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Poder Judiciário da União Fls.

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

Órgão : 6ª TURMA CÍVEL


Classe : APELAÇÃO
N. Processo : 20150111308582APC
(0038275-24.2015.8.07.0001)
Apelante(s) : JOANA D'ARC BATISTA DE CARVALHO
Apelado(s) : HOSPITAL LAGO SUL S/A
Relator : Desembargador ESDRAS NEVES
Acórdão N. : 1031361

EMENTA

APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO. DANOS MATERIAIS E


MORAIS. SERVIÇOS MÉDICO-HOSPITALARES. DOR
ABDOMINAL. INTERNAÇÃO POR TREZE DIAS.
INVESTIGAÇÃO DE OUTROS MALES
CONCOMITANTEMENTE. CIRURGIA. RETIRADA DE
CÁLCULO. NÃO EXTRAÇÃO DA VESÍCULA. ERROS
APONTADOS NA PROVA PERICIAL. ALTA MÉDICA SEM
ORIENTAÇÃO E ESCLARECIMENTOS. RECIDIVA. DOR
ABDOMINAL. ATENDIMENTO EM OUTRO HOSPITAL.
RETIRADA DA VESÍCULA. DESAPARECIMENTO DO
DESCONFORTO NO ABDÔMEN. DESPESA ASSUMIDA
DEVIDO À FALHA ANTERIOR. EXAMES DESNECESSÁRIOS.
INDENIZAÇÃO. DANOS MATERIAIS. VIOLAÇÃO À
INTEGRIDADE FÍSICA. OFENSA A DIREITO DA
PERSONALIDADE. REPARAÇÃO. DANO MORAL.
REFORMA. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. Verificada a
falha na prestação dos serviços médico-hospitalares,
consistente na realização de cirurgia para retirada de cálculo do
canal da vesícula, mas sem extração desse órgão, segundo
concluiu a perícia ao apontar o erro no procedimento cirúrgico,
e na manutenção da internação para investigação de dores na
coluna lombar e membros inferiores, quando o
acompanhamento médico poderia ser feito em ambulatório,
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com escolha do profissional e dos laboratórios e clínicas pela


consumidora, segundo suas possibilidades econômicas, devem
ser indenizadas todas as despesas cobradas, à exceção do
valor de uma consulta médico-ortopédica e dos exames feitos
para identificação da causa das dores na coluna lombar e
membros inferiores. A ofensa física e psicológica com
causação de angústia e sofrimento, somatizada pela
consumidora com sensação de dores e mal-estar, má-
alimentação e repouso precários, sujeição a exames
desnecessários pela falta de nexo com o diagnóstico inicial,
configura o dano moral e o dever de indenizá-lo. Induvidosa é a
ofensa à integridade física e psíquica e o enorme abalo
emocional, como resultado de ofensa ao direito da
personalidade, cuja sanção é a obrigação de reparar o dano
moral produzido.

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ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores da 6ª TURMA CÍVEL do


Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, ESDRAS NEVES - Relator,
ALFEU MACHADO - 1º Vogal, JOSÉ DIVINO - 2º Vogal, sob a presidência do
Senhor Desembargador ESDRAS NEVES, em proferir a seguinte decisão:
CONHECIDO. PARCIALMENTE PROVIDO. UNÂNIME., de acordo com a ata do
julgamento e notas taquigráficas.
Brasilia(DF), 12 de Julho de 2017.

Documento Assinado Eletronicamente


ESDRAS NEVES
Relator

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RELATÓRIO

Trata-se de Apelação Cível interposta por JOANA DARC BATISTA


DE CARVALHO contra a sentença da Décima Vara Cível de Brasília que, nos autos
da ação de indenização por danos materiais e morais que move em face do
Hospital Lago Sul S.A., julgou improcedentes os pedidos e a condenou ao
pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios arbitrados em
R$1.500,00, com a exigibilidade suspensa devido à gratuidade de justiça (fls.
870/878 e verso).
Nas razões (fls. 881/885), a autora/apelante JOANA DARC
BATISTA DE CARVALHO sustenta que foi recebida na internação no dia 6.6.2015 e
encaminhada para a ala de cirurgia com informação de dores abdominais e nos
membros inferiores. Salienta que permaneceu internada até a alta médica em
19.6.2015 com diagnóstico de gastrite e duodenite. Frisa que, durante a internação,
passou por exames e atendimentos médicos desnecessários e foram prescritos e
consumidos sem utilidade alguma diversos materiais e medicamentos. Entende que
o foco do atendimento deveria ter sido direcionado para a investigação das dores
abdominais, diante da suspeita de coledocolitíase e de vesícula hidrópica, com a
realização da cirurgia necessária, a qual acabou sendo posteriormente realizada em
26.6.2015 no Hospital São Francisco, onde buscou atendimento médico após voltar
a sentir desconforto abdominal.
A autora/apelante diz que era dispensável sua internação por treze
dias e que esta conduta abusiva do Hospital apelado gerou não apenas gastos
vultosos, mas ofensa a sua dignidade como pessoa e paciente, que não recebeu o
atendimento adequado, notadamente com a alta sem resolver os desconfortos no
abdômen. Impugna as conclusões da prova pericial, principalmente acerca da
considerada oportunidade da investigação das dores relatadas nos membros
inferiores, quando estava definido o diagnóstico de coledocolitíase. Salienta a
responsabilidade civil objetiva do Hospital pela conduta de seus prepostos, aponta a
aplicação do Código de Defesa do Consumidor e considera estar presente o dever
de indenizar os danos materiais (R$ 49.763,84 pagos ao requerido/apelado pelo
serviço falho mais R$ 12.175,00 pagos ao Hospital São Francisco pelo serviço
efetivamente prestado) e morais de R$ 619.388,40. Pede o provimento do recurso.
Nas contrarrazões (fls. 889/898), o Hospital Lago Sul S.A. assevera
que a internação da autora/apelante ocorreu devido às reclamações de dores no
abdômen e no dorso, com irradiação para as pernas. Salienta que foram realizados

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os exames, com o consentimento dela, para investigação clínica, mediante a


aplicação da melhor técnica pelos médicos e demais profissionais envolvidos, com
conhecimentos específicos para conferir atendimento de qualidade. Acentua que os
diversos exames tiveram de ser realizados para identificar a causa das dores
lombares e nos membros inferiores, porque o sintoma não mantém relação com o
desconforto abdominal compatível como colédoco encontrado, mas sem indicação
cirúrgica. Afirma não ter ocorrido erro médico e considera não ser cabível o
reconhecimento da responsabilidade objetiva na demanda indenizatória. Ressalta
não haver culpa, tampouco dano e nexo causal. Destaca não terem sido
comprovados os danos materiais e morais. Pede que o recurso seja desprovido.
O preparo recursal foi recolhido pela autora/apelante, em
atendimento ao despacho de fl. 904 (fls. 906/907).
É o relatório.

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VOTOS

O Senhor Desembargador ESDRAS NEVES - Relator


Conheço da Apelação, porquanto os requisitos de admissibilidade
estão atendidos. O preparo recursal foi comprovado (fls. 906/907).
Trata-se, na origem, de ação de indenização por danos materiais e
morais movida pela autora/apelante JOANA DARC BATISTA DE CARVALHO em
face do requerido/apelado Hospital Lago Sul S.A. Afirma que foi recebida na
internação no dia 6.6.2015 e encaminhada para a ala de cirurgia com informação de
dores abdominais e nos membros inferiores. Salienta que permaneceu internada até
a alta médica em 19.6.2015 com diagnóstico de gastrite e duodenite. Frisa que
durante a internação, passou por exames e atendimentos médicos desnecessários e
foram prescritos e consumidos sem utilidade alguma diversos materiais e
medicamentos. Entende que o foco do atendimento deveria ter sido direcionado para
a investigação das dores abdominais, diante da suspeita de coledocolitíase e de
vesícula hidrópica, com a realização da cirurgia necessária, a qual acabou sendo
posteriormente realizada em 26.6.2015 no Hospital São Francisco, onde buscou
atendimento médico após voltar a sentir desconforto abdominal.
A autora/apelante diz que era dispensável sua internação por treze
dias e que esta conduta abusiva do Hospital apelado gerou não apenas gastos
vultosos, mas ofensa a sua dignidade como pessoa e paciente, que não recebeu o
atendimento adequado, notadamente com a alta sem resolver os desconfortos no
abdômen. Impugna as conclusões da prova pericial, principalmente acerca da
considerada oportunidade da investigação das dores relatadas nos membros
inferiores, quando estava definido o diagnóstico de coledocolitíase. Salienta a
responsabilidade civil objetiva do Hospital pela conduta de seus prepostos, aponta a
aplicação do Código de Defesa do Consumidor e considera estar presente o dever
de indenizar os danos materiais (R$ 49.763,84 pagos ao requerido/apelado pelo
serviço falho mais R$ 12.175,00 pagos ao Hospital São Francisco pelo serviço
efetivamente prestado) e morais de R$ 619.388,40 (fls. 2/10).
A sentença julgou improcedentes os pedidos de indenização dos
danos material e moral e condenou a autora/apelante ao pagamento das custas
processuais e dos honorários advocatícios arbitrados em R$ 1.500,00, mas
suspendeu a exigibilidade (fls. 870/878v).
Nas razões da apelação, a autora/apelante repisa as alegações
deduzidas na petição inicial e fragiliza as conclusões da perícia no tocante ao

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esmaecimento de sua pretensão (fls. 881/885).


Nas contrarrazões, o requerido/apelado sustenta o acerto da perícia
e da sentença de improcedência dos pedidos de indenização (fls. 889/898).

DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR


A autora/apelante buscou atendimento médico particular no Hospital
requerido, com queixa de dores abdominais. Era a destinatária final dos serviços
contratados. Enquadra-se na concepção de consumidor prevista no artigo 2º, caput,
do Código de Defesa do Consumidor. O Hospital requerido se ajusta ao perfil de
fornecedor, nos termos do artigo 3º, caput, do mesmo Código. A relação contratual,
portanto, é regida pelas disposições do Código de Defesa do Consumidor. Neste
sentido:

CIVIL. CONSUMIDOR. PROCESSO CIVIL. NEGLIGÊNCIA


MÉDICA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO HOSPITAL.
DANOS MORAIS. CONFIGURADOS. SENTENÇA
REFORMADA. 1. A relação entre paciente e hospital é de
consumo, sendo o tratamento considerado como prestação de
serviço. 2. É aplicável a teoria do risco do negócio, prevista no
artigo 14, do CDC, aos caos de erro médico, tratando-se de
responsabilidade objetiva do hospital. 3. Comprovada a
negligência médica, cabe ao Hospital indenizar o paciente nos
danos morais sofridos. 4. Apelação cível conhecida e provida.
(Acórdão n.963007, 20130110544145APC, Relator:
SEBASTIÃO COELHO 5ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento:
24/08/2016, Publicado no DJE: 02/09/2016. Pág.: 487/489)

A consequência do reconhecimento da relação de consumo no caso


em tela é que as disposições contratuais e os fatos serão considerados com base na
vulnerabilidade e na hipossuficiência da autora/apelante como consumidora, para
que se mantenha o equilíbrio entre as partes. Além disso, a responsabilidade será
apurada objetivamente.
Não se diga que se trata de responsabilidade subjetiva, por se referir
ao serviço do médico, como profissional liberal e por não se tratar de obrigação de

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resultado, mas de meio, no sentido de se envidarem esforços para o alcance do


proveito almejado. O requerido/apelado é pessoa jurídica. Não se trata de pessoa
natural exercente de profissão liberal, como a Medicina. A autora/apelante foi
atendida por médicos e enfermeiros em nome do nosocômio em suas dependências.
Ela não veio encaminhada para o hospital do consultório de algum dos médicos que
lá a acompanhou, apenas para que fosse realizado exame ou procedimento. Ela
realizou exame no dia anterior ao da internação, o qual foi realizado nas
dependências do próprio hospital, e compareceu no dia seguinte (6.6.2015) para se
submeter a procedimento cirúrgico relacionado com a vesícula por indicação médica.
Todos os serviços prestados e materiais empregados, inclusive por terceiros fora
das dependências do requerido/apelado, foram em consequência da relação
contratual mantida com o requerido/apelado.
Não é o caso de dissociação da responsabilidade do médico, que
responde subjetivamente por seus atos, da atribuída ao hospital que mantém em
suas dependências o profissional para a prestação dos serviços em seu nome.
Cabe-lhe a atribuição de responsabilidade civil, inclusive pelos atos de seus agentes,
apenas com a particularidade de que será necessário demonstrar a culpa do médico
consubstanciada na falha do serviço prestado. Convém destacar que os médicos
que atenderam a apelante/autora foram disponibilizados pelo próprio Hospital e não
por escolha desta.
Comprovada a atuação falha no diagnóstico médico e no tratamento
da enfermidade sofrida pela autora/apelante, o requerido/apelado responderá
objetivamente pelos danos resultantes, na forma do artigo 14, do Código de Defesa
do Consumidor, a exemplo da realização de exames e do tempo de internação
alegadamente desnecessários. Nesse contexto, o entendimento em tela está afinado
com o julgado do Superior Tribunal de Justiça referido na sentença impugnada
(REsp 908.359, Rel. Min. Nancy Andrighi). A propósito, confira-se o seguinte
precedente deste Tribunal de Justiça sobre caso análogo ao presente:

APELAÇÃO CÍVEL. CIVIL, PROCESSUAL CIVIL E


CONSUMIDOR. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. PRELIMINAR.
CERCEAMENTO DE DEFESA. OITIVA DE TESTEMUNHAS.
REJEIÇÃO. HOSPITAL E MÉDICO. RELAÇÃO DE
CONSUMO. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. FALHA EXISTENTE. ERRO

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DE DIAGNÓSTICO. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA.


DEMONSTRAÇÃO DA CULPA. DEVER DE INDENIZAR.
CABIMENTO. DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO. FIXAÇÃO
DO QUANTUM. RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE.
DANO MATERIAL. NÃO COMPROVAÇÃO. 1. Se as provas
juntadas aos autos são suficientes para firmar a convicção do
magistrado acerca da matéria posta em juízo, não há que se
falar em cerceamento de defesa, em face da não realização da
prova oral, com a oitiva de testemunhas. Preliminar rejeitada. 2.
Na condição de fornecedores de serviços, a responsabilidade
civil dos hospitais e clínicas médicas é objetiva quando se
circunscreve às hipóteses de serviços relacionados ao
estabelecimento propriamente dito, a teor do art. 14, caput, do
CDC. Ao contrário, a responsabilidade do próprio médico, como
profissional liberal, é de natureza subjetiva (art. 14, § 4º, do
CDC), cumprindo, pois, averiguar se houve o ato culposo do
profissional. 3. Demonstrado que houve falha na prestação do
serviço da clínica, erro no diagnóstico médico, que agiu com
negligência, bem como o nexo de causalidade entre os
serviços oferecidos pelos apelados e o dano sofrido pelo autor,
impõe-se a procedência do pedido indenizatório. (...) 7. Apelo
parcialmente provido. (Acórdão n.1013340,
20130210021133APC, Relator: ARNOLDO CAMANHO,
Revisor: SÉRGIO ROCHA, 4ª TURMA CÍVEL, Data de
Julgamento: 26/04/2017, Publicado no DJE: 11/05/2017. Pág.:
271/286)

Equivocou-se a sentença, ao afirmar que o Código de Defesa do


Consumidor não contempla a pretensão da autora/apelante. Esta almeja indenização
por danos materiais e morais que sustenta ter suportado na relação de consumo
deduzida. O artigo 6º, caput e inciso VI, do referido Código, dá fundamento ao seu
pleito. Desse modo, inegável se mostra a subsunção do caso às disposições
especiais da legislação consumerista.

DO DANO MATERIAL

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A autora/apelante alega falha na prestação dos serviços médico-


hospitalares pelo requerido/apelado Hospital Lago Sul S.A., porque foi internada e
encaminhada para a ala cirúrgica com queixa de dor abdominal no dia 6.6.2015 e lá
permaneceu até 19.6.2015, quando recebeu alta, sem que seu problema de saúde
tivesse sido solucionado. Isso porque obteve o diagnóstico de coledocolitíase e
vesícula hidrópica; todavia, não sofreu intervenção cirúrgica de modo adequado à
correção do problema constatado. Pelo contrário, afirma que houve uma sucessão
de equívocos, desde a manutenção, sem prescindibilidade, de sua internação por
treze dias, passando pela insistência na administração de medicamento para o qual
houve reação alérgica no primeiro consumo, até exames laboratoriais e de imagens
desnecessários, na perscrutação equivocada de moléstia inexistente em sua coluna
vertebral e que não era a causa da queixa inicial que a levou a procurar o
atendimento hospitalar.
Diz que após a alta voltou a sentir desconforto abdominal em poucos
dias e que, em atendimento em outro nosocômio em 26.6.2015 - Hospital São
Francisco -, sofreu intervenção cirúrgica para extração de cálculo e da própria
vesícula, com a resolução definitiva do problema relacionado com a dor abdominal,
porquanto depois da aludida intervenção cirúrgica não voltou a sentir o desconforto
no abdômen.
O requerido/apelado afirma que a autora/apelante foi atendida e
encaminhada para a internação, com base em sua queixa inicial de dor na coluna e
nos membros inferiores. Somente depois de internada, ela teria noticiado o
desconforto abdominal. Destaca que o tempo de hospitalização, os materiais e
medicamentos consumidos, os exames laboratoriais e de imagem realizados e o
acompanhamento por médicos de variadas especialidades foi necessário para a
investigação dos problemas de saúde relatados pela autora/apelante.
A complexidade dos fatos e a controvérsia estabelecida no confronto
das alegações das partes foram suficientemente elucidadas pela perita do Juízo, que
realizou profundo estudo técnico do caso e proferiu seu laudo (fls. 803/817),
complementado em atendimento ao pedido de esclarecimentos formulado pelo
requerido/apelado (fls.842/845).
Importante destacar que a perita verificou que, durante o
atendimento da autora/apelante no Hospital requerido, alguns exames solicitados
eram completamente desnecessários, como a endoscopia digestiva alta e a
colonoscopia, e o tempo de internação para sua realização, porquanto, nenhum
deles seria indispensável para o diagnóstico dos sintomas que ela descreveu aos
médicos (dores abdominais e lombares, com reflexo nos membros inferiores). Frisa

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que apenas por ocasião da alta médica houve indicação diagnóstica de gastrite e
duodenite, as quais não recomendavam internação e poderiam ser tratadas
ambulatorialmente segundo a conveniência e possibilidade da autora/apelante. Esta
percepção da expert foi ignorada na sentença, que concluiu pelo atendimento
satisfatório da autora/apelante pelo Hospital requerido, sem ao menos enfrentar as
questões debatidas pela perita do Juízo.
Outra constatação relevante da perita foi acerca da manutenção da
vesícula após a remoção do cálculo de 0,8mm do colédoco, porquanto esta conduta
mostrou-se estranha à prática médica usual nesse tipo de procedimento, a qual
consiste na remoção da vesícula para evitar recidiva ou complicação ulterior,
comumente observada nos casos. Confiram-se, respectivamente (fls. 816/817 e
843/46):

V - CONCLUSÃO
Após revisão do prontuário médico da requerente no Hospital
requerido e também do prontuário médico do Hospital São
Francisco, além de entrevista pessoal feita com a requerente,
concluo que:
A requerente procurou atendimento de emergência no Hospital
requerido apresentando queixa de cor abdominal e dor lombar,
com irradiação para membros inferiores. Ao primeiro
atendimento foram aventadas hipóteses diagnósticas
condizentes com a literatura médica e, a partir daí, iniciou-se
investigação com exames complementares pertinentes. O
único diagnóstico de certeza evidenciado foi o de doença das
vias biliares, com coledocolitíase e vesícula hidrópica. Esse
diagnóstico explicaria a dor abdominal, porém não é habitual
que essas patologias levem a dor em membros inferiores.
Devido a constante e importante queixa da paciente
relacionada a dor em membros, parestesias (dormências), com
dificuldade inclusive de deambulação, essa queixa pareceu
induzir a equipe médica a uma extensa investigação com
exames de imagem e avaliação de médicos especialistas. Não
foi encontrado, após essa investigação, causas plausíveis para

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a queixa importante de dor em membros da paciente, sendo


então encaminhada para completar investigação ambulatorial
com Reumatologista ou Neurologista.
O quadro abdominal foi amplamente investigado, porém
também apresentou, aos exames de imagem, resultados não
habituais, pois a colangiorressonância realizada (padrão-ouro
para detecção de coledocolitíase) não confirmou a hipótese
inicial, sendo então solicitados outros exames para afastar um
possível diagnóstico de câncer. Nessa investigação abdominal
foram feitos exames desnecessários, naquele momento, como
a endoscopia digestiva alta e colonoscopia que poderiam ser
realizados a nível ambulatorial, conforme está escrito à fl. 508.
Ainda em relação ao quadro abdominal, a coledocolitíase foi
adequadamente tratada pelo procedimento CPRE, totalmente
respaldado pela literatura médica, porém a vesícula biliar que é
a origem do quadro de litíase e apresentava-se hidrópica em
todos os exames de imagem realizados, não foi retirada no
Hospital Requerido. Não há nada no prontuário, nem nas
orientações de alta, referente a alguma orientação para realizar
tal procedimento posteriormente. Segundo relata a requerida,
ela procurou outro hospital onde foi realizado o procedimento
em caráter de urgência devido ao quadro de dor da paciente e
também por solicitação da mesma. Em nenhum documento
apresentado, e nem pelo evidenciado em conversa com a
requerida há indícios de que ela tenha apresentado um quadro
de abdome agudo por colecistite aguda. O quadro apresentado
era de uma vesícula biliar hidrópica (conformado pela descrição
cirúrgica do Hospital São Francisco), que causa dor abdominal,
porém não é indicativo de operação de urgência.
Ao que parece o quadro atípico e queixas importantes e
reiteradas da paciente levaram a uma investigação exagerada
dos sintomas referidos, com internação prolongada e onerosa.
Após a realização de CPRE no dia no dia 13.06.2015 a
requerente permaneceu mais 6 dias internada aguardando
avaliação da Neurocirurgia, que solicitou mais exames além
dos já realizados anteriormente. Como não houve diagnóstico a
paciente recebeu alta.

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Segundo a paciente, após a realização do procedimento


cirúrgico todos os sintomas melhoraram, inclusive o de dor em
membros inferiores e região lombar, levando a pensar que,
realmente esses sintomas estavam relacionados ao problema
da vesícula biliar, apesar de, ressalto, não ser o quadro
habitual encontrado nem na literatura médica nem na prática
médica. (fls. 816/817)

Em esclarecimento aos questionamentos feitos pelo assistente


técnico do hospital:
Número 21 - Esclareça a perita a afirmação de que a paciente
não apresentava, de acordo com o prontuário médico,
indicação para realização de colonoscopia.
Resp: De acordo com o prontuário médico, no dia 06/06 a
paciente foi admitida com relato de evacuação presente (fls 442
e 443). Nesse mesmo dia a evolução médica feita pelo Dr.
Geraldo Camilo Neto (fls 440) relata somente desconforto em
abdome SUPERIOR e náusea, "não sendo esta, porém, a
principal queixa da paciente". Nesse mesmo dia a paciente
realizou um ultrassom abdominal que mostrou a vesícula
sobredistendida e acentuada dilatação das vias biliares, o que
já justificava os sintomas referidos. Nos dias seguintes a
paciente realizou vários exames onde são necessários jejum,
sendo assim a mesma quase não se alimentou até o dia 09/06.
Nas evoluções médicas dos dias 07, 08 e 09/06 são negadas
quaisquer queixas abdominais, exceto constipação, que é
esperada em uma paciente acamada e que não está se
alimentando adequadamente. A colonoscopia foi realizada no
dia 09/06. Reitero, pelos dados do prontuário, que não havia
nenhuma indicação de colonoscopia na requerente, pois a
mesma não apresentava queixas abdominais baixas.
Número 22 - Esclareça a sra. perita se de acordo com os
sintomas apresentados pela paciente, leucocitose (indicativo de
processo infeccioso), história de vômito, náuseas e alteração
do trânsito intestinal, é previsto na literatura médica a
solicitação de colonoscopia para a realização de novas
investigações diagnósticas?

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Resp: O único sintoma acima citado que justificaria a


solicitação de colonoscopia seria a alteração de trânsito
intestinal, o que, pela resposta dada ao questionamento 21, a
paciente não apresentava. Os outros sintomas, leucocitose,
náuseas, e vômitos são todos sintomas chamados "altos" e
totalmente justificados pelo quadro de doença das vias biliares
apresentado pela paciente, e de maneira alguma justificariam a
realização de colonoscopia.
Número 23 - Esclareça a sra. perita se é prudente que um
médico, em plena epidemia de dengue, descarte a realização
do exame?
Resp: Como respondido anteriormente, a paciente não
apresentava sinais e sintomas típicos de dengue, porém em
vigência de epidemia e, devido ao exame ser de fácil
realização, não seria totalmente errado sua solicitação.
Número 24. Deve ser esclarecido pela i. perita, de forma
técnica porque a paciente não necessitava de endoscopia
digestiva alta e colonoscopia, pois, segundo o prontuário da
paciente, consta registro de hipótese diagnóstica de gastrite e
duodenite - evidenciadas em endoscopia digestiva, relato de
melhora clínica com CID e internação K29.
Resp: Em todo o prontuário médico da paciente o diagnóstico
da paciente era: DOR ABDOMINAL A ESCLARECER, o único
local onde há a hipótese diagnóstica K29 - gastrite e duodenite
é no boletim de alta do dia 19/06 assinado pelo Dr. Nabil
Chater (fls. 738). Ao meu ver, um diagnóstico principal
errôneo, já que o diagnóstico principal era coledocolitíase. A
investigação de dor abdominal que a paciente referia pode
incluir a realização de endoscopia digestiva alta, caso não
sejam encontrados outros motivos para os sintomas, porém a
paciente apresentava quadro de coledocolitíase, conformado
posteriormente pela retirada do cálculo do CPRE. No dia 08/06
a conduta descrita pelo Dr. Geraldo Camilo (fls 508) é a
seguinte: "Solicitada EDA que poderá ser realizada em
ambiente ambulatorial", ou seja, era recomendada a realização
do exame sem caráter de urgência, quando a paciente poderia
procurar o serviço público ou escolher alguma clínica de acordo

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com suas disponibilidades financeiras. Sendo feito o exame a


nível hospitalar e em caráter de urgência obrigou a requerida a
pagar um determinado valor, sem possibilidade de escolha.
Quanto à colonoscopia, sua falta de indicação já foi
devidamente esclarecida nos itens anteriores.
Número 25. Afirmou a perita que o tratamento de colédoco por
colonoscopia não está previsto na literatura médica, contudo,
não esclareceu a i. perita - e deve fazê-lo agora -, se, segundo
o prontuário médico da paciente, o exame de colonoscopia foi
solicitado para averiguar outras hipóteses diagnósticas.
Resp: A pergunta feita anteriormente foi: O tratamento do
colédoco mediante a realização de colonoscopia está previsto
na literatura médica? Não foi questionado o motivo da
solicitação de colonoscopia. Em resposta ao questionamento
atual, segundo o prontuário médico, fls 540, o exame foi
solicitado com as seguintes indicações: alteração de ritmo
intestinal, náuseas, vômitos e distensão abdominal.
Número 26. Justifique a sra. perita a assertiva de que há
necessidade de uma colecistectomia, após a retirada de cálculo
do colédoco.
Resp: Segundo o Tratado de Cirurgia - Sabiston - "após a
esfincterotomia e extração de cálculo em colédoco, pacientes
com doença calculosa da vesícula biliar permanecem com alto
risco de desenvolver futuros sintomas biliares". Traduzindo
para termos não médicos, após a retirada de cálculo do
colédoco, devido a presença de outros cálculos na vesícula
biliar, o paciente pode apresentar outras complicações
posteriores como nova coledocolitíase, pancreatite aguda ou
colecistite aguda. Sendo assim, é de conhecimento geral para
qualquer cirurgião que após um episódio de coledocolitíase a
retirada da vesícula deve ser realizada o mais breve possível,
sendo comumente realizada entre 24 e 48h após a CPRE.
Número 27. Fundamente a sra. perita a assertiva de que há
elementos que podem afirmar o nexo quanto à falha ou quanto
à responsabilidade objetiva no tratamento dispensado, haja
vista que ao responder o quesito 47 não os indiciou, sendo
necessária a complementação desse quesito, o que de já se

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requer.
Resp: Essa é uma resposta muito difícil para um simples "sim"
ou "não", visto que, de acordo com a conclusão apresentada na
perícia, algumas das queixas da requerente procedem e outras
não. Em resumo, considero que houve falha no tratamento
quando foi dada alta para paciente sem ter sido realizada a
retirada da vesícula e nem dada nenhuma orientação a esse
respeito, mesmo após o diagnóstico confirmado de doença das
vias biliares (colelitíase e coledocolitíase). Já em relação à
investigação extensa e onerosa já foi dito que foi feita de
acordo com as queixas da requerente, que foram muitas e
reiteradas, não constituindo falha de tratamento. (fls. 843/846)

A conclusão da perita é clara no apontamento de falha na prestação


do serviço à autora/apelante. Nas respostas aos quesitos, a expert aponta que a alta
médica sem a retirada da vesícula e falta de orientação acerca dessa situação,
apesar do diagnóstico confirmado de doença das vias biliares (colelitíase e
coledocolitíase) desde a internação em 6.6.2015 (fls. 805/806, 810/811 e 813),
demonstram a falha na prestação do serviço (fls. 814/815 e 845/846). Caso a
autora/apelante tivesse recebido serviço adequado e orientação suficientemente
clara com a alta médica, não teria sido necessário contratar o segundo hospital para
retirada de cálculos no colédoco e da própria vesícula, como usualmente se pratica
nessas situações, tendo em vista a possibilidade de evolução para colecistite. Nos
documentos referentes à alta médica em 19.6.2015 não consta nenhum
esclarecimento ou orientação a respeito, apenas o diagnóstico de duodenite e de
gastrite (fls. 202/206), sem relação alguma com o inicialmente estabelecido
(coledocolitíase e vesícula hidrópica) com indicação de dores a esclarecer, segundo
o documento de fl. 207 emitido ao término do plantão de enfermagem no dia da
liberação e saída do hospital.
Na ultrassonografia do abdômen total realizada na autora/apelante,
em 5.6.2015, nas dependências do Hospital requerido/apelado, o médico consignou
como impressão diagnóstica - vesícula biliar hiperdistendida, de aspecto hidrópico,
com conteúdo anecoico. Sinais ecográficos compatíveis com coledocolitíase (fls.
209/211). A tomografia, feita em 07.06.2015, destacou a proeminência das vias

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biliares (fl. 218). Realizada outra ultrassonografia do abdômen total em 12.6.2015, a


conclusão foi a mesma da anterior (5.6.2015), no sentido de vesícula biliar de
aspecto hidrópico, paredes finas e lisas e conteúdo anecoico. Sinais ecográficos
compatíveis com coledocolitíase (fl. 223). Em 13.6.2015, a autora/apelante foi
finalmente submetida a colangiopancreatografia retro com a retirada de cálculo de
0,6cm do colédoco, tendo em vista a obstrução de via biliar e o diagnóstico de
coledocolitíase (fls. 224/226).
Importante lembrar que o motivo central da internação da
autora/apelante, em 6.6.2015, foi para tratamento de coledocolitíase e vesícula
hidrópica, identificada clinicamente com base em exame realizado no dia anterior em
5.6.2015 no próprio hospital requerido (fl. 425), como demonstrado. Essa situação
permite compreender sua admissão e encaminhamento desde logo para a ala
cirúrgica do hospital, para a realização de procedimento eletivo que não demandaria
mais do que dois dias de internação (um para a realização da cirurgia e outro para
recuperação e alta), segundo pontuou a perita do Juízo. Tem-se esse entendimento,
porque ela não ostentava sinais de dor aguda, como a expert destacou como
sintoma para a internação emergencial (fl. 812). Não há informações mais
específicas nos autos que permitam concluir diversamente.
Não se mostra razoável, por outro lado, conceber que a
apelante/autora permanecesse internada, suportando todos os custos financeiros
decorrentes, para ser submetida a uma indefinida bateria de exames laboratoriais e
de imagem - que poderiam ser realizados sem a internação -, com preparos
desgastantes, para investigar moléstias que não foram a causa principal da busca
pelo atendimento médico-hospitalar e quando ela já dispunha de diagnóstico
definidos para a realização do procedimento com a finalidade de retirada dos
cálculos do colédoco - e da própria vesícula, por ser esta a prática cirúrgica comum
e usual, segundo pontuou a perita do Juízo com base na literatura médica
especializada.
A alta médica, em 19.6.2015, com a resolução do problema de
saúde da autora/apelante ainda pendente e sem esclarecimento algum sobre sua
situação clínica não deixa dúvida acerca da falha do serviço, com exposição da
saúde dela a perigo, notadamente pela continuidade das dores abdominais a
esclarecer, segundo anotação da enfermagem (fl. 207). Nisto consiste grave
violação do direito à informação do consumidor. E tanto a conclusão se confirma nos
autos, que ela teve de buscar, uma semana depois, em 26.6.2015, atendimento em
outro nosocômio (Hospital São Francisco LTDA) para tratar o mesmo problema:
dores abdominais. Realmente, o procedimento nela realizado foi para tratamento de

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colecistite, mas destaca-se que, por ocasião de seu recebimento, a indicação da


hipótese diagnóstica foi colelitíase e vesícula hidrópica, segundo a Evolução Clínica
(fl. 326). Havia urgência no procedimento de colecistectomia (retirada da vesícula
biliar) (fl. 314), uma forma de evitar a recidiva da colelitíase (obstrução do colédoco -
canal da vesícula). Não existe, portanto, diversidade de diagnósticos de problemas
de saúde, embora o Magistrado tivesse apontado essa situação na sentença
impugnada.
Compreende-se a postura da autora/apelante: após a falha do
hospital requerido/apelado, que a manteve internada por treze dias em atendimento
para investigação de dores na coluna, para as quais poderia fazer mediante
atendimento ambulatorial, optou escolha de outro estabelecimento hospitalar para
cuidar de sua saúde. É conveniente lembrar que se trata de pessoa leiga e que não
recebeu nenhum esclarecimento técnico adequado por ocasião da alta médica
depois de passar treze dias internada sem resolução das dores abdominais.
Certamente não havia mais confiança nem credibilidade no serviço do
apelado/requerido.
Não se diga que se está a exigir obrigação de resultado do hospital
requerido/apelado na solução do problema da autora/apelante. Na obrigação de
meio, como aquela pela qual o devedor deve envidar esforços e técnicas para a
satisfação do bem da vida perseguido - no caso, a saúde - tem-se a avaliação de
perito no sentido de que houve efetiva falha nos serviços médico-hospitalares
prestados à autora/apelante. Tivesse o profissional observado a prática comum e
extraído a vesícula quando da realização da colangiopancreatografia retrógrada
endoscópica, como ressaltou a perita do Juízo, a autora/apelante não necessitaria
se manter internada, nem realizar tantos exames, tampouco buscar novo socorro em
outro hospital. O desconforto no abdômen estaria definitivamente solucionado. Foi o
quê aconteceu depois do atendimento eficaz no segundo nosocômio, como bem
apontou a perita. Nisto ficou constatada irremediavelmente a falha do serviço, que
causou os danos materiais e morais à autora/apelante.
As diversas despesas realizadas entre 6.6.2015 a 19.6.2015 no
Hospital apelado/requerido segundo a indicação dos profissionais que atuaram em
seu nome, no atendimento da apelante/autora, devem ser consideradas, para se
reconhecer que, no serviço defeituoso que lhe foi prestado, subsiste a obrigação de
pagamento apenas dos exames laboratoriais e de imagem realizados para o
diagnóstico do problema relacionado com as dores na coluna e nos membros
inferiores, bem como de remuneração do valor uma consulta com o médico
ortopedista que a atendeu.

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A expert considerou que não houve erro no tratamento das queixas


de dores na coluna e nas pernas (lombociatalgia), porquanto os exames realizados
com a finalidade de identificação da causa desses desconfortos são condizentes
com a investigação dos sintomas (fl. 806). No entanto, não havia indicação médica
inicial, tampouco se fazia necessária a internação para essa investigação clínica,
que deveria ter sido feita em nível ambulatorial, a critério da apelante/autora
segundo sua conveniência e possibilidade de contratação do profissional
especializado (ortopedista) e dos laboratórios e clínicas para fazer os exames.
Sabe-se da prática usual do direito a retorno do paciente sem custo
para apresentar resultado de exames solicitados pelo médico em prazo razoável
normalmente de quinze a vinte dias. Nesse contexto, os honorários de uma consulta
com o médico ortopedista remuneram razoavelmente o serviço, porquanto os
exames a que se submeteu a apelante/autora ocorreram todos nesse intervalo de
tempo. Evita-se o enriquecimento sem causa da consumidora, porquanto o mal-estar
sentido na coluna e nos membros inferiores foi investigado pelo médico, embora
sem conclusão sobre o diagnóstico.
A endoscopia digestiva alta e a colonoscopia foram considerados
sem nexo com os problemas de saúde da autora/apelante (fls. 810 e 843/845).
Devem, portanto, ser ressarcidos os valores dos exames e o transporte utilizado
para conduzi-la até o Hospital Santa Lúcia, onde a colonoscopia aconteceu,
porquanto foram dela exigidos sem necessidade alguma para o tratamento de sua
saúde. Não consta dos autos a nota fiscal ou recibo dos aludidos exames.
Há, portanto, conduta culposa do médico que não extraiu a vesícula
na realização do procedimento cirúrgico (colangiopancreatografia retrógrada
endoscópica) e por não ter realizado o procedimento no dia da internação em
6.6.2015, consoante o encaminhamento inicial com base no diagnóstico obtido.
Demonstrado está não apenas o ato ilícito culposo, mas também o dano e o nexo
causal. Presentes estão todos os elementos da responsabilidade civil. Responderá,
pois, o Hospital requerido/apelado, porquanto não se discutirá sua culpa na escolha
daquele profissional para lhe prestar os serviços médico-cirúrgicos. A
responsabilidade do apelado/requerido é objetiva, por ato de seu preposto ou
parceiro, em conformidade com os artigos 6º, inciso VI e 14, caput, ambos do
Código de Defesa do Consumidor e os artigos 186, 927, 932, inciso III e 933, todos
do Código Civil.
A apelante/autora não tem direito à indenização dos gastos
realizados em 26.6.2015, no Hospital São Francisco no valor de R$ 12.175,00. O
serviço a ela foi prestado por aquele nosocômio e seu problema de saúde resolvido.

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Inviável transferir a obrigação de pagá-los para o apelado/requerido, porquanto não


tem a responsabilidade de custear tal despesa. Sua falha na prestação do serviço no
período de 6.6.2015 a 19.6.2015 foi reconhecida e a indenização do dano material
se realizará mediante a devolução de todos os gastos a ele relacionados.
O valor do dano material deverá ser apurado em liquidação,
porquanto do total dos gastos atribuídos à apelante/autora nos diversos documentos
de fls. 260/305 emitidos e/ou fornecidos pelo hospital apelado/requerido, apenas os
dispêndios com os exames laboratoriais e de imagem na investigação dos
problemas de dor na coluna lombar (lombarcialtagia) e nos membros inferiores e os
honorários de uma consulta com o médico ortopedista deverão ser mantidos. Todas
as despesas restantes cobradas, inclusive aquelas realizadas por terceiros mediante
solicitação e/ou encaminhamento do hospital apelado/requerido, deverão ser
indenizadas em consequência do serviço defeituoso prestado.
A jurisprudência deste Tribunal tem reconhecido o dever de
indenizar, quando houver falha na prestação de serviços médico-hospitalares.
Confiram-se:

APELAÇÃO CÍVEL. CIVIL, PROCESSUAL CIVIL E


CONSUMIDOR. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. PRELIMINAR.
CERCEAMENTO DE DEFESA. OITIVA DE TESTEMUNHAS.
REJEIÇÃO. HOSPITAL E MÉDICO. RELAÇÃO DE
CONSUMO. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. FALHA EXISTENTE. ERRO
DE DIAGNÓSTICO. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA.
DEMONSTRAÇÃO DA CULPA. DEVER DE INDENIZAR.
CABIMENTO. DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO. FIXAÇÃO
DO QUANTUM. RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE.
DANO MATERIAL. NÃO COMPROVAÇÃO. (...) 2. Na condição
de fornecedores de serviços, a responsabilidade civil dos
hospitais e clínicas médicas é objetiva quando se circunscreve
às hipóteses de serviços relacionados ao estabelecimento
propriamente dito, a teor do art. 14, caput, do CDC. Ao
contrário, a responsabilidade do próprio médico, como
profissional liberal, é de natureza subjetiva (art. 14, § 4º, do

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CDC), cumprindo, pois, averiguar se houve o ato culposo do


profissional. 3. Demonstrado que houve falha na prestação do
serviço da clínica, erro no diagnóstico médico, que agiu com
negligência, bem como o nexo de causalidade entre os
serviços oferecidos pelos apelados e o dano sofrido pelo autor,
impõe-se a procedência do pedido indenizatório. (...) 7. Apelo
parcialmente provido. (Acórdão n.1013340,
20130210021133APC, Relator: ARNOLDO CAMANHO,
Revisor: SÉRGIO ROCHA, 4ª TURMA CÍVEL, Data de
Julgamento: 26/04/2017, Publicado no DJE: 11/05/2017. Pág.:
271/286)

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO -


DANOS MORAIS E MATERIAIS - TRATAMENTO MÉDICO -
INDICAÇÃO DE PROCEDIMENTO CIRÚRGICO
INADEQUADO - AGRAVAMENTO DA ENFERMIDADE -
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DE EMPRESA
OPERADORA DO PLANO DE SAÚDE E DO HOSPITAL PELA
FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO - LIMITES NA
FIXAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO - PENSÃO
MENSAL - CABIMENTO - CONSTITUIÇÃO DE CAPITAL -
SÚMULA 313 DO STJ. (Acórdão n.293193,
20040110224285APC, Relator: DÁCIO VIEIRA, Revisor:
ROMEU GONZAGA NEIVA, 5ª Turma Cível, Data de
Julgamento: 24/10/2007, Publicado no DJU SEÇÃO 3:
28/02/2008. Pág.: 1837)

CIVIL. NULIDADE DE NEGÓCIO JURÍDICO C/C REPARAÇÃO


DE DANOS. HOSPITAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA
POR ATO DE PREPOSTO. IMPERÍCIA MÉDICA.
PROCEDIMENTO INADEQUADO AO CASO CLÍNICO DA
PACIENTE. SERVIÇO DEFEITUOSO. RESOLUÇÃO DO
NEGÓCIO JURÍDICO. RECONVENÇÃO. REJEIÇÃO. STATUS
QUO ANTE. DANOS MORAIS. QUANTUM MANTIDO. 1. Os
hospitais devem prestar um serviço de qualidade, pois, como
fornecedores de serviço, respondem objetivamente pelos
danos causados por seus prepostos a seus pacientes. Na

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realidade, os hospitais são responsabilizados simplesmente por


lançar no mercado um serviço defeituoso. 2. Provada a culpa
do médico, que agiu com imperícia no tratamento da paciente,
há dever objetivo de indenizar por parte do hospital. 3.
Evidenciado o inadimplemento contratual do hospital ao prestar
o atendimento médico de forma distinta da pretendida pela
consumidora, de procedimento contra-indicado, em local
diverso do esperado e ainda submetendo a Autora a risco
desnecessário, é justificável a resolução do contrato de
serviços médicos celebrado entre as partes, com o
consequente retorno da Autora ao status quo ante. 4. A
condenação em danos morais deve adequadamente observar
os critérios da proporcionalidade entre o ato ilícito e os danos
sofridos, e o caráter sancionatório e inibidor da condenação,
em face das condições econômicas do causador dos danos.
Quantum mantido. 5. Recurso não provido. (Acórdão n.570811,
20050111413708APC, Relator: CRUZ MACEDO, Revisor:
FERNANDO HABIBE, 4ª Turma Cível, Data de Julgamento:
08/02/2012, Publicado no DJE: 16/03/2012. Pág.: 157)

Constatada a falha no serviço médico prestado à autora/apelante,


deve o hospital requerido/apelado indenizar todos os danos materiais que lhe foram
causados.

DO DANO MORAL
A autora/apelante foi indevidamente submetida à realização de dois
exames clínicos para os quais não havia necessidade alguma, segundo apontou a
perita do Juízo, inclusive endoscopia e colonoscopia. Além disso, permaneceu
internada sem necessidade clínica por treze dias em ala cirúrgica do hospital
apelado/requerido, sem o atendimento indispensável ao tratamento de seu problema
de saúde inicialmente diagnosticado (coledocolitíase e vesícula hidrópica). A
situação vivenciada por treze dias decorreu de falha nos serviços médico-
hospitalares. A expert apontou a completa dispensabilidade de alguns exames pela
absoluta falta de nexo com os sintomas noticiados pela autora/apelante e a

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desnecessidade da internação hospitalar para a investigação das dores na coluna


lombar e nos membros inferiores.
A propósito, confira-se a manifestação da perita a esse respeito:

Nessa investigação abdominal foram feitos exames


desnecessários, naquele momento, como a endoscopia
digestiva alta e colonoscopia que poderiam ser realizados a
nível ambulatorial, conforme está escrito à fl. 508. (fl. 816)

Número 24. Deve ser esclarecido pela i. perita, de forma


técnica porque a paciente não necessitava de endoscopia
digestiva alta e colonoscopia, pois, segundo o prontuário da
paciente, consta registro de hipótese diagnóstica de gastrite e
duodenite - evidenciadas em endoscopia digestiva, relato de
melhora clínica com CID e internação K29.
Resp: Em todo o prontuário médico da paciente o diagnóstico
da paciente era: DOR ABDOMINAL A ESCLARECER, o único
local onde há a hipótese diagnóstica K29 - gastrite e duodenite
é no boletim de alta do dia 19/06 assinado pelo Dr. Nabil
Chater (fls. 738). Ao meu ver, um diagnóstico principal errôneo,
já que o diagnóstico principal era coledocolitíase. A
investigação de dor abdominal que a paciente referia pode
incluir a realização de endoscopia digestiva alta, caso não
sejam encontrados outros motivos para os sintomas, porém a
paciente apresentava quadro de coledocolitíase, conformado
posteriormente pela retirada do cálculo do CPRE. No dia 08/06
a conduta descrita pelo Dr. Geraldo Camilo (fls 508) é a
seguinte: "Solicitada EDA que poderá ser realizada em
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Quanto à colonoscopia, sua falta de indicação já foi


devidamente esclarecida nos itens anteriores.
Número 25. Afirmou a perita que o tratamento de colédoco por
colonoscopia não está previsto na literatura médica, contudo,
não esclareceu a i. perita - e deve fazê-lo agora -, se, segundo
o prontuário médico da paciente, o exame de colonoscopia foi
solicitado para averiguar outras hipóteses diagnósticas.
Resp: A pergunta feita anteriormente foi: O tratamento do
colédoco mediante a realização de colonoscopia está previsto
na literatura médica? Não foi questionado o motivo da
solicitação de colonoscopia. Em resposta ao questionamento
atual, segundo o prontuário médico, fls 540, o exame foi
solicitado com as seguintes indicações: alteração de ritmo
intestinal, náuseas, vômitos e distensão abdominal. (fls.
843/845)

Como se sabe, a endoscopia e a colonoscopia são exames clínicos


realizados por imagem, mediante violação da integridade física da pessoa submetida
a sua realização. Um tubo flexível é introduzido pela boca - no caso da endoscopia -
e pelo ânus - em se tratando de colonoscopia -, para visualização interior e captura
de imagens com a finalidade médico-terapêutica perseguida.
Há necessidade de preparo, com restrição alimentar e até sua
abstinência por prolongado período e uso de medicamentos antes dos exames,
inclusive para limpeza intestinal, e durante sua realização, como soníferos e
anestésicos, com todas as consequências que eventualmente possam ter
negativamente para a saúde e o bem-estar de quem está submetido a sua feitura.
A exposição da apelante/autora à possibilidade de contaminação
hospitalar e as consequências negativas para seu corpo, como constipação
intestinal, dores pela pouca movimentação corporal, falta ou má-alimentação e
repouso precário infligiram sofrimento psicológico e angústia que não podem passar
despercebidos, porque, inegavelmente, afetaram o bem-estar, a paz de espírito e a
dignidade da apelante/autora como consumidora.
A exposição culposa da autora/apelante à situação invasiva de sua
integridade física para realização de exames desnecessários e procedimento

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cirúrgico falho não deixa dúvida da ofensa a esse direito da personalidade. Seu
consentimento para realização não minimiza os efeitos violadores do direito da
personalidade, na medida em que se considera o estado de vulnerabilidade técnica
e de fragilidade emocional em que se achava, internada há mais de três dias sem
tratamento efetivo do desconforto que a motivou a buscar ajuda médica. Por esse
motivo, presente a conduta culposa e o nexo de causalidade com o direito da
personalidade violado, tem-se por demonstrado o dano, que se constata in re ipsa
na própria violação à integridade física. A propósito:

CIVIL. CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL. FALHA


NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. DANO MORAL
CONFIGURADO. RECURSO IMPROVIDO. Configura dano
moral indenizável a falha na prestação do serviço,
principalmente, se a hipótese sub judice é disciplinada pelos
princípios e normas de ordem pública e interesse social
constantes do Código de Defesa do Consumidor, os quais
exigem que o fornecedor ou prestador de serviço seja diligente
na execução de seus serviços, prevenindo a ocorrência de
danos ao consumidor (artigo 6º, VI, da Lei 8.078/90). Se o
recorrido não se utiliza do instrumento processual adequado
para pleitear a majoração da indenização fixada, deve ser
mantido o valor arbitrado na sentença. Recurso Improvido.
(Acórdão n.367713, 20050110638999APC, Relator: ESDRAS
NEVES, Revisor: HAYDEVALDA SAMPAIO, 5ª Turma Cível,
Data de Julgamento: 22/07/2009, Publicado no DJE:
03/08/2009. Pág.: 189)

Verificado o dano moral consistente na indevida ofensa à integridade


física da autora/apelante, deve o hospital requerido/apelado repará-lo, levando-se
em conta sua efetiva ocorrência, em conformidade com os artigos 6º, inciso VI e 14,
caput, ambos do Código de Defesa do Consumidor, e os artigos 186, 927, 932,
inciso III e 933, todos do Código Civil.
Deve-se considerar como parâmetros específicos o grau de culpa do
autor da ofensa, o potencial econômico da lesão, a repercussão social do ato lesivo,

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as condições pessoais das partes e a natureza do direito violado, além dos critérios
gerais como o prudente arbítrio, o bom-senso, a equidade, a proporcionalidade e a
razoabilidade. Confiram-se os seguintes julgados deste Tribunal de Justiça acerca
da questão:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. CERCEAMENTO DE


DEFESA. INOCORRÊNCIA. ERRO MÉDICO. ANÁLISE À LUZ
DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA UNIDADE
HOSPITALAR. TEORIA DO RISCO DA ATIVIDADE. PERDA
DE UMA CHANCE. INDENIZAÇÃO PECUNIÁRIA. DANOS
MATERIAIS. LUCROS CESSANTES. DANO MORAL.
POSSIBILIDADE. RESPONSABILIDADE DO MÉDICO.
SUBJETIVA. DOLO E CULPA. EXISTÊNCIA. SUCUMBÊNCIA
MÍNIMA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (...) Com
relação ao dano moral, para a fixação do quantum devido,
devem-se utilizar os critérios gerais, como o prudente arbítrio, o
bom senso, a equidade e a proporcionalidade ou razoabilidade,
bem como os específicos, sendo estes o grau de culpa da parte
ofensora e o seu potencial econômico, a repercussão social do
ato lesivo, as condições pessoais da parte ofendida e a
natureza do direito violado. (...) Recurso adesivo desprovido.
Apelação dos autores parcialmente provida. (Acórdão
n.989853, 20110112324047APC, Relator: SILVA LEMOS,
Relator Designado:HECTOR VALVERDE 5ª TURMA CÍVEL,
Data de Julgamento: 14/12/2016, Publicado no DJE:
08/02/2017. Pág.: 318/321)

DIREITO DO CONSUMIDOR. INSCRIÇÃO INDEVIDA.


CADASTRO RESTRITIVO DE CRÉDITO. DANO MORAL. I - A
inscrição indevida do nome do consumidor em cadastro
restritivo de crédito resulta em ofensa à imagem e à reputação,
causando desconforto moral. II - O valor do dano moral deve
ser informado por critérios de proporcionalidade e
razoabilidade, observando-se as condições econômicas das

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partes envolvidas, a natureza e a extensão do dano. Ainda,


deve-se levar em consideração que a finalidade da sanção
pecuniária não é apenas de compensar a vítima, mas, também,
de punir o agente, de modo a desestimular a reincidência na
ofensa ao bem juridicamente tutelado pelo direito. III - Negou-
se provimento ao recurso. (Acórdão n.1003729,
20160910076825APC, Relator: JOSÉ DIVINO 6ª TURMA
CÍVEL, Data de Julgamento: 15/03/2017, Publicado no DJE:
21/03/2017. Pág.: 513/547)

Não há muitos dados sobre a condição econômica da


autora/apelante. Sabe-se que ela suportou a despesa de mais de sessenta mil reais
para o tratamento de sua saúde, que exerce a profissão de vendedora autônoma e
reside na região do Vicente Pires. O requerido/apelado é pessoa jurídica constituída
sob a forma de sociedade anônima e presta serviços médico-hospitalares na região
do Lago Sul. O grau de culpa dos médicos deve ser considerado médio, pelo menos,
porquanto não expôs a vida da autora/apelante a perigo imediato, mas a sujeitou à
desnecessária ofensa à integridade física e psicológica, ao submetê-la
desnecessariamente à internação para investigar problemas de saúde na coluna
lombar e membros inferiores, quando o diagnóstico e a indicação cirúrgica tinha
relação com a vesícula e ao exigir exames sem necessidade com a situação de
saúde vivenciada. Não há comprovação de que o proveito econômico foi expressivo,
senão o usual para os serviços médico-hospitalares dessa natureza, com destaque
de que a autora/apelante permaneceu três dias internada apenas para se submeter
à colonoscopia. Não há evidências sobre a repercussão social do dano.
Atento à razoabilidade e proporcionalidade e imbuído de bom-senso
e atuando com prudente arbítrio, considero justo o valor de R$ 13.000,00 como
compensação pelo dano moral suportado. Neste patamar, cumprirá a função
pedagógico-sancionadora-reparadora de evitar a reiteração de conduta e incutirá o
sentimento de justiça na ofendida. Exagerado é o valor almejado pela
autora/apelante de R$ 619.388,40. Neste sentido:

DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO MÉDICO.


HOSPITAL. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. DANO

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MORAL. DANO MATERIAL OCORRÊNCIA. PENSÃO


MENSAL. DANOS ESTÉTICOS. NÃO CONFIGURAÇÃO. I - A
responsabilidade civil do médico é subjetiva, de modo que
incumbe ao paciente, credor da prestação dos serviços,
comprovar a conduta culposa do médico, o nexo de
causalidade e os danos sofridos. II - O Hospital tem a
obrigação de indenizar quando o dano decorre de falha técnica
de médico a ele vinculado. Precedentes do STJ. III -
Demonstrada a falha na prestação do serviço e a violação ao
estado psíquico e moral do paciente, é cabível a compensação
pecuniária. O valor a ser fixado pelos danos morais deve ser
informado por critérios de proporcionalidade e razoabilidade,
observando-se as condições econômicas das partes
envolvidas, a natureza e a extensão do dano. IV - O pagamento
de pensão mensal é devido quando comprovado o nexo de
causalidade entre a conduta do réu e a incapacidade laboral do
autor. V - Para que exista o dano estético é necessário que a
lesão tenha modificado a aparência externa da pessoa de
forma permanente, sendo visível em qualquer lugar do corpo
humano. VI - Negou-se provimento ao recurso do primeiro réu
e deu-se parcial provimento ao recurso da autora. (Acórdão
n.1017804, 20140710124783APC, Relator: JOSÉ DIVINO 6ª
TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 17/05/2017, Publicado no
DJE: 23/05/2017. Pág.: 900/932)

CIVIL. DANOS MORAIS. HOSPITAL. RESPONSABILIDADE


OBJETIVA. VALOR DA CONDENAÇÃO. DANOS MORAIS.
MINORAÇÃO. Os hospitais, na condição de fornecedores de
serviços, respondem objetivamente pelos danos causados aos
seus pacientes, sendo necessário, para configuração do dano
moral, apenas a comprovação do nexo de causalidade entre a
conduta e o resultado danoso. Inteligência do art. 14 do Código
de Defesa do Consumidor. O quantum a ser fixado a título de
reparação por danos morais deverá observar o grau de culpa
do agente, o potencial econômico e características pessoais
das partes, a repercussão do fato no meio social e a natureza
do direito violado, obedecidos critérios da equidade,

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proporcionalidade e razoabilidade. Recurso de apelação do


autor conhecido e desprovido e recurso do réu conhecido e
provido. (Acórdão n.926812, 20100110696787APC, Relator:
ANA MARIA AMARANTE, Revisor: JAIR SOARES, 6ª TURMA
CÍVEL, Data de Julgamento: 02/03/2016, Publicado no DJE:
17/03/2016. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

Reconhecido o dano moral pela ofensa a direito da personalidade da


apelante/autora em consequência da má-prestação dos serviços médico-
hospitalares, impõe-se sua reparação.

DA SUCUMBÊNCIA
A autora/apelante ficou condenada pela sentença de improcedência
a pagar as custas processuais e honorários de sucumbência ao requerido/apelado
no valor correspondente a R$ 1.500,00, mas a exigibilidade foi suspensa, devido à
gratuidade de justiça.
Com a reforma em parte da sentença, para julgar parcialmente
procedente os pedidos de indenização dos danos material e moral, impõe-se a
revisão da sucumbência definida em primeira instância.
A demanda foi proposta na vigência do Código de Processo Civil de
1973, de sorte que a sucumbência será regida por suas disposições, notadamente o
artigo 20, § 3º deste Código. Como a autora/apelante sucumbiu em parcela mínima
dos pedidos, com a reforma da sentença, considero que o requerido/apelado deve
suportar sozinho os ônus da sucumbência, nos termos do artigo 21, parágrafo único,
do aludido Código. Levar-se-á também em conta o trabalho adicional produzido em
sede recursal, na forma do artigo 85, § 11 do Código de Processo Civil de 2015.
Atento ao grau de zelo profissional dos advogados, o lugar da
prestação do serviço, a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelos
patronos das partes e o tempo exigido para o serviço, assim como o trabalho
adicional em grau de recurso, considero razoável a fixação dos honorários em 12%
do valor da condenação, a serem suportados pelo requerido/apelado em proveito da
advogada da autora/apelante. O requerido/apelado deverá pagar também as custas
processuais.

DISPOSITIVO

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Ante o exposto, CONHEÇO e DOU PARCIAL PROVIMENTO à


apelação, para reformar parcialmente a sentença, JULGO PROCEDENTE EM
PARTE os pedidos iniciais, de indenização por danos materiais e morais, para que o
Hospital requerido/apelado indenize a autora/apelante os danos materiais
relacionados à cobrança pelo serviço falho e internação desnecessária, cujo valor
será apurado em liquidação de sentença (excetuando-se apenas a quantia referente
a 1 consulta com médico ortopedista e os dispêndios com os exames laboratoriais e
de imagem na investigação dos problemas de dor na coluna lombar (lombarcialtagia)
e nos membros inferiores), e o dano moral no valor de R$ 13.000,00. A
sucumbência fica revista para que o requerido/apelado arque com o pagamento das
custas processuais e dos honorários advocatícios fixados em 12% do valor da
condenação, incluídos os honorários recursais.

O Senhor Desembargador ALFEU MACHADO - Vogal


Com o relator

O Senhor Desembargador JOSÉ DIVINO - Vogal


Com o relator

DECISÃO

CONHECIDO. PARCIALMENTE PROVIDO. UNÂNIME.

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