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1 INTRODUÇÃO
O presente parecer visa ao atendimento de demanda do Dr. Leonardo de Faria
Galiano (Titular do 2º Ofício da PR/AM), que, por meio da guia Sppea/PGR - 002428/2018,
solicitou estimativa do valor dos danos residuais e intermediários decorrentes da extração de
areia em um terreno próximo à rodovia BR 174, objeto da Ação Civil Pública (ACP) nº
0015300-15.2015.4.01.3200.
A exploração dessa área foi autorizada pelo Instituto de Proteção Ambiental do
Amazonas (Ipaam), por meio da Licença de Operação (LO) nº 124/2010. Entretanto, ao
vistoriar o local em 21/10/12, uma equipe técnica da autarquia constatou que o responsável
pela atividade (Veudison da Costa Rodrigues) ainda não havia executado as medidas de
recomposição previstas no Plano de Recuperação de Área Degradada (Prad) apresentado
durante o licenciamento1.
Posteriormente, em 13/5/15, esta signatária também compareceu ao local da
extração, verificando que a área permanecia degradada e que o Prad submetido ao Ipaam
ainda não havia sido executado a contento, conforme descrito no Parecer Técnico nº
6/2015/2OFCIVEL/PR-AM2.
1 Ver fls. 18-22 dos autos (Relatório Técnico de Fiscalização nº 086/12 - GRHM).
2 Etiqueta no Sistema Único: PR-AM-00017045/2015.
2 ANÁLISE
2.1 Caracterização da área
Devido ao tempo transcorrido desde a última vistoria in loco, entendeu-se
como necessário reavaliar a situação da área degradada com base em imagens de satélite de
alta resolução, disponíveis no Google Earth Pro.
Dessa forma, verificou-se que, até 13/7/19, a área permanecia sem cobertura
vegetal em nível satisfatório, com exceção de algumas porções isoladas, que apresentam
vegetação secundária oriunda de regeneração natural (Figuras 1-3). Antes da exploração, a
área encontrava-se quase que inteiramente coberta por vegetação nativa de porte arbustivo-
arbóreo, enquadrada como Campinarana Florestada e/ou Arborizada, de acordo com o sistema
de classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 3. As campinaranas
são condicionadas pela presença de solos arenosos (Espodossolos e/ou Neossolos
Quartzarênicos) e pela baixa profundidade do lençol freático, características que foram
observadas in loco por esta signatária (Figuras 4-7).
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FIGURAS 4-7 – Fotografias obtidas in loco no dia 13/5/2015, evidenciando o caráter arenoso do solo e a
pequena profundidade do lençol freático, que aflora na porção oeste do terreno.
Fonte: Parecer Técnico nº 6/2015/2OFCIVEL/PR-AM, p. 4-5.
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solos de áreas mineradas (devido à remoção das camadas superficiais e à compactação gerada
por máquinas), que implica na utilização de grandes quantidades de adubos e em covas de
maiores dimensões para as plantas, por exemplo.
Diante da ausência de informações sobre os custos específicos para a
recuperação de campinaranas degradadas por extração mineral, optou-se por considerar o
menor valor corrigido dentre os constantes da Tabela 1, de R$ 29.482,81/ha, que corresponde
ao indicado por Corrêa (2007)8 para a restauração florestal de áreas mineradas no bioma
Cerrado, incluindo medidas de preparo do solo, plantio de mudas, manutenção e
monitoramento por um período de dois anos.
Tabela 1
Custos para o reflorestamento de áreas degradadas pela mineração
Título do trabalho Custo indicado Custo corrigido*
Manejo do solo e recomposição da vegetação com vistas à R$ 15.521,50 a R$ 35.223,54 a
recuperação de áreas degradadas pela extração de bauxita, Poços R$ 16.704,00/ha R$ 37.907,03/ha
de Caldas, MG (MOREIRA, 20049)
Recuperação de áreas degradadas pela mineração no Cerrado: R$ 15.000,00/ha R$ 29.482,81/ha
manual para revegetação (CORRÊA, 2007)
Custeio baseado em atividades das técnicas de restauração de R$ 38.531,93/ha R$ 68.279,42/ha
áreas degradadas na Amazônia Central (BENTO, 201010)
Parecer Complementar nº 736 – 04/2013 – CGCIT/DIREX11 R$ 38.028,17/ha R$ 54.365,69/ha
(DNIT, 2013)
Custo para recuperar uma área degradada: um projeto para a R$ 50.501,59/ha R$ 56.821,77/ha
cascalheira do Parque Sucupira12 (GEBRIM, 2016)
*Correções realizadas por meio da ferramenta “Calculadora do cidadão” (<https://www3.bcb.gov.br/CALCIDADAO/jsp/index.jsp>), com
base no índice IGP-M.
restauração da Mata Atlântica: referencial dos conceitos e ações de restauração florestal. São Paulo:
Lerf/Esalq: Instituto Bioatlântica, fev./2019. Disponível em:
<https://www.pactomataatlantica.org.br/publicacoes>. Acesso em: 3 set. 2019.
8 CORRÊA, R. S. Recuperação de áreas degradadas pela mineração no Cerrado: manual para revegetação.
Brasília, 2007. Disponível em: <http://files.pereiraim.webnode.com.br/200000040-d2964d3903/LIVRO
%20%20PRADCurso2007.pdf >. Acesso em: 3 set. 2019.
9 Disponível em: <https://repositorio.unesp.br/handle/11449/100645>. Acesso em: 10 set. 2019.
10 Disponível em: <https://bdtd.inpa.gov.br/handle/tede/1124>. Acesso em: 10 set. 2019.
11 Disponível em: <http://www1.dnit.gov.br/anexo/Anexo/Anexo_edital0348_13-01_0.pdf>. Acesso em: 10 set.
2019.
12 Disponível em: <http://bdm.unb.br/handle/10483/14342>. Acesso em: 10 set. 2019.
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oitenta e dois reais e noventa e dois centavos) para os danos intermediários incidentes no
período de recomposição da área, conforme mostrado na Tabela 2.
Tabela 2
Estimativa do valor dos danos ambientais intermediários durante o período de
recomposição da área degradada
Tempo em Dedução constante nos Gastos c/a recomposição Valor do dano Valor corrente do dano
anos (n) gastos c/a recomposição remanescentes intermediário anual intermediário anual
(R$ 210.802,09/30) (GRn = GRn-1 - DC) (DIn = GRn x 0,064) (DIc = DIn/(1+0,064)n)
0 R$ 0,00 R$ 210.802,09 R$ 0,00 R$ 0,00
1 R$ 7.026,74 R$ 210.802,09 R$ 13.491,33 R$ 12.679,82
2 R$ 7.026,74 R$ 203.775,35 R$ 13.041,62 R$ 11.519,89
3 R$ 7.026,74 R$ 196.748,62 R$ 12.591,91 R$ 10.453,62
4 R$ 7.026,74 R$ 189.721,88 R$ 12.142,20 R$ 9.473,95
5 R$ 7.026,74 R$ 182.695,14 R$ 11.692,49 R$ 8.574,30
6 R$ 7.026,74 R$ 175.668,41 R$ 11.242,78 R$ 7.748,61
7 R$ 7.026,74 R$ 168.641,67 R$ 10.793,07 R$ 6.991,23
8 R$ 7.026,74 R$ 161.614,94 R$ 10.343,36 R$ 6.296,92
9 R$ 7.026,74 R$ 154.588,20 R$ 9.893,64 R$ 5.660,85
10 R$ 7.026,74 R$ 147.561,46 R$ 9.443,93 R$ 5.078,51
11 R$ 7.026,74 R$ 140.534,73 R$ 8.994,22 R$ 4.545,75
12 R$ 7.026,74 R$ 133.507,99 R$ 8.544,51 R$ 4.058,71
13 R$ 7.026,74 R$ 126.481,25 R$ 8.094,80 R$ 3.613,81
14 R$ 7.026,74 R$ 119.454,52 R$ 7.645,09 R$ 3.207,74
15 R$ 7.026,74 R$ 112.427,78 R$ 7.195,38 R$ 2.837,46
16 R$ 7.026,74 R$ 105.401,05 R$ 6.745,67 R$ 2.500,11
17 R$ 7.026,74 R$ 98.374,31 R$ 6.295,96 R$ 2.193,08
18 R$ 7.026,74 R$ 91.347,57 R$ 5.846,24 R$ 1.913,94
19 R$ 7.026,74 R$ 84.320,84 R$ 5.396,53 R$ 1.660,44
20 R$ 7.026,74 R$ 77.294,10 R$ 4.946,82 R$ 1.430,52
21 R$ 7.026,74 R$ 70.267,36 R$ 4.497,11 R$ 1.222,25
22 R$ 7.026,74 R$ 63.240,63 R$ 4.047,40 R$ 1.033,86
23 R$ 7.026,74 R$ 56.213,89 R$ 3.597,69 R$ 863,71
24 R$ 7.026,74 R$ 49.187,15 R$ 3.147,98 R$ 710,28
25 R$ 7.026,74 R$ 42.160,42 R$ 2.698,27 R$ 572,20
26 R$ 7.026,74 R$ 35.133,68 R$ 2.248,56 R$ 448,15
27 R$ 7.026,74 R$ 28.106,95 R$ 1.798,84 R$ 336,95
28 R$ 7.026,74 R$ 21.080,21 R$ 1.349,13 R$ 237,51
29 R$ 7.026,74 R$ 14.053,47 R$ 899,42 R$ 148,82
30 R$ 7.026,74 R$ 7.026,74 R$ 449,71 R$ 69,93
TOTAL - - R$ 209.115,67 R$ 118.082,92
Portanto, o valor dos danos ambientais estimado para o caso em análise, por
meio do somatório entre os gastos necessários à recomposição florestal (R$ 210.802,09) e os
dois componentes da quantia compensatória pelos danos ambientais intermediários (R$
112.421,25 e R$ 118.082,92), corresponde a R$ 441.306,26 (quatrocentos e quarenta e um
mil, trezentos e seis reais e vinte e seis centavos).
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3 CONCLUSÃO
O valor dos danos ambientais na área degradada pela extração mineral foi
estimado em R$ 441.306,26, por meio do método conhecido como Custos de Reposição. Essa
quantia se refere apenas aos gastos com a recomposição da vegetação nativa e aos danos
intermediários relacionados à perda dos serviços ambientais, sem considerar os custos e os
danos intermediários associados às medidas de estabilização dos taludes, que são mais
concernentes à área de Engenharia Civil.
É o Parecer.
[Assinatura digital]
MARIANA PIACESI BATISTA CHAVES
Analista do MPU/Perícia/Engenharia Florestal
Assessoria Nacional de Perícia em Meio Ambiente
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