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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS
EMENTA
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
VOTOS
DO DANO MATERIAL
que apenas por ocasião da alta médica houve indicação diagnóstica de gastrite e
duodenite, as quais não recomendavam internação e poderiam ser tratadas
ambulatorialmente segundo a conveniência e possibilidade da autora/apelante. Esta
percepção da expert foi ignorada na sentença, que concluiu pelo atendimento
satisfatório da autora/apelante pelo Hospital requerido, sem ao menos enfrentar as
questões debatidas pela perita do Juízo.
Outra constatação relevante da perita foi acerca da manutenção da
vesícula após a remoção do cálculo de 0,8mm do colédoco, porquanto esta conduta
mostrou-se estranha à prática médica usual nesse tipo de procedimento, a qual
consiste na remoção da vesícula para evitar recidiva ou complicação ulterior,
comumente observada nos casos. Confiram-se, respectivamente (fls. 816/817 e
843/46):
V - CONCLUSÃO
Após revisão do prontuário médico da requerente no Hospital
requerido e também do prontuário médico do Hospital São
Francisco, além de entrevista pessoal feita com a requerente,
concluo que:
A requerente procurou atendimento de emergência no Hospital
requerido apresentando queixa de cor abdominal e dor lombar,
com irradiação para membros inferiores. Ao primeiro
atendimento foram aventadas hipóteses diagnósticas
condizentes com a literatura médica e, a partir daí, iniciou-se
investigação com exames complementares pertinentes. O
único diagnóstico de certeza evidenciado foi o de doença das
vias biliares, com coledocolitíase e vesícula hidrópica. Esse
diagnóstico explicaria a dor abdominal, porém não é habitual
que essas patologias levem a dor em membros inferiores.
Devido a constante e importante queixa da paciente
relacionada a dor em membros, parestesias (dormências), com
dificuldade inclusive de deambulação, essa queixa pareceu
induzir a equipe médica a uma extensa investigação com
exames de imagem e avaliação de médicos especialistas. Não
foi encontrado, após essa investigação, causas plausíveis para
requer.
Resp: Essa é uma resposta muito difícil para um simples "sim"
ou "não", visto que, de acordo com a conclusão apresentada na
perícia, algumas das queixas da requerente procedem e outras
não. Em resumo, considero que houve falha no tratamento
quando foi dada alta para paciente sem ter sido realizada a
retirada da vesícula e nem dada nenhuma orientação a esse
respeito, mesmo após o diagnóstico confirmado de doença das
vias biliares (colelitíase e coledocolitíase). Já em relação à
investigação extensa e onerosa já foi dito que foi feita de
acordo com as queixas da requerente, que foram muitas e
reiteradas, não constituindo falha de tratamento. (fls. 843/846)
DO DANO MORAL
A autora/apelante foi indevidamente submetida à realização de dois
exames clínicos para os quais não havia necessidade alguma, segundo apontou a
perita do Juízo, inclusive endoscopia e colonoscopia. Além disso, permaneceu
internada sem necessidade clínica por treze dias em ala cirúrgica do hospital
apelado/requerido, sem o atendimento indispensável ao tratamento de seu problema
de saúde inicialmente diagnosticado (coledocolitíase e vesícula hidrópica). A
situação vivenciada por treze dias decorreu de falha nos serviços médico-
hospitalares. A expert apontou a completa dispensabilidade de alguns exames pela
absoluta falta de nexo com os sintomas noticiados pela autora/apelante e a
cirúrgico falho não deixa dúvida da ofensa a esse direito da personalidade. Seu
consentimento para realização não minimiza os efeitos violadores do direito da
personalidade, na medida em que se considera o estado de vulnerabilidade técnica
e de fragilidade emocional em que se achava, internada há mais de três dias sem
tratamento efetivo do desconforto que a motivou a buscar ajuda médica. Por esse
motivo, presente a conduta culposa e o nexo de causalidade com o direito da
personalidade violado, tem-se por demonstrado o dano, que se constata in re ipsa
na própria violação à integridade física. A propósito:
as condições pessoais das partes e a natureza do direito violado, além dos critérios
gerais como o prudente arbítrio, o bom-senso, a equidade, a proporcionalidade e a
razoabilidade. Confiram-se os seguintes julgados deste Tribunal de Justiça acerca
da questão:
DA SUCUMBÊNCIA
A autora/apelante ficou condenada pela sentença de improcedência
a pagar as custas processuais e honorários de sucumbência ao requerido/apelado
no valor correspondente a R$ 1.500,00, mas a exigibilidade foi suspensa, devido à
gratuidade de justiça.
Com a reforma em parte da sentença, para julgar parcialmente
procedente os pedidos de indenização dos danos material e moral, impõe-se a
revisão da sucumbência definida em primeira instância.
A demanda foi proposta na vigência do Código de Processo Civil de
1973, de sorte que a sucumbência será regida por suas disposições, notadamente o
artigo 20, § 3º deste Código. Como a autora/apelante sucumbiu em parcela mínima
dos pedidos, com a reforma da sentença, considero que o requerido/apelado deve
suportar sozinho os ônus da sucumbência, nos termos do artigo 21, parágrafo único,
do aludido Código. Levar-se-á também em conta o trabalho adicional produzido em
sede recursal, na forma do artigo 85, § 11 do Código de Processo Civil de 2015.
Atento ao grau de zelo profissional dos advogados, o lugar da
prestação do serviço, a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelos
patronos das partes e o tempo exigido para o serviço, assim como o trabalho
adicional em grau de recurso, considero razoável a fixação dos honorários em 12%
do valor da condenação, a serem suportados pelo requerido/apelado em proveito da
advogada da autora/apelante. O requerido/apelado deverá pagar também as custas
processuais.
DISPOSITIVO
DECISÃO