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O Princípio do Mundo

A Terra era coberta por formas rudimentares de céu e de mar.

A aparência da Natureza era grosseira e inane.

Nesse tempo, todos os elementos do mundo eram englobados numa espécie de vazio
primordial, constituído por um caráter indefinido, informe e ilimitado, cujos estados
antecederam a intervenção de Rá, o Criador. A indigesta e rude matéria, por via inconsistente,
era de peso evidentemente inerte.

As extremidades marfíneas dos pendentes ares, sob a influência da gravidade lunar,


navegavam no conturbado pélago.

Os rubros embriões corpóreos obstavam-se nas margens espumosas da claridade, quer frias,
quer úmidas ou secas.

A moleza ou a dureza, a leveza ou a espessidão, abstraíam, pois, o fio condutor da eterna


discórdia.

Fluidas eram as nuvens dos céus e cerrados, os recifes do mar.

Arrancava todas as relvas do enredado morro, o Deus da mais sublime Consciência.

Ele desenvolvia, ademais, sua assinatura em todos os corpos, numa paz recíproca com o
Cosmos.

O pináculo convexo dos outeiros oblíquos sempre remontava à liberação de vastas energias ao
espaço afora.

A Terra atraía-os, de maneira alígera, para a compressão salitrosa da densidade ou da sutileza


de seus próvidos rios.

Ela lambia, apertava e circundava os grãos orbiculares.

O sopro dos forçosos ventos inchavam as margens assalteadas e esguelhadas dos areais nas
amplas plagas, volteadas por incriados íncolas. À destra condição, o Céu era repartido pelos
vislumbres térreos.
Estendiam-se os vales, enramavam-se as silvas, cujas róscidas zonas eram sobejamente
frondejantes, afora aquelas abrasadas e frígidas, cujo nadivo fenômeno revelava, quiçá, uma
dualidade sinistra da Natureza.

Os lagos eram cingidos por seixos esparzidos em todas suas confinanças. A neve enregelada
era situada pelo Númen numa configuração mista de frio e calor.

Iminentes eram o peso d'água, da terra, do fogo e do ar perante o seio nebuloso da produção
penetrante de raios. Inconstantes eram os produtores da treva, os quais estremeciam os
turbilhões dilaceradores da fúria, da desavença e do aterro do mundo.

Rebentiam-se-lhes arbitrários e brunais ares.

Os euros e os zéfiros se colidiam amiúde, o que amornava as liquosas fezes, assinaladas e


opressas por Nefertem.

Austras regiões orvalhadas e abafadas, frequentemente, sofriam a miríada de trovões


matutinos.

Sem embargo, o éter de Númen, eterno e divino, sibilava na aurora de forma extraordinária e
veemente, e, a partir disto, todos os problemas concernentes à Natureza, resolvia em poucos
instantes.

A massa escura conspirava ardência nítida por todas as regiões desabitadas do universo. Os
astros e os deuses, no seu etéreo sólio, principiaram o longo assento da Terra. O ente dotado
da maior inteligência existente no Cosmos legislava na magna Origem, como inaudito
Artífice.

Extraía-se-lhe o seminal frescor que germinava a terneza e o aperfeiçoamento da correnteza


das águas fluviais, as quais organizavam as porções fluidas dos seres imortais, debruçados
sobre a sublimidade de Hauhet.

O castigo e o medo eram ameaças formidandas que se liam em distinção. A caterva da


infanteria célica palpitava defronte do juiz de ingente ondeio discricionário.

Os fossos pulvinados eram erguidos pelos trompetes de pitãos, assoprados pelos divos
guardiões, os quais avincavam os lenhos na ripa travejada escomunal do Grande Æon.
As terras brotavam voluntariamente sem amanho, numa courela tesa e umectada. Existiam
acolá morangos borbotoados dos combros, sovereiros crépidos, cerejeiras de gérmens com
prolongações sobrançadas e assim por diante.

As macias produções de delgadas cascas a miúdo caíam d'árvore de Amunet.

As auspiciosas quadras primaverais, de amansados éolos, inadvertidamente, aganavam subtis.

Os tepentes suspiros estimulavam o desbrochar das flores, de nuances louras, nas messes
veranis.

Nos ceres, segava-se o adubio; nos flúmens, deslocava-se aginha a ambrósia; dos robles,
caíam galharias em folhames refertos de taninos. Exterminando Nun na profundez do célico
abisso, veio a ser o lábaro da plaga de Duat, o seu próprio nome.

Outrossim, Amun esteve no controle de Aaru e de Nether-kethert, contraindo o ancestral


albor, fugaz e terno, malgrado fizesse com que as flores se tornassem ainda mais vivaces e
animizadas.

Os tempos variavam consoante escandescia o ar; as trápalas das bafagens ventosas enrijavam,
mormente, os flocos dos glaciares liquefeitos. Os homens demandavam sumptuosos coutos e
lares.

O grão cósmico existente abinício se esparziu e se abscondeu nas entumescidas plicaturas das
balizas campestres perante a ênea raiz do infando pinho.

O súbito impudor suscitava a embarcação da verdade no aborrível, fedo e enjooso aboiz dos
acréus ignotos.

O lenho arraigado nas serras de limite extenso era protegido pelos preventos ares outonais.

Os frutos dos questuosos cereais entranhavam nos felizes predicados da riqueza, inda mesmo,
diante da leteia avantesma.

Os infensos com rabidez trasbordavam horrores na fraternal hospedaria. Aos venéficos


consortes, lhos davam em sanguínea avarícia. "Meu veículo de vida está todo banhado de
jatancioso sangue!", disse a Terra ao Céu.

Em consequência disto, todos os abominandos seres do universo zombeteavam e vertiam


cuspe nela.
O tropel profanador estruía e esbroava o superposto Benben.

A memória geratriz da sageza de Maat tratava com contempto as amicícias da feridade e do


assolamento subumanos.

Denotavam-se pelo concílio celícola, enormes invites para a congregação das deidades do
cosmos, inda que hodierna, às rédeas de Atem. Patente e elevado, fazia-se a sobreabundante
candidez do Céu.

A realenga sumidade dos cortesãos do Ministro do Destino, viz., Shai, era consumada pelo
cetro fulminoso do seu admirando ousio. As gadelhas dos deuses anguípedes baloiçavam
com moção própria e sua forma era símile a uma trábea plenamente espiralada.

Com cento braços, desdobrava-se a rotura da assustosa multidão na Terra ante a um alúvio
impendente na etérea hástea de todo o Microcosmos.

A universal justiça parecia tremelicante sob a instância da estirpe divinal. "Atende e premi
Hathor ou Min com muito excitamento", disse o Amor, expressivamente circunsonante em
uma ramaria soterrânea.

Manjava os frutos dos soitos de volúpia, a sorrelfa hediondeza.

Os raios tirânicos lançados às montesinas paisagens tramaram diversas ambages, com


infamantes potestades, contra o Cosmos e a Natureza.

Os reféns latiam sob o telhado de colmos, na tutela da trevosa Apep, com palpitantes
membros psíquicos.

Afracava-se a aceirada água no sotoposto queimo do raio ultor.

Para rusticanos silêncios, havia rusticanas sombras.

O assassino de afouto coração soía em volver aos armentios em busca de sangue aprazível.

A acatadura canina era iluminada por orbes de quizília em seu contorno.

Protestava em dissenso os homens contra Shezmu, o Demônio. Agregava com abono, a


imensa derriba da ascorosa humanidade.

"Vamos à ara amuniciar os franquincensos para sublimar o nosso espírito?", interrogava Maat
aos opositores de Shezmu e Apep.
A promessa de Tefnut das chuvas foi concebida de maneira portentosa pelos seus mais fidos
sequazes; inquiria-se-lhe a fastosa razão de adiantar o cordo venturo que qualquer um
arreceava.

O fado de sḥ era esmerilhado sob o designador candor da lata desenvolução humana, inda
pudibundo, inda insultante, como num potente afogueamento, o qual frenava quaisquer
gêneros de pecaminoso conhecimento, maranhados então pelas doudices do ẖt.

As nuanças cetrinas dos gólfãos do prateleiro, contendo interdimensionais sistros,


apresentavam um regueiro de energias astrais; pejados e tácitos eram aqueles ancenúbios de
procelosas saturações, os quais estavam presentes nos homens usualmente encapelados que
agiam com muita violência, não obstante estivessem presos à solitude.
O denodamento de Rá vingava sempre depois dos interjogos do firmamento com requeimes e
raios estrondosos, ao passo que a nadiva terra se misturava com os subsídios da imortalidade
em prol de sua própria geração deífica.

O plano estendido do célico ambiente circundava avondosamente o fundamento da Via


Láctea, em cujo interdimensional portal, táquions abundavam tremedamente sem algum
óbice.

O sólio do Rei de Aaru distintamente, no ebúrneo cetro antemão toldado, enconstava-se no


mundável tremor da estrelar estrada abundosa de todo-poderosos acenamentos, provindos do
temerário paço do indignado e muzlemo Deus, o qual designava a rotura do cósmico árbor de
arrancurado silêncio.

Preocupado com o universal estado do sidéreo império, de arrebato, foi posta em chance a
progênie da Raça Gigante, na qual o cativo céu devia estar pronto para envolver; outrossim,
onde quer que as águas deslizassem na corrupção do sacro protesto e no inviolável inferno da
gangrenada mácula do esgalhado e pousado lago anil, aproveitáveis, ó, Ogdóade, os
murmúrios de voto de traição e punição condenados à ansiedade e ao ímpio discurso nuvrado
de irreverendas tentações.

As infames cavernas cobertas por bestas devorando suas vítimas eram cruzadas pela sombra
referta de pinhos de Iussasset; noites obscuras e dias obscuros integravam-se profundamente
ao planeta Terra, numa entranha da porta inóspita das suas redes telúricas, cuja entrada não
dispunha algum visível sinal, nem para os deuses da maior óbsia célica, tampouco para os
homens profanos.
Os pecados desgraciados e opressos no diro experimento do inditoso poder de Menés eram
fervidos na carne mutilada em vários morsos, os quais trajavam-se no contemptível humano
repasto; e, antequanto, os campos comarcões ao longo da aplainada erosão deviam ser
queimados e espumados em um aérico massacre de esfaimadas alcateias contra a rouqueira
faísca das humanas mandíbulas.

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