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COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

Guia Prático de
Recuperação
Judicial e
Extrajudicial
Fique por dentro das principais
informações a respeito das duas
medidas
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL
SECCIONAL ESPÍRITO SANTO

PRESIDENTE: José Carlos Rizk Filho


VICE-PRESIDENTE: Anabela Galvão
SECRETÁRIO GERAL: Marcus Felipe Botelho Pereira
SECRETÁRIO GERAL ADJUNTO: Rodrigo Carlos de Souza
DIRETOR TESOUREIRO: Ricardo Ferreira Pinto Holzmeister

_____________

Endereço:
Rua: Alberto de Oliveira Santos, 59 Ed. Ricamar 3º e 4º Andares
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www.oabes.org.br

Junho de 2020
COMISSÃO DE
DIREITO EMPRESARIAL

PRESIDENTE: Gustavo Passos Corteletti


VICE PRESIDENTE: Marcelo Otávio de Albuquerque Benevides Mendonça
SECRETÁRIO GERAL: Thiago Nader Passos
SECRETÁRIO GERAL ADJUNTO: Rubens Laranja Musiello

Elaboração Técnica do Guia Prático

Bruno Pereira Portugal


Leonardo José Vulpe da Silva

Demais Membros da Comissão

Aloizio Farias de Souza Filho


Ana Mariana Oliveira de Souza
Bruno Peixoto Sant' Anna
Douglas Genelhu de Abreu Guilherme
Efigênia Marlia Brasilino de Morais Cruz
Fernanda Miguez Costa
Fernanda Rocha Otoni Guedes
Gabriela Campostrini
João Rafael Zanotti Guerra Frizzera Delboni
Mario Cezar Pedrosa Soares
Rodolpho Zorzanelli Coqueiro
Rodrigo Mariano Trarbach
Rogerio Keijok Spitz
COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL
COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

Apresentação
Não há dúvida de que a quantidade de requerimentos de recuperação judi-
cial, e em menor escala de recuperação extrajudicial, serve como um
termômetro do nível da atividade econômica de um país, refletindo a insta-
lação, permanência e superação de crises.

No Brasil, por exemplo, a partir da crise econômica inaugurada em meados


de 2014, que se arrastou pelos anos posteriores – classificada por muitos
como a pior de nossa história –, houve aumento substancial de ajuizamento
de pedidos de recuperação judicial, como informado pelo Serasa Experian.
Com efeito, observou-se um salto de 828 recuperações judiciais requeridas
em 2014 para 1.287 no ano seguinte, culminando com o recorde de 1.863
em 2016. Os anos de 2017 e 2018 apontaram para uma lenta melhora do
cenário econômico, vez que os pedidos caíram para 1.420 e 1.408, respecti-
vamente. Encerramos 2019 com esperança de estarmos no rumo certo da
superação da crise, a considerar que as recuperações judiciais requeridas
diminuíram ainda mais, para 1.387. Quem poderia imaginar o que viria em
2020?

Como demonstrado acima, vínhamos de um gradual e vagaroso soergui-


mento da atividade econômica. Ocorre que em 2020 fomos repentinamente
surpreendidos com a pandemia da Covid-19, vírus que se alastrou pelos
cinco continentes e provocou um verdadeiro drama de natureza sanitária
países afora, inclusive, claro, o Brasil. As medidas de contenção da propa-
gação da Covid-19 envolvem distanciamento social e restrição ao funciona-
mento de comércios e serviços não essenciais, impactando de maneira
direta e imediata na economia. Já é esperada uma retração de 6% do PIB,
tendo quem aguarde por algo ainda pior.

Para se ter uma ideia desse contexto, no início deste mês, o Valor Econômi-
co veiculou matéria indicando que a consultoria Pantalica Partners estima
em 3.000 o número de pedidos de recuperação judicial caso se confirme a
queda de 6%, o que por si só já tem o condão de superar o recorde de 2016
antes mencionado.
COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

Tendo em mente tais circunstâncias, a Comissão de Direito Empresarial da


OAB/ES idealizou e elaborou o presente Guia Prático, a fim de fornecer as
principais informações que envolvem a recuperação judicial e extrajudicial.
O trabalho é voltado não só para operadores do direito, mas também e
sobretudo para a comunidade de interessados em geral, como empresári-
os, contadores, economistas e administradores. É uma forma que a OAB/ES
tem de contribuir de alguma maneira com a sociedade neste delicado mo-
mento da economia do nosso país.

Gustavo Passos Corteletti


Presidente

Bruno Pereira Portugal


Leonardo José Vulpe da Silva
Autores
Sumário
• Introdução ..................................................................................................... 06

• Recuperação Judicial ................................................................................... 07


Quem pode requerer ............................................................................ 07
Em qual lugar requerer ........................................................................ 08
Requisitos ............................................................................................... 09
Créditos Sujeitos .................................................................................... 10
Instrução do Pedido .............................................................................. 11
Processamento ...................................................................................... 12
Habilitação, verificação e impugnação de crédito .......................... 15
Planos e Meios de Recuperação Judicial .......................................... 16
Deliberação sobre o Plano de Recuperação Judicial ...................... 19
Concessão da Recuperação Judicial ................................................. 23
Plano Especial da ME e EPP ................................................................ 24
Convolação da Recuperação Judicial em Falência ......................... 25

• Recuperação Extrajudicial .......................................................................... 26


Quem pode propor ................................................................................ 26
Em qual local requerer a Homologação do Plano ........................... 26
Requisitos ............................................................................................... 26
Créditos Sujeitos .................................................................................... 27
Plano de Recuperação Extrajudicial ................................................... 28
Homologação do Plano de Recuperação Extrajudicial .................. 28
Instrução do Pedido de Homologação .............................................. 30
Procedimento ......................................................................................... 31

• Conclusão ...................................................................................................... 34
COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

Introdução
Em um cenário de crise, é natural que o parte dos mesmos. Além disso, a depender
empresário busque superá-la a partir de do estágio em que estejam as cobranças,
soluções de mercado, que abrangem as pode se ver na iminência de ter o patrimô-
mais variadas hipóteses. Nesse contexto, nio penhorado ou de outra forma constrito.
pode o empresário renegociar contratos,
alongar as suas dívidas, enxugar o pas- Fato é que, a partir de uma análise caso a
sivo, alienar bens do ativo, admitir sócio caso – não há uma fórmula determinante e
para aporte de novo capital etc. exata –, com enfoque especial na raiz da
crise, pode se chegar à conclusão de que o
Acontece que nem sempre a adoção de soerguimento da atividade empresarial
tais soluções se mostra adequada para demanda o uso das medidas recuperacio-
que o estado de crise seja debelado. É pos- nais dispostas na legislação brasileira.
sível, por exemplo, que o empresário
encontre dificuldades para negociar indi- Essas medidas se referem à recuperação
vidualmente com os credores, ou ainda se judicial e extrajudicial, previstas na Lei nº
depare com comportamento renitente por 11.101/2005.

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COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

Recuperação Judicial
A recuperação judicial tem por objeti- prego dos trabalhadores e dos interes-
vo viabilizar a superação da situação ses dos credores, promovendo, assim,
de crise econômico-financeira do a preservação da empresa, sua
devedor, a fim de permitir a ma- função social e o estímulo à atividade
nutenção da fonte produtora, do em- econômica.

Quem pode Também, estão expressamente veda-


das de pedir recuperação judicial a

requerer empresa pública e a sociedade de


economia mista. De igual modo, a
Somente pode ajuizar pedido de recu- instituição financeira pública ou
peração judicial o empresário individu- privada, cooperativa de crédito,
al ou a sociedade empresária – a consórcio, entidade de previdência
quem a lei se reporta simplesmente complementar, sociedade operadora
como devedor –, cujo registro compete de plano de assistência à saúde,
às Juntas Comerciais. sociedade seguradora, sociedade de
capitalização e outras entidades legal-
Estão fora do âmbito da recuperação mente equiparadas às anteriores.
judicial, portanto, a associação, a
fundação e a cooperativa, bem como A legislação traz admissão excepcio-
o autônomo e a sociedade que nal de requerimento de recuperação
exerçam atividade inerente à profissão judicial pelo cônjuge sobrevivente, her-
intelectual, de natureza científica, deiros do devedor, inventariante ou
literária ou artística (ainda que conte sócio remanescente. Tratam-se de
com o concurso de auxiliares), sem hipóteses em que sobreveio eventual
caráter empresarial. É o caso, seja falecimento, sendo as três primeiras
individualmente ou por meio de socie- do empresário individual e a última do
dade, do advogado, contador, engen- administrador da sociedade.
heiro, médico, dentista, músico etc.

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COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

Em qual lugar
requerer
A recuperação judicial deve ser
requerida no local do principal esta-
belecimento do devedor ou da filial
de empresa que tenha sede fora do
Brasil.

Quando as atividades empresariais


são exercidas em uma única cidade,
não há maiores problemas. A dúvida
passa a existir quando há mais de
um lugar, como em casos de filiais ou
grupos econômicos. Para o STJ, o
“local do principal estabelecimento”
é onde são “exercidas as atividades
mais importantes da empresa, não
se confundindo, necessariamente,
com o endereço da sede, formal-
mente constante do estatuto social”
(REsp 1006093/DF, Rel. Ministro AN-
TONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA
TURMA, julgado em 20/05/2014, DJe
16/10/2014).

Ainda sobre essa questão, o STJ


interpretou a aplicação da regra
dispondo que o principal
estabelecimento é “o
local onde haja o
maior volume de
negócios,
ou seja,

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COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

o local mais importante da atividade ou, do contrário, se o período anteri-


empresária sob o ponto de vista or poderia ser aproveitado. O STJ
econômico” (AgInt no CC 147.714/SP, decidiu que pode, “para perfazer o
Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, tempo exigido por lei, computar
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em aquele período anterior ao registro,
22/02/2017, DJe 07/03/2017). pois tratava-se, mesmo então, de
exercício regular da atividade empre-
Assim, adotou-se um critério sarial” (REsp 1800032/MT, Rel. Mi-
econômico, de modo que a recupera- nistro MARCO BUZZI, Rel. p/ Acórdão
ção judicial deve ser requerida no Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA
local em que circule o maior volume TURMA, julgado em 05/11/2019, DJe
de negócios da empresa (não neces- 10/02/2020).
sariamente a sede social).
Por outro lado, para se pedir recupe-

Requisitos
ração judicial, necessário ainda que
o devedor atenda, cumulativamente,
os seguintes requisitos:
Pode requerer recuperação judicial o
devedor que, no momento do • Não ser falido e, se o foi, este-
pedido, exerça regularmente suas jam declaradas extintas, por sen-
atividades há mais de 2 anos. tença transitada em julgado, as
responsabilidades daí decor-
Especial destaque deve ser feito em rentes;
relação ao empresário rural. É que,
diferente dos demais empresários, • Não ter, há menos de 5 anos,
aquele tem a faculdade, e não obtido concessão de recuperação
obrigação, de se registrar na Junta judicial;
Comercial, sendo que apenas com
tal inscrição é que passa a poder • Não ter sido condenado ou não
requerer a recuperação judicial. A ter, como administrador ou sócio
controvérsia que se surgiu então foi controlador, pessoa condenada
se os 2 anos de atividade rural deve- por qualquer dos crimes previstos
riam ser contados após o registro, na Lei nº 11.101/2005.

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COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

Créditos Sujeitos
Estão sujeitos à recuperação judicial Segundo o entendimento do STJ, em
todos os créditos existentes na data caso de crédito objeto de processo
do pedido, ainda que não vencidos. judicial, a aferição da data da sua
Basta, pois, que o crédito simples- existência independe de quando foi
mente exista no momento em que proferida a sentença ou mesmo de
for pedida a recuperação judicial, quando foi ajuizada a ação,
sendo desnecessário que o mesmo importando tão apenas quando se
esteja vencido. deu o fato gerador. Assim, por exem-
plo, na hipótese de crédito trabalhis-
ta reconhecido pela Justiça do Tra-
balho, para que seja sujeito à recu-
peração judicial, deve-se levar em
conta se a prestação de serviço (fato
gerador do crédito) ocorreu em mo-
mento anterior ao pedido da medida
de soerguimento.

Com relação ao credor titular da


posição de proprietário fiduciário de
bens móveis ou imóveis, de arren-
dador mercantil, de proprietário ou
promitente vendedor de imóvel cujos
respectivos contratos contenham
cláusula de irrevogabilidade ou irre-
tratabilidade, inclusive em incorpo-
rações imobiliárias, ou de proprie-
tário em contrato de venda com res-
erva de domínio, seu crédito não se
sujeitará aos efeitos da recuperação
judicial e prevalecerão os direitos de

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COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

propriedade sobre a coisa e as • As demonstrações contábeis


condições contratuais. É o caso da relativas aos 3 últimos exercícios
garantia ofertada por meio da sociais e as levantadas especial-
cessão fiduciária de recebíveis, mente para instruir o pedido,
muito comum em contratos bancári- confeccionadas com estrita
os. observância da legislação soci-
etária aplicável e compostas
Também não se sujeitam à recupera- obrigatoriamente de:
ção judicial o crédito fiscal e a
importância entregue ao devedor, - Balanço patrimonial;
em moeda corrente nacional, decor-
rente de adiantamento a contrato de - Demonstração de resultados
câmbio para exportação, desde que acumulados;
o prazo total da operação, inclusive
eventuais prorrogações, não exceda - Demonstração do resultado
o previsto nas normas específicas da desde o último exercício social;
autoridade competente.
- Relatório gerencial de fluxo de
Os credores do devedor em recupe- caixa e de sua projeção;
ração judicial conservam os seus
direitos e privilégios contra os coo- • A relação nominal completa
brigados, fiadores e obrigados de dos credores, inclusive aqueles
regresso. Isso significa que eventual por obrigação de fazer ou de dar,
aval e fiança prestada por sócio do com a indicação do endereço de
devedor, a princípio, não é afetado cada um, a natureza, a classifi-
pela medida. cação e o valor atualizado do
crédito, discriminando sua

Instrução
origem, o regime dos respectivos
vencimentos e a indicação dos

do Pedido
registros contábeis de cada tran-
sação pendente;

O pedido de recuperação judicial • A relação integral dos empre-


deve ser instruído com: gados, em que constem as
respectivas funções, salários,
• A exposição das causas con- indenizações e outras parcelas a
cretas da situação patrimonial que têm direito, com o corres-
do devedor e das razões da crise pondente mês de competência, e
econômico-financeira; a discriminação dos valores pen-

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COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

dentes de pagamento;
Processamento
• Certidão de regularidade do
devedor na Junta Comercial, o Após a realização do protocolo do
ato constitutivo atualizado e as pedido, estando em termos os ele-
atas de nomeação dos atuais mentos que devem instrui-lo, o juiz
administradores; deferirá o processamento da recu-
peração judicial, e, no mesmo ato:
• A relação dos bens particulares
dos sócios controladores e dos • Nomeará administrador judicial;
administradores do devedor;
• Determinará a dispensa da
• Os extratos atualizados das apresentação de certidões nega-
contas bancárias do devedor e tivas para que o devedor exerça
de suas eventuais aplicações suas atividades, exceto para con-
financeiras de qualquer modali- tratação com o Poder Público ou
dade, inclusive em fundos de para recebimento de benefícios
investimento ou em bolsas de ou incentivos fiscais ou cre-
valores, emitidos pelas respecti- ditícios;
vas instituições financeiras;
• Ordenará a suspensão de todas
• Certidões dos cartórios de pro- as ações ou execuções contra o
testos situados na comarca do devedor, com exceção das ações
domicílio ou sede do devedor e em que não houve quantificação
naquelas onde possui filial; do crédito, das execuções fiscais
e das ações relativas a créditos
• A relação, subscrita pelo deve- excluídos da recuperação judicial;
dor, de todas as ações judiciais
em que este figure como parte, • Determinará ao devedor a apre-
inclusive as de natureza sentação de contas demonstrati-
trabalhista, com a estimativa dos vas mensais enquanto perdurar a
respectivos valores demandados. recuperação judicial, sob pena de
destituição dos seus administra-
Com relação às demonstrações con- dores;
tábeis, as ME e EPP podem apresen-
tar livros e escrituração contábil sim- • Ordenará a intimação do
plificados, nos termos da legislação Ministério Público e a comuni-
específica. cação por carta às Fazendas

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COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

Públicas Federal e de todos os


Estados e Municípios em que o
devedor tiver estabelecimento.

Para o STJ, “Como o deferimento do


processamento da recuperação judi-
cial não atinge o direito material dos
credores, não há falar em exclusão
dos débitos, devendo ser mantidos,
por conseguinte, os registros do nome
do devedor nos bancos de dados e
cadastros dos órgãos de proteção ao
crédito, assim como nos tabelionatos
de protestos” (REsp 1374259/MT, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em
02/06/2015, DJe 18/06/2015).

O período de suspensão de ações e


execuções em face do devedor, conhe-

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COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

cido como stay period, perdura por no Com a decisão de deferimento do


máximo 180 dias, tempo em que se processamento da recuperação judi-
presume que ocorrerá o desfecho da cial, o juiz ordenará a expedição de
recuperação judicial. Contudo, caso edital, para publicação no órgão
isto não ocorra, é admissível a pror- oficial, que conterá:
rogação daquele período de sus-
pensão. • O resumo do pedido do devedor
e da decisão que defere o proces-
De outro lado, embora não sejam samento da recuperação judicial;
todas as ações e execuções em face
do devedor que se suspendem com o • A relação nominal de credores,
deferimento do processamento da em que se discrimine o valor atu-
recuperação judicial, em relação as alizado e a classificação de cada
que continuam tramitando, não se crédito;
permite, durante o prazo de sus-
pensão, a venda ou a retirada do • A advertência acerca dos prazos
estabelecimento do devedor dos bens para habilitação dos créditos e
de capital essenciais a sua atividade para que os credores apresentem
empresarial. A decisão sobre o que é objeção ao plano de recuperação
ou não bem de capital essencial é judicial apresentado pelo devedor.
feita pelo juízo da recuperação judi-
cial.

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COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

Habilitação, verificação
e impugnação de crédito

Realizada a publicação do
edital com a relação nominal
de credores, como citado no
item anterior, se o crédito esti-
ver listado de modo integral-
mente correto, não é preciso
adotar providência adicional.
Do contrário, o credor terá
prazo de 15 dias para apresen-
tar, diretamente ao adminis-
trador judicial, a sua habili-
tação ou a sua divergência.

A habilitação deve ser pro-


movida pelo credor cujo crédi-
to não se encontra listado,
para que então obtenha a sua
inclusão.

Já a divergência deve ser pro-


movida pelo credor cujo crédi-
to se encontra listado, porém
com o valor e/ou classificação
equivocados, para que então
obtenha a correção.

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COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

Serve também quando há indevida


inclusão de crédito, em virtude da
Plano e Meios
sua não sujeição à recuperação judi-
cial, para que então o credor
de Recuperação
obtenha a exclusão. Judicial
O administrador judicial, com base
nos livros contábeis e documentos Em conjunto com a elaboração da lista
comerciais e fiscais do devedor, e de credores e a consolidação do
nos documentos que lhe forem apre- respectivo quadro-geral, a cargo do
sentados pelos credores, em espe- administrador judicial, o devedor deve
cial por conta das habilitações e apresentar seu plano de recuperação,
divergências, fará publicar edital no prazo improrrogável de 60 dias da
contendo uma 2ª relação, devendo publicação da decisão que deferir o
indicar o local, o horário e o prazo processamento da medida, sob pena
para que as pessoas interessadas de convolação em falência.
tenham acesso aos documentos que
fundamentaram a elaboração dessa O plano de recuperação judicial deve
nova lista. conter:

Da publicação dessa 2ª relação, • Discriminação pormenorizada


qualquer credor, o devedor ou seus dos meios de recuperação a ser
sócios e o Ministério Público podem empregados, e seu resumo;
apresentar impugnação contra a
respectiva lista, para apontar a au- • Demonstração de sua viabilidade
sência de qualquer crédito ou mani- econômica;
festar-se contra a legitimidade,
importância ou classificação de • Laudo econômico-financeiro e de
crédito relacionado. Essa impu- avaliação dos bens e ativos do
gnação é feita por meio de expedi- devedor, subscrito por profissional
ente judicial, que tramitará em con- legalmente habilitado ou empresa
junto com a recuperação judicial. especializada.

Por fim, ficará o administrador judi- A legislação traz, de forma exemplifi-


cial responsável pela consolidação cativa, os seguintes meios de recuper-
do quadro-geral de credores, a ser ação:
homologado pelo juiz, com base na
2ª relação dos credores e nas • Concessão de prazos e condições
decisões proferidas nas impug- especiais para pagamento das
nações oferecidas. obrigações vencidas ou vincendas;

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COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

• Cisão, incorporação, fusão ou


transformação de sociedade, cons-
tituição de subsidiária integral, ou
cessão de cotas ou ações, respei-
tados os direitos dos sócios, nos
termos da legislação vigente;

• Alteração do controle societário;

• Substituição total ou parcial dos


administradores do devedor ou
modificação de seus órgãos
administrativos;

• Concessão aos credores de


direito de eleição em separado de
administradores e de poder de
veto em relação às matérias que o
plano especificar;

• Aumento de capital social;

• Trespasse ou arrendamento
de estabelecimento, inclu-
sive à sociedade constituí-
da pelos próprios em-
pregados;

•Redução salarial,
compensação
de horários e
redução da
jornada,
medi-
ante

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COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

acordo ou convenção coletiva; • Constituição de sociedade de


propósito específico para adjudi-
• Dação em pagamento ou car, em pagamento dos créditos,
novação de dívidas do passivo, os ativos do devedor.
com ou sem constituição de garan-
tia própria ou de terceiro; O plano de recuperação judicial não
poderá prever prazo superior a 1 ano
• Constituição de sociedade de para pagamento dos créditos
credores; derivados da legislação do trabalho ou
decorrentes de acidentes de trabalho
• Venda parcial dos bens; vencidos até a data do pedido de recu-
peração judicial.
• Equalização de encargos finan-
ceiros relativos a débitos de Também, não poderá prever prazo
qualquer natureza, tendo como superior a 30 dias para o pagamento,
termo inicial a data da distribuição até o limite de 5 salários-mínimos por
do pedido de recuperação judicial, trabalhador, dos créditos de natureza
aplicando-se inclusive aos contra- estritamente salarial vencidos nos 3
tos de crédito rural, sem prejuízo meses anteriores ao pedido de recu-
do disposto em legislação específi- peração judicial.
ca;
O juiz ordenará a publicação de edital
• Usufruto da empresa; contendo aviso aos credores sobre o
recebimento do plano de recuperação
• Administração compartilhada; e fixando o prazo para a manifestação
de eventuais objeções.
• Emissão de valores mobiliários;

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COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

Deliberação sobre o Plano


de Recuperação Judicial
Qualquer credor poderá manifestar ao
juiz sua objeção ao plano de recupe-
ração judicial no prazo de 30 dias con-
tado da publicação da 2ª relação de
credores. Caso, na data da publicação
de tal relação, não tenha sido publicado
o edital com o aviso de recebimento do
plano, contar-se-á da publicação deste
o prazo para as objeções.

Havendo objeção de qualquer credor ao


plano de recuperação judicial, o juiz
convocará a assembleia-geral de
credores para deliberar sobre o mesmo.

A assembleia-geral de credores será


convocada pelo juiz por edital publicado
no órgão oficial e em jornais de grande
circulação nas localidades da sede e
filiais, com antecedência mínima de 15
dias, e será presidida pelo administra-
dor judicial, que designará 1 secretário
dentre os credores presentes.

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COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

A assembleia instalar-se-á, em 1ª
Terão direito a voto na assembleia as
convocação, com a presença de
pessoas listadas no quadro-geral de
credores titulares de mais da metade
credores ou, na sua falta, na 2ª
dos créditos de cada classe, com-
relação de credores apresentada pelo
putados pelo valor, e, em 2ª convo-
administrador judicial, ou, ainda, na
cação, com qualquer número.
falta desta, na relação apresentada
pelo próprio devedor quando da
Para participar da assembleia, cada
instrução do pedido da recuperação,
credor deverá assinar a lista de pre-
acrescidas, em qualquer caso, das
sença, que será encerrada no mo-
que estejam habilitadas na data da
mento da instalação. O credor
realização da assembleia ou que
poderá ser representado por man-
tenham créditos admitidos ou alte-
datário ou representante legal, desde
rados por decisão judicial.
que entregue ao administrador judi-
cial, até 24 horas antes da data pre-
O credor não terá direito a voto e não
vista no aviso de convocação, docu-
será considerado para fins de verifi-
mento hábil que comprove seus
cação de quórum de deliberação se o
poderes ou a indicação das folhas
plano de recuperação judicial não
dos autos do processo em que se
alterar o valor ou as condições origi-
encontre o documento.
nais de pagamento de seu crédito.

Os sindicatos de trabalhadores
Os sócios do devedor, além das
poderão representar seus associados
sociedades coligadas, controladoras,
titulares de créditos derivados da
controladas ou as que tenham sócio
legislação do trabalho ou decorrentes
ou acionista com participação superi-
de acidente de trabalho que não
or a 10% do capital social do devedor
comparecerem, pessoalmente ou por
ou em que o devedor ou algum de
procurador, à assembleia. Para tanto,
seus sócios detenham participação
deverá apresentar ao administrador
superior a 10%, poderão participar
judicial, até 10 dias antes da assem-
da assembleia-geral de credores,
bleia, a relação dos associados que
sem ter direito a voto, e não serão
pretende representar, e o trabalhador
considerados para fins de verificação
que conste da relação de mais de um
do quórum de instalação e de delibe-
sindicato deverá esclarecer, até 24
ração.
horas antes da assembleia, qual
sindicato o representa, sob pena de
Igual situação se aplica ao cônjuge
não ser representado por nenhum
ou parente, consanguíneo ou afim,
deles.
colateral até o 2º grau, ascendente
ou descendente do devedor, de

20
COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

administrador, do sócio controlador, • Classe I: titulares de créditos


de membro dos conselhos consultivo, derivados da legislação do trabalho
fiscal ou semelhantes da sociedade ou decorrentes de acidentes de
devedora e à sociedade em que trabalho;
quaisquer dessas pessoas exerçam
essas funções. • Classe II: titulares de créditos com
garantia real;
A assembleia-geral será composta
pelas seguintes classes de credores: • Classe III: titulares de créditos quiro-
grafários, com privilégio especial,
com privilégio geral ou subordinados;

• Classe IV: titulares de créditos


enquadrados como ME ou EPP.

O STJ admite a criação de subclasses,


com tratamento diferenciado entre
elas no plano. Segundo aquela Corte
Superior, “A criação de subclasses
entre os credores da recuperação

judicial é possível desde que seja


estabelecido um critério objetivo,
justificado no plano de recuperação
judicial, abrangendo credores com
interesses homogêneos, ficando
vedada a estipulação de descontos
que impliquem em verdadeira anu-
lação de direitos de eventuais
credores isolados ou minoritários”
(REsp 1700487/MT, Rel. Ministro
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Rel.
p/ Acórdão Ministro MARCO

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COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, Concessão da


Recuperação
julgado em 02/04/2019, DJe
26/04/2019).

Os titulares de créditos derivados da Judicial


legislação do trabalho votam na Classe
I com o total de seu crédito, indepen- O juiz concederá a recuperação judi-
dentemente do valor. Já os titulares de cial cujo plano não tenha sofrido
créditos com garantia real votam com a objeção de credor ou tenha sido
Classe II até o limite do valor do bem aprovado pela assembleia-geral.
gravado e com a Classe III pelo restante
do valor de seu crédito. Pontua-se que, mesmo com base em
plano que não obteve aprovação (mas
Todas as classes de credores deverão desde que este não implique trata-
aprovar a proposta de plano de recu- mento diferenciado entre os credores
peração. Nas Classes II e III, a proposta da classe que o houver rejeitado), o
deverá ser aprovada por credores que juiz poderá conceder a recuperação
representem mais da metade do valor judicial se, na mesma assembleia, tiver
total dos créditos presentes à assem- sido obtido, de forma cumulativa:
bleia e, cumulativamente, pela maioria
simples dos credores presentes. Lado • O voto favorável de credores que
outro, nas Classes I e IV, a proposta representem mais da metade do valor
deverá ser aprovada pela maioria sim- de todos os créditos presentes à
ples dos credores presentes, indepen- assembleia, independentemente de
dentemente do valor de seu crédito. classes;

O plano de recuperação judicial poderá • A aprovação de 2 das classes de


sofrer alterações na assembleia-geral, credores ou, caso haja somente 2
desde que haja expressa concordância classes com credores votantes, a
do devedor e em termos que não impli- aprovação de pelo menos 1 delas;
quem diminuição dos direitos exclusiva-
mente dos credores ausentes. • Na classe que o houver rejeitado, o
voto favorável de mais de 1/3 dos
Rejeitado o plano, o juiz decretará a credores, computados de acordo com
falência do devedor. a regra daquela.

Para a concessão da recuperação judi-


cial, o juiz proferirá decisão de

22
COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

homologação do plano, caso verifique o


cumprimento das exigências legais. É que,
como orienta o STJ, “o juiz está autorizado
a realizar o controle de legalidade do
plano de recuperação judicial, sem aden-
trar no aspecto da sua viabilidade
econômica, a qual constitui mérito da
soberana vontade da assembleia geral de
credores” (REsp 1660195/PR, Rel. Ministra
NANCY ADRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 04/04/2017, DJe 10/04/2017).

Em que pese a exigência legal de que a


concessão de recuperação judicial
depende da apresentação da prova de
quitação de todos os tributos, por meio de
certidão negativa de débitos (ou positiva
com efeitos de negativa), aquela é comu-
mente afastada, mesmo após a edição da

Lei nº 13.043/2014, que previu par-


celamento específico para empresa em
processo de soerguimento. Colhe-se
como exemplo o posicionamento do TJSP,
segundo o qual, “Pese a ausência, até o
ano de 2014, de previsão legislativa
acerca do parcelamento especial dos
débitos fiscais às sociedades em recuper-
ação, a superveniência da Lei nº
13.043/14 não alterou a orientação das
Câmaras de Direito Empresarial desta
Corte, que continuam a dispensar a CND“
(Agravo de Instrumento nº
3001917-76.2018.8.26.0000, Relator
Araldo Telles, 2ª Câmara Reservada de
Direito Empresarial, julgado em
29/07/2019, publicado em 31/07/2019).

23
COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

Se o plano de recuperação judicial alguma obrigação prevista no plano


aprovado envolver alienação judicial de recuperação judicial após aquele
de filiais ou de unidades produtivas lapso, qualquer credor poderá reque-
isoladas do devedor, as mesmas rer a execução específica ou a falência
estarão livres de qualquer ônus e não do devedor, que já não será automáti-
haverá sucessão do arrematante nas ca, dependendo, pois, de processo
obrigações do devedor, inclusive de judicial, com oportunidade de defesa.
natureza tributária.

O devedor permanecerá em recupe- Plano Especial


da ME e EPP
ração judicial até que se cumpram
todas as obrigações previstas no
plano que se vencerem até 2 anos
depois da concessão da recuperação
judicial. As ME e EPP poderão apresentar
plano especial de recuperação judicial,
Durante o referido período, o descum- desde que afirmem sua intenção de
primento das mesmas obrigações fazê-lo na petição inicial. Os credores
acarretará a convolação da recupe- não atingidos pelo plano especial não
ração em falência, caso em que os terão seus créditos habilitados na
credores terão reconstituídos seus recuperação judicial.
direitos e garantias nas condições
originalmente contratadas, deduzidos O plano especial de recuperação judi-
os valores eventualmente pagos e cial possui as seguintes regras:
ressalvados os atos validamente prati-
cados no âmbito da recuperação judi- • Preverá parcelamento em até 36
cial. parcelas mensais, iguais e sucessi-
vas, acrescidas de juros SELIC,
Já se forem cumpridas as obrigações podendo conter ainda a proposta
vencidas no prazo de 2 anos após a de abatimento do valor das dívi-
concessão da recuperação judicial, o das;
juiz decretará por sentença o encerra-
mento do processo de soerguimento. • Preverá o pagamento da 1ª par-
No caso de descumprimento de cela no prazo máximo de 180 dias,

24
COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

contado da distribuição do pedido


de recuperação judicial;
Convolação da
• Estabelecerá a necessidade de
autorização do juiz, após ouvido o
Recuperação
administrador judicial e o Comitê
de Credores, para o devedor
Judicial em
aumentar despesas ou contratar
empregados.
Falência
O juiz decretará a falência durante o
Caso o devedor opte pelo plano espe- processo de recuperação judicial:
cial, não será convocada assem-
bleia-geral de credores para deliberar • Pela não apresentação, pelo
sobre o mesmo, e o juiz concederá a devedor, do plano de recuperação
recuperação judicial se atendidas as no prazo legal;
demais exigências desta Lei. O juiz
também julgará improcedente o • Quando houver sido rejeitado o
pedido de recuperação judicial e de- plano de recuperação pela assem-
cretará a falência do devedor se bleia-geral;
houver objeções de credores titulares
de mais da metade de qualquer das • Por descumprimento de qualquer
classes de créditos, computadas de obrigação assumida no plano de
acordo com a regra prevista para cada recuperação durante o período de
uma delas. até 2 anos depois da concessão da
recuperação judicial.

Na convolação da recuperação em
falência, todos os atos de adminis-
tração, endividamento, oneração ou
alienação praticados durante a recu-
peração judicial presumem-se válidos,
desde que realizados na forma da lei.

25
COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

Recuperação Estão expressamente vedadas de


propor plano de recuperação extraju-
Extrajudicial dicial a empresa pública e a sociedade
de economia mista, além da institu-
ição financeira pública ou privada,
A medida de soerguimento da empre- cooperativa de crédito, consórcio, enti-
sa não se restringe ao pedido de recu- dade de previdência complementar,
peração judicial. Com efeito, é possível sociedade operadora de plano de
também ser buscada reestruturação assistência à saúde, sociedade segu-
das dívidas perante credores por meio radora, sociedade de capitalização e
de plano de recuperação extrajudicial. outras entidades legalmente equipara-
das às anteriores.
A recuperação extrajudicial pode ser
entendida como um acordo proposto
pela devedora a determinados grupos
Em qual local
de credores, homologado posterior-
mente pelo juiz (há casos em que não
requerer a
é necessário), no intuito de, através da homologação
do plano
cooperação entre os agentes envolvi-
dos, satisfazer os respectivos créditos,
objetivando, com isso, o soerguimento
da empresa e a manutenção da ativi-
dade. É uma alternativa prévia à recu- A homologação do plano de recupe-
peração judicial. ração extrajudicial deve ser requerida
no local do principal estabelecimento
do devedor ou da filial de empresa que

Quem pode tenha sede fora do Brasil, com as


mesmas especificidades mencionadas

propor para a recuperação judicial, ou seja, no


local em que circule o maior volume de
negócios da empresa (o qual não é
Só pode propor plano de recuperação
necessariamente a sede social).
extrajudicial o empresário individual
ou a sociedade empresária, cujo regis-
tro cabe às Juntas Comerciais. Valem
as mesmas regras da recuperação
Requisitos
judicial já abordadas, inclusive quanto
Poderá propor plano de recuperação
às pessoas fora de seu âmbito.
extrajudicial o devedor que exerça re-
gularmente suas atividades há mais

26
COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

Créditos
Sujeitos
Estão sujeitos aos efeitos da recupe-
ração extrajudicial os créditos com
garantia real, créditos com privilégio
especial, créditos com privilégio geral,
créditos quirografários e créditos su-
bordinados.

Não estão sujeitos à recuperação


extrajudicial os credores de natureza
tributária, derivados da legislação do
trabalho ou decorrentes de acidente
de trabalho, assim como titulares da
posição de proprietário fiduciário de
de 2 anos, assim como atenda aos
bens móveis ou imóveis, de arren-
seguintes requisitos, de forma cumula-
dador mercantil, de proprietário ou
tiva:
promitente vendedor de imóvel
cujos respectivos contratos
• Não ser falido e, se o foi, estejam
contenham cláusula de
declaradas extintas, por sentença
irrevogabilidade ou irre-
transitada em julgado, as respon-
tratabilidade, inclusive
sabilidades daí decorrentes;
em incorporações imo-
biliárias, ou de pro-
• Não ter sido condenado ou não
prietário em con-
ter, como administrador ou sócio
trato de venda
controlador, pessoa condenada
com reserva
por qualquer dos crimes previstos
de domínio.
na Lei nº 11.101/2005.

Também
O devedor não poderá requerer a
não se
homologação de plano extrajudicial se
s u -
estiver pendente pedido de recupe-
ração judicial ou se houver obtido
recuperação judicial ou homologação
de outro plano de recuperação extraju-
dicial há menos de 2 anos.

27
COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

jeita à recuperação extrajudicial a peração extrajudicial, observando-se,


importância entregue ao devedor, em entretanto, as seguintes limitações:
moeda corrente nacional, decorrente
de adiantamento a contrato de • Não poderá contemplar o paga-
câmbio para exportação, desde que o mento antecipado de dívidas nem
prazo total da operação, inclusive tratamento desfavorável aos
eventuais prorrogações, não exceda o credores que a eles não estejam
previsto nas normas específicas da sujeitos;
autoridade competente.
• Na alienação de bem objeto de
Importante ressaltar que, à exceção garantia real, a supressão da
do fiscal e trabalhista, nada impede os garantia ou sua substituição
titulares de créditos não sujeitos à somente serão admitidas medi-
recuperação extrajudicial de voluntari- ante a aprovação expressa do
amente aderirem ao plano proposto credor titular da respectiva garan-
pelo devedor. tia.

Plano de Homologação
Recuperação do Plano de
Extrajudicial Recuperação
O plano de recuperação extrajudicial extrajudicial
pode abranger a totalidade de uma ou
mais espécies de créditos a ela O devedor poderá requerer a
sujeitos, ou grupo de credores de homologação em juízo do plano de
mesma natureza e sujeito a semelhan- recuperação extrajudicial com as assi-
tes condições de pagamento. Uma vez naturas dos credores que a ele aderi-
homologado, obriga a todos os ram. A homologação do plano nesse
credores das espécies por ele abrangi- caso é facultativa – posto que tais
das, exclusivamente em relação aos assinaturas são suficientes para obri-
créditos constituídos até a data do gar os credores –, a não ser que ele
pedido de homologação. envolva a alienação judicial de filiais
ou de unidades produtivas isoladas.
Devedor e credores podem negociar
livremente os termos do plano de recu- O devedor poderá, também, requerer

28
COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

a homologação de plano de recuperação


extrajudicial que obriga a todos os credores
por ele abrangidos, desde que assinado por
credores que representem mais de 3/5 de
todos os créditos de cada espécie por ele
abrangidos.

Não são considerados, para apuração


do citado percentual, créditos não
incluídos no plano, que não poderão
ter seu valor ou condições originais de
pagamento alteradas.

Para a mesma apuração, não são


computados créditos detidos pelos
sócios do devedor, além das socie-
dades coligadas, controladoras, con-
troladas ou as que tenham sócio ou
acionista com participação superior a
10% do capital social do devedor ou
em que o devedor ou algum de seus
sócios detenham participação superior
a 10%, bem como créditos detidos por
cônjuge ou parente, consanguíneo ou
afim, colateral até o 2º grau, ascen-
dente ou descendente do devedor, de
administrador, do sócio controlador, de

29
COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

membro dos conselhos consultivo,


fiscal ou semelhantes da sociedade Instrução do
devedora e à sociedade em que quais-
quer dessas pessoas exerçam essas
pedido de
funções. homologação
O pedido de homologação do plano de O pedido de homologação do plano de
recuperação extrajudicial não acarreta recuperação extrajudicial deve ser
a suspensão de direitos, ações ou instruído com:
execuções, nem a impossibilidade do
pedido de decretação de falência • Sua justificativa e o documento que
pelos credores a ele não sujeitos. contenha seus termos e condições;
Nada obstante, é possível o juízo da
recuperação extrajudicial determinar • Exposição da situação patrimonial
tal providência no início do processo, do devedor;
com a finalidade de preservar a eficá-
cia e a utilidade da decisão que vier a • As demonstrações contábeis relati-
homologá-lo. vas ao último exercício social e as
levantadas especialmente para
O plano de recuperação extrajudicial instruir o pedido;
produz efeitos após sua homologação
judicial. É lícito, porém, que o plano • Os documentos que comprovem os
estabeleça a produção de efeitos poderes dos subscritores para novar
anteriores à homologação, desde que ou transigir;
exclusivamente quanto à modificação
do valor ou da forma de pagamento • Relação nominal completa dos
dos credores signatários. Nesta hipó- credores, com a indicação do
tese, se o plano for posteriormente endereço de cada um, a natureza, a
rejeitado pelo juiz, devolve-se aos classificação e o valor atualizado do
credores signatários o direito de exigir crédito, discriminando sua origem, o
seus créditos nas condições originais, regime dos respectivos vencimentos
deduzidos os valores efetivamente e a indicação dos registros contábeis
pagos. de cada transação pendente.

Após a distribuição do pedido de


homologação, os credores não
poderão desistir da adesão ao plano,
salvo com a anuência expressa dos
demais signatários.

30
COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

Procedimento • Liquidação precipitada de ativos


Recebido o pedido de homologação do devedor ou adoção por parte do
do plano de recuperação extrajudicial, mesmo de meio ruinoso ou fraudu-
o juiz ordenará a publicação de edital lento para realizar pagamentos;
no órgão oficial e em jornal de grande
circulação nacional ou das localidades • Realização ou, por atos inequívo-
da sede e das filiais do devedor, con- cos, tentativa de realizar, com o
vocando todos os credores do devedor objetivo de retardar pagamentos
para apresentação de suas impug- ou fraudar credores, negócio simu-
nações ao plano. lado ou alienação de parte ou da
totalidade do ativo do devedor a
No prazo do edital, deverá o devedor terceiro, credor ou não;
comprovar o envio de carta a todos os
credores sujeitos ao plano, domicilia- • Transferência do estabelecimen-
dos ou sediados no país, informando a to do devedor a terceiro, credor ou
distribuição do pedido, as condições não, sem o consentimento de
do plano e prazo para sua impug- todos os credores e sem ficar com
nação, o qual é de 30 dias contado da bens suficientes para solver seu
publicação do edital, cabendo aos passivo;
credores fazer a juntada da prova de
seu crédito.

Para opor-se à homologação do


plano, os credores somente poderão
alegar:

• Ausência de assinatura por


credores que representem
mais de 3/5 de todos os
créditos de cada • Simulação da transferência do
espécie por ele principal estabelecimento do deve-
abrangi- dor com o objetivo de burlar a
dos; legislação ou a fiscalização ou
para prejudicar credor;

• Doação ou reforço de garantia a


credor por dívida contraída ante-

31
COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

riormente sem que o devedor fique prazo de 5 dias para que o devedor
com bens livres e desembaraçados sobre ela se manifeste. Após, os autos
suficientes para saldar seu passivo; serão conclusos imediatamente ao juiz
para apreciação, que decidirá acerca
• Ausência do devedor sem deixar do plano de recuperação extrajudicial,
representante habilitado e com homologando-o por sentença se
recursos suficientes para pagar os entender que não implica atos pratica-
credores, abandono do estabeleci- dos com a intenção de prejudicar
mento ou tentativa de ocultação credores, com prova de conluio frau-
de seu domicílio, do local de sua dulento entre o devedor e o terceiro
sede ou de seu principal estabele- que com ele contratar, bem como se
cimento; entender que não há outras irregulari-
dades que recomendem sua rejeição.
• Atos praticados com a intenção
de prejudicar credores, provan- Havendo prova de simulação de crédi-
do-se o conluio fraudulento entre o tos ou vício de representação dos
devedor e o terceiro que com ele credores que subscreverem o plano, a
contratar. sua homologação será indeferida.

• Descumprimento de requisito Na hipótese de não homologação do


previsto na Lei nº 11.101/2005 ou plano, não há decretação de falência,
de qualquer outra exigência legal. sendo que o devedor poderá, cumpri-
das as formalidades, apresentar novo
Apresentada impugnação, será aberto pedido.

32
COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

Conclusão olvida-se de que a economia vive de


oscilações e crises episódicas (tal qual a
da pandemia causada pela Covid-19),
Este Guia Prático foi elaborado com
motivo por que meios legais devem
objetivo de lançar luz – sem a intenção
estar mesmo disponíveis às empresas
de esgotá-las – sobre as possibilidades
atingidas, para preservação da sua
postas na legislação às empresas em
função social e seus empregos, de ma-
estado de crise econômico-financeira
neira a evitar todo o contexto social e
que intentam saídas jurídicas de soer-
econômico prejudicial que é observado
guimento e pagamento do passivo.
quando determinada sociedade empre-
sária encerra suas atividades de forma
Há que se afastar o “senso comum” e a
abrupta.
pecha de que as empresas que se utili-
zam da recuperação judicial e extrajudi-
Assim, longe de serem soluções mila-
cial buscam dar um “calote”, isto
grosas, a recuperação judicial e extraju-
porque, conforme se demonstrou,
dicial são caminhos jurídicos para pror-
apesar de tais procedimentos destina-
rogar prazos e resolver pendências com
rem benesses às devedoras, também
os credores, sanar dificuldades financei-
estabelecem severas consequências –
ras da empresa e preservar suas ativi-
como a decretação da falência – em
caso de uso para outros fins senão
aqueles previstos em lei.

Talvez a ideia do “calote” ainda rema-


nesça do equivocado entendimento de
que a recuperação judicial seria a nova
nomenclatura da extinta concordata, a
qual por muitos anos foi considerada
verdadeiro calote institucionalizado.
Ocorre que, além de serem medi-
das inteiramente distintas – dades. Referidas benesses legais,
não se confundem, portan- entretanto, devem ser utilizadas como
to –, quem perfilha uma das ferramentas de combate da
daquele entendi- crise, somente devendo ser propostas
mento após um estudo criterioso de reestrutu-
ração econômica, administrativa, jurídi-
ca e de viabilidade do negócio, sendo
imperiosa a contratação de advogado
com expertise na área de reestrutura-
ção empresarial e turnaround, que
conte com equipe multidisciplinar capa-

33
COMISSÃO DE DIREITO EMPRESARIAL

citada para tratar de todos os aspec-


tos econômicos, de mercado e das
melhores técnicas jurídicas que trans-
passam por qualquer reestruturação
econômica, sobretudo aquelas sub-
metidas ao crivo do Judiciário.

A ideia de parte de muitos empresá-


rios, executivos e profissionais de dife-
rentes áreas de que um conhecimento
vago e superficial de turnaround e de
recuperação judicial seria suficiente
para a propositura das medidas é
equivocado e pode trazer consequên-
cias desastrosas à empresa, vez que
uma recuperação judicial (ou até
mesmo extrajudicial) má conduzida
pode desencadear na declaração de
uma falência.

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