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1. Conceito
Sobre o assunto atinente ao contrato de seguro, o artigo 79 do Regime Jurídico dos Seguros,
aprovado pelo Decreto-lei nº 01/2010, de 31 de Dezembro não apresenta uma definição, mas
as partes contratantes, nomeadamente, a seguradora e o tomador do seguro, assim como as
partes interessadas, como são os casos do segurado e o beneficiário, aos quais cabe exercer os
direitos e cumprir as obrigações que derivam e são explicitados no respectivo contrato de
seguro.
Na óptica de José Vasques[1] e que nós aplaudimos, está claro que ao não apresentar a
definição do contrato de seguro, o legislador deixa o interprete com a tarefa de deduzir esse
conceito a partir dos seus elementos integradores. A construção dessa noção deve fazer-se a
partir da distinção de figuras mais próximas e pela análise das noções propostas pelos diversos
autores.
Consiste num documento que titula o contrato celebrado entre o tomador de seguro e a
seguradora, em que constam as respectivas condições gerais e complementares, condições
especiais e ainda exclusões gerais e especiais; ou
Para se celebrar um contrato de seguro, torna-se necessário que estejamos na presença de,
pelo menos duas partes, conforme refere o nº 1 do artigo 79 do Regime Jurídico dos Seguros
(RJS), nomeadamente, a seguradora e o tomador do seguro e, ainda se tenha previsto um risco
para o qual tenha sido pago o respectivo prémio.
Seguradora, entidade devidamente autorizada pelo Ministro que superintende a área das
Finanças, com o necessário parecer do ISSM – Instituto de Supervisão de Seguros de
Moçambique, conforme atestam os artigos 4 e 5 do Decreto-lei nº 1/2010, de 31 de
Dezembro, bem como ao artigo 4 do Regime Jurídico dos Seguros, a explorar determinados ou
todos os ramos de seguro e que, mediante o recebimento de um determinado valor (prémio
de seguro), aceita a transferência do risco de outrem; e
Assunção do risco – não basta que as partes celebrem o contrato de seguro sobre um
determinado risco, é necessário que a seguradora assuma-se efectivamente como responsável
pelos sinistros que eventualmente possam vir a ocorrer com determinada pessoa segura ou
bem que estejam dentro do âmbito das coberturas da respectiva apólice;
O nº 2 do artigo 79 RJS faz referência que, para além das partes referidas no nº 1 do mesmo
preceito legal – seguradora e tomador do seguro – são as partes interessadas o segurado e o
beneficiário, aos quais cabe exercer direitos e cumprir as obrigações que derivam e são
explicitados no respectivo contrato de seguro. Mas, por outro lado há o terceiro interessado
que, em algumas vezes, mesmo não fazendo parte do contrato (na maior parte das vezes,
porque noutras aparece com os direitos ressalvados no contrato), se beneficia de alguma
indemnização por ocasião de um sinistro.
Terceiro interessado
Como os contratos de seguro são susceptíveis de poderem ser celebrados a favor de terceiros,
existem contratos em que, para além dos habituais intervenientes – segurado e tomador do
seguro – surgem terceiros interessados no contrato de seguro. Estes terceiros podem ser
aqueles que têm direitos ressalvados no contrato de seguro ou beneficiários devidamente
identificados na apólice, como são os casos das sociedades de Leasing. A existência de um
terceiro interessado, no caso as sociedades de Leasing, estes chegam a consubstanciar-se num
elemento essencial, na medida em que, a sua influência é extremamente importante,
podendo, inclusivamente substituir-se no pagamento dos prémios, para além dos direitos dos
terceiros adquiridos no âmbito do contrato de seguro não poderem ser prejudicados pela
cessação do contrato de seguro.
Pessoa segura
Em determinados tipos de contratos de seguro, o risco que se pretende segurar traduz-se, por
exemplo, na vida de determinada pessoa. Nessa situação, identifica-se na apólice a
denominada pessoa segura sobre a qual a seguradora garante o pagamento de uma
indemnização em caso de morte. Pode assim acontecer que o tomador do seguro e a pessoa
segura sejam a mesma pessoa.
Contrato Formal
Nos termos do artigo 102 RJS, no que respeita à forma, o contrato de seguro deve ser reduzido
a escrito e constar de um documento próprio designado apólice de seguro. No entanto, alguns
autores defendem que a validade do contrato de seguro é independente de forma especial,
porém, não obstante a tal situação, a seguradora tem a obrigação de formalizar o contrato
através da apólice, devendo a mesma ser devidamente assinada e datada pela seguradora.
Contrato de adesão
Contrato sinalagmático/bilateral
Contrato oneroso
Tendo em o que atrás referimos o carácter sinalagmático do contrato de seguro, fácil se torna
compreender que este tem um cariz oneroso. De facto, o tomador de seguro paga prémio
como o preço do seguro, o que resulta um benefício para a seguradora; por outro lado, a
seguradora assume o risco que o tomador do seguro lhe transferiu, comprometendo-se a
pagar determinada indemnização em caso de sinistro.
Contrato aleatório
Considerando que que o contrato de seguro está dependente de uma alea, ou seja, de um
facto fortuito e incerto, é o mesmo que classificado como contrato aleatório. Da ocorrência, ou
não, daquele facto ou acontecimento futuro e incerto, as partes sabem que com a celebração
do contrato de seguro têm a possibilidade de ganhar ou perder, sendo certo que, naquele
momento, ainda não podem avaliar com rigor o quantum do ganho ou da perda devido à
aleatoriedade intrínseca ao contrato de seguro.
Contrato sucessivo
Diz-se que o contrato é sucessivo na medida em que a sua execução perdura enquanto se
mantiverem os efeitos do contrato. Decorre da própria especificidade do contrato de seguro
que, imediatamente após a celebração não é possível às partes libertarem-se das obrigações
assumidas, com as excepções admitidas por lei, dado que o cumprimento das mesmas abrange
todo o período de duração do contrato.
Contrato de boa fé
Característica muito particular do contrato de seguro é o facto de este ser um contrato de boa
fé. Com efeito, na celebração de um contrato as partes devem actuar de acordo com os
princípios da boa fé.
O artigo 86 RJS, no âmbito dos princípios orientadores do contrato de seguro dá conta de que,
em todas as fases do contrato de seguro, seja na preparação, na celebração, na execução ou
cessação, as parte contratantes, bem como o segurado, o beneficiário, a pessoa segura e
quaisquer outras pessoas que, de forma directa ou indirecta, estejam relacionadas com o
contrato, devem enquadrar a sua actuação dentro dos princípios da boa fé.
Contrato típico
Boa fé
Artigo 86 RJS - Sem todas as fases do contrato de seguro, seja na preparação, na celebração,
na execução ou cessação, as parte contratantes, bem como o segurado, o beneficiário, a
pessoa segura e quaisquer outras pessoas que, de forma directa ou indirecta, estejam
relacionadas com o contrato, devem enquadrar a sua actuação dentro dos princípios da boa fé.
Autonomia privada
Artigo 87 RJS
As cláusulas do contrato de seguro, bem como as relações assim estabelecidas, são submetidas
ao princípio da autonomia privada, com as limitações prevista na lei;
As normas preceptivas relativas ao RJS só podem ser afastadas por clausulas que, em contrato
e visto o conjunto, sejam mais favoráveis para o tomador do seguro.
Artigo 88 RJS
Artigo 89 RJS
Nos termos do artigo 170 RJS, as modalidades de distribuição de risco assumido por uma
seguradora consubstanciam-se em práticas de contratos de co-seguro ou de contratos de
resseguro.
Nos dias que correm, o co-seguro e o resseguro são duas figuras jurídicas utilizada pelas
seguradoras para a dispersão dos vários riscos que assumem. Estas duas figuras jurídicas
funcionam como uma protecção para as seguradoras, que, recorrendo a estes mecanismos de
diluição do risco, podem assim assumir riscos de grande dimensão.
O regímen do co-seguro está baseado nos artigos 171 a 177 do Regime Jurídico dos Seguros,
aprovado pelo Decreto-lei nº 1/2010 de 31 de Dezembro.
Proceder à cobrança dos prémios, emitindo os respectivos recibos desenvolver, se for o caso,
acções legalmente previstas face ao não pagamento de um recibo de prémio;
A apólice de seguro emitida poderá ser assinada pelas co-seguradoras no seu todo, podendo
noutras ocasiões ser apenas assinada pela co-seguradora líder, em nome de todas, se,
conforme refere a alínea a) do nº 2 do artigo 172, for estipulado que a co-seguradora líder
procede em seu nome e por conta de todas as co-seguradoras, ao pagamento integral do valor
dos sinistros ocorridos; ou, nos termos da alínea b) do mesmo preceito legal, se houver acordo
nesse sentido, entre todas as co-seguradoras, situação que deve ser expressamente
mencionada na apólice.
Para cada contrato celebrado em regime de co-seguro, conforme prevê o artigo 173, deve ser
estabelecido entre as respectivas co-seguradoras um acordo que defina as relações entre
todas e entre cada uma e a líder, a volta dos seguintes aspectos:
Forma de transmissão de informações e de prestação de contas pelo líder a cada uma das co-
seguradoras; e
Assim, num contrato em regime de co-seguro e nos precisos termos do artigo 175 RJS, os
sinistros podem ser pagos utilizado qualquer das modalidades a seguir mencionadas;
a) A co-seguradora líder procede, em seu próprio nome e em nome e por conta das
restantes co-seguradoras, ao pagamento do valor global do sinistro; e
Resseguro
A grande vantagem do resseguro, tal como no co-seguro, é possibilitar uma dispersão do risco
assumido, permitindo assim as seguradoras minimizar as consequências que a ocorrência de
um sinistro de ponta poderia representa na estabilidade e segurança financeira da própria
seguradora.
O regime do resseguro encontra-se no artigo 178 e seguintes do RJS, onde se prevê a forma do
contrato de resseguro e alteração do risco no seguro directo.
Assim, o contrato de resseguro deve ser reduzido a escrito identificando os riscos cobertos e,
por outro lado, as alterações ou modificações do capital seguro e em geral das condições do
contrato do seguro directo que tenha relação com determinado contrato de resseguro, devem
ser comunicadas à resseguradora pela forma e nos prazos estabelecidos no respectivo
contrato de resseguro.
No que tange aos efeitos em relação a terceiros, o artigo 179 RJS prevê que i) salvo previsão
legal ou estipulação no contrato de resseguro, deste contrato não decorrem quaisquer
relações entre o tomador do seguro, no seguro directo, e a resseguradora; ii) força disso, não
impede a eficácia da atribuição a terceiros, pela seguradora da titularidade ou de exercício de
direitos que lhe advenham do contrato de resseguro, quando legalmente permitida.
Fronting
É nestes termos que as Operações de Fronting fazem parte das proibições do exercício da
actividade não autorizada, conforme o estipulado no nº 3 do artigo 7 RJS, segundo o qual:
Uma operação de Fronting constitui negócio aceite por entidade habilitada ao exercício da
actividade seguradora (cedente) com a intenção prévia de o passar total ou substancialmente
a outra seguradora ou resseguradora (cessionária).
Normalmente, uma operação de Fronting é um negócio, tal como o resseguro, que transcende
as fronteiras do país onde está sedeado o risco, colocando a seguradora cedente na posição de
simples mediadora remunerando-se através de uma comissão.
De forma especial o Regime Jurídico dos Seguros, nos termos do artigo 181, três modalidades
de agrupamento de ramos de seguro, nomeadamente, Seguro de Danos, Seguro de Pessoas e
Operações de Capitalização.
Seguro de Danos
O Seguro de Danos, do ponto de vista do seu objecto, pode respeitar a coisas, créditos, direitos
sobre bens imateriais ou quaisquer outras situações patrimoniais lícitas.
O Seguro de Pessoas
Ramos “Vida”:
Seguro de Vida:
Renda;
Seguros complementares dos seguros de vida, isto é, os relativos a danos corporais, incluindo-
se nestes a incapacidade para o trabalho profissional, a morte por acidente ou a invalidez em
consequência de acidente ou doença.
3. Seguros ligados a fundos de investimento, que abrangem todos os seguros previstos nos
seguros de vida e os relacionados com renda.
As indemnizações ou capitais podem vencer-se ou por morte da pessoa segura e neste caso
chamam-se seguros de vida em caso de morte, ou porque a pessoa cuja vida se segura
sobrevive ao prazo do seguro, chamando-se seguros em caso de vida
Ramos “Não Vida”:
Acidentes de Trabalho;
ü Prestações convencionadas;
ü Prestações indemnizatórias;
ü Combinações de ambas
Pessoas transportadas.
ü Prestações convencionadas;
ü Prestações indemnizatórias;
ü Combinações de ambas
3. Veículos terrestres, com a exclusão dos veículos ferroviários, que abrange danos sofridos
por veículos propulsionados a motor e por veículos terrestres sem motor;
5. Embarcações marítimas, lacustres e fluviais, que abrange os danos sofridos por qualquer
espécie de embarcação marítima, lacustre ou fluvial;
Tempestades;
Energia nuclear;
Aluimentos de terras.
O nosso Direito, apesar de manter a dicotomia tradicional prevista nos artigos 483º e Ss e 790º
e Ss, todos do Código Civil, acaba, de forma implícita, por aceitar para o essencial, a obrigação
de indemnizar, devidamente disciplinada nos artigos 562º a 572º CC.
No dizer de José Alberto González[2], o seguro cumpre uma função: obrigação de proceder à
reparação de danos provocados na esfera jurídica do lesado. Isto significa que não se provando
a existência de danos não há responsabilidade civil, razão pela qual, ainda que o autor da lesão
sinta a realização da obrigação de indemnizar como uma penalização, não é esta, nem
objectivamente, nem juridicamente, a respectiva função.
O seguro, portanto, serve unicamente para transferir do lesado para o autor da lesão as
consequências, principalmente patrimoniais, da lesão produzida.
Face ao acima exposto, é natural que o entendimento segundo o qual, toda e qualquer forma
de responsabilidade pressupõe na sua estrutura uma remissão tripartida: quem, por quê e
perante quem. Esta estrutura exige natural e necessariamente um sujeito o qual se
responsabiliza por algo perante uma instância reconhecida como capaz de exigir
responsabilidades.
Fica assim evidente que só há responsabilidade contratual quando o devedor seja o autor do
não cumprimento, ainda que a determinação de tal autoria possa resultar de uma presunção,
cf. prevê o nº 1 do artigo 799º CC.
A culpa é um juízo de censurabilidade de que a conduta de certa pessoa é susceptível por ter
revelado certa atitude comportamental, quando, na verdade, podia e devia ter revelado outra.
Sempre que a responsabilização de certa pessoa por ter causado danos a outra exija
possibilidade de reformulação de tal juízo, está-se perante a chamada responsabilidade
subjectiva ou por factos ilícitos.
Na situação em que, para obrigar certa pessoa a reparar um dano causado a outra, tal juízo de
censura será irrelevante ou desnecessário, na medida em evidência sempre a responsabilidade
é objectiva, justamente porque não depende da culpa.
O nosso Direito Civil, do qual está baseado o seguro, adopta nesta matéria a perspectiva
segundo a qual, a responsabilização de alguém por danos provocados na esfera jurídica de
outrem exige a demonstração da respectiva culpa, porque a responsabilidade objectiva
representa para aquele que nela ocorre. Ou seja, é importante notar que nesta espécie de
responsabilidade, o autor da conduta que determina o surgimento de danos na esfera jurídica
de terceiro está a desenvolver uma acção ou omissão lícita e não culposa, na medida em que é
socialmente admissível e, presumivelmente vantajosa.
Por essa e demais razões e em conformidade, o nº 2 do artigo 483º CC estabelece que “só
existe obrigação de indemnizar independentemente de culpa nos casos especificados na lei”.
Há, por conseguinte, uma determinante no que respeita aos modelos existentes de
responsabilidade objectiva, cujo critério permite estabelecer um carácter mais ou menos
arbitrário, sendo no mínimo contingente.
E a responsabilidade por factos ilícitos, que funciona como uma categoria residual perante a
responsabilidade pelo risco, uma vez que, existirá sempre que a lei institua um caso de
responsabilidade objectiva fora do âmbito das acções ou omissões perigosas por natureza. É o
que se passa, por exemplo, com o disposto nos artigos 500º e nº 2 do artigo 339º CC.
A apreciação da culpa do condutor devidamente protegido pelo seguro depende da análise das
circunstâncias que envolveram os acidentes.
Como critério geral, considera-se que a culpa deve ser averiguada em função da diligência de
um condutor médio perante circunstâncias do caso (artigo 487º CC). Deve, assim, ser analisado
se houve ou não violação de regras que regulam a condução de veículos, a gravidade dessa
violação e a sua relação com a verificação do acidente.
Conforme refere António Abrantes Geraldes[4], é o que pode acontecer, designadamente, nas
seguintes situações: atropelamento de peão na passadeira ou desrespeito pelo sinal ou regras
que impunham a cedência de passagem por perda de prioridade, desrespeito de sinalização
luminosa ou de sinal STOP, excesso manifesto de velocidade, circulação fora da faixa de
rodagem, condução estado de embriaguez, efectivação de manobras perigosas, etc.
Não basta, portanto, que o condutor cometa uma infracção para ser considerado culpado pela
ocorrência do acidente, pois, é sempre necessário estabelecer-se o nexo de causalidade entre
a natureza das infracções cometidas e o acidente, devendo analisar-se todas as circunstâncias
que o rodearam.
Sobre a matéria do sinistro, José Vasques[5], sugere a observação dos seguintes factores:
Entenda-se por sinistro como a verificação, total ou parcial, do evento que desencadeia o
accionamento da cobertura do risco prevista no contrato, considerando-se como um único
sinistro o evento ou série de eventos resultantes de uma mesma causa.
É uma classificação dada pelas seguradoras como qualquer ocorrência que venha a causar
prejuízos totais ou parciais a bens ou pessoas que impliquem em indemnizações. Aliás, é com a
verificação desse evento que provoca o accionamento das garantias da apólice.
Nesta fase é importante fazer uma diferenciação entre um acidente e um sinistro, pois,
enquanto o primeiro é dado como acontecimento imprevisto, causal, fortuito que resulta em
danos ou ferimentos, o sinistro é o conjunto de todos esses factores e tem por finalidade a
indemnização, accionamento das garantias do contrato de seguro.
É o processo ideal da reparação de um dano o da sua reconstituição natural, pese embora este
princípio cede, na prática, à indemnização em dinheiro, cfr. o previsto no artigo 566º CC, nos
casos em que a reconstituição natural seja impossível (casos de perda total), ou quando a
reconstituição natural não repare integralmente os danos, nos casos em que a reparação,
apesar de possível, não reconstitui exactamente o estado em que o veículo ou objecto se
encontrava antes do acidente ou quando a reconstituição natural seja excessivamente onerosa
para aquele que tem obrigação de indemnizar, na situação em que o custo da reparação é
manifestamente superior ao valor de substituição do veículo ou objecto, depois de deduzido o
valor do salvado.
Por outro lado, a mesma obrigação de indemnizar abrange a reparação de danos patrimoniais
e danos não patrimoniais e sempre que transferida a responsabilidade para a seguradora, esta
se obriga, pelo contrato de seguro, até ao limite do capital seguro e durante o período
acordado, a pagar as indemnizações que, por reparação civil, sejam atribuídas ao segurado em
consequência de factos ou riscos expressamente consignados nas condições da apólice.
Assim, a partir do seguro o tomador de seguro ou segurado têm o dever de colocar o terceiro
lesado sem dano, pelo que a indemnização não tem carácter especulativo, não constitui, por
isso, um meio de proporcionar o enriquecimento do lesado, e, muito menos, um modo
fraudulento de aumentar o património, mas resulta do princípio geral previsto nos termos do
artigo 562º CC, tendo em conta ao espírito do instituto de responsabilidade civil.
É nestes termos que, no entender do José Vasques[6] e que nós perfilhamos, o princípio
indemnizatório do seguro assenta no carácter não-especulativo do contrato de seguro,
segundo o qual o tomador de seguro deve ser ressarcido do prejuízo que efectivamente
sofreu, não podendo o seguro constituir fonte de rendimento para os lesados.
Assim, as seguradoras, ainda na óptica de João Valente Martins, têm, nos casos em que os
danos indemnizáveis não excedam o capital mínimo legalmente estabelecido para o seguro,
um conjunto de regras, procedimentos e prazos que devem cumprir relativamente à gestão
dos sinistros.
[1] José Vasques – Contrato de Seguro, Notas para uma Teoria Geral, Coimbra Editora, 1999,
p.87
[2] GONZÁLEZ, José Alberto - Responsabilidade Civil, 2ª Edição, Quid Juris Sociedade Editora,
p.14
[3] GONZÁLEZ, José Alberto - Responsabilidade Civil, 2ª Edição, Quid Juris Sociedade Editora,
p. 21
[4] GERALDES, António Abrantes - Acidentes de Viação – Edições Almedina, Coimbra, 2009, p.
45
[5] VASQUES, José - CONTRATO DE SEGURO, Notas para uma Teoria Geral, Coimbra Editora,
1999, pp. 292 e ss
[6] VASQUES, José - CONTRATO DE SEGURO, Notas para uma Teoria Geral, Coimbra Editora,
1999,p.. 145
[7] MARTINS, João Valente - Prática dos seguros - como as seguradoras regularizam os
sinistros, Quid Juris Sociedade Editora, pp. 113 e 115.
REGIME JURÍDICO DOS SEGUROS EM MOÇAMBIQUE
Com a “privatização da actividade seguradora” em 1991, esta passou a ser tutelada pelo
Ministério das Finanças, cabendo ao Ministro das Finanças o respectivo licenciamento, sendo
por esta via que a actividade seguradora e resseguradora passou a poder ser exercida por
entidades publicas, privadas ou outras, desde que para tal se mostrem devidamente
licenciadas à luz da Lei nº 24/91, de 31 de Dezembro.
Através do Decreto 42/99, de 20 de Julho, o Governo criou a Inspecção Geral de Seguros – IGS,
considerando, para o efeito, que a modernização do mercado financeiro requeria “a criação de
condições institucionais mais adequadas para o exercício da tutela da actividade de seguros e
resseguros”, tendo principais competências:
Publicar o relatório anual sobre o sector segurador, sua situação económica, financeira e
patrimonial.
Conhecida que foi a revogação do Código Comercial de 26 de Junho de 1888, em que nele se
inseria o regime jurídico dos seguros, nos artigos 425 a 462, esta matéria não é objecto de
consideração no actual Código Comercial, aprovado pelo Decreto- Lei nº 02/2005, de 27 de
Dezembro, pese embora, pela natureza comercial do contrato de seguro, seja um instrumento
subsidiário à semelhança do Código Civil.
O Decreto-lei nº 1/2010, de 31 de Dezembro, que aprovou o novo Regime Jurídico dos Seguros
e com ele as Condições de Acesso e Exercício da Actividade Seguradora e da respectiva
Mediação, veio igualmente criar o Instituto de Supervisão de Seguros de Moçambique – ISSM,
que passa a funcionar sob a tutela do Ministro que superintende a área das Finanças e emitirá
Avisos, que deverão ser publicados no Boletim da República, relativamente a normas técnicas,
de cumprimento obrigatório necessárias à correcta implementação das disposições legais e
terá por competência:
Sancionar as infracções.
Seguro Obrigatório de Responsabilidade Civil
O seguro automóvel constitui uma das formas elegíveis de transferência do “risco” e consiste
num documento que titula o contrato celebrado entre o tomador de seguro e a seguradora,
em que constam as respectivas condições gerais e compelmentares, condições especiais e
ainda exclusões gerais e especiais. Este documento, por sua vez, é designado de apólice de
seguro, deve ser datado e assinado pela seguradora.
Entenda-se por perdas pessoais como o conjunto de danos não patrimoniais, prejuízos que,
não sendo susceptíveis de avalição pecuniária, devem, no entanto, ser compensados através
do cumprimento de uma obrigação pecuniária. E danos patrimoniais, o conjunto de prejuízos
de possível avaliação pecuniária que devem ser reparados ou indemnizados.
São partes do contrato de seguro, por um lado, a seguradora, entidade legalmente autorizada
para a exploração do seguro automóvel, que subscreve o presente contrato. E, por outro, o
tomador de seguro, a pessoa ou entidade que contrata com a seguradora, sendo responsável
pelo pagamento do respectivo prémio[2], ou, o segurado, quando este coincide com o
tomador de seguro, que é pessoa ou entidade no interesse do qual o contrato é celebrado.
Dado o grande impacto dos acidentes de viação, em muitos países foi introduzido o seguro
obrigatório de responsabilidade civil automóvel, para ressarcir a quem seja atingido na sua
integridade física ou no seu património por este tipo de acidentes”. E em Moçambique, o
Seguro obrigatório de Responsabilidade Civil Automóvel é hoje regulado pela Lei nº 2/2003, de
21 de Janeiro, cujo regulamento foi aprovado pelo Decreto nº 47/2005, de 22 de Novembro.
A sua justificação reside na função indemnizatória que, a partir da qual, o tomador do seguro
pretende eliminar um risco, rectius, transferi-lo para uma seguradora. Ou seja, a seguradora
assume o risco de indemnizar o terceiro lesado em contrapartida do recebimento do
respectivo prémio. O risco é o próprio seguro, pois é o facto contra o qual se segura. A sua
essência no contrato de seguro encontra-se na própria lei, na medida em que, não há seguro
sem o risco.
Fazendo uso de outras justificativas que Pedro Romão Martinez[3] faz alusão do ponto de vista
de supressão de necessidades, eliminação do risco e perspectiva industrial, julgamos serem
perfeitamente enquadráveis no contrato de SORCA.
No nº1 do artigo 1º do mesmo diploma legal, sob epígrafe “Obrigação de Segurar”, torna
“obrigatório o seguro de responsabilidade civil automóvel na República de Moçambique”. Ou
seja, é vedado o trânsito na via pública de veículos automóveis e seus reboques sem que esteja
efectuado o respectivo seguro de responsabilidade civil automóvel, contratado em seguradora
autorizada a exercer a sua actividade no território nacional e que garanta a responsabilidade
das pessoas ou entidades civilmente responsáveis pelos danos patrimoniais e não
patrimoniais, causados a terceiros, em consequência de acidentes de viação (nº 1 do artigo 57º
do Código de Estrada, aprovado pelo Decreto – Lei nº 39: 672, de 6 de Novembro de 1959, já
revogado).
O novo Código de Estrada, em vigor no país, desde o dia 24 de Setembro de 2011, por via do
Decreto – Lei nº 1/2011, de 23 de Março, refere no seu artigo 157, sob epígrafe “Obrigação de
seguro” que “os veículos a motor e seus reboques (...) só podem transitar na via pública desde
que seja efectuado seguro de responsabilidade civil”. É uma obrigação que também se estende
para os veículos desportivos, quando tenham a necessária autorização para a realização, na via
pública, de provas desportivas e treinos oficiais (art.158) que, sobre a matéria, o Decreto nº
47/2005, de 22 de Novembro, Regulamento da Lei sobre o SORCA, no seu artigo 3, sob
epígrafe “Seguro de provas desportivas” refere que, quaisquer provas desportivas de veículos
terrestres a motor e respectivos treinos oficiais só poderão ser autorizados mediante a
celebração prévia de um seguro, feito casuisticamente, que garanta a responsabilidade civil
dos organizadores, dos proprietários dos veículos e dos seus detentores e condutores,
relativamente a acidentes que possam ser causados por esses veículos.
Quando a Lei do SORCA assim provê, sujeitando o autor dum facto ilícito, como é o caso de
acidente de viação, à reparação dos danos ocasionados, estamos em sede de responsabilidade
civil que consiste na necessidade imposta a quem transgride as suas obrigações, adoptando
comportamento diverso do que lhe era prescrito, e por tal forma cause prejuízo ao titular do
correspondente interesse tutelado pela ordem jurídica, de colocar à sua custa o ofendido no
estado em que ele se encontraria se não fosse a lesão sofrida.
Neste contexto, fica claro que a carga negativa que sempre envolve os acidentes de viação é
tanto mais expressiva quanto maior for a probabilidade do lesado não ver devidamente
ressarcido o justo montante do prejuízo.
Por esta e demais razões, entendemos que o SORCA carrega na sua essência, conforme
fizemos referência anteriormente, duas peculiares funções: a função económica e a função
social. E, sobre a matéria, Teodoro Andrade Waty[8], refere que “devido às consequências,
tanto de natureza económica como de índole social que desencadeia, o contrato de seguro
exerce uma função que transcende a visão meramente privatística por que era encarado na
sua génese”.
Assim, o SORCA justifica-se no facto de os titulares das respectivas apólices não terem a
necessidade de imobilizar fundos financeiros destinados a repor perdas e danos causados a
terceiros, emergentes de acidentes de viação, o que revela um grande impacto social.
Sendo, por isso mesmo, digno de registar que o papel assumido pelo SORCA quando estimula
as actividades empresariais individuais, segurando riscos de significativa magnitude. Quando
tais riscos ocorrem, a indemnização paga por via do SORCA permite reparar o dano,
reconstituindo, por exemplo, o bem destruído.
Segundo José Vasques[9], o seguro entra na vertente económica, quando se refere à “garantia
de indemnização de danos que de outra forma inviabilizariam actividades económicas e
redução de riscos empresariais e, na medida em que, por forças das próprias características da
actividade, as seguradoras são obrigadas a constituir e aplicar grandes volumes de provisões,
tornando-se um importante investidor institucional”.
Nalgumas vezes o SORCA pode não ser suficiente para cobrir os danos causados, recorrendo-se
a outras formas alternativas que partem desde o accionamento de coberturas de outros
seguros existentes e celebrados para o mesmo bem. Como acontece, por exemplo, em
Portugal, em que a ausência ou insuficiência do SORCA, a indemnização sobre os prejuízos
causados a terceiros é assegurada pelo Fundo de Garantia Automóvel. Sobre esta matéria de
meios alternativos extra-seguro, o mesmo não sucede no nosso país, dada a não
institucionalização do referido fundo, ou qualquer outra forma alternativamente aceite, o que
deixa, tanto o causador como a vítima em situações de difícil solução.
Conforme ensina António Santos Abrandes Geraldes[10], na sua obra sobre acidentes de
viação, o Fundo de Garantia Automóvel é uma entidade gerida pelo Estado. No nosso caso (à
semelhança de Portugal) seria através do Instituto de Supervisão de Seguros de Moçambique
(ISSM), tendo como função garantir a reparação de danos decorrentes de acidentes de viação
causados por responsáveis desconhecidos ou que não tenham cumprido com os requisitos
impostos pela Lei nº 2/2003, de 21 de Janeiro, ou ainda que o SORCA não se tenha mostrado
suficiente na cobertura do dano causado.
Sem pretendermos nos desviar do tema do nosso trabalho e uma vez feita referência do Fundo
de Garantia Automóvel, torna-se imperioso o seu esclarecimento, principalmente quanto às
receitas que o mesmo teria para fazer face aos danos causados a terceiros por veículos
desprovidos ou com insuficiência dos seguros.
As receitas do referido fundo de garantia automóvel, ou seja qual for a designação, proveriam
de uma percentagem sobre o montante dos prémios de seguro dos contratos de seguro do
ramo automóvel, cujo objectivo é a protecção dos direitos de lesados em acidentes de viação,
reconhecendo-lhes a o direito de exigir o reembolso das despesas efectuadas dos responsáveis
ou das pessoas que estivessem obrigadas à celebração do contrato de SORCA.
Estaria assim a ser chamada mais uma forma de intervenção directa do Estado, através do
ISSM, no ressarcimento de danos decorrentes de acidentes de viação, ficando a
responsabilidade do fundo limitada pelo valor do capital do seguro obrigatório, sem prejuízo
das exclusões que a lei prevê, designadamente, relativos ao condutor do veículo responsável,
em relação a outras pessoas ou ainda os danos causados no próprio veículo, danos causados
em bens nele transportados ou ainda danos causados a terceiros, durante operações de carga
e descarga.
Estas e outras medidas poderão servir de base para alternativamente ao SORCA estabelecer-se
mecanismos para acorrer casos relativos aos acidentes de viação envolvendo veículos
automóveis desprovidos de qualquer tipo de seguro, acautelando os direitos dos terceiros
lesados.
[1] WATY, Teodoro Andrade - Direito dos Seguros, W eW Editora, Lda, 2007, p.46
[2] Prestação pecuniária a cargo do tomador do seguro, como correspectivo do risco suportado
pelo segurador, daí compreender-se que o pagamento do prémio obedeça às regras comuns
do cumprimento das obrigações pecuniárias.
[3] MARTINEZ, Pedro Romão - Direito dos Seguros – Apontamentos, Editora Principia, 1ª
edição – Abril 2006, p.56
[4] Entenda-se aqui a questão da lei dos “Grandes Números” intimamente ligada ao conceito
de probabilidade que numa definição não puramente técnica, estabelece que à medida que
cresce o número de contratos sobre o risco a segurar, a variação relativa entre os sinistros
esperados decresce constamente e se aproxima de zero – KARIM, Omar – Manual de
Introdução Geral aos Seguros – EMOSE, C.F.P.S.- Centro de Formação Profissional de Seguros,
p.4
[5] É importante reter que o interesse segurável, à semelhança de Boa-fé, Autonomia privada,
protecção do consumidor e proibição de práticas discriminatórias, todos estes institutos
constituem princípios orientadores do contrato de seguro, previstos na Secção II, do capítulo II,
do Livro Segundo, sob título “Regime Jurídico do Contrato de Seguro (Decreto – Lei nº 1/2010,
de 31 de Dezembro).
[6] Artigo 483 e segs do Código Civil
[7] O instituto de responsabilidade civil implica na sua base uma distinção: responsabilidade
contratual e responsabilidade extracontratual. A primeira sucede sempre que preexista uma
relação jurídica obrigacional e aquele que nesta ocupa a posição de devedor não cumpra
pontualmente a obrigação – artigo 798º CC. A segunda produz-se sempre que não exista
relação juridica prévia e a ocorrência do dano na esfera jurídica daquele que a partir daqui será
constituido credor resulte da violação de um dever genérico, maxime acidentes de viação.
[8] WATY, Teodoro Andrade - Direito dos Seguros, W eW Editora, Lda, 2007, p.10
[9] VASQUES, José - Contrato de Seguro – Notas para uma Teoria Geral, Coimbra Editora,
1999, p.22.
Em primeiro lugar, é preciso que tenhemos presente que todo o acidente de viação constitui,
de per si, um fenómeno impar, sempre diferente no seu conjunto, em relação a outros, pelo
condicionalismo de que se reveste, pelas consequências a que dá origem, até pelo
comportamento diferente dos diferentes veículos a motor que neles intervém. É, sobretudo
diferente por aquilo que lhe dá origem, designadamente, situação de culpa e de risco[1].
Como fenómeno dinâmico, o seu processo não é redutível ao esquema dos demais acidentes,
produzidos embora por veículos de características precisamente idênticas. Por essa razão, não
é pacífico julgar acidentes de viação por simples aproximação ou paralelismo.
O campo de verificação de acidentes de viação são as vias públicas, sejam elas de asfalto ou
outras formas de apresentação.
De referir que no nosso país, em particular a Cidade de Maputo, tal como noutros pontos
deste planeta, verifica-se uma tendência de aumento de perigosidade dos acidentes de viação,
o que, segundo INAV citando a fonte OMS/08, as mortes ocorridas no ano de 2008
representaram cerca de 60 milhões de dólares norte americanos por ano, em que, a Cidade de
Maputo, com um total de 102.494 veículos, de um parque nacional de 290.607, registou 1.276
sinistros, de um universo nacional de 4.966, dentro dos quais foram 124 mortes, 406
ferimentos graves e 739 ferimentos ligeiros registados no nosso espaço geográfico em estudo.
Em termos estatísticos, o cenário acusou uma evolução numa clara relação directamente
proporcional ao desenvolvimento sócio – económico que o país vem registando. Em relação ao
ano de 2009, segundo a mesma fonte, o INAV, o país, com um parque automóvel de 324.553
veículos, dos quais, 114.959 representam a Cidade de Maputo, registou um total de 5.438
acidentes de viação, com particular destaque para o nosso espaço geográfico em estudo, que
registou 1.424, repartindo-se em 101 mortes, 460 ferimentos graves e 939 ferimentos ligeiros.
Para em 2010, os dados estatísticos do INAV e PRM indicarem que em todo território nacional
registou um total de 4.547 acidentes de viação, resultando em 1963 óbitos, para um parque
automóvel nacional estimado em 357.115 veículos que, fazendo analogia dos dados de anos
anteriores, pouco mais de 1/3 representam o parque automóvel da Cidade de Maputo.
A partir destes dados, mesmo que não tenhamos disponíveis os referentes ao espaço
territorial da Cidade de Maputo, usando um raciocínio do ponto de vista de analogia,
relativamente ao comportamento dos dados de 2008-2009, a conclusão que chegamos é de
que, para este ponto geográfico de Moçambique representa cerca de 30% de resultados, seja
em termos do parque automóvel como no número de sinistros, registados em todo país.
E uma actualização de dados estatísticos, segundo a mesma fonte, indica que em 2010, o
cenário apresentava-se com um total de 4. 547 acidentes de viação que resultaram em 1963
óbitos, 3.087 feridos graves, 3.873 feridos ligeiros, 2.193 danos materiais avultados e 1.343
danos materiais ligeiros.
Reparação de danos resultantes de acidentes de viação
O nosso Direito, apesar de manter a dicotomia tradicional prevista nos artigos 483º e Ss e 790º
e Ss, todos do Código Civil, acaba, de forma implícita, por aceitar para o essencial, a obrigação
de indemnizar, devidamente disciplinada nos artigos 562º a 572º CC.
No dizer de José Alberto González[2], o SORCA cumpre uma função: obrigação de proceder à
reparação de danos provocados na esfera jurídica do lesado. Isto significa que não se provando
a existência de danos não há responsabilidade civil, razão pela qual, ainda que o autor da lesão
sinta a realização da obrigação de indemnizar como uma penalização, não é esta, nem
objectivamente, nem juridicamente, a respectiva função.
O SORCA, portanto, serve unicamente para transferir do lesado para o autor da lesão as
consequências, principalmente patrimoniais, da lesão produzida.
Face ao acima exposto, é natural que o entendimento segundo o qual, toda e qualquer forma
de responsabilidade pressupõe na sua estrutura uma remissão tripartida: quem, por quê e
perante quem. Esta estrutura exige natural e necessariamente um sujeito o qual se
responsabiliza por algo perante uma instância reconhecida como capaz de exigir
responsabilidades.
Fica assim evidente que só há responsabilidade contratual quando o devedor seja o autor do
não cumprimento, ainda que a determinação de tal autoria possa resultar de uma presunção,
cf. prevê o nº 1 do artigo 799º CC.
No concernente à responsabilidade extracontratual que se reflecte à volta do SORCA, entende-
se como aquela que admite uma distinção elementar, quando trata de responsabilidade
fundada na culpa e responsabilidade independente da culpa.
A culpa é um juízo de censurabilidade de que a conduta de certa pessoa é susceptível por ter
revelado certa atitude comportamental, quando, na verdade, podia e devia ter revelado outra.
Sempre que a responsabilização de certa pessoa por ter causado danos a outra exija
possibilidade de reformulação de tal juízo, está-se perante a chamada responsabilidade
subjectiva ou por factos ilícitos.
Na situação em que, para obrigar certa pessoa a reparar um dano causado a outra, tal juízo de
censura será irrelevante ou desnecessário, na medida em evidencia sempre a responsabilidade
é objectiva, justamente porque não depende da culpa.
O nosso Direito Civil, do qual está baseado o SORCA, adopta nesta matéria a perspectiva
segundo a qual, a responsabilização de alguém por danos provocados na esfera jurídica de
outrem exige a demonstração da respectiva culpa, porque a responsabilidade objectiva
representa para aquele que nela ocorre. Ou seja, é importante notar que nesta espécie de
responsabilidade, o autor da conduta que determina o surgimento de danos na esfera jurídica
de terceiro está a desenvolver uma acção ou omissão lícita e não culposa, na medida em que é
socialmente admissível e, presumivelmente vantajosa.
Por essa e demais razões e em conformidade, o nº 2 do artigo 483º CC estabelece que “só
existe obrigação de indemnizar independentemente de culpa nos casos especificados na lei”.
Há, por conseguinte, uma determinante no que respeita aos modelos existentes de
responsabilidade objectiva, cujo critério permite estabelecer um carácter mais ou menos
arbitrário, sendo no mínimo contingente.
E a responsabilidade por factos ilícitos, que funciona como uma categoria residual perante a
responsabilidade pelo risco, uma vez que, existirá sempre que a lei institua um caso de
responsabilidade objectiva fora do âmbito das acções ou omissões perigosas por natureza. É o
que se passa, por exemplo, com o disposto nos artigos 500º e nº 2 do artigo 339º CC.
2. Apreciação da culpa
A apreciação da culpa do condutor devidamente protegido pelo SORCA depende da análise das
circunstâncias que envolveram os acidentes.
Como critério geral, considera-se que a culpa deve ser averiguada em função da diligência de
um condutor médio perante circunstâncias do caso (artigo 487º CC). Deve, assim, ser analisado
se houve ou não violação de regras que regulam a condução de veículos, a gravidade dessa
violação e a sua relação com a verificação do acidente.
Conforme refere António Abrantes Geraldes[4], é o que pode acontecer, designadamente, nas
seguintes situações: atropelamento de peão na passadeira ou desrespeito pelo sinal ou regras
que impunham a cedência de passagem por perda de prioridade, desrespeito de sinalização
luminosa ou de sinal STOP, excesso manifesto de velocidade, circulação fora da faixa de
rodagem, condução estado de embriaguez, efectivação de manobras perigosas, etc.
Não basta, portanto, que o condutor cometa uma infracção para ser considerado culpado pela
ocorrência do acidente, pois, é sempre necessário estabelecer-se o nexo de causalidade entre
a natureza das infracções cometidas e o acidente, devendo analisar-se todas as circunstâncias
que o rodearam.
Sobre a matéria do sinistro, José Vasques[5], sugere a observação dos seguintes factores:
a) Prova do sinistro, que consistirá na demonstração da superveniência do evento previsto
no contrato nas condições nele previstas, cabendo o ao segurado ou beneficiário o ónus da
prova dos factos constitutivos do seu direito à prestação da empresa seguradora.
Entenda-se por sinistro como a verificação, total ou parcial, do evento que desencadeia o
accionamento da cobertura do risco prevista no contrato, considerando-se como um único
sinistro o evento ou série de eventos resultantes de uma mesma causa.
É uma classificação dada pelas seguradoras como qualquer ocorrência que venha a causar
prejuízos totais ou parciais a bens ou pessoas que impliquem em indemnizações. Aliás, é com a
verificação desse evento que provoca o accionamento das garantias da apólice.
Nesta fase é importante fazer uma diferenciação entre um acidente e um sinistro, pois,
enquanto o primeiro é dado como acontecimento imprevisto, causal, fortuito que resulta em
danos ou ferimentos, o sinistro é o conjunto de todos esses factores e tem por finalidade a
indemnização, accionamento das garantias do contrato de seguro.
Portanto, o princípio indemnizatório do SORCA, ao basear-se no princípio geral de
responsabilidade civil, consagrado no artigo 483º CC, segundo o qual, aquele que com dolo ou
mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a
proteger interesses alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da
violação, faz uma ligação ao princípio geral da indemnização que tem por objecto no dever de
constituir a situação anterior à lesão – a situação que existiria se não se tivesse verificado o
evento danoso (art. 562º CC).
É o processo ideal da reparação de um dano o da sua reconstituição natural, pese embora este
princípio cede, na prática, à indemnização em dinheiro, cfr. o previsto no artigo 566º CC, nos
casos em que a reconstituição natural seja impossível (casos de perda total), ou quando a
reconstituição natural não repare integralmente os danos, nos casos em que a reparação,
apesar de possível, não reconstitui exactamente o estado em que o veículo ou objecto se
encontrava antes do acidente ou quando a reconstituição natural seja excessivamente onerosa
para aquele que tem obrigação de indemnizar, na situação em que o custo da reparação é
manifestamente superior ao valor de substituição do veículo ou objecto, depois de deduzido o
valor do salvado.
Por outro lado, a mesma obrigação de indemnizar abrange a reparação de danos patrimoniais
e danos não patrimoniais e sempre que transferida a responsabilidade para a seguradora, esta
se obriga, pelo contrato de SORCA, até ao limite do capital seguro e durante o período
acordado, a pagar as indemnizações que, por reparação civil, sejam atribuídas ao segurado em
consequência de factos ou riscos expressamente consignados nas condições da apólice.
Assim, a partir do SORCA o tomador de seguro ou segurado têm o dever de colocar o terceiro
lesado sem dano, pelo que a indemnização não tem carácter especulativo, não constitui, por
isso, um meio de proporcionar o enriquecimento do lesado, e, muito menos, um modo
fraudulento de aumentar o património, mas resulta do princípio geral previsto nos termos do
artigo 562º CC, tendo em conta ao espírito do instituto de responsabilidade civil.
É nestes termos que, no entender do José Vasques[6] e que nós perfilhamos, o princípio
indemnizatório do SORCA assenta no carácter não-especulativo do contrato de seguro,
segundo o qual o tomador de seguro deve ser ressarcido do prejuízo que efectivamente
sofreu, não podendo o seguro constituir fonte de rendimento para os lesados.
Assim, as seguradoras, ainda na óptica de João Valente Martins, têm, nos casos em que os
danos indemnizáveis não excedam o capital mínimo legalmente estabelecido para o SORCA,
um conjunto de regras, procedimentos e prazos que devem cumprir relativamente à gestão
dos sinistros.
[3] Idem, p. 21
[5] CONTRATO DE SEGURO, Notas para uma Teoria Geral, Coimbra Editora, 1999, pp. 292 e ss
[7] Prática dos seguros - como as seguradoras regularizam os sinistros, Quid Juris Sociedade
Editora, pp. 113 e 115.
1º Seminário Nacional de Medicina Legal
Moderação:
Dr. António G. Munjovo e Dr. Virgílio Francisco Ceia – médico-cirurgião Geral e Médico Legista,
respectivamente.
Participações:
Emose
Como melhorar a interação entre a PIC, Procuradoria, Tribunais e Medicina Legal – Articulação
Interinstitucional;
Necessidade de criação de gabinetes médico legais nos hospitais gerais, provinciais, rurais e
distritais;
Critérios e instrumentos padronizados para perícias médico-legiais;
Apresentação das estatísticas das actividades de medicina legal nos hospitais centrais;
Medicina Legal ao serviço das crianças – Procedimentos amigos das crianças e padrões
internacionais;
Urgências Médico-Legais;
As sessões iniciam com uma apresentação do Médico Legista, Dr. Vigílio Francisco Ceia, na sua
qualidade de Responsável pelos Serviços de Medicina Legal, ao fazer uma apreciação daquilo
que pode ser considerado o trajecto histórico da Medicina Legal em Moçambique, para situar
os presentes em aspectos que visam à orientação estratégica das actividades de Medicina
Legal.
Assim, de forma cronológica, importa aqui recordar que a Portaria nº 2385 do Ministério do
Ultramar, de 16 de Maio de 1968, tornou extensivo as Províncias Ultramarinas de Angola e
Moçambique o Decreto nº 5023, que criou o Conselho Médico-Legal, de 29 de Novembro de
1918.
Estes acontecimentos coincidem com a criação da Polícia Científica, por via da Portaria nº
23383 do Ministério do Ultramar, de 15 de Maio de 1968.
Pelo despacho Ministerial de 27-02-1998, o Ministro de Saúde transfere a Medicina Legal para
o Departamento de Assistência Médica, integrando o Serviço de Medicina Legal como serviço
autónomo no Hospital Central de Maputo e cria as Unidades Médico – Judiciárias nos
restantes hospitais do país.
Em 06-01-2011, o Ministro da Saúde aprova o Plano de Acção para Trauma e Violência, para de
seguida, em Novembro do mesmo ano criar o Programa Nacional de Medicina Legal.
Em Fevereiro de 2012, são graduados mais três médicos legistas moçambicanos, entre os quais
duas são mulheres, as primeiras na história da medicina moçambicana.
Portanto, nesta apresentação, o orador deu a conhecer aos presentes aqueles que são os
principais anseios para maior funcionalidade da Medicina Legal, como são os casos de:
Foi frisado que o médico legista desempenha um importante papel para o esclarecimento,
principalmente, de algum tipo legal de crime, pois os seus serviços são, na maior parte,
solicitados pela Administração da Justiça, por exemplo, o médico legista possui um papel
fundamental na análise de cadáveres, algo que exige bastante conhecimento.
Cabe a este especialista fazer a identificação do corpo e descobrir de que tipo de morte a
pessoa foi acometida. Para isso, este profissional deve utilizar vários procedimentos e técnicas
que contribuem para o alcance de um resultado mais preciso. Em alguns casos de homicídio, o
crime só poder ser solucionado com a sua intervenção. O mesmo se pode dizer em relação à
situações de incapacidades, sejam elas temporárias, permanentes ou absolutas resultantes de
lesões de acidentes de trabalho, doenças profissionais ou de acidentes de viação, resultados
que, em grande escala, interessam as seguradoras para a regularização de alguns processos de
sinistros e respectiva criação de reservas matemáticas.
Ao fazer-se abordagem do aspecto de formação foi benéfico, principalmente para quem não é
profissional da área, como é o caso de entidades que são consumidoras dos resultados do
trabalho de um médico legista. Aqui referimo-nos, por exemplo, aos órgãos de Administração
da Justiça e as seguradoras, pois os horizontes destas entidades foram amplamente abertos,
ao conhecerem aquelas que são as partes que compõem a ciência da medicina legal, como são
a tanatologia forense, como sendo técnica de estudo do cadáver. Estudo das circunstâncias da
morte (data, origem, etiologia) e os fenómenos que transformam e conservam o cadáver e da
legislação à volta do mesmo.
Traumatologia forense, capitulo que estuda as lesões e estados patológicos imediatos ou
tardios produzidos por violência sobre o corpo humano. E outros campos que não importam
directamente a actividade das seguradoras, mas que podem servir de cultura geral, como é o
caso da sexologia forense que se encontra melhor tratado na Secção I do Capítulo IV do Livro II
do C.P., sob título «crimes contra a honestidade das pessoas», nomeadamente, Ultraje Publico
ao Pudor: artigo 390º, Atentado ao pudor: artigo 391º, Estupro: artigo 392º, Violação: artigo
393º, Violação de Menores: artigo 394º, Dote da ofendida e efeitos do casamento: artigo 400º
e Lenocínio: artigo 405º.
Para todos efeitos e de forma muito explícita, ficamos a saber que a medicina legal inclui um
vasto leque de serviços localizados na interface entre a prática científica e o direito, situando-
se, actualmente, no âmbito da medicina social.
Entretanto, grandes mudanças se operaram no último século na nossa sociedade, vindo alterar
a abrangência da medicina legal e restantes ciências forenses, nomeadamente no que se
refere ao seu papel social e na realização da justiça. Entre estas mudanças destacam-se:
Estes e outros factos têm levado a que os médicos, bem como outros profissionais, sobretudo
das ciências biológicas, sejam, cada vez mais, chamados a examinar e a pronunciar-se sobre
situações variadas e por vezes de grande complexidade, relacionadas com questões de direito,
seja do âmbito penal, civil, do trabalho, administrativo ou da família e menores. Estas
situações podem incluir, por exemplo, o estudo de casos mortais ou não mortais de situações
de violência (colheita de vestígios; diagnóstico diferencial entre uma etiologia criminosa,
acidental ou natural; definição das incapacidades temporárias e permanentes para a vítima de
um traumatismo), a avaliação do estado de toxicodependência, a determinação do sexo, a
identificação de corpos ou restos cadavéricos, a determinação da imputabilidade, o estudo da
filiação, a pesquisa de drogas de abuso ou outros tóxicos em amostras biológicas, etc.
Esta complexidade e variedade de temas levou à necessidade de considerar a medicina legal
como uma especialidade, capaz de formar e habilitar profissionais para o cumprimento de
tarefas que exigem, além de conhecimentos e capacidades técnicas muito específicas, um
grande rigor científico, uma actualização permanente e uma elevada capacidade de isenção e
imparcialidade, de forma a não colocar em risco o interesse público, os direitos individuais e,
portanto, a justiça.
De facto, o efeito dos pareceres médico-legais a nível do sistema judicial não pode ser
Assim, até há pouco definida como a ciência que aplica os conhecimentos médicos e biológicos
à resolução das questões de direito, a medicina legal confronta-se, actualmente, com as
exigências cada vez mais complexas relativamente à actividade probatória científica.
Toda esta exposição leva-nos a afirmar que Medicina Legal é uma ciência em constante
expansão, o que implica que as suas matérias e métodos se adaptem às novas tecnologias, às
descobertas científicas e, também, às mudanças sociais e do direito. O seu posicionamento
privilegiado entre as ciências biológicas e o direito, confere a esta ciência uma perspectiva
transdisciplinar e interinstitucional fundamental para a resolução de questões cada vez mais
complexas que tocam a pessoa, enquanto cidadão, em todos os domínios do seu ser, não
sendo por mero acaso a escolha para o 1º Seminário Nacional de Medicinal Legal o tema:
“PARA UMA CORRECTA ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA, UMA MEDICINAL LEGAL MAIS
INTERVENTIVA E PARTICIPATIVA”.
Assim, no seu quotidiano, a ciência da medicina legal faz apelo às ciências e tecnologias não
médicas, incluindo as ciências sociais. Ao mesmo tempo, preocupa-se com a assistência
médicas socio-jurídicas para assegurar não só a garantia de certos princípios mas, também, a
melhor aplicação das normas do direito relativamente à normalidade das relações sociais e à
protecção dos direitos individuais e colectivos, tendo em conta a integração do cidadão no seu
meio social.
Desta forma, considera-se que compete à medicina legal, como ciência social, não só o
diagnóstico do caso mas, também, a contribuição, através da perícia, para a «terapêutica» das
situações e, sobretudo, para a sua prevenção e reabilitação/reintegração/reinserção.
a) Medicina forense
- tanatologia forense;
- clínica médico-legal;
- psiquiatria forense;
b) Outras ciências forenses
- toxicologia forense;
- anatomia-patológica forense;
- psicologia forense;
- criminalística;
- antropologia forense;
h) articular-se com os profissionais das outras ciências forenses para melhor esclarecer e
estudar os casos (ex: identificar vestígios encontrados num corpo através de estudos de DNA,
determinar a alcoolémia ou concentração de outras drogas numa morte suspeita, estudar uma
bala numa suspeita de homicídio);
Em jeito de conclusão, pode-se seguramente afirmar que o objectivo geral da medicina legal é
contribuir para auxiliar o direito na aplicação da justiça, através da prestação de serviços. Além
deste papel assistencial inclui, também, uma vertente ligada à investigação e ao ensino e
formação profissional, tendo em vista uma cada vez melhor articulação transdisciplinar no
melhor interesse das vítimas de violência, bem como a prevenção da violência e promoção de
estratégias de segurança.
Deste modo, a medicina legal pode contribuir, ainda relativamente às questões da violência,
para:
problema;
- prevenindo a re-vitimização;
- treinando e sensibilizando profissionais para trabalhar estas questões de forma adequada.
Uma perícia é uma actividade de interpretação de factos a provar (pode incluir a actividade de
observação - exame) que, constituindo um meio de prova, é efectuada por um profissional
especialmente habilitado para tal.
A função do perito é saber dar resposta ao objectivo da perícia, de forma imparcial e objectiva,
e traduzir a sua complexidade por palavras simples para que juristas e outros profissionais a
possam apreciar sobre bases concretas, de modo a que a decisão judicial seja adequada. É ele
o responsável pela elaboração do relatório pericial (no qual deverá integrar as eventuais
opiniões de outros especialistas).
Uma particular atenção se deve ter em relação às lesões que se produzem por via de acidentes
de trabalho, doenças profissionais e, provavelmente, nos acidentes estradais, as avaliações são
feitas com base na Tabela Nacional de Incapacidades, sendo a Junta Médica a entidade
responsável. Contudo, para situação cuja gravidade de lesões e sempre que as entidades
interessadas, no caso da administração da justiça e seguradoras, poderão solicitar uma
reavaliação do sinistrado junto dos Serviços da Medicina Legal.
Papel da Mediação de Seguros em Moçambique
Antes de me debruçar sobre a figura de Mediador de Seguros, lanço o convite para uma
reflexão e percepção do que poderá ser, ab initio e essencialmente, uma mediação.
Naturalmente, quando falamos da mediação a imagem que nos aparece nas nossas mentes é
de uma situação de litígio em que as partes, por si só, não chegam à nenhuma resolução senão
com a intervenção de um terceiro independente e imparcial.
O mediador, a figura que exerce a mediação, participa das reuniões com as partes de modo a
coordenar o que for discutido, facilitando a comunicação e, em casos de impasse, intervindo
de modo a auxiliar a melhor compreensão e reflexão dos assuntos e propostas, mas nunca
impondo às partes uma solução ou qualquer tipo de sentença.
Não se trata de uma escolha arbitrária por parte de alguém, mas sim de uma composição de
base negocial a que as partes chegam com o auxílio de um terceiro neutro que facilita a
comunicação e permite muitas vezes que as questões colocadas na mesa de negociação
"fluam" com maior naturalidade.
Quanto ao campo de aplicação deste método, ele é muito vasto, sendo utilizado em conflitos
comerciais, empresariais, civis, familiares, de relações de trabalho, internacionais, etc., visando
essencialmente, a resolução de um litígio que afecte as partes.
Promotor de seguros, pessoa singular que, actuando unicamente por conta de uma ou várias
seguradoras sujeitas a uma mesma influência dominante, que o designa(m) e sob a sua
exclusiva orientação e responsabilidade, promova para aquela(s) a celebração de contratos de
seguros e operaçãoes de seguros;
Corretor de seguros, mediador, sob forma de sociedade comercial que se encontra devida e
legalmente autorizado para o exercício da corretagem de seguros, desenvolvendo a sua
actividade de forma independente em nome e no interesse legítimo dos respectivos
tomadores de seguros e segurados. Tem a liberdade de recomendar ao tomador de seguro, de
acordo com os critérios de conveniência deste, os contratos a celebrar e as empresas de
seguro em que melhor podem ser colocados.
Para além destas classes de mediadores, existem os angariadores de seguros que, sendo
trabalhadores de seguros, os técnicos comerciais, apresentam, propõem e preparam a
celebração de contratos de seguros, prestando ainda assistência aos mesmos.
A mediação deve, em todos os seus níveis, ser exercida conforme a lei, daí serem sujeitos de
direitos e obrigações. A título de exemplo, são obrigados ao cumprimento das regras de
conduta estabelecidas nas respectivas disposições regulamentares. E aqueles que, no exercício
das suas actividades têm autorização para cobrança de prémios, devem: i) canalizar à
respectiva seguradora, no prazo para o efeito estabelecido, os valores dos prémios por si
cobrados; e ii) abster-se de qualquer acção visando a transferência de carteira de uma
seguradora para outra sem que estejam pagos os prémios em dívida, à data da transferência
da mesma carteira.
De tudo como foi predecentemente exposto, resulta que, o mediador não pode dar como
celebrado um contrato de seguro em nome de uma seguradora, sem a prévia aprovação desta.
Esta aprovação pode consistir numa simples assinatura da proposta. No entanto, é faculdado
um acordo entre mediador e seguradora, no sentido de aquele poder celebrar contratos de
seguros em nome e por conta da seguradora, desde que, a responsabilidade inerente esteja
garantida por um seguro adequado.
Um mediador mantem esta qualidade se o toamdor de seguro não pedir a sua substituição ou
simplesmente o dispensar ou se continuar a satisfazer os parámetros legalmente exigidos pelo
Instituto de Supervisão de Seguros de Moçambique.
Pelos actos praticados por agentes e promotores de seguros no exercício das suas actividades,
a mediação de seguros, responde civilmente a respectiva seguradora ou corretor, sem prejuizo
do direito de regresso.
Assim e por forma a salvaguar os seus interesses e de terceiros, o corretor bem como o agente
de seguros autorizados a cobrar prémios devem estar cobertos por um seguro de
responsabilidade civil profissional para garantia das responsabilidades decorrentes do
desempenho da mesma actividade, observando-se os capitais mínimos estabelecidos nas
respectivas disposições regulamentares.
Sem prejuizo de outros casos previstos na lei, não é permitido o exercício da actividade de
mediação de seguros, directamente ou por interposta pessoa, bem como o exercício do cargo
de administrador ou gerente de sociedade de mediação, a trabalhadores no activo de
seguradoras, administradores ou gerentes de sociedades que se dediquem à actividade de
avaliação pericial, bem como quaisquer pessoas singulares que se dediquem à mesma
actidade, e funcionários no activo da entidade supervidora.
Actividade Seguradora
Nos termos dos artigos 2 e 13 RJS, são sociedades anónimas e sociedades mútuas, com sede
social na República de Moçambique e têm por objecto social, conforme previsto no artigo 1 do
referido diploma legal, o exercício da actividade seguradora, incluindo o resseguro, micro-
seguro e mediação de seguro.
Tais entidades, depois de previamente autorizadas, nos termos do artigo 4 RJS, ou seja, pelo
Ministro que superintende a área das Finanças e sob parecer do órgão supervisor, ISSM –
Instituto de Supervisão de Seguros, exceptuando os mediadores, cujo regime se encontra no
artigo 45 e seguintes, são:
Micro-Seguradoras: entidades que têm por objecto social exclusivo a exploração da actividade
seguradora restrita, operando na área do micro-seguro.
Mútuas de seguro: entidades constituídas por pessoas singulares e/ou colectivas que
pretendam garantir, segundo regras ou técnicas de seguro, a cobertura de riscos comuns.
Portanto, o corretor de seguros (nº 2 do artigo 46) é um mediador que se constitui sob a forma
de sociedade comercial, que, nos termos do Regime Jurídico de Seguros, aprovado pelo
Decreto-lei nº 1/2010, de 31 de Dezembro, se encontra devidamente autorizado para o
exercício da corretagem de seguro e desenvolve a sua actividade de forma independente em
nome e no interesse legítimo dos respectivos tomadores de seguro e seguradoras. Este
mediador recomenda livremente ao tomador de seguro, de acordo com os critérios de
conveniência deste, os contratos a celebrar e as seguradoras em que melhor podem ser
colocados.
Agentes de Seguros, (nº 3 do artigo 46): é também um mediador que pode ser pessoa singular
ou sociedade comercial, que, em nome e representação da seguradora ou do corretor que
houver designado, seja autorizado nos termos do Regime Jurídico de Seguros, aprovado pelo
Decreto-lei nº 1/2010, de 31 de Dezembro, a fazer prospecção e desenvolver toda actividade
tendente a realização de contratos de seguro, prestando inclusivamente a necessária
assistência.
Promotores de seguros (nº 4 do artigo 46): exercem sua actividade por conta de uma empresa
de seguros, que o designa após a frequência, com aproveitamento, de um curso de formação
em seguros, ficando aqueles sob exclusiva orientação e responsabilidade desta na promoção
de celebração de contratos e operações de seguros da referida seguradora.
Contrato de Seguro
O Contrato de Seguro tem por âmbito a definição das garantias, riscos cobertos e riscos
excluídos.
a. Sujeitos
O contrato de seguro é regulado pelas disposições do RJS (art.80), cujas normas têm caracter
imperativo, salvo disposição em sentido diverso que, nos termos legais e no âmbito da
autonomia privada possam ser consideradas.
Contrato de Seguro: tem por âmbito a definição das garantias, riscos cobertos e riscos
excluídos.
Tipos de Seguro
Seguro de pessoas – aquele em que o risco é associado à vida humana, sendo o sinistro
derivado de acidentes pessoas, de doença ou de morte da pessoa segura, pagando a
seguradora as prestações convencionadas ou indemnizatórias contratualmente estipuladas.
Partes contratantes:
a. Seguradora,
Nos termos do nº 1 do artigo 82 RJS, deve estar devidamente autorizada a exercer a sua
actividade no território da república de Moçambique, nos termos da legislação que regula as
condições de acesso e exercício da actividade seguradora.
Os nºs 2 e 3 do mesmo preceito legal indicam que, a seguradora só pode aceitar a cobertura
de riscos que estejam incluídos nos ramos de seguro para cuja exploração tenha obtido a
necessária autorização; e deve cumprir pontualmente as obrigações contratualmente
assumidas, pautando a actuação por elevados padrões de cuidado e de diligência.
Entidades não autorizadas
Contudo, poderão ser aplicadas outras sanções às entidades que celebrem naquelas
condições, contratos objectivamente identificáveis como contratos de seguro, ficando
vinculadas ao cumprimento das obrigações que deles decorriam caso o negócio fosse
considerado válido, salvo havendo má-fé da contraparte.
b. Tomador do seguro
o tomador de seguro deve ter capacidade para o acto, podendo, se necessário, ser
devidamente representado;
o seguro pode ser contratado por conta própria ou por conta de outrem;
Limitações de coberturas;
Regime de transmissão;
Autonomia das partes para, com excepção dos seguros obrigatórios em que é sempre aplicável
a lei moçambicana, escolher, nos termos do RJS, a lei aplicável ao contrato, com a indicação
daquela que a seguradora propõe que seja escolhida.
Tal informação deve constar, ainda, em toda a documentação que seja fornecida ao tomador
do seguro, com relevância opara o contrato a celebrar.
Por outro lado e no que respeita à matéria de apresentação de informações acima referidas, as
mesmas elencadas nos artigos 91 e 92 RJS, devem, de acordo com o artigo 93, devem ser
prestadas por escrito, de forma clara e em língua portuguesa, antes de o tomador do seguro se
vincular.
Nestes termos, a entidade supervisora tem a faculdade de fixar regras quanto ao suporte das
informações a prestar ao tomador do seguro, devendo a proposta de seguro conter uma
menção comprovativa de que as informações que a seguradora deve prestar foram dadas a
conhecer ao do seguro.
O direito de resolução acima referido deve ser exercido no prazo de 30 (trinta) dias, após a
recepção da apólice de seguro, tendo a cessação efeito retroactivo e o tomador do seguro
direito à devolução da totalidade do prémio pago.
Para todos efeitos, a medida acima é aplicável quando as condições da apólice não estejam em
conformidade com as informações prestadas antes da celebração do contrato de seguro.
De algum facto que o seu representante, aquando da celebração do contrato, saiba ser
inexacto ou, tendo sido omisso, conheça.
Assim sendo, fica a cargo do tomador do seguro ou do segurado o ónus da prova quanto à
exactidão e plenitude das informações prestadas, pelo que, havendo incumprimento doloso do
dever de informação, por parte deste, determina a nulidade do contrato, tendo a seguradora
direito ao correspondente prémio de seguro, conforme atesta o artigo 96 em conjugação com
o nº 1 do artigo 95, todos do RJS.
Propor ao tomador do seguro uma alteração do contrato, fixando um prazo não inferior a 30
(trinta) dias para o envio da aceitação ou, se previsto, da contraproposta;
Fazer cessar o contrato, demonstrando que em caso algum celebraria contrato para cobertura
de riscos relacionados com o facto omitido ou declarado inexactamente.
Para todos efeitos, o contrato só poderá cessar quinze dias após ter terminado o prazo
referido na alínea a) acima, enquanto não houver alguma resposta do tomador do seguro,
manifestando pretensão contrária, sendo que, nesta situação o prémio de seguro é devolvido
ao tomador do seguro na proporção do período não decorrido de cobertura do risco.
Ocorrendo algum sinistro antes da alteração ou da cessação do contrato, nos termos acima
indicados, há que atender às seguintes regras:
A seguradora determina o prémio que fixaria no momento da celebração do contrato, caso
tivesse conhecido o facto omitido ou declarado inexactamente, estabelecendo uma proporção
idêntica entre esse prémio e aquele que foi pago;
Estando em produção todos efeitos, o contrato deve ser reduzido a escrito e constar de um
instrumento próprio designado apólice de seguro, como refere o artigo 101, quanto a forma e,
quanto ao conteúdo, apresentar-se-á conforme o previsto no artigo 103.
Durante o período de execução do contrato de seguro, o risco, nos termos do artigo 108,
afigura-se como sendo o elemento determinante do objecto do contrato do seguro, pelo que,
deve ser aleatório, real e lícito.
A inexistência inicial do risco determina a nulidade do contrato de seguro, devendo-se aplicar
as regras abaixo mencionadas e nos termos do artigo 109, quanto ao prémio que haja sido
pago pelo tomador de seguro:
Se houver boa-fé das partes contratantes, a seguradora devolve o valor do prémio, deduzidas
as despesas necessárias à celebração do contrato que comprovadamente não tenham sido
recuperadas; e
Mas, por outro lado, entende-se que há extinção do risco, nomeadamente, no caso de morte
da pessoa segura, perda total do bem seguro ou da cessação da actividade que constituía
objecto de seguro.
Ao longo da vigência do contrato de seguro, o tomador do seguro ou, for o caso, o segurado
têm o dever de, nos oito dias subsequentes ao seu conhecimento, comunicar à seguradora
todos os factos ou circunstâncias susceptíveis de determinar um agravamento ou redução do
risco. E sempre que tal se verificar, a seguradora tem a faculdade de, no prazo de quinze dias,
optar pela redução proporcional da garantia ou pela apresentação de novas condições,
podendo o tomador do seguro contrapor à apresentação de novas condições a redução
proporcional da garantia ou, em qualquer caso, a cessação do contrato – artigos 111 e 114.
No entanto, o nº 2 do artigo 112 apazigua a situação ao permitir que, o tomador de seguro que
tiver agido de boa-fé, pode evitar a resolução do contrato, mediante solicitação à seguradora
da proposta de novas condições, devendo, em caso de aceitá-las, assumir ainda o pagamento
de todas as despesas ocasionadas pela sua actuação.
Na falta de estipulação das partes, o contrato de seguro vigora pelo período de um ano,
conforme atesta o artigo 115, porém, não havendo outra convenção, o artigo 116 esclarece
que, as renovações podem ser automáticas e sucessivamente, no período estipulado, por
novos períodos de um ano.
Caducidade – quando o contrato de seguro chega ao final do seu período de vigência, excepto
se for automaticamente prorrogado porque as partes assim o decidiram;
Resolução – ocorrendo quando o contrato de seguro cessa por iniciativa de uma das partes.
Havendo justa causa, qualquer uma das partes pode cessar o contrato por livre resolução, a
qualquer momento.
Nos termos do artigo 117 e sem prejuízo do disposto em matéria do seguro de vida, o tomador
do seguro tem a faculdade de transmitir a sua posição contratual nos termos gerais, sem
necessidade de consentimento do segurado. Aqui, é preciso trazer ao de cima o entendimento
de o tomador de seguro é aquele que contrata com a seguradora, obrigando-se no pagamento
do respectivo prémio, enquanto o segurado é a pessoa no interesse da qual se faz o seguro.
Prémio de Seguro
Salvo disposição legal em sentido diverso, o montante do prémio e as regras sobre o cálculo e
determinação do prémio de seguro são estipulados no contrário de seguro, ao abrigo da
liberdade contratual, tendo em conta que, as regras sobre o cálculo e a determinação do
prémio de seguro devem respeitar os princípios da técnica seguradora.
O prémio de seguro deve ser pago pela forma e no local estabelecidos no contrato de seguro
ou, no seu silêncio, no estabelecimento da seguradora onde o contrato se tenha celebrado,
atingindo, assim a sua plena eficácia, conforme o previsto no artigo 128, não descurando, no
entanto, os aspectos relativos ao pagamento do prémio de seguro por cheque e a falta de
cobrança do mesmo, por falta imputável à seguradora na data da sua apresentação no
estabelecimento bancário, equivalendo à falta de pagamento, conforme estabelecem os nºs 4
e 5 do artigo 120.
O prémio de seguro tem carácter unitário, conforme refere o artigo 121, pelo que, anulação ou
resolução nos termos legais e regulamentares, suscitando, em muitas vezes o estorno previsto
nos termos do artigo 122, como sendo a devolução do prémio de seguro correspondente ao
período não decorrido.
O risco assumido por uma seguradora pode ser por esta distribuído por outras seguradoras ou
resseguradoras através de prática de duas modalidade prevista nos termos do artigo 170,
nomeadamente, co-seguro ou resseguro.
Co-Seguro
O co-seguro tem o seu regime baseado no artigo 171 e seguintes e é admitido em todos os
ramos ou modalidades de seguro relativamente a contrato que, pela sua natureza e
importância justifiquem a intervenção de várias seguradoras.
No entanto, o contrato em regime de co-seguro é titulado por uma apólice única, emitida pela
seguradora líder e na qual deve figurar a quota-parte de risco ou parte percentual do capital
assumida por cada uma das co-seguradoras, sendo esse o limite das sua correspondentes
responsabilidades individuais.
Desenvolver, sempre que necessário, acções legalmente previstas face ao não pagamento de
um recibo de prémio;
Para cada contrato celebrado em regime de co-seguro deve ser estabelecido entre as
respectivas co-seguradoras um acordo que define as relações entre todas e entre cada uma e a
líder, do qual devem, sem prejuízo das funções desta, constar:
Forma de transmissão de informações e de prestação de contas pelo líder a cada uma das co-
seguradoras; e
Considerando que a relação existente entre a co-seguradora líder e as restantes é uma relação
jurídica-contratual, estabelecendo direitos e obrigações, aquela poderá ser civilmente
responsável perante as outras pelas perdas e danos decorrentes do não cumprimento das
funções que lhe forem atribuídas.
Resumindo e parafraseando Pedro Romano Martinez, na sua obra Direito dos Seguros, pag. 52,
no co-seguro há uma assunção conjunta de um risco por várias empresas de seguro,
denominadas co-seguradoras entre as quais uma é líder.
Adianta aquele autor que, neste contrato de seguro, uma das partes (seguradora) é colectiva,
pois é composta por várias empresas de seguros em regime de parciariedade. Não há
solidariedade, pois cada seguradora assume uma parcela do mesmo risco, num contrato único
titulado por uma só apólice.
Resseguro
O resseguro é o contrato pelo qual uma seguradora faz segurar, por sua vez, parte do risco que
assume, sendo seu regime baseado no artigo 178 e seguintes.
A repartição do risco;
Importa recordar que a relação, no seguro directo, é simplesmente entre o tomador do seguro
e a seguradora. As concessões existentes entre a seguradora e as resseguradoras dizem
respeito somente a estas duas entidades, ficando de fora o tomador do seguro.
Facultativo
O aspecto facultativo tem a ver com a aceitação ou não do risco no momento da sua cedência.
Por outro lado, pode-se dar o caso de, na seguradora aceitante o risco ser uma exclusão, esta
receberá e passará para uma resseguradora especializada;
Obrigatório
Essa obrigatoriedade deve surgir entre duas entidades (seguradoras e resseguradora) a partir
de uma pré-convenção. Ex.: determinado tipo de risco e a partir de um determinado valor, a
parte do excedente deve ser repassado para resseguradora.
Misto
Engloba as duas modalidades, ou seja, dentro do mesmo valor e risco há aquele que deve ser
facultativamente passada para a resseguradora e a outra que, depois de uma pré-convenção,
há obrigatoriedade do resseguro.
[1] Operações de seguro são aquelas que, não revestindo a tipicidade de própria de um
contrato de seguro, são exploradas segundo princípios de capitalização e podem estar sob
gestão de uma seguradora, designadamente, as operações de capitalização e gestão de fundos
de pensões que, regra geral, se associam no ramo Vida.
iii. Participante: pessoa que contribui para o fundo ou entidade que contribui para o
fundo em nome e a favor do participante.
Para além dos acima mencionados, existem ainda outros intervenientes, como, por exemplo, o
depositário, o actuário responsável ou as entidades comercializadoras (que podem ou não
coincidir com as entidades gestoras).
Um plano de pensões é um programa que define as condições para receber uma pensão por:
pré-reforma;
reforma antecipada;
sobrevivência.
Planos não contributivos: quando as contribuições são apenas efectuadas pelo associado.
Nos planos com direitos adquiridos, os participantes que deixem de estar vinculados ao
associado (por exemplo, se mudarem de emprego) podem transferir o valor a que têm direito
para outro fundo de pensões. A essa possibilidade de transferência dá-se o nome de
“portabilidade”.
Nos planos contributivos, os participantes que deixem de estar vinculados ao associado podem
igualmente transferir para outro fundo de pensões o valor acumulado relativo às contribuições
que fizeram.
Podem ser feitas alterações, desde que não impliquem redução das pensões que já estejam a
ser pagas nem dos direitos adquiridos, se existirem. Qualquer alteração depende da
autorização prévia do Ministro que superintende a área das Finanças e é divulgada
publicamente no Boletim da República.
Receber outro tipo de renda (por exemplo, uma pensão paga apenas durante um determinado
número de anos);
Receber de uma só vez parte do valor total da pensão a que tem direito (remição parcial em
capital). No entanto, o beneficiário só pode receber em capital até um terço do valor total da
pensão a que tem direito. Se o valor da renda mensal atribuída ao beneficiário for inferior a
10% do salário mínimo nacional que estiver em vigor, a entidade gestora, o associado e o
beneficiário podem fazer um acordo para que o pagamento da pensão seja feito de uma só vez
(remição total em capital)
Sim. Nos planos contributivos é possível aos beneficiários pedir o reembolso do valor
acumulado relativo às contribuições efectuadas pelos associados:
v. em caso de morte;
15. Quem pode comercializar as unidades de participação dos fundos de pensões abertos?
As unidades de participação dos fundos de pensões abertos apenas podem ser comercializadas
pelas suas entidades gestoras e por mediadores de seguros do ramo Vida registados no ISSM -
Instituto de Supervisão de Seguro de Moçambique.
a indicação das funções mais importantes do provedor dos participantes e beneficiários para
as adesões individuais e respectivo regulamento.
18. Que informações devem constar do contrato de adesão individual a um fundo de pensões
aberto?
Nos primeiros 30 dias, o contribuinte que não seja pessoa colectiva é livre de desistir do
contrato (renúncia). Para tal, terá que informar a entidade gestora dessa intenção por carta
registada enviada para a sua sede social, no prazo de 30 dias a contar da data da adesão ao
fundo de pensões aberto.
Com a desistência, o contrato de adesão individual termina, com efeito à data em que foi
celebrado. É devolvido ao contribuinte:
o valor das contribuições por ele pagas, nos casos em que a entidade gestora assumiu o risco
de investimento;
o valor das unidades de participação à data da devolução (que pode ser igual, superior ou
inferior às contribuições pagas, nos casos em que o contribuinte assumiu o risco de
investimento). Para além da comissão de emissão a pagar à entidade gestora e de eventuais
custos de desinvestimento que revertem para o fundo, o contribuinte não tem de pagar
qualquer indemnização.
21. Qual o destino dos custos suportados pelo consumidor, pela desistência do contrato?
Houve cobrança de uma comissão de emissão e não existem outros custos de desinvestimento
suportados pela entidade gestora. A entidade gestora tem direito ao valor da comissão de
emissão.
22. Que informações devem ser prestadas, durante o contrato, aos participantes que
aderiram individualmente a fundos de pensões abertos?
24. Que informações devem ser prestadas aos participantes de adesões colectivas a fundos
de pensões abertos, no início do contrato?
Por lei, a entidade gestora deve entregar aos participantes um documento que indique, entre
outros elementos:
as remunerações e comissões.
25. Que informações devem ser prestadas, ao longo do contrato, aos participantes de
adesões colectivas a fundos de pensões abertos?
Anualmente, a entidade gestora deve enviar aos contribuintes e, a pedido, aos demais
participantes, informação sobre, entre outros: os seus direitos, tendo em conta o tipo de
plano, a situação financeira do fundo e a sua rendibilidade; como obter o relatório e contas
anuais do fundo; as alterações ao plano de pensões, ao regulamento de gestão ou às normas
aplicáveis ao fundo.
Quando lhe for pedido, a entidade gestora deve facultar aos participantes:
ü todas as informações necessárias para compreenderem o regulamento de gestão e o plano
de pensões;
informação sobre o valor a que teriam direito se a relação de trabalho com o associado
terminasse e quais as possibilidades de transferir esse valor para outro fundo de pensões;
informação sobre o valor previsto para a sua pensão de reforma (nos planos de contribuição
definida);
Por acordo prévio entre o associado e a entidade gestora, estas informações podem ser
prestadas pelo associado ou pela comissão de acompanhamento, apesar de a responsabilidade
ser sempre da entidade gestora.
26. Que informações devem ser prestadas aos beneficiários de adesões colectivas a fundos
de pensões abertos?
Quando lhe for solicitado, a entidade gestora facultará aos beneficiários a política de
investimento do fundo e o relatório e contas anuais.
27. Que informações devem ser prestadas aos participantes de fundos de pensões fechados,
no início do contrato?
Por lei, a entidade gestora deve entregar aos participantes de um fundo de pensões fechado
um documento que indique, entre outros elementos:
o tipo de riscos associados aos planos de pensões e a forma como estão repartidos;
as comissões cobradas aos participantes (se se tratar de um plano contributivo).
Deve, também:
Por acordo prévio entre o associado e a entidade gestora, estas informações podem ser
prestadas pelo associado ou pela comissão de acompanhamento, apesar de a responsabilidade
ser sempre da entidade gestora.
28. Que informações devem ser prestadas, ao longo do contrato, aos participantes de fundos
de pensões fechados?
Anualmente, a entidade gestora deve enviar aos contribuintes e, a pedido, aos demais
participantes informação sobre, entre outros:
os seus direitos, tendo em conta o tipo de plano, a situação financeira do fundo e a sua
rendibilidade; como obter o relatório e contas anuais do fundo;
Quando lhe for pedido, a entidade gestora deve facultar aos participantes:
informação sobre o valor a que teriam direito se a relação de trabalho com o associado
terminasse e quais as possibilidades de transferir esse valor para outro fundo de pensões;
informação sobre o valor previsto para a sua pensão de reforma (nos planos de contribuição
definida);
Por acordo prévio entre o associado e a entidade gestora, estas informações podem ser
prestadas pelo associado ou pela comissão de acompanhamento, apesar de a responsabilidade
ser sempre da entidade gestora.
29. Que informações devem ser prestadas aos beneficiários de fundos de pensões fechados?
Quando lhe for solicitado, a entidade gestora facultará aos beneficiários a política de
investimento do fundo e o relatório e contas anuais.
As funções da entidade gestora são definidas por lei. Como representante legal do fundo e
responsável pela sua boa administração e gestão, compete-lhe, por exemplo:
Cada fundo de pensões aberto que admita adesões individuais tem obrigatoriamente um
provedor, ou seja, um perito independente de reconhecido prestígio e idoneidade, que analisa
as reclamações apresentadas por participantes e beneficiários ou seus representantes. O
provedor analisa, no prazo máximo de dois meses, as reclamações que lhe são apresentadas
pelos participantes e beneficiários do fundo de pensões.