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SAÚDE DA CRIANCA E
ADOLESCENTE
autoras
LUCIANE PEREIRA DE ALMEIDA
CAROLINA GUIZARDI POLIDO
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2017
Conselho editorial roberto paes e gisele lima
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2017.
isbn: 978-85-5548-516-9
Prezados(as) alunos(as),
Bons estudos!
7
1
Políticas,
programas e
conceitos básicos
sobre o crescimento
e desenvolvimento
infantojuvenil
Políticas, programas e conceitos básicos
sobre o crescimento e desenvolvimento
infantojuvenil
Este capítulo visa proporcionar conhecimento acerca da evolução dos progra-
mas e das políticas instituídas no Brasil no que tange à atenção à saúde da criança,
além de proporcionar o reconhecimento de aspectos-chave no crescimento e no
desenvolvimento infantojuvenil.
OBJETIVOS
• Compreender os objetivos e os fundamentos dos principais programas instituídos pelo
Ministério da Saúde com vistas à redução da morbimortalidade infantil;
• Fornecer subsídios básicos para que o aluno entenda a atuação do enfermeiro na saúde
da criança e do adolescente;
• Reconhecer os marcos do crescimento e do desenvolvimento na primeira infância;
• Apontar os marcos da maturação sexual na adolescência;
• Conhecer as principais classificações conceituais em neonatologia;
• Reconhecer a importância da amamentação.
Até perto do século XX, no mundo todo, as crianças eram vistas como adultos
em miniatura, sendo cuidadas por escravas, e na maior parte das vezes eram sub-
metidas a condições insalubres, causando altas taxas de morbidade e mortalidade
infantil, que podiam chegar a exorbitantes 70% de todas as crianças nascidas.
No Brasil, as ações em saúde da criança começaram indiretamente principal-
mente a partir do início do século XX de forma a evitar as abstenções de mulhe-
res no ambiente de trabalho motivadas por filhos doentes, e também com foco
no crescimento de adultos saudáveis e que pudessem se inserir mais rapidamente
na composição da força de trabalho exigida para o desenvolvimento econômico
e industrial. Essas ações englobavam principalmente o incentivo ao aleitamento
capítulo 1 • 10
materno e à atenção pré-natal, que eram gerenciadas pelo Departamento Nacional
da Criança (DNCr), e não previam a prevenção de doenças (lembre-se de que
nesta época o modelo de atenção à saúde predominante era curativo).
A partir de dos anos 1970, com a destituição do DNCr e criação do Programa
Nacional de Saúde Materno-Infantil (PNSMI), este cenário começou a mudar, e
a criança passou a ser um dos objetos do cuidado em saúde. Dentre as ações do
programa, destacam-se o fortalecimento do aleitamento materno; a orientação fa-
miliar sobre a alimentação em situação de desmame; a orientação sobre estratégias
para o controle das afecções respiratórias agudas; a imunização básica e as tentati-
vas de controle efetivo das doenças diarreicas; o acompanhamento profissional do
crescimento e do desenvolvimento infantil.
Já na década de 1980, o PNSMI foi dividido em Programa de Assistência
Integral à Saúde da Mulher (Paism) e Programa de Assistência Integral à Saúde
da Criança (Paisc). Isso se deve ao fato de que, apesar dos avanços obtidos, não
se conseguia reduzir os altos índices morbimortalidade infantil, que chegavam a
exorbitantes números de mais de 100 mortes a cada 1.000 nascidos vivos. Assim,
os principais objetivos colocados ao Paisc eram o enfrentamento às adversidades
nas condições de saúde da população infantil e a promoção da saúde, estabelecen-
do metas que visavam qualificar a assistência à saúde da criança, expandir o acesso
à saúde e priorizar a identificação de crianças que pertenciam a grupos considera-
dos como risco.
ATENÇÃO
Considera-se que uma criança é de risco se uma das seguintes condições for preenchidas:
• Ser residente em área de risco;
• Ter nascido com baixo peso (menos de 2.500 g);
• Se for prematuro (menos de 37 semanas de gestação);
• Se passou por asfixia neonatal (apgar menor do que 7 no 5° minuto de vida);
• Estiver internada ou tiver passado por intercorrência no parto;
• Se a mãe for adolescente;
• Se a mãe tiver baixa instrução (menos de 8 anos de estudo);
• Se na família houver história de óbito infantil nos últimos 5 anos.
capítulo 1 • 11
Apesar das iniciativas de amparo e proteção à criança no Brasil, não se conse-
guiu, no século XX, alcançar os índices satisfatórios da redução da morbimortali-
dade infantil em virtude das precárias condições de moradia, do analfabetismo, da
violência física, psicológica e sexual contra crianças, além da exploração do traba-
lho infantil, entre outras condições que colocavam em risco o desenvolvimento e
a vida não somente das crianças como dos adolescentes.
Em 1988, os direitos das crianças e dos adolescentes passaram a integrar a
Constituição da República Federativa do Brasil e em 1990 foi instituída a Lei
Federal no 8.069 e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O ECA
dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente e, dentre inúmeros
direitos, também foram assegurados o direito à proteção, à vida e à saúde, bem
como o direito de um dos pais ou responsáveis de permanecer em tempo integral
com a criança.
Pelo ECA considera-se criança a pessoa até 12 anos de idade incompletos, e
adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade e, em alguns casos pode se aplicar
a pessoas entre 18 e 21 anos de idade (vide artigos 121 e 142 do ECA). Seu cum-
primento é fiscalizado por meio dos Conselhos Tutelares, e todo município deve
ter pelo menos um Conselho Tutelar, composto por cinco membros escolhidos
pela comunidade local para um mandato de 3 anos com direito a uma reeleição.
Na ausência do Conselho Tutelar, recorre-se à Vara da Infância e da Juventude, à
Defensoria ou ao Ministério Público em situações que infrinjam o ECA.
Mesmo após as iniciativas de amparo e proteção à criança no Brasil entre
1970 e 1990, não se conseguia alcançar os índices satisfatórios que assegurassem
o bem-estar das crianças. Então, em 1990 os governantes e lideranças internacio-
nais se reuniram em Nova York para a Cúpula Mundial pela Criança, e decidiram
adotar um conjunto de medidas para garantir as crianças melhores condições de
vida, trabalhando em favor da saúde e dos direitos das crianças e das mães, tendo
como metas traçadas a redução da mortalidade infantil, o aumento da cobertura
imunológica e o fornecimento da educação básica, assumindo o compromisso de
dar à criança um futuro melhor.
Ainda em 1990 foi instalada a Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC),
idealizada em 1990 pela Organização Mundial de Saúde e pela Unicef. Por meio
da IHAC hospitais e maternidades credenciados como “Amigos da Criança” redi-
recionam suas práticas e rotinas na promoção, proteção e no apoio ao aleitamento
materno, visto que a amamentação é capaz de promover o crescimento saudável e
prevenir agravos, além de reforçar as atividades de educação em saúde, e recebem
capítulo 1 • 12
em contrapartida aumento no repasse de verbas para investimento. Em conjun-
to, mudanças no cenário da atenção básica em saúde, como o investimento na
promoção da saúde e prevenção de agravos, a instituição do Programa de Saúde
da Família (mais tarde Estratégia de Saúde da Família) e a criação do Programa de
Agente Comunitário de Saúde (PACS), ajudaram a reorganizar a atenção básica e
as redes de atenção em saúde, aproximando o cuidado em saúde da população e
propiciando a detecção de crianças de grupos de risco.
Dessa forma, foram traçadas também as Ações Básicas da Assistência Integral
à Saúde da Criança como prioridade para o alcance na redução da mortalida-
de infantil, envolvendo a atenção ao recém-nascido, a promoção do aleitamento
materno, o acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento da criança,
as imunizações e a prevenção e o controle das doenças diarreicas e das infecções
respiratórias agudas.
Todavia, foi no século XXI que houve grande crescimento nos programas de
saúde com vistas à redução das altas taxas de morbimortalidade materna e perina-
tal. Dentre esses programas destacam-se:
• Programa de Humanização do Pré-Natal, Parto e Nascimento, instituí-
do pelo Ministério da Saúde, por meio da Portaria/GM no 569, de 1o/6/2000,
que promove a atenção integral, humanizada e segura desde a concepção ao
nascimento;
• Norma de Atenção Humanizada ao Recém nascido de Baixo Peso (Método
Canguru) - Portaria no 693, de 5 de julho de 2000, atualizada pela Portaria no
1.683, de 12 de julho de 2007, contribuiu para a mudança de postura dos profis-
sionais e visando à humanização da assistência ao recém nascido, principalmente
àqueles em situação de risco e adoção do Método Canguru em situações em que
seja possível;
• Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI), com vistas
à redução da morbimortalidade na infância relacionadas às maiores causas de mor-
bimortalidade infantil e doenças da infância;
• Assistência Integral à Saúde da Criança: promove o acompanhamento do
crescimento e desenvolvimento infantil, com a finalidade de contribuir para a me-
lhoria da qualidade das práticas assistenciais à criança assim como a qualidade de
vida mediante a monitoração do seu crescimento e desenvolvimento;
• Agenda de Compromissos para a Saúde Integral da Criança e Redução da
Mortalidade Infantil: estabelece o padrão mínimo de cuidados na saúde da crian-
ça, integrando, apoiando e organizando todas as linhas de cuidado à criança.
capítulo 1 • 13
Dentro dos programas, sobre as linhas de cuidado, destacam-se a atenção huma-
nizada e qualificada à gestante e ao recém-nascido; a triagem neonatal: teste do pe-
zinho, orelhinha e coraçãozinho; o incentivo ao aleitamento materno; o incentivo e
a qualificação do acompanhamento do crescimento e desenvolvimento; a promoção
da alimentação saudável e prevenção do sobrepeso e obesidade infantil; o combate
à desnutrição e anemias carenciais; a imunização; a atenção às doenças prevalentes;
a atenção à saúde mental; a atenção à saúde bucal; a prevenção de acidentes, maus-
tratos/violência e trabalho infantil e a atenção à criança portadora de deficiência.
Como resultado da união de todas as políticas e ações em saúde da criança,
temos, de forma bem sintética, os instrumentos que nos permitem avaliar e acom-
panhar o crescimento e o desenvolvimento – a Caderneta de Saúde da Criança,
que é utilizada até os 10 anos de idade e, para os adolescentes, a Caderneta de
Saúde do Adolescente.
Que tal fazer uma busca na Biblioteca Virtual em Saúde e ver estas cadernetas?
CURIOSIDADE
Você conhece os Objetivos do Milênio? Já ouviu falar deles?
Disponível em: <http://www.objetivosdomilenio.org.br>.
capítulo 1 • 14
A Política de Atenção Integral à Saúde da Criança visa sete eixos estratégicos
que são: atenção humanizada e qualificada à gestação, parto, nascimento e recém-
nascido; aleitamento materno e alimentação complementar saudável; promoção e
acompanhamento do crescimento e desenvolvimento integral; atenção a crianças
com agravos prevalentes na infância e com doenças crônicas; atenção à criança
em situação de violências, prevenção de acidentes e promoção da cultura de paz;
atenção à saúde de crianças com deficiência ou em situações específicas e de vul-
nerabilidade; vigilância e prevenção do óbito infantil, fetal e materno.
Vale lembrar que a saúde infantil apresenta relação íntima com as condições
básicas de vida, como renda familiar, condições de moradia, educação, saneamen-
to básico, condições de lazer entre outras.
Na primeira semana de vida da criança, temos o que se chama de primeira
semana integral: tanto o bebê como a mãe devem ser atendidos de forma a se
pensar a integralidade e a totalidade das ações em saúde, e a equipe deve estar
atenta à amamentação, ao relacionamento mãe-filho, deve fornecer para a mãe
o cuidado necessário referente ao parto, puerpério e contracepção, estabelecer e
orientar a rotina de acompanhamento da puericultura e estar pronta para sanar
todas as dúvidas apresentadas pela mãe, além de fazer todas as avaliações de saúde
da mãe e do recém-nascido.
Com relação à criança em idade escolar e ao adolescente, as políticas e pro-
gramas de saúde preveem que haja um estreitamento dos laços entre as unidades
de saúde a as escolas, praticando-se a promoção da saúde e prevenção de doenças,
além de fornecer educação em saúde.
Pelo que apresentamos, é possível perceber que o enfermeiro assume impor-
tância especial diante da sua atuação nos cenários assistenciais quando se fala de
promoção da saúde de crianças e adolescentes. Por meio da assistência de en-
fermagem, realizada tanto nas unidades básicas de saúde quanto nas unidades
hospitalares, conseguimos englobar atividades de educação e promoção da saú-
de. Desenvolvendo nossas habilidades comunicativas com a família, conseguimos
atuar na promoção do crescimento e desenvolvimento infantil dentro dos parâme-
tros adequados de saúde. Ademais, o envolvimento do enfermeiro com a popula-
ção infantojuvenil permite a compreensão da realidade dessa clientela, por meio
da abordagem integral do processo-doença e de seus determinantes, possibilita a
transformação das condições de saúde, além de auxiliar no desenvolvimento da
vida com dignidade.
capítulo 1 • 15
CONEXÃO
Agenda de Compromissos para a Saúde Integral da Criança e Redução da Morta-
lidade Infantil. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/agenda_
compro_crianca.pdf>.
capítulo 1 • 16
CALENDÁRIO NACIONAL DE VACINAÇÃO DE 2017
Grupo Pneumocócica Rotavírus Meningocócica C Duplo
Idade BCG Hepatite B Penta/DTP VIP/VOP Febre Amarela Hepatite A** Tríplice Viral Tetra Viral*** HPV dTpa****
Alvo 10V (conjugada)* Humano (conjugada)* Adulto
Dose Dose ao
Ao nascer
única nascer
1a dose
2 meses 1a dose 1a dose 1a dose
(com VIP)
3 meses 1a dose
2a dose
a a a
4 meses 2 dose 2 dose 2 dose
(com VIP)
5 meses 2a dose
3a dose
a
6 meses 3 dose
Crianças
(com VIP)
9 meses Uma dose
12 meses Reforço Reforço 1a dose
Uma dose
a a
1 Reforço 1 Reforço (15 meses
15 meses Uma dose
(com DTP) (com VOP) até 23
meses)
2a Reforço 2a Reforço
4 anos Reforço
capítulo 1
(com DTP) (com VOP)
Reforço
9 anos a cada
• 17
(10 anos)
01 reforço ou 2 doses
3 doses uma dose única Uma dose e um (meninas de 9
Reforço
10 a 19 (verificar Uma dose e um reforço (verificar a 14 anos) 2
a cada
anos a situação reforço (verificar a a situação doses (meninos
(10 anos)
Adolescesnte
vacinal) situação vacinal – vacinal) de 12 a 13
12 a 13 anos) anos)
3 doses Uma dose e um 2 doses
20 a 59 (verificar reforço (verificar (20 a 29 anos)
Adulto
anos a situação a situação 1 dose
vacinal) vacinal) (30 a 49 anos)
3 doses Uma dose e um
Reforço
60 anos (verificar reforço (verificar
a cada
Idoso
ou mais a situação a situação
(10 anos)
vacinal) vacinal)
3 doses 3 doses Uma dose a
(verificar (verificar cada gestação
situação situação a partir da 20a
Gestante
vacinal) vacinal) semana
BRASIL, 2017
Assim, além de atuar ativamente contra as doenças imunopreveníveis da infân-
cia, conseguimos também obter informações de acordo com cada faixa etária da
criança e é possível detectar eventuais deficiências dentro dos marcos que se relacio-
nam ao crescimento e desenvolvimento. É importante ressaltar que o reconhecimen-
to precoce dos desvios em relação ao considerado “normal” permite ao profissional
de saúde o planejamento de ações direcionadas aos problemas identificados.
Embora o crescimento e o desenvolvimento estejam intimamente relaciona-
dos, correspondem a fenômenos distintos, pois uma criança pode apresentar o
padrão de crescimento esperado para a sua faixa etária, porém, pode não se desen-
volver emocionalmente, e o contrário também é possível. Um exemplo disso
são crianças portadoras de síndromes que comprometem a maturidade mental,
como as portadoras de síndrome de Down, que apresentam o crescimento equiva-
lente ao de uma criança não sindrômica da mesma idade, mas demonstram retar-
do no desenvolvimento neuropsicomotor. Para condições em que o crescimento e
o desenvolvimento não está sujeito a alterações clínicas que os comprometam, po-
de-se esperar a inter-relação do meio ambiente com os fatores hereditários. Dessa
forma, os fatores extrínsecos (relacionados ao ambiente) envolvem as condições
de estimulação biopsicossocial, dieta adequada e atividade física da criança; já os
fatores intrínsecos, relacionados aos fatores genéticos, têm maior relação no cres-
cimento da criança a partir da fase escolar.
Conceitualmente, crescimento se refere à multiplicação das células e ao au-
mento de tamanho da criança, resultando em aumento de sua estrutura e com-
posição corporal. Corresponde ao crescimento do tecido esquelético e deve ser
considerado um bom parâmetro para a avaliação da criança, pois é cumulativo,
progressivo e não sofre regressões. Já o desenvolvimento refere-se às mudanças que
se processam desde a transição de estado indefeso da 1a infância até a maturidade
física e emocional, por meio das situações de trocas entre o indivíduo e o ambien-
te, envolvendo também a parte emocional, cognitiva, emocional e física. De forma
geral, o crescimento pode ser considerado quantitativo, pois é mensurável, e o de-
senvolvimento é qualitativo, pois é observável, mas não é passível de ser medido.
Apesar do processo de crescimento e desenvolvimento estar relacionado com
a individualidade de cada criança (cada uma dentro do seu ritmo e de sua velo-
cidade), no acompanhamento desses marcos existem os padrões contínuos, pro-
gressivos e ordenados considerados “normais”, e seguem sempre no sentido cé-
falo-podal (da cabeça em direção aos pés), próximo-distal (de perto para longe
– controle do que é mais próximo ao tronco para depois o que é mais distante) e
de diferenciação (desenvolvimento das funções simples para mais complexas), o
capítulo 1 • 18
que se chama de desenvolvimento “geral para o específico”, e envolve não somen-
te o físico, mas também o mental, social e emocional. Observe o quadro a seguir,
com as linhas mais marcantes do desenvolvimento neuropsicomotor:
BRASIL, 2002, p. 93
capítulo 1 • 19
Dentre os aspectos do desenvolvimento que a criança apresenta nesse período,
podem-se destacar os reflexos de moro, preensão, cutâneo plantar, tônico-cervical e
marcha, que no primeiro mês de vida, encontram-se mais vigorosos. A partir de dois
meses, a criança inicia o sorriso social o qual é manifestado pelos estímulos de comu-
nicação com os cuidadores. No período de 2 a 4 meses, o lactente quando colocado de
bruços, levanta a cabeça momentaneamente. Entre 4 a 6 meses o bebê vira a cabeça em
direção a uma voz ou um objeto sonoro. Em geral, a partir do 7o mês senta-se sozinho
e sem apoio e entre 6 a 9 meses, começa a arrastar e sequencialmente a engatinhar.
Nesse último período, o bebê pode chorar na presença de pessoas estranhas. Entre 9
meses a um ano, o bebê fica em pé sem apoio e também consegue andar com apoio.
Aos 12 meses, a criança dá passos sem apoio; aos 18 meses anda sozinha com mais
segurança e raramente cai. Aos 15 meses, em geral a criança corre e/ou sobe degraus
baixos. Aos 2 anos, a criança já reconhece a sua imagem no espelho e inicia o contro-
le esfincteriano. Além disso, sobe de desce degraus baixos, com apoio no corrimão.
Ainda, aos 3 anos, a criança consegue ficar momentaneamente sobre um pé só; aos 4
anos ela pula sobre um pé só e aos 5 anos consegue pular alternado os pés.
Atenção: este quadro de desenvolvimento se refere aos bebês nascidos dentro
do período adequado gestação, entendido como “nascidos a termo”, ou seja, entre
37 e 41 semanas de gestação e sem alterações que interfiram em seu desenvolvi-
mento. A prematuridade (bebês nascidos antes de 37 semanas) interfere na matu-
ração cerebral e, portanto, no desenvolvimento e crescimento adequados. Outros
fatores como a oferta inadequada de alimento, condições mínimas de higiene e
acesso à saúde podem alterar o desenvolvimento neuropsicomotor. Esses conceitos
serão melhor explorados nos próximos capítulos.
CURIOSIDADE
É durante a primeira infância que a criança aprende os valores que levará para a vida
toda, e sua personalidade será cópia da personalidade da pessoa com quem ela mais convive
até cerca de 7 anos, quando começará a desenvolver seus próprios traços de personalidade,
com base nos exemplos, princípios e valores dados pela família, não importando o modelo de
família em que se insere.
capítulo 1 • 20
• Período pré-escolar: de 2 a 6 anos incompletos;
• Período escolar: de 6 a 12 anos incompletos;
• Período adolescente: dos 12 aos 19 anos.
3 17
17
16 16
15 2 15
14 14
13 13
12 12
0
11 11
10 10
–2 9
9
8 –3 8
7 7
6 6
5 5
4 4
3 3
2 2
1 1
0 2 4 6 8 10 1 ano 2 4 6 8 10 2 anos
idade (meses)
capítulo 1 • 21
A linha verde representa a média. Conforme se aproxima das linhas vermelhas
indica-se o peso está ficando acima ou abaixo da média, mas dentro do esperado.
Passando-se as linhas vermelhas, encontra-se o peso dentro das faixas de atenção,
considerados acima ou abaixo do esperado para a idade, e é exigido atenção ou
intervenção da equipe de saúde. Ultrapassando-se as linhas pretas, é necessária
intervenção rápida, devido ao peso muito acima ou muito abaixo para a idade.
As linhas em todos os gráficos devem ser ascendentes, acompanhando as cur-
vas. Linhas retas indicam que houve aumento na idade, mas não na variável me-
dida, indicando problemas. Nas medições de peso, linhas descendentes são extre-
mamente preocupantes, pois indicam perda de peso, e devem ser investigadas tão
logo quanto detectadas. Observe que somente o peso (ou variáveis que utilizem
esta medida, como IMC) pode ter linha descendente.
As medidas antropométricas básicas que devem ser realizadas a cada consulta
são o peso, a estatura (comprimento ou altura), e o perímetro cefálico. Vale o
destaque ao peso do recém-nascido, que pode sofrer uma queda de até 10% em
relação ao peso de nascimento devido ao edema ocasionado pelo líquido amnióti-
co intraútero, e cuja recuperação deve ser completa até 10o dia.
Ainda com relação ao peso, destaca-se que o peso ao nascer dobra com 4 a 6
meses; triplica com 12 meses e quadruplica aos 24 meses de idade.
Para avaliação do comprimento de crianças com até 24 meses, utiliza-se a
régua antropométrica, e a medida do comprimento é realizada com a criança dei-
tada (posição supina). Para realização adequada desta técnica, é necessário manter
ereta a postura e cabeça da criança, com os joelhos juntos e suavemente esticados
na mesa de exame, até que as pernas estejam completamente esticadas e retas, e os
pés estejam rentes à superfície da régua.
capítulo 1 • 22
Em geral, no primeiro ano de vida da criança, a estatura sofre aumento de 25
cm, sendo aproximadamente 15 cm no primeiro semestre e 10 cm no segundo
semestre.
A partir de 24 meses (2 anos), a criança não mais deve ser medida deitada. A
sua estatura é medida na posição de pé com as nádegas e região occipital encosta-
das na régua, cabeça e pés alinhados ao tronco e calcanhares unidos.
A medição do perímetro cefálico deve ser realizada até os 24 meses de idade
conforme o Manual de Saúde da Criança. Ao nascimento, o perímetro cefálico va-
ria entre 32 e 37 cm. Ao longo do primeiro ano de vida, o perímetro cefálico pode
aumentar dentro da normalidade até 12 cm, sendo 1,5 cm por mês nos primeiros
6 meses e 0,5 cm por mês de 7 a 12 meses. Sua medida deve ser realizada partin-
do-se da borda supraorbitária do osso frontal, tendo-se como referência posterior
a protuberância do osso occipital.
O perímetro torácico, que deve ser medido ao nascimento, geralmente varia
entre 30 e 35 cm, sendo muito próximo ao perímetro cefálico. Deve ser medido na
altura dos mamilos. Geralmente, os perímetros cefálico e torácico apresentam-se
muito próximos nas medidas até os 2 anos de idade. Durante o resto da infância, no
entanto, o perímetro torácico superará o tamanho da cabeça em cerca de 5 a 7 cm.
CURIOSIDADE
Você sabia que a palavra “não” não é entendida pela criança, apesar de ser a palavra que
ela mais ouve durante os primeiros anos de vida?
O cérebro infantil não consegue reconhecer a palavra não. Assim, quando ela ouve “Não
mexa aí!”, seu cérebro interpreta como “Mexa aí!”.
Vale a pena começar a fazer o exercício de orientar as crianças de forma mais direta!
Adolescência
capítulo 1 • 23
secundários se desenvolvem. Corresponde ao período que vai desde o aparecimen-
to de caracteres sexuais secundários e início da aceleração da velocidade de cres-
cimento em estatura (estirão) até o desenvolvimento físico completo da função
reprodutora e parada do crescimento.
Assim, a puberdade apresenta duas modificações biológicas típicas deste pe-
ríodo: a maturação sexual e o grande crescimento físico (estirão). O estirão ocorre
cerca de dois anos mais cedo nas meninas, situando-se entre 9-14 anos e, para os
meninos, entre 10-16 anos.
A maturação sexual é representada pelo desenvolvimento das gônadas e pelo
aparecimento de caracteres sexuais secundários. No sexo feminino, a maturação
sexual ocorre cerca de um ano antes.
Os estágios de desenvolvimento de maturação sexual que correspondem à se-
quência dos caracteres sexuais secundários e desenvolvimento genital foram defi-
nidos como guia para estimativa da maturidade sexual e são denominados estágios
de Tanner.
ATENÇÃO
Tanto a adolescência como a pré-adolescência são períodos de intensos conflitos in-
ternos e de decisões. É comum que os adolescentes formem grupos com comportamentos
parecidos, e isolem os que são diferentes. No entanto, comportamentos excessivamente
agressivos e/ou introspectivos não são considerados “normais”, e devem ser investigados.
Atenção especial deve ser dada em suspeita de “bullying”, que caracterizam violência
física ou psicológica.
Sexo feminino
capítulo 1 • 24
importante de tamanho cerca de dois anos antes da menarca. A primeira mens-
truação (menarca) geralmente começa dois anos depois dos primeiros sinais de
maturação sexual e assim encerra a aceleração abrupta do crescimento. À primeira
relação sexual se dá o nome de coitarca.
M1 P1
Fase de pré-adoles-
Mamas infantis
cência
(não há pelugem)
M2 P2
de 8 a 13 anos de 9 a 14 anos
Fase do broto Presença de pelos
mamário (elevação longos, macios,
da mama e da ligeiramente pig-
aréola como mentados, ao longo
pequeno montículo) dos grandes lábios
PELOS PUBIANOS
M3 P3
MAMAS
de 10 a 14 anos de 10 a 14 anos e ½
Maior aumento da Pelos mais escuros,
mama, sem sepa- ásperos, sobre o púbis
ração dos contornos
M4 P4
de 11 a 15 anos de 11 a 15 anos
Projeção da aréola Pelugem do tipo
e das papilas para adulto, mas a área
formar uma segun- coberta é considerav-
da saliência acima elmente menor que
do nível da mama no adulto
M5 P5
de 13 a 18 anos de 12 a 16 anos e ½
Fase adulta, com Pelugem do tipo
saliência somente adulto, cobrindo todo
nas papilas o púbis e a virilha
Sexo masculino
capítulo 1 • 25
partes do corpo. Os pelos axilares surgem após 2 anos da pubarca. Acompanham o seu
aparecimento o desenvolvimento das glândulas sudoríparas. A pilosidade facial desen-
volve-se depois da axilar. O rápido aumento da estatura e mudanças da laringe causam
alteração da voz (geralmente ocorre juntamente com o aumento do pênis). Ocorrem
as poluções noturnas, e desaceleração abruta do crescimento.
P1
G1 Fase da pré-adoles-
Pré-adolescência cência (não há
pelugem)
P2
G2 De 11
De 9 a 14 anos a 15 anos e ½
Aumento da bolsa Presença de pelos
escrotal e dos longos, finos, ligei-
testículos, sem ramente pigmenta-
aumento do pênis dos, principalmente
na base do pênis
G3
De 10 e ½ P3
a 15 anos De 11 e ½
PELOS PUBIANOS
G4
De 11 e ½ P4
a 16 anos De 12
Aumento do a 16 anos e ½
diâmetro do pênis e Pelugem do tipo
da glande. Continua adulto, mas a área
o crescimento dos coberta é consider-
testículos e da avelmente menor
bolsa escrotal, cuja que no adulto
pele escurece
P5
De 15
G5 a 17 anos
De 12 e ½
Pelugem do tipo
a 17 anos
adulto, estenden-
Tipo adulto
do-se até a face
interna das coxas
capítulo 1 • 26
a expressão de sentimentos, a troca de informações e experiências, bem como a
busca de soluções para seus problemas.
O profissional enfermeiro encontra-se em uma posição privilegiada para o
alcance dessas ações de participação juvenil, considerando sua responsabilidade de
promover ações de saúde no âmbito comunitário.
capítulo 1 • 27
evitáveis, visto que, na América Latina, a mortalidade infantil está acima de 30 por
1.000 nascidos vivos e cerca de 60% dessas mortes acontecem no período neona-
tal por causas evitáveis, como falhas no atendimento à gestação, parto e puerpério.
Das mortes neonatais, 60% ocorrem na primeira semana de vida.
Na classificação do recém-nascido (RN), para estimarmos com maior precisão
o risco de determinadas patologias ou de morrer, torna-se necessária a análise de
duas grandes variáveis: a idade gestacional e o peso. Essas variáveis permitem a
avaliação da idade gestacional real do recém-nascido, pois muitas vezes esta não
corresponde à idade gestacional materna, além de serem parâmetros para a avalia-
ção de Restrição do Crescimento Intrauterino (RCIU), que ocorre quando há
retardo no desenvolvimento intraútero. Pode ocorrer por fatores relacionados à
gestação, como hipertensão gestacional, desnutrição materna, alterações diversas
na circulação materno-fetal, ou por fatores relacionados ao próprio feto, como
anomalias genéticas, gravidez gemelar etc.
A RCIU pode ser simétrica quando atinge igualmente peso, estatura e períme-
tro cefálico, indicando que o agente agressor estava lá desde o início da gestação ou
assimétrica, quando envolve principalmente peso e perímetro cefálico, indicando
que o agente agressor estava presente mais ao final da gestação. Considera-se que
o agente agressor cause estresse fisiológico ao feto e, por este motivo, desencadeie
alterações no seu desenvolvimento.
A idade gestacional (IG) é o tempo transcorrido desde a concepção até o
momento do nascimento. De acordo com a idade gestacional, os bebês podem
ser classificados em prematuro extremo (nascidos com menos de 28 semanas),
prematuro (nascidos entre 28 e 33 semanas), prematuro tardio (de 34 a 36 se-
manas), termo (nascidos entre 37 e 41 semanas), e pós-termo (nascidos com mais
de 42 semanas).
As formas de avaliação da IG mais utilizadas quando não se conhece a IG real
são as avaliações pelo método de Capurro, que são simples e de rápida avaliação.
Outros métodos incluem o método de Dubowitz, método de Ballard, método
de New Ballard e a longitude da espinha dorsal. É importante salientar que estes
exames devem ser feitos com o RN calmo, acordado, despido, em ambiente ade-
quado, por profissional devidamente capacitado e entre 12 e 48 horas de vida,
garantindo-se, deste modo, a acurácia da avaliação, sua confiabilidade, e respeitan-
do-se o intervalo mínimo de adaptação do RN à vida extrauterina.
O método de Capurro é aplicável para recém-nascidos de 29 semanas ou mais,
pois avalia critérios simples de maturidade física, não envolvendo a maturidade
capítulo 1 • 28
neuromuscular. Observe a figura a seguir, que explica o método de Capurro
somático:
O cálculo da IG em dias é feito por meio da soma dos pontos obtidos de acor-
do com as indicações da figura +204.
O baixo peso ao nascer é reconhecido com um dos fatores de risco para RNs,
e é classificado da seguinte forma:
• Baixo peso ao nascer: peso abaixo de 2.500 g;
• Muito baixo peso ao nascer: peso entre 1.000 g e 1.499 g;
• Extremo baixo peso ao nascer: peso entre 500 g e 999 g.
Outra classificação a ser realizada no recém-nascido é a relação entre o peso e
a idade gestacional, que classifica o RN em:
• Pequeno para a idade gestacional (PIG): quando com peso abaixo do
percentil 10 para a sua idade gestacional;
capítulo 1 • 29
• Adequado para a idade gestacional (AIG): quando tem o peso entre o
percentil 10 a 90 para a sua idade gestacional;
• Grande para a idade gestacional (GIG): quando tem o peso acima do
percentil 90 para a sua idade gestacional.
Classifique por peso e idade gestacional
Gramas Pré-termo A Termo Pós-termo
4500 GIG GIG
4000 GIG 90°
3500 AIG AIG
3000 10°
2500 AIG
2000 PIG PIG
1500
1000 PIG
500
0
24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44
Semanas
capítulo 1 • 30
sanguínea na mesma velocidade, podendo determinar hipoglicemia severa e alte-
rações metabólicas.
capítulo 1 • 31
a introdução de alimentos adequados à idade, podendo incluir outros leites; alei-
tamento parcial ou misto, quando é oferecido à criança, além do leite materno,
outro alimento lácteo; e aleitamento artificial, quando é oferecido à criança so-
mente leites de origem não materna.
O aleitamento materno é capaz de reduzir drasticamente as taxas de morbi-
mortalidade infantil devido ao leite materno ser o alimento mais completo que o
bebê pode receber, tendo as quantidades corretas de água, vitaminas, sais minerais,
gorduras e proteínas, que podem variar de acordo com a idade da criança – por
isso é considerado um alimento “vivo”.
Importante ressaltar que promover e incentivar o aleitamento materno faz
parte do papel de todos os profissionais de saúde, e que devemos dar destaque não
só aos benefícios do mesmo para a criança, mas também para a mãe. Dentre os
inúmeros benefícios do aleitamento materno, citamos neste momento:
• Está sempre pronto, na temperatura adequada;
• A quantidade de leite produzida por cada mãe é muito maior do que a
necessidade do bebê, contanto que a mãe consiga repouso, sono, hidratação e
alimentação adequados;
• A amamentação protege contra diarreias, doenças respiratórias e infecciosas,
muito comuns na primeira infância;
• A amamentação favorece o desenvolvimento adequado das cavidades oral
e nasal;
• O bebê recebe todos os anticorpos que a mãe tem, então fica imune a todas
as doenças que a mãe já teve;
• A longo prazo, o aleitamento protege o bebê contra diabetes, hipertensão,
obesidade, alterações do colesterol, alergias e até mesmo alguns tipos de câncer;
• A mãe que amamenta tem menos chances de ter câncer de mama, câncer de
útero, câncer de ovários e osteoporose;
• Há um efeito contraceptivo para a mãe que amamenta em livre demanda;
• O aleitamento materno não tem custo, representando economia para
a família;
• Crianças amamentadas são mais inteligentes;
• A amamentação estreita o vínculo e fortalece o amor entre mãe e filho.
capítulo 1 • 32
ATENÇÃO
Ao orientar uma mamada, tenha em mente:
• É preciso verificar e se certificar da pega correta da aréola pelo bebê;
• Deve-se oferecer o peito em livre demanda (sempre que o bebê quiser mamar), sem res-
trição de tempo ou horários;
• Mamadeiras, chupetas e qualquer outro objeto de sucção não nutritiva tem efeito negativo
sobre a mamada e sobre a pega da aréola pelo bebê;
• O leite materno sai em três etapas: no leite anterior o bebê recebe mais água, vitaminas e
sais minerais, no leite médio recebe mais proteínas, e no leite posterior mais gorduras – por-
tanto, é imprescindível que a mãe esvazie uma mama antes de começar a outra.
Assim, incentivar o aleitamento materno é uma das funções que deve estar
presente todo o tempo quando nos referimos à saúde da criança, e é importante
ressaltar que em casos como mães portadoras de HIV o aleitamento materno é
considerado proibido, pois o leite materno carrega em si o vírus HIV, e o aleita-
mento acarretaria transmissão do vírus para a criança.
Também é preciso que estejamos prontos para sanar as dúvidas das mães e
familiares, visto que a família desempenha importante papel na manutenção ou
mesmo na interrupção do aleitamento materno.
ATIVIDADES
Tendo em vista a quantidade de conceitos que foram colocados a você, aluno, propomos
que responda às seguintes perguntas para fixação do conteúdo, e esclareça suas dúvidas
com seu professor:
01. Como as políticas de saúde da criança evoluíram? Por que elas foram importantes?
02. Porque o ECA representa um importante marco histórico para as crianças brasileiras?
03. Qual deve ser o mínimo de consultas da criança na primeira infância? Quando elas de-
vem ser realizadas?
capítulo 1 • 33
04. Qual é o calendário vacinal básico na infância? E na adolescência?
05. Para que servem as cadernetas de saúde da criança e do adolescente? Por que elas
são importantes?
06. Sobre os gráficos de acompanhamento do crescimento infantil, por que as linhas retas
e/ou descendentes representam problema?
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capítulo 1 • 35
capítulo 1 • 36
2
O cuidado de
enfermagem ao
recém-nascido de
baixo risco e médio
risco
O cuidado de enfermagem ao recém-nascido
de baixo risco e médio risco
OBJETIVOS
• Fornecer embasamento técnico-científico para que o aluno reconheça o atendimento ime-
diato ao recém-nascido dentro do padrão normal e de urgência/emergência;
• Orientar sobre os cuidados imediatos e mediatos ao recém-nascido;
• Apresentar os elementos para o exame físico básico do neonato e lactente;
• Relatar as principais modificações que ocorrem na adaptação do RN à vida extrauterina.
capítulo 2 • 38
reanimação cardiopulmonar (RCP) e/ou intubação orotraqueal (IOT) e 1 em cada
1.000 de ventilação + RCP e/ou IOT + medicações para se estabilizarem hemodina-
micamente logo após o parto. Portanto, é imprescindível que o atendimento seja rá-
pido e eficaz. Para tanto, precisamos ter conhecimento e clareza de dois parâmetros
essenciais, a tabela de quando e como proceder a RCP neonatal; e a tabela do índice
de Apgar, instrumento que nos permite avaliar de forma rápida a asfixia ou não do
bebê, não sendo o parâmetro para a indicação de RCP. Observe:
Prover calor
Posicionar cabeça
Aspirar vias aéreas s/n
Secar
não
FC<100 bpm, apneia ou não
respirando irregular? Desconforto respiratório
sim sim
60 segundos Ventilação com Pressão Positiva Monitorar SatO2 pré-ductal
(Minuto Monitorar SatO2 Considerar CPAP
de Ouro) Considerar monitor para avaliar FC
FC<100 bpm?
sim
Garantir adaptação face/máscara
Assegurar ventilação adequada Minutos SatO2
com movimento do tórax de vida pré-ductal
Considerar intubação
Até 5 70-80%
5-10 80-90%
FC<60 bpm? >10 85-95%
sim
Intubação traqueal
Massagem cardíaca coordenação
com ventilação adequada (3:1)
Considerar O2 a 100%
Avaliar FC contínua com monitor
Considerar cateterismo venoso
capítulo 2 • 39
Idade Gestacional ________________
1 5 10 15 20
SINAL 0 1 2
MIN. MIN. MIN. MIN. MIN.
Frequência
Ausente < 100 bpm > 100 bpm
Cardíaca
Pela tabela do índice de Apgar, podemos reconhecer o bebê que nasce grave-
mente deprimido (Apgar 0 a 3), moderadamente deprimido (4 a 6) e aqueles que
nascem com boa vitalidade (7 a 10). Sobre o índice de Apgar, tenha em mente
ainda que ele indica o início da adaptação do bebê à vida extrauterina e não deve
ser decrescente, e se estiver caindo, o bebê está piorando, havendo a possibilidade
de indicação de RCP (exceto em casos em que não há expectativa de sobrevida,
como malformações congênitas graves).
Se você trabalha na área ou tem algum outro tipo de conhecimento prévio,
percebeu que não falamos de aspiração de vias aéreas e não mencionamos o mecô-
nio. Atualmente não se recomenda mais a aspiração de vias aéreas na rotina, nem
capítulo 2 • 40
mesmo na vigência de mecônio, exceto nos casos de suspeita de obstrução da via
aérea por mecônio. Caso haja excesso de secreção, as vias aéreas podem ser aspira-
das delicadamente, primeiro a boca depois as narinas. Esteja atento à aspiração da
hipofaringe que deve ser evitada, pois pode causar atelectasia, trauma e prejudicar
o estabelecimento de respiração efetiva.
A seguir, você encontrará os passos que devem ser seguidos para o RN que
nasce com boa vitalidade.
Aquecimento do recém-nascido
capítulo 2 • 41
enxugá-lo convenientemente, impedindo assim o seu resfriamento. Campos úmidos
devem ser removidos tão logo quanto possível. Nos casos de parto humanizado, em
que o bebê segue para contato com a mãe imediatamente, este procedimento deve
ser realizado sob a barriga da mãe, e um campo aquecido deve ser colocado sob o
binômio. A colocação de touca no RN já na sala de parto também é importante para
prevenir a perda de calor. Lembre-se: enxugar, aquecer, avaliar.
Um aspecto importante no momento do nascimento é manter a temperatura
da sala de parto entre 24 ºC e 26 ºC.
Avaliação do APGAR
ÍNDICE DE APGAR
PARÂMETROS 0 1 2
Frequência Menor que Maior que
Ausente
cardíaca 100 bpm 100 bpm
Irregular, lento, cho-
Esforço respiratório Ausente Bom, choro forte
ro fraco
Alguma flexão de
Tônus muscular Flácido Movimentos ativos
extremidades
Irritabilidade reflexa Sem resposta Careta Choro, espirro
Completamente
Coloração Cianótico, pálido Acrocianose
rosado
capítulo 2 • 42
Importante destacar novamente que índice de Apgar não é parâmetro para de-
terminar o início da RCP. Se o score do RN ainda for inferior a 7 no 5o minuto de
vida, recomenda-se a realização de mais três novas avaliações, sendo estas no 10o,
15o e 20o minuto após o nascimento. Ainda, o índice de Apgar pode ser afetado
pela imaturidade fisiológica (prematuridade), infecção, malformação congênita,
sedação ou analgesia materna e distúrbios neuromusculares.
Identificação do recém-nascido
Início da amamentação
capítulo 2 • 43
A checagem da permeabilidade do ânus permite identificar anomalias ou obs-
truções intestinais. A sonda deve ser introduzida pelo ânus do RN até cerca de 5
a 10 cm, e retornar com a ponta suja de mecônio. Caso haja resistência na intro-
dução da sonda ou a mesma não retorne com a ponta suja de mecônio, inicia-se a
investigação para obstrução do trajeto do trato gastrointestinal.
Você sabia?
Dá-se o nome de mecônio às primeiras fezes do RN, e sua composição é principalmente
restos celulares e vérnix. Ele é escuro e pegajoso, se assemelhando a uma cola, e quase
não tem cheiro. Sua eliminação ideal começa após o parto e o aleitamento exerce efeito
laxante, facilitando a eliminação total. Após o início do aleitamento, começa-se a falar
em fezes de transição, e o mecônio passa a ficar mais fluido, depois amarelado, até que
as fezes lácteas apareçam. Fezes lácteas tem cheiro característico, e são amareladas
e em grumos. A utilização de sucedâneos de leite materno interfere tanto na coloração
quanto no cheiro e na consistência das fezes, propiciando cólicas.
Ainda como conhecimento adicional, a ocorrência do mecônio antes do parto é sinal de
sofrimento fetal.
FATORES RELACIONADOS AO
FATORES ANTENATAIS PARTO
Idade materna < 16 anos ou > 35 anos Padrão anormal de frequência cardía-
Idade gestacional < 39 ou > 41 semanas ca fetal
Diabetes Parto cesáreo
Gestação múltipla Anestesia geral
Síndromes hipertensivas Uso de fórcipe ou extração a vácuo
Rotura prematura das membranas Hipertonia uterina
Doenças maternas Apresentação não cefálica
Polidrâmnio ou oligoâmnio Líquido amniótico meconial
Infecção materna Trabalho de parto prematuro
Diminuição da atividade fetal Prolapso ou rotura de cordão
Aloimunização ou anemia fetal Parto taquitócico
capítulo 2 • 44
FATORES RELACIONADOS AO
FATORES ANTENATAIS PARTO
Sangramento no 2o ou 3o trimestre Nó verdadeiro de cordão
Uso de medicações Corioamnionite
Discrepância de idade gestacional Uso de opioides 4 horas anteriores ao parto
e peso Rotura de membranas > 18 horas
Uso de drogas ilícitas Descolamento prematuro da placenta
Hidropsia fetal Trabalho de parto > 24 horas
Óbito fetal ou neonatal anterior Placenta prévia
Malformação fetal Segundo estágio do parto > 2 horas
Ausência de cuidado pré-natal Sangramento intraparto significante
capítulo 2 • 45
abaixo da linha intermamilar. Essa técnica deve ser realizada de forma sincrônica,
mantendo-se uma relação de três movimentos de massagens cardíacas para um
movimento de ventilação, alcançando dessa forma uma frequência de 120 eventos
por minuto (90 movimentos de massagem e 30 ventilações).
capítulo 2 • 46
Cuidados mediatos
capítulo 2 • 47
Credeização
Banho
O banho do RN deve ser evitado nas primeiras 6 horas de vida para que não
haja perda excessiva de calor e para que o RN tenha adquirido controle relativo de
capítulo 2 • 48
seus sinais vitais e temperatura. Ainda, ao realizá-lo, deve-se ter em mente que o
vérnix é uma camada protetora natural, e não deve ser completamente removida.
Mais à frente você saberá melhor como funciona o controle térmico do RN. O
sabonete utilizado deve ser neutro (glicerinado), e preferencialmente não se deve
usar talcos ou perfumes tanto nas roupas quanto no próprio RN, devido ao risco
de desenvolvimento de alergias.
Uma atenção especial deve ser direcionada à higiene corporal do recém-nasci-
do prematuro com peso inferior a 1.500 g (ou com idade gestacional inferior a 32
semanas), em que a recomendação da literatura é utilizar água morna estéril nas
primeiras 2 a 3 semanas após o nascimento. O banho deverá ser realizado dentro
da incubadora e em dias alternados e o uso diário de sabão neutro (glicerinado) só
deverá ser feito após 2 meses de idade, quando a pele está mais resistente.
O banho não deve ser uma rotina logo após o nascimento, salvo em casos nos
quais haja necessidade imediata de remoção completa do sangue materno, como
nos partos de mãe portadora do vírus HIV, devido ao risco de contágio do RN
pelo vírus presente no sangue materno.
Antropometria
Não se esqueça!
Todos os dados relativos ao parto e procedimentos realizados com o RN devem ser
registrados na caderneta de saúde da criança. É um direito da criança ter este registro
e um dever para o profissional de saúde preenche-lo adequadamente.
A limpeza do coto umbilical deve ser feita com álcool a 70% após cada troca
de fraldas e ao término do banho, desde sua inserção na parede abdominal e por
todo o comprimento, de forma a ajudar na mumificação e queda do coto e pre-
venção de infecções. A mãe deve ser orientada quanto a este procedimento.
capítulo 2 • 49
Controle dos sinais vitais
A pressão arterial não deve ser verificada na rotina. Seus valores máximos para
o RN estão em 110 x 75 mmHg.
capítulo 2 • 50
Devido à adaptação à vida extrauterina, o intervalo máximo para verificação
dos sinais vitais de RNs deve ser de 6/6hs.
capítulo 2 • 51
Os mecanismos de perda de calor
Radiação Convecção
Evaporação
Condução
capítulo 2 • 52
Controle das eliminações
Pele
capítulo 2 • 53
descamação acentuada. A pele ainda sofre uma descamação fisiológica, que ocor-
re nos primeiros 15 dias de vida, podendo se estender até o final do primeiro mês.
Ocorre em pequeninas lâminas, enroladas e orientadas hora no sentido do eixo
longitudinal do corpo, hora em verdadeira poeira furfurácea. Percebe-se em geral
a descamação no abdome, tórax, pés e mãos.
O vérnix caseoso é uma substância branca, gordurosa e espessa que confere
proteção para a pele do bebê, ajuda na regulação térmica, evita a maceração da
pele do feto no período intraútero e ainda facilita o seu desprendimento do ca-
nal de parto. É formado por secreções oriundas das glândulas sebáceas do feto.
Geralmente é encontrado nos primeiros 2 a 3 dias após o nascimento em pregas
ou dobras corporais e no cabelo. Recomenda-se não remover o vérnix no banho,
como já dito anteriormente, devido à proteção que confere à pele do RN.
A lanugem ou lanugo é a denominação dada aos pelos finos que costumam
recobrir principalmente as orelhas, a região do ombro e da escápula dos bebês.
Ocorrem em maior número nos prematuros, e caem nos primeiros dias de vida.
A coloração da pele pode evidenciar alguns possíveis achados clínicos, como
a pletora, que é observada em recém-nascidos policitêmicos, hiperoxigenados ou
com hipertermia. A palidez acentuada sugere diagnóstico de anemia e a cianose,
quando generalizada, pode indicar problemas cardiorrespiratórios; já a cianose de
extremidades, também denominada como acrocianose, leva à suspeita de hipoter-
mia. O eritema tóxico, apesar da denominação ser sugestiva de malignidade, tem
origem desconhecida, e é benigno, apresentando-se como pequenas máculas eri-
temato-papulosas nos primeiros dias de vida (surge em média entre 24 a 72 horas
de vida), regredindo espontaneamente em poucos dias.
No RN a termo, as unhas ultrapassam a ponta dos dedos e, nas crianças ne-
gras, as bordas ungueais apresentam-se hiperpigmentadas.
A mancha mongólica caracterizada por manchas azul-acinzentadas, que apa-
recem em geral na região lombo-sacra, glúteo ou dorso, e está relacionada à mis-
tura racial do negro com o branco. Pode ser uma mancha única ou até mesmo
múltiplas e disseminadas, regredindo, em geral, nos primeiros 4 anos de idade.
As equimoses são manchas comuns nos RNs, em especial nos prematuros.
A sua localização depende diretamente da posição intraútero, apresentação e dos
traumas sofridos, especialmente durante o parto. A equimose situada em face é
denominada máscara cianótica ou equimótica, geralmente sem relevância clínica.
Petéquias e púrpuras que não desaparecem à digitopressão são causadas ge-
ralmente por tocotraumatismo, fragilidade capilar (infecção) e plaquetopenia.
capítulo 2 • 54
Ectasias venosas são pequenas manchas avermelhadas disseminadas, não sa-
lientes, que ocorrem principalmente na fronte, pálpebras, lábios e nuca do RN,
indicando pequenas malformações venosas. Também são chamadas de manchas
vinho do porto, e, em especial para os RNs, como bicada de cegonha.
Cerca de 40% dos bebês apresentam milium sebáceo (ou mília), que se manifesta
por pequenos pontos brancos (menor que), localizados na base do nariz, queixo e na
fronte, devido à distensão e obstrução das glândulas sebáceas. A presença da mília
decorre da ação do estrógeno materno e em geral desaparecem em poucas semanas.
O edema em RNs tem a íntima relação na avaliação da perda ponderal. ORN
a termo perde cerca de 10% de seu peso nos 3 primeiros dias de vida, e o pré-
termo, perde cerca de 15% de seu peso neste mesmo período. Estas perdas são
fisiológicas, e o peso deve ser “recuperado” até dez dias após o parto.
A miliária ou brotoeja é causada pela obstrução das glândulas sudoríparas,
que impedem a saída de suor, geralmente pelo uso de roupas inadequadas (excesso
de roupas, causando calor excessivo) ou uso de perfumes/talcos, principalmente
em regiões de pregas ou dobras corporais.
O fenômeno de Arlequim caracteriza-se por uma delimitação corporal com
eritema e outra com coloração normal. É uma classificação benigna, de causa
desconhecida, comuns em bebês de baixo peso, sugerindo um grau de instabili-
dade vasomotora.
O impetigo é uma das principais doenças cutâneas do recém-nascido, sendo
uma infecção mais comumente causada por Staphylococcus aureus. Seu início se
dá com lesões eritematosas puntiformes que em um ou dois dias evoluem para
vesículas, que a seguir se pustulizam ou tornam-se bolhas (impetigo bolhoso). As
lesões, quando se rompem, formam crostas amarelo-acastanhadas. O tratamento
pode ser tópico com soluções antissépticas e cremes antibióticos. Todavia, nos
casos mais graves, pode ser necessária antibiótico terapia sistêmica. Atenção para
o risco de contaminação para outras crianças próximas. A transmissão é feita por
contato (incluindo beijos e excesso de manipulação), e as maternidades estão sem-
pre em incentivo à redução da manipulação dos RNs e correta higienização das
mãos, principalmente devido à fácil ocorrência de surtos de impetigo.
Cabeça
capítulo 2 • 55
sem significado patológico. Por outro lado, a cranioestenose ou craniossinosto-
se, que é a soldadura precoce de uma ou mais suturas cranianas, pode representar
condições patológicas no recém-nascido.
Outros achados característicos na avaliação da cabeça incluem o caput
succedaneum ou bossa serossanguinolenta, que apresentam a classificação diag-
nóstica por meio do edema das partes moles na área da apresentação que não
respeita o limite dos ossos do crânio, ou seja, ultrapassa os limites das suturas. A
bossa é depressível e regride nos primeiros dias pós-parto (em geral dois a três dias
após o nascimento)
No céfalo-hematoma existe o rompimento de um vaso subperiostal secundá-
rio ao traumatismo do parto. Sua consistência é de conteúdo líquido e restringe-se
ao limite do osso, geralmente o parietal, não ultrapassando as suturas do crânio.
O perímetro cefálico deverá ser mensurado por fita inelástica passando pela
protuberância occipital e pela região mais proeminente da fronte. Nessa medição,
faz-se a investigação da presença de macro ou microcefalia.
A fontanela anterior, que tem a aparência da forma geométrica losango (breg-
mática) tem o seu período de fechamento por volta dos 12 aos 18 meses; a fonta-
nela posterior, que tem formato geométrico triangular (lambdoide), possui o seu
fechamento por volta da 6a a 8a semana.
capítulo 2 • 56
Na palpação das fontanelas, deve-se atentar para o tamanho das mesmas, ten-
são, abaulamentos ou depressões e pulsações. Quando abaulada, sugere aumento
da pressão intracraniana, como ocorre na meningite, hidrocefalia, edema cerebral
ou hemorragia intracraniana. Quando deprimida, associa-se à desidratação.
Craniotabes é o nome que se dá à consistência reduzida dos ossos cranianos
ou diminuição de sua espessura, podendo ser um quadro sugestivo de sífilis, raqui-
tismo ou hiperparatireoidismo. No entanto, pode ser normal no RN prematuro.
Encefalocele é o nome que se dá à exteriorização de tecido nervoso por defeito
nos ossos do crânio, mais comum na altura do osso occipital.
O couro cabeludo deve ser livre de sinais sugestivos de infecção, lesões, crostas
e sujidade. Ainda deve ter aspecto elástico, liso e brilhante.
Olhos
capítulo 2 • 57
• Distância entre os olhos anormalmente grande (maior que 2,5 cm): cha-
mado de hipertelorismo, este achado reflete síndrome fetal da hidantoína, por uso
de hidantoína pela mãe durante a gravidez;
• Distância entre os olhos pequena (menor que 2,5 cm): chamado de hi-
potelorismo, indica síndrome genética;
• Hemorragias conjuntivais ou edemas palpebrais: em geral estão associa-
dos a traumas no parto.
• Olhos em formato de amêndoas: refletem síndrome genética (geralmente
síndrome de Down);
• Reflexo vermelho ausente: indica catarata congênita.
Orelhas
Nariz
capítulo 2 • 58
O nariz deve estar localizado na linha média da face, ter as narinas simétricas,
com colocação da mucosa pouco mais rosada que a mucosa oral.
Boca
Pescoço
Tórax
capítulo 2 • 59
Situações de assimetria podem indicar malformações de coração, pulmões, coluna
ou arcabouço costal.
Deve ser observada a inserção das mamas, a distância entre as mesmas, o in-
gurgitamento das mamas e a presença de secreção ou leite (em ambos os sexos),
bem como a presença de mamas extranumerárias que podem ocorrer na linha do
leite. A secreção de leite pode ocorrer devido aos hormônios maternos (“leite de
bruxa”), sendo esse um fenômeno fisiológico. Atenção à crença popular de que
se deve “espremer o leite de bruxa”, o que pode ocasionar infecções e até mesmo
abcesso de parede torácica.
Também é importante palpar as clavículas para detectar/descartar a presença
de fraturas, além de explorar mobilidade e tônus.
capítulo 2 • 60
(transposição de grandes artérias, retorno venoso pulmonar, síndrome do coração
esquerdo hipoplásico, tronco arterial, retorno venoso pulmonar anômalo total).
O teste do coraçãozinho passou a ser triagem obrigatória para a detecção
de malformações cardíacas por meio da Portaria no 20, de 10 de junho de 2014.
Consiste na triagem, pela oximetria, de malformações cardíacas congênitas. Deve
ser realizada oximetria de pulso em todo RN com idade gestacional acima de 34
semanas, no membro superior direito e em pelo um dos membros inferiores, lem-
brando-se de que o ambiente deve estar em temperatura adequada, e o RN aqueci-
do e calmo, com extremidades também aquecidas, entre 24 e 48 horas de vida ou
antes da alta hospitalar. É necessário ainda que o monitor utilizado evidencie onda
de traçado homogênea. O resultado é considerado normal quando a saturação pe-
riférica é maior ou igual a 95% em ambas as medidas (membro superior direito e
membro inferior) e existe uma diferença menor que 3% entre as medidas do mem-
bro superior direito e membro inferior utilizado. É anormal caso qualquer medida
da saturação seja menor que 95% ou houver uma diferença igual ou maior que 3%
entre as medidas do membro superior direito e membro inferior, devendo uma nova
aferição ser realizada após 1 hora. Caso o resultado se confirme, deve ser solicitado
ecocardiograma, que deverá ser realizado dentro das 24 horas seguintes.
A circulação fetal ainda se modifica completamente como parte essencial da
adaptação à vida no meio extrauterino, e será explanada posteriormente neste
mesmo capítulo.
Abdome
capítulo 2 • 61
Abdome globoso, distendido, com ondas peristálticas visíveis, sugere obstru-
ção, nesses casos, se a criança tem distensão abdominal, deve-se colocar uma sonda
orogástrica e deixá-la aberta, em drenagem espontânea. Abdome escavado com
tórax assimétrico pode ser indicativo de hérnia diafragmática.
Na avaliação do abdome, o profissional também deve atentar para a presença de
hérnia umbilical, inguinal ou malformações da parede abdominal como onfalocele
(defeito da parede abdominal que faz com que os órgãos cresçam fora da cavidade,
através do cordão umbilical, envoltos em uma bolsa de peritônio) ou gastrosquise
(defeito da parede abdominal na altura da inserção umbilical, que causa evisceração
intestinal). Essas alterações são cirúrgicas e serão abordadas no capítulo 5.
capítulo 2 • 62
Por outro lado, os bebês alimentados por fórmula infantil, as fezes mostram-se
amarelo-pálidas ou marrom-claro de consistência mais firme e odor mais forte.
Genitália
capítulo 2 • 63
quadril. A displasia congênita do quadril é uma malformação congênita do qua-
dril que pode causar vários graus de deformidades, variando em torno de 10 casos
para 1.000 nascimentos. Sua etiologia é desconhecida, entretanto está comumente
associada à história familiar, ao tipo de parto e frouxidão articular entre outros.
Os fatores fisiológicos que podem acarretar seu desenvolvimento são a secreção de
hormônios maternos e posicionamento intrauterino; mecânicos envolvem a apre-
sentação pélvica, fetos múltiplos, oligodrâmnio e tamanho grande do lactente; já
os fatores genéticos são os que tem maior incidência.
Na avaliação da displasia congênita do quadril, a avaliação do sinal de Allis
ou Galeazz imostra a altura desigual entre os joelhos, e as manobras de teste da
articulação, como a manobra de Ortolani, devem ser realizadas. Na manobra de
Ortolani a criança é colocada em decúbito dorsal, segurando-se os membros infe-
riores com os joelhos dobrados, e quadris fletidos a 90o e aduzidos (juntos à linha
média). A partir dessa posição, faz-se a abdução das coxas com leve pressão nos
joelhos. A manobra deve ser repetida várias vezes, simultaneamente, para os dois
lados dos quadris ou fixando-se um lado e testando-se o outro, aplicando-se dife-
rentes pressões. Quando existe instabilidade coxofemoral, a manobra de Ortolani
faz a cabeça do fêmur se encaixar no fundo do acetábulo, e esse deslocamento é
percebido nas mãos como um “click” ou pela presença de crepitação na articula-
ção, sendo assim classificado como Ortolani positivo.
Além disso, deve-se observar tamanho e forma dos pés na avaliação para pé
torto congênito. Nas articulações, atenção à presença de deformidades, sendo
as mais comuns na infância o genovalgo (quando os joelhos estão próximos e os
maléolos mediais afastados) e o genovaro (perna arqueada).
Sempre que houver alteração de movimento nos membros superiores, principal-
mente no parto vaginal, lesões de plexo devem ser investigadas. A paralisia de Erb-
Duchenne é causada por uma lesão do plexo nervoso superior e geralmente resulta
do estiramento ou afastamento do ombro em relação à cabeça, o que pode ocorrer
na distocia de ombro ou no parto mal assistido. Afeta preferencialmente os mús-
culos do ombro e o cotovelo, preservando a mão. O reflexo de preensão pode estar
presente, pois os movimentos dos dedos e punho permanecem inalterados. Quando
a mão é afetada e a musculatura do ombro é preservada, refere-se à paralisia de
Klümpke. Os músculos das mãos estão paralisados, com consequente queda do
punho e relaxamento dos dedos. O reflexo de Moro estará ausente no lado afetado.
capítulo 2 • 64
Coluna vertebral
Exame neurológico
Olhos
Nariz
capítulo 2 • 65
• Glabelar: toque rápido sobre a glabela (ponta do nariz) provoca fechamen-
to rápido dos olhos
Boca e faringe
Extremidades
capítulo 2 • 66
• Reflexo da marcha: quando o RN é posicionado de modo que as solas dos
pés toquem levemente uma superfície plana, ele simula a deambulação. Desaparece
por volta de 3 a 4 meses de idade.
Outros reflexos
capítulo 2 • 67
Respiração
Circulação
capítulo 2 • 68
ATIVIDADES
01. Como se distingue o RN que precisa de cuidados de urgência/emergência do que
não precisa?
02. Uma criança que nasce com cianose de extremidades, choro fraco, pouco responsiva e
hipotônica recebe qual nota pelo índice de Apgar?
03. O que se espera se o índice de Apgar de uma criança começa a cair ao invés de subir?
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capítulo 2 • 70
3
O cuidado de
enfermagem
à criança e
adolescente na
atenção básica
O cuidado de enfermagem à criança e
adolescente na atenção básica
OBJETIVOS
• Identificar a doença diarreica, classificação e manejo do estado de desidratação;
• Diferenciar as manifestações clínicas dos tipos de desnutrição;
• Descrever as formas de reposição de ferro no primeiro ano de vida da criança;
• Listar as doenças rastreadas pelo Programa Primeiros Passos de Triagem Neonatal – tes-
te do pezinho;
• Orientar sobre as principais doenças respiratórias na infância;
• Nomear as principais doenças da infância;
• Embasar o conhecimento sobre a importância da família no desenvolvimento infantojuvenil
e a lacuna existente no cuidado em saúde ao escolar e adolescente.
capítulo 3 • 72
aumento do volume e da frequência das evacuações e na diminuição da consistên-
cia das fezes. Quando não associado a fatores patológicos ou parasitas, o quadro
de diarreia é autolimitado, não persistindo por mais do que sete dias e, em geral,
não desencadeia desidratação grave.
A diarreia pode ser classificada como infecciosa quando está relacionada ou é
causada por vírus, bactérias e parasitas, geralmente disseminados por via fecal-o-
ral, por meio de alimentos e água contaminados, sendo o rotavírus a causa mais
importante de gastroenterite (e consequentemente diarreia grave) em crianças.
A diarreia não infecciosa tem como principais causas as alergias e intole-
râncias alimentares e as deficiências imunológicas. Em crianças menores de dois
meses, a diarreia ainda pode ser consequência de distúrbios de coagulação, como
a doença hemorrágica do RN secundária à deficiência de vitamina K ou a coagu-
lação intravascular disseminada, ou ainda de problema como a enterocolite necro-
sante, devendo a causa ser identificada o mais rápido possível.
Com relação à classificação ao tempo de ocorrência, a diarreia pode ser aguda,
quando ocorre aumento súbito da frequência e alteração da consistência das fezes,
frequentemente associada a um agente infeccioso ou à terapia com antibiótico. É
considerada autolimitada com duração de até uma semana. Os principais agen-
tes bacterianos causadores da diarreia aguda são Escherichia coli, Salmonella sp.,
Shigella sp., Yersinia sp. e Campylobacter sp.
Na diarreia persistente, o aumento da frequência das evacuações e do conteú-
do hídrico das fezes mostra-se superior a quatorze dias. Está associada a síndromes
de má absorção, doença inflamatória intestinal, deficiência imunológica, alergia
alimentar, intolerância à lactose.
Uma das grandes complicações advindas da diarreia e que colocam em risco
a saúde e a vida das crianças é a desidratação, que consiste na perda de líquido
corporal resultando em desequilíbrio da água e eletrólitos. Em situações que não
relacionadas às doenças diarreicas, a desidratação pode ocorrer pela ingestão ina-
dequada de água e/ou líquidos.
A classificação do estado de hidratação envolve a quantificação da perda de
peso, a presença ou não de alterações do comportamento, a avaliação de mem-
branas e mucosas, a intensidade da sede, a presença ou ausência de lágrimas, a
eliminação urinária, além de outros achados como tempo de enchimento capilar,
pulso e sinal da prega. A partir desta avaliação a criança é classificada em sem de-
sidratação, com desidratação ou com desidratação grave.
capítulo 3 • 73
ATENÇÃO
O sinal da prega deve ser realizado fazendo-se uma prega cutânea no abdome, e obser-
vando o tempo que a pele retorna ao estado original. Observe o quadro a seguir, que indica
o plano de reidratação o qual deve ser seguido, de acordo com os achados do exame físico,
dos sinais e sintomas apresentados pela criança ou adolescente:
EXPLORE
Desaparece muito
SINAL DA Desaparece Desaparece
lentamente (mais
PREGA rapidamente. lentamente.
de 2 segundos).
*Muito débil ou
PULSO Cheio Rápido, débil
ausente
*Muito prejudi-
ENCHIMENTO Normal Prejudicado (de
cado (mais de 5
CAPILAR (até 3 segundos) 3-5 segundos)
segundos)
capítulo 3 • 74
COMO AVALIAR O ESTADO DE HIDRATAÇÃO
DECIDA
Se apresentar 2
Se apresentar ou mais sinais
Sem dois ou mais incluindo pelo
DESIDRATAÇÃO sinais anteriores menos 1 sinal *
desidratação desidratação
grave
capítulo 3 • 75
caseiro não é capaz de reidratar (ele apenas previne a desidratação). O oferecimen-
to do leite humano para crianças que ainda estão em aleitamento materno deve
ser estimulado com maior frequência e durante mais tempo a cada mamada. A
oferta de outros líquidos, exceto chás e refrigerantes, também deve ser estimulada.
Dessa forma, a medida mais importante na criança que apresenta um aumento na
frequência das evacuações é ofertar mais líquidos do que o de costume tão logo a
diarreia inicie. Em geral, para crianças até 1 ano, essa oferta pode variar entre 50
a 100 mL depois de cada evacuação aquosa. Para crianças com 1 ano ou mais, o
oferecimento de 100 a 200 mL depois de cada evacuação aquosa é o ideal.
Continuar a alimentação habitual consiste na segunda regra para o tratamento
em casa. Todavia, a correção dos “erros dietéticos” é fundamental, e deve-se evitar
alimentos ricos em gordura e sem valor nutritivo. Assim, recomenda-se consu-
mo de alimentos limpos, frescos e bem cozidos (evitar alimentos industrializados
e condimentados).
Orientar quando retornar consiste na terceira regra para o tratamento em casa.
E dentre as principais orientações para retorno incluem os casos em que a criança
não consegue beber (isso inclui o relato de: “dificuldade para beber”) nem sugar o
leite materno (descrição comum da prática: “não consegue beber nem mamar no
peito”); ou quando a criança apresenta uma piora do estado geral; quando ocorre
o aparecimento ou a piora da febre (além da infecção, o aparecimento da febre está
relacionado à desidratação), e por último, em condições que a criança comece a
apresentar sangue nas fezes (disenteria).
capítulo 3 • 76
Em situações em que a criança ainda recebe leite humano, a mãe não deve inter-
romper a amamentação, permitindo que a criança mame sempre que desejar, fazen-
do pausa na oferta da SRO. Com o término da mamada, a mãe retorna com a oferta
da solução de SRO para a criança. Assim, o profissional pode instruir ao cuidador:
• Oferecer à criança goles frequentes, usando um copo ou uma colher. Para
crianças pequenas utilize uma colher para dar líquido;
• Caso a criança vomite, esperar 10 minutos antes de dar-lhe mais líquido. A
seguir, ofereça mais o líquido, porém mais lentamente;
• Continuar ofertando quantidades extras de líquidos até que a diarreia
termine.
capítulo 3 • 77
proporção de 20 mL/kg em 30 minutos até que os sinais de desidratação desapa-
reçam. RNs e cardiopatas graves devem iniciar a reidratação com a proporção de
10 mL/kg, também até que os sinais desapareçam. Acima de 5 anos deve-se utili-
zar soro fisiológico a 0,9% na proporção de 30 mL/kg em 30 minutos seguido de
Ringer Lactato® ou solução polieletrolítica na proporção de 70 mL/kg em 2 horas e
30 minutos;
• Fase de manutenção e reposição: a fase de manutenção é indicada para
cobrir as perdas normais e a fase de reposição serve para compensar as perdas
anormais decorrentes da diarreia e dos vômitos, e é controlada por peso. Deve ser
iniciada a reposição oral assim que possível para auxiliar na reversão do quadro.
A terapia intravenosa consiste em três itens, que devem ser distribuídos em 24h:
99 Soro glicosado a 5% + soro fisiológico a 0,9% na proporção de 4:1 (manu-
tenção): para peso até 10 kg, considerar 100 mL/kg desta proporção; para peso de
10 a 20 kg considerar 1.000mL + 50 mL/kg de peso que exceder 10 kg e para peso
acima de 20 kg, 1.500mL + 20 mL/kg de peso que exceder 20 kg.
99 Soro glicosado a 5% + soro fisiológico a 0,9% na proporção de 1:1 (re-
posição): iniciar com 50 mL/kg/dia, reavaliando esta quantidade de acordo com
as perdas.
99 KCl a 10%: 2mL para cada 100 mL de solução da fase de manutenção.
Importante: para casos em que a criança se apresente com diarreia por 14 dias ou
mais e também esteja desidratada, classifique a doença da criança como diarreia persis-
tente grave. Essas crianças necessitam de atenção especial para ajudar a prevenir a perda
de líquidos e, por isso, devem ser referidas urgentemente ao hospital. Para esses casos,
pode ser necessário analisar amostras das fezes para determinar a causa da diarreia.
Ainda, durante a desidratação grave, o risco de choque hipovolêmico é alto, portanto
esteja atento aos sinais de choque mesmo durante a fase de expansão volêmica.
Você sabia?
O choque hipovolêmico caracteriza-se por volume intravascular inadequado. A hipovole-
mia é a principal causa de choque em crianças, resultante de desidratação, hemorragia
e perdas para o espaço extracelular, decorrentes do aumento da permeabilidade capilar
(ex., sepse, queimaduras). A diminuição do volume intravascular leva à diminuição do
retorno venoso e da pré-carga cardíaca, e, consequentemente, do volume sistólico e
do débito cardíaco. Dentre os sinais clínicos mais aparentes, destacam-se taquicardia,
pressão arterial normal (choque compensado), ou diminuída (choque descompensado),
pulsos finos, tempo de enchimento capilar prolongado (> 2 segundos), pele fria, pálida
ou marmórea, diaforese, alteração do estado mental e oligúria.
capítulo 3 • 78
A desnutrição na infância
capítulo 3 • 79
de nutrientes, o marasmo ainda propicia o agravamento do estado nutricional das
crianças acometidas por infecções oportunistas graves.
Este tipo de desnutrição se caracteriza por uma debilidade gradual e atrofia
dos tecidos corporais, especialmente da gordura subcutânea. A criança parece ser
muito velha, com uma pele flácida e enrugada (principalmente nas nádegas), os
cabelos ficam escassos e finos, fica irritada, apática, retraída e letárgica. Todavia, se
oferecido o alimento, a criança consegue comer. Não há comprometimento dos
níveis de albumina nem de função hepática.
O marasmo pode afetar inclusive bebês, cuja ingestão de leite materno não
seja suficiente e não haja adequada oferta de alimentos.
O kwashiorkor ou “doença do filho mais velho” é muito comum em países
muito pobres, com restrição severa de alimentos de bom valor nutricional e afeta,
em geral, crianças acima dos dois anos. Resulta de grave deficiência de proteínas,
com adequada ingestão calórica, e tem sido relacionado a dietas com excesso de
carboidratos em detrimento de outros alimentos. Apesar de apresentarem uma
quantidade de calorias satisfatória, a deficiência de proteínas de alto valor bioló-
gico acaba impedindo a adaptação do organismo e, dessa forma, a instalação da
desnutrição é mais rápida.
Dentre as manifestações clássicas do kwashiorkor, destacam-se as extremidades
finas, enfraquecidas e um abdome proeminente causado pelo edema (ascite). O ede-
ma distal geralmente disfarça a severa atrofia muscular existente, fazendo com que
a criança pareça estar menos debilitada do que realmente está. A pele apresenta
despigmentação (áreas hiper e hipocrômicas), sendo ainda escamosa e seca, podendo
ocorrer fissuras lineares e flexurais. Várias dermatoses podem ser evidentes, e muitas
delas associadas às deficiências de vitaminas. O cabelo é fino, seco, quebradiço e sem
brilho, podendo ocorrer alopecia esparsa e mesmo a descoloração por faixas (sinal
da bandeira), e as unhas são finas, quebradiças e opacas. Ocorre ainda retração da
gengiva, rachaduras de lábios e a língua se torna lisa (“língua careca”). Pode ocorrer
hepatomegalia e hipoalbuminemia. Diarreia geralmente ocorre devido a uma baixa
resistência contra infecções, o que ainda produz desequilíbrio eletrolítico.
Com relação às mudanças comportamentais, é possível observar uma criança
letárgica, debilitada, apática e com anorexia. A deterioração fatal pode ser causada
por diarreia e infecção ou ser o resultado de uma insuficiência circulatória grave.
Em geral ocorre cegueira permanente derivada da grave carência de vitamina A.
Fala-se em kwashiorkor-marasmático quando os achados clínicos tanto de
kwashiorkor quanto do marasmo são evidentes na criança. Porém, quando trata-
da, ao ceder os sintomas do kwashiorkor, prevalecem os sinais do marasmo. Em
capítulo 3 • 80
condições que a criança apresenta desequilíbrios hidroeletrolíticos, hipotermia e
hipoglicemia, tem-se a associação a um prognóstico ruim.
TABELA COMPARATIVA
MARASMO KWASHIORKOR
Déficit proteico = a déficit calórico Deficiência de proteínas
Perda de gordura nos coxins adiposos Alterações dos cabelos e unhas finas e
das bochechas, com desaparecimento da quebradiças, com pouco crescimento.
bola de Bichat, causando um aspecto de
envelhecimento.
Perda do turgor da pele, que se torna en- Área perineal com dermatite e escoriações
rugada e frouxa à medida que a gordura constantes em virtude da baixa imunidade
subcutânea desaparece, especialmente e diarreias frequentes.
nas nádegas.
capítulo 3 • 81
Conduta terapêutica
Você sabia?
A suplementação de ferro faz parte das rotinas das unidades básicas de saúde, com
vistas a reduzir a anemia ferropriva infantil. A suplementação deve ser feita, pelo menos,
até os 24 meses, incluindo gestantes e puérperas.
A suplementação de vitamina A também faz parte das rotinas ministeriais para a
redução de xeroftalmia, cegueira e deficiência desta vitamina, e as crianças devem re-
ceber esta suplementação dos 6 meses aos 4 anos e 11 meses de idade. Em áreas de
maior risco de carência desta vitamina, crianças de 6 a 11 meses e as puérperas ainda
recebem uma megadose de vitamina A.
capítulo 3 • 82
O teste do pezinho realizado gratuitamente pelo SUS é capaz de detectar fe-
nilcetonúria, hipotireoidismo congênito, anemia falciforme e outras hemoglobi-
nopatias, fibrose cística, hiperplasia adrenal congênita, deficiência de biotinidase.
Na rede privada o teste pode abranger até 30 doenças.
O rastreamento dessas doenças permite evitar danos à saúde da criança devido
à intervenção rápida. A seguir, veremos com um pouco de detalhes cada uma das
principais doenças detectadas no teste do pezinho.
Hipotireoidismo Congênito
Fenilcetonúria (PKU)
capítulo 3 • 83
fenilalanina hidroxilase, que normalmente controla a conversão de fenillalanina
em tirosina, está deficiente, causando o acúmulo de fenilalanina na corrente san-
guínea, e de seus metabólitos na excreção urinária, o que confere à urina um odor
característico de “bolor”.
A tirosina, o aminoácido produzido pelo metabolismo da fenillalanina, está
ausente na PKU, e esse aminoácido é necessário para formar o pigmento mela-
nina e os hormônios adrenalina e tiroxina. Essa redução na produção de melani-
na resulta em fenótipos semelhantes nos casos de fenilcetonúria: cabelos louros,
olhos azuis e pele clara, particularmente suscetível a eczema e a outros problemas
dermatológicos. Crianças com pele geneticamente mais escura podem ser ruivas
ou castanhas.
Para os casos de fenilcetonúria não tratada as manifestações clínicas incluem
deficiências no desenvolvimento, vômitos frequentes, irritabilidade, hiperativida-
de e comportamento errático imprevisível. O retardo mental pode ser causado
pelo acúmulo de fenilalanina e supostamente por níveis reduzidos dos neurotrans-
missores que afetam o desenvolvimento normal do cérebro e do SNC. Em crian-
ças mais velhas as manifestações clínicas habitualmente apresentam alterações no
padrão comportamental: reações de pânico, episódios de gritos, golpear a cabeça,
morder o braço, desorientação, ausência de resposta a estímulos fortes e posi-
ções catatônicas.
Após o diagnóstico por meio da triagem neonatal (dosagem da fenilalanina)
o tratamento consiste em restringir a fenilalanina na dieta. A quantidade diária
de fenilalanina é individualizada para cada criança e requer alterações frequentes
com base no crescimento e desenvolvimento, no apetite e nos níveis plasmáticos
de fenilalanina e tirosina. Como todas as proteínas alimentares naturais contêm
fenilalanina e serão restringidas, a dieta deve ser suplementada com uma fórmula
metabólica preparada para PKU que não contém fenilalanina. Essa fórmula é es-
sencial para fornecer a quantidade apropriada de vitaminas, minerais, proteínas e
calorias para o crescimento e desenvolvimento.
Doença falciforme
capítulo 3 • 84
afoiçadas. As hemácias afoiçadas causam obstrução dos vasos, impedindo o fluxo
sanguíneo local, levando à isquemia tecidual e à morte celular. O processo de afoi-
çamento também leva à hemólise.
Cabe destacar que o recém-nascido com anemia falciforme é geralmente as-
sintomático devido ao efeito protetor da hemoglobina fetal (HbF). Dessa forma,
o efeito de afoiçamento geralmente se manifestará mais tarde, já que, inicialmente,
haverá predominantemente HbF em relação à HbS.
É uma doença hereditária, sendo necessário que o pai e a mãe possuam traço
falcêmico. Há probabilidade de 25% de cada gestação produzir um filho com
doença falciforme. Em geral, as manifestações clínicas gerais como retardo no
crescimento, anemia crônica, retardo na maturação sexual e susceptibilidade acen-
tuada à sepse, aparecem na infância, após a substituição da hemoglobina fetal pela
adulta (anormal).
Fibrose cística
capítulo 3 • 85
aumentada, secundária à tosse paroxística. Dessa forma, as crianças em todas as
idades acabam estando sujeitas à obstrução gastrointestinal por fezes espessadas
ou impactadas.
No pâncreas, as secreções espessas bloqueiam os ductos, eventualmente pro-
vocando fibrose pancreática. Esse bloqueio impede as enzimas pancreáticas essen-
ciais de alcançarem o duodeno, o que provoca acentuado comprometimento da
digestão e da absorção dos nutrientes. Com a função de absorção de nutrientes
comprometida, as fezes se tornam volumosas, grandes, amolecidas e com carac-
terística espumante, devido à gordura não digerida (esteatorreia) e malcheirosas
devido às proteínas putrificadas (azotorreia).
Essas crianças apresentam apetite voraz (precocemente na doença), perda de
apetite (tardiamente na doença), incapacidade de crescer, distensão abdominal e
extremidades delgadas
As Ilhotas de Langerhans podem diminuir em número à medida que a fibrose
pancreática progride e um tipo de diabetes denominado diabetes relacionado à
fibrose cística (DRFC) constitui um achado frequente em adolescentes e adultos.
Entretanto, as complicações pulmonares constituem a ameaça mais grave à
vida da criança com FC. Muitas delas exibem sintomas respiratórios antes de um
ano de idade. No trato respiratório, a obstrução brônquica e bronquiolar pelo
muco anormalmente espesso e tenaz provoca atelectasias segmentares com hipe-
risulflação. A criança é incapaz de expectorar o muco devido à sua viscosidade
aumentada. Esse muco retido serve como excelente meio para o crescimento bac-
teriano e assim, a redução da troca de oxigênio provoca graus variáveis de hipóxia,
hipercapnia e acidose.
Dessa forma como sinais iniciais, podemos encontrar respirações sibilantes e
tosse seca, não produtiva. Eventualmente a criança pode apresentar aumento da
dispneia e tosse paroxística. Em casos mais avançados podem-se evidenciar atelec-
tasias. Diante às complicações progressivas, o tórax assume o formato de barril,
hiperinsuflado; a criança manifesta cianose e baqueteamento dos dedos das mãos
e pés. Também ocorrem episódios repetidos de bronquite e broncopneumonia.
capítulo 3 • 86
em aproximadamente 5% dos casos. Essas enzimas estão envolvidas na síntese
de cortisol e aldosterona. Essa deficiência ainda pode atingir, de forma mais rara,
outras enzimas do córtex adrenal.
As manifestações clínicas dependem do grau de deficiência da enzima, poden-
do ocorrer deficiência na síntese do cortisol ou na síntese da aldosterona, aumento
na síntese de precursores de andrógenos, hipertensão e hipopotassemia. Na forma
clássica perdedora de sal, pode ocorrer virilização da genitália feminina (aumen-
to de clitóris, fusão labial e formação de seio urogenital); em ambos os sexos,
quando a virilização da genitália externa não é identificada, os RNs se apresentam
com crise adrenal decorrente da deficiência de mineralocorticoide (depleção de
volume, desidratação, hipotensão, taquicardia, vômitos, perda de peso, letargia,
hiponatremia e hiperpotassemia). Na forma clássica não perdedora de sal tam-
bém pode ocorrer virilização da genitália externa feminina, porém a deficiência
do mineralocorticoide não tem manifestação clínica, e a deficiência tardará a ser
reconhecida no menino e se manifestará com sinais de hiperandrogenismo (veloci-
dade de crescimento aumentada, maturação óssea acelerada ou pubarca precoce).
Na forma não clássica, as manifestações nas meninas são tardias, já por volta da
adolescência, ocorrendo aumento do clitóris, pubarca precoce, ciclos menstruais
irregulares e hirsutismo, sendo geralmente assintomática nos meninos.
Deficiência da biotinidase
capítulo 3 • 87
profunda quando a atividade da biotinidase corresponde a menos de 10% do
valor normal ou parcial quando acontece entre 10 e 30% da atividade normal.
Possui morbimortalidade alta, e não há dados concretos sobre a sua prevalência na
população brasileira.
capítulo 3 • 88
cartão, este deve ser mantido na horizontal (por mais ou menos 2 horas) e não é
permitido o auxílio de ventilador de teto nem secadores. Não se pode dobrar nem
enrolar o cartão.
capítulo 3 • 89
No que tange às doenças infecciosas, a pneumonia é doença mais comum,
seguida da bronquiolite. Ocorrem numa duração entre 2 e 7 dias e resolução dos
sintomas em 14 dias, sendo entre o 3o e o 5o dia o período de maior manifestação
sintomática e excreção viral. Nas doenças não infecciosas que causam sibilância
(chiado), a asma corresponde a 10% das internações dentro dos 4 primeiros anos
de vida.
Em geral, os sinais e sintomas associados às infecções respiratórias em lacten-
tes e crianças pequenas são febre, meningismo, anorexia, vômitos, diarreia, dor
abdominal, obstrução nasal, rinorreia, tosse, dor de garganta e sons respiratórios
(rouquidão, roncos, estridor e sibilos).
capítulo 3 • 90
Com relação às considerações de enfermagem, destacam-se:
• Manter as crianças em isolamento, ou em quartos com crianças também
infectadas pelo VSR;
• Higiene das mãos e uso de precauções de contato (luvas, máscaras, aventais
e óculos de proteção);
• Preferencialmente apenas um profissional para cuidar desses pacientes (evi-
tar contato com outras crianças não infectadas pelo vírus).
Pneumonias
capítulo 3 • 91
Em crianças menores de 2 meses, qualquer pneumonia é considerada grave,
devendo-se atentar para o diagnóstico, que é feito quando a frequência respira-
tória está acima de 60 rpm, com tiragem subcostal. Nas crianças entre 2 meses e
5 anos o sinal clínico que caracteriza pneumonia grave é a tiragem subcostal ou
intercostal. Crianças maiores com pneumonia penoumocócica podem ser tratadas
em casa, com antibiótico, repouso no leito, ingestão de líquidos abundante e ad-
ministração de antipiréticos.
Todavia, se a criança não manifesta sinal de perigo ou não apresenta respiração
rápida, não é pneumonia. Para os casos em que a criança se mostra sem pneu-
monia, em geral trata-se de um resfriado comum. A criança pode até apresentar
tosse ou dificuldade para respirar, mas não apresenta sinais gerais de perigo, tais
como tiragem subcostal, estridor em repouso e nem respiração rápida. Nesses ca-
sos, tratar com broncodilatador durante 5 dias e marcar o retorno em 5 dias, além
de informar quando retornar antes desse período.
Dentre as considerações de enfermagem com a criança com diagnóstico de
pneumonias, destacam-se:
• Cuidados básicos de acordo com o quadro sintomático.
• Avaliação respiratória para administração de oxigênio conforme prescrição.
• Administração de antibióticos e antipiréticos conforme prescrição.
• Orientar quanto ao repouso e à conservação de energia.
• Avaliar sinais vitais e sons respiratórios
• Estimular a posição semiereta, pois esta geralmente confere maior conforto.
Quando a pneumonia for unilateral, estimular deitar sobre o lado afetado, pois
imobiliza o tórax daquele lado e reduz o atrito pleural que frequentemente pro-
voca desconforto.
Asma
capítulo 3 • 92
• Inflamação e edema das membranas e mucosas;
• Acumulação de secreções persistentes das glândulas e mucosas;
• Espasmos da musculatura lisa dos brônquios e bronquíolos.
capítulo 3 • 93
As doenças mais comuns na infância
capítulo 3 • 94
o alérgeno e, na maior parte das vezes, estão relacionados à poeira doméstica, a
ácaros, a odores fortes e à fumaça de cigarro. Junto com o processo inflamatório
ocorrem secreção e produção de muco fluido, sendo comum então espirros e co-
riza, além de lacrimejamento e coceiras. O tratamento, em geral, é sintomático, e
orienta-se a pessoa a se afastar do provável alérgeno.
A sinusite é a inflamação que acomete a mucosa nasal e os seios paranasais,
podendo ser tanto causada por vírus como por bactérias, resultando da obstrução
das vias aéreas superiores com acúmulo de secreção nos seios paranasais. É classi-
ficada como aguda quando dura até 8 semanas e como crônica quando se estende
para mais de 8 semanas ou é recorrente. Dentre as principais causas, destaca-se
desvio de septo nasal, traumas de face, reações alérgicas, infecções respiratórias
altas, pólipos nasais e a “carne esponjosa”, que pode se referir tanto às amídalas
quanto à adenoide. O quadro é dolorido, sendo comum a presença de fortes dores
de cabeça, a sensação de secreção presa na via aérea superior e náuseas, podendo
ainda aparecer febre.
A otite aparece quando o ouvido é comprometido por infecção fúngica, viral
ou bacteriana, geralmente relacionadas ao acúmulo de água ou de secreções no
conduto auditivo. Chamamos de otite externa quando ela envolve o pavilhão
auditivo ou o ouvido externo, otite média quando envolve o conduto do canal
auditivo ou a membrana timpânica, e otite interna quando envolve o ouvido
interno ou labirinto auditivo, podendo chegar a alterações sensoriais (labirintite).
A otite externa ainda pode acontecer por erros relacionados à remoção do cerume
natural do conduto auditivo com hastes de algodão. Todas as variações da otite
causam desconforto auditivo, dor, e rubor locais, podendo ainda causar distorções
auditivas. Casos mais graves podem romper a membrana timpânica, levando à
surdez total ou parcial, e mesmo infecções ou inflamações de sistema nervoso
central ou nervo trigêmeo. Os tratamentos envolvem antibióticos ou antifúngicos,
sendo necessária a avaliação individual.
A bronquite é uma inflamação dos brônquios causada por agentes diversos,
sendo os vírus os principais responsáveis. Difere da asma pela sua recorrência –
para ser classificada como bronquite a inflamação deve acontecer pelo menos três
meses por ano, durante dois anos consecutivos ou mais, com tosse persistente,
que pode durar até vinte dias. Sibilos, se presentes, são bem menos intensos que
na asma. Pode ser classificada em aguda, quando apresenta tosse seca, com piora à
noite, podendo tornar-se produtiva, desenvolvendo febrícula e até mesmo dor de
garganta, rouquidão e cefaleia. Na bronquite crônica há tosse com expectoração,
capítulo 3 • 95
estertores respiratórios, fadiga e falta de ar. Ainda pode ser catarral, quando a
quantidade de muco produzida é grande, com aumento da espessura e altera-
ção de coloração, podendo se tornar infectado, e o quadro de febre e dispneia é
persistente.
capítulo 3 • 96
Soma-se a isso a vastidão de informações eletrônicas, nem sempre fidedignas, e,
como consequência, temos cada vez mais jovens experimentando cada vez mais
cedo todos os tipos de drogas, ou mesmo colecionando experiências sexuais sem
informação e proteção adequada, culminando em danos à própria saúde ou à do
próximo e mesmo causando um impacto social negativo forte.
Ressaltamos que a influência dos ambientes escolar e familiar é que determi-
nará muitas das escolhas quando adolescente, por exemplo a experimentação de
álcool, tabaco e outras drogas ilícitas. Até cerca de 7 anos a criança aprende tanto
o certo como o errado pela reprodução de comportamentos e a partir dos 8 anos,
sofre grande influência de seu grupo social para a determinação de suas escolhas,
principalmente ao adentrar a adolescência e tentar “se encaixar” em seu grupo
social. Assim, muitos dos problemas enfrentados no final da idade escolar e na
adolescência advêm de anos antes e da lacuna deixada pela sociedade como um
todo, sendo os principais problemas potenciais as doenças sexualmente transmis-
síveis, o abuso sexual, a violência, a experimentação de drogas (lícitas e ilícitas) e
a gravidez na adolescência.
A escassez de programas de saúde voltados especificamente para estas faixas
etárias é a grande lacuna que deve ser preenchida por meio da interação entre os
serviços de saúde e as escolas, atuando sempre na promoção de uma vida saudável.
Participam dessa interação também as instituições de ensino superior, que promo-
vem a distribuição do conhecimento científico e dos hábitos saudáveis. Orientar so-
bre as doenças sexualmente transmitidas, sobre relação sexual segura, contracepção,
prevenção de doenças e de agravos é uma atividade extramuros que pertence às uni-
dades de saúde básica, e que não só pode como deve adentrar os muros das escolas.
Dentre as estratégias para fortalecer o contato entre o serviço de saúde e estas
faixas etárias, citam-se as rodas de discussão e a aproximação do serviço com os
adolescentes mais influentes de cada grupo, que são capazes de trazer não somente
“sua tribo” mas também despertar os interesses de outros adolescentes para parti-
cipar da troca de informações e aconselhamento.
Cabe ao profissional de saúde saber a hora certa de quebrar ou não o sigilo pro-
fissional, uma vez que menores de idade precisam do acompanhamento dos pais ou
responsáveis durante consultas médicas, e muitos empecilhos ético-legais são encon-
trados no atendimento ao adolescente que vai sozinho à unidade de saúde.
De todos os perigos a serem enfrentados pelos adolescentes, neste momento
daremos atenção especial à gestação na adolescência.
capítulo 3 • 97
Gravidez na adolescência
ATIVIDADES
01. Por que devemos tratar os quadros diarreicos tão logo quanto possível? Como podería-
mos orientar uma família a evitar a diarreia infantil?
03. Como se reconhece a desnutrição? Como se classifica de acordo com os sinais e sin-
tomas encontrados?
04. Quais as doenças triadas pelo Teste do Pezinho? Por que esta triagem é importante?
Como e quando se colhe este teste?
capítulo 3 • 98
06. Como se diferencia asma, bronquite, gripe, resfriado e pneumonia?
08. Qual o papel da escola e dos serviços de saúde no tocante ao escolar e adolescente?
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capítulo 3 • 99
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capítulo 3 • 100
4
O cuidado de
enfermagem ao
neonato, à criança
e adolescente
hospitalizados nas
principais situações
clínicas
O cuidado de enfermagem ao neonato, à
criança e adolescente hospitalizados nas
principais situações clínicas
Atenção à saúde do neonato, à criança e ao adolescente em
situações de risco
OBJETIVOS
• Diferenciar os tipos de icterícia e os principais cuidados de enfermagem na fototerapia;
• Identificar e diferenciar os distúrbios respiratórios que podem ocorrer ao nascimento;
• Orientar sobre as modalidades ventilatórias e suporte ventilatório;
• Orientar sobre o cuidado à criança e ao adolescente em situações que requerem aten-
ção especial;
• Embasar o cuidado à família diante da internação da criança ou do adolescente.
Icterícia no recém-nascido
Conceito e fisiopatologia
capítulo 4 • 102
comum, a icterícia também pode ser causada pelo aumento da bilirrubina direta,
e este capítulo foca a bilirrubina indireta.
A bilirrubina é um dos produtos de degradação da hemoglobina, e apresenta
vida média de 70 a 90 dias no feto e neonatos. Ela é destruída na medula óssea,
no fígado e baço. Do processo de destruição da hemoglobina são geradas duas
frações: o grupo “heme” que atua na produção de novas células vermelhas e de-
pósito de ferritina no fígado, e o grupo “globina” é transformado em aminoácidos
e nutrientes utilizados pelo nosso organismo. No grupo heme também ocorre
formação de bilirrubina livre ou indireta, que cai na corrente sanguínea e se liga
à albumina para ser transportada até o fígado, que faz a captação, conjugação (de
bilirrubina indireta para bilirrubina direta) e excreção. Este tipo de bilirrubina é
altamente tóxica, lipossolúvel e fotossensível. A bilirrubina direta, que é armaze-
nada na vesícula, auxilia no processo de digestão de gorduras no intestino delgado,
compondo a bile, sendo eliminada nas fezes, e em mínimas proporções na urina.
Dentre os fatores que levam à deficiência ou inibição da conjugação de bi-
lirrubina, podemos destacar a demora na eliminação de mecônio, menor tempo
de vida das hemácias fetais, associação à amamentação ou ao leite materno, entre
outras condições (doença hemolítica, céfalo-hematoma, equimoses, obstrução do
ducto biliar, galactosemia etc.).
Classificação da icterícia
capítulo 4 • 103
e a restrição de crescimento intrauterino, além da incompatibilidade sanguínea
com doença hemolítica.
A presença de icterícia antes de 24 horas de vida ou de valores de BT > 12 mg/
dL, independentemente da idade pós-natal, alerta para a investigação da causa.
A icterícia pode ser hemolítica, quando está associada à maior lise das hemá-
cias, como no caso daquelas que ocorrem por incompatibilidade sanguínea e por
deficiência na enzima glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD). Pode ainda ser não
hemolítica, quando ocorre pela deficiência no aleitamento materno (icterícia pelo
leite materno) ou por defeitos de conjugação hepática da bilirrubina.
No grupo das icterícias consideradas fisiológicas e não hemolíticas tem des-
taque a icterícia associada ao leite materno, que pode ocorrer nos primeiros
dias por defeitos de conjugação da bilirrubina hepática, a icterícia associada à
amamentação, que ocorre pela baixa oferta de leite ou suprimento calórico, e a
chamada icterícia fisiológica, que ocorre pela imaturidade hepática. No entanto,
as mais importantes se encontram no grupo das icterícias patológicas e hemolí-
ticas, como a icterícia por incompatibilidade ABO e por incompatibilidade Rh.
Na icterícia por incompatibilidade ABO, o quadro mais comum é que a mãe
com grupo sanguíneo tipo O, tenha anticorpos anti-A ou anti-B, e o RN seja dos
grupos A ou B, causando hemólise. No entanto, esta hemólise é bem menos severa
do que na incompatibilidade Rh.
Na icterícia pela incompatibilidade Rh, a mãe é necessariamente Rh–, e o
feto e o pai necessariamente Rh+. Depende de um contato do sangue materno,
Rh–, com o sangue Rh+(do feto ou transfusão anterior), sem aplicação de soro
anti-Rh para a mãe, o que ocasiona produção de anticorpos anti-Rh. Dessa forma,
qualquer contato do sangue da mãe (Rh–) com o sangue do feto ou bebê (Rh+)
desencadeará destruição das hemácias fetais, causando a eritroblastose fetal ou
doença hemolítica do recém-nascido (DHRN). Se esse contato for intrauterino
(por exemplo por pequeno descolamento da placenta), a situação se agrava um
pouco mais, e pode ser necessário até mesmo transfusão sanguínea para o feto in-
traútero, para reversão da hemólise e hidropsia fetal (edema anormal causado pela
hemólise, principalmente em coração, pulmões e abdômen do feto). O quadro de
hiperbilirrubinemia hemolítica que não cede ao tratamento com fototerapia pós-
nascimento também pode ser tratado com transfusão exsanguínea para a preven-
ção da encefalopatia bilirrubínica e do kernicterus, que são quadros que ocorrem
capítulo 4 • 104
quando o nível sérico de bilirrubina se eleva de maneira significativa, causando
hemólise maciça e eritroblastose, devido à capacidade de a bilirrubina se difundir
e impregnar as células neurológicas (lembre-se que ela é lipossolúvel). A encefalo-
patia bilirrubínica é a impregnação cerebral pela bilirrubina, que causa, em pri-
meiro momento, letargia, hipotonia e sucção débil, sendo esta considerada a fase
aguda da doença, que ocorre nos primeiros dias e pode perdurar por semanas. Se
a hiperbilirrubinemia não é tratada, aparece hipertonia com hipertermia e choro
agudo de alta intensidade. O Kernicterus acontece quando a bilirrubina impreg-
na os núcleos da base celular de forma irreversível, o que pode se manifestar com
hipertonia, hipertermia e choro agudo de alta intensidade, tendo associação com
retardamento mental, distúrbios comportamentais, retardo no desenvolvimento
motor e displasia dentária dentre outras complicações.
Doença hemolítica do recém-nascido
A mãe é sensibilizada
Diagnóstico
capítulo 4 • 105
ZONAS DE ICTERÍCIA DE KRAMER
Fototerapia
capítulo 4 • 106
Características da luz
Cuidados na fototerapia
capítulo 4 • 107
provocar elevação da temperatura, com consequente aumento do consumo de
oxigênio, da frequência respiratória e do fluxo sanguíneo na pele, culminando em
maior perda insensível de água.
• Atentar para o estado de hidratação do RN, verificando o turgor de sua
pele, palpação de fontanela anterior e a umidade da mucosa.
• Cobrir a solução parenteral e o equipo com papel alumínio ou usar extenso-
res impermeáveis à luz, pois a exposição de soluções de aminoácidos ou multivita-
mínicas ao comprimento de luz azul compromete a qualidade da mesma.
• Amamentação é de livre demanda.
capítulo 4 • 108
Deve ser realizada em ambiente asséptico, com o RN sob calor radiante, em
monitorização contínua da temperatura e das frequências cardíaca e respira¬tória.
O volume de troca recomendado é de 1 a 2 mL/kg/min, sendo a bolsa de sangue
aquecida a 37 °C, preferencialmente composta por hemácias lavadas. Após o pro-
cedimento, deve-se observar sinais de sangramento por cerda de 4 horas.
capítulo 4 • 109
recém-nascido e a displasia broncopulmonar, entre muitas outras alterações que
podem ocorrer.
Neste capítulo, serão abordadas as três complicações mais comuns no período
neonatal – a TTRN, a SAM e a doença da membrana hialina.
capítulo 4 • 110
• Manter temperatura dentro dos parâmetros normais, para diminuir a de-
manda de oxigênio;
• Hidratação intravenosa adequada para manter o equilíbrio hidroeletrolíti-
co, atentando-se à prescrição médica.
ATENÇÃO
O oxigênio, quando não utilizado de forma adequada, é tóxico, e poder causar sequelas
oculares ou pulmonares. Esteja atento ao oxigênio fornecido ao bebê.
capítulo 4 • 111
pneumotórax e pneumonite química. Em casos graves, progride para hipertensão
pulmonar e morte.
As manifestações clínicas incluem impregnação meconial em pele e cordão
umbilical, alteração respiratória e mesmo obstrução total de via aérea. Os sintomas
respiratórios podem aparecer logo após o nascimento ou passar despercebidos nas
primeiras horas, evoluindo após 6 a 12 horas de vida, com manifestações que in-
cluem taquipneia prolongada, evolução da angústia respiratória leve para intensa,
retrações intercostais, grunhido respiratório final e cianose. Outro achado clínico
inclui tórax em forma de barril com aumento do diâmetro antero-posterior.
O diagnóstico clínico inclui histórico de líquido meconial ao nascimento e
mecônio residual na traqueia do RN. O exame radiográfico revela infiltrado gros-
so distribuído em padrão irregular nos pulmões, hipoareração acentuada mesclada
com pequenas áreas de atelectasia. A ausculta pulmonar revela estertores grosseiros
e roncos. O diagnóstico laboratorial indica, na gasometria arterial, acidose meta-
bólica com pH sanguíneo baixo, PaO2 diminuída e PaCO2 aumentada.
A assistência ao RN com líquido amniótico meconial deve seguir com ava-
liação da frequência cardíaca, ritmo respiratório e tônus muscular, iniciando-se a
reanimação cardiopulmonar, caso seja necessário, conforme descrito no capítulo
2. A conduta de aspiração das vias aéreas para remoção do mecônio deve ser indi-
cada pelo pediatra; quando indicada, deve ser feita por meio de intubação traqueal
e aspiração de conteúdo com auxílio de vácuo.
A conduta de enfermagem concentra-se em assegurar perfusão tecidual ade-
quada e minimizar a demanda de oxigênio e o gasto de energia. Observe se existe
líquido amniótico meconial quando as membranas amnióticas romperem durante
o trabalho de parto, e esteja atento aos parâmetros vitais do feto nestes casos,
tomando as condutas necessárias. A administração de surfactante conforme pres-
crito para contrabalancear a inativação do surfactante pulmonar pelo mecônio e a
administração de antibiótico de largo espectro para tratar pneumonia bacteriana
são cuidados essenciais. É importante também a monitoração contínua do estado
do neonato.
capítulo 4 • 112
causas de morbimortalidade neonatal, e geralmente está associada à prematuri-
dade. Ocorre pela deficiência na produção ou mesmo ausência de produção do
surfactante pulmonar.
O surfactante é produzido pelos pneumócitos tipo II a partir da 20a semana
de vida intrauterina, e segue a gestação aumentando a sua produção progressiva-
mente até atingir um pico de produção por volta de 34/35 semanas. É uma subs-
tância lipoproteica, que apresenta propriedades tensoativas, permitindo que os
alvéolos não colabem. No caso de nascimento de bebês prematuros, não há ainda
uma produção suficiente do surfactante, que está também relacionado ao amadu-
recimento pulmonar, o que causa colabamento alveolar, resultando em ventilação
inadequada e desvio do sangue por meio de áreas pulmonares com atelectasias.
Essa ventilação inadequada por conta da atelectasia aumenta o esforço respiratório
o que resulta em hipoxemia e acidose metabólica.
É a afecção respiratória mais frequente no RN pré-termo, chegando a cometer
60% dos bebês prematuros, em especial sendo mais comum nos RNs prematuros
com menos de 28 semanas de gestação e filhos de mãe diabética.
O quadro clínico em geral manifesta-se imediatamente após o nascimento,
podendo ser percebido ainda na sala de parto com:
• Insuficiência respiratória imediatamente após o parto ou nas primeiras 6
horas com piora progressiva nas primeiras 48 horas de vida;
• Taquipneia, com respiração superficial;
• Taquicardia, com frequências acima de 150 a 180 bpm;
• Retração esternal e intercostal;
• Batimento de asas do nariz;
• Diminuição difusa do murmúrio vesicular;
• Cianose central e/ou palidez;
• Gemido expiratório.
capítulo 4 • 113
Boletim de Silverman-Andersen
RETRAÇÃO INTERCOSTAL RETRAÇÃO BATIMENTO DE GEMIDO
SUPERIOR INFERIOR XIFÓIDE ASA NASAL EXPIRATÓRIO
declive inspiratório pouco visível pouco visível discreto audível só com esteto
capítulo 4 • 114
Dependendo da idade gestacional ao nascimento, pode ser necessário suporte
ventilatório, e a ventilação mecânica com pressão respiratória contínua positiva
(CPAP) é em geral a mais indicada.
Todavia, lembre-se que a evolução clássica da DMH pode ser modificada por
meio da administração antenatal de corticoide, assistência ventilatória precoce e
uso de surfactante exógeno.
Os cuidados de enfermagem têm destaque para a admistração da oxigenotera-
pia, da termorregulação, monitoração de níveis de saturação de oxigênio, suporte
nutricional (nutrição enteral ou parenteral total) e da manutenção do RN em
decúbito dorsal para otimizar o estado respiratório e reduzir o estresse. Dentre as
intervenções de enfermagem, podemos destacar:
• Monitore os parâmetros vitais, balanço hídrico, pressão venosa central, oxi-
metria de pulso, peso diário, coloração da pele, condições respiratórias e integri-
dade cutânea;
• Administre medicações e dieta conforme prescrito, para promoção de calo-
rias suficientes por gavagem ou via intravenosa;
• Implemente medidas para prevenir infecções;
• Monitore sinais e sintomas de infecção e circulação periférica diminuída;
• Observar sinais e sintomas de complicações respiratórias, como pneumotórax;
• Incentive os pais a participarem dos cuidados básicos com a criança.
Assistência ventilatória
capítulo 4 • 115
• Máscara de respiração parcial: a criança respira o O2 de uma bol-
sa reservatória adjacente juntamente com o ar ambiente. Concentração de
FiO2 = 50% – 75%.
• Máscaras faciais ou tendas faciais: deposita O2 sobre a boca e tem uma
abertura sobre a face ou a traqueostomia, acoplado a um fluxômetro de O2 ou ar
comprimido umidificado. Pode ficar a uma distância de 5 cm da face. Concentração
de FiO2 = 30% – 70%.
• Máscara Venturi: utiliza um fluxo de O2 que passa por uma válvula
plástica com vários diâmetros que gera uma FiO2 predeterminada e confiável.
Concentração de FiO2 = 24% – 50%.
• Máscara de sistema fechado: cobre o rosto, podendo exercer ou não pres-
são positiva para a inspiração. Concentração FiO2 = 80% – 100%.
• Oxitendas: dispositivo fechado que tem uma conexão alta e perpendicu-
lar à base, que gera um fluxo turbulento, substituindo o gás de cima para baixo.
Concentração de FiO2 = 30% – 70%.
• Capacete (halo, capuz ou hood): dispositivo de acrílico com abertura
maior para o topo. Recebe o ar aquecido e umidificado, permitindo uma adminis-
tração contínua, com flutuações mínimas nos níveis de oxigênio. Os halos podem
ficar fechados sobre a região cervical, mas não podem ser fechados no topo, pois
o CO2 exalado sai por essa abertura superior. É indicado para recém-nascidos e
lactentes. Concentração de FiO2 = 30% – 70%.
• Catéter ou pronga CPAP/BiPAP: realizadas com uso de pronga nasal, ou
mesmo máscara ou tubo intratraqueal, fornece estímulo respiratório por uso de
pressão contínua nas vias aéreas. O modo CPAP utiliza a mesma pressão ins-
piratória e expiratória, e o modo BiPAP alterna uma pressão maior e uma me-
nor, facilitando o processo inspiratório e expiratório. A FiO2 é oferecida pelo
fluxômetro de um ventilador mecânico com fluxo umidificado. Concentração
FiO2 = 21% – 100%.
• Incubadora: o ar circulante na incubadora pode ser enriquecido com oxi-
gênio, alcançando FiO2 = 21% – 100%. Indicada para recém-nascidos e lactentes
com peso inferior a 10 kg, e que necessitam de outros cuidados que não permitam
que o bebê saia da incubadora.
capítulo 4 • 116
introdução de dispositivos na via aérea da criança, tais como tubos endotraqueais
e traqueostomia, junto ao uso de ventiladores mecânicos, que possibilitam uma
pressão positiva no sistema respiratório para expansão pulmonar, redução do tra-
balho respiratório e troca gasosa adequada.
Os ventiladores ou respiradores mecânicos podem ter seus ciclos regulados
por pressão, volume e/ou tempo. Podem ter os ciclos controlados, assistidos ou
mistos. Adolescentes, a depender do tamanho e peso, em geral, utilizam ciclos
controlados por volume, ciclados em modo controlado ou assistido controlado.
Dentre os modos ventilatórios mais comumente utilizados em crianças em situa-
ções de desconforto respiratório são:
• Ventilação mandatória intermitente: fornece ciclos inspiratórios e expira-
tórios em tempos predeterminados, sem sincronia entre o paciente e o respirador,
podendo ser regulados por volume ou pressão. A falta de sincronia pode ocasionar
“brigas” entre a criança e o ventilador, e ainda trazer problemas como barotrauma
e pneumotórax.
• Ventilação mandatória intermitente sincronizada: os ciclos são desenca-
deados inicialmente por tempo e em seguida pelo esforço respiratório da criança,
facilitando os ciclos respiratórios. Pode ainda contar com pressão de suporte ao
fim de cada ciclo, facilitando ainda mais esse processo, diminuindo os problemas
advindos do uso de respirador mecânico.
• Ventilação de alta frequência: fornece menor quantidade de ar por peso
(1 a 3 mL/kg), porém em frequência muito maior (300-600 ciclos por minuto),
sendo uma importante alternativa à ventilação convencional.
capítulo 4 • 117
hipertensivo, geralmente por hiperdistensão pulmonar. Inicialmente o RN pode
apresentar-se assintomático ou mostrar graus variáveis de desconforto respiratório,
com gemido, taquipneia e retrações. Sua complicação mais comum é o pneu-
motórax, que se apresenta com piora súbita da insuficiência respiratória, agita-
ção, cianose, queda da saturação, abaulamento do tórax no lado comprometido
e diminuição de ruídos respiratórios. O agravamento do quadro pode levar ao
tamponamento cardíaco, à hipotensão e ao choque. Se o diagnóstico precoce não
for realizado, poderá ocorrer o óbito, agravamento da doença já existente ou he-
morragia intraventricular.
• Retinopatia da prematuridade: se refere a uma vasculopatia da retina que
pode ter acometimento parcial ou total, podendo levar a cegueira irreversível.
Pode ser causada pela exposição prolongada a altas concentrações de oxigênio (ge-
ralmente bebês prematuros). A retinopatia da prematuridade ocorre pela fragilida-
de dos vasos capilares da retina e também porque os vasos sanguíneos ainda não
atingiram seu crescimento completo. O RN de maior risco para retinopatia são os
que têm menos de 33 semanas de gestação, devendo ser submetidos ao exame de
fundo de olho a partir de 4 a 6 semanas após o nascimento.
capítulo 4 • 118
MENOR DE 1A4 5A9
CAPÍTULO CID-10
1 ANO ANOS ANOS
XIX. Lesões enven e alg out conseq causas
6.712 33.669 48.183
externas
XI. Doenças do aparelho digestivo 17.869 39.762 40.666
XIV. Doenças do aparelho geniturinário 14.696 31.218 28.394
XII. Doenças da pele e do tecido subcutâneo 7.384 19.440 13.502
XVII. Malf cong deformid e anomalias
21.230 17.708 10.456
cromossômicas
II. Neoplasias (tumores) 2.355 14.460 13.554
VI. Doenças do sistema nervoso 9.608 13.665 9.136
IV. Doenças endócrinas nutricionais e
7.232 10.791 7.209
metabólicas
XVIII. Sint sinais e achad anorm ex clín e laborat 6.182 8.170 6.571
XXI. Contatos com serviços de saúde 4.439 5.124 7.168
XIII. Doenças sist osteomuscular e tec
718 3.327 5.069
conjuntivo
IX. Doenças do aparelho circulatório 4.093 4.096 3.372
III. Doenças sangue órgãos hemat e transt
3.129 6.738 4.995
imunitár
V. Transtornos metais e comportamentais 86 383 806
VIII. Doenças do ouvido e da apófise mastóide 1.412 3.274 2.076
VII. Doenças do olho e anexos 969 1.670 1.992
10 A 14 15 A 19
CAPÍTULO CID-10 TOTAL
ANOS ANOS
TOTAL 288.270 829.797 2.562.310
XV. Gravidez parto e puerpério 26.614 487.920 514.829
X. Doenças do aparelho respiratório 35.126 29.556 487.323
I. Algumas doenças infecciosas e parasitárias 32.615 32.513 307.666
XVI. Algumas afec originadas no período
159 1.205 255.375
perinatal
capítulo 4 • 119
10 A 14 15 A 19
CAPÍTULO CID-10 TOTAL
ANOS ANOS
XIX. Lesões enven e alg out conseq causas
52.625 87.071 227.900
externas
XI. Doenças do aparelho digestivo 36.065 44.494 178.856
XIV. Doenças do aparelho geniturinário 23.540 45.330 143.178
XII. Doenças da pele e do tecido subcutâneo 10.815 13.541 64.682
XVII. Malf cong deformid e anomalias
7.636 5.020 62.050
cromossômicas
II. Neoplasias (tumores) 13.215 15.855 59.439
VI. Doenças do sistema nervoso 8.192 7.900 48.501
IV. Doenças endócrinas nutricionais e
6.867 5.602 37.701
metabólicas
XVIII. Sint sinais e achad anorm ex clín e laborat 5.850 8.163 34.936
XXI. Contatos com serviços de saúde 7.383 8.608 32.722
XIII. Doenças sist osteomuscular e tec
7.802 8.781 25.697
conjuntivo
IX. Doenças do aparelho circulatório 4.128 8.674 24.363
III. Doenças sangue órgãos hemat e transt
4.171 4.642 23.675
imunitár
V. Transtornos metais e comportamentais 2.449 12.050 15.774
VIII. Doenças do ouvido e da apófise mastóide 1.839 1.146 9.747
VII. Doenças do olho e anexos 1.539 1.726 7.896
Notas:
1. Situação da base de dados nacionais em 29/04/2016.
2. Dados de janeiro de 2015 até março de 2016 sujeitos a retificação.
capítulo 4 • 120
relativas ao período gravídico, as maiores causas de internação refletem as doenças
do aparelho respiratório, já abordadas neste e em outros capítulos, seguidas de
doenças infecciosas e parasitárias que serão discutidas na disciplina de parasitolo-
gia, doenças do período perinatal (abordadas neste livro e na disciplina de Saúde
da Mulher), seguidas de lesões, envenenamento ou outras causas externas, doenças
do aparelho digestivo e do aparelho geniturinário. Juntas, essas situações respon-
deram por mais de 82% das internações de 0 a 19 anos no Brasil no ano de 2016.
O capítulo do CID 10 que remete a lesões, envenenamentos ou outras causas
externas inclui traumas, fraturas, queimaduras e intoxicações por drogas medici-
nais ou não, além de complicações precoces relativos a procedimentos cirúrgicos
e sequelas derivadas de traumas. É uma classificação ampla e remete aos perigos
envolvidos com traumas e envenenamentos durante a infância e adolescência.
Observe a tabela a seguir2:
capítulo 4 • 121
MENOR DE 1A4 5A9
LISTA MORB CID-10
1 ANO ANOS ANOS
... Efeitos tóxicos subst origem princ
242 1.965 1.429
não-medicin
... Traumatismo de outros orgãos internos 126 260 530
... Fraturas envolvendo múltiplas regiões do
101 532 1.152
corpo
... Fratura do crânio e dos ossos da face 96 271 441
... Efeitos corpo estranho através de orifício net 228 2.166 1.164
... Envenenamento por drogas e substancias
144 895 334
biológ
... Sequel traum enven e outr conseq causa
63 312 445
extern
... Lesões esmag amput traumát reg esp e múlt
105 485 434
corpo
... Fratura do pescoço e tórax ou pelve 29 54 91
... Outros efeitos e não espec de causas
120 534 267
externas
... Traumatismo do olho e da órbita ocular 6 136 191
... Síndromes de mau tratos 12 70 64
10 A 14 15 A 19
LISTA MORB CID-10 TOTAL
ANOS ANOS
TOTAL 52.265 87.071 227.900
19 Lesões enven e alg out conseq causas
52.265 87.071 227.900
externas
... Fraturas de outros ossos dos membros 28.243 32.064 95.477
... Outr trauma reg espec não espec e múltipl
5.328 14.307 28.013
corpo
... Traumatismo intracraniano 3.644 8.230 23.476
... Fratura do fêmur 2.410 5.593 11.676
... Cert compl prec traum compl cirúrg ass méd
2.411 4.301 11.133
NCOP
capítulo 4 • 122
10 A 14 15 A 19
LISTA MORB CID-10 TOTAL
ANOS ANOS
... Queimadura e corrosões 1.211 1.339 9.729
... Luxações e entorse distensão reg esp e múlt
1.882 3.543 8.072
corpo
... Efeitos tóxicos subst origem princ não-medicin 1.747 2.186 7.569
... Traumatismo de outros orgãos internos 781 4.601 6.298
... Fraturas envolvendo múltiplas regiões do
1.358 2.366 5.509
corpo
... Fratura do crânio e dos ossos da face 769 3.670 5.247
... Efeitos corpo estranho através de orifício net 385 331 4.274
... Envenenamento por drogas e substancias
422 859 2.654
biológ
... Sequel traum enven e outr conseq causa
625 10.61 2.506
extern
... Lesões esmag amput traumát reg esp e múlt
431 1.008 2..463
corpo
... Fratura do pescoço e tórax ou pelve 201 1.138 1.513
... Outros efeitos e não espec de causas
184 268 1.373
externas
... Traumatismo do olho e da órbita ocular 170 182 685
... Síndromes de mau tratos 63 24 233
Notas:
1. Situação da base de dados nacionais em 29/04/2016.
2. Dados de janeiro de 2015 até março de 2016 sujeitos a retificação.
capítulo 4 • 123
Fraturas de ossos e membros, em geral, refletem o comportamento explorador
e atividade da criança, não podendo, portanto, serem evitados em sua totalidade.
Cabe à enfermagem o fornecimento de informações sobre situações que represen-
tem alto risco, por exemplo, pular de muros altos ou de árvores.
Algumas fraturas necessitam tratamento cirúrgico, e os cuidados de enferma-
gem serão abordados no próximo capítulo.
Atenção especial deve ser dada à criança e ao adolescente que ingere substân-
cias, medicinais ou não, capazes de produzir intoxicações. Produtos de limpeza são
uma das grandes causas de intoxicações em crianças, podendo ocasionar a morte.
Adolescentes podem fazer uso tanto de produtos químicos quanto de drogas di-
versas em tentativas de suicídio. Em nenhum dos casos é recomendada a ingestão
de líquidos ou o ato de se provocar vômito no atendimento inicial, principalmente
se a ingestão for de produtos químicos. Recomenda-se tentar identificar a substân-
cia e entrar em contato telefônico com o Centro de Informação Toxicológica mais
próximo para o tratamento adequado relativo a cada grupo de agente químico.
Em intoxicações por medicamentos pode-se iniciar o atendimento, enquanto se
faz contato telefônico, com lavagem gástrica pó meio de sonda nasogástrica de
grosso calibre e uso de carvão ativado.
Em relação aos problemas do aparelho digestivo, as maiores incidências de in-
ternação refletem os tratamentos ou complicações relativas a doenças do apêndice
e herniações, conforme tabela a seguir3.
capítulo 4 • 124
MENOR DE 1A4 5A9
LISTA MORB CID-10
1 ANO ANOS ANOS
... Outras doenças do aparelho digestivo 2.143 4.677 3.951
... Colelitíase e colesistite 140 185 517
... Outras doenças do esôfago, estômago e
2.120 1.932 1.258
duodeno
... Ileo paralítico e obstrução intestinal s/ hérnia 2.426 1.442 1.139
... Gastrite e duodelite 229 773 883
... Outras doenç cavidade oral glând saliv e
478 1.111 693
maxilar
... Outras doenças do fígado 561 499 403
... Outros transtornos dentes e estrutura suporte 46 182 344
... Pancreatite aguda e outras doenças do
29 50 114
pâncreas
... Doenças de Crohn e colite ulcerativa 63 192 200
... Úlcera gástrica e duodenal 65 62 54
... Doença diverticular do intestino 95 35 25
... Cárie dentária 1 12 57
... Doença alcoólica do fígado 10 8 5
10 A 14 15 A 19
LISTA MORB CID-10 TOTAL
ANOS ANOS
TOTAL 36.065 44.494 178.856
11 Doenças do aparelho digestivo 36.065 44.494 178.856
.. Doença do apêndice 17.773 17.293 50.416
.. Hérnia inguinal 2.521 2.604 27.659
.. Outras hérnias 2.507 2.067 21.730
... Outras doenças do intestinos e peritônio 3.060 3.784 20.892
... Outras doenças do aparelho digestivo 3.310 4.028 18.109
... Colelitíase e colesistite 1.507 6.222 8.571
... Outras doenças do esôfago, estômago e
1.105 1.040 7.455
duodeno
capítulo 4 • 125
10 A 14 15 A 19
LISTA MORB CID-10 TOTAL
ANOS ANOS
... Ileo paralítico e obstrução intestinal s/ hérnia 869 1.072 6.948
... Gastrite e duodelite 1.304 2.497 5.686
... Outras doenç cavidade oral glând saliv e
619 968 3.869
maxilar
... Outras doenças do fígado 446 681 2.590
... Outros transtornos dentes e estrutura suporte 354 792 1.718
... Pancreatite aguda e outras doenças do
187 709 1.089
pâncreas
... Doenças de Crohn e colite ulcerativa 309 302 1.066
... Úlcera gástrica e duodenal 107 280 568
... Doença diverticular do intestino 40 66 261
... Cárie dentária 41 41 152
... Doença alcoólica do fígado 6 48 77
Notas:
1. Situação da base de dados nacionais em 29/04/2016.
2. Dados de janeiro de 2015 até março de 2016 sujeitos a retificação.
capítulo 4 • 126
Para as doenças do trato geniturinário, a seguinte distribuição é encontrada4:
capítulo 4 • 127
MENOR DE 1A4 5A9
LISTA MORB CID-10
1 ANO ANOS ANOS
... Hiperplasia da próstata 1 6 10
.. Doença inflamatória do colo do útero – – –
... Infertilidade feminina 1 – –
... Transt menoupáusicos e outros transt
– – –
perimenoupáusicos
10 A 14 15 A 19
LISTA MORB-10 TOTAL
ANOS ANOS
TOTAL 23.540 45.330 143.178
14 Doenças do aparelho geniturinário 23.540 45.330 143.178
... Outras doenças do aparelho urinário 5.255 15.228 48.659
... Preprúcio redundante fimose e parafimose 7.243 3.732 36.500
... Doenças renais túbulo-intersticiais 2.061 7.428 15.572
... Outras doenças gromerulares 1.363 811 6.147
... Outras doenças dos orgãos genitais masculino 1.801 2.141 5.062
... Urolitíase 1.029 3.052 4.959
... Insulisiciência renal 1.122 1.610 4.615
... Cistite 563 1.545 4.239
... Síndrome nefríticas aguda e rapidamente
874 361 3.533
progres
...Transtornos da mama 415 2.939 3.425
... Outras transtornos do aparelho geniturinário 494 1.831 2.847
... Outras doenças inflamat órgãos pelvico femin 343 1.899 2.324
... Transt não-inflam ovário tromp Falópio lig larg 480 1.439 2.023
... Hidrocele e espermatocele 286 347 2.023
... Salpingite e ooforite 112 576 709
... Transtornos da menstruação 61 183 245
... Endometriose 16 108 126
... Prolapso genital feminino 7 51 73
capítulo 4 • 128
10 A 14 15 A 19
LISTA MORB-10 TOTAL
ANOS ANOS
... Outros transtornos da próstata 8 22 45
... Hiperplasia da próstata 4 7 28
.. Doença inflamatória do colo do útero 1 11 12
... Infertilidade feminina 1 5 7
... Transt menoupáusicos e outros transt
1 4 5
perimenoupáusicos
Notas:
1. Situação da base de dados nacionais em 29/04/2016.
2. Dados de janeiro de 2015 até março de 2016 sujeitos a retificação.
Legenda:
– Dado numérico igual a 0 não resultante de arrendondamento
– Dado numérico igual a 0 resultante de arrendondamento de um dado originalmente
positivo.
capítulo 4 • 129
manipulação adequada, pois o prepúcio consegue voltar à sua posição. A cirurgia
(postectomia), é indicada, em geral, após os 5 anos de idade ou na persistência do
quadro na adolescência. A parafimose é uma condição clínica que exige atenção
especializada, pois o prepúcio retrai com facilidade, mas não retorna à posição
original, podendo gerar edema, redução de fluxo sanguíneo e isquemia tecidual.
A pielonefrite é a inflamação do trato urinário superior e dos rins, que ocorre,
em geral, por infecções de trato urinário sem tratamento ou não tratadas adequa-
damente. Requer internação devido à gravidade do quadro clínico e possibilidade
de necrose tecidual do parênquima e pelve renal, que podem levar à morte. A
avaliação diagnóstica é clínica e laboratorial, e a pielonefrite se caracteriza por
calafrios de início súbito, febre, dor lombar e no flanco acometido, acompanha-
da ou não por disúria, polaciúria e urgência miccional. O exame de urina revela
leucocitúria, hematúria, proteinúria e nitritos, além de cilindrúria, e a urocultura
apresenta elevado crescimento bacteriano. A conduta terapêutica consiste na ad-
ministração de antibióticos, reposição volêmica e de eletrólitos se necessário, ava-
liação clínica contínua, e acompanhamento laboratorial da evolução da doença.
Ainda, é importante chamar a atenção para duas outras condições clínicas
que causam muitas internações, associadas a glomerulopatias. As glomerulopatias
são distúrbios renais decorrentes do processo inflamatório que envolve especifi-
camente os glomérulos e, embora os fatores que as desencadeiam sejam diversos,
as manifestações clínicas acabam sendo semelhantes, pois os glomérulos sempre
respondem da mesma forma, independente da causa.
A síndrome nefrótica é uma das glomerulopatias observadas em crianças e
a sua causa principal é uma grande perda de proteína na urina. O seu estado clí-
nico é caracterizado pela proteinúria maciça, hipoalbuminemia, hiperlipidemia e
edema. Ocorre grande perda de albumina pela urina e, consequentemente a sua
redução plasmática (hipoalbuminemia), reduzindo a pressão osmótica sanguínea
e provocando a perda de líquidos para o meio extravascular, com consequente
edema e ascite (líquido na cavidade peritoneal). A perda de líquido vascular ainda
leva à hipovolemia, e como resposta compensatória, há estímulo do sistema renina
-angiotensina, com secreção do hormônio antidiurético e aldosterona.
As manifestações clínicas da síndrome nefrótica incluem edema de face, labial,
escrotal, de tornozelos e pernas, e de mucosa intestinal (podendo causar diarreia,
anorexia e má absorção intestinal); ascite; ganho de peso; derrame pleural; irrita-
bilidade; fadiga/letargia; pressão arterial normal ou ligeiramente reduzida; susceti-
bilidade a infecções e alterações urinárias (redução de volume e urina espumosa).
capítulo 4 • 130
A avaliação diagnóstica tem base na história e nas manifestações clínicas comuns
da doença (edema, proteinúria, hipoalbuminemia, e hipercolesterolemia na ausên-
cia de hematúria e hipertensão) em crianças entre a idade de 18 meses e 8 anos de
idade. Todavia, a marca característica da patologia é a proteinúria maciça (acima de
3,5 mg/dL em urina de 24h). A conduta terapêutica tem como objetivos reduzir a
excreção urinária de proteínas, reduzir a retenção de líquidos nos tecidos, prevenir
infecções e minimizar complicações relacionadas à terapia. Para isso, o mais comum
é que se utilize restrições dietéticas de sódio e líquidos, terapia diurética, infusão de
albumina a 25%, uso de antibióticos para as infecções agudas e uso de corticoides.
Os episódios de síndrome nefrótica, tanto o primeiro quanto os recorrentes,
frequentemente ocorrem em conjunção com infecções virais ou bacterianas. As
recorrências também podem estar associadas a alergias ou imunizações. As com-
plicações da síndrome estão associadas às infecções, como peritonite, celulite e
pneumonia, além da insuficiência circulatória secundária à hipovolemia e situa-
ções como tromboembolismo (devido à diminuição dos fatores coagulantes).
A glomerulonefrite aguda (GNA) refere-se à inflamação dos capilares glo-
merulares, e a grande maioria dos casos têm associação com a história recente de
infecção estreptocócica beta-hemolítica do grupo A da orofaringe. Outra condição
muito comum associada à GNA são as infecções virais agudas e a piodermite ou
impetigo. A GNA surge após um período de latência que pode variar entre uma
a três semanas (média de 10 dias) subsequente à infecção da orofaringe, e de duas
a quatro semanas (média de 21 dias) após infecção de pele. As características mais
comuns incluem aparecimento abrupto de edema, oligúria, hipertensão arterial,
congestão circulatória e hematúria geralmente acompanhada de proteinúria. Pode
ocorrer em qualquer idade, mas afeta com maior frequência as crianças entre seis e
sete anos de idade. Sua incidência é duas vezes maior nos meninos.
As manifestações clínicas comuns a esse quadro consistem em urina turva,
castanha ou hematúria, proteinúria, oligúria, anorexia, edema restrito à face (es-
pecialmente na região periorbital), hipertensão, palidez, irritabilidade, letargia,
azotemia. Pode haver vômitos, e a criança raramente relata queixas específicas,
como cefaleia, desconforto abdominal e disúria.
O prognóstico é muito bom, a recuperação aproxima-se de 100% dos casos detec-
tados e adequadamente tratados. A avaliação diagnóstica consiste nos achados clíni-
cos e em exames complementares, tais como pesquisa de elementos anormais na urina
(EAS), exames sorológicos de anticorpos plasmáticos circulantes para indicar infecção
estreptocócica prévia. A conduta terapêutica no tratamento da GNA é sintomático,
capítulo 4 • 131
visando à diminuição da sobrecarga hidrossalina e resume-se em medicamentos diu-
réticos, anti-hipertensivos e antibióticos, cuidados gerais como o controle de peso e da
pressão arterial, dieta hipossódica e restrição hídrica e o tratamento da insuficiência
renal aguda (restrição proteica, restrição de potássio e em alguns casos diálise).
capítulo 4 • 132
uma relação de cuidado que seja menos traumática para todos os envolvidos, faci-
litando a adesão ao tratamento proposto e reduzindo danos.
Essas ações todas vão ao encontro de preconizado pela Política Nacional de
Humanização, proposta como estratégia de melhorar o atendimento em saúde no
SUS. Você já parou para pensar no real sentido da palavra “humanização”? Deixar
a mãe participar da internação, saber o que está acontecendo e propiciar um am-
biente mais agradável, de acolhimento fazem parte desta estratégia. Entender que
o cliente internado é parte ativa em seu tratamento também é uma forma de
melhorar todos os danos que uma internação pode causar. Além disso, entram em
foco também as ações que promovem um pouco mais de alegria e descontração
no ambiente hospitalar, como as iniciativas “Contadores de História” e “Doutores
da Alegria”. Ainda, para internações prolongadas, as salas de aula montadas em
ambiente hospitalar auxiliam na tentativa de manutenção das rotinas extra-hospi-
talares e favorecem a humanização.
ATIVIDADES
01. Quais os tipos e as diferenças entre as hiperbilirrubinemias?
08. A quais cuidados devemos dar atenção durante a internação de crianças e adolescentes?
capítulo 4 • 133
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capítulo 4 • 134
5
O cuidado de
enfermagem
à criança
hospitalizada nas
principais situações
cirúrgicas
O cuidado de enfermagem à criança
hospitalizada nas principais situações
cirúrgicas
Neste capítulo serão abordadas as doenças cirúrgicas mais comuns em neona-
tologia e pediatria encontradas na prática em que a criança e sua família vivenciam
internação hospitalar.
OBJETIVOS
• Conceituar as patologias cirúrgicas mais frequentes em crianças;
• Enumerar os cuidados básicos de enfermagem no pré e pós-operatório de cada patologia;
• Elaborar um plano de cuidados de enfermagem para a criança e o adolescente em situa-
ções cirúrgicas.
capítulo 5 • 136
As deformidades orofaciais em fenda (fenda palatina) podem se constituir em
anomalias isoladas, ou em outras condições, estarem associadas a um conjunto de
outros achados que diagnosticam uma síndrome. Em outras situações, podem ser
provocadas pela exposição a teratógenos como o álcool, tabaco, anticonvulsivan-
tes, isotretionina e fenitoína.
Em geral, o diagnóstico no período pré-natal, é possível por meio do exa-
me de imagem ultrassonográfico, somente após 14 semanas de idade gestacional.
Quando ocorrem isoladamente, a sensibilidade para detecção precoce pelo exame
ultrassonográfico é em torno de 50% para fenda palatina.
Após o nascimento, torna-se evidente a fissura labial o que permite a confir-
mação diagnóstica imediata. Para situações de crianças nascidas com fenda pala-
tina, a identificação é possível à visualização do palato ou identificada quando o
examinador realiza palpação colocando um dedo diretamente no palato.
A conduta terapêutica é direcionada para o fechamento das fendas e da fissu-
ra labial com correção cirúrgica, que além de prevenir complicações, também visa
à facilitação do crescimento e desenvolvimento normais da criança.
A queiloplastia ou plástica em Z (várias linhas de sutura em zigue-zague) ou
técnica rotacional de Millard é em geral a correção cirúrgica instituída quando o
lactente não apresenta nenhuma infecção oral, respiratória ou sistêmica, sendo
mais comum a sua realização aos 3 meses. Em situações específicas, alguns cirur-
giões a realizam ainda na primeira semana de vida.
A palatoplastia é a correção cirúrgica instituída para os diagnósticos de fenda
palatina e é realizada próximo de 12 meses de idade para que sejam aproveitadas
as modificações do palato que ocorrem com o crescimento normal. A correção
cirúrgica desse tipo de anomalia orofacial geralmente é retardada para prevenir
interrupção do crescimento facial e a formação dos botões dentários. Entretanto,
a correção deve ser realizada tão logo possível, de modo que a malformação não
interfira no desenvolvimento da fala.
No caso da fenda palatina, por existir a indicação para correção cirúrgica mais
tardiamente, durante os meses que antecedem a correção, visando a uma boa ali-
mentação da criança e a prevenção de complicações como broncoaspiração, em
virtude da malformação que permite a comunicação da oro com a nasofaringe,
essas crianças são encaminhadas para os centros de referência que permitem a mol-
dagem do palato para a confecção de placas palatinas. Essas placas pré-moldadas
possibilitam a alimentação adequada da criança durante os primeiros meses de
capítulo 5 • 137
vida, até que ocorra a correção cirúrgica. Cabe destacar que nesse momento são
realizadas orientações da posição correta para alimentar o bebê.
Dentre as principais complicações para as patologias orofaciais, podemos citar
as dificuldades na alimentação (tempo de alimentação excessivo, deglutição de
muito ar, fadiga), dentição alterada, desenvolvimento da fala alterado (voz ana-
salada e dificuldade de pronuncia de algumas consoantes), além de otite média
e pneumonia.
Dentre os cuidados de enfermagem, no pré-operatório destacam-se:
• Apoio e orientação aos pais;
• Alimentação: estímulo à amamentação, com técnica de posicionamento do
mamilo e estabilização posteriormente na cavidade oral, ou quando necessário,
uso de bicos especiais/modificados e placas oclusoras. É necessário manter o bebê
ereto durante e logo após as mamadas para eructar.
• Higiene adequada e rotineira tanto da fenda como da placa oclusora após
alimentação nos casos de fenda palatina, 2 a 3 vezes/dia, com escovação da placa.
• Avaliação das técnicas de alimentação, que envolve a importante observação
para o estímulo para sucção e o repouso quando o lactente sinalizar cansaço por
meio da expressão facial.
capítulo 5 • 138
Patologias gastrointestinais
Atresia de esôfago
capítulo 5 • 139
A correção cirúrgica pode ser realizada com a transposição gástrica, o que
depende inclusive do estado geral e da anomalia. Em geral, a correção em está-
gios requer realização de esofagostomia (para drenagem de saliva), gastrostomia
(para descompressão gástrica), e jejunostomia (para alimentação). Quando não é
possível efetuar a anastomose esofágica, pode ser necessária uma substituição da
parte que ausenta a continuidade do esôfago, por meio da interposição do cólon
ou interposição gástrica.
As principais complicações cirúrgicas para os casos de atresia de esôfago com
fístula traqueoesofágica incluem o extravasamento anastomótico, estenoses de
esôfago, distúrbios da motilidade esofágica que causam refluxo gastroesofágico,
traqueomalácia (enfraquecimento da parede da traqueia).
capítulo 5 • 140
• Manter cuidados com o dreno de tórax – em caso de pneumotórax no pós
-operatório imediato;
• Não repassar SNG (sifonagem) e SNJ (fechada) em caso de saída acidental
(risco de perfuração esofágica);
• Manter cabeça fletida, para não repuxar a anastomose realizada.
capítulo 5 • 141
Nas crianças maiores outros sintomas podem ser evidenciados e referenciados,
como:
• Dor abdominal e dor torácica não cardíaca;
• Tosse crônica;
• Disfagia;
• Asma noturna e pneumonia recorrente.
capítulo 5 • 142
Pode sser utilizado como uma terapia acessória no trata-
mento de lactentes e crianças com sintomas persistentes
de RGE. Assim, drogas que promovem uma aceleração do
esvaziamento gástrico e aumentar a motilidade do sistema
TRATAMENTO gastrointestinal podem ser prescritas pelo médico. Assim
FARMACOLÓGICO como outras que reduzem a quantidade de ácidos presen-
tes nos conteúdos gástricos, podendo prevenir a esofagite
(ranitidina) e drogas inibidoras da bomba de prótons, pois
são eficazes no bloqueio da produção de ácido (omeprazol,
pantoprazol).
capítulo 5 • 143
entérica patogênica e potencialmente invasiva e presença de substrato facilitador
da proliferação bacteriana na dieta enteral – alimentação por fórmula infantil.
O aparecimento e o desenvolvimento da doença podem ser abruptos e de
rápida evolução para o óbito, ou pode haver evolução arrastada, lenta e pou-
co definida.
Nos casos em que há suspeita de enterocolite, muitas das manifestações clí-
nicas são inespecíficas. Entretanto, alguns recém-nascidos apresentam as seguintes
alterações gastrointestinais:
• Distensão abdominal;
• Intolerância alimentar com vômitos biliosos – aumento do resíduo gástrico;
• Resíduo gástrico bilioso;
• Muco e/ou sangue nas fezes;
• Alças abdominais salientes;
• Abdômen sensível ao toque;
• Mudança na cor da pele abdominal (hiperemiada, acinzentada ou azulada);
• Sangue nas fezes (enterorragia).
capítulo 5 • 144
estabilização hemodinâmica do RN, ele poderá ser submetido à intervenção cirúr-
gica em condições mais favoráveis.
Dessa forma, diante da suspeita de ECN são recomendadas as seguintes
medidas:
• Suspender imediatamente a nutrição por via enteral, realizando sondagem
orogástrica e mantendo a sonda em drenagem para aliviar a distensão abdominal;
• Utilizar sonda mais calibrosa possível para o tamanho da criança, para ga-
rantir sua permeabilidade e contínuo esvaziamento gástrico;
• Iniciar nutrição parenteral;
• Manter estabilidades hidroeletrolítica, metabólica e hemodinâmica, para
que o estado clínico do RN não se deteriore;
• Realizar exames laboratoriais e o exame radiológico do abdômen. O exame
radiológico deve ser realizado no momento da suspeita e repeti-lo 2 a 4 vezes no
dia, dependendo da evolução do RN. O exame radiográfico permite avaliação da
evolução do comprometimento intestinal pelo grau de distensão abdominal e da
presença de edema de alças ou alça sentinela, pneumatose intestinal ou periportal
e pneumoperitônio;
• Iniciar imediatamente antibioticoterapia de largo espectro. Sugere-se a as-
sociação ampicilina e gentamicina para crianças que não receberam antibioticote-
rapia prévia. A antibioticoterapia poderá ser suspensa 3 a 5 dias após os sinais clí-
nicos e laboratoriais desaparecerem por completo e se as culturas não mostrarem
crescimento de micro-organismos;
• Reiniciar a alimentação enteral, de preferência com leite da própria mãe (na
impossibilidade, utilizar leite de banco de leite humano) 48 horas após a normali-
zação do quadro clínico e laboratorial.
capítulo 5 • 145
• Observar distensão abdominal e circunferência, ausculta da presença de ruí-
dos abdominais;
• Manter o RN sem fralda;
• Instalar balanço hídrico;
• Atentar para o mL/h das medicações, hidratações e NPT prescritas;
• Posicionamento: decúbito lateral ou posição supina para evitar pressão so-
bre o abdome distendido;
• Controlar a dor;
• Observar e registrar: presença de sangue nas fezes, perfusão, irritabilidade,
hipoatividade e resíduo gástrico (coloração e volume);
• Instituir medidas para prevenir a transmissão para outros neonatos.
capítulo 5 • 146
O tratamento é cirúrgico e as técnicas dependem do tipo do defeito e da equi-
pe cirúrgica. Dentre as possíveis complicações, podemos citar enterocolite necroti-
zante, síndrome do intestino curto, síndrome da má rotação intestinal, obstrução
intestinal e colestase dependente da infusão prolongada de nutrição parenteral.
Os cuidados ao RN com defeito de parede abdominal incluem:
• Manter sonda gástrica calibrosa aberta, para evitar distensão das al-
ças intestinais;
• Manipular o defeito somente com luvas estéreis. Evitar manipula-
ções múltiplas;
• Verificar se não há isquemia intestinal e utilizar anteparos para as vísceras;
• Manter o paciente em decúbito lateralizado para não dificultar o retor-
no venoso;
• Proteger o defeito com uma compressa estéril e cobrir o curativo com um
filme de PVC;
• Manter adequada temperatura corporal, mas evitar o calor radiante;
• Oferecer assistência ventilatória adequada;
• Cuidado para não fornecer suporte ventilatório excessivo e, com isso, oca-
sionar diminuição do débito cardíaco e da circulação mesentérica;
• Observar a necessidade hídrica do RN. Na onfalocele, as perdas por evapora-
ção são importantes, porém não muito intensas. Na gastrosquise, além das perdas
por evaporação, há também sequestro de fluidos pelas alças intestinais expostas.
Apendicite
capítulo 5 • 147
tomada pelo médico. A apendicite supurada, quando ocorre processo inflamatório
com presença de pus, pode levar ao rompimento do órgão, podendo levar a sepse.
Nos casos onde ocorre cirurgia, os cuidados de enfermagem recaem para:
• Manutenção do jejum conforme prescrição médica;
• Atenção para funcionamento do trânsito intestinal e ausculta de ruídos
hidroaéreos;
• Cuidados gerais com a ferida operatória;
• Controle de sinais vitais e de sinais de infecção.
Hérnias
Dá-se o nome de hérnia ou herniação toda vez que um órgão extravasa a ca-
vidade que o contém, seja por efeito mecânico, anatômico, natural ou mecânico.
As hérnias mais comuns são as intestinais, que extravasam a parede abdominal por
defeitos no fechamento da parede muscular abdominal, e as mais complexas envol-
vem defeitos do diafragma, causando elevação dos órgãos abdominais para o tórax.
As hérnias devem ser avaliadas em sua extensão, comprometimento de es-
truturas e evolução. Enquanto herniações que envolvem o intestino em crianças
e adolescentes podem ser avaliadas e terem acompanhamento clínico devido ao
reposicionamento do intestino concomitante ao melhor desenvolvimento e cresci-
mento da parede abdominal, outras herniações, em geral, são situações cirúrgicas
iminentes. Herniações intestinais encarceradas são fruto da rotação e torção da
alça intestina envolvida, resultando em obstrução intestinal e necrose, indicando
cirurgia imediata.
Os cuidados de enfermagem no pós-operatório de cirurgias de herniações in-
testinais englobam:
• Cuidados e controles gerais, como sinais vitais, banho, repouso e alimen-
tação leve;
• Observação e controle das eliminações intestinais;
• Atenção aos sinais de infecção e prevenção da mesma;
• Retorno adequado para avaliação médica;
• Controle da dor.
capítulo 5 • 148
Patologias urogenitais
Hipospádia e epispádia
A epispádia é uma anomalia uretral rara que acomete cerca de um para cada
200 mil nascidos vivos, na qual o orifício está na superfície dorsal do pênis. A hi-
pospádia é uma anomalia congênita em que o meato uretral se abre na face ventral
do pênis que ocorre em cada uma criança para 300 nascimentos. Tanto na epis-
pádia quanto na hipospádia ocorre uma menor distância da uretra até a bexiga, o
que facilita o acesso de bactérias.
Se não for realizada a correção cirúrgica, não permitirá aos meninos urinar
em pé e, consequentemente, na fase reprodutiva, essa anormalidade uretral pode
interferir na deposição do esperma durante a relação sexual e causar infertilidade
masculina, além de prejudicar a autoestima e a imagem corporal.
A causa exata é desconhecida, mas possivelmente ligada a fatores genéticos.
A conduta terapêutica é cirúrgica e em algumas situações,uma única cirur-
gia permite a correção da eventual curvatura peniana e a reconstrução da uretra,
denominada neo-uretroplastia. Reconstruções mais extensas podem necessitar de
mais estágios e em ambos os casos não se recomenda fazer a circuncisão, pois, a
pele do prepúcio pode ser necessária para o reparo cirúrgico. Normalmente se faz
a cirurgia durante o primeiro ano de vida.
Dentre os cuidados de Enfermagem, seguem os principais:
• Avaliar a drenagem urinária (instalar balanço hídrico);
• Cuidados com a sonda vesical (fixação e cuidados para evitar a tração);
• Avaliar edema e equimose local;
• Administração de antibióticos e analgésicos;
• Evitar banho de banheira e utilizar a técnica de fralda dupla para proteger
a área operada das fezes.
Fimose
capítulo 5 • 149
A conduta terapêutica inicial é a realização de exercícios delicados (retraindo
suavemente a pele do prepúcio) com a aplicação tópica de um creme a base de
corticoide durante 1 mês. Caso não se obtenha o resultado esperado, a conduta
cirúrgica é uma segunda opção, quando se realiza a postectomia (popularmente
também conhecido como circuncisão).
Os cuidados de Enfermagem no pós-operatório incluem:
• Avaliar eritema, edema ou sangramento ativo;
• Registrar a primeira micção pós-procedimento que deve ser entre 6 e 8
horas;
• Realizar o controle da dor;
• Orientar/realizar higiene local;
• Orientação aos pais.
Hidrocele
capítulo 5 • 150
Criptorquidia
Patologias neurológicas
Hidrocefalia
capítulo 5 • 151
subaracnoides. Esse acúmulo pode decorrer de fatores intrínsecos ou extrínsecos
que comprometem a circulação liquórica cerebral resultando assim no aumento
dos ventrículos e/ou hipertensão intracraniana.
Cabe destacar que o líquor é um ultrafiltrado do plasma e tem como funções
manter flutuante o tecido cerebral, transportar nutrientes ao cérebro e eliminar
resíduos. Seu volume normal é de 125 a 150 mL.
As hidrocefalias podem ser classificadas em comunicante e não comunicante.
A hidrocefalia não comunicante (intraventricular) é resultante de uma obstrução
do fluxo de LCR dentro do sistema ventricular, impedindo a comunicação entre
os ventrículos. Já a hidrocefalia comunicante (extraventricular), resulta de um dé-
ficit de absorção do LCR no espaço subaracnóideo. Nesse caso os ventrículos se
comunicam normalmente.
Com relação à sua etiologia, a hidrocefalia pode ser determinada como congê-
nita ou adquirida. Na hidrocefalia congênita, a sua relação pode vir de:
• Malformações do desenvolvimento ou malformações diversas como Arnold-
Chiari, síndrome de Dandy-Walker, estenose do aqueduto;
• Mielomeningocele: frequentemente tem a hidrocefalia associada;
• Infecção intrauterina: rubéola, toxoplasmose e sífilis (levam a uma rea-
ção inflamatória e ao exsudato espesso causando uma obstrução da circulação
do líquor);
• Anomalias cromossômicas (podem resultar em múltiplas malforma-
ções congênitas);
• Cistos aracnoides ou tumores congênitos (podem obstruir o fluxo do líquor).
capítulo 5 • 152
As causas mais frequentes de hidrocefalia comunicante são as hemorragias e as
meningites e as mais frequentes de hidrocefalia não comunicante são as malforma-
ções congênitas e os processos tumorais e cistos. Dentre as manifestações clínicas
da hidrocefalia, as que merecem destaque são:
• Crescimento craniano anormalmente rápido;
• Afinamento dos ossos do crânio;
• Abaulamento das fontanelas (especialmente a anterior) – tensa e pulsátil;
• Suturas separadas;
• Veias do couro cabeludo dilatadas;
• Sinal de Macewen (som de vaso rachado);
• Sinal do sol poente (esclera visível acima da íris).
capítulo 5 • 153
permite a remoção de LCR por um tubo colocado no ventrículo da criança que
flui por meio da gravidade para um dispositivo coletor.
Os cuidados de enfermagem no período pré-operatório, incluem:
• Verificar sinais vitais e pressão arterial;
• Observar sinais de elevação da pressão intracraniana: irritabilidade, letargia
ou atividade convulsiva;
• Medir perímetro cefálico diariamente;
• Palpar fontanelas e linhas de suturas, com delicadeza, quanto ao tamanho,
aos sinais de abaulamento, à tensão e separação;
• Fazer exame físico neurológico diariamente;
• Manter a postura corporal anatômica utilizando suportes para manter o
decúbito, visando ao apoio da cabeça em relação ao corpo. Mudar de decúbito a
cada três ou quatro horas;
• Fornecer fórmula ou leite materno em pequenos volumes e intervalos curtos.
capítulo 5 • 154
• Observar sinais de meningite, como vômitos em jato, hipertermia, irritabi-
lidade, letargia, convulsões e rigidez de nuca;
• Observar sinais de peritonite (complicação do posicionamento distal do ca-
teter) nos casos de DVP como: dor à palpação, distensão abdominal, hipertermia,
taquicardia;
• Observar distensão abdominal devido a íleo paralítico pós-operatório;
• Controle da dor com o uso de medicamentos, evitando sedação;
• Realizar balanço hídrico;
• Após liberação da dieta, fazê-la em pequenos volumes com intervalos curtos;
• Apoio e orientação aos pais.
Espinha bífida oculta – defeito que não é visível externamente, mas existe
malformação vertebral
capítulo 5 • 155
faltando. Não é visível externamente a menos que esteja associada a manifestações
cutâneas ou a distúrbios neuromusculares. Ou seja, em muitos casos não se ob-
servam manifestações, mas em muitos casos pode estar associada a uma ou mais
manifestações cutâneas, tais como: depressão ou cova cutânea, tufos de cabelo
escuro e lipomas subcutâneos macios.
Espinha bífida cística – defeito que é visível, com protrusão meníngea exter-
na, podendo ser classificada como:
capítulo 5 • 156
A conduta terapêutica é cirúrgica e a possibilidade de fechamento precoce,
ou seja, dentro das primeiras 24 a 72 horas, proporciona desfecho mais favorável.
Para os casos em que se é possível realizar a cirurgia nas primeiras 12 a 18 horas,
esta não apenas evita a infecção local e o trauma aos tecidos expostos, como tam-
bém evita o estiramento de outras raízes nervosas, reduzindo dessa forma acome-
timentos mais acentuados.
Todavia, para as crianças com defeito de fechamento do tubo neural (menin-
gocele e meningomielocele) os cuidados imediatos instituídos ao nascimento são
fundamentais para propiciar redução dos agravos:
• Posicionar as crianças em decúbito lateral ou ventral, sendo elas manipula-
das com extremo cuidado;
• Colocar o RN em incubadora ou berço aquecido, de modo que a tem-
peratura seja mantida sem o uso de roupas ou cobertores que possam irritar a
lesão vertebral;
• Realizar proteção da lesão recobrindo a protrusão com compressa estéril
e colocar filme transparente de PVC para evitar rotura, contaminação, perda de
líquido e de calor. Não realizar pressão externa;
• O exame do saco herniário deve ser realizado sempre de forma asséptica;
• Verificar as características da membrana que recobre a lesão: sinais de infec-
ção, sangramentos ou existência de rotura da membrana com saída de líquido ce-
falorraquidiano. Cabe destacar que em situações de rotura da lesão, está indicado
iniciar antibioticoterapia de amplo espectro;
• Avaliação do comprometimento neurológico, incluindo medição do perí-
metro cefálico diariamente;
• As fontanelas devem ser observadas para sinais de hipertensão
ou abaulamento;
• Observar débito urinário e distensão da bexiga, mesmo com fralda úmida,
pois pode indicar um extravasamento de urina em uma bexiga retentora;
• O uso de fraldas no lactente pode estar contraindicado até que o defeito
tenha sido corrigido e a regeneração esteja bem avançada;
• Em situações que houver necessidade de transportar o RN, mantê-lo em
decúbito ventral quando houver meningomielocele ou encefalocele.
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neurogênica. Nesses casos, cada criança recebe uma avaliação individualizada e as
medidas de suporte, o tratamento e a cirurgia são apropriados para cada condição.
No pós-operatório a monitorização dos sinais vitais, ingestão e eliminação, o
fornecimento de alimentação, a observação dos sinais de infecção e o tratamento
da dor são os principais cuidados de Enfermagem. No local cirúrgico, é de gran-
de importância a observação de extravasamento de líquido cefalorraquidiano. A
posição ventral é mantida, embora também possa ser mantido em decúbito lateral
(depende do grau de displasia congênita do quadril), evitando sempre a compres-
são do lado operado.
Fraturas
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Já nos casos de procedimentos cirúrgicos, além dos cuidados anteriores,
destacamos:
• Orientação quanto ao reconhecimento dos sinais de infecção;
• Atenção às hastes de fixação externas ou fixadores externos: reconhecimento
de sinais de infecção e limpeza das hastes, proteção contra novas contusões.
ATIVIDADES
01. Quais são os sinais de infecção? Quais os cuidados de enfermagem para se evi-
tar infecções?
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