Viçosa – MG
Julho 2000
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1 Eng° Agrônomo, PhD., Prof. Titular – DEA/UFV,
juarez@ufv.br
2 Eng° Agrícola, MSc., Prof. Assistente – UFRRJ,
precci@ufrrj.br
3 Enga Agrícola, M.Sc., Pesquisadora CBP&D Café,
mcmachado@ufv.br
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INTRODUÇÃO
A disponibilidade de energia para a secagem de produtos agrícolas
constitui hoje uma preocupação para o agricultor, devido à escassez dos
recursos naturais utilizados, ou devido ao aumento freqüente dos
combustíveis derivados do petróleo ou à falta de um programa específico
para o setor.
Têm sido encontradas, em propriedades agrícolas ou nas indústrias
de pré-processamento, fornalhas a lenha com elevado consumo de
combustível, algumas em estado precário de conservação, com excessivas
perda de calor, mal dimensionadas e, quando de boa qualidade, operadas
inadequadamente.
O manejo inadequado de fornalhas favorece a combustão incompleta, a
contaminação do produto e a dificuldade para manutenção constante da
temperatura do ar durante a secagem. Além desses aspectos, quando se
queima lenha de má qualidade e com elevado teor de umidade, produz-se
fumaça em excesso, o que causa desconforto para o operador podendo
deixar cheiro ou gosto no produto.
Insatisfeito com essa situação, o agricultor, em vez de solucionar o
problema optando por uma fornalha eficiente, juntamente com a
implantação de um programa de reflorestamamento voltado para fins
energéticos, procura a solução em outras fontes de energia1, o que num
primeiro momento pode lhe parecer bastante cômodo, mas que no futuro
pode vir a causar-lhe aborrecimentos2.
A utilização racional da energia na secagem de produtos agrícolas
pode contribuir sobremaneira para a economia de combustível e,
obviamente, para a redução dos custos de secagem.
Apesar da existência de uma grande variedade de fornalhas para
utilização em secadores de grãos, neste boletim é apresentada uma fornalha
eficiente e econômica para a secagem de produtos agrícolas, que apresenta
sobre as demais a vantagem de promover um ar de secagem livre de fumaça,
podendo, portanto, ser utilizada mesmo para aqueles produtos sensíveis à
contaminação, como o café descascado. Outras características são: a
manutenção constante da temperatura do ar de secagem, a queima contínua
e completa do combustível, a elevada autonomia e a necessidade de pouca
mão-de-obra, que permite ao operador exercer atividades paralelas durante o
processo de secagem .
COMBUSTÍVEIS
Combustíveis são substâncias ricas em carbono e hidrogênio que, ao
queimarem, produzem energia sob a forma de calor. O poder calorífico é a
principal característica dos combustíveis e refere-se à quantidade de energia
liberada durante a combustão completa de uma unidade de massa ou de
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Refere-se ao gás liquefeito de petróleo (GLP).
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Refere-se à incerteza de preços e à garantia de fornecimento do GLP na propriedade,
quando as vias de acesso se tornarem intransitáveis.
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volume de um combustível. No caso dos combustíveis sólidos esta energia é
expressa em kJ.kg-1 e, para os combustíveis gasosos, em kJ.m-3.
O parâmetro de maior influência no poder calorífico dos
combustíveis é o teor de umidade. A umidade aumenta a energia necessária
à pré-ignição e diminui o calor liberado pela combustão.
Os combustíveis utilizados como fonte de energia para secagem
compreendem dois grupos: os fósseis e os provenientes da biomassa. Os
combustíveis do primeiro grupo são esgotáveis e seus preços estão sujeitos
às oscilações do mercado internacional; já os do segundo são provenientes
de fontes renováveis de energia, as quais podem ser encontradas no próprio
local de utilização, não dependendo de influências externas. Esta fonte, se
racionalmente explorada, pode garantir, por muitos anos, o suprimento de
energia para a secagem de produtos agrícolas.
COMBUSTÃO
Para que os combustíveis possam ser utilizados racionalmente e com
o máximo de aproveitamento, é conveniente que se entenda como ocorre a
combustão.
Todo processo de combustão deve atender a princípios fundamentais
que assegurem economia ou eficiência na queima do combustível.
A combustão é definida como um conjunto de reações químicas nas
quais os elementos combustíveis se combinam com o oxigênio, liberando
energia quando o combustível atinge a temperatura de ignição.
Para que ocorra a combustão são necessários três elementos, os quais
formam o chamado “triângulo da combustão” (Figura 1). Na ausência de um
deles não há combustão.
Uma combustão adequada deve liberar toda a energia química
contida no combustível e com um mínimo de perdas devido à combustão
incompleta, seja por falta ou excesso de ar, umidade do combustível,
processo de turbulência e mistura inadequada do ar durante a operação,
entre outros.
TEMPERATURA OXIGÊNIO
COMBUSTÍVEL
Figura 1 – Triângulo do fogo.
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carvão vegetal o valor médio é de 370ºC e, abaixo deste valor, a
combustão não se realiza, mesmo que haja ar em quantidade suficiente.
b) Mistura ou turbulência adequada do ar com o combustível. É necessário
que o comburente e o combustível sejam colocados em contato íntimo.
Para isso, é preciso que o combustível sólido seja dividido
convenientemente, e os combustíveis líquidos pulverizados. Isto, além
de propiciar a combustão completa, conduz a fornalhas de dimensões
reduzidas.
c) Tempo e espaço suficientes para que ocorra a reação de combustão. É
preciso um tempo para que todo o combustível na fornalha seja
consumido e transformado em gases de combustão.
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O monóxido de carbono é um gás extremamente tóxico, que dificulta a capacidade da
hemoglobina do sangue em carregar oxigênio. Por ser um gás incolor e inodoro,
dificilmente percebe-se a sua presença. Portanto, é importante que, durante a queima de um
combustível, este elemento seja totalmente extinto.
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café são os óxidos de enxofre, os óxidos de nitrogênio, os hidrocarbonetos
polinucleados, os pirolíticos condensados voláteis (fumaça), as partículas de
carbono (fuligem) e a cinza, cujas concentrações dependem do tipo de
combustível.
Os óxidos de enxofre, em ambientes úmidos, formam compostos
ácidos que podem resultar em problemas de corrosão dos equipamentos de
secagem; quando emitidos para atmosfera, em grandes quantidades,
contribuem para formação de chuvas ácidas, e os óxidos de nitrogênio
podem reagir com a proteína dos produtos agrícolas e produzir nitrosaminas,
um elemento cancerígeno. Dessa forma, na impossibilidade de um controle
eficaz da combustão que resulte num gás de secagem de qualidade,
recomenda-se o uso de fornalhas dotadas de trocadores de calor.
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manutenção mais baixos, é compacto e termicamente mais eficiente que
fornalhas semelhantes do tipo aquecimento indireto.
A fornalha proposta neste trabalho é dividida em compartimentos
específicos por três lajes de concreto. O primeiro compartimento destina-se
à queima do combustível, constituindo a câmara de combustão propriamente
dita. Nela é instalada uma célula de queima que recebe carvão, por
gravidade, diretamente do depósito de combustível. A entrada de ar primário
na fornalha se faz por uma abertura no centro da parede posterior da câmara
de combustão, afim de que o ar ao ser succionado pelo ventilador, passe
pela célula de queima.
A parte intermediária da fornalha constitui o compartimento
destinado ao recebimento das cinzas provenientes da célula de queima, por
meio de uma abertura central deixada na laje que sustenta a célula de
queima ou grelha. Por fim, a terceira e última parte constitui uma extensão
da câmara de combustão e se destina à condução dos gases até a entrada do
ciclone.
A Figura 2 ilustra a fornalha depois de pronta, mostrando o depósito
de combustível, a entrada de ar primário na câmara de combustão e a saída
do ar aquecido para o ciclone.
Construção da fornalha
Os materiais utilizados na construção da fornalha são tijolos comuns,
areia lavada, terra, melaço de cana ou açúcar, cantoneira, ferro de
construção, chapas de aço, brita e cimento para confecção das lajes. Para
facilitar o entendimento da construção, o interessado deverá seguir passo a
passo as etapas descritas a seguir.
Visando evitar perda de tempo durante a construção, recomenda-se
ler todos os passos descritos, a fim de que sejam providenciados todos os
materiais necessários e seja sanada qualquer dúvida que possa existir.
Recomenda-se ainda providenciar todos os elementos cuja construção
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dependa de terceiros, como o depósito metálico para carvão, a célula de
queima, os registros para controle da entrada de ar primário e secundário, a
tampa de acesso ao compartimento do cinzeiro, a câmara de combustão e de
limpeza da fornalha e, se for o caso, o ventilador e seus acessórios (correia,
proteção da correia, base para assentamento do motor do ventilador).
Para a construção do ventilador, recomenda-se consultar o informe
técnico “Manual de Construção e Manejo de Terreiros para Secagem de
Café”, ou o livro “Colheita, Secagem e Armazenagem de Café”.
Depósito de Carvão
O depósito de carvão deve ser construído com dois tipos de chapa. A
parte inferior do depósito, por estar sujeita a maiores tensões térmicas, deve
ser confeccionada com chapa nº 12; o tronco do depósito e a parte superior,
por onde se fará o abastecimento, devem ser construídos com chapa nº 14; e
a tampa com chapa nº 10.
Com exceção da parte inferior do depósito, onde se verifica a saída
do carvão, é fundamental que todo o depósito, assim como a tampa, seja
convenientemente vedado. Se houver qualquer entrada de ar no depósito de
carvão, além de incêndio, a fornalha será danificada pela queima do carvão
dentro do depósito. A combustão deve ocorrer somente na célula de queima.
Portanto, recomenda-se a colocação na tampa de uma junta de vedação e o
aperto por igual de todos os parafusos da mesma.
Etapas de construção
1° Passo – Construção das lajes
A construção deve começar pela confecção das lajes, para que não
atrase as etapas seguintes da confecção da fornalha. As lajes, com espessura
de 5 cm, devem ser construídas com as dimensões mostradas nas Figuras 3 e
4, no traço 1:3:3 e com ferragem de 3/16 polegadas.
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Figura 3 – Dimensões das lajes da câmara de combustão.
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Figura 4 – Dimensões das lajes 1, 2 e 3.
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O molde em chapa apresenta a vantagem de poder ser incorporado à fornalha, servindo
como acabamento externo.
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Uma vez pronta a estrutura apresentada na Figura 5, assentam-se os
tijolos maciços na parte interna desta, com a argamassa especial. A
espessura da parede da fornalha deve ser de meio tijolo. Terminado o
assentamento dos tijolos, coloca-se sobre a base da fornalha a primeira laje,
denominada laje número 3, conforme mostrado na Figura 6.
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Figura 7 – Dimensões do depósito de cinzas da fornalha (molde).
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da câmara de combustão, a fim de direcionar melhor o ar ao ser succionado
pelo ventilador.
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Figura 11 – Vista da fornalha após a construção da base, do cinzeiro e
da câmara de combustão.
Célula de Queima
Na câmara de combustão deve ser instalada a célula de queima, com
dimensões de 32 x 32 x 32 cm, construída com ferro de ¾ de polegada
(Figura 12). A grelha deve ser simplesmente apoiada sobre a laje por quatro
pequenos pés de 2 cm de altura, devendo, por esta razão, as arestas da célula
de queima ser de 34 cm.
A altura útil da célula de queima poderá ser modificada de acordo
com a demanda de energia.
Altura
útil
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Figura 14 – Caixa de areia.
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devendo estar sempre fechada durante o funcionamento da fornalha. A
figura 17 apresenta, em corte, as demais dimensões do ciclone e dos dutos
de ligação da fornalha ao ciclone e do ciclone ao ventilador.
(a) (b)
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Figura 17 – Corte longitudinal e detalhes do conjunto ciclone,
mostrando os dutos de conexão da fornalha ao ciclone e
deste ao ventilador.
Detalhes construtivos
Para melhor conhecimento da estrutura da fornalha, de suas
dimensões e seu funcionamento, as Figuras 18 a 22 são apresentadas em
planta, mostrando vários cortes e o aspecto final da fornalha depois de
construída.
(a) (b)
Figura 18 – (a) Vista posterior da fornalha mostrando, em corte, a
ligação da fornalha ao ciclone; (b) corte transversal
posterior da fornalha.
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Figura 20 – Vista superior da fornalha, mostrando ventilador e ciclone.
ADAPTAÇÃO EM SECADORES
A fornalha apresentada foi dimensionada para utilização em
secadores de pequeno porte, comumente encontrados nas propriedades
rurais, cuja capacidade situa-se entorno de 7.500 litros. No caso de
secadores de maior porte, deve-se procurar um técnico para o
redimensionamento da fornalha e as adaptações necessárias de acordo com
as características do secador. A Figura 22 mostra uma fornalha a carvão
vegetal adaptada a um secador rotativo pinhalense.
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Figura 22 – Fornalha a carvão vegetal adaptada a secador rotativo
pinhalense.
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80
20
60
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acidentes, corrosão das partes metálicas e contaminação do produto a ser
secado, entre outros, além de favorecerem a eficiência de secagem, devido
ao maior fluxo de ar.
SUPORTE TÉCNICO
Este trabalho, financiado pelo Consórcio Brasileiro de Pesquisa e
Desenvolvimento do Café – CBP&D-Café, foi desenvolvido no
Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa.
Outras informações poderão ser obtidas via consulta pelo telefone
(0xx31)3899-1889 ou no SITE (www.pos-colheita.com.br )
LITERATURA CONSULTADA
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Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento
em Café
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