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Unversidade Estadual de Campinas

Faculdade de Engenharia Civil


Departamento de Arquitetura e Construção

TRACOS DE ARGAMASSAS E CONCRETOS

Materiais de Construção Civil I

Notas de Aula

Profa. Dra. Gladis Camarini

Junho, 2001
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TRAÇO DO CONCRETO E DA ARGAMASSA

Chama-se traço à relação entre o cimento e os diferentes constituintes do concreto.


Essa relação pode ser utilizada em massa ou em volume. Na expressão do traço é usual
representar a quantidade de cimento como unitária.
A representação do traço das argamassas e concretos pode ser feita em massa, mista
ou em volume, como será detalhada a seguir.

1. NOTAÇÃO

A notação empregada usualmente é aquela correspondente ao proporcionamento do


concreto sendo apresentada como

aglomerante : agregado miúdo : agregado graúdo : água

Representa-se o aglomerante como tendo sempre uma quantidade unitária, isto é, 1 kg,
1 litro, 1 saco. Desta forma, o traço é representado por:

1:a:p:x

sendo:

1 – a quantidade de cimento.

a – a quantidade de agregado miúdo.

p – a quantidade de agregado graúdo.

x ou relação a/c – a quantidade de água em relação à quantidade de cimento.


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Os traços das argamassas e concretos poderão ser apresentados em massa, misto ou


em volume.
O traço é em massa quando os materiais constituintes são apresentados em massa. É
o traço mais preciso e emprega-se em laboratórios e usinas de concreto.
O traço é misto quando os materiais constituintes são apresentados em massa e em
volume, isto é o aglomerante em massa e os agregados em volume. Não é uma apresentação
tão precisa quanto o traço em massa, mas obtém-se uma boa aproximação dos valores reais. O
Emprega-se o traço misto em obra. O volume dos agregados é medido em latas ou padiolas.
O traço é em volume quando os materiais constituintes, aglomerantes e agregados,
são apresentados em volume. É uma representação imprecisa do traço já que o aglomerante é
bastante adensável e sua quantidade modifica em função da sua compactação nas latas ou nas
padiolas.
Para trabalhar com os traços é preciso conhecer as características físicas dos
aglomerantes e dos agregados.

Na literatura é possível encontrar também a notação:

m- soma das quantidades de agregados miúdos e graúdos.


m=a+ p a ≅ 0,4m

H - relação entre a quantidade de água e a quantidade dos materiais secos, em massa.

x x x
H= H= m= −1
a+ p+c 1+ m A

2. CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DOS AGREGADOS E DO CIMENTO

δa = massa unitária (massa específica aparente) do agregado miúdo (1,5 kg/l);


δ p = massa unitária (massa específica aparente) do agregado graúdo (1,3 kg/l);
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δ c = massa unitária (massa específica aparente) do cimento (1,42 kg/l);


γ a = massa específica do agregado miúdo (2,65 kg/l);
γ p = massa específica do agregado graúdo (2,65 kg/l);
γ c = massa específica do cimento (3,15 kg/l);
C = consumo de cimento (kg/m3 de concreto).

3. REPRESENTAÇÃO DOS TRAÇOS

a) Traço em massa, relativo a 1 kg de cimento 1:a:p:x 1 : 2 : 2,5 : 0,5

b) Traço em massa, por saco de cimento 1 : 50a : 50p : 50x 1 : 100 : 125 : 25

c) Traço em massa, por consumo de cimento (kg de cimento/m3 de concreto).

Adotando-se C = 390 kg/m3, tem-se:

C : Ca : Cp : Cx

390 : 780 : 975 : 195

d) Traço dos agregados em volume, por kg de cimento:


a p
1: : :x
δa δ p

2 2,5
1: : : 0,5
1,5 1,3

1: 1,33 : 1,78 : 0,5


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e) Traço dos agregados em volume (litros), por litro de cimento (δc=1,42 kg/l)
a p x
1: δc : δc : δc
δa δp 1

1 : 1,89 : 2,53 : 0,71

f) Traço em volume (1/m3), relativo ao consumo de cimento (kg/m3).

C=390 kg/m3

a p x
C :C :C :C
δa δp 1

390 : 520 : 750 : 195

4. CONSUMO DE CIMENTO (C)

O consumo de cimento é um dado importante quando se pensa em dosagem do


concreto, principalmente em dosagens empríricas em que as Normas Brasileiras recomendam
um consumo mínimo de 300 kg de cimento para cada metro cúbico (m³) de concreto. Assim,
torna-se interessante conhecer o seu cálculo.
No entanto, para que se calcule o consumo de cimento por m³ de concreto preparado,
desprezam-se os vazios e quaisquer reduções de volume posteriores à mistura. Portanto,
considera-se que o volume total da mistura de concreto ou de argamassa seja igual à soma dos
volumes dos seus materiais constituintes.
Logo, o volume total de concreto será a soma dos volumes do cimento, da areia, da
pedra e da água.
Então, para 1 m3 (1000 litros) tem-se:

Vc + Va + Vp + Vág = 1000
Onde,
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Vc = volume de cimento.
Va = volume de areia.
Vp = volume de pedra.
Vág = volume de água.

Sendo:
C Ca Cp
γc = γa = γp = tem-se:
Vc Va Vp

C Ca Cp Cx
+ + + = 1000
γc γa γp 1

1000
C=
1 a p
+ + +x
γc γa γp

Essa fórmula pode ser simplificada adotando-se os valores de γc = 3,15 kg/l e a


aproximação γa = γp = 2,65 kg/l.
Como m = a + p, tem-se:

1000
C=
m
0,32 + +x
2,65

Com o cálculo do consumo de cimento, é possível calcular o consumo de materiais


empregado para confeccionar cada m³ de argamassa ou concreto.

Quantidade de areia para cada m³ de concreto = Ca.


Quantidade de pedra para cada m³ de concreto = Cp.
Quantidade de água para cada m³ de concreto = Cx.

É importante observar que essas quantidades são dadas em massa. Como os agregados
são adquiridos em volume, é preciso transformá-las em volume. Não se pode esquecer
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também do teor de umidade normalmente presente nos agregados miúdos, devendo ser
considerada no cálculo.

5. PROPORÇÃO ENTRE OS AGREGADOS PARA OS CONCRETOS

As Normas Brasileiras estabelecem que, nas dosagens empríricas, a porcentagem de


agregado deverá estar entre 30% e 50%. Esses valores foram estabelecidos para se obter uma
consistência adequada para o emprego dos concretos. Para isso, devem ser consideradas a
forma dos grãos do agregado graúdo e a granulometria do agregado miúdo. Quanto à forma
dos grãos, os agregados graúdos podem ser subdivididos em duas categorias:
I – agregados com forma arredondada (seixos rolados ou pedregulhos).
II – agregados com arestas vivas (pedras britadas).
Considerando a granulometria, os agregados miúdos podem receber a seguinte
classificação:
I- Areia fina (MF < 2,4 e DMC < 2,4 mm).
II- Areia média ( 2,4 < MF < 3,9 e 2,4 mm < DMC < 4,8 mm)
III- Areia grossa ( MF > 3,9 e DMC = 4,8 mm

Com essas considerações é possível obter, da Tabela 1, a melhor composição possível


para a mistura de agregados.

Tabela 1 – Mistura de agregados

Agregado % de areia, em massa, no agregado total


graúdo Fina Média Grossa
Seixo 30 a 34 35 a 39 40 a 44
Brita 40 a 44 45 a 49 50 a 54

Exemplo:
Empregando-se areia média e pedra britada, da Tabela acima tem-se: a = 47%.
Como m = a + p, e “a” vale 47% de “m”, isto é, a = 0,47m, conhecendo-se o valor de, obtém-
se os valores “a” e “p”. Ou conhecendo-se o valor de “a” é possível calcular o valor de “p”.
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6. QUANTIDADE DE ÁGUA DE AMASSAMENTO

A quantidade de água é de fundamental importância para a obtenção de um concreto


que atenda às exigências do projeto. Comprovou-se que, para determinados materiais, a
quantidade de água em relação à mistura seca é praticamente a mesma. Isto quer dizer que,
para uma determinada trabalhabilidade do concreto, a quantidade de água varia com a
granulometria e com a forma dos agregados, mas independe do traço. No entanto, é
importante salientar que a variação da resistência é inversamente proporcional à quantidade
de água.
Essa quantidade de água de amassamento é conhecida como teor de água/materiais
secos (H). Assim, o teor de água/materiais secos é definido como a relação entre a massa de
água empregada no concreto (água de amassamento) e a massa dos materiais secos.
Para o traço, em massa, 1 : a : p : x, tem-se:

massa de água
H (%) = .100
massa de materiais sec os

x
H% = .100
1+ a + p

x
H% = .100
1+ m

Estabeleceram-se valores práticos para a quantidade de água em relação à quantidade


de materiais secos empregados no traço, Em geral, os valores de H variam entre 5% e 12%.
No entanto, esses valores dependem da dimensão máxima característica do concreto, isto é, da
dimensão máxima característica da maior pedra que entra na produção do concreto. Esses
valores dependem também do tipo de adensamento (compactação nas formas) empregado no
concreto: manual, vibratório moderado (agulhas de imersão) ou vibratório enérgico (mesa
vibratória).
A Tabela 2, a seguir, apresenta os valores práticos de H para concretos que empregam
agregados com dimensão máxima característica de até 50 mm. Deve-se observar que estes
valores foram calculados para concretos produzidos com areia natural e pedra britada.
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Empregando seixo rolado os valores devem ser reduzidos em 0,5% e para o emprego de areia
artificial os valores devem ser acrescidos em 1,0%.

Tabela 2 – Valores práticos de H

Dimensão Tipo de adensamento


Máxima manual Vibratório Vibratório
Característica (mm) moderado enérgico
9,5 11,0 10,0 9,0
19 10,0 9,0 8,0
25 9,5 8,5 7,5
38 9,0 8,0 7,0
50 8,5 7,5 6,5
Abatimento (cm) > 6,0 2,0 a 6,0 0 a 2,0

A Tabela 3, abaixo, apresenta alguns traços práticos empregados em obras e foram


retirados da revista “A Construção SP”. Deve-se observar que estes traços são de caráter geral
e correspondem aos materiais (cimento, areia e pedra britada) empregados na época do
estudo.

Tabela 3 - Traços práticos para construções (Revista A Construção- 12/83).

Traços práticos 1:3,5:4,5 1:3:4 1:2,5:3,5 1:2:3


(kg/m3)
Cimento 275 310 350 410
Areia seca 770 745 710 660
Brita 1160 1160 1160 1160
Água 180 180 180 180
Areia/pedra 0,40 0,39 0,38 0,36
Fator a/c 0,66 0,58 0,51 0,44
Fc28 (MPa) 49 24 30 38
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8. SITUAÇÕES FREQÜENTES

A partir do conhecimento das características dos materiais a serem empregados na


fabricação do concreto (areia e pedra), do tipo de adensamento utilizado (manual ou
mecânico) e das características da obra, procura-se em geral:

a) Transformação de traço;
b) Dosagem do concreto:
• A partir do consumo de cimento (C)
• A partir da resistência à compressão (fc28)

c) Consumo de materiais a partir do traço.

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