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Heráclito foi um filósofo grego cujo conceito de mudança baseou sua linha filosófica.
Considerado o pai da dialética chamou de “devir” a constante mudança: “nada é
permanente, exceto a mudança”. Esse conceito tem sido explorado por muitos
pensadores desde a Antiguidade até a Contemporaneidade.
A mudança é a constante dessa vida, porque tudo muda. Tudo passa. Nada do que
foi será. Segundo o filósofo, em uma de suas frases mais famosas, “ninguém pode pisar
no mesmo rio mais de uma vez”, sugere que como as águas estão sempre em
movimento isso torna-se impossível. As águas obedecem seu propósito, surgir na
nascente para seguir seu curso e desaguar no mar.
Para o filósofo alemão Schopenhauer, a vida não tem sentido e o único alívio para o
sofrimento, que para ele também não tem sentido, é a morte. Mas a vida não é apenas
sofrimento e a morte, apesar de inevitável, não impede um viver pleno e abundante.
Morremos bem, quando vivemos bem, por isso o foco não é na morte, mas na vida.
“Por que os dias do passado foram melhores que os de hoje? " Pois não
é sábio fazer tais perguntas” (Salomão – Eclesiastes 7.10)
Poderíamos parafrasear o sábio, dizendo, por que os dias passados foram melhores do
que serão os vindouros? A proposta desse e.book que seria mais um livrinho de bolso,
é justamente refletir sobre isso. O que esperar de um período de incertezas? Como lidar
com o medo do desconhecido? O que significa apego e como isso se torna uma
crença limitante na dinâmica da existência? Nos confrontarmos com nossa
vulnerabilidade, impotência, finitude e também considerarmos mudanças que podem
ser positivas em vários sentidos, especialmente quando nos dispomos a redirecionar
nosso olhar, conceitos e valores em prol de uma vida mais sadia.
Boa leitura!
Como foi dito na introdução, a vida é uma constante mudança, mesmo a estabilidade
é instável. Um breve passeio histórico nos permite refletir como padrões e sistemas
acomodados foram transmutados mediante fatos que expuseram sua grande
fragilidade. Olhar o passado nos ajuda a entender o presente e perceber o futuro.
MARCOS HISTÓRICOS
A História vivenciou acontecimentos que foram divisores de águas, no sentido de
imprimir características e mudanças no curso da civilização.
A Idade Moderna (1453 a 1789) foi marcada por grandes transformações, na religião,
cultura, economia e ciência.
As grandes navegações, ou a expansão dos mares (século XV) provocou
mudanças no modelo econômico. O feudalismo em declínio abriu espaço para
o capitalismo, destacando-se: o metalismo (riqueza de um país medida pela
quantidade de metais preciosos que possui); os monopólios comerciais; política
de balança comercial (importar menos, exportar mais).
O que quero dizer é que não há como o mundo ser o mesmo depois, por exemplo, de
um holocausto. Os memoriais afirmam isso, a necessidade de não esquecer para não
tornar a acontecer. Hoje sabemos como a manipulação política aliada à intolerância
pode ser perigosa. Apesar de movimentos radicais ainda existirem, a humanidade
repudia esses conceitos e assim se torna mais precavida.
A abolição da escravatura, nos USA em 1808; na Inglaterra em 1833; no Brasil em 1988
com a Lei Aurea (o último país nas Américas a declarar a abolição), demandou que o
ser humano fosse considerado e respeitado independente de sua cor ou raça. Sendo
assim o mundo foi constrangido pela consciência ou pela Lei a olhar seu semelhante
diferente como seu igual. Infelizmente o racismo ainda existe, mas se tornou crime, um
grande avanço para o surgimento de uma sociedade mais igualitária.
A humanidade que parou para contemplar o homem pisando na lua se deu conta
que entrou no futuro. Os últimos 40 anos se passaram numa “máquina do tempo” onde
tudo ficou acelerado, cada dia uma nova conquista, uma nova invenção. Ninguém
mais usa telefone convencional, os aplicativos ganharam mercado e aquilo que
parecia filme de ficção começa a se tornar realidade cotidiana.
NADA SERÁ COMO ANTES, POIS O ANTES JÁ FOI, O ANTES CHEGOU AO SEU
PRAZO DE VALIDADE.
Como diz a música, tudo passa, tudo sempre passará. Então porque esse apego?
O medo de perder o controle, de não saber como será 2021, 2022, 2023... a
impossibilidade de planejar o mês, o semestre, o ano, nos remete a uma impotência e
nos deixa, como direi, a mercê do destino. Interessante é que o controle é ilusório, pois
na verdade nunca tivemos o controle de nada. Do dia para a noite o cenário pode
mudar, seja por um acidente de trânsito, por uma chuva repentina, ao tropeçar numa
escada... enfim tudo o que planejamos pode ser alterado de repente, sendo assim, o
controle que pensamos ter nada mais é do que uma mera referência.
Me perguntaram: o que você diria para alguém nessa situação de crise, o que esperar
do futuro? Eu diria: não espere o melhor, nem o pior, espere algo diferente. Numa
época de inseguranças, preocupe-se apenas com o presente.
Esse dito popular mostra que a preocupação excessiva não resolve problemas. O que
resolve são atitudes em busca de soluções. Quando não há solução, também não há
porque se angustiar, sendo assim por que não crer que algo bom pode acontecer, ou
que de alguma forma uma opção virá? Sofrer por algo que apenas imaginamos que
pode nos acontecer é potencializar e antecipar o sofrimento.
Perceber que não temos nenhum controle é libertador. “Quem de vocês, por mais
ansioso que esteja, é capaz de prolongar, por um dia que seja, a duração da sua
vida?” (Lucas 12.25). Nosso trabalho é cuidar, prevenir, proteger, planejar, mas nada
disso garante nossa segurança. Nesse momento de crise e incertezas a fé no cuidado
e amor de Deus faz toda a diferença. Eu me lembro da frase de uma mulher holandesa
que foi levada ao campo de concentração por ter cometido o crime de ajudar e
esconder judeus, na ocupação nazista. Ao ser questionada sobre sua paz ela disse: “O
único lugar seguro é o centro da vontade de Deus” (Corrie ten Boom – livro Refúgio
Secreto). A certeza que Deus está no controle traz paz ao nosso coração, mesmo
diante das adversidades. É fácil? De jeito nenhum! É possível? Com certeza.
Não há necessidade de olhar as incertezas do futuro com pessimismo. Tudo indica que
a economia, os relacionamentos, trabalho, costumes, conceitos serão afetados, enfim
muita coisa pode mudar, mas não necessariamente por algo bom ou ruim, apenas
diferente. O mundo é cíclico, vemos isso na natureza, o sol se põe em um lugar para
nascer em outro, a planta morre para outra nascer, o ciclo da vida é uma dinâmica
de nascimento morte nascimento, sendo assim deveríamos estar acostumados a
ver coisas desaparecerem e outras surgirem. Eu sou do tempo da máquina de escrever
e era chato quando errava pois tinha que apagar com uma fita ou com uma caneta
borracha; depois veio a máquina elétrica e finalmente, aleluia, o computador, então
o saudosismo de algo que marcou minha vida tomou o seu devido lugar, se tornou
história. O apego ao passado constrói crenças limitantes que nos impede de buscar
novas possibilidades no presente e futuro.
AS AMBIGUIDADES DA CRISE
O que tenho considerado é que crises existem desde sempre. A mortalidade, a fome,
o desemprego, a solidão sempre foram uma realidade. Vejamos os dados abaixo:
Com base nos relatórios do Departamento Nacional de Trânsito-Denatran,
apenas no Brasil morrem 50 mil pessoas por ano em acidentes de trânsito, o que
significa 136 óbitos por dia. De acordo com levantamento feito pelo Datasus,
departamento de informática do SUS (Sistema Único de Saúde), as doenças do
aparelho circulatório foram responsáveis por 356.178 mortes no ano de 2018, uma
média de 965 pessoas por dia.
O que mudou e o que sempre nos muda é nos colocamos no lugar do outro. O COVID19
unificou e nivelou, de uma certa forma, a todos, pois todos estamos sujeitos a pegar a
doença, todos estamos vulneráveis. O vírus não escolhe raça, condição social, religião,
cultura, fama, idade, gênero. Quando pensamos que algo que acontecia “longe” da
gente pode acontecer perto ou mesmo com a gente, isso altera nosso olhar o
desviando do nosso centro e o redirecionando em direção ao outro.
Problemas econômicos e sociais que normalmente afetam uma classe menos
favorecida ou com oportunidades profissionais limitadas, estão atingindo também
empresários, profissionais liberais, servidores, autônomos... Isso promove um
questionamento sobre a fragilidade dos nossos sistemas, a desigualdade, e ausência
de opções na hora da crise.
Depressão, solidão, tristeza, desespero, desemparo e medo, sentimentos não muito
comuns a um círculo grande de indivíduos que, agora, começam a experimentar certo
pânico ao se defrontar com uma ameaça que não dá indícios de estar controlada,
nem ser dominada em curto prazo.
Quero ressaltar que isso é uma constatação e não uma crítica. Infelizmente ficamos
tão envolvidos no nosso contexto que não atentamos para a problemática alheia. Tal
não se dá, necessariamente, por indiferença ou omissão, mas por não fazer parte da
nossa vivência cotidiana. Somos constantemente, também, expostos à banalização
“Porque quando estou fraco então sou forte” (2 Coríntios 12:10). Existe uma força na
debilidade, ela revela algo inibido ou tamponado dentro de nós. Diante da nossa
impotência e vulnerabilidade podemos encontrar recursos que nem sabíamos que
tínhamos e, assim, desenvolve-los. Isso acontece com a conversão do olhar,
desviando-se do problema para a solução; abandonando valores supérfluos e
adquirindo valores mais subjetivos. O olhar sai do micro para o macro, ou seja, não
pensamos apenas em nós mesmos, nas nossas dificuldades, frustrações, demandas,
mas no geral, bem como em qual é nosso papel na sociedade em que vivemos, no
mundo em que habitamos, no universo. Perguntamos então: qual é meu propósito?
Qual é a minha relevância? Onde coloco minha fé, minha energia, meus sonhos?
Alertar a consciência é o primeiro passo para uma mutação interna. Tenho ouvido de
clientes e também em conversas, depoimentos de pessoas que estão se conhecendo
melhor, descobrindo recursos pessoais e talentos.
Uma mulher que vive de forma muito simples com várias pessoas numa casa pequena
me perguntou: “o que posso fazer para olhar pra mim, para investir em mim, para ter
tempo para mim”? A primeira coisa é se valorizar, acreditar que você tem valor.
Segundo, tire um momento para você. Avise sua família ou com quem está confinada,
que “todos os dias vou tirar uma hora (você determina o tempo que deseja ou pode
dispor) para mim”. Nesse período, descanse, leia, assista um programa, participe de
algum curso, faça uma meditação, cuide-se com carinho. Faça isso não apenas
durante a quarentena, mas torne um hábito. Terceiro, tente fazer algo que achava não
ser capaz. Quarto, faça o possível, dentro do que está ao seu alcance, mas creia que
o impossível, as vezes, também acontece.
Não sei como será meu futuro, não sei como será o futuro daqueles que amo, e muito
menos sei como será seu futuro, ou o futuro da humanidade, mas uma coisa eu sei, o
Deus já está nesse futuro.
A 3gripe espanhola foi uma pandemia que perdurou de 1918 a 1919 atingindo vários
continentes. O saldo foi de 50 milhões de mortes no mundo. Os sintomas eram febre,
dor no corpo, coriza, tosse. Nos casos mais graves, os pacientes apresentavam graves
problemas respiratórios, até mesmo, problemas digestivos e cardiovasculares. Não se
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Fonte: informações extraídas https://brasil.elpais.com/sociedade/2020-03-16/em-1918-gripe-espanhola-espalhou-morte-e-panico-e-
gerou-a-semente-do-sus.html)