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do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul
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Catalogação na Publicação:
Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – Unijuí
PREFÁCIO
Um século de rádio no Brasil: o desafio dos pesquisadores.......................... 7
Marialva Barbosa
APRESENTAÇÃO........................................................................................... 11
Ana Regina Rêgo
O
desafio do grupo de pesquisadores que se dispôs a contar uma
história de cem anos é, ao mesmo tempo, surpreendente e digno
de todos os elogios. Contar qualquer história que percorre a longa
duração de um século é sempre uma tarefa que exige inúmeros desafios
e, também, a escolha de olhares metodológicos. Seria possível seguir a
linearidade dos processos ou seria mais promissor enveredar pelas ques-
tões que emergem em cada um dos movimentos marcados pelo passar
do século?
Quando, porém, essa história tem como centro analítico uma mí-
dia, a sonora, tendo o rádio como personagem central da narrativa, a
multiplicidade de cenários e de questões reflexivas torna a tarefa ainda
mais desafiadora.
A escolha realizada pelos autores dessa coletânea, fruto da pesqui-
sa integrada e sistematicamente realizada no âmbito do GT de História
da Mídia Sonora da Associação Brasileira de Pesquisadores de História
da Mídia (Alcar), é exatamente a de distribuir as reflexões em torno de
questões paradigmáticas que figuram como espécies de emblemas das
épocas.
Assim, num primeiro momento o foco recai exatamente sobre os
processos primeiros que caracterizaram o rádio quando de sua introdu-
ção no país, na década de 20, ou seja, há um século. Procurando ampliar
as reflexões dominantes na esfera dos estudos históricos, nesse primeiro
7
Prefácio
Marialva Barbosa
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Prefácio
Marialva Barbosa
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Prefácio
Marialva Barbosa
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APRESENTAÇÃO
Ana Regina Rêgo
A
historiografia tem caminhos intencionais e desvios necessários
que, descobertos, vão se construindo e constituindo por meio de
operações historiográficas (Certeau, 2011) e investigações científi-
cas sempre em busca de um elo com o passado, e, para tanto, revolvemos
a memória, escavamos a história, seus rastros e vestígios. Entre perma-
nências e rupturas, a historicidade dos fenômenos de grande importância
social se destaca: nem tanto os eventos, nem tanto as conjunturas, nem
tanto as estruturas, mas a essência do histórico e sua capacidade trans-
formadora.
É em um contexto com essas características, em que os campos
tecnológico e comunicacional se hibridizam em meio a uma sociedade de
massa no início do século 20, que o rádio surge como um elo entre pes-
soas, criando novas experiências, novos costumes e despertando novas
afetividades. A audição, como sentido desperto e ativado em contexto de
copresença se intensifica para além de uma voz, já permitida pela telefo-
nia incipiente de então. O rádio permite que múltiplas vozes sejam pro-
pagadas e ouvidas e possibilita que a música extrapole a sala de concerto
e os saraus das casas grandes. Junto com a música entram no estúdio o
folhetim, a novela e o teatro, que se fazem acompanhar por trilha sonora.
Um mundo de possibilidades perceptivas abre-se ao ouvinte, que
não mais está isolado, mas que passa a ter conhecimento de notícias com
grande rapidez.
11
Apresentação
12
Apresentação
13
Apresentação
Por último, mas não menos interessante, temos uma seção de arti-
gos que compõem um recorte cartográfico sobre usos, programas e nar-
rativas radiofônicas de vários lugares do país. Nesse cenário destacam-se
histórias sobre histórias de Goiás, Maranhão, Pará, Amazônia, Bahia e
Mato Grosso do Sul. A recuperação da história do rádio nessas regiões,
em que a informação e as ligações entre capital e interior, muitas vezes.
se dão apenas por via fluvial, como na Amazônia, contribui para entender
a diversidade da comunicação brasileira e, principalmente, para refletir
sobre o papel fundamental que o rádio ainda tem para a informação em
muitos desses locais.
Em síntese e por fim, o livro organizado por Vera Raddatz, Valci Zu-
culoto, Debora Lopez e Marcelo Kischinhevsky vem a público em um mo-
mento de consolidação da Alcar como instituição científica de fomento
à pesquisa no campo da historiografia da comunicação, e traz contribui-
ções de grande relevância para a sociedade, pesquisadores e historiado-
res. São lacunas historiográficas que embora não possam ser preenchidas
completamente, exatamente pelo caráter histórico que possuem, trazem
a partir das narrativas aqui apresentadas perspectivas que carregam em
si rastros e vestígios de um presente-passado e sua relação com o nosso
presente.
Boa leitura!
Teresina, 9 de fevereiro de 2020
Referências
CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense, 2011.
KOSELLECK, Reinhart. Estratos do tempo: estudos sobre história. Tradução
Markus Hediger. Rio de Janeiro: Contraponto; Editora. PUC-Rio, 2014.
RICOEUR, Paul. Tempo e narrativa. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes,
2010. 3 v.
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PARTE 1
Radiofonia em Construção:
os pioneiros
Uma (Re)Escrita da História do Rádio
Vera Lucia Spacil Raddatz , Marcelo Kischinhevsky, Debora Cristina Lopez, Valci Regina Mousquer
O
senso comum é de que a História é algo dado, indiscutível, consolida-
do. Desde a Escola dos Annales, porém, surgida na França em 1929,
a ideia de que existe uma História com H maiúsculo é questionada.
Ao longo dos anos 30 do século 20, com decisiva contribuição das pesquisas
de Lucien Febvre e Marc Bloch, em torno da revista Annales d’Histoire Éco-
nomique et Sociale, abandona-se gradualmente a visão positivista da histó-
ria como mera crônica dos grandes acontecimentos, passando-se a investi-
gar seus processos de longa duração, numa perspectiva multidisciplinar.
e Propaganda da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí). Doutora em
Comunicação e Informação (UFRGS), mestre em Comunicação (Umesp), graduada em Letras e Literatura (Unijuí).
Coordenadora do GT História da Mídia Sonora Alcar (2015-2019). Integra os grupos de pesquisa Direitos Humanos,
Governança e Democracia – GPMundus – e Grupo Interdisciplinar de Estudos em Gestão e Políticas Públicas,
Desenvolvimento, Comunicação e Cidadania – GPDeC. verar@unijui.edu.br
Diretor do Núcleo de Rádio e TV da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Leciona nos cursos de Rádio
2
estágio pós-doutoral na UFRJ e concluiu Pós-Doutorado em Comunicação pela Uerj. É professora dos Programas de Pós-Gra-
duação em Comunicação da Ufop e da UFPR. Professora do curso de Jornalismo da Ufop. Coordena o Grupo de Pesquisa
Convergência e Jornalismo (ConJor) e o Laboratório de Inovação em Jornalismo (Labin). debora.lopez@ufop.edu.br
Professora da Graduação e Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), jorna-
4
lista (UFRGS), mestre e doutora (PUC-RS), pós-doutora (ECO/UFRJ). Diretora Científica da Alcar. Coordenadora da
Rede de Pesquisa em Radiojornalismo (RadioJor/SBPJor). Integra coordenação da Rede das Rádios Universitárias do
Brasil (Rubra). Líder do Grupo de Investigação em Rádio, Fonografia e Áudio (Girafa/CNPq). Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC). valzuculoto@hotmail.com
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Uma (Re)Escrita da História do Rádio
Vera Lucia Spacil Raddatz, Marcelo Kischinhevsky, Debora Cristina Lopez, Valci Regina Mousquer
Essa vertente foi desaguar, nos anos 70, na chamada Nova História,
que tem como expoentes nomes como Jacques Le Goff, Fernand Braudel
e Pierre Nora. Em comum, a visão crítica e a valorização de outros docu-
mentos que não os oficiais como fonte básica de pesquisa. A História pas-
sava a ser entendida, ali, para o bem e para o mal, como uma pluralidade
de narrativas em disputa.
Paralelamente, a Sociologia começava a trabalhar com o conceito
de memória. Se a História não era mais a grande narrativa construída pe-
los vencedores, seus acontecimentos não eram mais monopólio dos go-
vernantes e das elites econômicas, políticas e religiosas. Havia uma arti-
culação a ser investigada entre a História e as memórias coletivas, objeto
de importante livro póstumo de Maurice Halbwachs, no pós-guerra. Este
olhar coletivo sobre o conceito ancora-se também na perspectiva de Pier-
re Nora, os lugares de memória e o entrelaçamento entre tradições, pai-
sagens e personagens buscando reforçar o sentimento de pertencimento
e as fronteiras socioculturais, como lembra Pollak (1989).
O autor defende ainda que devemos questionar a perspectiva uni-
formizadora do debate sobre a memória coletiva. Desta forma, haveria
uma consciência sobre a conexão entre a memória e a organização social
da vida, coordenando memórias individuais e de grupo em um processo
de constante ressignificação e de reenquadramento a partir das forças e
acontecimentos que agem sobre elas, dando voz às memórias em disputa
e dialogando com as memórias subterrâneas.
Surgem, então, novas fronteiras de pesquisa, entre elas a chamada
história da mídia, parte importante do campo interdisciplinar de Comu-
nicação e História. No Brasil, este campo ganhou densidade sobretudo
com as comemorações pelo bicentenário da imprensa no país (Ribeiro;
Herschmann, 2008). Até por isso, nota-se uma prevalência dos estudos
de história da imprensa escrita (ver, entre outros, Musse; Vargas; Nicolau
(org.); 2017; Sacramento; Matheus (org.), 2014; Barbosa; Ribeiro (org.).
2011; Matheus, 2011).
Ana Paula Goulart Ribeiro e Micael Herschmann (2008, p. 18-23)
detectam algumas grandes tendências e impasses teórico-metodológicos
dessas pesquisas no Brasil:
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Referências
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Uma (Re)Escrita da História do Rádio
Vera Lucia Spacil Raddatz, Marcelo Kischinhevsky, Debora Cristina Lopez, Valci Regina Mousquer
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SACRAMENTO, Igor; MATHEUS, Leticia Cantarela (org.). História da comunica-
ção: experiências e perspectivas. Rio de Janeiro: Mauad, 2014.
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Amadores da Telegrafia Sem Fio.
Um século de pioneirismo, radiofonia e implicações políticas da Rádio Clube de Pernambuco PRA-8
AMADORES DA
TELEGRAFIA SEM FIO
Um século de pioneirismo, radiofonia
e implicações políticas da
Rádio Clube de Pernambuco PRA-8
Adriana Santana1
Ana Veloso2
Paula Reis Melo3
N
“ ão é privativo do Sul do país nascer-se vivo”. Na primeira edição
do Jornal do Commercio, periódico em circulação desde 3 de abril
de 1919, no Recife, era com essa veemência que um médico local
reivindicava a abertura de uma maternidade na capital pernambucana,
justificando a necessidade com uma mórbida estatística: de 1899 até o
ano anterior, já eram quase 11 mil crianças que não conseguiram vir ao
mundo por conta da “moléstia de nascer”. Também não era privativo das
regiões mais ao Sul do Brasil a participação de uma espécie de “espírito
do tempo”, um Zeitgeist que dominava praticamente todas as fatias do
globo: as tentativas de transmissão do pensamento humano, por vias téc-
nicas, a longas distâncias.
A telegrafia sem fio (TSF), que é a transmissão de mensagens utili-
zando os sinais do código Morse – diferenciando-se do telégrafo pelo fato
de que “os sinais aqui são transportados pelas ondas eletromagnéticas do
rádio através do espaço” (Keiteris, 2011, p. 1) – era hobby de amadores
e coordena o projeto Produção Jornalística do Programa Fora da Curva, da Rádio Universitária FM da UFPE.
adriana.masantana@ufpe.br
Jornalista, mestra em doutora em Comunicação (Ufpe). É professora do Departamento de Comunicação da Ufpe,
2
integra o Observatório de Mídia e o Programa Fora da Curva e é coordenadora de programação da Rádio Universi-
tária Paulo Freire. ana.cveloso@ufpe.br
Jornalista, mestra em Comunicação Rural (Ufpe) e doutora em Comunicação (Unisinos). É professora do Departa-
3
mento de Comunicação da Ufpe, integra o Programa Fora da Curva e é coordenadora geral da Rádio Universitária
Paulo Freire. paula.reis@ufpe.br
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Amadores da Telegrafia Sem Fio.
Um século de pioneirismo, radiofonia e implicações políticas da Rádio Clube de Pernambuco PRA-8
nas primeiras décadas do século 20, que se reuniam em “clubs” para es-
tudar e desenvolver a técnica, com o objetivo de, finalmente, conseguir
fazer com que mensagens codificadas – no caso, sonoras – percorressem
distâncias e alcançassem outras pessoas. Câmara (1994, p. 24) ressalta
que o objetivo era mesmo de transmitir “o pensamento humano de uma
forma mais ampla do que aquilo que a telegrafia já oferece”.
E assim, na mesma semana em que as Lojas Paulistas anunciavam
o metro do algodãozinho a 600 réis, um colunista cobrava dos governan-
tes a adoção de medidas de organização do trânsito (de modo a evitar
“ajuntamentos populares nas vias”) e o policial Pedro Larangeiras se aci-
dentava gravemente, caindo de um bonde em movimento, um grupo de
radioamadores se reunia, a 6 de abril de 1919, num domingo de prima-
vera, na Escola Superior de Eletricidade da capital pernambucana, para
oficialmente fundar a Rádio Club de Pernambuco. O feito foi registrado
no Estatuto da rádio, datado de duas semanas depois, em 27 de abril de
1919 (Ferraretto, 2014).
Naquele domingo, uma semana antes de Epitácio Pessoa ser eleito
presidente do Brasil em pleito direto (Melo, 2015, documento eletrôni-
co), foi formada a diretoria do clube sob a presidência de Augusto Joa-
quim Pereira. Os clubs eram comuníssimos à época, conforme pode-se
constatar mesmo com uma leitura apressada dos jornais dos primeiros
anos do século 20, que anunciavam, quase que diariamente, as reuniões
de associações as mais diversas, ligadas à religião, a atividades técnicas,
recreativas ou esportivas.
As pesquisas de Renato Phaelante da Câmara (1994) indicam que a
presidência do clube ficou a cargo de Augusto Joaquim Pereira, por acla-
mação, por se tratar de um aficionado da Ciência. Como era comum nes-
sas associações, seus integrantes faziam parte de uma elite econômica (o
presidente era empresário do ramo de exportação açucareira), que fabri-
cavam os próprios aparelhos e realizavam pesquisas em seus encontros,
com transmissões experimentais e clandestinas, posto que, à época, a ra-
diotelegrafia era uma atividade restrita ao setor governamental.
Não existe um consenso entre os pesquisadores do rádio acerca
da primeira emissora oficial no país, e nem é propósito deste trabalho
investigar a paternidade. Mais relevante para a História da Comunicação
no Brasil, acreditamos, é demonstrar o quanto pioneiros diversos, locali-
zados em distintos Estados brasileiros, se imbuíram da tarefa de “trans-
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10h, com o padre Marcelo Rossi. Na Clube AM, a faixa religiosa vai ao
ar, diariamente, das 6h às 7h, também comandada pelo padre Marcelo
Rossi.
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Referências
AZEVEDO, Lia Calabre de. No tempo do rádio: radiodifusão e cotidiano no
Brasil: 1923-1960. 2002. 277 p. Tese (Doutorado) – Universidade Federal Flu-
minense, Curso de História, Niterói, 2002, 277 p. Disponível em: http://www.
carosouvintes.org.br/blog/wp-content/uploads/Tese_Lia_Calabre.pdf. Aces-
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BARBOSA, Marcos. Há cem anos era feita no Recife a primeira transmissão
oficial de rádio no Brasil. In: Brasil de Fato, 8 abr. Disponível em: https://
www.brasildefato.com.br/2019/04/08/ha-100-anos-era-feita-em-recife-a-
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CÂMARA, Renato Phaelante da. Fragmentos da história da Rádio Clube de
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CASTRO, Abílio de. Abílio de Castro. Recife: Fundação Joaquim Nabuco; In-
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CHAVES, Antiógenes Ferreira de Castro; CAHÚ, Pedro Hipólito de Melo. O
caso da radio clube. Recife: [s.n.], 1947. 207 p.
ELECTRON: Revista Radio-Technica. Recife: Radio Club de Pernambuco, v. 1,
n. 2, mar. 1932.
FERRARETTO, Luiz Artur. De 1919 a 1923, os primeiros momentos do rádio
no Brasil. Revista Brasileira de História da Mídia (RBHM), v. 3, n. 1, jan. 2014/
jun. 2014.
FRANCO, Simone. Os bastidores do radioteatro em Pernambuco. Recife, 1992.
Projeto experimental (Graduação em Comunicação Social – Jornalismo) – De-
partamento de Comunicação Social, Universidade Federal de Pernambuco,
1992. Programa de rádio. 27min44s.
KEITERIS, Mário. A telegrafia. Publicado em 31/1/2011. Disponível em:
http://www.fazendafigueira.org.br/radioamador/cw-morse/A-Telegrafia.pdf.
Acesso em: 16 abr. 2019.
LIMA, André Luis de. et al. Contribuições para a História do Rádio em Per-
nambuco. Recife: Universidade Federal de Pernambuco; Departamento de
Comunicação Social, 1992. (Relatório de Pesquisa).
MAGALHÃES, Agamenon. A indústria nacional e os trusts. Artigo publicado
no jornal Folha da Manhã, edição das 16h do dia 26 de abril de 1944.
MARANHÃO FILHO, Luiz. Memória do rádio. Recife: Editorial Jangada, 1991.
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Um século de pioneirismo, radiofonia e implicações políticas da Rádio Clube de Pernambuco PRA-8
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INTELECTUAIS DA RADIODIFUSÃO
NAS PÁGINAS DA IMPRENSA ESPECIALIZADA:
A Configuração do Campo Radioeducativo
na Cidade do Rio de Janeiro (1920)
Luciana Borges Patroclo1
Cintia Oliveira Conceição2
Fernando Rodrigo dos Santos Silva3
E
m razão das festividades pelo Primeiro Centenário da Independên-
cia, a cidade do Rio de Janeiro sediou a grande Exposição Internacio-
nal de 1922.4 A capital federal recebeu delegações de vários países
para demonstrar que o Brasil trilhava o caminho do progresso. Nesse con-
texto de celebração da modernidade, em 7 de setembro foi realizada a
primeira transmissão radiofônica oficial do país.5
Imersos nesse cenário renovador, intelectuais – cientistas6 como
Edgar Roquette-Pinto e Henrique Morize fundaram a Rádio Sociedade do
Rio de Janeiro em 1923; rádio educativa voltada à divulgação científica e
Graduada em História pela Universidade Gama Filho (2010/2011); graduada em Comunicação pela PUC-Rio (2004);
1
especialista em História e Cultura no Brasil pela Unesa (2017); mestre em Educação pela Unirio (2010); doutora em
Educação pela PUC-Rio (2015). lupatroclo@yahoo.com.br
Graduada em Pedagogia pela Uerj (2019); graduada em Comunicação pela PUC-Rio (2004); mestre em Educação
2
ção pela PUC-Rio (2016). Professor das Séries Iniciais da Secretaria Municipal de Educação do Município de Duque
de Caxias – RJ. fergo_fergo@yahoo.com.br
A exposição estendeu-se de 7 de setembro de 1922 a 24 de julho de 1923.
4
A instituição desse sistema só foi possível com a instalação de duas estações, uma na base do Pão de Açúcar e outra
5
meiro, o intelectual tem uma acepção mais ampla, concebido como uma espécie de criador ou mediador cultural.
Na definição mais restrita, o intelectual é definido como um ator engajado na vida social. Em ambas as acepções o
intelectual é alguém a serviço da causa que defende. Em nosso caso, a dimensão educativa da radiodifusão.
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Intelectuais da Radiodifusão nas Páginas da Imprensa Especializada:
A Configuração do Campo Radioeducativo na Cidade do Rio de Janeiro (1920)
Luciana Borges Patroclo, Cintia Oliveira Conceição, Fernando Rodrigo dos Santos Silva
No ano de 1916 foi criada a Sociedade Brasileira de Ciências. Em 1922 a instituição foi intitula Academia Brasileira
7
de Ciências (ABC).
Ao longo do texto as revistas são apresentadas via abordagem histórico-documental. Os exemplares analisados
8
fazem parte dos acervos digitais da Hemeroteca Digital Brasileira, da Fundação Biblioteca Nacional, e da Rádio So-
ciedade, disponível no site da Fiocruz. Cabe ressaltar que as coleções consultadas não estão completas, faltando al-
guns números importantes. Com a mudança do acervo da Sociedade de Amigos Ouvintes da Rádio MEC (Soarmec)
em razão de sua doação à UFRJ, não nos foi possível consultar as revistas da antiga Radio Sociedade que fazem
parte daquela coleção.
Henrique Morize (1860-1930), francês naturalizado brasileiro. Formado em Engenharia Industrial. Atuou como as-
9
trônomo e ocupou o cargo de presidente do Imperial Observatório do Rio de Janeiro (atual Observatório Nacional).
Colaborou na fundação da Revista do Observatório. Exerceu as funções de professor catedrático da Escola Politécni-
ca, presidente da Sociedade Brasileira de Ciência (atual Academia Brasileira de Ciência, por três mandatos consecu-
tivos), presidente da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Foi articulista em diversos periódicos científicos e diários.
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Intelectuais da Radiodifusão nas Páginas da Imprensa Especializada:
A Configuração do Campo Radioeducativo na Cidade do Rio de Janeiro (1920)
Luciana Borges Patroclo, Cintia Oliveira Conceição, Fernando Rodrigo dos Santos Silva
Edgar Roquette-Pinto (1884-1954), formado pela Faculdade de Medicina. Responsável pela Seção de Antropologia,
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Etnografia e Arqueologia do Museu Nacional, instituição da qual foi diretor. Acompanhou Marechal Rondon nas expe-
dições no Mato Grosso (Comissão Rondon). Ministrou aulas de História Natural na Escola Normal do Distrito Federal.
Membro e sócio da Sociedade Brasileira da Ciência (atual Academia Brasileira de Ciência, secretário) e da Sociedade
Brasileira de Educação. Idealizador da Rádio Sociedade e fundador das revistas da Sociedade e signatário do Manifes-
to dos Pioneiros da Educação Nova de 1932. Fundou o Instituto Nacional do Cinema Educativo (Ince) em 1937.
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Luciana Borges Patroclo, Cintia Oliveira Conceição, Fernando Rodrigo dos Santos Silva
De acordo com a autora, a livraria teria sido liquidada em dois anos, contudo, em pesquisa no Almanak Laemmert foi identifica-
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do que o período de existência da revista foi até 1927 e que a mesma permaneceu como propriedade de Carlos S. Mendonça.
Posteriormente, Soter Célio Araújo se tornou proprietário da livraria, que passou a publicar obras populares.
12
Carlos Sussekind de Mendonça (1899-1968) nasceu na cidade do Rio de Janeiro. Frequentou o Colégio Pedro II junto
com Venâncio Filho e Roquette-Pinto. Formado em Direito pela Faculdade Livre de Ciências Sociais e Jurídicas do Rio
de Janeiro. Fundador da Livraria Científica Brasileira junto com Venâncio Filho, Fernando Raja Gabaglia e Soter Célio
de Araújo. Atuou como criminalista. Ensaísta e biógrafo de figuras ilustres como Silvio Romero e do próprio pai, Lúcio
Mendonça (jurista e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras). Dirigiu os jornais A Batalha, A Esquerda
e Quinzena Judiciária. Iniciou a carreira jurídica como promotor-adjunto na capital federal e a encerrou no cargo de
procurador geral da Justiça do Estado da Guanabara. Em 1926 afastou-se de Radio por causa da carreira jurídica,
embora não tenha se afastado do grupo intelectual responsável pela publicação (Mendonça, 2013; Souza, 2011).
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Agulhon valoriza três dimensões da vida em círculo: a sua conformação como vida associativa moderna, a amplia-
ção do seu público, não mais restrito a homens aristocratas, e a sua plasticidade, quando passou a partilhar militân-
cia política e institucionalização do ócio.
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Nesse mesmo ano Manuel Amoroso Costa faleceu na queda do hidroavião Santos Dumont, que ceifou a vida de
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diversos outros membros da ABE. Nasceu em 1885 no Rio de Janeiro. Cursou o ensino secundário no Instituto Hen-
rique Kopke e ingressou na Escola Politécnica, na qual obteve o diploma de engenheiro civil e bacharel em Ciências
Físicas e Matemáticas. Foi professor catedrático da Escola Politécnica. Participou da Fundação da Academia Brasi-
leira de Ciência, da Rádio Sociedade e da Associação Brasileira de Educação. Foi um dos divulgadores da Teoria da
Relatividade de Albert Einstein.
Posteriormente a revista Electron recebeu o subtítulo “ Publicação da Rádio Cultura, da Rádio Sociedade do Rio de
15
Janeiro, distribuída entre seus sócios. Orgão Official da Rádio Sociedade Mayrink Veiga”. Indicava que a publicação
transpôs a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro (Electron, 16/11/1926, p.1).
Deve ser observado que a Elétron foi criada com o intuito de substituir a Rádio que, como abordado anteriormente,
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Além de Edgar Roquette-Pinto, que permaneceu à frente da Electron até sua 11a edição, a revista também teve
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entre seus organizadores H. A. Torres (cofundador), Victoriano A. Borges (cofundador) Amador Cisneiros (diretor e
gerente), Maria Velloso (secretária), Ellan Wratten (redação técnica).
A primeira edição de Electron trazia a informação de que os exemplares seriam publicados nos dias 1º e 16 de cada
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O acervo digitalizado pela Fiocruz não permite identificar as capas das edições: 1, 2, 18 e 19.
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Os organizadores da revista utilizavam o slogan “Quem annuncia em ‘Electron’ tem a certeza do êxito” para atrair os
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ros podiam ser comprados de forma avulsa por 600 réis no Estado fluminense e adquiridos por 800 réis nos outros
Estados brasileiros.
Entre as instituições beneficiadas estavam Escola Profissional e Asylo para Cegos Adultos (rua Real Grandeza – Bota-
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fogo), Santa Casa de Misericórdia (Rua Santa Luzia – Centro), Abrigo Thereza de Jesus (rua Ibituruna – Tijuca), entre
outros estabelecimentos de auxílio e caridade.
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A relação entre a Radiocultura e a Rádio Sociedade foi alvo do editorial A quem couber a carapuça, cujo conteúdo, escrito
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pelo diretor técnico G. M. Barreto, era direcionado àqueles que classificavam a revista um mero órgão oficial da primeira
transmissora de rádio do país. “Para abafar ou disfarçar o descaso que mantemos de certo grupinho, composto de creatu-
rinhas irritantes – levantou elle o boato, aliás muito honroso para nós, de que Radiocultura seja orgão official da sympha-
tica Rádio-Sociedade. Infelizmente, porém assim não acontece. Para manter nossa attitude altiva, de livre crítica, ficamos
em absoluta independencia, sem ligações estrictas com esta ou aquella estação” (Radiocultura, 15/8/1928, p. 20).
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A edição de 1o de setembro de 1931 (n .39) trouxe como capa uma sala de estar organizada em torno do rádio com
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(Direção/Direção Técnica), Bolívar Miranda (Direção), Corintho Barbosa (Gerência), Francisco Romano (Desenho),
A. Arce (Desenho), Felício Mastrangelo (Programa), Jesy/Gesy Barbosa (Programa), Lauro A. Medeiros (Redator
Técnico), Celio Castelmar (Redator), Rocha Carneiro (Redator), Américo Miranda (Redator), Antonio P. da Silveira
(Consultor Jurídico), Adhemar de Moraes (Engenheiro – Colaborador), A. da Silva Lima (Redator Técnico/Engenhei-
ro – Colaborador), Antonio Astengo (Engenheiro – Colaborador), Alvaro Freire (Engenheiro – Colaborador), Octavio
Masson (Capitão – Colaborador), Frank Rode (Engenheiro – Colaborador), Renato de T. Andrade (Colaborador),
João B. R. Spindola (Colaborador), Vicente Lichtenfels (Colaborador), entre outros.
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Mais tarde a redação e a gerência passaram a funcionar na Rua da Carioca, n.4, sala 202 (2o andar).
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Criado em 1928, o Club tinha o objetivo de reunir os admiradores do rádio e impulsionar a radiocultura no país. O
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regulamento tinha oito itens, entre eles o oferecimento de curso de radiotelegrafia e telefonia aos seus membros
(Radiocultura,15/8/1928, p. 23).
A Sociedade Radiocultura do Brasil foi criada em 3 de outubro de 1931. “(...) os socios abaixo assignados, delibera-
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ram fundar uma sociedade para diffusão de radio-telephonia, no territorio nacional, sendo constituída a 1a Direc-
toria. Presidente: Géo Paryse; 1o e 2o Secretários: Boliver Carvalho Miranda e Oscar Costa; 1o e 2o Thesoureiros:
Alcibiades Dionysio dos Anjos e Luiz Pinto de Miranda; Director Technico: Manoel Augusto da Silveira Mesquita”
(Radiocultura, 15/1/1931, p. 14).
Realizada em maio de 1929.
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O impresso avulso era vendido por 1$500 réis. O número atrasado custava 2$000. A assinatura de 12 exemplares
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anuais custava a quantia de 10$000 réis. Em razão de mudanças na formatação do magazine o preço da edição caiu
para 1$000 réis. A revista tinha representantes em diferentes Estados brasileiros (São Paulo, Minas Gerais, Rio Gran-
de do Sul, Paraná, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte, entre outras unidades da Federação) e nos Estados Uni-
dos (Nova York). No segundo exemplar da revista foi informado que em razão do sucesso alcançado no lançamento
“Sentimo-nos reconfortados dos esforços despendidos, vendo esgotar-se rapidamente todas as tiragens de tres dias
consecutivos. Desde as primeiras horas da manhã que a procura directa da revista se manifestou, afóra os pontos de
venda, os quaes, aliás, abastecemos por quatro vezes, até exgotar-se toda a edição. (...) E, agora, nas vésperas do 2o
numero, a nossa correspondência attinge á um total de 303 cartas, entre pedidos de assignaturas, annuncios e de
amadores. Nada a menos de 421 de assignaturas já foram registradas em 15 dias” (Radiocultura, 15/7/1928, p. 5).
Embora Radiocultura estivesse centrada na defesa do rádio, a revista publicava os avanços tecnológicos de um novo
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A presença de anúncios publicitários destinados ao público feminino e masculino pode indicar que os leitores da
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revista não eram exclusivamente homens. Outro aspecto que contribui para tal perspectiva é o fato de se ter regis-
tro de envio de dúvidas escritas por nomes e codinomes femininos para a seção Consultorio dos Amadores. Além
disso, o impresso publicou na edição de 15 de agosto de 1928 que Amarílis Falcão começaria em breve a atuar
como colaboradora de Pallestras Femininas, espaço dedicado às leitoras (Radiocultura, 15/8/1928, p. 20).
Entre os debates travados nas páginas da Radiocultura estava a cobrança de impostos sobre os aparelhos radiofôni-
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cos e a reivindicação de que o governo provisório de Getulio Vargas (1930-1934) criasse uma legislação específica
para a radiofonia nacional. Acerca do Decreto Lei 21.111 de 1º de março de 1932, consultar: Calabre, Lia. Políticas
públicas culturais de 1924 a 1945: o rádio em destaque. Estudos Históricos, n. 31, p. 161-181, 2003.
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A autora aponta a existência de uma rixa entre os partidários da ciência pura e os defensores da ciência aplicada. En-
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quanto os primeiros apostavam na ampliação da circulação dos conhecimentos radiofônicos, os últimos não compar-
tilhavam a visão de que a ciência radiofônica não deveria ser traduzida de modo simplificado para o grande público.
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PILETTI, N. A reforma Fernando de Azevedo: Distrito Federal (1927-1930). São
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A Rede Verde-Amarela, o Pioneirismo Esquecido da Família Byington
Marizandra Rutilli
A REDE VERDE-AMARELA,
O PIONEIRISMO ESQUECIDO
DA FAMÍLIA BYINGTON
Marizandra Rutilli1
A
história dos Byington, no Brasil, começa com a chegada de Alber-
to Jackson Byington no Rio de Janeiro em 1895. Do casamento
com Pearl Ellis MacIntyre são frutos: Alberto Jackson Byington Jr.
e Elizabeth. Na década de 20 o primogênito assume os negócios do pai
e é nesse período que a Byington & Cia (fundada em 1904) se consolida
como uma das maiores empresas importadoras, de comércio e indústria
do Brasil. Esse pioneirismo é a marca principal da Rede Verde-Amarela,
mas antes da própria família.
Até então, os entendimentos sobre a Verde-Amarela é que esta se
constituiu como uma tentativa de estruturação de rede de rádios. Este
estudo assume que a rede funcionou por, no mínimo, oito anos (com-
preendendo as fases de criação, expansão e extinção) e mostra que, ao
contrário do que se defendia até então, a Verde-Amarela teve muito mais
que 6 emissoras (próprias e filiadas). Ao total foram 14 emissoras catalo-
gadas via arquivos de jornais e revistas da Hemeroteca Digital Brasileira e
revisão de base bibliográfica.
Esta pesquisa está dividida em três seções principais intituladas:
“Pioneirismos de um jovem americano maluco que comprava água cor-
rente e de uma normalista que fundou a Cruzada Pró-Infância”; “Alberto
Byington Jr., a Byington & Cia e a Rádio Cruzeiro do Sul (PRB-6) ” e a
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A Rede Verde-Amarela, o Pioneirismo Esquecido da Família Byington
Marizandra Rutilli
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A Rede Verde-Amarela, o Pioneirismo Esquecido da Família Byington
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Segundo Mott, Byington e Alves (2005), Pérola não foi aprovada no exame de Geografia e também enfrentou
4
a postura agressiva dos acadêmicos, que não eram favoráveis à abertura do curso para o sexo feminino. Maria
Augusta Saraiva foi a primeira aluna a ingressar na Academia de Direito, em 1898.
Conforme o jornal O 15 de Novembro, de Sorocaba, a companhia levou luz elétrica para várias cidades do interior
5
paulista e foi aí que ficou conhecido como “o jovem americano maluco que comprava água corrente”. Disponível
em Mott; Byington; Alves (2005, p. 30).
Dia da Independência americana.
6
Alberto Byington foi coordenador do projeto de construção da Ponte Hercílio Luz e fornecedor de mão de obra.
8
A ponte foi primeira ligação entre a Ilha de Santa Catarina e o continente e também a primeira feita em estrutura
metálica do Brasil.
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1914-1918.
9
10
O endereço da família passa a ser, a partir de 1920, na Avenida Paulista, 127. Disponível em Mott; Byington; Alves
(2005, p. 34).
11
Outras informações complementares em: https://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/santa-barbara-doeste-
200-anos/noticia/2018/12/16/de-professora-a-fundadora-de-hospital-a-historia-de-luta-da-barbarense-perola-
byington.ghtml. Acesso em: 13 maio 2019.
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Conforme Martins (2005, p. 103), Alberto casou com Elisa Botelho e, juntos, tiveram seis filhos: Maria Elisa, Alberto
12
Neto, Carlos Amadeu, Brasília, Maria Lúcia e o caçula Marcos Byington. O ator, humorista e roteirista Gregório
Duvivier é tataraneto de Alberto e Pérola Byington, filho da cantora Olivia Byington e neto de Carlos Amadeu
Byington (o já falecido médico psiquiatra e analista jungiano).
Paulo Egydio Martins foi governador de São de Paulo, atuou na Byington & Cia e também foi genro de Alberto
13
Byington Jr.
Secretário, tesoureiro e chefe da delegação.
14
Incluindo a produção de leite por meio da Fazenda Itahyê, hoje destinada à produção de orgânicos. Disponível em:
15
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Também em cidades brasileiras, tais como: Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Salvador, Santos e
16
Recife.
Que era a maior empresa mundial de equipamento para tratamento de água e esgoto.
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Marizandra Rutilli
Por exemplo: não sei em que ano foi, mas sei que foi antes de eu
me tornar assistente dele, os jornais publicaram a perda que o
Brasil teve nas colheitas de grãos. Ele se dirigiu ao Middle West
americano e trouxe a maior firma projetista de silos, cujo dono era
um engenheiro chamado Hettelssater – do primeiro nome eu não
me lembro. Com esse engenheiro, e o Departamento de Engenha-
ria da firma, ele criou o Plano Nacional de Armazéns, Silos e Frigo-
ríficos, que cobria o Brasil inteiro. Isso lhe custou uma fortuna. E
ele doou isso tudo ao governo federal. Se não me falha a memória,
era o governo Dutra. Mas não aconteceu nada. Acho que o único
resultado foi a construção do frigorífico de frutas do Cais do Porto,
no Rio de Janeiro, que na época era o maior da América Latina. Ele
era esse homem: absolutamente idealista, mas sem ter por detrás
uma estrutura administrativa. E também sem ter conhecimento
da área financeira, porque a sua formação foi humanista. Tudo o
que você possa pensar de grandioso para o Brasil, tenho certeza
de que passou pela cabeça dele (Martins, 2007, p. 113).
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A Rede Verde-Amarela19
Conforme reforça Ferraretto (2001), o surgimento da rede ocorre
em meio a um cenário de estruturação das Organizações Byington na ra-
diodifusão. Depois da PRB-6, a empresa absorveu, em 1933, a Rádio Cru-
zeiro do Sul, do Rio de Janeiro, e a Kosmos, de São Paulo, também a Clube
do Brasil (controle acionário em 1935).20 Nesse período surge também a
Confederação Brasileira de Radiodifusão (CBR), fundada em 19 de junho
de 1933, e que teve como primeiro presidente Alberto Byington Jr. Segun-
do Sampaio (1984, p. 304), “a entidade foi criada para solucionar proble-
mas comuns enfrentados pelas emissoras existentes na época”.
A constituição da Rádio Cruzeiro do Sul marca o início da Rede
Verde-Amarela, uma vez que, segundo Moreira (1998, p. 22), a PRB-6
é “a primeira de uma cadeia de rádios batizada como Verde-Amarela”.
De acordo com a autora (p. 25) é possível reconhecer, inicialmente, que
Não há, na revisão bibliográfica e nem nas buscas via Hemeroteca Digital, um consenso sobre a nomenclatura da
19
rede. A rede, por exemplo, é citada por Adami (2014) como Rede Verde e Amarela, Moreira (1998) e Sampaio
(1984) usam Rede Verde-Amarela. Para Ferraretto (2001) é Rede Verde-amarela, enquanto Rocha (1993) usa Rede
Verde Amarela. Variações semelhantes também foram encontradas via Hemeroteca Digital Brasileira.
Disponível em Ferraretto (2001, p. 109).
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radiofônico entre nós. A Rádio Cruzeiro do Sul, que conta com au-
xiliares competentes fará ouvir artistas inéditos e de sua exclusivi-
dade, o que representa uma verdadeiro “trouvaille” da sua direção
(Jornal O Paiz, 1934b, p. 7).
de%20Verde-Amarela&pasta=ano%20193.
Outra variação de nomenclatura.
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ficou acertado que a sociedade seria administrada durante dois anos pela
Organização Byington. Conforme Sampaio (1984, p. 309), “Ficou, assim,
assegurado mais um elo (grifos do autor) para a Rede Verde-Amarela. E
mais, o pioneirismo da radiodifusão fluminense”. De acordo com a Re-
vista das Estradas de Ferro, edição 0225(1), a PRF-7 foi inaugurada em
11 de novembro de 1934, num período em que a Rede Verde-Amarela já
contava com 11 estações.
Das 21 às 22 horas a Rádio Cultura de Campos, que faz parte da
maior cadeia de broadcasting – a Rede Verde Amarella, reprodu-
zirá, por intermédio de linha telefônica, os programas organizados
por essa rede, no Rio, S. Paulos e outros lugares em que estão ins-
taladas suas estações, num total de onze, assim distribuídas: PRB-
6, S. Paulo (estação-chave), – PRD2, Rio, PRF-7, Campos – E. do
Rio, PRB-4, Santos, – São Paulo, – PRB-9, Sorocaba – São Paulo,
PRC-9 – Campinas, – São Paulo, – PRA-7, Ribeirão Preto – São Pau-
lo, PRB-5, Franca – São Paulo, Rio Claro, São Paulo – Piracicaba –
São Paulo (Revista das Estradas de Ferro, 1934).
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Data Acontecimento
5 de julho de 1932 Transmissão da partida de futebol, no campo do
Vasco, entre as seleções do Rio de Janeiro e de São
Paulo pela Rede Verde Amarela
29 de junho de 1933 Transmissões via Rede Verde Amarela de programas
dos estúdios da Columbia Broadcasting, de New
York, com o apoio técnico da Companhia Rádio
Telegráfica Brasileira, da RCA Communications
Incorporation e da Columbia Broadcasting Sistem.
5 de junho de 1938 Transmissão do primeiro jogo do Brasil25 contra
a Polônia, pelo campeonato mundial de futebol,
diretamente da França. A recepção é pela Rádio
Club do Brasil (RJ), com formação da maior cadeia
de estações de rádio (Rede Byington), até então
ouvida no país.
Fonte: Autoria própria a partir de Adami (2014).
Conforme Adami (2014, p. 65), a PRB-6, e Gagliano Neto fizeram, em 19 de julho de 1931, a primeira transmissão
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integral de uma partida de futebol no campo do São Paulo. O feito foi transmitido pela Rádio Educadora.
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77
A Rede Verde-Amarela, o Pioneirismo Esquecido da Família Byington
Marizandra Rutilli
78
O INÍCIO DA NARRAÇÃO ESPORTIVA
NO RÁDIO BRASILEIRO:
As Transmissões Pioneiras1
A
história do rádio brasileiro reserva um capítulo especial para o gri-
to de gol, para a velocidade da narração de uma partida de fute-
bol, para os bordões do locutor, para uma genuína conexão entre o
responsável por transmitir aquilo que acontece em campo e o apaixona-
do ouvinte recebe, seja em casa, na rua ou no estádio. A imagem de um
torcedor escutando os detalhes de uma partida com seu radinho de pilha
ilustra essa conexão, materializando um hábito que começou com o rádio
valvulado, passou pelo radinho de pilha e hoje se manifesta com os smar-
tphones. Se o futebol é um elemento contundente da cultura brasileira, o
companheiro para acompanhar as jornadas é o rádio.
Essa história começou, ao menos de maneira oficial, em 19 de ju-
lho de 1931. Por meio da Rádio Educadora Paulista, o speaker metralha-
dora3 Nicolau Tuma narrou, de forma ininterrupta, o jogo entre as Sele-
ções de São Paulo e do Paraná, ocorrido naquele dia em São Paulo, no
Estádio da Chácara da Floresta (Soares, 1994, p. 22). Diversos eventos,
entretanto, foram realizados em caráter experimental ou mesmo não ofi-
Agradecimentos: Esta pesquisa foi realizada em conjunto com a jornalista Paloma Fleck e com a estudante
1
de Jornalismo Nicolle Marazini, integrantes do Núcleo de Estudos de Rádio, grupo de pesquisa vinculado à
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Meus agradecimentos pela colaboração. Sem elas, este texto não
seria possível.
Doutorando em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Mestre em
2
Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), autor do livro “O comentarista
esportivo contemporâneo: novas práticas no rádio de Porto Alegre”, integrante do Núcleo de Estudos de Rádio
(NER), grupo de pesquisa vinculado à UFRGS. E-mail: csguimaraes@gmail.com.
Denominava-se de speaker o locutor das partidas de futebol em seus primórdios. Nicolau Tuma recebeu o apelido
3
de speaker metralhadora por sua capacidade de pronunciar até 250 palavras por minuto (Monteiro, 2007, f. 3).
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É preciso ressaltar que em 1931 era proibida a utilização de comerciais. Também não havia comentarista ou
4
repórter. Ou seja, o que se ouviu naquela tarde de domingo na Rádio Educadora Paulista foi a locução de Tuma
sem qualquer interrupção e interferência por quase duas horas – os 90 minutos de partida mais os 15 minutos de
intervalo entre o primeiro e o segundo tempo.
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dio nacional, uma vez que, sem chances de transmitir dentro do estádio,
“sempre inventava um meio: de binóculo, de alguma casa distante, atrás
de um muro, etc.” (Murce, 1975, p. 59-60).
Posta a rivalidade entre Rio (Amador Santos) e São Paulo (Nico-
lau Tuma), um texto publicado na Cronologia do Rádio Paulistano (apud
Soares, 1994, p. 18) aponta que Leopoldo Sant’Anna foi o autor de uma
narração entre paulistas e cariocas no ano de 1924. O mesmo trabalho,
contrariamente, informa que a primeira notícia de irradiação de jogo
data de novembro de 1927, embora desde 1924 fosse comum a trans-
missão de jogos por telefone, por meio de alto-falantes (Soares, 1994,
p. 18).
Tais discrepâncias são perfeitamente compreensíveis diante da au-
sência de material e de documentos que comprovem efetivamente a data
em que pela primeira vez um jogo de futebol foi transmitido pelo rádio
brasileiro. É possível encontrar registros de experimentações, informa-
ções diretamente do campo de jogo e narrações parciais de partidas de
futebol a partir de 1923. Ou seja, a narração de futebol existia quase uma
década antes do que se determinar afirmar como oficial.
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para as transmissões, havia um outro panorama, que era bem mais oti-
mista: um governo que utiliza o rádio como instrumento mediante con-
trole das concessões; um meio de divulgação – o rádio – que se transfor-
ma num veículo de massa; e um esporte de massa, com jogadores que
passaram a se tornar profissionais, ou seja, o esporte passou a precisar
de dinheiro para se movimentar:
O rádio esportivo tem os requisitos para atender essas três de-
mandas: é informativo sem se envolver com a política do gover-
no; conquistou o público e, em conseqüência, os anunciantes;
mantinha, nesses ouvintes, o interesse pelo futebol (Soares,
1994, p. 27).
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Embora o documento oficial de inauguração da Rádio Mayrink Veiga date de 20 de janeiro de 1926, houve
5
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Música de salão tipicamente norte-americana, de sucesso a partir do século 19 até meados do século 20.
6
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Em tradução livre, a equipe, o time. Os termos ingleses dominavam o futebol no início do século 20, uma vez que
8
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O recorte do jornal Diário da Manhã (24 jun. 1929) não apresentou o nome preciso do adversário.
9
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O Início da Narração Esportiva no Rádio Brasileiro: As Transmissões Pioneiras
Considerações finais
Desvendar as origens do rádio esportivo brasileiro é uma tarefa
que esbarra na falta de registros oficiais, no gradativo desparecimento
das testemunhas oculares e no péssimo cuidado que se teve em docu-
mentar os fatos históricos. Embora a pesquisa tenha coletado significa-
tivas evidências de que houve transmissões esportivas antes do que se
tem como registro pioneiro, não é possível, por exemplo, argumentar se
tais iniciativas foram bem-sucedidas ou se esbarraram nos problemas téc-
nicos, estruturais e políticos mencionados neste texto. Também não foi
possível identificar se outras transmissões foram realizadas sem a docu-
mentação por meio dos jornais da época.
Os documentos históricos apresentados, entretanto, são claros in-
dicativos de que o futebol está presente no rádio brasileiro praticamente
na totalidade de sua história. Desde os primeiros experimentos, em 1923,
até a sistematização das transmissões esportivas, algo que ocorre de for-
ma mais organizada somente a partir dos anos 40, houve a presença do
futebol no rádio brasileiro, em menor ou maior escala. Evidentemente,
esta assiduidade aumentou na medida em que o futebol se transformou
de esporte de elite para a prática da população. Também se identificou
que o processo de profissionalização da modalidade aumentou a deman-
da, em algo que começou a se tornar rotineiro a partir de 1938, com a
transmissão da primeira Copa do Mundo ao vivo para o Brasil pelo rádio e
que se solidificou em 1950, com a realização do primeiro Mundial no país.
Quanto à reivindicação de quem foi o pioneiro, salienta-se que não
cabe aqui refazer o processo histórico que considera Nicolau Tuma, em 19
de julho de 1931, como o pioneiro da narração esportiva no Brasil. Como
já citado, não há, antes desta transmissão, uma prova concreta de que
outras irradiações foram amplamente bem-sucedidas ou que operaram
nos moldes da locução de Tuma: ininterrupta, sem interferências e sem
uma organização que, mesmo com toda precariedade da época, teve a
iniciativa da Rádio Educadora Paulista. Os argumentos e evidências aqui
expostos dão sentido a outro objetivo, que é aquele em que o trabalho
está centralizado: apresentar, mediante um resgate histórico, indicativos
de que havia, de forma até certo ponto frequente, o rádio brasileiro pro-
duzindo informações e transmitindo partidas de futebol antes do que se
considera o “marco inicial” das jornadas esportivas no Brasil.
93
O Início da Narração Esportiva no Rádio Brasileiro: As Transmissões Pioneiras
Referências
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94
O Início da Narração Esportiva no Rádio Brasileiro: As Transmissões Pioneiras
95
PARTE 2
Espetáculo Massivo
de Influência Política
ENTRE A OPINIÃO E A
PANFLETAGEM, A CRÔNICA
PASSEIA PELO COTIDIANO
D
esde os anos 20 do século passado o rádio revelou-se um meio
propício à veiculação de ideias e conceitos. Como meio quente,
convida à imaginação e esta, por sua vez, incita ao pensamento. As
crônicas radiofônicas desempenham papel fundamental na disseminação
de ideologias e bandeiras, seja de forma direta, como na Revolução Cons-
titucionalista de 1932, em que jovens escritores, como Antônio Alcântara
Machado, congregavam os paulistas a pegar em armas contra o governo
Getúlio Vargas, por meio de inflamadas crônicas veiculadas pela Rádio
Record e lidas por Cesar Ladeira, seja por meio de cronistas do cotidiano,
como Edgar Roquette-Pinto e Vicente Leporace, que comentavam de for-
ma simples e atraente as principais notícias do dia. 2
Jornalista e professor titular do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense. Doutor
1
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Entre a opinião e a panfletagem, a crônica passeia pelo cotidiano
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Al Neto morreu de câncer em Lages, a 13 de fevereiro de 2000. No Rio, morava na Ladeira do Ascurra, no bairro
7
do Cosme Velho, na mansão que nos anos 70 foi sede do Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral). Depois
de abandonar o Jornalismo, retornou para Lages, onde se tornou fazendeiro. Foi um dos pioneiros na exportação
de sêmen de gado bovino para a Europa. Nos últimos anos de sua vida dedicou-se ao plantio de pinheiros na pro-
priedade. Seus amigos o consideravam uma pessoa misteriosa e excêntrica, de hábitos reclusos. Não gostava de
falar sobre sua carreira jornalística. Costumava dizer que só havia dois tipos de pessoas que moravam no campo: os
muito ignorantes, que não conseguiam arrumar trabalho na cidade, e os muito inteligentes, que saíam e voltavam
depois de descobrirem que a felicidade estava no meio rural. Deixou um casal de filhos: uma advogada (dona de
um cartório em Lages) e um fazendeiro.
No caso da Rádio Globo, na qual o programa ia ao ar em dias alternados, é de se supor que a última frase do apre-
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Ver roteiro de três programas recuperados dos “Bastidores do Mundo” na parte final deste texto.
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Língua e sonoridade
O rádio oferece a dupla possibilidade de exploração das linguagens
oral e escrita.
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No início dos anos 50 nenhum país do continente americano entrara na esfera de influência soviética. A experiência
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curta na Guatemala de Jacobo Arbens, em 1953, logo foi abortada. Só em 1961 o governo de Fidel Castro rompe o
domínio absoluto dos Estados Unidos no continente.
Em 1951 as famílias brasileiras ainda choravam as centenas de soldados mortos na campanha da FEB na Itália.
11
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Entre a opinião e a panfletagem, a crônica passeia pelo cotidiano
povo que as fileiras comunistas são muito ralas”, ironiza Al Neto, atribuin-
do a opinião a um delegado de Polícia. Meio minuto depois, a frase atri-
buída a Silvino Neto, e lida em tom sarcástico, reforça a crítica: “pobres
comunistas realmente, diz ele. Se eles têm que recorrer a métodos como
o que usaram comigo é porque são mesmo ruinzinhos”. Não há conflitos
de classe, raça ou gênero em Nos Bastidores do Mundo. O único conflito
presente é entre o Ocidente (e não os Estados Unidos) e o Kremlin.
Num comentário que foi ao ar em 1951, Al Neto começa tranquili-
zando os ouvintes ao garantir que “é pouco provável que a Rússia ataque
no ano que vem ou no próximo”. E prevê que enquanto a Rússia sentir-
-se inferior belicamente ao Ocidente, não atacará. A afirmação justifica
a corrida armamentista e os altos orçamentos da indústria bélica, funda-
mentado na premissa de que a superioridade militar dos Estados Unidos
representaria a garantia de paz. Os conceitos de guerra e paz aparecem
com sinais trocados. “O perigo de guerra será iminente quando a Rússia
estiver tão forte como as democracias.”
No final do texto, o comentarista evidencia sua parcialidade ao fa-
zer uma exortação aos ouvintes: Mas é preciso – e aqui está o importante
de tudo isso – que nos unamos todos e nos mantenhamos fortes. (...) Será
que nós vamos deixar que isso aconteça? No lugar da função referencial,
própria do discurso jornalístico, temos aqui o uso simultâneo de duas fun-
ções de linguagem: a expressiva, manifestada pelos juízos de valor, sen-
timentos e impressões do destinador, e a conativa, em que o ouvinte é
levado em conta ao ser compelido a agir (Vanoye, 1996, p. 71).
Vale lembrar que nos anos 50 já predomina no Jornalismo nor-
te-americano o mito da isenção jornalística, baseada na ideia de que o
jornalista, seja ele repórter ou comentarista, deve ater-se aos fatos sem
se manifestar política ou ideologicamente. As opiniões de Al Neto estão
geralmente amparadas em personagens identificadas como “observado-
res”, “cientistas” ou outras fontes credenciadas, dentro da lógica discursi-
va jornalística que exige a menção de uma fonte para a notícia. O efeito
de sentido transmite a ideia de que a opinião do comentarista apoia-se
na experiência vivida pela fonte.12
Tradicionalmente, sempre que as agências internacionais querem veicular uma opinião no meio de uma notícia
12
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Uma busca no Google não localizou nenhum cientista ou político com o nome de Van Erwald Bush, o que reforça a
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suposição de que Al Neto recorria a personagens fictícios em seus comentários, artifício comum no noticiário sobre
a guerra fria.
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Os 10 mandamentos de Kaplun
O produtor e roteirista argentino Mário Kaplun (1978) relaciona os
dez mandamentos do comentário e alerta que qualquer ruído, provocado
pela falta de domínio na linguagem,15 pode comprometer a atenção do
ouvinte.
Clareza – o comentarista radiofônico não pode ver seus interlocutores,
nem perceber suas reações, como numa reunião. Deve então esforçar-se
ao máximo para expressar-se com clareza, prever dúvidas e adiantar-se a
elas, imaginar a reação dos ouvintes e responder às perguntas.
Simplicidade – o comentário radiofônico, necessariamente breve, não se
presta a informações profundas e extensas. Serve para motivar, despertar
inquietude e não para oferecer uma exposição detalhada do assunto.
Motivação – as primeiras frases são decisivas. É preciso cativar o ouvinte
desde o início para que ele continue nos escutando com atenção. O me-
lhor é partir do conhecido, do cotidiano, do familiar.
Exemplificação – recorra a exemplos; humanize o tema, conte fatos e ca-
sos.
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Entre a opinião e a panfletagem, a crônica passeia pelo cotidiano
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Entre a opinião e a panfletagem, a crônica passeia pelo cotidiano
ANEXO
Roteiros recuperados de
“nos bastidores do mundo”
1º Programa
TÉCNICA: MÚSICA OH SUZANA, FICA 15 SEG E DEPOIS CAI EM BG
LOCUTORA: Este é o comentário de Al Neto. Nos Bastidores do
mundo – o que há por trás das notícias. Ao microfone, Al Neto.
MÚSICA: SOBE, FICA 8 SEG E CORTA.
AL NETO: Para um cidadão russo, um pedaço de pão branco e uma
frase menos feliz podem significar a prisão perpétua e até a morte. Certa
feita, o engenheiro WILLIAM WOOD viajava em um trem do Estado entre
Cochoguino e Leningrado16. WOOD achava-se na Rússia a serviço do gover-
no soviético. Naquele trem um operário russo viajava ao lado de WOOD.
Ao servir-se da merenda que levava, WOOD ofereceu um pedaço de pão
branco ao operário. O operário aceitou e, depois de comer um pouco do
pão, observou: “Fazia mais de cinco anos que eu não provava um pedaço
de pão branco”. /// (OT) Esta frase condenou-o. Ao chegarem a Leningra-
do, WOOD observou que um dos passageiros do trem pusera-se a seguir
o operário. O resto do caso é simples. Naquele trem, como em todos os
Uma pesquisa na Internet e no mapa da União Soviética não localizou nenhuma cidade com o nome de Cochoguino
16
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Entre a opinião e a panfletagem, a crônica passeia pelo cotidiano
2º programa
TÉCNICA: MÚSICA OH SUZANA
AL NETO: William Wood tem agora oitenta e cinco anos de idade.
Neste momento acha-se de regresso aos Estados Unidos, onde nasceu. An-
tes, durante treze anos, viveu na Rússia comunista. Foi para lá contratado
pelo governo soviético. O Kremlin quis utilizar-se dos serviços de William
Wood como engenheiro. Wood viveu em Moscou e em várias pequenas
cidades e vilas do interior da Rússia. No curso de suas funções como en-
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Entre a opinião e a panfletagem, a crônica passeia pelo cotidiano
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3º Programa
TÉCNICA: MÚSICA OH SUZANA, CAI EM BG
APRESENTADOR: Este é o comentário de Al Neto, Nos bastidores
do mundo – o que está por trás das notícias. Ao microfone, Al Neto.
AL NETO: Se você anda assustado com a situação internacional,
bem, você não deixa de ter razão. Mas aqui entre nós, é difícil que arre-
bente uma guerra mundial ainda este ano. E o que mais: talvez não haja
guerra nem este ano, nem no ano que vem, nem no próximo. Pode ser
que eu e tantos outros observadores estejamos enganados, mas na ver-
dade é pouco provável que a Rússia nos ataque este ano. Por outra parte,
se nós quisermos que o atual equilíbrio de forças permaneça, é pouco
provável que a Rússia ataque no ano que vem ou no próximo. Enquanto
estiver em inferioridade de condições, a Rússia não tacará. /// Na opi-
nião de um dos mais conhecidos cientistas contemporâneos, o doutor
VAN ERWALD BUSH, a paz continuará sendo mantida porque os russos
têm medo da bomba atômica. Bush recorda como, ao terminar a última
guerra, as nações democráticas começaram a se desarmar. Enquanto as
democracias se desarmavam, a Rússia foi avançando. A Rússia foi avan-
çando e, por meio de golpes de Estado, foi conquistando nações indefe-
sas. Mas quando chegou a vez de Berlim, com o famoso bloqueio russo,
os homens do Kremlin viram que as democracias haviam perdido a pa-
ciência. O recuo da Rússia em Berlim foi uma prova de que Josef Stalin
não quer arriscar-se a uma guerra aberta e cruenta com o mundo livre.
A situação que existia ao tempo do bloqueio de Berlim ainda existe hoje.
As democracias ainda estão mais fortes do que a Rússia, graças principal-
mente à bomba atômica. VAN ERWALD BUSH explica este ponto com as
seguintes palavras textuais: (OT) “Se o Kremlin ordenasse a seus Exércitos
que invadissem a Alemanha, nós, com a nossa bomba atômica e os aero-
planos que a levam, destruiríamos a Rússia”. Tal como a situação é hoje,
não há nenhuma dúvida de que podemos fazê-lo. Nós podemos destruir,
não somente os centros de abastecimento, mas também os centros polí-
ticos e os centros de comunicações do Exército soviético. Inicialmente, é
claro, o Exército soviético, equipado com armas e abastecimento, pode-
ria avançar, mas durante um curto prazo. E não haveria mais por detrás
dele a Rússia que hoje nós conhecemos. Portanto, o Exército soviético
não avançará e não teremos guerra em futuro próximo. De tudo isso se
116
Entre a opinião e a panfletagem, a crônica passeia pelo cotidiano
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Arquivo Sonoro do Museu da Imagem e do Som, Rio de Janeiro.
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ting, Luís Carlos Saroldi e Ricardo Boechat.
Youtube
https://www.youtube.com/watch?v=SrJudIzL8k8
117
De Abelardo Barbosa a Chacrinha: o papel do Velho Guerreiro como comunicador de rádio
O
som do espocar de champanhes dá o clima de festa e de certa
sofisticação para o ouvinte. “Hoje, aqui no Cassino, está mesmo
botando para derreter”, empolga-se o homem ao microfone com
sua voz algo anasalada, um tanto diferente do padrão aveludado dos
speakers radiofônicos de então. Em segundo plano, a música confunde-se
com um burburinho a fazer referência a um amplo salão em que diversos
ruídos identificam, além da conversa, o arrastar das fichas pelo croupier,
o giro da roleta e a mesa de bacará. “Ora, ora, quem adentra o salão?
Ara-a-a-cy de Almeida, caros ouvintes. Está de uma beleza es-ton-te-an-
-te! Um vestido rodado de um verde abacate e com uns fios de ouro. Em-
briagado das ondas odorosas que emanam da bela Aracy, eu sou capaz
até de fazer uma besteira... Mas vejam só! Um cavalheiro conversa com
ela ao pé do ouvido! Adivinhem quem é, caros ouvintes! O-o-o-rlando Sil-
va, o ca-a-antor das multidões!”. Quem entrasse, no entanto, no local da
transmissão, um estúdio de rádio, veria um radialista – não raro apenas
de cueca devido ao calor do Rio de Janeiro – a se esfalfar de um lado para
o outro em meio a uma série de tralhas para a sonorização daquilo que ia
sendo descrito.
Agradecimentos: este artigo não seria possível sem a colaboração de Luiz Antônio de Almeida e Cláudio Pereira de
1
Souza, do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, que auxiliaram o autor durante pesquisa realizada de 2 a
5 de setembro de 2015.
Doutor em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na qual atua como profes-
2
118
De Abelardo Barbosa a Chacrinha: o papel do Velho Guerreiro como comunicador de rádio
119
De Abelardo Barbosa a Chacrinha: o papel do Velho Guerreiro como comunicador de rádio
Esses e os demais trechos anteriores ao Acordo Ortográfico de 1990 tiveram sua grafia adaptada às normas
3
atuais. Foram corrigidos, ainda, erros na utilização da Língua Portuguesa e/ou eventuais falhas de composição.
Passman, Arnold. The deejays. Nova York: McMillan, 1971.
4
120
De Abelardo Barbosa a Chacrinha: o papel do Velho Guerreiro como comunicador de rádio
dos do tipo história das instituições, que tendem a ignorar impactos sobre
a sociedade e correm o risco de se converter “em um desfile de perso-
nagens e readequações organizativas” (Schudson, 1993, p. 216, tradução
nossa). Do ponto de vista teórico, buscando caracterizar Chacrinha como
comunicador, lança-se mão das formulações de Jost (2001), opção que dá
sequência à aplicação anterior de suas formulações sobre os modos de
emissão televisivos para a análise do comunicador radiofônico (Ferraretto,
2014).
O comunicador radiofônico
Os indícios existentes apontam que a expressão “comunicador”
começou a ser usada na Rádio Globo, do Rio de Janeiro, nos anos 50, ga-
nhando força ao longo da década seguinte e conformando um tipo de
programação popular baseado em música, esporte e notícia com desta-
que para a prestação de serviços.
Em 1953, a Rádio Globo passa para a direção de Luiz Brunini. A
emissora vinha de um processo de diversas tentativas de obter
melhor colocação na audiência geral, sem grande sucesso. [...] Na
busca de diminuir os custos e imprimir um perfil diferenciado à
emissora, o novo diretor promoveu uma séria mudança nas áreas
técnicas e de programação. O estilo da Rádio Globo foi alterado,
a estrutura dos programas passou a ser baseada no tripé música,
esporte e notícia. As transmissões esportivas sempre foram um
dos destaques da Globo. Para levar a cabo o processo de reestru-
turação, a emissora demitiu o cast de radioteatro, reformulou os
programas tradicionais de auditório. Tinha início o processo que
resultou na transformação dos animadores de auditório em comu-
nicadores, como Luiz de Carvalho, Haroldo de Andrade, Paulo Bar-
bosa, entre outros. No caso da música, a emissora passa a execu-
tar mais gravações, acabando com as orquestras e criando espaço
para o surgimento dos disc-jockeys. Para obter melhor eficiência
no campo das notícias, teve início um processo de formação de
uma equipe forte de radiojornalismo. Os programas de comunica-
dores passaram a ter uma obrigação jornalística, prestando servi-
ços de utilidade pública aos ouvintes (Calabre, 2005, p. 288).
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Jost (2001, p. 21) cita como exemplo uma situação em que o con-
dutor de um programa, por si uma garantia de veracidade, apresenta um
intérprete de grande popularidade como atração. Em seguida, sempre jo-
gando com o interesse da audiência, anuncia que, de fato, trata-se de um
cover do artista anunciado. Dentro de regras próprias do entretenimento,
mesmo que não se dê conta, o público assume esse falseamento da ver-
dade momentaneamente como real.
De Abelardo a Chacrinha
José Abelardo Barbosa de Medeiros nasceu em Surubim, estado
de Pernambuco, em 30 de setembro de 19175 (Monteiro; Nassife, 2014,
p. 18) e faleceu no Rio de Janeiro, em 30 de junho de 1988, percorrendo
uma trajetória de sucesso, apesar de alguns altos e baixos, até se tornar
um fenômeno nacional durante as décadas de 60, 70 e 80 (Coração...,
1988, p. 9.). Ao longo dos anos 2010, com foco no entretenimento, o que
em si não está errado, especiais de televisão, livro, musical e filme explo-
raram o curioso e o televisivo na trajetória de Chacrinha, em detrimento
de suas reais contribuições para a comunicação de massa. Com a exceção
do episódio do docudrama Por Toda Minha Vida (Rede Globo, 2010), no
entanto, aparecem incorreções históricas e o período relativo ao rádio é
reduzido ao batismo artístico de Abelardo Barbosa.
Quando começa a apresentar o programa Rei Momo na Chacrinha,
em 1943, o pernambucano José Abelardo Barbosa de Medeiros não é um
neófito no rádio. Estudante de Medicina em Recife, trabalhara concomi-
tantemente na Rádio Clube de Pernambuco. Há quatro anos no Rio de
Janeiro, já acumulava, conforme depoimento ao Museu da Imagem e do
Som (Barbosa, 1972), algumas experiências em emissoras como Ministé-
rio da Educação, Tupi e Vera Cruz, todas na então capital federal, e tivera
breve passagem pela Rádio Sociedade Fluminense, do outro lado da Baía
de Guanabara. Demitido dessa última, passa a atuar como discotecário
na Clube, também em Niterói, a PRD-8, seu prefixo na época. Nela, para
aproveitar os lançamentos musicais voltados ao carnaval do ano seguinte,
Já conforme reportagem publicada em O Globo, após a sua morte, Chacrinha teria nascido no dia 20 de janeiro de
5
1916 (Ontem..., 1988, p. 3). A data referente ao ano seguinte, no entanto, foi utilizada como base nas comemora-
ções do centenário do radialista (Rede Globo, 2017).
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Embora o próprio Abelardo Barbosa a descreva assim, a tal chacrinha aparece, em reportagem da revista A Cena
6
Muda (Migueis, 1950, p. 11), como um “longo corredor ajardinado” situado em Icaraí, Niterói.
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Trecho editado para dar mais fluência a essa versão em texto do depoimento de Chacrinha ao Museu da Imagem e
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Situação semelhante é descrita pelo próprio Chacrinha como tendo ocorrida com um casal de argentinos, sendo
9
situada nos tempos da Rádio Clube Fluminense no docudrama Por Toda Minha Vida (Globo, 2010).
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Aqui, provavelmente, o redator confunde a denominação original com a adotada pela atração nos anos 60.
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Instrumentista e compositor.
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Conjunto vocal formado originalmente por Herivelto Martins, Francisco Sena e Dalva de Oliveira.
13
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Considerações finais
Independentemente do segmento em que atua, a figura do co-
municador articula-se em torno da coloquialidade expressa por meio de
uma conversa simulada estabelecida entre quem está no estúdio e quem
ocupa o papel de ouvinte. É, portanto, no plano do imaginário que se
constrói essa interlocução. Sem dúvida, tendo essa premissa como cen-
tral, Abelardo Barbosa constitui-se no grande precursor do que, a partir
da década de 60, vai ser o comunicador radiofônico. Afirmando-se como
uma espécie de inspiração do tropicalismo14 (Chacrinha, 1969, p. 13), o
profissional de rádio acabou encoberto pela figura, de grande sucesso na
televisão, do Velho Guerreiro, expressão que aparece na canção Aquele
Abraço, de Gilberto Gil, lançada em 1969, espécie de hino-despedida em
tempos de repressão política e exílios do Brasil após o início da ditadura
militar cinco anos antes: “Chacrinha continua balançando a pança/ E bu-
zinando a moça e comandando a massa/ E continua dando as ordens no
terreiro/ Alô, alô, seu Chacrinha, velho guerreiro” (História..., 1982, p. 9).
Mesmo com a facilidade representada pela Hemeroteca Digital
Brasileira, é muito complicado reconstruir hoje a trajetória de Abelardo
Barbosa do início dos anos 40 até a primeira metade da década de 50.
estrangeiro, da cultura alta e do mundo de massas. A carnavalização paródica dos gêneros musicais, as citações
pelas quais as canções se comentam e comentam outras, o deslocamento de registros sonoros e poéticos são
procedimentos constantes. Ao lado de seu teor de intervenção poético-musical, produz controvérsias no campo
comportamental ao atuar de forma agressiva sobre hábitos arraigados ligados à corporalidade, à sexualidade, ao
vestuário, ao gosto estético” (Enciclopédia..., 2003, p. 787-788).
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De Abelardo Barbosa a Chacrinha: o papel do Velho Guerreiro como comunicador de rádio
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CHACRINHA. O Pasquim, Rio de Janeiro, 13-19 nov. 1969. p. 9-13.
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ciplinares da Comunicação, 2010. v. 1, p. 312-313. CD-ROM.
FERRARETTO, Luiz Artur. Da segmentação à convergência, apontamentos a
respeito do papel do comunicador de rádio. Comunicação & Sociedade, São
Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, v. 36, n. 1, 2014,
p. 59-84.
HISTÓRIA DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA. Grandes compositores. Gilberto
Gil, São Paulo: Abril, 1982. LP (com fascículo).
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De Abelardo Barbosa a Chacrinha: o papel do Velho Guerreiro como comunicador de rádio
136
PERMANÊNCIAS E MUTAÇÕES
DA ORALIDADE NOS PRIMEIROS
JINGLES RADIOFÔNICOS BRASILEIROS
C
riado no século 19, o rádio foi reconhecido como importante meio
de comunicação sobretudo no século seguinte, em que seu poder
para transmissão de informação e entretenimento foi usado tanto
para o mal quanto para o bem. É exemplar do primeiro caso o emprego
efetuado pelo ministro da Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, para
disseminar a ideologia nazista, impulsionando a produção de aparelhos
radiofônicos em seu país e atingindo a impressionante marca de 4 mi-
lhões de rádios fabricados nos primeiros anos de ascensão do regime na
Alemanha. No segundo caso, já deste lado do oceano Atlântico, o antro-
pólogo Roquette-Pinto destacou-se como pai da radiodifusão no Brasil,
criando a primeira emissora do país em 1922, a Rádio Sociedade do Rio
de Janeiro (atualmente Rádio MEC),3 cujo projeto era transformar o meio
sonoro em instrumento educacional para a população brasileira. Nas
duas propostas tão distintas, entretanto, há o vislumbre do alcance que
a oralidade permitia e permite, bem como a confiança na força das pala-
vras faladas.
(UnB). rafiza@gmail.com
Enquanto produzíamos esse capítulo, a Rádio MEC operava normalmente. Em decisão no dia 5 de julho de 2019,
3
o presidente da República, Jair Bolsonaro, extinguiu a Rádio MEC, que irá operar até dia 31 de julho de 2019. Não
há como mensurar a perda histórica, social e cultural resultante dessa decisão autocrática. Perdemos a emissora
mais antiga da História do Rádio no Brasil. Decidimos incluir essa nota de rodapé como uma forma de atualizar
esse capítulo, registrar nosso repúdio à extinção da Rádio MEC, bem como nosso reconhecimento ao legado e à
importância histórica dessa emissora.
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Não tem mais nada” era uma rima simples que facilitava a memorização.
A oralidade, num país de maioria de analfabetos (em que a impressão era
proibida), cumpria papel decisivo.
Há uma pequena mudança quando a família real chega ao Bra-
sil em 1808 e, logo em seguida, é lançada a Gazeta do Rio de Janeiro,
o primeiro jornal impresso em terras brasileiras. As vilas começam a se
transformar em cidades e o comércio vai se instalando. As primeiras uni-
versidades são abertas. Ainda assim, mesmo em um veículo impresso, a
oralidade encontra espaço. O país ainda vive uma primeira oralidade, pois
a cultura letrada se restringe às elites, que continuam a viver numa socie-
dade em que a transmissão oral predomina.
Os jornais começam a trazer publicidades na forma de anúncios e a
atenção dos leitores passa a ser disputada. As partituras-reclame surgem
nas últimas décadas do século 19 e eram distribuídas gratuitamente, ga-
nhando letra que valorizava os produtos e que era cantada pelos clientes
dos estabelecimentos. Figuram entre os autores de partituras-reclame
expoentes como Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga e Heitor Villa-Lo-
bos. O surgimento do fonógrafo e do gramofone possibilitou a gravação
das primeiras músicas. Xisto Bahia compôs “Isto é bom”, ritmo afro-brasi-
leiro, lançado em 1902 e cantado por Baiano – Manuel Pedro dos Santos.
Baiano gravou “Pelo telefone!”, o primeiro samba no país, em 1917.
A publicidade, atenta ao sucesso popular das primeiras músicas,
aproveita-se da aceitação e lança a versão para a Cerveja Fidalga: “O che-
fe da folia. Pelo telefone. Manda dizer. Que há em toda a parte. Cerveja
Fidalga. Pra gente beber. Quem beber Fidalga. Tem alma sadia. Coração
jovial. Fidalga é a cerveja. Que a gente deseja. Pelo Carnaval”.
Quando o rádio tem sua primeira transmissão nessas terras, é por
essa oralidade que se conecta à audiência, pouco letrada, analfabeta, que
precisa de poucos recursos para compreender o que é mediatizado – ao
contrário do que acontecia, por motivos óbvios, com os meios impres-
sos. Não haveria melhor forma de vender produtos em terras tupiniquins,
nem como evitar o casamento entre a linguagem radiofônica e a publici-
dade. O produto a ser vendido precisa permanecer na memória. O retor-
no das técnicas mnemônicas não demora muito para acontecer. Grande
parte da linguagem dessa publicidade será calcada na rima e no canto,
ocasionando o nascimento do jingle.
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O jingle no Brasil
Por ocasião do centenário da Independência, em 1922, acontece a
primeira transmissão radiofônica brasileira ao som da irradiação da ópe-
ra O Guarani, de Carlos Gomes. Embora o governo brasileiro não tenha
demonstrado interesse no rádio como meio de comunicação, Edgar Ro-
quette-Pinto, visionário, homem de cultura e influência empresarial, mo-
tivado pelo interesse científico e pela função social que o rádio poderia
desempenhar na sociedade, fundou a Sociedade Rádio do Rio de Janeiro,
em 1923. “Adiante, após o seu lançamento, o rádio veio a fazer parte do
cotidiano das pessoas, tornando-se um ‘companheiro’ de todas as horas e
um extraordinário meio de informação e entretenimento” (Lucena Júnior;
Silva; Silva, 2016). O rádio desenvolveu-se lentamente até quando foram
permitidas as propagandas comerciais, em 1930. Segundo César (2008), a
história do rádio começa a mudar na década de 30, quando um decreto
autoriza que 10% da programação radiofônica se destinasse a comerciais.
Foi a oportunidade que os empresários viram de fisgar o público consu-
midor deslumbrado com a nova mídia.
Nesse contexto, foi criada a Rádio Philips do Rio de Janeiro, que
transmitia o Programa Casé, de Ademar Casé, que divertia as famílias
com humor e música ao longo da programação. Casé comprava o horário
da emissora e revendia pequenos espaços publicitários para anunciantes.
Casé passa em frente a uma imponente padaria no Bairro Botafo-
go, no Rio de Janeiro, e identifica a possibilidade de vender anúncios para
seu programa. Conversa com o português, dono do estabelecimento, mas
nada o convencia de que anunciar no Programa Casé era um bom negó-
cio. Casé conta a situação a Antônio Nássara, um dos locutores da época,
e o provoca para compor um texto para a Padaria Bragança. Nássara ten-
ta agradar o cliente e compõe um fado, considerando que, sendo portu-
guês, deveria gostar de música típica de Portugal.
Ó padeiro desta rua/ Tenha sempre na lembrança/ Não me traga
outro pão/ Que não seja o pão Bragança/ Pão inimigo da fome/
Fome, inimiga do pão/ Enquanto os dois não se matam/ A gente
fica na mão/ Ó padeiro desta rua/ Tenha sempre na lembrança/
Não me traga outro pão/ Que não seja o pão Bragança/ De noite
quando me deito/ E faço minha oração/ Peço com todo o respeito/
Que não me falte o pão.
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Conclusão
O rádio faz parte já de uma segunda fase da oralidade, ocasiona-
da especialmente pela proliferação dos meios de comunicação massiva
e que
[...] refere-se à atual cultura de alta tecnologia, em que uma nova
oralidade é sustentada pelo telefone, rádio, televisão e outros
meios eletrônicos que, para existirem e funcionarem, dependem
da escrita e da imprensa. Segundo Ong, na atualidade, não exis-
te cultura de oralidade primária no sentido estrito, na medida em
que todas as culturas conhecem a escrita e têm alguma experiên-
cia de seus efeitos (Galvão; Batista, 2006, p. 407).
149
Permanências e Mutações da Oralidade nos Primeiros Jingles Radiofônicos Brasileiros
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ROCHER, GUY. Sociologia geral – a organização social. Lisboa: Presença, 1971.
151
Mapeamento das Emissoras de Rádio e Gravadoras Envolvidas
na Produção de Coletâneas de Sucessos Internacionais nos Anos 70
A
música gravada em disco passou a ser uma constante no rádio bra-
sileiro entre as décadas de 50 e 60, gerando a criação de emissoras
dedicadas à transmissão deste tipo de material, as quais passaram
a ter um recorte na segunda metade da década de 60, a execução de mú-
sica jovem, composta na época pelo pop, rock e soul, além de canções
românticas, em especial italianas e francesas. As primeiras emissoras com
este recorte foram a Mundial AM no Rio de Janeiro (em 1966) e a Ex-
celsior AM (em 1968) e Difusora AM (em 1969) em São Paulo. As duas
primeiras eram do Grupo Globo e a última era dos Diários Associados. O
foco destas emissoras era a música destinada aos jovens, em que lança-
mentos e sucessos do momento eram os principais conteúdos.
Uma das maneiras de promover a música é incluí-la em uma com-
pilação de sucessos de uma emissora de rádio, peça que podemos en-
tender como promocional da marca da rádio, a qual também serve para
destacar os hits da programação. A compilação de sucessos de uma rádio
reúne em um só produto diversas canções executadas massivamente pela
emissora. Além do consumo das canções que gosta, o ouvinte consome a
própria proposta de programação da emissora, que é levada de modo re-
sumido para um álbum, que retrata sua programação de um determinado
momento.
Doutor em Informação e Comunicação em Plataformas Digitais pela Universidade de Aveiro (UA) e Universidade do
1
Porto (UP). Bacharel em Arte e Mídia pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Professor do Centro
Universitário FIAM FAAM. johanvanhaandel@hotmail.com
152
Mapeamento das Emissoras de Rádio e Gravadoras Envolvidas
na Produção de Coletâneas de Sucessos Internacionais nos Anos 70
Enquadramento teórico
A emergência de uma programação segmentada permitiu a produ-
ção de discos com repertório voltado a um público específico. Em relação
à segmentação, Ferraretto (2014, p. 48) informa que quando a televisão
se consolidou como principal meio massivo, as emissoras de rádio busca-
ram atingir públicos amplos por meio da irradiação de uma programação
baseada na média de gosto, em que a concentração em um público-alvo
pode englobar alguns programas ou a totalidade da programação.
A segmentação musical jovem baseia-se em música e é dirigida a
um público com idade entre 15 e 25 anos, contendo sucessos do momen-
to e conduzido por comunicadores que, com o uso do humor e agitação,
buscam criar um elo de identificação com seu público; já o formato traz
a maneira de abordar o segmento (Ferraretto, 2014, p. 51, 54). No caso
das emissoras que produziram coletâneas de sucessos internacionais, ge-
ralmente apresentam um formato do tipo top 40 (ou, caso tenham uma
programação mosaico, usam o formato top 40 nos programas musicais),
no qual os sucessos são apresentados em uma lista fechada de músicas,
que são bastante veiculadas pela emissora.
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Mapeamento das Emissoras de Rádio e Gravadoras Envolvidas
na Produção de Coletâneas de Sucessos Internacionais nos Anos 70
Metodologia
A presente investigação baseia-se na análise de conteúdo, com
a observação das compilações de sucessos internacionais lançadas por
emissoras de rádio brasileiras na década de 70. Para a pesquisa foi desen-
volvido um modelo de análise derivado do modelo proposto por Quivy
e Van Campenhoudt (2008, p. 121-123), no qual conceitos são descons-
truídos em dimensões (recortes do conceito para um enfoque mais espe-
cífico) e componentes (recortes que permitem a aproximação aos dados
observáveis), até chegar aos indicadores, que se relacionam com os da-
dos que podem ser mensurados. Na Tabela 1 podemos observar a des-
construção dos conceitos do modelo de análise proposto para a presente
investigação.
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mata e uma da MDK – Música e Discos (a qual era conhecida pelo seu
selo Pirate Records). Em fevereiro de 1976 foi lançada a compilação Viaje
com a Excelsior – Vol. 4, contendo cinco músicas licenciadas da RGE/Fer-
mata, quatro da RCA, três da EMI-Odeon, uma da CID e uma da Tapecar,
além de uma produção própria da Sigla. Em setembro de 1976 foi lançada
a compilação Sua Paz Mundial – Vol. 5, contendo três músicas licenciadas
pela RCA, duas pela EMI-Odeon, duas pela RGE/Fermata, duas pela Top
Tape, duas pela Tapecar e uma pela Sigem (que a partir de 1975 passou
a licenciar as gravadoras francesas anteriormente licenciadas pela Sigla),
além de duas produções próprias da Sigla. Em dezembro de 1976 (credi-
tada como produzida em 1977) foi lançada a compilação Excelsior – A má-
quina do som – Vol. 5 (informando na capa sua nova frequência: 780 KHz),
contendo quatro músicas licenciadas pela RCA, três pela EMI-Odeon, três
pela RGE/Fermata, uma pela CBS, uma pela Top Tape e uma pela Sigem,
além de uma produção própria da Sigla. Em julho de 1977 foi lançada
a compilação Sua Paz Mundial – Vol. 6, contendo quatro músicas licen-
ciadas pela RCA, três pela Phonogram, duas pela EMI-Odeon, duas pela
WEA, uma pela Som Indústria e Comércio, uma pela Phonodisc e uma
da Top Tape. Em dezembro de 1977 foi lançada a compilação Excelsior
– A máquina do som – Vol. 6, contendo quatro músicas da EMI-Odeon,
quatro da RCA, três da RGE/Fermata, uma da Phonodisc e uma da Sigem,
além de uma produção própria da Sigla. Em junho de 1978 foi lançada a
compilação Sua Paz Mundial – Vol. 7, contendo três músicas da CBD Pho-
nogram, duas da EMI-Odeon, duas da RCA, duas da CID, uma da CBS, uma
da Chantecler, uma da Tapecar, uma da editora Ampro Productions e uma
da Capitol, recém separada da EMI-Odeon (a qual iria reabsorvê-la no fi-
nal de 1979). Em setembro de 1978 foi lançada a compilação Excelsior – A
máquina do som – Vol. 7, contendo duas músicas licenciadas pela CBD
Phonogram, duas pela RCA, duas pela RGE/Fermata, uma pela Tapecar,
uma pela Top Tape, uma pela EMI-Odeon, uma pela Capitol, uma pela
Chantecler, uma pela Phonodisc (creditada no encarte como Gravações
Elétricas) e uma pela Ampro, além de uma produção própria da Sigla. Em
setembro de 1979 foi lançada a compilação Sua Paz Mundial – Vol. 8, con-
tendo duas músicas licenciadas pela PolyGram, duas pela Som Indústria
e Comércio, duas pela Capitol, duas pela RGE/Fermata, uma pela RCA,
162
Mapeamento das Emissoras de Rádio e Gravadoras Envolvidas
na Produção de Coletâneas de Sucessos Internacionais nos Anos 70
uma pela EMI-Odeon, uma pela Top Tape e uma pela Ampro. Este disco
saiu também com o título Gazeta FM, que traz outra capa, mas contém as
mesmas músicas.
No final da década de 70 o Grupo Globo passou a ter duas FMs
destinadas à programação musical no eixo Rio-São Paulo, a 98 FM do Rio
de Janeiro (inaugurada em 1974 como Eldorado FM e conhecida como
Eldopop, com foco na música experimental da década de 70, proposta se-
guida até 1978, quando a emissora mudou de nome para 98 FM e passou
a ter uma programação mais comercial), e a Excelsior FM, que foi inau-
gurada em 1978, sendo a primeira emissora em FM do Grupo Globo em
São Paulo. Em seus primeiros anos a Excelsior FM herdou da sua versão
em AM o conceito de “máquina do som”, mas isto não foi mantido por
muito tempo, pois esta emissora FM teve vários tipos de segmentação de
conteúdo nos anos seguintes. Lançou apenas uma compilação, intitulada
Excelsior FM, lançada em fevereiro de 1979, contendo três músicas licen-
ciadas pela RCA, duas pela PolyGram (criada a partir da CBD Phonogram
poucos meses antes), duas pela Top Tape, uma pela EMI-Odeon, uma pela
Chantecler, uma pela Ampro, uma pela RGE/Fermata e uma pela Grava-
ções Elétricas (fonograma da Ariola alemã, que no final de 1979 montaria
sua filial no Brasil).
A primeira emissora do Nordeste brasileiro a produzir uma cole-
tânea de sucessos internacionais do momento foi a Tamandaré AM, de
Olinda. A emissora pertencia ao Grupo Diários Associados, que no início
de 1976 lançava seus discos pelas Gravações Elétricas e no final daquele
ano passou a lançar por sua própria gravadora, a GTA (Gravações Tupi As-
sociadas). Em vez disso, a Tamandaré lançou duas compilações pela Top
Tape: a primeira no início de 1976, intitulada Rádio Tamandaré 890Khz
máxi-música, e a segunda no segundo semestre de 1976, intitulada Ra-
dio Tamandaré – Vol. 2, contando com músicas do catálogo da gravadora
(produções próprias ou músicas licenciadas por gravadoras estrangeiras).
A partir do segundo semestre de 1977 os Diários Associados pas-
saram a lançar discos de empresas do conglomerado por sua própria gra-
vadora, a GTA. A Difusora FM chegou a lançar uma coletânea no início
de 1978, mas era de midbacks. Coletâneas de sucessos internacionais do
momento foram todas da Difusora AM.
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Mapeamento das Emissoras de Rádio e Gravadoras Envolvidas
na Produção de Coletâneas de Sucessos Internacionais nos Anos 70
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Mapeamento das Emissoras de Rádio e Gravadoras Envolvidas
na Produção de Coletâneas de Sucessos Internacionais nos Anos 70
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Mapeamento das Emissoras de Rádio e Gravadoras Envolvidas
na Produção de Coletâneas de Sucessos Internacionais nos Anos 70
Considerações finais
Observamos que tanto majors como gravadoras independentes se
uniram a emissoras de rádio musicais para o lançamento de coletânea de
sucessos. Estes discos podem ser considerados um retrato de uma época,
registrando para a história o que era exibido por essas emissoras no período
e serviram como material promocional, posicionando as emissoras no mer-
cado consumidor e, também, como mídia que reúne os sucessos do mo-
mento, facilitando o acesso às canções do hit parade pelos fãs de música.
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Mapeamento das Emissoras de Rádio e Gravadoras Envolvidas
na Produção de Coletâneas de Sucessos Internacionais nos Anos 70
Referências
BIG BOY. O Globo. Rio de Janeiro, 1º ago. 1973. Top jovem.
BIG BOY. O Globo. Rio de Janeiro, 21 maio 1974. Top jovem.
BUFARAH, A. et al. Panorama do rádio em São Paulo. In: PRATA, N. (org.). Pa-
norama do rádio no Brasil. Florianópolis: Insular, 2011. p. 501-529. V. 1.
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Mapeamento das Emissoras de Rádio e Gravadoras Envolvidas
na Produção de Coletâneas de Sucessos Internacionais nos Anos 70
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PARTE 3
Educativo, Comunitário,
Universitário:
pluralidade no campo
da radiodifusão pública
A Rádio da Universidade Entre as Décadas de 60 e 70:
A Consolidação do Perfil Cultural e de Programação
A RÁDIO DA UNIVERSIDADE
ENTRE AS DÉCADAS DE 60 E 70:
A Consolidação do Perfil Cultural
e de Programação
Cida Golin1
Ana Laura Colombo de Freitas2
N
ascida nos fundos da Escola Eletrotécnica, a Rádio da Universidade
acabara de conquistar um prédio próprio quando os Jogos Mun-
diais Universitários movimentaram Porto Alegre, em 1963, e cha-
maram a equipe para sua primeira saída a campo. A rádio foi escolhida
como a emissora oficial do evento Universíade, e encarou o desafio de
uma cobertura esportiva, fazendo transmissões diretamente dos locais
das competições durante dez dias. Montou-se uma verdadeira força-tare-
fa, com engajamento de todos os funcionários e colaboradores externos.
Com o apoio de tradutores para diferentes línguas, foram produzidos bo-
letins amplamente difundidos por meio das ondas curtas da Guaíba, que
cedeu 30 minutos diários em sua programação noturna. O resultado foi
uma “magnífica cobertura radiofônica”, na avaliação da Revista do Globo
(Pinho et al., 1963, p. 47).
Carregando o slogan de primeira rádio universitária do Brasil,
a emissora inaugurada em novembro de 1957 vinha na esteira de um
efervescente contexto cultural vivido pela cidade e pelo país, quando a
Universidade tomava para si a missão de expandir o diálogo com a co-
munidade (Golin; Freitas, 2019). Este texto dá seguimento à investigação
anterior que buscou entender as condições culturais e o espírito de época
Possui Graduação em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Mestrado em
1
Linguística e Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e Doutorado em Linguística e
Letras pela PUCRS. É professora no curso de Jornalismo e no curso de Museologia da Faculdade de Biblioteconomia
e Comunicação e no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da UFRGS. golin.costa@ufrgs.br
Possui Graduação em Comunicação Social e Mestrado em Comunicação e Informação pela UFRGS. É servidora
2
170
A Rádio da Universidade Entre as Décadas de 60 e 70:
A Consolidação do Perfil Cultural e de Programação
que fez a rádio emergir. Nesta etapa procuramos sistematizar dados so-
bre as primeiras décadas de sua atuação entre os anos 60 e início dos 70,
período em que a rádio consolida seu perfil cultural e de programação.
Vamos recorrer à pesquisa bibliográfica e às vozes registradas no arqui-
vo da emissora, iluminando a perspectiva de profissionais que acompa-
nharam os primeiros anos. Estas entrevistas foram concedidas durante as
efemérides de 30 (1987) e 50 anos (2007) do veículo, além de uma nova
gravação realizada em abril de 2019 com o crítico de cinema Hélio Nasci-
mento. No horizonte da história cultural (Pesavento, 1999) buscaremos
partir dos indícios encontrados nos depoimentos e na bibliografia para
tecer relações entre a emissora e o sistema de cultura local, assim como
observar fragmentos de seu percurso na trajetória da Universidade, par-
ticularmente do Instituto de Filosofia e do curso de Jornalismo, dos quais
ela também é tributária.
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A Rádio da Universidade Entre as Décadas de 60 e 70:
A Consolidação do Perfil Cultural e de Programação
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A Consolidação do Perfil Cultural e de Programação
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A Consolidação do Perfil Cultural e de Programação
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A Rádio da Universidade Entre as Décadas de 60 e 70:
A Consolidação do Perfil Cultural e de Programação
gundo Blois (2004), buscava-se introduzir uma postura científica nas fases
de produção do rádio educativo. O advogado e cronista Nilo Ruschel, pro-
fessor catedrático de Rádio do curso de Jornalismo, fez parte da primei-
ra equipe da Feplam. Em 1963, como diretor da Rádio da Universidade,
viajou para os Estados Unidos e, em 1968, para a Inglaterra e Alemanha
a fim de conhecer instituições congêneres, além da televisão educativa
(Duval, 2005).
Conforme registro de Iara Bendatti em entrevista (1987), por volta
de 1968 a Feplam tomava conta da sala do setor de Jornalismo, causando
atritos. A Fundação pagava técnicos e locutores da rádio para produzir
seus programas. “Nossa programação começou a ficar um pouco distor-
cida”, conta Herculano Coelho (1987), primeiro administrador da Rádio
da Universidade. A dimensão do incômodo foi tamanha que levou Iara
e Armando Albuquerque a se reunirem com o reitor José Carlos Fonseca
Milano. O resultado foi a saída de Nilo Ruschel da direção da rádio, então
assumida pela jornalista Vacilia Derenji.
A rádio e o cinema
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A Consolidação do Perfil Cultural e de Programação
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A Consolidação do Perfil Cultural e de Programação
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A Consolidação do Perfil Cultural e de Programação
Considerações finais
Mesmo em meio a um contexto de profundas mudanças na estru-
tura acadêmica e sob intensa repressão à liberdade de pensamento no
ambiente universitário, os anos de 60 e 70 foram de consolidação de um
projeto educativo-cultural para a Rádio da Universidade. A emissora legi-
timava seu lugar como agente do sistema de cultura local, assumindo um
papel de formação dos ouvintes, na escuta da música de concerto e no
olhar para o cinema, ao mesmo tempo em que orientava e servia de la-
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A Rádio da Universidade Entre as Décadas de 60 e 70:
A Consolidação do Perfil Cultural e de Programação
Referências
ALMEIDA, Manuel Torres de. Manuel Torres de Almeida: depoimento [2007].
Entrevistadora: Silvia Secrieru. Porto Alegre, 2007. 1 arquivo mp3 (29min).
Entrevista concedida para especiais de 50 anos da Rádio da Universidade.
APPEL, Carlos Jorge. Carlos Jorge Appel: depoimento [2007]. Entrevistadora:
Rejane Salvi. Porto Alegre, 2007. 1 arquivo mp3 (até 10min17s). Entrevista
concedida para especiais de 50 anos da Rádio da Universidade.
ASSOCIAÇÃO DE DOCENTES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO
SUL. Universidade e repressão: os expurgos na UFRGS. 2. ed. Porto Alegre:
L&PM, 2008.
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Percursos Pioneiros da Web Rádio Universitária no Brasil e os 20 Anos da Rádio Ponto UFSC
Valci Regina Mousquer Zuculoto, Karina Woehl de Farias, Guilherme Gonçales Longo
PERCURSOS PIONEIROS DO
WEBRÁDIO UNIVERSITÁRIO
NO BRASIL E OS 20 ANOS
DA RÁDIO PONTO UFSC
Valci Regina Mousquer Zuculoto1
Karina Woehl de Farias2
Guilherme Gonçales Longo3
A
o se registrar historicamente os cem anos do rádio no Brasil em
2019, considerando-se como marco a criação da Rádio Clube de
Pernambuco em 1919, é de se ressaltar o segmento da radiofo-
nia universitária como um dos elementos constituidores da maior parte
desta já longa história. E ao se proceder este destaque, uma outra traje-
tória específica do rádio universitário se evidencia, a da sua web rádio.
São pouco mais de duas décadas do webrádio universitário no Brasil, um
itinerário histórico que aqui refletimos ajustando artigo apresentado ao
XII Encontro Nacional de História da Mídia (Zuculoto et al., 2019).
Reconhecemos, como primeira emissora universitária nacional, a
Rádio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), criada na
banda AM, em 1957, quando não existia o FM nem se fazia a distinção
dos sistemas público, estatal e privado, como passou a ocorrer a partir de
1988, com a promulgação da atual Constituição Federal (Brasil, 1988). Na
legislação da época do início da radiofonia específica de universidades, na
jornalista (UFRGS), mestre e doutora (PUC-RS), pós-doutora (ECO/UFRJ). Diretora Científica da Alcar. Coordenadora
da Rede de Pesquisa em Radiojornalismo (RadioJor/SBPJor). Integra coordenação da Rede das Rádios Universitárias
do Brasil (Rubra). Líder do Grupo de Investigação em Rádio, Fonografia e Áudio (Girafa/CNPq). Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC). valzuculoto@hotmail.com
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
2
Mestre em Educação pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc) e professora do curso de Jornalismo
da Faculdade Satc, em Criciúma-SC. Integrante do Grupo de Investigação em Rádio, Fonografia e Áudio (Girafa),
certificado no CNPq. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). fariaskaki@gmail.com.
Jornalista e Mestre em Jornalismo, ambos pela Universidade Federal de Santa Catarina. É membro da rede de pesquisa
3
RadioJor, e dos grupos de pesquisa GIRAFA (Grupo de Investigação em Rádio, Fonografia e Áudio) e GIPTele (Grupo
Interinstitucional de Pesquisa em Telejornalismo), ambos certificados pelo CNPq. guilherme.longo93@gmail.com
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Valci Regina Mousquer Zuculoto, Karina Woehl de Farias, Guilherme Gonçales Longo
A produção deste texto também teve a colaboração da jornalista Beatriz Hammes Clasen, formada no curso de
4
Jornalismo da UFSC e que, ainda estudante, em 2018 e 2019, participou das nossas pesquisas que fundamentam
este trabalho, como bolsista Pibic. Igualmente da doutoranda Nayane Brito e da atual bolsista Pibic Joyce Almeida,
ambas estudantes de Jornalismo da UFSC, respectivamente do PPGJor e do Curso de Graduação, e integrantes do
Grupo de Investigação em Rádio, Fonografia e Áudio (Girafa), certificado no CNPq.
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Percursos Pioneiros da Web Rádio Universitária no Brasil e os 20 Anos da Rádio Ponto UFSC
Valci Regina Mousquer Zuculoto, Karina Woehl de Farias, Guilherme Gonçales Longo
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Valci Regina Mousquer Zuculoto, Karina Woehl de Farias, Guilherme Gonçales Longo
Referências
BARBOSA, Marialva. Imprensa e história pública. In: MAUAD, Ana Maria; AL-
MEIDA, Janiele Rabêlo; SANTHIAGO, Ricardo. História Pública no Brasil – sen-
tidos e itinerários (org.). São Paulo: Letra e Voz, 2016.
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Percursos Pioneiros do Webrádio Universitário no Brasil e os 20 Anos da Rádio Ponto UFSC
Valci Regina Mousquer Zuculoto, Karina Woehl de Farias, Guilherme Gonçales Longo
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Valci Regina Mousquer Zuculoto, Karina Woehl de Farias, Guilherme Gonçales Longo
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A VOZ DO BRASIL:
A Adoção de Formatos Radiojornalísticos
Pelo Programa Oficial ao Longo
de Seus 85 Anos
Luciana Paula Bonetti Silva1
O
longevo programa oficial A Voz do Brasil foi criado em 1934, du-
rante a primeira Era Vargas (Souza, 2003). Originalmente veicula-
do das 19 às 20 horas em cadeia obrigatória nacional, teve seu
horário de transmissão flexibilizado, em abril de 2018. Atualmente, fica
a critério de cada rádio retransmiti-lo entre as 19 e as 22 horas. A sua
criação deu-se a partir da ideia primeira de integração nacional e tam-
bém promoção do governo federal, na ocasião o de Getúlio Vargas. Para
tal, o então chamado Programa Nacional reunia discursos presidenciais
e peças musicais e literárias (Perosa, 1995). Atualmente veicula progra-
mas distintos dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. A produção
de cada bloco é independente em seu financiamento e execução, sendo
de responsabilidade de cada poder. O emprego de profissionais de Jorna-
lismo no programa, a adoção de linguagem e formatos radiojornalísticos
transformaram significativamente A Voz do Brasil em relação ao progra-
ma da década de 30, de maneira que reportagens veiculadas em sua ver-
são mais contemporânea conquistaram prêmios de radiojornalismo.2
Nosso objetivo neste texto foi investigar a história do programa
com foco na adoção progressiva de linguagem e formatos radiojornalís-
ticos, bem como a veiculação de conteúdos jornalísticos e o emprego de
Doutoranda em História e mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Graduada em
1
Jornalismo pela UFSC e em História pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). lucipbs@gmail.com.
A reportagem produzida por Carolina Pimentel sobre o Seguro da Agricultura Familiar, que foi ao ar em 10
2
de setembro de 2004, recebeu no ano seguinte o Prêmio Especial Categoria Extra-Regional, na categoria mídia
eletrônica, concedido pelo Banco do Nordeste.
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Pelo Programa Oficial ao Longo de Seus 85 Anos
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Pelo Programa Oficial ao Longo de Seus 85 Anos
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Pelo Programa Oficial ao Longo de Seus 85 Anos
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A Voz do Brasil: A Adoção de Formatos Radiojornalísticos
Pelo Programa Oficial ao Longo de Seus 85 Anos
Criada pelo grupo do jornal A Noite, a Rádio Nacional foi estatizada em 1940, tornando-se líder de audiência desta
3
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A Voz do Brasil: A Adoção de Formatos Radiojornalísticos
Pelo Programa Oficial ao Longo de Seus 85 Anos
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A Voz do Brasil: A Adoção de Formatos Radiojornalísticos
Pelo Programa Oficial ao Longo de Seus 85 Anos
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Pelo Programa Oficial ao Longo de Seus 85 Anos
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Pelo Programa Oficial ao Longo de Seus 85 Anos
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Pelo Programa Oficial ao Longo de Seus 85 Anos
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Pelo Programa Oficial ao Longo de Seus 85 Anos
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A Voz do Brasil: A Adoção de Formatos Radiojornalísticos
Pelo Programa Oficial ao Longo de Seus 85 Anos
da capital do país, sede do governo, ficam ainda mais raras. Não mais
se apresenta a previsão do tempo. Já os créditos de produção e técnica
são uma novidade, juntamente com a repetição das principais notícias da
edição.
É interessante pensar que a menção da equipe técnica se dá justa-
mente na virada do século, quando os avanços tecnológicos que impul-
sionaram o acúmulo de funções técnicas pelos repórteres acarretaram no
enxugamento das equipes de técnicos de rádio (Zuculoto, 2012a). Para a
autora, nessa fase, o modo de produção, operando em computadores e
equipamentos digitais em detrimento de fitas e laudas, incentiva e facili-
ta a adoção de um modelo global de produção radiojornalística. O rádio
como um todo caminha em direção à segmentação e especialização. Para
Zuculoto (2012a), os anos 2000 comportaram todos os modelos que fize-
ram a história da radiofonia nacional. Quanto à radiodifusão pública, para
a autora, nos anos 2000 chegamos à sua quinta e última fase, marcada
pela busca por sistema público de rádio, inclusive com a criação da Em-
presa Brasil de Comunicação (EBC), responsável por gerir a radiodifusão
pública.
A criação da EBC é uma tentativa de consolidar a radiodifusão pú-
blica, em complementaridade com a estatal e a comercial, conforme pre-
vê o texto da Constituição de 1988. Sua credibilidade e isenção deveriam
estar asseguradas pela presença de um Conselho Curatorial e por finan-
ciamento autônomo mediante a realocação do Fundo de Fiscalização das
Telecomunicações, pago pelas empresas de telecomunicação. A partir de
sua criação, a contratação sistemática de profissionais via concurso públi-
co contribuiu significativamente para a profissionalização dos servidores
da área de comunicação, ainda que possamos afirmar que profissionais
com formação na área já atuavam no programa, seguramente, desde a
década de 80.
Em 2016, por exemplo, 95% dos funcionários da empresa eram
concursados. Mesmo a escolha dos gestores passou a se nortear por cri-
térios mais técnicos. Um dos presidentes da Radiobrás no governo Fer-
nando Henrique Cardoso, por exemplo, foi o ex-deputado Maurílio Fer-
reira Lima, empresário da radiodifusão, com longa carreira política e sem
formação na área. Entre os governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rou-
sseff, no entanto, ficaram a cargo da Radiobrás e da EBC jornalistas com
carreira consolidada em setores da mídia comercial, como: Eugênio Bucci,
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A Voz do Brasil: A Adoção de Formatos Radiojornalísticos
Pelo Programa Oficial ao Longo de Seus 85 Anos
Tereza Cruvinel, Nelson Breve, Ricardo Melo, ainda que Bucci tenha uma
relação mais próxima com o Partido dos Trabalhadores (PT), tendo assu-
mido a edição da revista Teoria & Debate (Buoro, 2010).
No governo Dilma Rousseff, entre 2010 e 2016, o programa man-
teve muitas das características já adotadas no governo Lula. Vinheta de
abertura, identificação dos locutores e a data e dia da semana da edição.
A Voz do Brasil, que no período estudado já foi apresentado dos estú-
dios da Rádio Nacional de Brasília, de 1985 a 2003, e da Rede Nacional
de Brasília, agora ganha um estúdio próprio. Os locutores anunciam na
abertura que o programa do poder Executivo pode ser assistido em ví-
deo ao vivo no site da EBC. As pautas ainda seguem como critério a rela-
ção com o governo. Nota-se fontes não oficiais relatando sua experiên-
cia com os programas sociais que estão em pauta nas reportagens. Um
marco importante para o entendimento dos pressupostos jornalísticos
da EBC nesse período foi a publicação do Manual de Jornalismo da EBC
(EBC, 2013).
Marcando o retorno do caráter autoritário da gestão da comunica-
ção não comercial no país, em 2016 o presidente Michel Temer interrom-
peu a gestão do então presidente da EBC, Ricardo Melo, iniciada em maio
daquele ano e que terminaria em 2020. Assim, foi nomeado para seu lu-
gar o jornalista Laerte Rimoli. Ainda que com formação na área, Rimoli
atuou como assessor político do candidato Aécio Neves, quando disputou
a Presidência pelo PSDB, em 2014. Cerca de 30 demissões e a extinção do
Conselho Curador da EBC, por decreto, são algumas marcas da gestão de
Rimoli e Temer.
Mais especificamente na Voz do Brasil percebe-se a troca dos locu-
tores e da sua vinheta, que usava uma versão remixada da ópera O Gua-
rani e atualmente adota a versão original de Carlos Gomes. Até o jargão
“19 Horas em Brasília”, que marcou a abertura de A Voz do Brasil por dé-
cadas, retornou. A apresentação é assumida por Gláucia Gomes e Aírton
Medeiros. Este último curiosamente já havia atuado no programa.4 As re-
portagens permanecem pautando-se pelo governo, como anuncia o novo
slogan do programa “A Voz do Brasil: As notícias do Governo Federal que
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A Voz do Brasil: A Adoção de Formatos Radiojornalísticos
Pelo Programa Oficial ao Longo de Seus 85 Anos
Considerações finais
Esta síntese sobre o radiojornalismo no programa A Voz do Bra-
sil leva-nos a concluir que durante seus 85 anos o programa refletiu as
principais características dos governos de turno. Desde a sua criação, em
1934, o A Voz veiculava fatos que poderíamos entender como jornalísti-
cos pela sua atualidade e relevância, mas em formatos oficialescos e pro-
tocolares. A busca por formatos radiojornalísticos, mais afinados com as
rádios comerciais, deu-se a partir da década de 60, com os militares, e foi
uma tentativa de conferir atratividade e credibilidade ao programa. As re-
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A Voz do Brasil: A Adoção de Formatos Radiojornalísticos
Pelo Programa Oficial ao Longo de Seus 85 Anos
Referências
BUORO, C. M. Eugênio Bucci: um pensador do jornalismo em defesa do direi-
to à Informação. Bibliocom, ano 2, n. 7, jan./ab. 2010. Disponível em: http://
www.intercom.org.br/bibliocom/sete/pdf/cibele- buoro.pdf.
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2018. 155 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Santa Catari-
na, Programa de Pós Graduação em Jornalismo, Centro de Comunicação e
Expressão, Florianópolis, 2018.
217
A Voz do Brasil: A Adoção de Formatos Radiojornalísticos
Pelo Programa Oficial ao Longo de Seus 85 Anos
218
A HISTÓRIA DAS RÁDIOS
COMUNITÁRIAS NO BRASIL.
PONTOS E CONTRAPONTOS
DE LUTAS HISTÓRICAS PELA
DEMOCRATIZAÇÃO
DA COMUNICAÇÃO
Orlando Maurício de Carvalho Berti1
P
olêmicas à parte, nenhum outro tipo de meio de comunicação no
Brasil está tão presente nas comunidades e localidades do nosso
território quando o assunto é falar do local para o local. As rádios
comunitárias têm esse poder maior de proximidade. Em tempos de tanta
atomização social e da exclusão do próximo, é um dos meios de comuni-
cação mais responsáveis pela interlocução e solidariedade do lugar, des-
tacando-se que esse lugar não precisa necessariamente ser territorial.
As rádios comunitárias são uma das categorias de meios de comu-
nicação social sonoros existentes no Brasil. Em nosso país nascem da ins-
piração de movimentos sociais e políticos latino-americanos que, desde
o meio da década de 50 do século 20, procuraram formas alternativas de
dar lugar de fala às suas demandas, revertendo o discurso hegemônico
dos meios de comunicação tradicionais, inclusive dos próprios meios so-
noros.
Parte-se de um ponto da não demonização dos meios de comu-
nicação tradicionais, mas sim da reflexão (e defesa) do discurso ecoado
pelas rádios comunitárias como vozes polissêmicas e diferenciais desse
discurso.
Pós-doutor em Comunicação, Região e Cidadania pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp). Doutor
1
em Comunicação Social pela Umesp, com estágio doutoral na Universidad de Málaga (Espanha). Mestre em
Comunicação Social pela Umesp. Professor, pesquisador, extensionista e diretor de Relações Internacionais da
Universidade Estadual do Piauí (Uespi). Líder do Grupo de Pesquisa em Comunicação Alternativa, Comunitária,
Popular e Tecnologias Sociais da Uespi. orlandoberti@yahoo.com.br ou berti@uespi.br
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A História das Rádios Comunitárias no Brasil. Pontos e Contrapontos
de Lutas Históricas pela Democratização da Comunicação
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A História das Rádios Comunitárias no Brasil. Pontos e Contrapontos
de Lutas Históricas pela Democratização da Comunicação
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A História das Rádios Comunitárias no Brasil. Pontos e Contrapontos
de Lutas Históricas pela Democratização da Comunicação
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A História das Rádios Comunitárias no Brasil. Pontos e Contrapontos
de Lutas Históricas pela Democratização da Comunicação
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A História das Rádios Comunitárias no Brasil. Pontos e Contrapontos
de Lutas Históricas pela Democratização da Comunicação
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A História das Rádios Comunitárias no Brasil. Pontos e Contrapontos
de Lutas Históricas pela Democratização da Comunicação
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A História das Rádios Comunitárias no Brasil. Pontos e Contrapontos
de Lutas Históricas pela Democratização da Comunicação
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A História das Rádios Comunitárias no Brasil. Pontos e Contrapontos
de Lutas Históricas pela Democratização da Comunicação
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A História das Rádios Comunitárias no Brasil. Pontos e Contrapontos
de Lutas Históricas pela Democratização da Comunicação
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de Lutas Históricas pela Democratização da Comunicação
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de Lutas Históricas pela Democratização da Comunicação
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A História das Rádios Comunitárias no Brasil. Pontos e Contrapontos
de Lutas Históricas pela Democratização da Comunicação
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A História das Rádios Comunitárias no Brasil. Pontos e Contrapontos
de Lutas Históricas pela Democratização da Comunicação
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A História das Rádios Comunitárias no Brasil. Pontos e Contrapontos
de Lutas Históricas pela Democratização da Comunicação
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A História das Rádios Comunitárias no Brasil. Pontos e Contrapontos
de Lutas Históricas pela Democratização da Comunicação
Referências
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MENEZES, José Eugênio de Oliveira. Rádio e cidade – vínculos sonoros. São
Paulo: Annablume, 2007.
235
A História das Rádios Comunitárias no Brasil. Pontos e Contrapontos
de Lutas Históricas pela Democratização da Comunicação
236
PARTE 4
PODCAST:
Modos Narrativos que Apontam
Tensões Entre a Liberdade de Criar,
de Escutar e de Monetizar
João Alves1
Nair Prata2
Sônia Caldas Pessoa3
A
história do rádio no Brasil contempla novos capítulos nos quais o
podcast abre possibilidades de produção de formatos narrativos
diferenciados em áudio. Esses formatos ainda são objeto pou-
co explorado de reflexão por parte de pesquisadores, tendo em vista a
sua inserção recente entre modos possíveis de abarcar narrativas perso-
nalizadas, produzidas sob medida para públicos segmentados. Uma das
primeiras menções ao termo podcast deu-se em 2004, quando o jornal
The Guardian (Hammersley, 2004) publicou uma reportagem que des-
tacava uma produção em áudio feita a baixo custo por pessoas comuns
ou amadoras. A expansão do podcast no Brasil tem lugar na última dé-
cada, com os últimos cinco anos sendo considerados por autores como
Kischinhevsky (2017) como a “segunda onda” do podcast pelas tentativas
de humanização do conteúdo. Esta suposta humanização pressupõe a li-
berdade dos produtores, profissionais ou pessoas comuns, que está em
permanente tensão com pelo menos dois fatores fundamentais para a
Mestrando pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), no Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PP-
1
GCOM). Graduado em Jornalismo com ênfase em Multimídia e em Publicidade e Propaganda pelo Centro Uni-
versitário UNA. Integra o Grupo de Pesquisa Convergência e Jornalismo (ConJor) e o Laboratório de Inovação em
Jornalismo (Labin) da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). joao.almeidaalves@gmail.com
Jornalista (UFMG). Doutora em Linguística Aplicada (UFMG), tendo realizado estágio de Pós-Doutoramento em Comuni-
2
UFMG), com estágio doutoral na Université Paris Est-Crèteil/Le Céditec (Centre d’étude des discours, images, tex-
tes, écrits, communication (Paris, França). Coordenadora do Afetos: Grupo de Pesquisa em Comunicação, Aces-
sibilidade e Vulnerabilidades (www.afetos.com). É idealizadora e coordenadora da Web Rádio Terceiro Andar.
soniacaldaspessoa@gmail.com
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Podcast: Modos Narrativos que Apontam Tensões Entre
a Liberdade de Criar, de Escutar e de Monetizar
Site oficial do Projeto Humanos. Disponível em: https://www.projetohumanos.com.br/. Acesso em: 27 maio 2019.
4
Site oficial do Anticast. Disponível em: http://anticast.com.br/. Acesso em: 27 maio 2019
5
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Podcast: Modos Narrativos que Apontam Tensões Entre
a Liberdade de Criar, de Escutar e de Monetizar
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Podcast: Modos Narrativos que Apontam Tensões Entre
a Liberdade de Criar, de Escutar e de Monetizar
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Podcast: Modos Narrativos que Apontam Tensões Entre
a Liberdade de Criar, de Escutar e de Monetizar
Site do podcast Serial. Disponível em: https://serialpodcast.org/ Acesso em: 27 maio 2018.
8
Site da APM Reports In the Dark com os episódios das temporadas. Disponível em: https://www.apmreports.org/
9
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Podcast: Modos Narrativos que Apontam Tensões Entre
a Liberdade de Criar, de Escutar e de Monetizar
Pesquisa sobre “Infinite Dial Study” da Edison Research e Triton Digital. Ao todo, foram entrevistados 1.500 pessoas
10
para explorar o uso de plataformas digitais e novas mídias pelos norte-americanos. A pesquisa foi realizada entre 3
janeiro e 4 de fevereiro em 2019, com oferta em espanhol e inglês. A Edison Research realiza pesquisas de opinião
e possui especialidade em mensurar mídias em todo o mundo. Disponível em: https://www.edisonresearch.com/
infinite-dial-2019/. Acesso em: 27 maio 2019.
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Podcast: Modos Narrativos que Apontam Tensões Entre
a Liberdade de Criar, de Escutar e de Monetizar
Edição da pesquisa realizada em 2018 pela Associação Brasileira de Podcasters. Disponível em: http://www.abpod.
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a Liberdade de Criar, de Escutar e de Monetizar
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Podcast: Modos Narrativos que Apontam Tensões Entre
a Liberdade de Criar, de Escutar e de Monetizar
Site oficial do podcast Mamilos. Disponível em: https://www.b9.com.br/podcasts/mamilos/. Acesso em: 27 maio
16
2019.
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Podcast: Modos Narrativos que Apontam Tensões Entre
a Liberdade de Criar, de Escutar e de Monetizar
Site de financiamento coletivo do projeto humanos em moeda brasileira. Disponível em: www.catarse.me/anticast.
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a Liberdade de Criar, de Escutar e de Monetizar
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Podcast: Modos Narrativos que Apontam Tensões Entre
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Podcast: Modos Narrativos que Apontam Tensões Entre
a Liberdade de Criar, de Escutar e de Monetizar
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Podcast: Modos Narrativos que Apontam Tensões Entre
a Liberdade de Criar, de Escutar e de Monetizar
Reflexões em construção
As mudanças tecnológicas reconfiguraram comportamentos, for-
mas de consumo e modelos de negócios, potencializando o consumo
em mobilidade e a exploração por novos formatos de produtos sonoros.
O podcast tem se consolidado como um formato potente conforme foi
apresentado pelas pesquisas citadas, e mais especificamente, o storyte-
lling tem ganhado espaço em diversos países e também no Brasil.
A análise realizada do Projeto Humanos leva-nos a entender que o
programa possui uma forma muito peculiar de monetização, distancian-
do-se dos modos mais populares de financiamento, o da doação-recom-
pensa. O projeto não oferece recompensas, tais como brindes, acessórios,
bolsas, entre outros produtos, algo comum em projetos desta natureza.
Comparativamente com modelos de negócios ainda em vigor em emisso-
ras de rádio comerciais, nos quais a publicidade ainda é o sustentáculo fi-
nanceiro, aqui as pessoas comuns suportam a manutenção de produções
independentes. O sistema de recompensas está voltado para o conteúdo,
e exclusivamente a ele. Dessa forma, o dinheiro recebido é investido para
que aqueles ouvintes tenham uma experiência rica em conteúdo e que
dialoguem com o padrão de qualidade apresentado ao longo de todos os
episódios. Parece-nos que o Humanos apresenta como meta de moneti-
zação a produção de conteúdo diferenciado sem, necessariamente, pelo
menos neste momento, como nos mostra a divulgação da captação de
doações, focar em lucros para os seus participantes.
Nossa observação e análise do Projeto Humanos nos indicam que
alguns fatores são importantes para os usuários apoiarem o modelo de
negócios escolhido pelo podcast. Um conjunto de fatores que envolvem
252
Podcast: Modos Narrativos que Apontam Tensões Entre
a Liberdade de Criar, de Escutar e de Monetizar
Referências
AVELAR, Kamilla; PRATA, Nair; MARTINS, Henrique Cordeiro. Podcast: trajetó-
ria, temas emergentes e agenda. Trabalho apresentado Associação Nacional
dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação. ENCONTRO ANUAL DA
COMPÔS, 27., 2018. Belo Horizonte, MG: Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais, 5 a 8 de junho de 2018.
CUNHA, Magda. O Rádio na nova tecnologia de mídia. In: ZUCULOTO, Valci;
LOPES, Debora; KISCHINHEVSKY, Marcelo (org.). Estudos radiofônicos no Bra-
sil: 25 anos do Grupo de Pesquisa de Rádio e Mídia Sonora da Intercom. São
Paulo: Intercom, 2016.
GALLEGO PÉREZ, J. I. Podcasting: distribución de contenidos sonoros y nuevas
formas de negocio en la empresa radiofónica española. 2010. Tese (Doctora-
do en Periodismo) – Madrid: Universidad Complutense de Madrid, 2010.
HAMMERSLEY, Ben. Audible revolution. The Guardian, 2004. Disponível em:
http://www.theguardian.com/media/2004/feb/12/broadcasting.digitalme-
dia. Acesso em: 6 maio 2017.
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Podcast: Modos Narrativos que Apontam Tensões Entre
a Liberdade de Criar, de Escutar e de Monetizar
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Podcast: Modos Narrativos que Apontam Tensões Entre
a Liberdade de Criar, de Escutar e de Monetizar
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Rádio e Podcast Jornalísticos Brasileiros: Aproximações e Afastamentos Entre
a Mídia Tradicional e o Novo Formato de Produção e Consumo de Áudio
RÁDIO E PODCAST
JORNALÍSTICOS BRASILEIROS:
Aproximações e Afastamentos Entre
a Mídia Tradicional e o Novo Formato
de Produção e Consumo de Áudio1
Nivaldo Ferraz2
Daniel Gambaro3
O
desenvolvimento dos podcasts jornalísticos, nesta segunda déca-
da do século 21 guarda uma relação histórica com os formatos e
estratégias do radiojornalismo. Neste momento, em que o rádio
está completando 100 anos de sua existência como meio de comunicação
massivo, formas mais recentes de consumo de conteúdo sonoro bebem
da mesma fonte de linguagem e de produção. Por outro lado, os podcas-
ts, por constituírem um modelo assíncrono de distribuição de conteúdo,
proporcionam experiências renovadas de escuta que, por sua vez, permi-
tem o uso mais intensivo de uma miríade de recursos de linguagem. Tal
possibilidade, entretanto, nem sempre se concretiza no grosso da produ-
ção disponibilizada no Brasil, em especial aquela derivada de canais tradi-
cionais de jornalismo, como estações de rádio.
O que se nota como estratégia inicial para produção da maior par-
te das emissoras jornalísticas é o reaproveitamento de um formato lança-
do ao ar. A produção dos meios cujo sistema é o de broadcasting faz um
Agradecimentos: Pesquisa realizada com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
1
(Fapesp), modalidades bolsa de Doutorado e bolsa de estágio em pesquisa no exterior, processos 2015/20430-5 e
2016/17884-7.
Jornalista pela Universidade Metodista, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos
2
Audiovisuais da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Professor do curso de Jornalismo
da Universidade Cruzeiro do Sul. Ex-professor e ex-coordenador do curso de Jornalismo da Universidade Anhembi
Morumbi. Ex-repórter, redator, diretor de programas das Rádios Cultura de São Paulo e Gazeta de São Paulo. Ex-
produtor independente da Rádio USP de São Paulo. ferraznivaldo@gmail.com
Radialista, formado em Comunicação Social pela Universidade Anhembi Morumbi. Mestre e Doutor pelo Programa
3
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Rádio e Podcast Jornalísticos Brasileiros: Aproximações e Afastamentos Entre
a Mídia Tradicional e o Novo Formato de Produção e Consumo de Áudio
Em 2017, último ano disponível nas publicações do Grupo de Mídia SP, o rádio bateu recorde negativo de
4
penetração no “duplo período” (o entrevistado ouviu rádio nos últimos sete dias): 56% da população acima dos 10
anos de idade, nos 9 principais mercados. Em 2004, esse número era 90% (Grupo de Mídia SP, 2018; 2005).
Pesquisa do Kantar Ibope, realizada em janeiro de 2019, mostra que 40% dos internautas brasileiros ouviram
5
podcast alguma vez na vida, e 19% se mostrou ouvinte regular (Quatro…, 2019). Esse número, entretanto, deve
ser relativizado, primeiro por considerar apenas internautas, e não a população economicamente ativa em sua
totalidade, e segundo por incluir como “podcast” serviços de áudio on-line, como SoundCloud e YouTube.
A pesquisa Infinity Dial 2019 mostra crescimento constante do podcast, com 51% da população estadunidense
6
acima de 12 anos consumindo podcast, observando-se que 22% o fazem em uma base semanal (Edson Research;
Triton Digital, 2019). No Reino Unido, 14% da população acima de 15 anos houve podcasts em uma frequência
semanal (Rajar, 2019).
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Rádio e Podcast Jornalísticos Brasileiros: Aproximações e Afastamentos Entre
a Mídia Tradicional e o Novo Formato de Produção e Consumo de Áudio
A informação no rádio
O desenvolvimento do radiojornalismo no Brasil privilegiou, nos
seus anos iniciais, a síntese noticiosa e, posteriormente, o factual e a
prestação de serviços. É marco nesse processo o Repórter Esso, na Rá-
dio Nacional, criado para transmitir notícias internacionais em função da
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Rádio e Podcast Jornalísticos Brasileiros: Aproximações e Afastamentos Entre
a Mídia Tradicional e o Novo Formato de Produção e Consumo de Áudio
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Rádio e Podcast Jornalísticos Brasileiros: Aproximações e Afastamentos Entre
a Mídia Tradicional e o Novo Formato de Produção e Consumo de Áudio
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Rádio e Podcast Jornalísticos Brasileiros: Aproximações e Afastamentos Entre
a Mídia Tradicional e o Novo Formato de Produção e Consumo de Áudio
A expressão gênero sociodiscursivo é apontada por Sodré como pertencente à obra de Abril, G. Teoría general de la
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Rádio e Podcast Jornalísticos Brasileiros: Aproximações e Afastamentos Entre
a Mídia Tradicional e o Novo Formato de Produção e Consumo de Áudio
Vinte e três anos depois, Moniz Sodré volta a essa discussão origi-
nal entre jornalismo e literatura, desta vez falando sobre a narrativa, para
nós aplicável à reportagem, pois:
Trata-se agora de afirmar a especificidade do discurso informativo,
distinguindo-o da ficção literária, mas sem deixar de evidenciar o
seu relacionamento tenso com a literatura. O discurso como prá-
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Rádio e Podcast Jornalísticos Brasileiros: Aproximações e Afastamentos Entre
a Mídia Tradicional e o Novo Formato de Produção e Consumo de Áudio
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Rádio e Podcast Jornalísticos Brasileiros: Aproximações e Afastamentos Entre
a Mídia Tradicional e o Novo Formato de Produção e Consumo de Áudio
formas básicas de edição sonora, mas por outro lado não são cumpridos
na totalidade os preceitos do jornalismo objetivo. Encontramos algumas
rupturas em estruturas narrativas tradicionais do jornalismo de rádio, em
demonstração de produto feito com narrativa própria para os Sites de Re-
des Sociais (SRS) e repositórios de podcasts.
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Rádio e Podcast Jornalísticos Brasileiros: Aproximações e Afastamentos Entre
a Mídia Tradicional e o Novo Formato de Produção e Consumo de Áudio
Serial é uma série de podcasts estadunidense, realizada pelos criadores do programa This American Life e apresen-
8
tada pela jornalista Sarah Koenig (https://serialpodcast.org/). TAL é uma atração de bastante sucesso da estação
WBEZ Chicago, filiada da National Public Radio (NPR). O programa ganhou diversos prêmios pelo mundo, e é cele-
brado por estudiosos e produtores como um marco da segunda fase do podcast como indústria.
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Rádio e Podcast Jornalísticos Brasileiros: Aproximações e Afastamentos Entre
a Mídia Tradicional e o Novo Formato de Produção e Consumo de Áudio
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Rádio e Podcast Jornalísticos Brasileiros: Aproximações e Afastamentos Entre
a Mídia Tradicional e o Novo Formato de Produção e Consumo de Áudio
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Rádi