluxos é: m i′ = M i n i′ .

No caso de duas esferas concêntricas tem-se

x0 − x L ⎛ 1 1 ⎞
xi = x 0 + ⎜ − ⎟⎟ (6.35)
r0−1 − rL−1 ⎜⎝ r rL ⎠

Os fluxos molar e de massa por unidade de comprimento serão

- fluxo molar

( )
n i = 4πr02 ˆj r ,i r = r0
⎛ dC ⎞
= 4πr02 ⎜ − D i ⎟
⎝ dr ⎠ r = r0
(6.36)
4πD
= −1 (C 0 − C L )
r0 − rL−1

- fluxo em massa
⎛ dρ ⎞
m i = 4πr02 ( j r ,i )r = r = 4πr02 ⎜ − D i ⎟
0
⎝ dr ⎠ r = r0
(6.37)
4πD
= −1 (ρ 0 − ρ L )
r0 − rL−1

6.3.2 Difusividades de Massa

Para calcular a transferência de massa, deve-se primeiro identificar valores de


dois itens: (6.29)-(6.37):
(a) a difusividade de massa da espécie de interesse, D
(b) a concentração das espécies em duas superfícies ou contornos
159

No caso de uma mistura gasosa binária a difusividade ou coeficiente de difusão


independe do sentido de difusão se de 1 em 2 ou de 2 em 1. Em outras palavras

D = D12 = D21 (6.38)

Demonstração:

A difusão da espécie 1 na 2 será

ˆj y ,1 = − D12 ρ dx1 (6.39)


M dy

e a difusão da espécie 2 em 1 será

ˆj y , 2 = − D21 ρ dx 2 (6.40)
M dy

Somando as Eqs. (6.39) e (6.40)

ˆj y ,1 + j y , 2 = 0 ; em qual quer plano y = cte onde x1 + x 2 = 1 (6.41)

A influência da temperatura e pressão sobre a difusividade pode ser levada em


consideração em relações do tipo:

D(T , p ) ⎛ T ⎞
1, 75
p0
≅⎜ ⎟ (6.42)
D(T0 , p 0 ) ⎜⎝ T0 ⎟⎠ p

No caso de misturas líquidas, os componentes da mistura são chamados de soluto e


solvente (espécie 2). A difusividade é função da temperatura na forma:

D(T ) T μ 2 (T0 )
≅ (6.43)
D(T0 ) T0 μ 2 (T )
160

6.3.3 Condições de Contorno

Os quatro casos principais de condições de contorno são ilustrados na Figura


6.5.

Figura 6.5. Possíveis contornos de meios difusivos e maneiras de especificar condições


de contorno.

O caso Fig. 6.5(a) é uma ilustração de uma interface entre uma mistura de gases
ideais e fase líquida de um de seus componentes. Se a espécie 1 é uma substância pura
na fase líquida então 1 é também um componente na mistura gasosa acima. A pressão
de vapor da espécie 1 na interface do lado do gás é igual a pressão de saturação na
temperatura da interface líquida:

p1 = p1, sat (T ) (6.44)

O caso Fig. 6.5(b) é uma ilustração de uma interface entre um meio líquido e
uma mistura de gasosa. A espécie 1 difunde através do líquido e está presente como um
componente na mistura gasosa. A condição de contorno de interesse é a fração molar da
espécie 1 do lado do líquido. A fração molar na fronteira x L será maior quanto maior a
quantidade da espécie 1 na mistura gasosa, ou seja quando a pressão parcial p1 é alta.
No caso de mistura diluída, na qual apenas pequenas quantidades de solvente são
161

encontradas no líquido, x L e p1 estão relacionados através de uma proporcionalidade


conhecida como lei de Henry:

p1
xL = (6.45)
H

Na qual H é a constante de Henry que depende da temperatura e da substância gasosa.

O caso da Fig. 6.5(c) ilustra uma mistura líquida binária em que o soluto é a
espécie 1. Um exemplo deste tipo de mistura pode ser um bloco de N a C l acima da

interface de água salgada (N a C l e H 2 O ) . A concentração de N a C l do lado líquido pode


ser determinada por equações termodinâmicas e dados de solubilidade.
O caso da Fig. 6.5(d) ilustra uma interface entre um meio sólido e um gás. A
espécie que difunde através do sólido (espécie 1) é também um componente na mistura
gasosa. Neste caso, a concentração na fronteira é dada por

C L = S ⋅ p1 (6.46)

na qual S é o coeficiente de solubilidade da espécie 1 no sólido.

Ex. 6.1 Difusão permanente, sólido entre dois planos paralelos. Uma membrana de
borracha fina (neoprene) separa um volume de nitrogênio gasoso a alta pressão (5 bares)
de um volume de nitrogênio gasoso a baixa pressão (1 bar). A espessura da membrana é
05 mm e a temperatura do sistema inteiro é de 300 K. Calcule os fluxos molar e de
massa de nitrogênio que difundem através da membrana.

6.3.4 Difusão Dependente do Tempo

Um processo de difusão transiente é ilustrado na Figura 6.6. Inicialmente a


concentração da espécie de interesse é uniforme e igual a C in . No instante t = 0 , a

concentração em y = 0 é mantida a C 0 por contato com outro meio. Quando C 0 é

maior que C in a espécie difunde para dentro do meio semi-infinito e forma uma camada
162

limite de concentração, cuja espessura aumenta com o tempo. A equação governante do


problema é:

∂ 2 C 1 ∂C
= (6.47)
∂y 2 D ∂t

com as condições inicial e de contornos

C = C in , t = 0 (6.48)

C = C 0 , em y = 0 (6.49)

C → Cin , em y → ∞ (6.50)

Figura 6.6 Camada limite de concentração num meio semi-infinito com uma
concentração diferente imposta na superfície.

A solução da Eq. (6.47) com a condição inicial (6.48) e condições de contornos


(6.49 e (6.50) é da forma (fica como exercício obter a solução)

C − C0 ⎡ y ⎤
= erf ⎢ 1/ 2 ⎥
(6.51)
C in − C 0 ⎣ 2( D ⋅ t ) ⎦

Na Eq. (6.51) erf é denominada de função erro definida como


163

erf ( x) =
2

x
( )
exp − m 2 dm (6.52)
π 1/ 2 0

Com seguintes propriedades:

erf (0) = 0
erf (∞) = 1 (6.53)
d
[erf ( x)]x=0 = 21 / 2
dx π

No caso de uma parede plana, o comprimento característico é

D
t (6.54)
L2

e para cilindros ou esferas o comprimento característico é

D
t (6.55)
ro2

Resultados gráficos da Eq. (6.51) são apresentados na Figura 6.7. No caso em que a
abscissa na Fig. 6.7 for maior que 0,1, as correlações aproximadas pode ser usadas:

Placa:

Co − C 8 ⎛ π D ⎞
≅ 2 exp⎜ − 2 ⎟
t (6.56)
C 0 − C in π ⎝ 4L ⎠

Cilindro:

Co − C 4 ⎛ D ⎞
≅ 2 exp⎜⎜ − b12 2 t ⎟⎟, b1 = 2,405 (6.57)
C 0 − C in b1 ⎝ ro ⎠
164

Figura 6.7. Concentração média no volume em corpos com concentração constante


imposta no contorno.

Esfera:

Co − C 4 ⎛ D ⎞
≅ 2 exp⎜⎜ − π 2 2 t ⎟⎟ (6.58)
C 0 − C in π ⎝ ro ⎠

Ex. 6.2: Difusão dependente do tempo de ar em água. Uma camada fina de água pura é
colocada em contato com ar a pressão atmosférica e 20 oC. Ar começa a difundir para
dentro da água. Deseja-se saber qual é a fração molar de ar x a 1 mm para dentro da
interface água-ar. Calcule o tempo para x atingir ½ da fração molar do ar na interface
x0 , isto é x = x0 / 2 . Calcule também o valor real da fração molar x no tempo.
165

6.4 Convecção

6.4.1 Convecção Forçada em Escoamento de Camada Limite Laminar

A analogia entre transferência de massa e transferência de calor também pode


ser feita no caso de convecção. A Figura 6.8 ilustra uma camada limite de convecção no
caso de transferência de massa

Figura 6.8 Transferência de massa de uma superfície plana para um escoamento em


camada limite por convecção forçada laminar

O fluxo molar na superfície é definido como

ˆj w = − D⎛⎜ ∂C ⎞⎟ (6.59)
⎜ ∂y ⎟
⎝ ⎠ y =0

e o coeficiente de transferência de massa por convecção para o escoamento externo


pode ser definido como

ˆj w
hm = ou (6.60)
C w − C∞

D(∂C / ∂y ) y =0
hm − (6.61)
C w − C∞

A distribuição de concentração no escoamento é governada pela seguinte


equação:
166

∂C ∂C ∂ 2C
u +v =D 2 (6.62)
∂x ∂y ∂y

com as condições de contorno

C = C w em y = 0 (6.63)

C → C ∞ em y → 0 (6.64)

O campo de concentração é determinado da mesma maneira que no caso da


camada limite térmica. A Analogia entre transferência de calor e de massa nos permite
fazer a seguinte equivalência de variáveis nas camada limite de temperatura (C.L.T) e
camada limite de concentração (C.L.C):

Transf. de calor → Transf. de massa


T → C
Tw → Cw
T∞ → C∞ (6.65
α → D
q ′w′ → ˆj w
k → D

No caso da camada limite térmica laminar tem-se a correlação para o coeficiente


de transferência de calor:

q ′w′ x ⎛ν ⎞ ⎛ν
1/ 3 1/ 2
⎛ u∞ x ⎞ ⎞
Nu x = = 0,332⎜ ⎟ ⎜ ⎟ ; ⎜ ≥ 0,5 ⎟ (6.66)
Tw − T∞ k ⎝α ⎠ ⎝ ν ⎠ ⎝α ⎠

Por analogia pode-se escrever

⎛ ν ⎞ ⎛ u∞ x ⎞ ⎛ν
1/ 3 1/ 2
ˆj w x ⎞
= 0,332⎜ ⎟ ⎜ ⎟ ; ⎜ ≥ 0,5 ⎟ (6.67)
C w − C∞ D ⎝D⎠ ⎝ ν ⎠ ⎝D ⎠

w no caso de transferência de massa se define o número de Sherwood:


167

Shx = 0,332(S c ) (Re x )1 / 2 ; (S c ≥ 0,5)


1/ 3
(6.68)

na qual
ˆj w x h x
Shx = = m (6.69)
(C w − C ∞ )D D

e S c é o número de Schmidt definido como

ν
Sc = (6.70)
D

A analogia entre transferência de calor e massa leva a equivalência:

Transf. de calor → Transf. de massa


Nu x → Shx (6.71)
Pr → Sc

No caso de escoamentos com baixo número de Prandtl a correlação de cálculo


do coeficiente de transferência de calor é:

q ′w′ x
Nu x = = 0,564(Pr ) (Re x ) ; (Pr ≤ 0,5)
1/ 3 1/ 2
(6.72)
Tw − T∞ k

De maneira análoga pode-se obter

ˆj w
= 0,564(S c ) (Re x ) ; (S c ≤ 0,5)
x
Shx =
1/ 3 1/ 2
(6.73)
C w − C∞ D

O coeficiente de transferência de massa pode ser calculado como

1 L
L ∫0
hm = hm dx (6.74)
168

e o número de Sherwwod baseado neste coeficiente é definido na forma:

hm L
S hL = (6.75)
D
A partir das Eqs. (6.68) e (6.73) pode-se obter

S hL = 0,664(S c ) (Re L )1 / 2 ; (S c ≥ 0,5)


1/ 3
(6.76)

S hL = 1,128(S c ) (Re L )1 / 2 ; (S c ≤ 0,5)


1/ 3
(6.77)

O coeficiente de transferência de massa baseado no fluxo de massa pode ser


avaliado como

jw
hm = (6.78)
ρw − ρ∞

Desta forma, as vazões molar e de massa podem ser calculadas como

n ′ = hm L(C w − C ∞ ) (6.79)

m ′ = hm L(ρ w − ρ ∞ ) (6.80)

n = hm A(C w − C ∞ ) (6.81)

m = hm A(ρ w − ρ ∞ ) (6.82)

6.4.2 O Modelo de Superfície Impermeável

O caso de parede impermeável, v = 0 , só é justificado quando a concentração da


espécie de interesse é baixa, menor do que um valor crítico. O fluxo de massa pode ser
calculado como
169

D 1 / 2 n ⎧n = 1 / 3; S c ≥ 0,5
j w ≈ (ρ w − ρ ∞ ) Re x S c ⎨ (6.83)
x ⎩n = 1 / 2; S c ≤ 0,5
No caso de camada limite com v ≠ 0 ou linhas de corrente não paralela a y = 0 ,

ρv ≈ ρu ∞ Re −x1 / 2 (6.84)

A transferência de massa através da parede só pode desprezada quando o


movimento transversal induzido por ela é pequeno relativo ao movimento natural
transversal (sempre presente) da camada limite, isto é,

j w < ρv ou (6.85)

ρw − ρ∞
< S c1− n (6.86)
ρ

A hipótese de parede impermeável só é válida a baixas concentrações ρ w − ρ ∞ que


satisfaz a eq. (6.86).

Ex. 6.3 C.L. laminar, escoamento de ar úmido. A chuva deixa um filme de água sobre
uma telha de um telhado. O vento a 10 km/h varre a telha ao longo de seus 10 cm de
comprimento exposto. O ar atmosférico e a superfície da telha estão a 25 oC. A umidade
relativa do ar é: φ = 40% .
a) Calcule o coeficiente médio de transferência de massa entre a superfície da telha
e ao ar úmido.
b) Determine a taxa de transferência de massa de água que deixa a superfície da
telha.
c) Verifique se a hipótese de superfície impermeável é justificada neste caso.

6.4.3 Convecção Externa Forçada Sobre Outras Configurações

De maneira similar ao que foi para transferência de calor, pode-se analisar a


transferência de massa em outras configurações. Um caso de interesse é a camada limite
170

turbulenta sobre uma superfície plana, que no caso de transferência de calor leva a
correlação:
⎧ Pr ≥ 0,5
(
N u L = 0,037 Pr1 / 3 Re 4L / 5 − 23550 ) ⎨ (6.87)
⎩5,5 x10 < Re < 10
5 8

Por analogia, pode-se definir o número de Sherwood na forma

⎧S c ≥ 0,5
S hL =
hm L
(
= 0,037 S c1 / 3 Re 4L / 5 − 23550 ) ⎨ (6.88)
⎩5,5 x10 < Re < 10
5 8
D

Pela analogia de Colburn, o número de Stanton foi definido na forma para altos
Reynolds

St x =
1
C f , x Pr− 2 / 3 ; (Pr ≥ 0,5) (6.89)
2

em que o coeficiente de atrito local e definido como

−1 / 5
1 ⎛u x⎞
C f , x = 0,0296⎜ ∞ ⎟ (6.90)
2 ⎝ ν ⎠

e portanto,

St x = 0,0296 Pr−2 / 3 Re −x1 / 5 ; (Pr ≥ 0,5) (6.91)

O número de Stanton é definido como

hx hα q ′w′α
St x = = x = (6.92)
ρc p u ∞ ku ∞ (Tw − T∞ )ku ∞

Por analogia entre transferência de massa e transferência de calor


171

q ′w′α ˆj w D
→ (6.93)
(Tw − T∞ )ku ∞ (C w − C ∞ )Du ∞

então, pode-se definir o número de Stanton local para transferência de massa como

hm
St m = (6.94)
u∞

St m = 0,0296S c−2 / 3 Re −x 1 / 5 ; (S c ≥ 0,5) (6.95)

o que leva ao coeficiente médio

S t m = 0,037 S c−2 / 3 Re −L1 / 5 ; (S c ≥ 0,5) (6.96)

Em outras configurações também estão cilindros e esferas em escoamentos


cruzados, Figura 6.9. Para um cilindro em escoamento cruzado, o numero de Nusselt foi
definido como

Figura 6.9. Cilindro ou esfera em escoamento cruzado com transferência de massa.

4/5
0,62 Re1D/ 2 Pr1 / 3 ⎡ ⎛ Re D ⎞ 5 / 8 ⎤
N u D = 0,3 + ⎢1 + ⎜ ⎟ ⎥
[1 + (0,4 / P ) ]
(6.97)
⎣⎢ ⎝ 282000 ⎠ ⎦⎥
2 / 3 1/ 4
r

Se definir o número de Sherwood baseado no diâmetro externo como


172

hm D0
S hD0 = (6.98)
D

obtém-se por analogia


4/5
⎡ ⎛ Re D ⎞ 5 / 8 ⎤
S hD0 = 0,3 +
0,62 Re1D/ 2 S c1 / 3
⎢1 + ⎜ ⎟ ⎥ (
; Re D0 S c > 0,2 )
[1 + (0,4 / S ) ]
(6.99)
c
2 / 3 1/ 4
⎢⎣ ⎝ 282000 ⎠ ⎥⎦

Para uma esfera em escoamento cruzado, a correlação para se calcular o


coeficiente de transferência de massa é da forma

(
S hD0 = 2 + 0,4 Re1D/02 + 0,06 Re 2D/03 S c0, 4 ;) (3,5 < Re D0 < 7,6 x10 4 ) (6.100)

6.4.4 Convecção Forçada Interna

Um escoamento com transferência de massa em convecção forçada interna é


ilustrado na Figura 6.10. O coeficiente de transferência de massa pode ser definido
como

ˆj w jw
hm = = (6.101)
C w − Cb ρ w − ρ b

na qual a concentração média é definida como

1
UA ∫A
Cb = uCdA (6.102)

No caso de escoamento laminar o comprimento de desenvolvimento da


concentração é

Xc UDh
≅ 0,05 Re Dh S c ; Re Dh = (6.103)
Dh ν
173

Para escoamento laminar num tubo num tubo o número de Sherwwod baseado no
diâmetro interno é

hm Di
S hDi = (6.104)
D
Na região de escoamento completamente desenvolvido na velocidade e concentração

hm Di
= 3,66 (6.105)
D

Figura 6.10. Escoamento num tubo com transferência de massa.

No caso de escoamento turbulento, o comprimento de desenvolvimento é


estimado como

Xc
≅ 10 (6.106)
Di

No caso do escoamento turbulento completamente desenvolvido, por analogia pode


calcular o número de Sherwood como

ShDi = 0,023 Re 4D/i 5 S c1 / 3 ; (S c ≥ 0,5; 2 x10 4 < Re Di < 10 6 ) (6.107)

Ex. 6.4. Escoamento laminar completamente desenvolvido num duto com condições e
contorno assimétricas. O espaço ente dois painéis paralelos de vidro é 0,4 cm e o
comprimento do canal é 1,5 m. Uma película de água cobre uma das supefícies. A outra
174

superfície não contém qualquer água líquida sobre ela. A temperatura do sistema todo é
25oC. Ar é forçado através do canal para secar a neblina na superfície. A velocidade
média é 0,5 m/s. Calcule o coeficiente de transferência de massa entre a parede molhada
e a corrente de ar.

6.4.5 Convecção Natural

A transferência de massa também pode ocorrer em convecção natural. Neste


caso a massa específica da mistura pode ser definida como uma função da temperatura,
pressão e da massa específica das espécies componentes da mistura, ρ i , na forma:

ρ = ρ (T , p, ρ i ) (6.108)

Assumindo uma expansão para a massa específica da mistura na forma:

⎛ ∂ρ ⎞
ρ ≅ ρ ∞ + ⎜⎜ ⎟⎟ (ρ i − ρ i ,∞ ) + " ou
⎝ ∂ρ i ⎠T , p

ρ = ρ ∞ [1 − β c (ρ i − ρ i ,∞ ) + "] (6.109)

na qual ρ ∞ é uma massa específica de referência da mistura correspondendo ρ i ,∞ e

1 ⎛ ∂ρ ⎞
βc = − ⎜ ⎟⎟ (6.110)
ρ ⎜⎝ ∂ρ i ⎠T , p

é o coeficiente de expansão de composição da mistura.


No caso de camada limite sobre uma superfície plana vertical, Figura 6.11, as
equações governantes são:

∂v ∂v ∂ 2v
u +v = ν 2 + gβ c (ρ i − ρ i ,∞ ) (6.111)
∂x ∂y ∂x
175

∂ρ i ∂ρ ∂2ρ
u + v i = D 2i (6.112)
∂x ∂y ∂x

Figura 6.11. Transferência de massa em convecção natural numa superfície plana


vertical

O número de Rayleigh pode ser definido por analogia na forma:

gβ (Tw − T∞ ) y 3 gβ c (ρ i , w − ρ i ,∞ )y 3
Ra y = → = Ra m , y (6.113)
να νD

Analogia entre os processos de transferência de calor e massa permite fazer a


seguinte equivalência entre variáveis

Trans. de calor → Transf. de massa


T → ρi
β (Tw − T∞ ) → β c (ρ i , w − ρ i ,∞ )
α → D
(6.114)
Ra y → Ra m, y
k → D
Pr → Sc
Nu y → Sh y
176

O número de Sherwood global pode ser calculado como

2
⎧⎪ 0,387 Ra 1m/,6y ⎫⎪
S h y = ⎨0,825 + 8 / 27 ⎬
(10 −1
Ra m , y < 1012 )
[ ]
; (6.115)
⎪⎩ 1 + (0,492 / S c ) ⎪⎭
9 / 16

O Sherwood global é definido como

hm y jw y ˆj w y
Shy = = =
(ρ i,w − ρ i,∞ )D (Ci,w − Ci,∞ )D
(6.116)
D
177

Bibliografia

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