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BIOCLIMATISMO NA ARQUITETURA E NO URBANISMO

Plano de Curso da Disciplina - 1° Semestre de 2006


Professora : Marta Adriana Bustos Romero

1.EMENTA
Bioclimatologia humana e percepção ambiental do ambiente higrotérmico,
luminoso, sonoro e da qualidade do ar, métodos e técnicas de coleta e tratamento
dos dados climáticos visando o projeto.

2. PROGRAMAÇÃO
2.1 Apresentação
O tratamento que é dispensado ao espaço construído não contempla todas
suas dimensões, privilegiando, a maioria das vezes, unicamente os aspectos
funcionais, negligenciando os elementos próprios do lugar, especialmente os
ambientais, que devido a sua especificidade lhe outorgam caráter e o definem nas
suas feições fundamentais.
Para caracterizar uma abordagem que leve em conta o meio onde está
inserido o espaço objeto de intervenção é necessário recuperar a influência do lugar
nas decisões de desenho, principalmente os aspectos climáticos, culturais,
tecnológicos e históricos do mesmo. Em outras palavras recuperar o que o genius
loci representava para outras gerações e culturas, pois a obra de arquitetura é
inseparável de seu entorno, não apenas na sua dimensão física, mas também
conceitualmente: a arquitetura pode ser concebida somente a partir de sua
localização num sítio concreto.
Apresentamos uma concepção que leva em conta os elementos do meio onde
o espaço construído está inserido, procuramos o acondicionamento natural do
espaço, utilizando para tanto a avaliação integrada dos elementos térmicos, da luz,
do som e da cor. Assim constitui-se a concepção Bioclimática, que pode ser definida
como aquela que abriga princípios de desenho que utilizam a adequação ao lugar e
à cultura do lugar como parâmetro fundamental. Os elementos de desenho
bioclimático compreenderão os elementos condicionantes do espaço em si, por um
lado e os elementos condicionantes do espaço marco por outro, criando assim os
parâmetros de desenho ambiental integrado. Daí afirmarmos que o desenho
resultante da aplicação destes princípios inevitavelmente deverá demonstrar
domínio histórico, cultural, ambiental e tecnológico.
Estes elementos condicionantes contribuem diretamente para a prática do
desenho urbano e para o processo formal de materialização da forma urbana. A
base tecnológica é necessária para que o espaço urbano seja tratado como espaço
arquitetônico, obtendo assim o projeto arquitetônico do espaço público.
Propomos, então o tratamento do espaço público a partir de uma visão
arquitetônica, embora se trate de uma temática que tradicionalmente é concebida a
partir de uma perspectiva urbanística. Mediante a nossa proposta, queremos
introduzir a concepção sensorial1, assim como a possibilidade de modelar o espaço,
incorporando os materiais do espaço, os espaços do som, a estética da luz e os
atributos da cor.
O desencanto crescente (as vezes eterno) que nos proporcionam os espaços
urbanos em geral nos leva a procurar formas de aproximação de um desenho
pautado por outros princípios que não sejam as experimentações conduzidas pela
arquitetura moderna, e que visam uma ordenação diferente do espaço aberto e que
têm se caracterizado por uma intervenção pública puramente defensiva: ao não
saber intercalar as áreas verdes nos espaços abertos, aquelas têm reduzido estes a
um simples fato quantitativo fragmentário. Para reverter em alguma medida este
quadro, precisamos nos aproximarmos da cidade, e olhar seus desacertos
minuciosamente, para assim extrair de sua descarnada realidade elementos que
venham compor, recompor, remendar, costurar o tecido urbano.
O relativo fracasso do urbanismo moderno motivaram a busca de soluções
para melhorar a qualidade do tecido urbano central e para, nas palavras de
Bohigas, monumentalizar a periferia. A periferia para as cidades européias é
somente uma parte do quadro construído; ao contrário, para nossas cidades ela
representa, cada vez mais, o quadro urbano consolidado, sem aparente alternativa.
Assistimos à construção de nossas cidades com um perfil descaracterizado, alheio,
feio, desajeitado, que induz, muito antes de ele envelhecer, ao abandono e ao
destrato.
Acreditamos que a cidade precisa de um tratamento diferente, um
tratamento que alie uma série de elementos sensoriais, que irão se perfilar somente
a partir de um olhar muito próximo, aquele que permitiria visualizar os resquícios
de beleza que nela ainda subsistem.
Precisamos desenhar e pensar a cidade com tanta intenção como se tratasse
de um edifício, não podemos cobri-la de remendos de concreto e asfalto
barbaramente lançados desde a carretilha de um pedreiro. Precisamos a
intencionalidade do meio-fio, da sarjeta, da calcada, da rua, da fachada, dos
elementos que emolduram os espaços e os espaços públicos em particular. E
consideramos que um tratamento arquitetônico de espaço público é um passo nessa
direção.
O espaço público não deve ser tratado como um objeto acabado. Os modelos
e movimentos uniformizantes se mostram desnecessários se objetivamos que o
espaço público reflita as manifestações espaciais da sociedade, e adequação ao
lugar. Conseqüentemente, as necessidades ambientais dos diferentes espaços
públicos não são as mesmas; estas devem ser pesquisadas a partir da aplicação de
métodos de análise e tratamento como o que aqui propomos, que contemplem, em
sua totalidade, variáveis que são constitutivas deste objeto urbano.
Essas características constroem a processualidade do Bioclimatismo2 e
demandam metodologia de aplicação muito flexível. Métodos e procedimentos para
obter soluções bioclimáticas devem reger-se pela integração dos aspectos
climáticos, históricos e culturais em suas diversas etapas, assim como tais etapas

1
Próxima de uma arquitetura objeto de prazer dos sentidos, onde a água, a luz, a cor, o som e os aromas sejam elementos que
entrem a ordenar o espaço como estímulos dimensionais.
2
Consideramos que o Bioclimatismo representa, de alguma forma, uma superação e, como uma etapa atual do movimento
climático-energético, a conceituamos, então, como uma forma lógica de desenho que reconhece a persistência do existente,
culturalmente adequada ao lugar e aos materiais locais e que utiliza a própria concepção arquitetural como mediadora entre o
homem e o meio. Por tal motivo, adotamos seus princípios para fazer a análise do desempenho das constantes morfológicas.
devem retroalimentar-se continuamente. Substitui-se, assim, o modelo tradicional
analítico, atomizado e temporalmente estático, por atividades com revisão periódica
e adaptação às características da realidade.

3 OBJETIVOS
3.1 Objetivos Gerais

1. Obter conhecimento básico e aplicado, contribuindo para os estudos comparados


sobre a problemática ambiental do espaço urbano e edificado.
2. Promover a geração de conhecimentos e estimular a prática profissional de
pesquisa com envolvimento didático do corpo docente e discente.
3. Contribuir para a formação profissional do arquiteto, pesquisador e professor,
tanto mediante a transformação e organização de dados de pesquisa em
conteúdos aplicados para a formação contínua destes perfis profissionais, quanto
através da organização de um acervo de material didático culturalmente
relevante.

3.2 Objetivos específicos

1. Conhecer os elementos que contribuem para a viabilidade ambiental, do


ponto de vista integrado de uma avaliação sensorial, dos elementos que compõem
o meio construído.
2. Examinar no ambiente construído da Cidade, através de uma pesquisa
básica, a interação com as energias naturais do meio urbano (sol, vento, som) das
morfologias do tecido urbano de uma determinada região e o desempenho
ambiental dos espaços urbanos em geral, e dos espaços públicos abertos externos.
3. Consolidar o conhecimentos de métodos de projeto. Sistematizar os
conhecimentos obtidos em quadros ou fichas de auxílio ao projeto.
4. Revisão, aplicação e comentários dos softwares nacionais e estrangeiros
disponíveis na área Bioclimática.
5. Conhecer os princípios bioclimáticos, as normas e refletir sobre sua
abrangência e alcance. Descrever as condições ambientais, positivas e negativas,
propícias às atividades humanas de um espaço. Aplicar metodologia de análise que
se aproxime da concepção sensorial. Realizar diagnóstico da adequação do
construído ao lugar onde está inserido.

4. PROCEDIMENTOS E AVALIAÇÃO
A disciplina será desenvolvida através de aulas expositivas e de seminários sobre as
leituras obrigatórias. Está prevista a leitura e discussão de textos diversos e a
realização de tarefas individuais, e/ou em grupo, a serem debatidas de forma a
preencher um quadro de referência. Os temas dos trabalhos individuais ou em
grupos serão selecionados junto com os alunos. A avaliação dos alunos será feita a
partir de sua participação nos seminários e dos trabalhos realizados, tendo como
critério a qualidade e as contribuições individuais.
5. CRONOGRAMA DAS ATIVIDADES

Abril 28 Apresentação Plano de Curso


Maio 05 Aula expositiva
12 Aula expositiva
19 Aula expositiva / Organização da aplicação de método de
análise num espaço objeto de estudo.
26 Trabalho de Campo / Organização das Informações

Junho 02 Aula expositiva


09 Aula expositiva
16 Aula expositiva
23 Organização das Informações
30 Seminário de apresentação dos trabalhos Aula expositiva
Julho 07 Aula expositiva
14 Aula expositiva
21 Preparação Trabalho Final
28 Preparação Trabalho Final
Agosto 04 Seminário de Apresentação / Avaliação

1. BIBLIOGRAFIA

ABNT NBR 15220-3 Desempenho Térmico de Edificações - Parte 3: Zoneamento


bioclimática brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de
interesse social.
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