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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO VARA DO TRIBUNAL DO JURI DA

CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE BRASÍLIA/DF

Auto de Prisão em Flagrante no. 241/2015– 9a Delegacia de Policia

PAULA DE CARVALHO BAPTISTA, brasileira, agente de policia, matrícula


057.484-8, filha de Antônio Nety Baptista e Lisette de Carvalho Baptista, portadora
dão CPF 265.421.021-91 e do RG 963393 SSP/DF, residente e domiciliada no
Condomínio Império dos Nobres , Quadra 02, conjunto H, casa 10, Sobradinho II,
DF, vem perante Vossa Excelência, por meio de seus advogados (instrumento
procuratório anexo), com fundamento nos artigos 321 e seguintes, do Código de
Processo Penal e no artigo art. 5º, inciso LXVI, da Constituição da República
Federativa do Brasil, requerer a concessão de

LIBERDADE PROVISÓRIA
Mediante Termo de Compromisso

Pelas razões de fato e de direito que passa a expor:


I – BREVE RESUMO DOS FATOS

A ora requerente foi presa em Flagrante, conforme consta do Auto de


Prisão em Flagrante, ora juntada, no dia 26/07/2015.

Segundo consta a requerente teria efetuado disparos de arma de fogo


contra Carlos Augusto Conforte, o qual foi socorrido e encontra-se em recuperação
após intervenção cirúrgica realizada no Hospital de Base. Em razão de tais fatos, foi
autuada no tipo penal descrito no artigo 121, Parágrafo 2 o., inciso IV c/c 14, II, do
CP.

É certo que este não é o momento processual adequado para se discutir


o mérito da demanda, de forma que os elementos fáticos serão trazidos ao longo
do feito.

No presente momento, necessária a análise do Auto de Prisão em


Flagrante para que se verifique a necessidade ou não de manutenção da prisão
cautelar que fora decretada. No caso do presente APF fica claro que nenhum
motivo existe para que seja mantida a segregação da requerente, conforme passa a
expor.

Ao receber o APF deve a autoridade judiciária analisar sua regularidade,


para que, havendo necessidade, relaxe a prisão decretada. No presente feito,
nenhuma irregularidade formal parece existir. Em um segundo momento, deve o
magistrado analisar se necessária a manutenção da prisão da autuada, convolando-
a em prisão preventiva.
No caso dos autos, nenhum motivo existe para que seja mantida a
prisão provisória da requerente, da mesma forma que nenhum dos requisitos que
autorizaria a decretação de prisão preventiva se faz presente, senão vejamos.

II– DA PRISÃO PROCESSUAL COMO MEDIDA EXCEPCIONAL

Ainda que seja preceito básico da doutrina, não é demais reafirmar que
as medidas cautelares pessoais do processo penal são medidas que devem ser
aplicadas excepcionalmente, em especial as prisões cautelares.

Tal compreensão torna-se mais clara com o advento da lei 12.403/2011


que implantou reformas e alterações ao entendimento de que a prisão do
individuo é uma contingência excepcional que deve ser substancialmente
motivada.

Como bem afirma Guilherme Nucci em sua obra “Prisão e Liberdade de


acordo com a Lei 12.403”(editora RT, 3 a. Edição, 2013): “A liberdade individual é a
regra; a prisão cautelar a exceção”. No mesmo sentido afirma o mesmo autor:

“Outro ponto positivo da nova lei é apresentar a prisão preventiva


como ultima ratio (ultima opção), primando pelo respeito aos
direitos e garantias individuais, de acordo com o princípio penal da
intervenção mínima. Eis mais um contato entre princípios penais e
processuais penais: a prisão preventiva, tanto quanto a lei
incriminadora, passa a ter a conotação de subsidiariedade”.

Tais conclusões são claramente tiradas dos Parágrafos 4 o. e 6o. do artigo


282, do CPP, com a nova redação dada pela lei mencionada.
Outrossim, há que se verificar, conforme dito anteriormente, que não há
motivos para que a prisão em flagrante realizada seja convertida em prisão
preventiva. Veja-se:

III– DA PRISÃO PREVENTIVA – AUSÊNCIA DOS ELEMENTOS ENSEJADORES –


IMPOSSIBILIDADE DE CONVERSÃO DA PRISÃO EM FLAGRANTE EM PRISÃO
PREVENTIVA

Com a devida vênia, mas não se afiguram nenhum dos requisitos


ensejadores da prisão preventiva previstos no rol taxativo do art. 312 do CPP. Daí
porque poder-se-ia haver concedida a liberdade provisória à requerente.

Garantia da ordem pública

Não há nos autos nenhuma prova ou indício de que a requerente,


estando solta durante o inquérito policial ou uma futura instrução criminal, possa
provocar qualquer abalo ou prejuízo à ordem pública. De fato, conforme
demonstrado, a autuada é Policial Civil aposentada, sem que haja qualquer
elemento que indique que sua personalidade fosse voltada para o cometimento de
delitos, sendo esse fato isolado e cuja motivação será devidamente exclarecida.

Não há, nos autos, qualquer informação que possibilite a manutenção


da prisão sobre tal fundamento, sobretudo porque a gravidade abstrata do delito e
uma suposta repercussão social NÃO são motivos que podem ensejar tal prisão,
assim entende o STF:

“Segundo remansosa jurisprudência dessa Corte, não basta a


gravidade do crime e a afirmação abstrata de que os réus
oferecem perigo à sociedade w à saúde pública para justificar a
imposição de prisão cautelar. Assim, o STF vem repelindo a
prisão preventiva baseada apenas na gravidade do delito, na
comoção social ou em eventual indignação popular dele
decorrente, a exemplo do que se decidiu no HC 80.719-SP,
relatado pelo Ministro Celso de Mello.”
(STF – HC 110.132. Min. Ricardo Lewandowski, 24.04.2012).

Não se pode aceitar, sob pena de violação à segurança jurídica, que

Conveniência da instrução criminal e asseguração a aplicação da lei penal

Com a mesma cadência acima percorrida, não há nos autos qualquer


elemento que justifique a manutenção da prisão preventiva do acusado para
assegurar a conveniência da instrução criminal, nem tampouco da aplicação da lei
penal.

Isto porque o acusado em momento algum deu motivos de que


pretendia se furtar à aplicação da lei penal, nem mesmo ameaçou qualquer
testemunha ou outra pessoa, nem tampouco esboçou qualquer intenção de fuga.

Ademais, a interpretação desse requisito deve ser restrita, no entender


de Guilherme Nucci na obra supramencionada:

“A conveniência da instrução criminal é restrita. Liga-se,


basicamente, à atuação do réu em face da captação de
provas. Se sua atitude for imparcial, inerter e
contemplativa, permitindo toda a sorte de
acontecimentos, não há inconveniência para que
permaneça solto.

Daí, também conclui-se absolutamente desnecessária a manutenção de


sua prisão preventiva porque nenhum risco para a instrução criminal e à aplicação
da lei penal a sua liberdade poderia trazer. Não há elementos.

Esse é outro requisito que deve ser interpretado restritivamente, posto


que vincula-se à uma potencial fuga do agente. Não se trata de uma presunção de
fuga, mas de colheita de dados reais. Não há nada do caso dos autos que faça
presumir tal possibilidade.

Ausência de prova da existência do crime e indício suficiente de autoria

Analisando-se os limites da peça acusatória de fls, vê-se que o acusado


foi denunciado por roubo, ocorre que não há elementos que permitam trazer tal
conclusão, nem mesmo a titulo de indícios.
Sendo assim, não pode um decreto prisional se apoiar na dúvida, na
impressão, ou mesmo solo movediço do achismo ou da incerteza, mas ao
contrário, deve apoiar-se no campo firme da certeza inabalável!

III - DOS ASPECTOS SUBJETIVOS

É irrefutável que não há nos autos nenhuma prova, ainda que mínima,
e/ou mesmo um único indício que seja capaz de autorizar a conclusão de que o réu
– estando solto durante a instrução processual – poderia delinquir.
Isto porque o acusado ainda possui:
1. Endereço fixo;
2. Bons antecedentes
3. Atividade laborativa fixa
4. Família

Estes aspectos devem ser levados em consideração, sobretudo porque


não seria lícito querer emprestar ao acusado o mesmo tratamento processual que
é dado àqueles que não se encontram na mesma situação fática.

O requerente não tem personalidade voltada para o crime.

O requerente é pessoa primária de bons antecedentes, tem residência


fixa nesta cidade, conforme documento juntado aos autos; bem como possui
vínculo familiar, que permite a conclusão no sentido de que não há risco para a
ordem pública ou inconveniente para a persecução penal com a soltura dele.
Outossim, informou desempenhar atividade laborativa como ajudante de carga da
empresa Novo Mundo.

Além de tudo isso, é cediço que a sua inocência ficará devidamente


comprovada com uma clareza solar em outro momento processual distinto desse.

Neste, apenas se pretende, por meio do presente pedido, a concessão


da liberdade provisória como contracautela à prisão em flagrante, tendo em vista
que não estão presentes os requisitos para a manutenção da prisão preventiva
previstos no art. 312, do CPP.

Verifica-se, também, que não há sequer a menor intenção de o


requerente se furtar à aplicação da lei penal, até porque, como dito, possui meios
de provar sua inocência, comprometendo-se a comparecer a todos os atos da
instrução criminal para os quais for previamente intimado.

IV – DO CABIMENTO DA LIBERDADE PROVISÓRIA

O instituto da liberdade provisória encontra-se previsto no art. 321 do


Código de Processo Penal e possui aplicação prática exatamente nos casos em que
não haja motivos para a decretação da prisão preventiva, ou mesmo quando estes
motivos tenham deixado de existir.

No caso vertente tem-se que a pena máxima aplicável ao tipo imputado


não ultrapassa o limite de 04 (quatro) anos estabelecido pelo art. 322 para a sua
concessão mediante o arbitramento de fiança.

Desta forma, o caso em tela comporta a possibilidade de soltura com o


arbitramento da garantia processual pecuniária, e mesmo que não fosse ela
cabível, não seria isto (a fiança) que pudesse retirar o direito do acusado de
responder ao presente processo gozando de sua liberdade.

Registre-se que “o princípio constitucional de inocência impede a prisão


cautelar quando não se encontrarem presentes os seus requisitos, fundados em
fatores concretos” (HC 124123 / TO, SEXTA TURMA, STJ), não sendo lícito,
portanto, a decretação da prisão preventiva que se encontre alicerçada em fatores
abstratos, e meramente informativos ou presumido.
Noutro giro, é curioso observar que o Supremo Tribunal Federal já
consolidou o seu entendimento de que mesmo nos casos de tráfico ilícito de
entorpecentes, que são crimes considerados hediondos por equiparação (art. 2º da
Lei 8.072/90), há o direito do acusado de obter para si o benefício da liberdade
provisória, sempre que não subsistir nenhum dos motivos determinantes para a
decretação da prisão preventiva.

Ora, nesse pensar, se o traficante de drogas pode obter para si a


liberdade provisória, não seria o requerente, pessoa de bem que se vê envolvida
em uma dinâmica de fatos da qual não participou, e que se adéqua a ilícito muito
menos grave, que não faria jus ao mesmo benefício processual.

É o entendimento maciço do Supremo Tribunal Federal, in verbis:


“Ementa: HABEAS CORPUS. PRISÃO EM FLAGRANTE.
TRÁFICO DE ENTORPECENTES (ART. 33 DA LEI
11.343/2006). CRIME EQUIPARADO A HEDIONDO.
INAFIANÇABILIDADE (INCISO XLIII DO ART. 5º DA CF/88).
LIBERDADE PROVISÓRIA: POSSIBILIDADE. NECESSIDADE
DE FUNDAMENTAÇÃO JUDICIAL PARA A CONTINUIDADE
DA PRISÃO. CARÁTER INDIVIDUAL DOS DIREITOS
SUBJETIVO-CONSTITUCIONAIS EM MATÉRIA PENAL.
ORDEM CONCEDIDA. 1. O indivíduo é sempre uma
realidade única ou insimilar, irrepetível mesmo na sua
condição de microcosmo ou de um universo à parte.
Logo, todo instituto de direito penal que se lhe aplique
– pena, prisão, progressão de regime penitenciário,
liberdade provisória, conversão da pena privativa de
liberdade em restritiva de direitos – há de exibir o
timbre da personalização. 2. O instituto da prisão opera
como excepcional afastamento da regra da liberdade de
locomoção do indivíduo. Donde a necessidade do seu
permanente controle por órgão do Poder Judiciário,
quer para determiná-la, quer para autorizar a sua
continuidade (quando resultante do flagrante delito).
Vínculo funcional que se mantém até mesmo em
período de “Estado de Defesa”, conforme os expressos
dizeres do art. 136 da Constituição Federal. 3. A regra
geral que a Lei Maior consigna é a da liberdade de
locomoção. Regra geral que se desprende do
altissonante princípio da dignidade da pessoa humana
(inciso III do art. 1º) e assim duplamente vocalizado pelo
art. 5º dela própria, Constituição: a) “é livre a locomoção
no território nacional em tempo de paz” (inciso XV); b)
“ninguém será privado da liberdade ou de seus bens
sem o devido processo legal” (inciso LIV). Instituto da
prisão a comparecer no mesmo corpo normativo da
Constituição como explícita medida de exceção, a saber:
“ninguém será preso senão em flagrante delito ou por
ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária
competente, salvo nos casos de transgressão militar ou
crime propriamente militar, definidos em lei” (inciso LXI
do art. 5º). Mais ainda, desse último dispositivo ressai o
duplo caráter excepcional da prisão em flagrante:
primeiro, por se contrapor à regra geral da liberdade
física ou espacial (liberdade de locomoção, na linguagem
da nossa Carta Magna); segundo, por também se
contrapor àquela decretada por ordem escrita e
fundamentada da autoridade judicial competente. Daí a
imprescindibilidade de sua interpretação restrita, até
porque a flagrância é acontecimento fugaz do mundo do
ser. Existe para se esfumar com o máximo de rapidez, de
modo a legitimar o cânone interpretativo da distinção
entre ela, prisão em flagrante, e a necessidade de sua
continuação. 4. O fato em si da inafiançabilidade dos
crimes hediondos e dos que lhe sejam equiparados não
tem a antecipada força de impedir a concessão judicial
da liberdade provisória, jungido que está o juiz à
imprescindibilidade do princípio tácito ou implícito da
individualização da prisão (não somente da pena). A
inafiançabilidade da prisão, mesmo em flagrante (inciso
XLIII do art. 5º da CF), quer apenas significar que a lei
infraconstitucional não pode prever como condição
suficiente para a concessão da liberdade provisória o
mero pagamento de uma fiança. A prisão em flagrante
não pré-exclui o benefício da liberdade provisória, mas,
tão-só, a fiança como ferramenta da sua obtenção. A
inafiançabilidade de um crime não implica,
necessariamente, vedação do benefício à liberdade
provisória, mas apenas sua obtenção pelo simples
dispêndio de recursos financeiros ou bens materiais.
Tudo vai depender da concreta aferição judicial da
periculosidade do agente, atento o juiz aos vetores do
art. 312 do Código de Processo Penal. 5. Nada obstante
a maior severidade da Constituição para com os delitos
em causa, não é possível minimizar e muito menos
excluir a participação verdadeiramente central do Poder
Judiciário em tema de privação da liberdade corporal do
indivíduo. A liberdade de locomoção do ser humano é
bem jurídico tão superlativamente prestigiado pela
Constituição que até mesmo a prisão em flagrante delito
há de ser “imediatamente” comunicada ao juiz para
decidir tanto sobre a regularidade do respectivo auto
quanto a respeito da necessidade da sua prossecução.
Para o que disporá das hipóteses de incidência do art.
312 do CPP, nelas embutido o bem jurídico da “Ordem
Pública”, um dos explícitos fins dessa tão genuína
quanto essencial atividade estatal que atende pelo
nome de “Segurança Pública” (art. 144 da CF/88). Forma
de visualizar as coisas rimada com os objetivos traçados
pela recém editada Lei 12.403/2011, notadamente ao
enfatizar o caráter excepcional da prisão cautelar. Lei
que estabeleceu diversas medidas alternativas à prisão
instrumental. 6. Na concreta situação dos autos, o ato
impugnado não contém o conteúdo mínimo da garantia
constitucional da fundamentação real das decisões
judiciais. Decisão constritiva que simplesmente apontou
o óbice à liberdade provisória, contido no art. 44 da Lei
11.343/2006, para restabelecer a prisão cautelar do
paciente. O que não tem a força de preencher a
finalidade da garantia que se lê na segunda parte do
inciso LXI do art. 5º e na parte inicial do inciso IX do art.
93 da Constituição e sem a qual não se viabiliza a ampla
defesa, nem se afere o dever do juiz de se manter
eqüidistante das partes processuais em litígio. Garantia
processual que circunscreve o magistrado a
coordenadas objetivas de imparcialidade e possibilita às
partes conhecer os motivos que levaram o julgador a
decidir neste ou naquele sentido. 7. A garantia da
fundamentação importa o dever judicante da real ou
efetiva demonstração de que a segregação atende a
pelo menos um dos requisitos do art. 312 do Código de
Processo Penal. Pelo que a vedação legal à concessão
da liberdade provisória, mesmo em caso de crimes
hediondos (ou equiparados), opera uma patente
inversão da lógica elementar da Constituição, segundo
a qual a presunção de não culpabilidade é de
prevalecer até o momento do trânsito em julgado de
sentença penal condenatória. Daí entender o Supremo
Tribunal Federal que a mera alusão à gravidade do
delito ou a expressões de simples apelo retórico não
valida a ordem de prisão cautelar, sendo certo que a
proibição abstrata de liberdade provisória também se
mostra incompatível com tal presunção constitucional
de não-culpabilidade. 8. Ordem concedida para cassar a
decisão singular que restabeleceu a custódia do
paciente, ressalvada a expedição de nova ordem
prisional, embasada em novos e válidos fundamentos.
Facultada, ainda, a adoção das medidas alternativas à
prisão cautelar, descritas no art. 319 do Código de
Processo Penal. (HC 110844, Relator(a): Min. AYRES
BRITTO, Segunda Turma, julgado em 10/04/2012,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-119 DIVULG 18-06-2012
PUBLIC 19-06-2012)”
(Grifou-se)
E mais:
“Ementa: HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE
ENTORPECENTES. DIREITO DE RECORRER EM
LIBERDADE. RESTABELECIMENTO DA PRISÃO CAUTELAR
EMBASADO TÃO-SOMENTE NO ART. 44 DA LEI DE
DROGAS. FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. ÓBICE À
SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR
PENAS RESTRITIVAS DE DIREIROS AFASTADO NO
JULGAMENTO DO HC 97.256. ORDEM CONCEDIDA. 1.
Em tema de prisão cautelar, a garantia da
fundamentação importa o dever judicante da real ou
efetiva demonstração de que a segregação atende a
pelo menos um dos requisitos do art. 312 do Código de
Processo Penal. Pelo que a vedação legal à concessão da
liberdade provisória, mesmo em caso de crimes
hediondos (ou equiparados), opera uma patente
inversão da lógica elementar da Constituição, segundo a
qual a presunção de não-culpabilidade é de prevalecer
até o momento do trânsito em julgado de sentença
penal condenatória. 2. A mera alusão à gravidade do
delito ou a expressões de simples apelo retórico não
valida a ordem de prisão cautelar; sendo certo que a
proibição abstrata de liberdade provisória também se
mostra incompatível com tal presunção constitucional
de não-culpabilidade. 3. Não se pode perder de vista o
caráter individual dos direitos subjetivo-constitucionais
em matéria penal. E como o indivíduo é sempre uma
realidade única ou insimilar, irrepetível mesmo na sua
condição de microcosmo ou de um universo à parte,
todo instituto de direito penal que se lhe aplique – pena,
prisão, progressão de regime penitenciário, liberdade
provisória, conversão da pena privativa de liberdade em
restritiva de direitos – há de exibir o timbre da
personalização. Tudo tem que ser personalizado na
concreta aplicação do direito constitucional-penal,
porque a própria Constituição é que se deseja assim
orteguianamente aplicada. 4. O flagrante há de incidir
por modo coerente com o seu próprio nome: situação
de ardência ou calor da ação penalmente vedada.
Ardência ou calor que se dissipa com a prisão de quem
lhe deu causa. Não é algo destinado a vigorar para além
do aprisionamento físico do agente, mas, ao contrário,
algo que instantaneamente se esvai como específico
efeito desse trancafiamento; ou seja, a prisão em
flagrante é ao mesmo tempo a conseqüência e o dobre
de sinos da própria ardência (flagrância) da ação
descrita como crime. A continuidade desse tipo de
custódia passa a exigir fundamentação judicial. 5. O fato
em si da inafiançabilidade dos crimes hediondos e dos
que lhe sejam equiparados parece não ter a antecipada
força de impedir a concessão judicial da liberdade
provisória, conforme abstratamente estabelecido no art.
44 da Lei 11.343/2006, jungido que está o juiz à
imprescindibilidade do princípio tácito ou implícito da
individualização da prisão (não somente da pena). Pelo
que a inafiançabilidade da prisão, mesmo em flagrante
(inciso XLIII do art. 5º da CF), quer apenas significar que
a lei infraconstitucional não pode prever como condição
suficiente para a concessão da liberdade provisória o
mero pagamento de uma fiança. A prisão em flagrante
não pré-exclui o benefício da liberdade provisória, mas,
tão-só, a fiança como ferramenta da sua obtenção (dela,
liberdade provisória). Se é vedado levar à prisão ou nela
manter alguém legalmente beneficiado com a cláusula
da afiançabilidade, a recíproca não é verdadeira: a
inafiançabilidade de um crime não implica,
necessariamente, vedação do benefício à liberdade
provisória, mas apenas sua obtenção pelo simples
dispêndio de recursos financeiros ou bens materiais.
Tudo vai depender da concreta aferição judicial da
periculosidade do agente, atento o juiz aos vetores do
art. 312 do Código de Processo Penal. 6. Nem a
inafiançabilidade exclui a liberdade provisória nem o
flagrante pré-exclui a necessidade de fundamentação
judicial para a continuidade da prisão. Pelo que, nada
obstante a maior severidade da Constituição para com
os delitos em causa, tal resposta normativa de maior
rigor penal não tem a força de minimizar e muito menos
excluir a participação verdadeiramente central do Poder
Judiciário em tema de privação da liberdade corporal do
indivíduo. Em suma: a liberdade de locomoção do ser
humano é bem jurídico tão superlativamente
prestigiado pela Constituição que até mesmo a prisão
em flagrante delito há de ser imediatamente
comunicada ao juiz para decidir tanto sobre a
regularidade do respectivo auto quanto a respeito da
necessidade da sua prossecução. Para o que disporá das
hipóteses de incidência do art. 312 do CPP, nelas
embutido o bem jurídico da Ordem Pública, um dos
explícitos fins dessa tão genuína quanto essencial
atividade estatal que atende pelo nome de Segurança
Pública (art. 144 da CF/88). 7. No julgamento do HC
97.256, da minha relatoria, o Supremo Tribunal Federal
declarou, incidentalmente, a inconstitucionalidade da
vedação à substituição da pena privativa por penas
restritivas de direitos. A desautorizar, assim, a conclusão
do magistrado sentenciante, de que “a lei impede a
aplicação dos substitutivos penais (CP, art. 44)”. 8.
Ordem concedida. (HC 108134, Relator(a): Min. AYRES
BRITTO, Segunda Turma, julgado em 22/11/2011,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-058 DIVULG 20-03-2012
PUBLIC 21-03-2012)”
(Grifou-se)

V – DOS PEDIDOS
Ex positis e forte em tais razões, requer a Vossa Excelência a concessão
de LIBERDADE PROVISÓRIA MEDIANTE ARBITRAMENTO DE FIANÇA ao acusado
para que possa exercitar o seu direito de defesa estando em liberdade.
Caso Vossa Excelência entenda necessária a manutenção de medidas
cautelares de caráter pessoal, que sejam impostas medidas do rol do artigo 319 do
CPP, diversas da segregação cautelar.

Desde logo, o requerente se antecipa ao termo e ao momento


processual adequado e se compromete a comparecer a todos os atos do processo
para os quais for intimado.

Caso seja deferido o presente pedido, pugna-se pela expedição do


competente alvará de soltura para o cumprimento imediato pela autoridade
policial que mantém sua custódia na unidade prisional.

Termos em que,
Pede e espera Deferimento.

Brasília/DF, 23 de maio de 2015.

Cristina Alves Tubino


OAB/DF 16.307

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