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CAPÍTULO 1 – Introdução
“Nos meses que procederam a reunião dos Estados Gerais, houve entre os
elegantes dos sexos uma competição para ver quem afetaria ser mais negligente
de tal modo que escandalizasse as pessoas antigas”(G. Lenôtre, La Vie à Paris-
pg.25).
As mulheres deixaram de usar saltos altos e adotaram o "pierrot", um novo
tipo de saia, mais simples, uma forma de protesto contra as antigas saias
rodadas e as grandes caudas. E isto fazia as pessoas graves dizerem: “En
paniers, la coquette la plus légère a l’air d’une matrone; en pierret, la matrone la
plus sévère; en "pierrot", la matrone la plus sevère a l’air d’une linotte”[Com
saias rodadas a mocinha mais exibidaa tem o ar de uma matrona a mais severa,
vestida com a moda "pierrot", a matrona mais severa tem o aspeto de uma
estouvada"] (G. Lenetre- La Vie à Paris - pg. 25).
Alguém poderia dizer que isto se fazia sem pensar, sem perceber os
princípios revolucionários implícitos nos novos símbolos de moda. Certamente,
nem todos percebiam, de modo claro, o que havia de revolucionário na nova
moda. Mas muitos o sabiam, e é o que escreverá o revolucionário Theodore
Lameth em suas memórias, citadas por Georges Lenôtre: “Os saltos altos das
damas, testemunhos de sua posição social, iam desaparecer” ( apud G. Lenôtre
ob. cit. , pg. 24).
Além disto, é nos pequenos gestos semi conscientes, que mais
autenticamente se manifestava o fundo da mentalidade de uma pessoa. As
damas da alta sociedade eliminaram os saltos altos para se rebaixar.
Os homens, de sua parte, aderiram também às modas anti-aristocráticas e
igualitárias. Começaram a usar culottes apertados, chapéus redondos, coletes, e
deixaram de usar perucas empoadas.
As primeiras manifestações da nova moda produziram escândalo e revolta.
Depois, o escândalo diminuí pela sua multiplicação. As pessoas iam se
habituando, e a nova moda triunfava, o que não seria possível se as tendências
profundas da sociedade correspondessem aos princípios aristocráticos vigentes.
“O primeiro temerário que apareceu com os cabelos cortados “à la Tito “, e
sem serem empoados - era, dizem, Monsieur. de Valence, genro de Madame de
Genlis e despertou cóleras.
“Está tudo perdido, prognosticavam os peruqueiros: os homens se
apresentam nus, nada disfarça mais as suas formas”. Mas foi com o primeiro
"pantalon'-- a calça masculina atual -- que a revolta explodiu; foi um “tolle” de
reprovações. “Sans culottes”! Ousar se apresentar sans culottes, resmungavam
as velhas damas espantadas, e tal foi a origem do sentido pejorativo deste termo
destinado a ter um êxito tão próximo e tão durável, do qual os demagogos iam
logo se honrar como de um título” (G. Lenotre- La Vie à Paris - pg. .25 )
Franklin, embaixador da nova república americana, fez furor, ao se
apresentar sem cabeleira postiça nos salões de Paris e Versalhes. Um publicista,
citado por Pierre Gaxotte, dizia dele:
“Tudo nele anunciava a simplicidade e a inocência dos antigos costumes.
Tinha se despojado da cabeleira emprestada (postiça)” (Pierre Gaxotte- A
Revolução Francesa, pg.50).
O igualitarismo triunfante não poderia se coadunar com a espada, símbolo
por excelência da nobreza. Os novos tarjes eram por demais vulgares e
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Afinal, homens e mulheres não eram iguais?...(G. Lenotre- La Vie à Paris- pg.
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Antes, respeitava-se em tudo a hierarquia social. Nos jantares, as pessoas se
sentavam à mesa, segundo sua importância social, como em qualquer lugar
civilizado se faz. O igualitarismo triunfante antes de 1789, levou a abandonar
este hábito sábio: as pessoas passaram a sentar-se à vontade, e sem ordem na
sala de jantar. (Charles Kunstler- La Vie Quotidienne sous Louis XVI,- pg.
263).
Para demonstrar espírito democrático, os grandes nobres e as senhoras da
alta sociedade, nos dias de festa e aos domingos, iam aos bailes populares de
Paris (Charles Kunstler- La Vie Quotidienne sous Louis XVI- pg.. 323).
Nos salões filosóficos, os nobres de espírito revolucionário estadeavam seu
igualitarismo com alegria. Eles faziam questão de freqüentar os salões dos
chamados "filósofos" iluministas.
“D’ Alembert mantinha “três vezes por semana assembléias sob o nome de
conversações; e tudo o que há de mais ilustre ia lá. Não é raro ver de vinte e
cinco a trinta carruagens paradas, à sua porta”. O almoço do Abbé Raynal
reunia, todas as semanas, “tudo o que há de mais ilustre em Paris entre
embaixadores e os senhores viajantes”. Lá, e em outros lugares, não só se
defendia a igualdade, ela era posta em prática, pelo menos com relação aos
plebeus, que “sabiam pensar”. (Daniel Marnet, op. cit., - pg. 276).
Aproveitava-se tudo para estabelecer a igualdade social. Assim, os grandes
senhores se envaideciam de freqüentar as Academias junto com os burgueses.
Na Academia de Montauban, procura-se estabelecer a igualdade, suprimindo os
lugares honoríficos, e se lia uma ode sobre a igualdade acadêmica. (Daniel
Marnet. op. cit.,- pg. 151)
Na sociedade literária de Agen, os estatutos previam que não haveria
distinções de honra e de classe. (Daniel Marnet, op. cit.,- pg. 308).
Nas lojas maçônicas, se dava a mesma coisa: na loja União de Toul-
Artilharia, o Venerável, um sargento, era superior ao Marechal de Campo,
Marquês d’Havincourt, que provavelmente se orgulhava dessa situação
aviltante a que a Maçonaria o reduzia. (Louis Madelin,- La Révolution,
Hachette, Paris, 1911 - pg. 24).
Toda revolução tem suas expressões próprias, seu vocabulário particular, sua
gíria, que exprime sua filosofia. No feudalismo a expressão "servir" era
altamente honrosa, pois expressava bem a missão própria de homem, e a
hierarquia social. O criado servia o amo, este servia ao Rei e todos serviam a
Deus. Um homem que não servisse, não servia para nada. Para a igualitarismo,
todo serviço supõe uma injustiça, pois que implica em desigualdade.
Por isso muito facilmente se trocou a expressão "servir ao Rei” por “servir ao
Estado” que era impessoal, e que não implicava em desigualdade social.
(Daniel Marnet, op. cit., - pg. 402).
Por isso, o termo súdito começou a ser substituído pelo de cidadão.
O "filósofo" Mably escreveu a obra “Os deveres e os direitos dos cidadãos”.
publicada em 1789, após sua morte (Daniel Marnet, op. cit., 239).
Já antes fora publicado um Catecismo do Cidadão, e o Abbé Saury escrevera
uma obra intitulada “Moral do Cidadão do Mundo, ou a Moral da Razão’
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