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SISTEMA DE MONITORAÇÃO REMOTA E AVALIAÇÃO DO ESTADO OPERATIVO DE TRANSFORMADORES DE

POTENCIAL CAPACITIVO (TPCS) INSTALADOS EM SUBESTAÇÕES EM OPERAÇÃO

MARCIO LACHMAN*, JACQUELINE G. ROLIM*

*Depto. de Engenharia Elétrica, Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC


EEL - CTC - LABSPOT CEP 88040-900, Florianópolis, SC, BRASIL, 48-3331-9593
E-mails: lachman@labspot.ufsc.br, jackie@labspot.ufsc.br

Abstract⎯ This work proposes a tool for remote monitoring and evaluation of the operative state of Coupling Capacitor Volt-
age Transformers (CCVTs) installed in substations in operation. The methodology used in this system is based on the monitoring
of the zero-sequence voltage resulting from each three-phase set of CCVTs at the substation. The monitoring tool computes the
phasors of the fundamental frequency voltage by processing the sampled data from the secondary of each CCVT. With the three
phasors, the zero-sequence voltage is calculated and compared with a threshold. The objective of the tool is to support the main-
tenance specialists in the task of detecting defects in CCVTs, in order to assure their correct operation and, consequently, the cor-
rect operation of the protection and measurement systems.

Keywords⎯ Coupling Capacitor Voltage Transformer (CCVT), Instrument Transformers, Monitoring, zero-sequence voltage.

Resumo⎯ Este artigo apresenta uma ferramenta de monitoramento remoto e avaliação do estado operativo de Transformadores
de Potencial Capacitivo (TPCs) instalados em subestações em operação. A metodologia empregada neste sistema é baseada no
monitoramento das tensões de seqüência zero resultantes de cada conjunto trifásico de TPCs instalados na subestação. A rotina
computacional calcula os fasores de tensão de freqüência fundamental a partir do processamento dos dados amostrados de tensão
provenientes do secundário dos TPCs. Com os fasores obtidos, a tensão de seqüência zero é calculada e comparada com um limi-
ar tolerável pré-estabelecido. O objetivo da ferramenta é auxiliar as equipes de manutenção das concessionárias de energia elétri-
ca na detecção de defeitos e anomalias nestes equipamentos para o correto funcionamento dos sistemas de proteção e medição
que fazem parte do sistema de potência.

Palavras-chave⎯ Transformadores de Potencial Capacitivo (TPCs), Transformadores para Instrumentos, Monitoramento, Ten-
são de Seqüência Zero

transformador de potencial indutivo; circuito supressor


1 Introdução
de ferro-ressonância (CSF) e acessórios para conexão
de equipamentos de onda portadora (CAR).
Os transformadores para instrumentos (TIs) tais
A função do divisor de tensão capacitivo, compos-
como transformadores de corrente (TCs), transforma-
to por dois conjuntos de capacitores C1 e C2 é reduzir a
dores de potencial (TPs) e os transformadores de po-
tensão do sistema para uma tensão intermediária (Vint)
tencial capacitivo (TPCs) são responsáveis pela redu-
na faixa de 5 kV até 20 kV. O reator de compensação
ção dos sinais de tensão e de corrente dos sistemas de
(Lc) é uma reatância XL ajustável, com o objetivo de
alta tensão para níveis compatíveis com relés de prote-
manter a tensão no secundário (Vs) em fase com a ten-
ção, medidores e outros sistemas de monitoramento.
são do sistema. Geralmente, os TPCs apresentam no
Considerando a grande importância dos transformado-
reator de compensação e no transformador indutivo,
res para instrumentos para a operação segura e confiá-
derivações acessíveis para pequenos ajustes. Através
vel dos sistemas de energia elétrica, é proposto neste
do reator de compensação são realizados os ajustes de
trabalho um sistema de monitoramento on-line de
ângulo de fase e através dos taps do transformador
transformadores de potencial capacitivos para detecção
indutivo são realizados os ajustes de amplitude. A fim
de defeitos nestes equipamentos.
de evitar oscilações indesejadas o TPC utiliza um dis-
positivo supressor de ferro-ressonância (CSF). Devido
1.1 Fundamentos Teóricos à capacitância do divisor de tensão estar em série com
Os TPCs não estão entre os equipamentos mais caros a indutância do transformador indutivo e com o reator
de uma subestação ou usina, no entanto defeitos nestes de compensação, este conjunto constitui um circuito
equipamentos podem causar desligamentos indeseja- ressonante sintonizado em 60 Hz. Este circuito pode
dos do circuito (linha de transmissão ou transforma- entrar em ressonância podendo saturar o núcleo de
dor) conectado a este TPC, o que justifica o uso de ferro do transformador indutivo por vários distúrbios
sistemas de monitoramento on line para detectar pro- na rede. Assim o CSF é necessário para evitar sobre-
blemas ainda em estágios iniciais, quando um serviço tensões perigosas que podem sobreaquecer à unidade
de manutenção pode ser programado, minimizando eletromagnética, romper sua isolação e até mesmo
prejuízos à empresa, equipamentos e consumidores. destruir o equipamento (Tziouvaras et al., 2000).
A Figura 1 mostra o diagrama esquemático de um Os TPCs podem ser utilizados também para trans-
Transformador de Potencial Capacitivo (TPC). Neste missão de sinais de onda portadora através de linhas de
diagrama são ilustrados os seguintes componentes que transmissão. Nestes casos, o sistema de onda portadora
fazem parte do equipamento: Divisor de tensão capaci- é constituído por uma bobina de drenagem (Ld), cente-
tivo composto por C1 e C2; reator de compensação Lc; lhador (G) e chave de aterramento (Ch).
Linha
2.2 Modelagem através de circuito equivalente para
C1 Lc
TP indutivo simulações digitais
Vp. A representação detalhada do modelo geral do
C2 CSF Vs
Carga
TPC exige dados que não são facilmente fornecidos
CAR
pelos fabricantes. Nestes casos podem ser utilizadas
Ld G Ch técnicas experimentais em laboratório para estimação
dos parâmetros do equipamento.
Figura 1: Diagrama do TPC
Kezunovic et al., (1992) realizaram diversos estu-
dos de sensibilidade visando demonstrar a influência
2 Modelagem dos Transformadores de Potencial dos diversos parâmetros na curva de resposta em fre-
Capacitivo qüência do equipamento e a possibilidade de reduzir a
complexidade do modelo geral do TPC da Figura 2.
Os resultados das análises de sensibilidade demonstra-
Na literatura são propostos vários modelos de TPCs,
ram que as capacitâncias parasitas do reator de com-
tanto para análise no domínio da freqüência como no
pensação (Cc) e do enrolamento primário (Cp) têm
domínio do tempo. Estes modelos podem ser imple-
grande influência na resposta do TPC para freqüências
mentados em programas para simulações de transitó-
mais elevadas (acima de 1000 Hz), ao passo que, a
rios eletromagnéticos como: ATP (Alternative Transi-
capacitância equivalente do divisor capacitivo (CE =
ents Program), EMTP (Electromagnetic Transients
C1 + C2) tem influência em freqüências menores. O
Program), PSCAD (Power Systems CAD) ou
circuito supressor de ferro-ressonância (CSF) revelou
EMTDC (Electromagnetic Transients including DC).
a importância de seus parâmetros em praticamente
Com estas simulações pode-se prever o comportamen-
toda a faixa de freqüências se comparado com as cur-
to do TPC frente aos distúrbios transitórios no sistema
vas do modelo completo do TPC. Através de outras
e também em regime permanente. Através da análise
análises de sensibilidade, os autores concluíram que os
de algumas simulações é possível visualizar como um
parâmetros Cps, Rs, Ls e Cs podem ser suprimidos do
TPC defeituoso pode afetar o desempenho dos siste-
modelo geral sem comprometer os resultados para a
mas de proteção e medição conectados ao seu secun-
faixa de freqüência de 10 Hz a 10 kHz. O modelo re-
dário.
sultante após estas análises corresponde ao circuito da
Figura 3.
2.1 Modelo geral do TPC
Na Figura 4 é visualizado um circuito supressor
Um modelo geral de TPC capaz de prever sua resposta de ferro-ressonância (CSF) com modo de operação
em freqüências mais elevadas (em torno de 10 kHz) ativo e seu modelo analítico equivalente. Este circuito
pode ser visualizado na Figura 2. Este modelo consiste consiste em um reator com núcleo de ferro não saturá-
dos seguintes elementos: divisor de tensão capacitivo vel, representado, por Lf em paralelo com um capacitor
(C1 e C2), reator de compensação (Rc, Lc, Cc), trans- Cf.
formador intermediário indutivo (Rp, Lp, Cp, Cps, Rs, Ls,
Cs, Lm, Rm), circuito de proteção (gaps e dispositivos Linha

não lineares), bobinas de drenagem (Ld1, Ld2) e circuito C1


Cc

supressor de ferro-ressonância (Rf, Lf, Cf). Os parâme- Vint.


Lc Rc Lp Rp

tros de cada componente são descritos a seguir: Vp.


• Elementos do transformador de potencial induti- C2 Cp Lm Rm CSF Carga Vs.

vo: Resistência dos enrolamentos primário e se-


cundário (Rp, Rs), indutância dos enrolamentos
primário e secundário (Lp, Ls), indutância e resis-
Figura 3: Modelo simplificado do TPC
tência do ramo de magnetização (Lm, Rm), capaci-
tâncias parasitas dos enrolamentos primário e se- Este dispositivo é sintonizado com um alto fator
cundário (Cp e Cs) e Capacitância parasita entre os de seletividade, a fim de atenuar oscilações ferro-
enrolamentos primário e secundário (Cps); ressonante em qualquer freqüência, exceto a funda-
• Elementos do reator de compensação: Resistên- mental. Neste modelo analítico, M representa a indu-
cia e indutância do reator de compensação (Rc, Lc) tância mútua de acoplamento do reator Lf.
e capacitância parasita do reator de compensação
(Cc).
Linha Cf Lf Cf
Cc Cps
Lf1 Lf2
C1
Ld2 Rc Lp Rp Ls
Vint.
Lc Rs
−M
Rf
C2 Circuito de
Cp Lm Rm Cs CSF Carga
Rf
proteção
Ld1

Figura 4: Modelagem do CSF


Figura 2: Modelo geral do TPC
2.3 Modelagem por função de transferência passo que, a capacitância equivalente da coluna capa-
citiva (CE) tem influência nas freqüências menores.
Em Fernandes Junior (2003), a modelagem do TPC
por função de transferência foi obtida também através
do circuito simplificado da Figura 3 e do modelo ma-
temático do CSF da Figura 4. Estes foram substituídos
por um circuito composto por blocos específicos de
impedâncias Z1, Z2, Z3, Z4, Z5 com os parâmetros referi-
dos ao lado secundário do TP indutivo através de sua
relação de transformação n.
A associação destas impedâncias, juntamente
com a aplicação da Transformada de Laplace aos ele-
mentos que constituem blocos de impedância apresen-
tados nas Figuras 3 e 4, permitem a obtenção da fun-
ção de transferência (1) detalhada no trabalho de Fer-
nandes Junior (2003).
Vs ( s )
H (s) = (1)
Vp ( s)
Figura 6: Sensibilidade da curva de amplitude e fase da
relação de tensão para o modelo geral de TPC a alguns de
2.4 Simulações através de circuito equivalente utili- seus parâmetros mais importantes
zando o software ATP no domínio da freqüência
A resposta em freqüência dos TPCs foi estudada utili- Enfim, através das simulações realizadas no do-
zando o software ATP (Alternative Transients Pro- mínio da freqüência foi possível comprovar quais os
gram). Com a implementação do modelo simplificado parâmetros do modelo geral são relevantes para repre-
no ATP, algumas simulações foram realizadas na faixa sentar o circuito equivalente do TPC até uma faixa de
de freqüência de 10 Hz até 10 kHz. Os gráficos da freqüência de 10 kHz, obtendo-se assim, um modelo
Figura 5 apresentam os resultados de algumas simula- simplificado.
ções feitas para avaliar o efeito da capacitância parasi-
ta do reator de compensação (Cc) na resposta em fre- 2.5 Simulações através de circuito equivalente utili-
qüência. Estas simulações foram realizadas utilizando zando o software PSCAD no domínio do tempo
os parâmetros do TPC modelo PCA-8 empregado por
Kojovic et al. (1994). O modelo de TPC adotado para as simulações no do-
mínio do tempo adota o modelo proposto por Lucas et
al. (1992), que considera as características de magneti-
zação do transformador indutivo e inclui os efeitos de
saturação (comportamento não linear do núcleo mag-
500 pF
nético). Este modelo foi implementado no software
127 pF
1000 pF PSCAD (Power Systems CAD) e pode ser usado para
simular defeitos no TPC, os efeitos neste equipamento
após distúrbios na rede e também determinar a opera-
ção adequada dos relés em estudos de transitórios ele-
Figura 5: Influência da capacitância parasita do reator de tromagnéticos.
compensação (Cc) na resposta em freqüência do modelo do
TPC
3 Sistema para Monitoramento e Diagnósti-
A Figura 6 mostra a sensibilidade da curva de am- co de TPCs
plitude e de fase da relação de tensão TPC à variação
dos principais parâmetros na sua representação, sendo O objetivo principal deste sistema é fornecer à equipe
CE = C1+C2 a capacitância equivalente da coluna ca- de manutenção das concessionárias de energia elétrica
pacitiva. Esta resposta foi obtida através da implemen- informações sobre o estado dos TPCs. A detecção de
tação da função de transferência no software possíveis defeitos é feita através da comparação entre
MATLAB® com os parâmetros do TPC modelo as componentes de tensão de seqüência zero secundá-
PCA-8. As conclusões em relação ao estudo da sensi- rias de cada conjunto trifásico destes equipamentos
bilidade realizado através deste método, concordaram com limiares que foram estabelecidos através de estu-
com o trabalho de Tziouvaras et al. (2000). As curvas dos.
de ganho e de fase revelam que as principais capaci- Estes limiares de tensão de seqüência zero foram
tâncias parasitas do reator de compensação (Cc) e do determinados considerando a possibilidade de uma
enrolamento primário (Cp) têm grande influência na pequena componente de tensão de seqüência zero no
resposta do TPC nas freqüências mais elevadas, ao sistema de transmissão e erros relacionados às classes
de exatidão dos equipamentos empregados. Desta
forma o sistema é capaz de discriminar situações de vel avaliar a partir de qual intensidade esta ferramenta
desbalanceamento na rede de defeitos nos TPCs. será capaz de detectar cada tipo de defeito. O bloco
Michaelis (2003) propõe um sistema semelhante utilizado neste software para obter os fasores das ten-
para monitoramento e diagnóstico de TPCs mas o ba- sões na freqüência fundamental é o On-Line Fre-
seia apenas na comparação das tensões das três fases quency Scanning - Fast Fourier Transformer, o qual
de um circuito trifásico, tornando mais difícil a discri- possibilita o processamento das componentes simétri-
minação entre defeitos nos equipamentos e ocorrências cas de tensão.
normais no sistema elétrico. Um filtro de Fourier é utilizado no sistema de
monitoramento on-line para estimar os fasores de ten-
3.1 Descrição do sistema de aquisição e tratamento são na freqüência fundamental.
dos sinais de saída dos TPCs
3.3 Filtro de Fourier
Os TPCs que serão monitorados pela ferramenta pro-
posta possuem classe de exatidão 0,3% nos enrolamen- A equação 2 descreve um algoritmo clássico de filtro
tos de medição. O nível de tensão nominal destes enro- de Fourier que utiliza janela de um ciclo (Proakis e
lamentos é de 115 V com um tap intermediário de 66,4 Manolakis, 1996).
V que será utilizado para aquisição dos sinais de ten- 2 N
⎡ ⎛ 2 ⋅π ⋅ n ⋅ k ⎞ ⎛ 2 ⋅ π ⋅ n ⋅ k ⎞⎤
∑ v(n) ⋅ ⎢⎣cos ⎜⎝
k
V = ⎟ + j ⋅ sen ⎜ ⎟⎥ (2)
são. N n =1 N ⎠ ⎝ N ⎠⎦
A Figura 7 mostra a arquitetura do sistema de mo- Onde:
nitoramento proposto, identificando os blocos das eta- k

pas envolvidas. Os dados são processados em tempo V : Fasor estimado da harmônica de ordem k ;
real pelo sistema de supervisão. Caso a estação local ( v : Sinal amostrado;
instalada na subestação) detecte em algum momento N : Número de amostras por ciclo;
que o limiar de tensão de seqüência zero estabelecido n : Número da amostra;
(V0 limite) foi ultrapassado, os valores amostrados de k : Ordem da harmônica considerada ( k =1,2,3,...);
todas as tensões provenientes da UAD serão salvos e
posteriormente transferidos para estação remota. Portanto, para obter a componente harmônica fun-
damental (60 Hz) adota-se k =1. O cálculo dos valores
de módulo e ângulo dos fasores é realizado a partir do
deslocamento da janela contendo N amostras do sinal
da rede. Após obter os fasores de tensão, são realiza-
dos os cálculos da componente de tensão de seqüência
zero V0 com aplicação do teorema de Fortescue para
cada conjunto trifásico monitorado de TPCs da subes-
tação, sendo a tensão de seqüência zero dada pela e-
quação (3).
1
Va 0 = (Va + Vb + Vc) (3)
3
Figura 7: Arquitetura do sistema de monitoramento proposto Para estabelecer os limites considerados normais
de tensão de seqüência zero no secundário de TPCs
Na estação remota é realizada uma análise com- foram avaliados registros oscilográficos fornecidos
plementar de forma off-line comparando as diferenças pela empresa de transmissão parceira deste projeto
entre as tensões de seqüência zero resultantes dos con- gravados em situações normais e durante faltas empre-
juntos trifásicos de TPCs ligados ao mesmo ponto elé- gando o formato COMTRADE (Common Format for
trico com um outro limiar de tensão estabelecido (Δ- Transient Data Exchange). Isto foi necessário porque
V0(limite)). Caso seja detectado algum defeito nestes e- na época destes estudos o sistema de monitoramento
quipamentos o sistema identificará qual unidade possui ainda não estava instalado na subestação onde será
problema(s) acionando os alarmes necessários. O sis- utilizado.
tema de monitoramento permitirá a visualização dos Na prática sempre existirá uma pequena compo-
níveis de tensão fasoriais de cada TPC informando nente de tensão de seqüência zero no sistema de moni-
data e hora das ocorrências dos alarmes. Estas infor- toramento das tensões secundárias dos TPCs, portanto
mações podem ser utilizadas no planejamento da ma- o sistema deve possuir limiares para discriminar os
nutenção destes equipamentos. defeitos nestes equipamentos dos erros de medição e
variações de tensão normais no sistema de potência.
3.2 Descrição da metodologia proposta Os erros nos equipamentos de medição podem ocorrer
A fim de avaliar as conseqüências dos diferentes defei- tanto nos TPCs como também nos registradores digi-
tos que podem ocorrer em TPCs nos níveis de tensão tais de perturbações (RDPs). Com relação a estes e-
de seqüência zero, foram realizadas simulações utili- quipamentos podem ocorrer dois tipos de erros: Erro
zando o software PSCAD. Através dos níveis de ten- de Relação de Transformação e Erro de ângulo de Fa-
são de seqüência zero obtidos nas simulações, é possí- se.
Para determinar a incerteza na tensão secundária anterior seja detectada alguma tensão V0 superior ao
de seqüência zero (V0(incerteza)) através de cálculos, fo- limiar V0(limite), o sistema irá então comparar a diferença
ram considerados os seguintes erros de relação e de de magnitude entre todos os vetores V0 utilizando o
fase dos TPCs e RDP (na freqüência fundamental): limiar ΔV0(limite), visando identificar em qual conjunto
TPC: Erro de relação = 0,3%, Erro de fase = 10 min. trifásico está localizado o TPC suspeito. Em seguida o
RDP: Erro de relação ≤ 1%, Erro de fase = ± 50 µs. sistema analisa as tensões de fase dos três TPCs e i-
Com estes dados, foram realizados cálculos atra- dentifica qual é a fase do TPC defeituoso, acionando o
vés de combinações dos erros de relação e ângulo de alarme. Esta etapa de processamento é realizada de
fase dos TPCs e do RDP para se determinar o máximo forma off-line.
valor de incerteza na tensão de seqüência zero
(V0(incerteza)). Constatou-se que o máximo valor calcula- 3.4 Simulações dos defeitos em TPCs
do devido a estes erros e incertezas(V0(incerteza)) foi de
Foram simulados defeitos na coluna capacitiva e nos
8,7x10-3 pu no módulo de V0.
enrolamentos do transformador intermediário. Para
Utilizando os arquivos dos registradores digitais realizar as simulações dos defeitos na coluna capaciti-
de perturbações também foi avaliada a máxima dife- va, foram recalculados os valores de capacitância C1 e
rença destas tensões entre os conjuntos trifásicos de de C2 para uma determinada porcentagem de capaci-
TPCs instalados em dois barramentos de uma subesta- tância danificada e também, para um número variado
ção que operavam conectados, como mostra a Figura de elementos capacitivos danificados. Outras simula-
8. ções foram realizadas para reproduzir situações de
Caso o limar de seqüência zero seja ultrapassado defeito nos enrolamentos primário e secundário do
por um conjunto de TPCs, este será suspeito de conter transformador intermediário. Todas as simulações de-
defeito, caso seja ultrapassado por mais de um conjun- monstraram a influência dos defeitos na tensão secun-
to, isto poderá estar ocorrendo devido a situações a- dária dos equipamentos e na tensão de seqüência zero
normais no sistema de transmissão. resultante de cada conjunto trifásico destes equipamen-
tos. Com base nos manuais do TPC ARTECHE-DFK-
245 alguns parâmetros são apresentados a seguir:
C1(pF) = 9.350 / 140 elementos de capacitivos;
C2(pF) = 93.000 / 14 elementos de capacitivos;
Ctotal(pF) = 8.500 ;
Capacitância de cada elemento = 1.300.000 pF;
Resistência e indutância do enrolamento primário e
secundário do TPI (Ω/mH) ≤ 0,025;
Relação de transformação = 1.200/2.000:1;
Indutância do reator de compensação = 62H;
Tensão nominal de alta tensão no TPI = 22 / 3kV .
As simulações dos defeitos nos elementos capaci-
Figura 8: Tensão de Seqüência Zero nos Barramentos tivos na unidade capacitiva superior C1 resultaram em
(Análise Oscilográfica) um aumento na tensão secundária do equipamento, ao
contrário dos defeitos simulados na unidade capacitiva
No segundo caso o sistema de monitoramento irá C2 que resultaram em uma queda da tensão secundária
comparar os valores de tensão de seqüência zero (V0) e uma maior sensibilidade na tensão de seqüência zero
com outros vetores resultantes de outros conjuntos, resultante. A Figura 9 mostra os resultados de simula-
considerando o desvio máximo que pode ocorrer entre ções para 1, 2, 3 e 5 elementos capacitivos danificados
dois conjuntos de TPCs (ΔV0(limite)), que garante que os em C2, significando uma queda percentual de 7,14%,
equipamentos estão operando normalmente até este 14,29%, 21,43% e 35,71% respectivamente no valor
valor limite. desta capacitância.
Através da análise de todas as oscilografias dispo- Este gráfico mostra uma queda significativa no
níveis e do valor das incertezas calculadas foram defi- perfil da tensão de saída e aumento da correspondente
nidos os seguintes limiares a serem utilizados para o tensão de seqüência zero resultante, versus a redução
sistema de diagnóstico de TPCs: V0(limite) (pu) = 0,030; percentual no valor da capacitância C2 devido aos ele-
ΔV0(limite) (pu) = 0,020. mentos capacitivos danificados nesta unidade. Nota-se
Após a aquisição e tratamento dos sinais que cul- uma queda da tensão no secundário de até 34%, para 5
minam com a obtenção das tensões secundárias de elementos capacitivos danificados, resultando em uma
seqüência zero de cada conjunto de TPC, são executa- tensão V0 de 0,112 pu. Percebe-se a grande sensibili-
das as seguintes etapas nas rotinas implementadas: dade que os elementos em C2 possuem na tensão de
primeiramente é feita uma comparação das tensões Vo saída e conseqüentemente na tensão de seqüência zero.
calculadas com os limiares; no caso de alguma das A Figura 10 ilustra os fasores das tensões de saída
tensões V0 ultrapassar o limiar de tensão V0(limite) estabe- e de seqüência zero V0, resultantes de 5% e 10% da
lecido, o processamento segue para a próxima etapa, capacitância C1 danificada nas unidades instaladas na
em caso negativo ele retorna ao início; caso na etapa fase A, respectivamente.
Os defeitos de isolamento na unidade eletromag- 4 Conclusões
nética também foram simulados.
O sistema apresentado visa intervir antes que o equi-
pamento falhe, evitando a evolução de defeitos que
poderiam ocasionar até mesmo a explosão do TPC.Da
mesma forma evita que os erros causados por estes
defeitos causem atuações indevidas no sistema de pro-
teção ou perdas de faturamento por medições errôneas.
Através de variações nos principais parâmetros do
circuito equivalente, foi possível analisar a influência
dos defeitos na tensão de seqüência zero resultante
(V0) de cada conjunto trifásico de TPCs. Os valores de
capacitância do divisor capacitivo e da relação de
transformação do TPI foram alguns dos principais pa-
râmetros que foram modificados para representar os
Figura 9: Perfil de tensão no secundário do TPC da Fase A e defeitos mais comuns encontrados em TPCs e que po-
de tensão de sequência zero resultante, versus a porcenta- derão ser detectados pelo sistema proposto a partir de
gem da capacitância C2 danificada.
certos níveis.
O método baseado na análise de tensão de se-
qüência zero apresentou sensibilidade frente aos dife-
rentes defeitos em TPCs, mostrando-se uma ferramen-
ta eficiente e de simples implementação, sem necessi-
dade de sensores ou transdutores especiais, mas so-
mente das tensões disponíveis no secundário dos
TPCs, como fonte de informações necessárias.

Figura 10: Fasores de tensão - Defeitos na unidade da fase A Referências Bibliográficas


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