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EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL - EPI

No que respeita ao uso de equipamento de proteção individual ou coletiva


pelo segurado para a neutralização dos agentes agressivos, e, em consequência, a
descaracterização do labor em condições especiais, tem-se entendido que esses
dispositivos não são suficientes para descaracterizar a especialidade da atividade.

Explico:

A legislação do trabalho prevê a utilização de equipamentos de proteção


individuais e coletivos, os quais visam exatamente a evitar o risco de acidentes ou de
doenças profissionais ou do trabalho. Neste ponto, oportuna a transcrição dos arts.
190 e 191 da CLT que assim dispõem:
 
Art. 190. O Ministério do Trabalho aprovará o quadro das atividades e operações
insalubres e adotará normas sobre os critérios de caracterização da insalubridade, os
limites de tolerância aos agentes agressivos, meios de proteção e o tempo máximo de
exposição do empregado a esse agentes.
Parágrafo único. As normas referidas neste artigo incluirão medidas de proteção do
organismo do trabalhador nas operações que produzem aerodispersóides tóxicos,
irritantes, alergênicos ou incômodos.
 
Art. 191. A eliminação ou a neutralização da insalubridade ocorrerá:
I - com a adoção de medidas que conservem o ambiente de trabalho dentro dos limites
de tolerância;
II - com a utilização de equipamentos de proteção individual ao trabalhador, que
diminuam a intensidade do agente agressivo a limites de tolerância.
Parágrafo único. Caberá as Delegacias Regionais do Trabalho, comprovada a
insalubridade, notificar as empresas, estipulando prazos para a sua eliminação ou
neutralização, na forma deste artigo.
 
O ordenamento jurídico deve ser entendido como um sistema de normas
não-contraditórias e que devem ser harmonizadas pelo intérprete, no intuito de se
obter soluções igualitárias. Assim, quando ocorre de ramos distintos do Direito (como
o Direito Previdenciário e o Direito do Trabalho) lidarem com a mesma problemática,
deve o aplicador do direito enfrentar a questão da influência recíproca no tratamento
legislativo dos temas e das soluções.

Há de se entender, portanto, que se o Direito do Trabalho preconiza a


neutralização da insalubridade, tendo esta (a neutralização) por caracterizada quando
adotadas medidas que conservem o ambiente de trabalho dentro dos limites de
tolerância, ou ainda quando houver a utilização de equipamentos de proteção
individual ao trabalhador, que diminuam a intensidade do agente agressivo a limites
de tolerância, não há razão para não se aceitar isso no âmbito do Direito
Previdenciário.

Tendo em vista o caráter protetivo da legislação previdenciária aos


trabalhadores expostos a agentes nocivos à saúde ou a integridade física, ou seja,
exceção à regra, que encontra previsão constitucional para preservar a saúde, para
desconsiderar a exceção dessa regra, somente mediante prova robusta e inequívoca
em contrário, a qual, ratifica-se, não se restringe ao simples preenchimento do Perfil
Profissiográfico Previdenciário – PPP.

Isso, a propósito, está consagrado no artigo 151 da Instrução Normativa


INSS/DC nº 57, de 10.10.01:
 
Art. 151. A utilização de EPI ou de EPC, por si só, não descaracteriza o enquadramento
da atividade.
§ 1º Não caberá o enquadramento da atividade como especial, se, independentemente
da data de emissão, constar do laudo técnico, e a perícia do INSS, observado o disposto
no artigo 173 desta Instrução, confirmar, que o uso de EPI ou de EPC atenua, reduz ou
neutraliza a nocividade do agente a limites legais de tolerância. (...)
 
Não se pode perder de vista, todavia, que sob a égide da Ordem de Serviço
INSS/DSS nº 564, de 9 de maio de 1997 a situação era diversa. Estatuía seu item 12.2.5:

O uso de Equipamento de Proteção Individual - EPI não descaracteriza o


enquadramento da atividade sujeita a agentes agressivos à saúde ou à integridade
física.

A Ordem de Serviço INSS/DSS nº 564/97 somente foi revogada pela Ordem


de Serviço nº 600, de 02 de junho de 1998 (item 7). Esta OS (a 600), já passou a
considerar que o uso de EPI poderia afastar a caracterização da atividade especial
(item 2.2.8.1). O que se percebe é que o INSS aceitava até junho de 1998 como tempo
especial (e com certeza concedeu benefícios em tais condições) a atividade sujeita
agentes nocivos, mesmo com o uso de EPI. Não se pode agora dar tratamento
diferenciado a segurado somente porque efetuou requerimento após a revogação da
OS 564/97. É a aplicação do princípio tempus regit actum.

Aliás, quanto ao uso de EPI's, mostra-se pacífico o entendimento no


Superior Tribunal de Justiça (REsp nº 462.858/RS, Relator Ministro Paulo Medina, Sexta
Turma, DJU de 08-05-2003), no sentido de que os equipamentos de proteção não são
suficientes para descaracterizar a especialidade da atividade, a não ser que
comprovada a sua real efetividade, por meio de perícia técnica especializada, e desde
que devidamente demonstrado o uso permanente pelo empregado, durante a jornada
de trabalho. Nesse sentido:

PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO LEGAL. EPI EFICAZ NÃO AFASTA RECONHECIMENTO DE


TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL. PRECEDENTES DO E. STJ E DESTA C. CORTE. AGRAVO A
QUE SE NEGA PROVIMENTO. - Quanto à existência de EPI eficaz, a eventual
neutralização do agente agressivo pelo uso de equipamentos de proteção
individual não tem o condão de descaracterizar a natureza especial da atividade
exercida, uma vez que tal tipo de equipamento não elimina os agentes nocivos à
saúde que atingem o segurado em seu ambiente de trabalho, mas somente reduz
seus efeitos, não sendo motivo suficiente para afastar o reconhecimento do tempo de
serviço em condições especiais pretendida. Precedentes do E. STJ e desta C. Corte. - - Os
argumentos trazidos pelo Agravante não são capazes de desconstituir a Decisão
agravada. - Agravo desprovido.
(TRF-3 - AC: 00018485620134036140 SP, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL
FAUSTO DE SANCTIS, Data de Julgamento: 09/03/2015, SÉ TIMA TURMA, Data de
Publicaçã o: 17/03/2015)
 
PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. TEMPO DE SERVIÇO JÁ AVERBADO PELO INSS.
CARÊNCIA DE AÇÃO. CONVERSÃO DE APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO EM
ESPECIAL. MAJORAÇÃO DA APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO. ATIVIDADE
ESPECIAL. CONVERSÃO PARA TEMPO COMUM. LEI N. 9.711/98. DECRETO N. 3.048/99.
EPI. (...)
6. Os equipamentos de proteção individual não são suficientes para descaracterizar a
especialidade da atividade exercida, porquanto não comprovada a sua real efetividade
por meio de perícia técnica especializada e não demonstrado o uso permanente pelo
empregado durante a jornada de trabalho.
7. É devida a revisão da aposentadoria por tempo de serviço proporcional em integral,
se comprovado o tempo de serviço exigido pela legislação previdenciária. (TRF4,
APELREEX 2007.71.00.003962-6, Sexta Turma, Relator Celso Kipper, D.E. 15/12/2009).
 
Em outro julgamento, a Turma Nacional de Uniformização dos Juizados
Especiais Federais – TNU possui precedente no sentido de que o uso de equipamento
de proteção individual – EPI não impede a concessão de aposentadoria especial. A
decisão foi proferida em incidente de uniformização no qual o trabalhador recorreu do
indeferimento do contagem do tempo de serviço em que trabalhou como atendente
de enfermagem em um hospital de traumatologia (2007.72.95.00.9182-1).

Assim, é de se considerar que, somente, para as atividades exercidas após


02 de junho de 1998, não caberá o enquadramento, como especial, se constar do
laudo técnico que o uso de EPI ou de EPC atenua, reduz ou neutraliza a nocividade do
agente nocivo a limites legais de tolerância.

No presente caso, os laudos ambientais (descrever) não são suficientes


para comprovar que a utilização dos equipamentos de proteção coletiva e individual
são passiveis de afastar a insalubridade do ambiente de trabalho.

Por fim, não houve, por parte do INSS, impugnação específica quanto ao
documento referido. Assim, ele é suficiente à análise da especialidade também para o
período posterior a 05-03-1997 (Precedente TNU, Processo 2009.70.61.000792-5, Rel.
Juiz Federal Rogério Moreira Alves, j. em 27-06-2012). Somente descrever esse
parágrafo se não houve impugnação do INSS. Usar esse parágrafo na réplica a
contestação.

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