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O Contrato de Seguro

1. Conceito

Sobre o assunto atinente ao contrato de seguro, o artigo 79 do Regime Jurídico dos Seguros,
aprovado pelo Decreto-lei nº 01/2010, de 31 de Dezembro não apresenta uma definição, mas
as partes contratantes, nomeadamente, a seguradora e o tomador do seguro, assim como as
partes interessadas, como são os casos do segurado e o beneficiário, aos quais cabe exercer os
direitos e cumprir as obrigações que derivam e são explicitados no respectivo contrato de
seguro.

Na óptica de José Vasques[1] e que nós aplaudimos, está claro que ao não apresentar a
definição do contrato de seguro, o legislador deixa o interprete com a tarefa de deduzir esse
conceito a partir dos seus elementos integradores. A construção dessa noção deve fazer-se a
partir da distinção de figuras mais próximas e pela análise das noções propostas pelos diversos
autores.

Da noção do contrato de seguro, o José Vasques adianta em identificar os elementos


essenciais que do seu ponto de vista caracterizam o contrato de seguro, designadamente o
risco, para deles extrair a seguinte definição:

Consiste num documento que titula o contrato celebrado entre o tomador de seguro e a
seguradora, em que constam as respectivas condições gerais e complementares, condições
especiais e ainda exclusões gerais e especiais; ou

Acordo pelo qual a seguradora ou micro-seguradora se obriga, em contrapartida do


pagamento de um prémio e para o caso de se produzir o evento cuja verificação é objecto de
cobertura, a indemnizar, nos termos e dentro dos limites convencionados, o dano produzido
ao segurado ou a satisfazer um capital, uma renda, ou outras prestações nele previstas, (nº 9
do glossário anexo ao Regime Jurídico dos Seguros).

Elementos essenciais do Contrato de Seguro

Para se celebrar um contrato de seguro, torna-se necessário que estejamos na presença de,
pelo menos duas partes, conforme refere o nº 1 do artigo 79 do Regime Jurídico dos Seguros
(RJS), nomeadamente, a seguradora e o tomador do seguro e, ainda se tenha previsto um risco
para o qual tenha sido pago o respectivo prémio.

Seguradora, entidade devidamente autorizada pelo Ministro que superintende a área das
Finanças, com o necessário parecer do ISSM – Instituto de Supervisão de Seguros de
Moçambique, conforme atestam os artigos 4 e 5 do Decreto-lei nº 1/2010, de 31 de
Dezembro, bem como ao artigo 4 do Regime Jurídico dos Seguros, a explorar determinados ou
todos os ramos de seguro e que, mediante o recebimento de um determinado valor (prémio
de seguro), aceita a transferência do risco de outrem; e

Tomador do seguro, outro elemento essencial no contrato de seguro é o tomador de seguro,


entendendo-se este como aquela pessoa singular ou colectiva que pretende contratar com a
seguradora um contrato através do qual a responsabilidade ou a de outros, ou seja, o risco, é
transferido para aquela entidade. O tomador do seguro é também responsável pelo
pagamento do prémio de seguro;
Risco – um acontecimento fortuito, algo que é susceptível de poder acontecer, mas não
inevitável. É um factor dinâmico que pode ser maior ou menor consoante as circunstâncias do
tempo e do espaço. O artigo 108 RJS trata o risco como sendo objecto do contrato de seguro,
isto é, elemento determinante do objecto do contrato de seguro que deve ser aleatório, real e
lícito que sem ele não há seguro. Daqui resulta a essencialidade do risco para existência do
contrato de seguro, aliás, assim prevê o artigo 109 RJS;

Prémio – como corolário da onerosidade do contrato de seguro, temos o respectivo prémio. O


prémio de seguro é a contraprestação exigida pela seguradora. O prémio de é, assim, um
elemento essencial do contrato de seguro e o não pagamento do prémio inicial ou da primeira
fracção deste tem como consequência a resolução automática do contrato de seguro. O
regime do premio de seguro baseia-se no artigo 120 e seguintes do Regime jurídico dos
seguros, sendo o sendo o seu montante e regras sobre o seu cálculo e determinação serem
estipulados no contrato de seguro, ao abrigo da liberdade contratual, respeitando os princípios
da técnica seguradora.

Assunção do risco – não basta que as partes celebrem o contrato de seguro sobre um
determinado risco, é necessário que a seguradora assuma-se efectivamente como responsável
pelos sinistros que eventualmente possam vir a ocorrer com determinada pessoa segura ou
bem que estejam dentro do âmbito das coberturas da respectiva apólice;

Elementos não essenciais

O nº 2 do artigo 79 RJS faz referência que, para além das partes referidas no nº 1 do mesmo
preceito legal – seguradora e tomador do seguro – são as partes interessadas o segurado e o
beneficiário, aos quais cabe exercer direitos e cumprir as obrigações que derivam e são
explicitados no respectivo contrato de seguro. Mas, por outro lado há o terceiro interessado
que, em algumas vezes, mesmo não fazendo parte do contrato (na maior parte das vezes,
porque noutras aparece com os direitos ressalvados no contrato), se beneficia de alguma
indemnização por ocasião de um sinistro.

Terceiro interessado

Como os contratos de seguro são susceptíveis de poderem ser celebrados a favor de terceiros,
existem contratos em que, para além dos habituais intervenientes – segurado e tomador do
seguro – surgem terceiros interessados no contrato de seguro. Estes terceiros podem ser
aqueles que têm direitos ressalvados no contrato de seguro ou beneficiários devidamente
identificados na apólice, como são os casos das sociedades de Leasing. A existência de um
terceiro interessado, no caso as sociedades de Leasing, estes chegam a consubstanciar-se num
elemento essencial, na medida em que, a sua influência é extremamente importante,
podendo, inclusivamente substituir-se no pagamento dos prémios, para além dos direitos dos
terceiros adquiridos no âmbito do contrato de seguro não poderem ser prejudicados pela
cessação do contrato de seguro.

Pessoa segura

Em determinados tipos de contratos de seguro, o risco que se pretende segurar traduz-se, por
exemplo, na vida de determinada pessoa. Nessa situação, identifica-se na apólice a
denominada pessoa segura sobre a qual a seguradora garante o pagamento de uma
indemnização em caso de morte. Pode assim acontecer que o tomador do seguro e a pessoa
segura sejam a mesma pessoa.

Características do contrato de seguro

Contrato Formal

Nos termos do artigo 102 RJS, no que respeita à forma, o contrato de seguro deve ser reduzido
a escrito e constar de um documento próprio designado apólice de seguro. No entanto, alguns
autores defendem que a validade do contrato de seguro é independente de forma especial,
porém, não obstante a tal situação, a seguradora tem a obrigação de formalizar o contrato
através da apólice, devendo a mesma ser devidamente assinada e datada pela seguradora.

Contrato de adesão

Regra geral, e em particular nos contratos de seguro de seguro designados de massa, o


contrato de seguro é habitualmente designado como um contrato de adesão, uma vez que o
tomador do seguro se limita a aderir a um contrato em que as respectivas cláusulas estão já
previamente estabelecidas pela seguradora, sem possibilidade de as alterar.

Contrato sinalagmático/bilateral

Da celebração de um contrato de seguro emergem obrigações recíprocas para ambas as


partes, daí se classificar como um contrato sinalagmático.

Contrato oneroso

Tendo em o que atrás referimos o carácter sinalagmático do contrato de seguro, fácil se torna
compreender que este tem um cariz oneroso. De facto, o tomador de seguro paga prémio
como o preço do seguro, o que resulta um benefício para a seguradora; por outro lado, a
seguradora assume o risco que o tomador do seguro lhe transferiu, comprometendo-se a
pagar determinada indemnização em caso de sinistro.

Contrato aleatório

Considerando que que o contrato de seguro está dependente de uma alea, ou seja, de um
facto fortuito e incerto, é o mesmo que classificado como contrato aleatório. Da ocorrência, ou
não, daquele facto ou acontecimento futuro e incerto, as partes sabem que com a celebração
do contrato de seguro têm a possibilidade de ganhar ou perder, sendo certo que, naquele
momento, ainda não podem avaliar com rigor o quantum do ganho ou da perda devido à
aleatoriedade intrínseca ao contrato de seguro.

Contrato sucessivo

Diz-se que o contrato é sucessivo na medida em que a sua execução perdura enquanto se
mantiverem os efeitos do contrato. Decorre da própria especificidade do contrato de seguro
que, imediatamente após a celebração não é possível às partes libertarem-se das obrigações
assumidas, com as excepções admitidas por lei, dado que o cumprimento das mesmas abrange
todo o período de duração do contrato.
Contrato de boa fé

Característica muito particular do contrato de seguro é o facto de este ser um contrato de boa
fé. Com efeito, na celebração de um contrato as partes devem actuar de acordo com os
princípios da boa fé.

O artigo 86 RJS, no âmbito dos princípios orientadores do contrato de seguro dá conta de que,
em todas as fases do contrato de seguro, seja na preparação, na celebração, na execução ou
cessação, as parte contratantes, bem como o segurado, o beneficiário, a pessoa segura e
quaisquer outras pessoas que, de forma directa ou indirecta, estejam relacionadas com o
contrato, devem enquadrar a sua actuação dentro dos princípios da boa fé.

Contrato típico

O contrato de seguro é um contrato típico, uma vez que só existem os contratos e


modalidades de seguro que estejam expressamente previstos na lei.

Princípios orientadores do contrato de seguro

Boa fé

Artigo 86 RJS - Sem todas as fases do contrato de seguro, seja na preparação, na celebração,
na execução ou cessação, as parte contratantes, bem como o segurado, o beneficiário, a
pessoa segura e quaisquer outras pessoas que, de forma directa ou indirecta, estejam
relacionadas com o contrato, devem enquadrar a sua actuação dentro dos princípios da boa fé.

Autonomia privada

Artigo 87 RJS

As cláusulas do contrato de seguro, bem como as relações assim estabelecidas, são submetidas
ao princípio da autonomia privada, com as limitações prevista na lei;

Ficam ressalvadas todas as normas imperativas, gerais e especiais.

As normas preceptivas relativas ao RJS só podem ser afastadas por clausulas que, em contrato
e visto o conjunto, sejam mais favoráveis para o tomador do seguro.

Interesse no objecto seguro

Artigo 88 RJS

A celebração do contrato de seguro deve corresponder a um interesse digno de protecção


legal relativamente ao risco coberto, sob pena de nulidade do contrato.

Protecção do Consumidor e Proibição de Práticas discriminatórias

Artigo 89 RJS

Ao contrato de seguro aplicam-se as regras previstas no Código Comercial para as cláusulas


dos contratos e para os contratos de adesão bem como as as normas de defesa e protecção do
consumidor

Na celebração, execução e cessação do contrato de seguro são proibidas as práticas


discriminatórias em violação da igualdade nos termos do artigo 35 CRM.
Distribuição do Risco

Nos termos do artigo 170 RJS, as modalidades de distribuição de risco assumido por uma
seguradora consubstanciam-se em práticas de contratos de co-seguro ou de contratos de
resseguro.

Nos dias que correm, o co-seguro e o resseguro são duas figuras jurídicas utilizada pelas
seguradoras para a dispersão dos vários riscos que assumem. Estas duas figuras jurídicas
funcionam como uma protecção para as seguradoras, que, recorrendo a estes mecanismos de
diluição do risco, podem assim assumir riscos de grande dimensão.

O regímen do co-seguro está baseado nos artigos 171 a 177 do Regime Jurídico dos Seguros,
aprovado pelo Decreto-lei nº 1/2010 de 31 de Dezembro.

Estamos em presença de um contrato de co-seguro quando várias seguradoras assumem


conjuntamente um determinado, dividindo entre si as percentagens do capital seguro e,
também, na mesma proporção o valor do correspondente prémio. A seguradora que chama a
si a maior proporção do risco a segurar denomina-se líder, cujas funções estão sedeadas no
artigo 172 RJS, entre as quais:

Receber do tomador do seguro a declaração do risco, bem como as declarações posteriores de


agravamento ou redução desse mesmo risco;

Fazer análise do risco e estabelecer as condições do seguro e a respectiva tarifação;

Emitir a apólice de seguro correspondente à totalidade do risco ou capital assumidos;

Proceder à cobrança dos prémios, emitindo os respectivos recibos desenvolver, se for o caso,
acções legalmente previstas face ao não pagamento de um recibo de prémio;

Aceitar ou propor a resolução do contrato,

Entre outras tarefas.

A apólice de seguro emitida poderá ser assinada pelas co-seguradoras no seu todo, podendo
noutras ocasiões ser apenas assinada pela co-seguradora líder, em nome de todas, se,
conforme refere a alínea a) do nº 2 do artigo 172, for estipulado que a co-seguradora líder
procede em seu nome e por conta de todas as co-seguradoras, ao pagamento integral do valor
dos sinistros ocorridos; ou, nos termos da alínea b) do mesmo preceito legal, se houver acordo
nesse sentido, entre todas as co-seguradoras, situação que deve ser expressamente
mencionada na apólice.

Para cada contrato celebrado em regime de co-seguro, conforme prevê o artigo 173, deve ser
estabelecido entre as respectivas co-seguradoras um acordo que defina as relações entre
todas e entre cada uma e a líder, a volta dos seguintes aspectos:

Valor da taxa de gestão, se as funções do líder forem remuneradas;

Forma de transmissão de informações e de prestação de contas pelo líder a cada uma das co-
seguradoras; e

Regime do pagamento dos sinistros.


No exercício da sua função de liderança, a co-seguradora líder poderá praticar actos que
resultem em responsabilidade civil, daí que, nos termos do artigo 174 RJS, esta será civilmente
responsável pelas perdas e danos decorrentes do não cumprimento das funções que lhe forem
atribuídas.

A materialização do risco assumido resulta em sinistro que quando prevista contratualmente a


circunstância da sua ocorrência acciona as garantias da apólice.

Assim, num contrato em regime de co-seguro e nos precisos termos do artigo 175 RJS, os
sinistros podem ser pagos utilizado qualquer das modalidades a seguir mencionadas;

a) A co-seguradora líder procede, em seu próprio nome e em nome e por conta das
restantes co-seguradoras, ao pagamento do valor global do sinistro; e

b) Cada uma das co-seguradoras procede ao pagamento da parte do sinistro proporcional à


quota-parte do risco que garantiu ou parte percentual do capital que assumiu.

Se uma das co-seguradora desejar abandonar o contrato celebrado em regime de co-seguro,


deve, nos termos do artigo 177 RJS, com uma antecedência de trinta dias em relação à data
em que o pretenda fazer, comunicar tal facto à líder, que dará conhecimento ao tomador do
seguro e às restantes co-seguradoras a fim de se decidir sobre a forma de cobertura da quota-
parte em causa.

Resseguro

O resseguro é o contrato através do qual uma resseguradora assume, mediante uma


determinada comissão, uma parte ou a totalidade dos riscos aceites por uma seguradora ou
por uma outra resseguradora.

A grande vantagem do resseguro, tal como no co-seguro, é possibilitar uma dispersão do risco
assumido, permitindo assim as seguradoras minimizar as consequências que a ocorrência de
um sinistro de ponta poderia representa na estabilidade e segurança financeira da própria
seguradora.

O regime do resseguro encontra-se no artigo 178 e seguintes do RJS, onde se prevê a forma do
contrato de resseguro e alteração do risco no seguro directo.

Assim, o contrato de resseguro deve ser reduzido a escrito identificando os riscos cobertos e,
por outro lado, as alterações ou modificações do capital seguro e em geral das condições do
contrato do seguro directo que tenha relação com determinado contrato de resseguro, devem
ser comunicadas à resseguradora pela forma e nos prazos estabelecidos no respectivo
contrato de resseguro.

No que tange aos efeitos em relação a terceiros, o artigo 179 RJS prevê que i) salvo previsão
legal ou estipulação no contrato de resseguro, deste contrato não decorrem quaisquer
relações entre o tomador do seguro, no seguro directo, e a resseguradora; ii) força disso, não
impede a eficácia da atribuição a terceiros, pela seguradora da titularidade ou de exercício de
direitos que lhe advenham do contrato de resseguro, quando legalmente permitida.

Enquanto no seguro directo a relação é entre o tomador do seguro e a seguradora, no


contrato de resseguro temos, por lado a seguradora cedente (porque cede o risco) e, por outro
lado temos a resseguradora que aceita o risco cedido em parte ou na sua totalidade.
Subsidiariamente, a relação entre a resseguradora e a cedente poderá ser regulada pelas
normas do Regime jurídico dos Seguros, quando com este compatíveis, porque de forma
normal, a regulação é feita nos termos do correspondente contrato de resseguro (artigo 180
RJS).

Fronting

No âmbito de distribuição do risco, a operação de Fronting constitui uma terceira modalidade.


A Operação de Fronting traduz-se na assunção de um risco por parte de uma seguradora com
intenção de o transmitir integralmente a outra seguradora ou resseguradora em troca de uma
comissão. Na prática, a segura que pratica o Fronting age como um verdeiro mediador de
seguros se tratasse, pois recebe uma determinada comissão do prémio.

Normalmente a Operação de Fronting constitui uma prática que só é legalmente autorizada


quando as circunstâncias, aliada à falta de capacidades nas seguradoras internas, assim o
permitem.

É nestes termos que as Operações de Fronting fazem parte das proibições do exercício da
actividade não autorizada, conforme o estipulado no nº 3 do artigo 7 RJS, segundo o qual:

As operações de Fronting só são permitidas quando aceites e realizadas pela respectiva


seguradora, tendo em conta a natureza e dimensão do risco.

Por outro lado,

Uma operação de Fronting constitui negócio aceite por entidade habilitada ao exercício da
actividade seguradora (cedente) com a intenção prévia de o passar total ou substancialmente
a outra seguradora ou resseguradora (cessionária).

Normalmente, uma operação de Fronting é um negócio, tal como o resseguro, que transcende
as fronteiras do país onde está sedeado o risco, colocando a seguradora cedente na posição de
simples mediadora remunerando-se através de uma comissão.

Modalidades e Ramos de Seguro

De forma especial o Regime Jurídico dos Seguros, nos termos do artigo 181, três modalidades
de agrupamento de ramos de seguro, nomeadamente, Seguro de Danos, Seguro de Pessoas e
Operações de Capitalização.

Seguro de Danos

O Seguro de Danos, do ponto de vista do seu objecto, pode respeitar a coisas, créditos, direitos
sobre bens imateriais ou quaisquer outras situações patrimoniais lícitas.

Nos Seguros de Danos recomenda-se a observação do princípio de não especulação, nos


termos do artigo 182 RJS, no sentido de que, o contrato de seguro não tem por finalidade nem
pode proporcionar o enriquecimento ao tomador do seguro e/ou segurado, como também
está eminente a possibilidade de verificação de desvalorização decorrente do vício próprio da
coisa segura. Em caso de danos verificados ocasionados por vício próprio da coisa segura
existente ao tempo do contrato, de que o tomador do seguro devesse ter conhecimento e que
não tenha declarado à seguradora, aplica-se o regime da declaração inicial do risco, conforme
refere o artigo 95 RJS, no âmbito dos deveres de informação do tomador do seguro ou
segurado ou de seu agravamento, nos termos do nº 1 do artigo 113 RJS, consoante os casos.

O Seguro de Pessoas

Um conjunto de seguros cuja cobertura incide em riscos da verificação de lesão corporal,


incapacidade temporária, invalidez permanente total ou parcial ou morte da(s) pessoa(s)
segura, por causa súbita, externa e imprevisível.

No âmbito da actividade seguradora, os seguros estão divididos em dois grandes grupos


denominados ramos de seguro e que podem ser de Ramos “Vida” e Ramos “Não Vida, que por
sua vez se dividem em diversas modalidades que ainda se dividem em submodalidade,
consoante o tipo de risco que cobrem.

Na verdade, o nº 1 do artigo 15 em conjugação com artigo 6 do Regime Jurídico dos Seguros,


no âmbito de acesso e exercício da actividade seguradora são reconhecidos os dois ramos:
Ramos “Vida” e Ramos “Não Vida”.

Ramos “Vida”:

Seguro de Vida:

Seguro de vida em caso de morte, em caso de vida, ou misto;

Renda;

Seguros complementares dos seguros de vida, isto é, os relativos a danos corporais, incluindo-
se nestes a incapacidade para o trabalho profissional, a morte por acidente ou a invalidez em
consequência de acidente ou doença.

2. Seguro de nupcialidade e seguro de natalidade;

3. Seguros ligados a fundos de investimento, que abrangem todos os seguros previstos nos
seguros de vida e os relacionados com renda.

4. Operações de capitalização, que abrangem toda operação de poupança, baseada numa


técnica actuarial, que se traduza na assunção de compromissos determinados quanto à
duração e o seu montante, como contrapartida de uma prestação única ou de prestações
periódicas previamente fixadas.

5. Operações de gestão de fundos colectivos de reforma, que abrangem toda a operação


que consista na gestão, por uma empresa de seguros, de investimentos e, nomeadamente, dos
activos representativos das reservas ou provisões de organismos que liquidam prestações em
caso de morte, em caso de vida, ou caso de cessação ou redução de actividade.

Os seguros de vida compreenderão todas as combinações que se possam fazer, pactuando


entregas de prestações ou capitais em troca de constituição de uma renda que poderá ser
vitalícia ou a partir de uma certa idade, ou pagamento de certa quantia, por falecimento de
uma pessoa ao segurado, seus herdeiros ou representantes. A seguradora pode, nos termos
contratuais, tomar sobre si o risco de morte do segurado dentro de um certo tempo.

As indemnizações ou capitais podem vencer-se ou por morte da pessoa segura e neste caso
chamam-se seguros de vida em caso de morte, ou porque a pessoa cuja vida se segura
sobrevive ao prazo do seguro, chamando-se seguros em caso de vida
Ramos “Não Vida”:

1. Acidentes, que compreendem as seguintes modalidades:

Acidentes de Trabalho;

Acidentes Pessoais, nas seguintes submodalidades:

ü Prestações convencionadas;

ü Prestações indemnizatórias;

ü Combinações de ambas

Pessoas transportadas.

2. Doença, que compreende as seguintes modalidades:

ü Prestações convencionadas;

ü Prestações indemnizatórias;

ü Combinações de ambas

3. Veículos terrestres, com a exclusão dos veículos ferroviários, que abrange danos sofridos
por veículos propulsionados a motor e por veículos terrestres sem motor;

4. Veículos ferroviários, que abrange os danos sofridos por veículos ferroviários;

5. Embarcações marítimas, lacustres e fluviais, que abrange os danos sofridos por qualquer
espécie de embarcação marítima, lacustre ou fluvial;

6. Mercadorias transportadas, que abrange os danos sofridos por mercadorias;

7. Seguro de incêndio e elementos da natureza, que abrange os danos sofridos devido a:

Incêndio, raio ou explosão;

Tempestades;

Outros elementos da natureza;

Energia nuclear;

Aluimentos de terras.

8. Responsabilidade civil, seguro de coberturas muito diversificadas, garante, em regra, o


reembolso ao segurado das importâncias que este tenha sido obrigado a pagar por actos ou
omissões em que tenha incorrido. E expressão “obrigado a pagar” pressupõe que o segurado
tenha sido condenado em tribunal, o que raramente ocorre na maior parte das situações, pelo
que, de facto, o reembolso pela seguradora não é feito ao segurado, mas sim ao lesado, o que
transforma o contrato num seguro de indemnização.
Na verdade, a prática de seguro, está intrinsecamente relacionada com o instituto jurídico de
responsabilidade civil, implicando na sua base uma distinção de responsabilidade contratual e
responsabilidade extracontratual. A primeira sucede sempre que preexista uma relação
jurídica obrigacional, neste caso a existência de um contrato de seguro que vincula a
seguradora e o tomador de seguro. Enquanto, a segunda traduz-se sempre que não exista uma
relação jurídica prévia e a ocorrência do dano na esfera daquele que à partida será constituído
credor resulte da violação de um dever genérico, maxime, da violação do dever de respeito
por situações jurídicas alheias. Fica aqui evidente a figura do terceiro lesado, que é a vítima de
um sinistro e, não sendo parte do contrato, é detentor do direito de indemnização.

O nosso Direito, apesar de manter a dicotomia tradicional prevista nos artigos 483º e Ss e 790º
e Ss, todos do Código Civil, acaba, de forma implícita, por aceitar para o essencial, a obrigação
de indemnizar, devidamente disciplinada nos artigos 562º a 572º CC.

No dizer de José Alberto González[2], o seguro cumpre uma função: obrigação de proceder à
reparação de danos provocados na esfera jurídica do lesado. Isto significa que não se provando
a existência de danos não há responsabilidade civil, razão pela qual, ainda que o autor da lesão
sinta a realização da obrigação de indemnizar como uma penalização, não é esta, nem
objectivamente, nem juridicamente, a respectiva função.

O seguro, portanto, serve unicamente para transferir do lesado para o autor da lesão as
consequências, principalmente patrimoniais, da lesão produzida.

Face ao acima exposto, é natural que o entendimento segundo o qual, toda e qualquer forma
de responsabilidade pressupõe na sua estrutura uma remissão tripartida: quem, por quê e
perante quem. Esta estrutura exige natural e necessariamente um sujeito o qual se
responsabiliza por algo perante uma instância reconhecida como capaz de exigir
responsabilidades.

Assim, na óptica de José Alberto González[3], na responsabilidade contratual ou obrigacional


pode ser objecto de incontáveis distinções e classificações que basicamente se traduz no não
cumprimento imputável ao devedor, conforme o previsto nos artigos 790º a 808º CC.

Na verdade, como nos referimos anteriormente, pelo facto de a responsabilidade contratual


pressupor a existência de uma relação jurídica, é concebível que o não cumprimento da
obrigação daí decorrente para o respectivo sujeito passivo possa ficar a dever-se, tanto a uma
conduta que lhe é atribuível, como a um facto natural, a um comportamento imputável a um
terceiro.

Fica assim evidente que só há responsabilidade contratual quando o devedor seja o autor do
não cumprimento, ainda que a determinação de tal autoria possa resultar de uma presunção,
cf. prevê o nº 1 do artigo 799º CC.

No concernente à responsabilidade extracontratual que se reflecte à volta do seguro, entende-


se como aquela que admite uma distinção elementar, quando trata de responsabilidade
fundada na culpa e responsabilidade independente da culpa.

A culpa é um juízo de censurabilidade de que a conduta de certa pessoa é susceptível por ter
revelado certa atitude comportamental, quando, na verdade, podia e devia ter revelado outra.
Sempre que a responsabilização de certa pessoa por ter causado danos a outra exija
possibilidade de reformulação de tal juízo, está-se perante a chamada responsabilidade
subjectiva ou por factos ilícitos.

Na situação em que, para obrigar certa pessoa a reparar um dano causado a outra, tal juízo de
censura será irrelevante ou desnecessário, na medida em evidência sempre a responsabilidade
é objectiva, justamente porque não depende da culpa.

O nosso Direito Civil, do qual está baseado o seguro, adopta nesta matéria a perspectiva
segundo a qual, a responsabilização de alguém por danos provocados na esfera jurídica de
outrem exige a demonstração da respectiva culpa, porque a responsabilidade objectiva
representa para aquele que nela ocorre. Ou seja, é importante notar que nesta espécie de
responsabilidade, o autor da conduta que determina o surgimento de danos na esfera jurídica
de terceiro está a desenvolver uma acção ou omissão lícita e não culposa, na medida em que é
socialmente admissível e, presumivelmente vantajosa.

Por essa e demais razões e em conformidade, o nº 2 do artigo 483º CC estabelece que “só
existe obrigação de indemnizar independentemente de culpa nos casos especificados na lei”.
Há, por conseguinte, uma determinante no que respeita aos modelos existentes de
responsabilidade objectiva, cujo critério permite estabelecer um carácter mais ou menos
arbitrário, sendo no mínimo contingente.

É dentro da responsabilidade objectiva que também se pode distinguir a responsabilidade pelo


risco, que ocorre sempre que a lei associe ao desenvolvimento de certa actividade
potencialmente danosa. É a responsabilidade não subjectiva, isto é, não fundada na culpa, é
excepcional no nosso Direito, segundo o nº 2 do artigo 483º CC.

A responsabilidade pelo risco constitui uma das espécies da responsabilidade objectiva e


caracteriza-se pela sua ratio consistir em atribuir a quem retira vantagens de certas
actividades. Os artigos 499º e ss CC, expressamente prevêem casos de responsabilidade não
fundada em culpa, mas no risco próprio de certas actividades, artigos 500º e 501º, danos
causados por comissários ou funcionários, representantes ou agentes do Estado ou outras
pessoas colectivas de direito público, artigo 502º, danos causados por veículos de circulação
terrestre, artigo 503º CC.

E a responsabilidade por factos ilícitos, que funciona como uma categoria residual perante a
responsabilidade pelo risco, uma vez que, existirá sempre que a lei institua um caso de
responsabilidade objectiva fora do âmbito das acções ou omissões perigosas por natureza. É o
que se passa, por exemplo, com o disposto nos artigos 500º e nº 2 do artigo 339º CC.

Em suma, o seguro, como parte integrante do instituto de responsabilidade civil, acciona-se


quando alguém no uso de um veículo automóvel se constitui na obrigação de indemnizar
outrem por danos que lhe cause. Ou seja, pressupõe a obrigação de indemnizar, partindo da
ocorrência de um dano, de um prejuízo causado a terceiro, partindo, também, do princípio que
o dano deve consistir numa lesão material ou imaterial a um interesse juridicamente
protegido.

Enquanto o instituto de indemnização deve entender-se no preciso sentido definido pelo


artigo 562º CC, como “reconstituição da situação a que existiria se não se tivesse verificado o
evento lesivo”. Em sentido lato, a indemnização é a reparação do prejuízo sofrido por uma
pessoa em consequência do incumprimento ou do deficiente cumprimento de uma obrigação,
da violação de um direito absoluto ou da de uma norma que proteja interesses privados.
3.1. Apreciação da culpa

A apreciação da culpa do condutor devidamente protegido pelo seguro depende da análise das
circunstâncias que envolveram os acidentes.

Como critério geral, considera-se que a culpa deve ser averiguada em função da diligência de
um condutor médio perante circunstâncias do caso (artigo 487º CC). Deve, assim, ser analisado
se houve ou não violação de regras que regulam a condução de veículos, a gravidade dessa
violação e a sua relação com a verificação do acidente.

Conforme refere António Abrantes Geraldes[4], é o que pode acontecer, designadamente, nas
seguintes situações: atropelamento de peão na passadeira ou desrespeito pelo sinal ou regras
que impunham a cedência de passagem por perda de prioridade, desrespeito de sinalização
luminosa ou de sinal STOP, excesso manifesto de velocidade, circulação fora da faixa de
rodagem, condução estado de embriaguez, efectivação de manobras perigosas, etc.

Não basta, portanto, que o condutor cometa uma infracção para ser considerado culpado pela
ocorrência do acidente, pois, é sempre necessário estabelecer-se o nexo de causalidade entre
a natureza das infracções cometidas e o acidente, devendo analisar-se todas as circunstâncias
que o rodearam.

Assim, por exemplo, se o condutor do veículo atravessa uma povoação em velocidade


excessiva, tal facto é naturalmente relevante para apurar a sua responsabilidade pelo acidente
que tenha consistido no atropelamento de um peão que efectuava regularmente a travessia
da rua. Mas já relativamente a um outro acidente que ocorreu durante o dia, com boa
visibilidade, o facto de as luzes de estradas (máximos) do veículo se encontrarem avariadas
será, em princípio, irrelevante para o apuramento da responsabilidade.

3.2. Processo de regularização do sinistro

O processo de regularização inicia com a participação do sinistro, nos moldes previstos no do


artigo 136 RJS e a mora na sua comunicação, implica para o responsável pelo incumprimento,
o dever de indemnizar à seguradora pelos danos e demais despesas ocasionadas por essa
actuação, artigo 137 RJS.

Sobre a matéria do sinistro, José Vasques[5], sugere a observação dos seguintes factores:

a) Prova do sinistro, que consistirá na demonstração da superveniência do evento previsto


no contrato nas condições nele previstas, cabendo o ao segurado ou beneficiário o ónus da
prova dos factos constitutivos do seu direito à prestação da empresa seguradora.

b) Nexo de causalidade, no sentido de que a realização do risco previsto no contrato terá na


sua base determinada causa, de cujo enquadramento nas cláusulas contratuais dependerá a
actuação das garantias do seguro. Ou seja, é necessário que apurar o nexo de causalidade
entre a causa e o sinistro.

c) Sinistro e delimitação temporal da garantia nos seguros de responsabilidade civil, dado


que o momento da verificação do sinistro é de maior importância para aferir da respectiva
cobertura pelo contrato.
d) Forma da participação, a qual deve articular o princípio da liberdade de forma e a prova
da participação, de que o segurado deverá prevalecer-se. Na prática, em muitos casos, a
seguradora põe à disposição do segurado ou do terceiro um impresso próprio para a
participação.

e) Ónus da participação do sinistro, uma vez que, o acto de participação do sinistro à


seguradora não é uma obrigação do segurado, antes constitui um ónus jurídico, no sentido em
que dele dependerá a obtenção da prestação da seguradora, cuja inobservância a poderá
condicionar ou mesmo excluir.

f) Conteúdo do ónus da participação do sinistro, que prevê o momento em que o tomador


de seguro comunica o sinistro e, posteriormente, formalizando a sua participação e
fornecendo informação complementar a formalização da participação consiste na informação
detalhada das condições e circunstâncias do sinistro, incluindo-se nessa participação a
identificação dos bens ou pessoas afectados, indicações relativamente ao tempo e o local, a
eventual intervenção de autoridades policiais, indicação de testemunhas, bem como uma
estimativa dos danos.

g) Prazo de participação do sinistro, a principal questão suscitada acerca do prazo é a


natureza imperativa ou supletiva dos artigos 136 e 137 do Regime Jurídico dos Seguros.

Entenda-se por sinistro como a verificação, total ou parcial, do evento que desencadeia o
accionamento da cobertura do risco prevista no contrato, considerando-se como um único
sinistro o evento ou série de eventos resultantes de uma mesma causa.

É uma classificação dada pelas seguradoras como qualquer ocorrência que venha a causar
prejuízos totais ou parciais a bens ou pessoas que impliquem em indemnizações. Aliás, é com a
verificação desse evento que provoca o accionamento das garantias da apólice.

Nesta fase é importante fazer uma diferenciação entre um acidente e um sinistro, pois,
enquanto o primeiro é dado como acontecimento imprevisto, causal, fortuito que resulta em
danos ou ferimentos, o sinistro é o conjunto de todos esses factores e tem por finalidade a
indemnização, accionamento das garantias do contrato de seguro.

Portanto, o princípio indemnizatório do seguro, ao basear-se no princípio geral de


responsabilidade civil, consagrado no artigo 483º CC, segundo o qual, aquele que com dolo ou
mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a
proteger interesses alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da
violação, faz uma ligação ao princípio geral da indemnização que tem por objecto no dever de
constituir a situação anterior à lesão – a situação que existiria se não se tivesse verificado o
evento danoso (art. 562º CC).

É o processo ideal da reparação de um dano o da sua reconstituição natural, pese embora este
princípio cede, na prática, à indemnização em dinheiro, cfr. o previsto no artigo 566º CC, nos
casos em que a reconstituição natural seja impossível (casos de perda total), ou quando a
reconstituição natural não repare integralmente os danos, nos casos em que a reparação,
apesar de possível, não reconstitui exactamente o estado em que o veículo ou objecto se
encontrava antes do acidente ou quando a reconstituição natural seja excessivamente onerosa
para aquele que tem obrigação de indemnizar, na situação em que o custo da reparação é
manifestamente superior ao valor de substituição do veículo ou objecto, depois de deduzido o
valor do salvado.
Por outro lado, a mesma obrigação de indemnizar abrange a reparação de danos patrimoniais
e danos não patrimoniais e sempre que transferida a responsabilidade para a seguradora, esta
se obriga, pelo contrato de seguro, até ao limite do capital seguro e durante o período
acordado, a pagar as indemnizações que, por reparação civil, sejam atribuídas ao segurado em
consequência de factos ou riscos expressamente consignados nas condições da apólice.

Aliás, conforme tivemos ocasião de analisar, constatamos que, em matéria de indemnização


prevista no contrato de seguro, o artigo 2 do Decreto nº 47/2005, de 22 de Novembro,
Regulamento da Lei nº 2/2003, de 21 de Janeiro, estabelece os limites máximos de
indemnização, de acordo com o tipo de utilização do veículo automóvel que, ultrapassados os
valores extras serão suportados por uma cobertura facultativa de responsabilidade civil ou por
outros mecanismos alternativos disponíveis (adoptados ou a adoptar).

Assim, a partir do seguro o tomador de seguro ou segurado têm o dever de colocar o terceiro
lesado sem dano, pelo que a indemnização não tem carácter especulativo, não constitui, por
isso, um meio de proporcionar o enriquecimento do lesado, e, muito menos, um modo
fraudulento de aumentar o património, mas resulta do princípio geral previsto nos termos do
artigo 562º CC, tendo em conta ao espírito do instituto de responsabilidade civil.

É nestes termos que, no entender do José Vasques[6] e que nós perfilhamos, o princípio
indemnizatório do seguro assenta no carácter não-especulativo do contrato de seguro,
segundo o qual o tomador de seguro deve ser ressarcido do prejuízo que efectivamente
sofreu, não podendo o seguro constituir fonte de rendimento para os lesados.

O valor de indemnização, nos seguros de danos, como é o caso do seguro, em conformidade


com a sua função indemnizatória, deve equivaler ao dano efectivamente verificado (nº 1 do
artigo 145 RJS), e dentro do limite máximo de responsabilidade que constitui o capital seguro
contratualmente estabelecido, incluindo a indemnização do dano da privação do uso, cuja
extensão e complexidade não cabem neste trabalho.

Portanto, na liquidação de danos no seguro prevalecem regras legais, designadamente


reconstituindo da situação existente antes da verificação do sinistro, limitando a indemnização
aos capitais máximos previamente estabelecidos contratualmente.

Entretanto, João Valente Martins[7], sugere esquematicamente que o processo de


regularização dos processos de sinistro deve seguir fases e prazos legalmente fixados. Aliás, em
matéria de prazo, o Decreto – Lei nº 1/2010, de 31 de Dezembro, Regime Jurídico dos Seguros,
estabelece no seu artigo 136, nº2 que, o sinistro deve ser comunicado à seguradora no prazo
fixado no contrato ou, no silêncio deste, nos oito dias subsequentes à data da sua ocorrência
ou de que tenha conhecimento.

Assim, as seguradoras, ainda na óptica de João Valente Martins, têm, nos casos em que os
danos indemnizáveis não excedam o capital mínimo legalmente estabelecido para o seguro,
um conjunto de regras, procedimentos e prazos que devem cumprir relativamente à gestão
dos sinistros.
[1] José Vasques – Contrato de Seguro, Notas para uma Teoria Geral, Coimbra Editora, 1999,
p.87

[2] GONZÁLEZ, José Alberto - Responsabilidade Civil, 2ª Edição, Quid Juris Sociedade Editora,
p.14

[3] GONZÁLEZ, José Alberto - Responsabilidade Civil, 2ª Edição, Quid Juris Sociedade Editora,
p. 21

[4] GERALDES, António Abrantes - Acidentes de Viação – Edições Almedina, Coimbra, 2009, p.
45

[5] VASQUES, José - CONTRATO DE SEGURO, Notas para uma Teoria Geral, Coimbra Editora,
1999, pp. 292 e ss

[6] VASQUES, José - CONTRATO DE SEGURO, Notas para uma Teoria Geral, Coimbra Editora,
1999,p.. 145

[7] MARTINS, João Valente - Prática dos seguros - como as seguradoras regularizam os
sinistros, Quid Juris Sociedade Editora, pp. 113 e 115.
REGIME JURÍDICO DOS SEGUROS EM MOÇAMBIQUE

Até Janeiro de 1977, as competências de supervisão da actividade seguradora eram exercidas


pela Inspecção de Crédito e Seguros, passando as mesmas para a alçada da EMOSE a partir de
1 de Janeiro de 1977, criada por força do Decreto-lei nº 3/77, de 13 de Janeiro de 1977.

Com a “privatização da actividade seguradora” em 1991, esta passou a ser tutelada pelo
Ministério das Finanças, cabendo ao Ministro das Finanças o respectivo licenciamento, sendo
por esta via que a actividade seguradora e resseguradora passou a poder ser exercida por
entidades publicas, privadas ou outras, desde que para tal se mostrem devidamente
licenciadas à luz da Lei nº 24/91, de 31 de Dezembro.

Através do Decreto 42/99, de 20 de Julho, o Governo criou a Inspecção Geral de Seguros – IGS,
considerando, para o efeito, que a modernização do mercado financeiro requeria “a criação de
condições institucionais mais adequadas para o exercício da tutela da actividade de seguros e
resseguros”, tendo principais competências:

Apresentar propostas legislativas sobre matérias das suas atribuições;

Apreciar e aceitar o depósito de bases técnicas, condições gerais e tarifarias de contratos de


seguros;

Autorizar a exploração de ramos ou modalidades de seguros e definir apólices uniformes para


determinados contratos de seguros;

Acompanhar a actividade das empresas sujeitas a sua supervisão e verificar o cumprimento


das normas aplicáveis e a observância das regras de controlo prudencial;

Assegurar a recolha, tratamento e publicação de dados estatísticos sobre o sector segurador e


ressegurador;

Publicar o relatório anual sobre o sector segurador, sua situação económica, financeira e
patrimonial.

Com o crescimento do tráfego rodoviário, mercê do desenvolvimento económico e social que


Moçambique vem conhecendo nos últimos anos, por forma a garantir uma protecção cada vez
mais eficaz, o estado moçambicano decretou a obrigatoriedade do seguro automóvel de
responsabilidade civil através da Lei nº 2/2003, de 21 de Janeiro, que viu o seu regulamento
aprovado pelo Decreto nº 47/2005, de 22 de Novembro.

Conhecida que foi a revogação do Código Comercial de 26 de Junho de 1888, em que nele se
inseria o regime jurídico dos seguros, nos artigos 425 a 462, esta matéria não é objecto de
consideração no actual Código Comercial, aprovado pelo Decreto- Lei nº 02/2005, de 27 de
Dezembro, pese embora, pela natureza comercial do contrato de seguro, seja um instrumento
subsidiário à semelhança do Código Civil.

O Decreto-lei nº 1/2010, de 31 de Dezembro, que aprovou o novo Regime Jurídico dos Seguros
e com ele as Condições de Acesso e Exercício da Actividade Seguradora e da respectiva
Mediação, veio igualmente criar o Instituto de Supervisão de Seguros de Moçambique – ISSM,
que passa a funcionar sob a tutela do Ministro que superintende a área das Finanças e emitirá
Avisos, que deverão ser publicados no Boletim da República, relativamente a normas técnicas,
de cumprimento obrigatório necessárias à correcta implementação das disposições legais e
terá por competência:

O exercício de supervisão e fiscalização das entidades habilitadas ao exercício das actividades


seguradora, de mediação de seguros e resseguro e de gestão de fundos de pensões;

A supervisão e fiscalização subsidiaria da execução da política de investimento da segurança


social gerida pelo INSS e do Fundo de Pensões dos Trabalhadores do Banco de Moçambique;

Acompanhar e verificar o cumprimento das normas que disciplinam a actividade seguradora e


de mediação;

Emitir directrizes para que sejam sanadas as irregularidades detectadas;

Tomar providencias extraordinárias de saneamento;

Sancionar as infracções.
Seguro Obrigatório de Responsabilidade Civil

Seguro Obrigatório de Responsabilidade Civil Automóvel (SORCA)

A palavra seguro é originária do latim securus, gramaticalmente exprime o sentido de livre e


isento de perigos e cuidados, posto a salvo, garantido. O seguro de automóveis é um seguro
real, com características dos seguros de bens ou coisas. É também, um seguro de pessoas,
responsabilidades, pois as suas garantias básicas oferecem não só, coberturas emergentes dos
riscos de utilização do veículo, quer sejam os danos materiais (do veículo seguro ou alheios)
como também, dos danos causados pelo veículo seguro.

O seguro automóvel constitui uma das formas elegíveis de transferência do “risco” e consiste
num documento que titula o contrato celebrado entre o tomador de seguro e a seguradora,
em que constam as respectivas condições gerais e compelmentares, condições especiais e
ainda exclusões gerais e especiais. Este documento, por sua vez, é designado de apólice de
seguro, deve ser datado e assinado pela seguradora.

Segundo Teodoro Andrade Waty[1], “o seguro obrigatório de responsabilidade civil cobre as


perdas pessoais e danos patrimoniais ocasionados por automóveis.

Entenda-se por perdas pessoais como o conjunto de danos não patrimoniais, prejuízos que,
não sendo susceptíveis de avalição pecuniária, devem, no entanto, ser compensados através
do cumprimento de uma obrigação pecuniária. E danos patrimoniais, o conjunto de prejuízos
de possível avaliação pecuniária que devem ser reparados ou indemnizados.

São partes do contrato de seguro, por um lado, a seguradora, entidade legalmente autorizada
para a exploração do seguro automóvel, que subscreve o presente contrato. E, por outro, o
tomador de seguro, a pessoa ou entidade que contrata com a seguradora, sendo responsável
pelo pagamento do respectivo prémio[2], ou, o segurado, quando este coincide com o
tomador de seguro, que é pessoa ou entidade no interesse do qual o contrato é celebrado.

Dado o grande impacto dos acidentes de viação, em muitos países foi introduzido o seguro
obrigatório de responsabilidade civil automóvel, para ressarcir a quem seja atingido na sua
integridade física ou no seu património por este tipo de acidentes”. E em Moçambique, o
Seguro obrigatório de Responsabilidade Civil Automóvel é hoje regulado pela Lei nº 2/2003, de
21 de Janeiro, cujo regulamento foi aprovado pelo Decreto nº 47/2005, de 22 de Novembro.

A institucionalização do Seguro obrigatório de Responsabilidade Civil Automóvel (SORCA)


ocorre numa altura em que Moçambique já registava um parque automóvel de 164.575
veículos, dos quais 50.461 circulavam na Cidade de Maputo, números que, até Dezembro de
2010 evoluíram para 357.115 para o país e pouco mais de 120.000 unidades, para a Cidade de
Maputo.

O SORCA enquadra-se na classe de Responsabilidade Civil, destinando-se ao ressarcimento de


pessoas vítimas de lesões corporais ou danos no seu património em consequência de actos ou
omissões cometidos por quem tenha a obrigação de indemnizar. Estas pessoas, em linguagem
técnica de seguro são designadas de terceiros lesados, aqueles que, em consequência de um
evento que desencadeia o accionamento da cobertura do risco previsto no contrato de seguro,
considerando-se como um único ou vários eventos resultantes da mesma causa (sinistro),
sofram lesões que originem danos susceptíveis de, nos termos da legislação vigente e da
apólice, serem reparados ou indemnizados.

A sua justificação reside na função indemnizatória que, a partir da qual, o tomador do seguro
pretende eliminar um risco, rectius, transferi-lo para uma seguradora. Ou seja, a seguradora
assume o risco de indemnizar o terceiro lesado em contrapartida do recebimento do
respectivo prémio. O risco é o próprio seguro, pois é o facto contra o qual se segura. A sua
essência no contrato de seguro encontra-se na própria lei, na medida em que, não há seguro
sem o risco.

Fazendo uso de outras justificativas que Pedro Romão Martinez[3] faz alusão do ponto de vista
de supressão de necessidades, eliminação do risco e perspectiva industrial, julgamos serem
perfeitamente enquadráveis no contrato de SORCA.

Quanto à supressão de necessidades, pesa embora a função indemnizatória seja


tradicionalmente mais relevante no âmbito dos seguros em geral, para o titular da apólice de
SORCA pode ter em vista a tal supressão de necessidades relacionadas com a contingência de
acidente de viação que é assumida pela seguradora, arcando esta com as despesas, no lugar
do tomador do seguro.

Mais ainda, no que concerne à perspectiva industrial, é chamado o papel da seguradora


assumir o risco por conta do tomador do seguro. Mas para a seguradora, assunção de riscos
alheios contra o pagamento de um prémio não pode ser entendida somente na situação
concreta, pois há que tomar em conta esta a celebração de contratos em larga escala,
superando-se a assunção de um risco esporádico, no sentido de que, para seguradora o risco
não é visto unitariamente, mas no plano global dos vários riscos assumidos, com base no
cálculo de probabilidades.

Sobre a matéria, o posicionamento com que ficamos é que é de todo o interesse da


seguradora, no âmbito de exercício da sua actividade empresarial assumir a multiplicidade de
riscos decorrentes de vários contratos de SORCA, na medida em que o risco é diluído e assenta
numa previsão matemática[4].

Actualmente, com o crescimento do parque automóvel, o aparecimento de viaturas em


número cada vez mais elevado, circulando nas vias públicas e desprovidas de qualquer tipo de
seguro, aliado ao elevado índice de acidentes de viação, constituem factores preocupantes a
tal ponto de motivarem a revisão do Código de Estrada e, consequentemente, a
institucionalização do SORCA, por via da Lei nº 2/2003, de 21 de Janeiro.

No nº1 do artigo 1º do mesmo diploma legal, sob epígrafe “Obrigação de Segurar”, torna
“obrigatório o seguro de responsabilidade civil automóvel na República de Moçambique”. Ou
seja, é vedado o trânsito na via pública de veículos automóveis e seus reboques sem que esteja
efectuado o respectivo seguro de responsabilidade civil automóvel, contratado em seguradora
autorizada a exercer a sua actividade no território nacional e que garanta a responsabilidade
das pessoas ou entidades civilmente responsáveis pelos danos patrimoniais e não
patrimoniais, causados a terceiros, em consequência de acidentes de viação (nº 1 do artigo 57º
do Código de Estrada, aprovado pelo Decreto – Lei nº 39: 672, de 6 de Novembro de 1959, já
revogado).
O novo Código de Estrada, em vigor no país, desde o dia 24 de Setembro de 2011, por via do
Decreto – Lei nº 1/2011, de 23 de Março, refere no seu artigo 157, sob epígrafe “Obrigação de
seguro” que “os veículos a motor e seus reboques (...) só podem transitar na via pública desde
que seja efectuado seguro de responsabilidade civil”. É uma obrigação que também se estende
para os veículos desportivos, quando tenham a necessária autorização para a realização, na via
pública, de provas desportivas e treinos oficiais (art.158) que, sobre a matéria, o Decreto nº
47/2005, de 22 de Novembro, Regulamento da Lei sobre o SORCA, no seu artigo 3, sob
epígrafe “Seguro de provas desportivas” refere que, quaisquer provas desportivas de veículos
terrestres a motor e respectivos treinos oficiais só poderão ser autorizados mediante a
celebração prévia de um seguro, feito casuisticamente, que garanta a responsabilidade civil
dos organizadores, dos proprietários dos veículos e dos seus detentores e condutores,
relativamente a acidentes que possam ser causados por esses veículos.

A obrigação de segurar impende sobre o proprietário do veículo, exceptuando-se os casos de


usufruto, venda com reserva de propriedade e regime de locação financeira, em que a
obrigação recai sobre, respectivamente, o usufrutuário, adquirente ou locatário. No caso de
veículos a motor desportivos, a obrigação impende sobre o organizador, bem como os
proprietários ou detentores dos veículos e dos participantes. Contudo, se qualquer outra
pessoa, tendo razões que preencham o interesse segurável[5] previsto nos termos do artigo 88
do Regime Jurídico dos Seguros, celebrar, relativamente ao veículo, contrato de seguro ao
abrigo da Lei nº 2/2003, de 21 de Janeiro, Lei sobre SORCA, fica suprida a obrigação, enquanto
o contrato produzir efeitos.

Com a institucionalização do SORCA no país, pretende-se fazer despertar a consciência, no


sentido de que, toda a pessoa, que possa ser civilmente responsável pela reparação de danos,
sejam eles patrimoniais ou não patrimoniais, decorrentes de lesões corporais ou materiais
causadas a terceiros por um veículo automóvel e seus reboques, deve, para que esses veículos
possam circular, encontrar-se nos termos legalmente previstos.

Quando a Lei do SORCA assim provê, sujeitando o autor dum facto ilícito, como é o caso de
acidente de viação, à reparação dos danos ocasionados, estamos em sede de responsabilidade
civil que consiste na necessidade imposta a quem transgride as suas obrigações, adoptando
comportamento diverso do que lhe era prescrito, e por tal forma cause prejuízo ao titular do
correspondente interesse tutelado pela ordem jurídica, de colocar à sua custa o ofendido no
estado em que ele se encontraria se não fosse a lesão sofrida.

Procura-se, assim, por um lado assegurar a continuidade da protecção da vida e o património


dos cidadãos, como direito fundamental e constitucionalmente instituído e, por outro lado,
porque a responsabilidade civil surge precisamente para permitir à vítima imputar a lesão
sofrida a terceiro culpado, de modo a que este deva “reconstituir a situação que existiria, se
não se tivesse verificado o evento que obriga à reparação” (art. 562º CC), partindo do princípio
geral secularmente entendido como fonte de obrigações, ainda que isso seja apenas notório,
do ponto de vista da sistemática legal, no que respeita à chamada responsabilidade
extracontratual[6] [7].

Neste contexto, fica claro que a carga negativa que sempre envolve os acidentes de viação é
tanto mais expressiva quanto maior for a probabilidade do lesado não ver devidamente
ressarcido o justo montante do prejuízo.

Por esta e demais razões, entendemos que o SORCA carrega na sua essência, conforme
fizemos referência anteriormente, duas peculiares funções: a função económica e a função
social. E, sobre a matéria, Teodoro Andrade Waty[8], refere que “devido às consequências,
tanto de natureza económica como de índole social que desencadeia, o contrato de seguro
exerce uma função que transcende a visão meramente privatística por que era encarado na
sua génese”.

Assim, o SORCA justifica-se no facto de os titulares das respectivas apólices não terem a
necessidade de imobilizar fundos financeiros destinados a repor perdas e danos causados a
terceiros, emergentes de acidentes de viação, o que revela um grande impacto social.

Sendo, por isso mesmo, digno de registar que o papel assumido pelo SORCA quando estimula
as actividades empresariais individuais, segurando riscos de significativa magnitude. Quando
tais riscos ocorrem, a indemnização paga por via do SORCA permite reparar o dano,
reconstituindo, por exemplo, o bem destruído.

Segundo José Vasques[9], o seguro entra na vertente económica, quando se refere à “garantia
de indemnização de danos que de outra forma inviabilizariam actividades económicas e
redução de riscos empresariais e, na medida em que, por forças das próprias características da
actividade, as seguradoras são obrigadas a constituir e aplicar grandes volumes de provisões,
tornando-se um importante investidor institucional”.

Nalgumas vezes o SORCA pode não ser suficiente para cobrir os danos causados, recorrendo-se
a outras formas alternativas que partem desde o accionamento de coberturas de outros
seguros existentes e celebrados para o mesmo bem. Como acontece, por exemplo, em
Portugal, em que a ausência ou insuficiência do SORCA, a indemnização sobre os prejuízos
causados a terceiros é assegurada pelo Fundo de Garantia Automóvel. Sobre esta matéria de
meios alternativos extra-seguro, o mesmo não sucede no nosso país, dada a não
institucionalização do referido fundo, ou qualquer outra forma alternativamente aceite, o que
deixa, tanto o causador como a vítima em situações de difícil solução.

Conforme ensina António Santos Abrandes Geraldes[10], na sua obra sobre acidentes de
viação, o Fundo de Garantia Automóvel é uma entidade gerida pelo Estado. No nosso caso (à
semelhança de Portugal) seria através do Instituto de Supervisão de Seguros de Moçambique
(ISSM), tendo como função garantir a reparação de danos decorrentes de acidentes de viação
causados por responsáveis desconhecidos ou que não tenham cumprido com os requisitos
impostos pela Lei nº 2/2003, de 21 de Janeiro, ou ainda que o SORCA não se tenha mostrado
suficiente na cobertura do dano causado.

Sem pretendermos nos desviar do tema do nosso trabalho e uma vez feita referência do Fundo
de Garantia Automóvel, torna-se imperioso o seu esclarecimento, principalmente quanto às
receitas que o mesmo teria para fazer face aos danos causados a terceiros por veículos
desprovidos ou com insuficiência dos seguros.

As receitas do referido fundo de garantia automóvel, ou seja qual for a designação, proveriam
de uma percentagem sobre o montante dos prémios de seguro dos contratos de seguro do
ramo automóvel, cujo objectivo é a protecção dos direitos de lesados em acidentes de viação,
reconhecendo-lhes a o direito de exigir o reembolso das despesas efectuadas dos responsáveis
ou das pessoas que estivessem obrigadas à celebração do contrato de SORCA.

Ou ainda, sem pretendermos “forçar” a institucionalização no país de um fundo à semelhança


do previsto no ordenamento jurídico português, é do nosso entendimento que torna-se
imprescindível a adopção de medidas proteccionistas, sejam à dimensão do fundo de garantia
automóvel, de outras formas de criação de fundos com os mesmos objectivos, a partir, por
exemplo, de uma percentagem sobre o imposto anual de automóvel, vulgo “manifesto” ou
sobre o custo de combustível, para além de se admitir que, de per si, o responsável causador
adopte medidas para fazer face aos custos com sinistro.

Estaria assim a ser chamada mais uma forma de intervenção directa do Estado, através do
ISSM, no ressarcimento de danos decorrentes de acidentes de viação, ficando a
responsabilidade do fundo limitada pelo valor do capital do seguro obrigatório, sem prejuízo
das exclusões que a lei prevê, designadamente, relativos ao condutor do veículo responsável,
em relação a outras pessoas ou ainda os danos causados no próprio veículo, danos causados
em bens nele transportados ou ainda danos causados a terceiros, durante operações de carga
e descarga.

Estas e outras medidas poderão servir de base para alternativamente ao SORCA estabelecer-se
mecanismos para acorrer casos relativos aos acidentes de viação envolvendo veículos
automóveis desprovidos de qualquer tipo de seguro, acautelando os direitos dos terceiros
lesados.

Fica, desta forma a tendência socializante a ganhar maior consistência, principalmente,


quando o Estado é chamado a legislar, não só de tornar o obrigatório o seguro de
responsabilidade civil automóvel, como também institucionalizando outras medidas
alternativa e legalmente aceites para a cobertura de danos emergentes de acidentes de
viação, considerado como acontecimento súbito, fortuito e independente da vontade do
tomador do seguro ou do segurado ocorrido, em consequência exclusiva da circulação
rodoviária do veículo seguro, quer este se encontre ou não em movimento.

[1] WATY, Teodoro Andrade - Direito dos Seguros, W eW Editora, Lda, 2007, p.46

[2] Prestação pecuniária a cargo do tomador do seguro, como correspectivo do risco suportado
pelo segurador, daí compreender-se que o pagamento do prémio obedeça às regras comuns
do cumprimento das obrigações pecuniárias.

[3] MARTINEZ, Pedro Romão - Direito dos Seguros – Apontamentos, Editora Principia, 1ª
edição – Abril 2006, p.56

[4] Entenda-se aqui a questão da lei dos “Grandes Números” intimamente ligada ao conceito
de probabilidade que numa definição não puramente técnica, estabelece que à medida que
cresce o número de contratos sobre o risco a segurar, a variação relativa entre os sinistros
esperados decresce constamente e se aproxima de zero – KARIM, Omar – Manual de
Introdução Geral aos Seguros – EMOSE, C.F.P.S.- Centro de Formação Profissional de Seguros,
p.4

[5] É importante reter que o interesse segurável, à semelhança de Boa-fé, Autonomia privada,
protecção do consumidor e proibição de práticas discriminatórias, todos estes institutos
constituem princípios orientadores do contrato de seguro, previstos na Secção II, do capítulo II,
do Livro Segundo, sob título “Regime Jurídico do Contrato de Seguro (Decreto – Lei nº 1/2010,
de 31 de Dezembro).
[6] Artigo 483 e segs do Código Civil

[7] O instituto de responsabilidade civil implica na sua base uma distinção: responsabilidade
contratual e responsabilidade extracontratual. A primeira sucede sempre que preexista uma
relação jurídica obrigacional e aquele que nesta ocupa a posição de devedor não cumpra
pontualmente a obrigação – artigo 798º CC. A segunda produz-se sempre que não exista
relação juridica prévia e a ocorrência do dano na esfera jurídica daquele que a partir daqui será
constituido credor resulte da violação de um dever genérico, maxime acidentes de viação.

[8] WATY, Teodoro Andrade - Direito dos Seguros, W eW Editora, Lda, 2007, p.10

[9] VASQUES, José - Contrato de Seguro – Notas para uma Teoria Geral, Coimbra Editora,
1999, p.22.

[10] GERALDES, António Santos Abrandes - Acidentes de Viação – Edições Almedina,


Coimbra, 2009, p.39.
Acidente de viação e suas consequências

Em primeiro lugar, é preciso que tenhemos presente que todo o acidente de viação constitui,
de per si, um fenómeno impar, sempre diferente no seu conjunto, em relação a outros, pelo
condicionalismo de que se reveste, pelas consequências a que dá origem, até pelo
comportamento diferente dos diferentes veículos a motor que neles intervém. É, sobretudo
diferente por aquilo que lhe dá origem, designadamente, situação de culpa e de risco[1].

Como fenómeno dinâmico, o seu processo não é redutível ao esquema dos demais acidentes,
produzidos embora por veículos de características precisamente idênticas. Por essa razão, não
é pacífico julgar acidentes de viação por simples aproximação ou paralelismo.

Em segundo lugar, é preciso que se entenda que acidente de viação é o acontecimento de


natureza fortuita, súbita e imprevisível, exterior à vontade da vítima ou ao funcionamento do
veículo.

O campo de verificação de acidentes de viação são as vias públicas, sejam elas de asfalto ou
outras formas de apresentação.

De referir que no nosso país, em particular a Cidade de Maputo, tal como noutros pontos
deste planeta, verifica-se uma tendência de aumento de perigosidade dos acidentes de viação,
o que, segundo INAV citando a fonte OMS/08, as mortes ocorridas no ano de 2008
representaram cerca de 60 milhões de dólares norte americanos por ano, em que, a Cidade de
Maputo, com um total de 102.494 veículos, de um parque nacional de 290.607, registou 1.276
sinistros, de um universo nacional de 4.966, dentro dos quais foram 124 mortes, 406
ferimentos graves e 739 ferimentos ligeiros registados no nosso espaço geográfico em estudo.

Este prejuízo representa um número considerável de infra-estruturas não materializado,


designadamente, postos médicos, salas de aula, fontanários que poderiam ser construídos
com este dinheiro, segundo o relatório conjunto produzido pela PRM, Instituto Nacional de
Viação (INAV) e Administração Nacional de Estradas (ANE), referente ao período 2005-2009.

Em termos estatísticos, o cenário acusou uma evolução numa clara relação directamente
proporcional ao desenvolvimento sócio – económico que o país vem registando. Em relação ao
ano de 2009, segundo a mesma fonte, o INAV, o país, com um parque automóvel de 324.553
veículos, dos quais, 114.959 representam a Cidade de Maputo, registou um total de 5.438
acidentes de viação, com particular destaque para o nosso espaço geográfico em estudo, que
registou 1.424, repartindo-se em 101 mortes, 460 ferimentos graves e 939 ferimentos ligeiros.

Para em 2010, os dados estatísticos do INAV e PRM indicarem que em todo território nacional
registou um total de 4.547 acidentes de viação, resultando em 1963 óbitos, para um parque
automóvel nacional estimado em 357.115 veículos que, fazendo analogia dos dados de anos
anteriores, pouco mais de 1/3 representam o parque automóvel da Cidade de Maputo.

A partir destes dados, mesmo que não tenhamos disponíveis os referentes ao espaço
territorial da Cidade de Maputo, usando um raciocínio do ponto de vista de analogia,
relativamente ao comportamento dos dados de 2008-2009, a conclusão que chegamos é de
que, para este ponto geográfico de Moçambique representa cerca de 30% de resultados, seja
em termos do parque automóvel como no número de sinistros, registados em todo país.

Fazendo uma análise da evolução do parque automóvel em Moçambique, podemos afirmar


que em 1975 existiam 38.425 veículos no país, número que subiu para 164.575 em 2003, ano
de institucionalização do Seguro Obrigatório de Responsabilidade Civil Automóvel (SORCA).
Uma evolução que em 2008 atingiu 290.607 veículos a nível nacional e 102.494 para a Cidade
de Maputo. E, em 2010, o registo foi de 357.115 veículos do parque nacional e cerca de
120.000 unidades para a Cidade capital.

Segundo a PRM e o INAV, em 2005 registaram-se em Moçambique um total de 5.636 acidentes


de viação, cujo saldo foi de 1.183 óbitos. Em 2008, o número de acidentes de viação desceu
para 5.438 acidentes de viação, enquanto o número de óbitos foi de 1.533, uma subida em 350
óbitos em relação a 2005.

E uma actualização de dados estatísticos, segundo a mesma fonte, indica que em 2010, o
cenário apresentava-se com um total de 4. 547 acidentes de viação que resultaram em 1963
óbitos, 3.087 feridos graves, 3.873 feridos ligeiros, 2.193 danos materiais avultados e 1.343
danos materiais ligeiros.
Reparação de danos resultantes de acidentes de viação

1.Instituto jurídico de responsabilidade civil

O SORCA está intrinsecamente relacionado com o instituto jurídico de responsabilidade civil,


implicando na sua base uma distinção de responsabilidade contratual e responsabilidade
extracontratual. A primeira sucede sempre que preexista uma relação jurídica obrigacional,
neste caso a existência de um contrato de seguro que vincula a seguradora e o tomador de
seguro. Enquanto, a segunda traduz-se sempre que não exista uma relação jurídica prévia e a
ocorrência do dano na esfera daquele que à partida será constituído credor resulte da violação
de um dever genérico, maxime, da violação do dever de respeito por situações jurídicas
alheias. Fica aqui evidente a figura do terceiro lesado, que é a vítima de um sinistro e, não
sendo parte do contrato, é detentor do direito de indemnização.

O nosso Direito, apesar de manter a dicotomia tradicional prevista nos artigos 483º e Ss e 790º
e Ss, todos do Código Civil, acaba, de forma implícita, por aceitar para o essencial, a obrigação
de indemnizar, devidamente disciplinada nos artigos 562º a 572º CC.

No dizer de José Alberto González[2], o SORCA cumpre uma função: obrigação de proceder à
reparação de danos provocados na esfera jurídica do lesado. Isto significa que não se provando
a existência de danos não há responsabilidade civil, razão pela qual, ainda que o autor da lesão
sinta a realização da obrigação de indemnizar como uma penalização, não é esta, nem
objectivamente, nem juridicamente, a respectiva função.

O SORCA, portanto, serve unicamente para transferir do lesado para o autor da lesão as
consequências, principalmente patrimoniais, da lesão produzida.

Face ao acima exposto, é natural que o entendimento segundo o qual, toda e qualquer forma
de responsabilidade pressupõe na sua estrutura uma remissão tripartida: quem, por quê e
perante quem. Esta estrutura exige natural e necessariamente um sujeito o qual se
responsabiliza por algo perante uma instância reconhecida como capaz de exigir
responsabilidades.

Assim, na óptica de José Alberto González[3], na responsabilidade contratual ou obrigacional


pode ser objecto de incontáveis distinções e classificações que basicamente se traduz no não
cumprimento imputável ao devedor, conforme o previsto nos artigos 790º a 808º CC.

Na verdade, como nos referimos anteriormente, pelo facto de a responsabilidade contratual


pressupor a existência de uma relação jurídica, é concebível que o não cumprimento da
obrigação daí decorrente para o respectivo sujeito passivo possa ficar a dever-se, tanto a uma
conduta que lhe é atribuível, como a um facto natural, a um comportamento imputável a um
terceiro.

Fica assim evidente que só há responsabilidade contratual quando o devedor seja o autor do
não cumprimento, ainda que a determinação de tal autoria possa resultar de uma presunção,
cf. prevê o nº 1 do artigo 799º CC.
No concernente à responsabilidade extracontratual que se reflecte à volta do SORCA, entende-
se como aquela que admite uma distinção elementar, quando trata de responsabilidade
fundada na culpa e responsabilidade independente da culpa.

A culpa é um juízo de censurabilidade de que a conduta de certa pessoa é susceptível por ter
revelado certa atitude comportamental, quando, na verdade, podia e devia ter revelado outra.
Sempre que a responsabilização de certa pessoa por ter causado danos a outra exija
possibilidade de reformulação de tal juízo, está-se perante a chamada responsabilidade
subjectiva ou por factos ilícitos.

Na situação em que, para obrigar certa pessoa a reparar um dano causado a outra, tal juízo de
censura será irrelevante ou desnecessário, na medida em evidencia sempre a responsabilidade
é objectiva, justamente porque não depende da culpa.

O nosso Direito Civil, do qual está baseado o SORCA, adopta nesta matéria a perspectiva
segundo a qual, a responsabilização de alguém por danos provocados na esfera jurídica de
outrem exige a demonstração da respectiva culpa, porque a responsabilidade objectiva
representa para aquele que nela ocorre. Ou seja, é importante notar que nesta espécie de
responsabilidade, o autor da conduta que determina o surgimento de danos na esfera jurídica
de terceiro está a desenvolver uma acção ou omissão lícita e não culposa, na medida em que é
socialmente admissível e, presumivelmente vantajosa.

Por essa e demais razões e em conformidade, o nº 2 do artigo 483º CC estabelece que “só
existe obrigação de indemnizar independentemente de culpa nos casos especificados na lei”.
Há, por conseguinte, uma determinante no que respeita aos modelos existentes de
responsabilidade objectiva, cujo critério permite estabelecer um carácter mais ou menos
arbitrário, sendo no mínimo contingente.

É dentro da responsabilidade objectiva que também se pode distinguir a responsabilidade pelo


risco, que ocorre sempre que a lei associe ao desenvolvimento de certa actividade
potencialmente danosa. É a responsabilidade não subjectiva, isto é, não fundada na culpa, é
excepcional no nosso Direito, segundo o nº 2 do artigo 483º CC.

A responsabilidade pelo risco constitui uma das espécies da responsabilidade objectiva e


caracteriza-se pela sua ratio consistir em atribuir a quem retira vantagens de certas
actividades. Os artigos 499º e Ss CC, expressamente prevêem casos de responsabilidade não
fundada em culpa, mas no risco próprio de certas actividades, artigos 500º e 501º, danos
causados por comissários ou funcionários, representantes ou agentes do Estado ou outras
pessoas colectivas de direito público, artigo 502º, danos causados por veículos de circulação
terrestre, artigo 503º CC.

E a responsabilidade por factos ilícitos, que funciona como uma categoria residual perante a
responsabilidade pelo risco, uma vez que, existirá sempre que a lei institua um caso de
responsabilidade objectiva fora do âmbito das acções ou omissões perigosas por natureza. É o
que se passa, por exemplo, com o disposto nos artigos 500º e nº 2 do artigo 339º CC.

Em suma, o SORCA, como parte integrante do instituto de responsabilidade civil, acciona-se


quando alguém no uso de um veículo automóvel se constitui na obrigação de indemnizar
outrem por danos que lhe cause. Ou seja, pressupõe a obrigação de indemnizar, partindo da
ocorrência de um dano, de um prejuízo causado a terceiro, partindo, também, do princípio que
o dano deve consistir numa lesão material ou imaterial a um interesse juridicamente
protegido.

Enquanto o instituto de indemnização deve entender-se no preciso sentido definido pelo


artigo 562º CC, como “reconstituição da situação a que existiria se não se tivesse verificado o
evento lesivo”. Em sentido lato, a indemnização é a reparação do prejuízo sofrido por uma
pessoa em consequência do incumprimento ou do deficiente cumprimento de uma obrigação,
da violação de um direito absoluto ou da de uma norma que proteja interesses privados.

2. Apreciação da culpa

A apreciação da culpa do condutor devidamente protegido pelo SORCA depende da análise das
circunstâncias que envolveram os acidentes.

Como critério geral, considera-se que a culpa deve ser averiguada em função da diligência de
um condutor médio perante circunstâncias do caso (artigo 487º CC). Deve, assim, ser analisado
se houve ou não violação de regras que regulam a condução de veículos, a gravidade dessa
violação e a sua relação com a verificação do acidente.

Conforme refere António Abrantes Geraldes[4], é o que pode acontecer, designadamente, nas
seguintes situações: atropelamento de peão na passadeira ou desrespeito pelo sinal ou regras
que impunham a cedência de passagem por perda de prioridade, desrespeito de sinalização
luminosa ou de sinal STOP, excesso manifesto de velocidade, circulação fora da faixa de
rodagem, condução estado de embriaguez, efectivação de manobras perigosas, etc.

Não basta, portanto, que o condutor cometa uma infracção para ser considerado culpado pela
ocorrência do acidente, pois, é sempre necessário estabelecer-se o nexo de causalidade entre
a natureza das infracções cometidas e o acidente, devendo analisar-se todas as circunstâncias
que o rodearam.

Assim, por exemplo, se o condutor do veículo atravessa uma povoação em velocidade


excessiva, tal facto é naturalmente relevante para apurar a sua responsabilidade pelo acidente
que tenha consistido no atropelamento de um peão que efectuava regularmente a travessia
da rua. Mas já relativamente a um outro acidente que ocorreu durante o dia, com boa
visibilidade, o facto de as luzes de estradas (máximos) do veículo se encontrarem avariadas
será, em princípio, irrelevante para o apuramento da responsabilidade.

3. Processo de regularização do sinistro

O processo de regularização inicia com a participação do sinistro, nos moldes previstos no do


artigo 136 RJS e a mora na sua comunicação, implica para o responsável pelo incumprimento,
o dever de indemnizar à seguradora pelos danos e demais despesas ocasionadas por essa
actuação, artigo 137 RJS.

Sobre a matéria do sinistro, José Vasques[5], sugere a observação dos seguintes factores:
a) Prova do sinistro, que consistirá na demonstração da superveniência do evento previsto
no contrato nas condições nele previstas, cabendo o ao segurado ou beneficiário o ónus da
prova dos factos constitutivos do seu direito à prestação da empresa seguradora.

b) Nexo de causalidade, no sentido de que a realização do risco previsto no contrato terá na


sua base determinada causa, de cujo enquadramento nas cláusulas contratuais dependerá a
actuação das garantias do seguro. Ou seja, é necessário que apurar o nexo de causalidade
entre a causa e o sinistro.

c) Sinistro e delimitação temporal da garantia nos seguros de responsabilidade civil, dado


que o momento da verificação do sinistro é de maior importância para aferir da respectiva
cobertura pelo contrato.

d) Forma da participação, a qual deve articular o princípio da liberdade de forma e a prova


da participação, de que o segurado deverá prevalecer-se. Na prática, em muitos casos, a
seguradora põe à disposição do segurado ou do terceiro um impresso próprio para a
participação.

e) Ónus da participação do sinistro, uma vez que, o acto de participação do sinistro à


seguradora não é uma obrigação do segurado, antes constitui um ónus jurídico, no sentido em
que dele dependerá a obtenção da prestação da seguradora, cuja inobservância a poderá
condicionar ou mesmo excluir.

f) Conteúdo do ónus da participação do sinistro, que prevê o momento em que o tomador


de seguro comunica o sinistro e, posteriormente, formalizando a sua participação e
fornecendo informação complementar a formalização da participação consiste na informação
detalhada das condições e circunstâncias do sinistro, incluindo-se nessa participação a
identificação dos bens ou pessoas afectados, indicações relativamente ao tempo e o local, a
eventual intervenção de autoridades policiais, indicação de testemunhas, bem como uma
estimativa dos danos.

g) Prazo de participação do sinistro, a principal questão suscitada acerca do prazo é a


natureza imperativa ou supletiva dos artigos 136 e 137 do Regime Jurídico dos Seguros.

Entenda-se por sinistro como a verificação, total ou parcial, do evento que desencadeia o
accionamento da cobertura do risco prevista no contrato, considerando-se como um único
sinistro o evento ou série de eventos resultantes de uma mesma causa.

É uma classificação dada pelas seguradoras como qualquer ocorrência que venha a causar
prejuízos totais ou parciais a bens ou pessoas que impliquem em indemnizações. Aliás, é com a
verificação desse evento que provoca o accionamento das garantias da apólice.

Nesta fase é importante fazer uma diferenciação entre um acidente e um sinistro, pois,
enquanto o primeiro é dado como acontecimento imprevisto, causal, fortuito que resulta em
danos ou ferimentos, o sinistro é o conjunto de todos esses factores e tem por finalidade a
indemnização, accionamento das garantias do contrato de seguro.
Portanto, o princípio indemnizatório do SORCA, ao basear-se no princípio geral de
responsabilidade civil, consagrado no artigo 483º CC, segundo o qual, aquele que com dolo ou
mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a
proteger interesses alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da
violação, faz uma ligação ao princípio geral da indemnização que tem por objecto no dever de
constituir a situação anterior à lesão – a situação que existiria se não se tivesse verificado o
evento danoso (art. 562º CC).

É o processo ideal da reparação de um dano o da sua reconstituição natural, pese embora este
princípio cede, na prática, à indemnização em dinheiro, cfr. o previsto no artigo 566º CC, nos
casos em que a reconstituição natural seja impossível (casos de perda total), ou quando a
reconstituição natural não repare integralmente os danos, nos casos em que a reparação,
apesar de possível, não reconstitui exactamente o estado em que o veículo ou objecto se
encontrava antes do acidente ou quando a reconstituição natural seja excessivamente onerosa
para aquele que tem obrigação de indemnizar, na situação em que o custo da reparação é
manifestamente superior ao valor de substituição do veículo ou objecto, depois de deduzido o
valor do salvado.

Por outro lado, a mesma obrigação de indemnizar abrange a reparação de danos patrimoniais
e danos não patrimoniais e sempre que transferida a responsabilidade para a seguradora, esta
se obriga, pelo contrato de SORCA, até ao limite do capital seguro e durante o período
acordado, a pagar as indemnizações que, por reparação civil, sejam atribuídas ao segurado em
consequência de factos ou riscos expressamente consignados nas condições da apólice.

Aliás, conforme tivemos ocasião de analisar, constatamos que, em matéria de indemnização


prevista no contrato de SORCA, o artigo 2 do Decreto nº 47/2005, de 22 de Novembro,
Regulamento da Lei nº 2/2003, de 21 de Janeiro, estabelece os limites máximos de
indemnização, de acordo com o tipo de utilização do veículo automóvel que, ultrapassados os
valores extras serão suportados por uma cobertura facultativa de responsabilidade civil ou por
outros mecanismos alternativos disponíveis (adoptados ou a adoptar).

Assim, a partir do SORCA o tomador de seguro ou segurado têm o dever de colocar o terceiro
lesado sem dano, pelo que a indemnização não tem carácter especulativo, não constitui, por
isso, um meio de proporcionar o enriquecimento do lesado, e, muito menos, um modo
fraudulento de aumentar o património, mas resulta do princípio geral previsto nos termos do
artigo 562º CC, tendo em conta ao espírito do instituto de responsabilidade civil.

É nestes termos que, no entender do José Vasques[6] e que nós perfilhamos, o princípio
indemnizatório do SORCA assenta no carácter não-especulativo do contrato de seguro,
segundo o qual o tomador de seguro deve ser ressarcido do prejuízo que efectivamente
sofreu, não podendo o seguro constituir fonte de rendimento para os lesados.

O valor de indemnização, nos seguros de danos, como é o caso do SORCA, em conformidade


com a sua função indemnizatória, deve equivaler ao dano efectivamente verificado (nº 1 do
artigo 145 RJS), e dentro do limite máximo de responsabilidade que constitui o capital seguro
contratualmente estabelecido, incluindo a indemnização do dano da privação do uso, cuja
extensão e complexidade não cabem neste trabalho.
Portanto, na liquidação de danos no SORCA prevalecem regras legais, designadamente
reconstituindo da situação existente antes da verificação do sinistro, limitando a indemnização
aos capitais máximos previamente estabelecidos contratualmente.

Entretanto, João Valente Martins[7], sugere esquematicamente que o processo de


regularização dos processos de sinistro deve seguir fases e prazos legalmente fixados. Aliás, em
matéria de prazo, o Decreto – Lei nº 1/2010, de 31 de Dezembro, Regime Jurídico dos Seguros,
estabelece no seu artigo 136, nº2 que, o sinistro deve ser comunicado à seguradora no prazo
fixado no contrato ou, no silêncio deste, nos oito dias subsequentes à data da sua ocorrência
ou de que tenha conhecimento.

Assim, as seguradoras, ainda na óptica de João Valente Martins, têm, nos casos em que os
danos indemnizáveis não excedam o capital mínimo legalmente estabelecido para o SORCA,
um conjunto de regras, procedimentos e prazos que devem cumprir relativamente à gestão
dos sinistros.

[1] Dário Martins de Almeida, Juiz Desembargador – Manual de Acidentes de Viação, 3ª


edição revista e actualizada, Editora Almedina, Coimbra, 1987, p. 519.

[2] Responsabilidade Civil, 2ª Edição, Quid Juris Sociedade Editora, p.14

[3] Idem, p. 21

[4] Acidentes de Viação – Edições Almedina, Coimbra, 2009, p. 45. Ob.cit.

[5] CONTRATO DE SEGURO, Notas para uma Teoria Geral, Coimbra Editora, 1999, pp. 292 e ss

[6] Idem p. 145

[7] Prática dos seguros - como as seguradoras regularizam os sinistros, Quid Juris Sociedade
Editora, pp. 113 e 115.
1º Seminário Nacional de Medicina Legal

Nos dias 10 a 12 de Outubro de 2012, realizou-se no Hotel Avenida, Cidade de Maputo, o 1º


Seminário Nacional de Medicinal Legal subordinado ao tema: “PARA UMA CORRECTA
ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA, UMA MEDICINA LEGAL MAIS INTERVENTIVA E PARTICIPATIVA”,
organizado pelo Ministério da Saúde, através do Programa Nacional de Medicina Legal.

Moderação:

Dr. António G. Munjovo e Dr. Virgílio Francisco Ceia – médico-cirurgião Geral e Médico Legista,
respectivamente.

Participações:

Magistrados do Ministério Público;


Magistrados Judiciais;
Bastonário da Ordem dos Médicos de Moçambique;
Médicos Legistas provenientes de quase todo o país;
Médicos generalistas e especialistas de outros ramos de medicina;
Advogados e Juristas;
Seguradoras:
Impar e

Emose

Ministério da Mulher e Acção Social


Psiquiátras
Temas abordados e debatidos:

Orientação estratégica das actividades de Medicina Legal em Moçambique

Formação e capacitação de Recursos Humanos Vinculados a actividade Médico-Legal e


divulgação do Colégio de Medicina Legal;

Papel do Médico na Administração da Justiça em Moçambique;

Perícias Médico-Legais em Moçambique no contexto actual (Procedimentos Médicos-Legais


em relação as vítimas de violência.

Como melhorar a interação entre a PIC, Procuradoria, Tribunais e Medicina Legal – Articulação
Interinstitucional;

Actividade médico-legal em situações de desastres;

Necessidade de criação de gabinetes médico legais nos hospitais gerais, provinciais, rurais e
distritais;
Critérios e instrumentos padronizados para perícias médico-legiais;

Apresentação das estatísticas das actividades de medicina legal nos hospitais centrais;

Medicina Legal ao serviço das crianças – Procedimentos amigos das crianças e padrões
internacionais;

Manejo e certificação da morte extra-hospitalar;

Responsabilidade Civil do Médico;

Psiquiatria forense – Comissão Nacional de Psiquiatria forense;

Experiência dos peritos ocasionais colocados em vários pontos do País em 2011;

Proposta da criação de um Instituto de Medicina Legal como centro de referência no País;

Urgências Médico-Legais;

Autópsias Psicologicas nos casos de suicídios; e

Como melhorar a administração da justiça em vítimas de violência e aplicabilidade de


atendimento integrado no contexto Moçambicano.

Por uma questão de economia do tempo e de escrita, julgamos imprescindivelmente


necessário fazermos um resumo e abordagem global, tendo em conta com a ideia com que
ficamos em relação aos temas, de uma forma geral, sem no entanto individualizar.

As sessões iniciam com uma apresentação do Médico Legista, Dr. Vigílio Francisco Ceia, na sua
qualidade de Responsável pelos Serviços de Medicina Legal, ao fazer uma apreciação daquilo
que pode ser considerado o trajecto histórico da Medicina Legal em Moçambique, para situar
os presentes em aspectos que visam à orientação estratégica das actividades de Medicina
Legal.

Assim, de forma cronológica, importa aqui recordar que a Portaria nº 2385 do Ministério do
Ultramar, de 16 de Maio de 1968, tornou extensivo as Províncias Ultramarinas de Angola e
Moçambique o Decreto nº 5023, que criou o Conselho Médico-Legal, de 29 de Novembro de
1918.

Estes acontecimentos coincidem com a criação da Polícia Científica, por via da Portaria nº
23383 do Ministério do Ultramar, de 15 de Maio de 1968.

Em 18 de Agosto de 1994, o vice-Ministro da Saúde emana um Despacho que integra o Serviço


de Medicina Legal na Direcção Nacional de Saúde - Departamento de Higiene Ambiental.

Pelo despacho Ministerial de 27-02-1998, o Ministro de Saúde transfere a Medicina Legal para
o Departamento de Assistência Médica, integrando o Serviço de Medicina Legal como serviço
autónomo no Hospital Central de Maputo e cria as Unidades Médico – Judiciárias nos
restantes hospitais do país.

Em 1997 é graduado o primeiro Médico Legista moçambicano e de Fevereiro de 2010 a


Fevereiro de 2011, o número de médicos legistas aumenta para quatro, com a graduação de
mais de três.

Em 06-01-2011, o Ministro da Saúde aprova o Plano de Acção para Trauma e Violência, para de
seguida, em Novembro do mesmo ano criar o Programa Nacional de Medicina Legal.

Em Fevereiro de 2012, são graduados mais três médicos legistas moçambicanos, entre os quais
duas são mulheres, as primeiras na história da medicina moçambicana.

Actualmente, estão em funcionamento nos três princiapais hospitais do país um serviço de


Medicina Legal, em Maputo e gabinetes Médico – Legais, na Beira e Nampula. E estão
distribuidos 14 médicos legistas, sendo 8 para Maputo, 3 para Beira e outros 3 para Nampula.

Dado o reduzido número de especialistas na área, os Serviços de Medicina Legal formaram 37


perítos ocasionais como forma de fazer face à falta de recursos humanos especializados.

Preve-se, igualmente, a contratação de um consultor para o desenho do Plano Director de


Medicina Legal para os próximos 5 anos, que incluirá a rede de medicina legal com os
respectivos laboratórios e recursos humanos e materiais, exercício que contará com o apoio
dos parceiros, de entre os quais, as seguradoras.

Portanto, nesta apresentação, o orador deu a conhecer aos presentes aqueles que são os
principais anseios para maior funcionalidade da Medicina Legal, como são os casos de:

Negociação para o envolvimento do Laboratório de Água e Higiene do MISAU para a criação de


capacidade de toxicologia forense;
Banco de dados da Medicina Legal no HCM;
Criação de Instrumento de Monitoria e Avaliação de toda actividade Médico legal;
Montagem de um laboratório para exames laboratoriais forenses básicos, p.ex. fluidos
corporais nos crimes sexuais e avariguação paternidade com recurso ao teste de ADN.
Montagem de sala de entrevista única – validação do testemunho de menores e outros
exames psicotécnicos;
Criação de urgências Médico-Legais nos hospitais centrais de Beira e Nampula.
Por outro lado e para o funcionamento pleno dos Serviços de Medicina Legal estão
perspectivadas acções a curto e longos prazos que passam necessariamente pelo
apetrechamento de todos os serviços provinciais, consolidação de relação de cooperação com
os institutos de Medicina Legal dos PALOPS, através de convénios de cooperação e demais
acções que culminarão com a criação do CONSELHO NACIONAL DE MEDICINA LEGAL como um
órgão fiscalizador das actividades médico-legais no país, criação da COMISSÃO NACIONAL DE
PERITAGEM PSIQUIÁTRICO FORENSE, como forma de melhorar a assistência das vítimas e
vitimários dos diversos tipos de violência, para além de criar bancos de dados de ADN
(cadastros de desconhecidos e dos criminosos).
Continuando aos temas transversais à actividade seguradora, torna-se relevante destaca o
tema “Papel do Médico Legista na Administração da Justiça em Moçambique”, sabiamente
apresentado pelo Dr. Rodrigues Munguambe, criminalista, destacando, fundamentalmente,
aquilo que se pode considerar uma das fontes sobre um determinado tipo de prova para o
esclarecimento de um tipo legal de crime, contra pessoas.

Foi frisado que o médico legista desempenha um importante papel para o esclarecimento,
principalmente, de algum tipo legal de crime, pois os seus serviços são, na maior parte,
solicitados pela Administração da Justiça, por exemplo, o médico legista possui um papel
fundamental na análise de cadáveres, algo que exige bastante conhecimento.

Cabe a este especialista fazer a identificação do corpo e descobrir de que tipo de morte a
pessoa foi acometida. Para isso, este profissional deve utilizar vários procedimentos e técnicas
que contribuem para o alcance de um resultado mais preciso. Em alguns casos de homicídio, o
crime só poder ser solucionado com a sua intervenção. O mesmo se pode dizer em relação à
situações de incapacidades, sejam elas temporárias, permanentes ou absolutas resultantes de
lesões de acidentes de trabalho, doenças profissionais ou de acidentes de viação, resultados
que, em grande escala, interessam as seguradoras para a regularização de alguns processos de
sinistros e respectiva criação de reservas matemáticas.

Este tema liga-se sobremaneira ao outro subordinado à formação e capacitação de recursos


humanos vinculados à actividade médico-legal e divulgação do Colégio de Medicina Legal que,
sobre o qual, foram desenhados os principais objectivos, designadamente, formação,
investigação científica, saúde e medicina legal na especialidade de seguros. Para tanto, a
actividade médico-legal, seja autónoma, permitindo ao especialista, no exercício das suas
destacadas funções, elaborar o laudo que é um documento que precisa conter todas as
informações sobre a morte, num caso concreto, factor que conduzrirá à determinação do nexo
de causalidade.

Ao fazer-se abordagem do aspecto de formação foi benéfico, principalmente para quem não é
profissional da área, como é o caso de entidades que são consumidoras dos resultados do
trabalho de um médico legista. Aqui referimo-nos, por exemplo, aos órgãos de Administração
da Justiça e as seguradoras, pois os horizontes destas entidades foram amplamente abertos,
ao conhecerem aquelas que são as partes que compõem a ciência da medicina legal, como são
a tanatologia forense, como sendo técnica de estudo do cadáver. Estudo das circunstâncias da
morte (data, origem, etiologia) e os fenómenos que transformam e conservam o cadáver e da
legislação à volta do mesmo.
Traumatologia forense, capitulo que estuda as lesões e estados patológicos imediatos ou
tardios produzidos por violência sobre o corpo humano. E outros campos que não importam
directamente a actividade das seguradoras, mas que podem servir de cultura geral, como é o
caso da sexologia forense que se encontra melhor tratado na Secção I do Capítulo IV do Livro II
do C.P., sob título «crimes contra a honestidade das pessoas», nomeadamente, Ultraje Publico
ao Pudor: artigo 390º, Atentado ao pudor: artigo 391º, Estupro: artigo 392º, Violação: artigo
393º, Violação de Menores: artigo 394º, Dote da ofendida e efeitos do casamento: artigo 400º
e Lenocínio: artigo 405º.
Para todos efeitos e de forma muito explícita, ficamos a saber que a medicina legal inclui um
vasto leque de serviços localizados na interface entre a prática científica e o direito, situando-
se, actualmente, no âmbito da medicina social.

No passado restringia-se, apenas, à tanatologia. Na verdade, ao longo da história, sempre foi


atribuído aos médicos o papel de prestar cuidados de saúde às pessoas doentes ou
traumatizadas sem que se valorizassem certos aspectos fundamentais de natureza legal, sendo
a recolha de vestígios de crimes ou a análise das consequências de casos de violência, por
exemplo, frequentemente negligenciada. Esta falta negava, inadvertidamente, o direito à
obtenção de meios de prova quando secundariamente aos ferimentos surgiam questões
legais, quer fossem de natureza criminal, civil, do trabalho ou de acidentes de estrada.

Entretanto, grandes mudanças se operaram no último século na nossa sociedade, vindo alterar
a abrangência da medicina legal e restantes ciências forenses, nomeadamente no que se
refere ao seu papel social e na realização da justiça. Entre estas mudanças destacam-se:

a) o aumento da violência voluntária (agressões, crimes sexuais, etc.) e involuntária


(acidentes) que está na origem de inúmeras situações simultaneamente médicas e legais;

b) o desenvolvimento da ciência médica, quer a nível dos cuidados de emergência (o que


permite, cada vez mais, a sobrevida de pessoas à custa de sequelas graves), quer a nível
tecnológico (o que obriga a repensar, em cada dia, a melhor solução para a readaptação e
reintegração dessas pessoas);

c) a noção mais abrangente de saúde e do papel social do médico e da medicina,


registando-se alterações importantes no âmbito da reinserção social e dos modelos de
actuação;

d) o posicionamento do direito e da lei face à tomada de consciência sobre os direitos


humanos;

e) o alargamento dos cuidados de saúde a toda a população e a extensão desses cuidados


não só às acções assistenciais curativas ou paliativas mas, também, às acções de prevenção da
violência, surgindo a necessidade de desenvolver programas de prevenção fundamentados em
estudos, cientificamente aprofundados, sobre este fenómeno.

Estes e outros factos têm levado a que os médicos, bem como outros profissionais, sobretudo
das ciências biológicas, sejam, cada vez mais, chamados a examinar e a pronunciar-se sobre
situações variadas e por vezes de grande complexidade, relacionadas com questões de direito,
seja do âmbito penal, civil, do trabalho, administrativo ou da família e menores. Estas
situações podem incluir, por exemplo, o estudo de casos mortais ou não mortais de situações
de violência (colheita de vestígios; diagnóstico diferencial entre uma etiologia criminosa,
acidental ou natural; definição das incapacidades temporárias e permanentes para a vítima de
um traumatismo), a avaliação do estado de toxicodependência, a determinação do sexo, a
identificação de corpos ou restos cadavéricos, a determinação da imputabilidade, o estudo da
filiação, a pesquisa de drogas de abuso ou outros tóxicos em amostras biológicas, etc.
Esta complexidade e variedade de temas levou à necessidade de considerar a medicina legal
como uma especialidade, capaz de formar e habilitar profissionais para o cumprimento de
tarefas que exigem, além de conhecimentos e capacidades técnicas muito específicas, um
grande rigor científico, uma actualização permanente e uma elevada capacidade de isenção e
imparcialidade, de forma a não colocar em risco o interesse público, os direitos individuais e,
portanto, a justiça.

De facto, o efeito dos pareceres médico-legais a nível do sistema judicial não pode ser

menosprezado, podendo os mesmos significarem a diferença entre uma sentença de inocência


ou culpa (punindo inocentes e deixando criminosos incólumes), entre uma indemnização
adequada ou uma injustamente atribuída.

Assim, até há pouco definida como a ciência que aplica os conhecimentos médicos e biológicos
à resolução das questões de direito, a medicina legal confronta-se, actualmente, com as
exigências cada vez mais complexas relativamente à actividade probatória científica.

Toda esta exposição leva-nos a afirmar que Medicina Legal é uma ciência em constante
expansão, o que implica que as suas matérias e métodos se adaptem às novas tecnologias, às
descobertas científicas e, também, às mudanças sociais e do direito. O seu posicionamento
privilegiado entre as ciências biológicas e o direito, confere a esta ciência uma perspectiva
transdisciplinar e interinstitucional fundamental para a resolução de questões cada vez mais
complexas que tocam a pessoa, enquanto cidadão, em todos os domínios do seu ser, não
sendo por mero acaso a escolha para o 1º Seminário Nacional de Medicinal Legal o tema:
“PARA UMA CORRECTA ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA, UMA MEDICINAL LEGAL MAIS
INTERVENTIVA E PARTICIPATIVA”.

Assim, no seu quotidiano, a ciência da medicina legal faz apelo às ciências e tecnologias não
médicas, incluindo as ciências sociais. Ao mesmo tempo, preocupa-se com a assistência
médicas socio-jurídicas para assegurar não só a garantia de certos princípios mas, também, a
melhor aplicação das normas do direito relativamente à normalidade das relações sociais e à
protecção dos direitos individuais e colectivos, tendo em conta a integração do cidadão no seu
meio social.

Desta forma, considera-se que compete à medicina legal, como ciência social, não só o
diagnóstico do caso mas, também, a contribuição, através da perícia, para a «terapêutica» das
situações e, sobretudo, para a sua prevenção e reabilitação/reintegração/reinserção.

De uma forma genérica, a medicina legal compreende as seguintes áreas:

a) Medicina forense

- tanatologia forense;

- clínica médico-legal;

- psiquiatria forense;
b) Outras ciências forenses

- toxicologia forense;

- genética e biologia forense;

- anatomia-patológica forense;

- psicologia forense;

- criminalística;

- antropologia forense;

- odontologia forense; etc.

Relativamente à medicina forense, ou seja, àquela mais estritamente ligada à medicina,


espera-se que os seus profissionais sejam capazes de:

a) seleccionar, preservar, colher e acondicionar vestígios;

b) identificar e caracterizar lesões físicas, psicológicas e sociais (frequência, causas que


incluem a etiologia social, mecanismos e tipos) e proceder à sua interpretação;

c) identificar, caracterizar e avaliar as consequências permanentes dessas lesões (sequelas


no corpo, capacidades, subjectividade e situações da vida diária);

d) determinar a relação entre lesões e sequelas (nexo de causalidade);

e) determinar a relação entre consequências físicas, psicológicas e sociais;

f) esclarecer sobre a forma como as lesões e traumatismos podem afectar de maneira


particular o desenvolvimento físico e psicológico das crianças e jovens ou a independência e
autonomia de uma pessoa, particularmente no caso das pessoas idosas;

g) identificar e despistar vítimas potenciais;

h) articular-se com os profissionais das outras ciências forenses para melhor esclarecer e
estudar os casos (ex: identificar vestígios encontrados num corpo através de estudos de DNA,
determinar a alcoolémia ou concentração de outras drogas numa morte suspeita, estudar uma
bala numa suspeita de homicídio);

i) conhecer e colaborar nos procedimentos seguidos na investigação de crimes contra


pessoas;
j) trabalhar em conjunto com os serviços médicos em geral e outros serviços de apoio a
vítimas, tendo em vista orientar o seu tratamento e reintegração/reinserção;

k) compreender e atender às questões éticas e legais levantadas pela prática médico-legal;

l) apresentar de forma clara, ao sistema de justiça, o resultado das perícias efectuadas,


através de relatórios médico-legais objectivos e bem sistematizados.

Em jeito de conclusão, pode-se seguramente afirmar que o objectivo geral da medicina legal é
contribuir para auxiliar o direito na aplicação da justiça, através da prestação de serviços. Além
deste papel assistencial inclui, também, uma vertente ligada à investigação e ao ensino e
formação profissional, tendo em vista uma cada vez melhor articulação transdisciplinar no
melhor interesse das vítimas de violência, bem como a prevenção da violência e promoção de
estratégias de segurança.

Nesta última perspectiva e no domínio específico da violência, a medicina legal engloba um


leque de perspectivas sobre as consequências pessoais da violência, que podemos resumir em
quatro áreas:

a) as lesões mortais e não mortais, relativamente às causas, mecanismo e tipos;

b) o impacto das consequências físicas, psicológicas e sociais nos sobreviventes;

c) o contexto legal em que o dano resultante se organiza e resolve;

d) as intervenções tendo em vista gerir o impacto pessoal de uma situação de violência.

Deste modo, a medicina legal pode contribuir, ainda relativamente às questões da violência,
para:

a) melhorar a compreensão sobre o fenómeno:

- definindo a problemática (magnitude, âmbito e características);

- identificando os factores de risco e de protecção;

- colaborando na programação e implementação de intervenções para prevenir o

problema;

b) encontrar respostas para o mesmo:

- procurando estabelecer linhas de orientação e canais de comunicação para uma abordagem


transdisciplinar das questões (uma rede de profissionais que inclui pessoal da saúde, da
educação, das polícias, do serviço social e do direito);

- prevenindo a re-vitimização;
- treinando e sensibilizando profissionais para trabalhar estas questões de forma adequada.

Ao nível da actividade pericial, um exame constitui uma observação, cientificamente


efectuada, que pode constituir um meio de prova.

Uma perícia é uma actividade de interpretação de factos a provar (pode incluir a actividade de
observação - exame) que, constituindo um meio de prova, é efectuada por um profissional
especialmente habilitado para tal.

A prova pericial apresenta-se sob a forma de um relatório onde se descreve o resultado do ou


dos exames efectuados e se interpreta esses resultados, elaborando-se uma conclusão
devidamente fundamentada. O relatório deverá obedecer a normas específicas de maneira a
satisfazer cabalmente os objectivos a que se destina dependendo, tal, do âmbito do direito em
que tem lugar. Deve apresentar uma descrição clara, objectiva, pormenorizada e sistematizada
das observações feitas e a indicação das fontes da informação; os conceitos usados devem ser
definidos e os tempos verbais adequados à realidade do caso e rigor das informações; a
medida e interpretação do dano deve ser isenta e imparcial, identificando-se os tipos/métodos
de instrumentos utilizados (ex: escalas, tabelas).

A função do perito é saber dar resposta ao objectivo da perícia, de forma imparcial e objectiva,
e traduzir a sua complexidade por palavras simples para que juristas e outros profissionais a
possam apreciar sobre bases concretas, de modo a que a decisão judicial seja adequada. É ele
o responsável pela elaboração do relatório pericial (no qual deverá integrar as eventuais
opiniões de outros especialistas).

Uma particular atenção se deve ter em relação às lesões que se produzem por via de acidentes
de trabalho, doenças profissionais e, provavelmente, nos acidentes estradais, as avaliações são
feitas com base na Tabela Nacional de Incapacidades, sendo a Junta Médica a entidade
responsável. Contudo, para situação cuja gravidade de lesões e sempre que as entidades
interessadas, no caso da administração da justiça e seguradoras, poderão solicitar uma
reavaliação do sinistrado junto dos Serviços da Medicina Legal.
Papel da Mediação de Seguros em Moçambique

Antes de me debruçar sobre a figura de Mediador de Seguros, lanço o convite para uma
reflexão e percepção do que poderá ser, ab initio e essencialmente, uma mediação.

Naturalmente, quando falamos da mediação a imagem que nos aparece nas nossas mentes é
de uma situação de litígio em que as partes, por si só, não chegam à nenhuma resolução senão
com a intervenção de um terceiro independente e imparcial.

Nesta perspectiva, a mediação é vista como um procedimento para resolução de


controvérsias, que se enquadra como um dos métodos alternativos à clássica litigância no
judiciário, aquela tratada como Alternative Dispute Resolution, em que um terceiro imparcial
(mediador), assistindo e conduzindo duas ou mais partes negociantes a identificarem os
pontos de conflito e, posteriormente, desenvolverem de forma mútua propostas que ponham
fim ao conflito.

O mediador, a figura que exerce a mediação, participa das reuniões com as partes de modo a
coordenar o que for discutido, facilitando a comunicação e, em casos de impasse, intervindo
de modo a auxiliar a melhor compreensão e reflexão dos assuntos e propostas, mas nunca
impondo às partes uma solução ou qualquer tipo de sentença.

Neste sentido, as características essenciais de um mediador são: i) a ausência de preferência


em determinar o conteúdo do que for acordado pelas partes; ii) ausência de autoridade para
impor uma decisão vinculante às partes e; iii) saber que as partes não chegam a um acordo
completo até que cada parte aceite todos os termos do acordo.

Não se trata de uma escolha arbitrária por parte de alguém, mas sim de uma composição de
base negocial a que as partes chegam com o auxílio de um terceiro neutro que facilita a
comunicação e permite muitas vezes que as questões colocadas na mesa de negociação
"fluam" com maior naturalidade.

Quanto ao campo de aplicação deste método, ele é muito vasto, sendo utilizado em conflitos
comerciais, empresariais, civis, familiares, de relações de trabalho, internacionais, etc., visando
essencialmente, a resolução de um litígio que afecte as partes.

Mas a mediação de seguro tem uma perspectiva diferente da de resolução de eventuais


conflitos, pois, ela é uma actividade profissional remunerada que consiste no exercício regular
de prospecção de mercado ou de actos tendentes à realização de contratos de seguros e
operações de seguros, bem como na prestação de assistência aos mesmos contratos já
celebrados.

A mediação de seguros consiste essencilamente em promover, intermediar, administrar


contratos de seguro e, acima de tudo, defender os direitos dos segurados e proporcioná-los
maior segurança e eficácia, tanto na contratação quanto na utilização de uma apólice de
seguro, sendo o mediador de seguro um agente (legalmente autorizado) que intermedeia a
relação segurado/Seguradora, sempre orientando, esclarecendo, elucidando ao segurado seus
direitos e obrigações em determinados contratos de seguro, como também é um consultor de
riscos, que analisa e identifica necessidades do consumidor, o tomador de seguro, para
posteriormente encontrar, através de uma apólice de seguro, uma solução viável que traga
segurança e tranquilidade. Promove e dissemina na sociedade a cultura do seguro, espalhando
informação e fazendo com que as pessoas percebam que o seguro é importante social e
economicamente.

Os mediadores dividem-se em categorias e possuem direitos, bem como respondem


obrigações legais. Podem ser pessoas singulares ou colectivas desde que se encontrem
devidamente inscritos no Instituto de Supervisão de Seguros de Moçambique, nos termos do
Regime Jurídico aprovado pelo Decreto-Lei nº 1/2010, de 31 de Dezembro, em conjugação
com o Regulamento das Condições de Acesso e Exercício da Actividade Seguradora e da
Respectiva Mediação, aprovado pelo Decreto nº 30/2011, de 11 de Agosto.

Os mediadores de seguros dividem-se em três categorias:

Agente de seguros, pessoa singular ou sociedade comercial, que, em nome e representação da


seguradora ou do corretor que o houver designado, seja autorizado, nos termos legalmente
previstos, a fazer prospecção e desenvolver toda a actividade tendente à realização de
seguros, prestar assistência ao tomador de seguros ou segurado em tudo quanto se relacione
com o contrato de seguro celebrado, podendo, ainda, mediante acordo com a seguradora,
efectuar a cobrança de prémios;

Promotor de seguros, pessoa singular que, actuando unicamente por conta de uma ou várias
seguradoras sujeitas a uma mesma influência dominante, que o designa(m) e sob a sua
exclusiva orientação e responsabilidade, promova para aquela(s) a celebração de contratos de
seguros e operaçãoes de seguros;

Corretor de seguros, mediador, sob forma de sociedade comercial que se encontra devida e
legalmente autorizado para o exercício da corretagem de seguros, desenvolvendo a sua
actividade de forma independente em nome e no interesse legítimo dos respectivos
tomadores de seguros e segurados. Tem a liberdade de recomendar ao tomador de seguro, de
acordo com os critérios de conveniência deste, os contratos a celebrar e as empresas de
seguro em que melhor podem ser colocados.

Para além destas classes de mediadores, existem os angariadores de seguros que, sendo
trabalhadores de seguros, os técnicos comerciais, apresentam, propõem e preparam a
celebração de contratos de seguros, prestando ainda assistência aos mesmos.

O Regime Jurídico vigente na República de Moçambique estabelece as condições de acesso e


exercício, no território nacional, para além da actividade seguradora, resseguradora, e o micro-
seguro, a mediação de seguros.

O Regime Jurídico dos Seguros aprovado pelo Decreto-Lei nº 1/2010, de 31 de Dezembro,


estabelece que a mediação de seguros é passível de ser exercida em relação aos contratos de
seguro directo que cubram risco situados no território moçambicano, incluindo, com as
necessárias adaptações, operações no âmbito do ramo “Vida” da actividade seguradora,
nomeadamente, operações de capitalização e de fundos de pensões.
Durante o exercício da actividade de mediação de seguros, o mediador não poderá, de forma
alguma, prejudicar o direito dos tomadores de seguro ou os associados de fundos de pensões,
quando dispensada a intervenção de um mediador nos seus contratos ou operações de
seguros ou em situações de escolha livremente de um mediador.

Salvo os aspectos relativos à corretagem de seguros, às restantes formas de mediação, podem


ter acesso os cidadãos residentes e sociedades comerciais com sede em Moçambique, quando
reunam os requisitos legalmente exigidos. No concernente à corretagem de seguros, não só é
exercida por entidades constituidas sob forma de sociedade comercial, podendo desta
participar entidades não residentes no território nacional, no âmbito de investmento directo
estrangeiro.

A mediação deve, em todos os seus níveis, ser exercida conforme a lei, daí serem sujeitos de
direitos e obrigações. A título de exemplo, são obrigados ao cumprimento das regras de
conduta estabelecidas nas respectivas disposições regulamentares. E aqueles que, no exercício
das suas actividades têm autorização para cobrança de prémios, devem: i) canalizar à
respectiva seguradora, no prazo para o efeito estabelecido, os valores dos prémios por si
cobrados; e ii) abster-se de qualquer acção visando a transferência de carteira de uma
seguradora para outra sem que estejam pagos os prémios em dívida, à data da transferência
da mesma carteira.

Os direitos do mediador limitam-se, pois, em receber regularmente elementos e informações


necessárias ao desempenho da sua actividade e em obter das seguradoras esclarecimentos
sobre a gestão da sua carteira. As comissões, essas poderá descontá-las no acto de prestação
de contas, se efectuar cobranças.

No que respeita às obrigações do mediador, estas se confundem com as suas funções, na


medida em que, para além de numerosas, consistem em prestar serviço eficiente, que implica
saber expor correcta e detalhadamente as condições de um seguro e aconselhar o tomador de
seguro sobre as modalidades de seguros mais adequadas ao seu caso particular, informar a
seguradora dos riscos a cobrir e das suas particularidades, bem como alteração de riscos já
cobertos de que tenha conhecimento e que possam influenciar o contrato de seguro.

De tudo como foi predecentemente exposto, resulta que, o mediador não pode dar como
celebrado um contrato de seguro em nome de uma seguradora, sem a prévia aprovação desta.
Esta aprovação pode consistir numa simples assinatura da proposta. No entanto, é faculdado
um acordo entre mediador e seguradora, no sentido de aquele poder celebrar contratos de
seguros em nome e por conta da seguradora, desde que, a responsabilidade inerente esteja
garantida por um seguro adequado.

Obriga-se, ainda, o mediador de seguros a guarda de sigílo profissional em relação a terceiros,


como não está, igualmente, autorizado a ceder parte ou conceder comissões a segurados, a
terceiros ou a outros mediadores, excepto tratando-se de um corretor que trabalhe com
outros agentes de seguros. Está também vedado o exercício exclusivamente de mediação de
seguros a pessoas singulares em relação a contratos do próprio, de empresa de que seja sócio,
gerente ou empregado, de parentes por si ou na qualidade de sócios ou gerentes. Sendo
pessoa colectiva, a exclusividade de mediação em relação a contratos dos próprios sócios, de
parentes ou de empresas de que estes sejam sócios.
O mediador não pode condicionar a liberdade negocial do tomador de seguro, fazendo o uso
de cargos ou profissões que exerça conjuntamente, mas é responsável perante os tomadores
de seguro, os segurados, beneficiários e seguradoras pelos factos que lhe sejam imputáveis
com reflexo no contrato de seguro em que intervenha e que determine alteração nos efeitos
pretendidos pela vontade expressa do tomador de seguro.

Um mediador mantem esta qualidade se o toamdor de seguro não pedir a sua substituição ou
simplesmente o dispensar ou se continuar a satisfazer os parámetros legalmente exigidos pelo
Instituto de Supervisão de Seguros de Moçambique.

Pelos actos praticados por agentes e promotores de seguros no exercício das suas actividades,
a mediação de seguros, responde civilmente a respectiva seguradora ou corretor, sem prejuizo
do direito de regresso.

Assim e por forma a salvaguar os seus interesses e de terceiros, o corretor bem como o agente
de seguros autorizados a cobrar prémios devem estar cobertos por um seguro de
responsabilidade civil profissional para garantia das responsabilidades decorrentes do
desempenho da mesma actividade, observando-se os capitais mínimos estabelecidos nas
respectivas disposições regulamentares.

Sem prejuizo de outros casos previstos na lei, não é permitido o exercício da actividade de
mediação de seguros, directamente ou por interposta pessoa, bem como o exercício do cargo
de administrador ou gerente de sociedade de mediação, a trabalhadores no activo de
seguradoras, administradores ou gerentes de sociedades que se dediquem à actividade de
avaliação pericial, bem como quaisquer pessoas singulares que se dediquem à mesma
actidade, e funcionários no activo da entidade supervidora.

A vedação acontece também em relação às seguradoras a desenvolver, directa ou


indirectamente, a actividade de mediação ou deter participações em sociedades autorizadas
ao exercício da corretagem de seguros e vice-versa.

Origem e desenvolvimento da mediação de seguros

A profissão surgiu em 1578, em Portugal, com o papel de intermediar as relações entre


segurados e seguradoras. Nenhum seguro seria válido sem a interveniência do corretor. A
função diferenciava-se do escrivão de seguros, por ser custeada pelos segurados, o que
garantia ao corretor um rendimento aproximadamente cinco vezes maior que o de um
escrivão. O cargo de corretor era considerado propriedade pessoal e transmissível.
Fundo de Pensões

A constituição de Fundos de Pensões é feita nos termos do Decreto n.º 25/2009, de 17 de


Agosto, no âmbito da segurança social complementar, artigo 1. Fundo de Pensões é um
património aberto exclusivamente afecto à realização de um ou mais planos de pensões
(artigo 2). Os Fundos de Pensões são de constituição com duração ilimitada (artigo 9), cuja
autorização prévia depende do Ministro que superintende a área das Finanças, após parecer
da entidade de supervisão, a requerimento dos interessados (artigo 3). Nos termos do artigo
10, n.º 1, os Fundo de Pensões são patrimónios autónomos de acordo com a legislação em
vigor, podendo no futuro revestir outras formas de autonomização patrimonial que venham
ser legalmente permitidas. Para além das despesas de funcionamento da comissão de
acompanhamento, incluindo as relativas à participação de cada membro na comissão de
acompanhamento, que devam ser consideradas comuns, ser suportados pelo fundo (n.º 2 do
artigo 10 em conjugação com o n.º 9 do artigo 54), os Fundo de Pensões respondem
exclusivamente pelo cumprimento dos planos de pensões, pagamento das remunerações de
gestão e de depósito que envolva e pelo pagamento dos prémios de seguro, por via de
transferência de risco, conforme resulta do artigo 18 . O Fundo de Pensões não responde por
quaisquer outras obrigações, designadamente as de associados, participantes, entidades
gestoras e depositários. No entanto, pela realização dos planos de pensões constantes do
respectivo contrato constitutivo, regulamento de gestão ou contrato de adesão, responde
única e exclusivamente o património do fundo ou a respectiva quota-parte, cujo valor constitui
o montante máximo disponível, sem prejuízo da responsabilidade dos associados,
participantes e contribuintes pelo pagamento das contribuições e da entidade gestora pelo
rendimento mínimo eventualmente garantido. Regime de Capitalização O regime de
capitalização do Fundo de Pensões encontra-se plasmado no artigo 11, em que o património,
as contribuições e os planos de pensões devem estar em cada momento equilibrados de
acordo com os sistemas actuariais de capitalização que permitam estabelecer uma
equivalência, por um lado, o património e as receitas previstas para o fundo de pensões e, por
outro lado, as pensões futuras devidas aos beneficiários e os encargos de gestão e de
depósitos futuros, não sendo permitido o financiamento do fundo através do método de
repartição dos capitais de cobertura. Tipos de Fundo de Pensões Os fundos de pensões podem,
consoante o vínculo eventualmente existente entre os respectivos associados ou aderentes,
revestir a forma de: 1. Fundos de pensões fechados – quando constituídos por iniciativa de
uma empresa ou grupo de empresas (ex: Grupo Millennium), de associações designadamente
de âmbito sócio-profissional, ou por acordo entre associações patronais e sindicais. 2. Fundos
de pensões abertos – aqueles que podem ser constituídos por iniciativa de qualquer entidade
gestora de fundos de pensões legalmente constituída, sendo o seu valor líquido global dividido
em unidades de participação, inteiras ou fraccionadas, e a sua adesão poder ser de forma
colectiva ou individual. Aquisição do direito à pensão Pesa embora, no concernente à forma de
pagamento dos benefícios, no caso de Fundo de Pensões que financiem planos contributivos,
os beneficiários terem direito ao reembolso do montante determinado em função das
contribuições efectuadas pelos participantes (nº 5 do artigo 14), nos termos do nº 1 do artigo
13, as circunstâncias que podem conferir direito ao recebimento de uma pensão são: a
reforma por velhice ou por invalidez permanente e a sobrevivência, entendendo-se estes
conceitos nos termos em que eles se encontrem definidos no respectivo plano de pensões. A
idade prevista no plano de pensões a partir da qual se obtém o direito a uma pensão de pré-
reforma ou de reforma antecipada não pode ser inferior a 50 anos, para homens, ou 45 anos
para as mulheres, exceptuando-se situações que podem resultar de disposições legais de
contratação colectiva ao caso aplicável. Os planos de pensões podem prever a contribuição de
subsídios por morte, quando complementares e acessórios das prestações de pensões de pré-
reforma ou reforma antecipada. Tipos de planos de pensões Os tipos de planos de pensões
podem ser: 1. De benefício definido, de contribuição definida ou mistos, quanto ao tipo de
garantias estabelecidas; 2. Contributivos e não contributivos, consoante a forma de
financiamento. Os planos de pensões a financiar através da adesão individual a um fundo de
pensões aberto só podem ser de contribuição definida. Constituição do Fundo de Pensões Os
Fundo de Pensões fechados constituem-se, nos termos do artigo 22, por contratos escritos
celebrados entre as entidades gestoras e os associados fundadores, o qual está sujeito a uma
publicação obrigatória. Do contrato devem constar obrigatoriamente os elementos abaixo
mencionados: a. Identificação das partes contraentes; b. Denominação do Fundo de Pensões;
c. Denominação, capital social e sede da entidade gestora; d. Identificação dos associados; e.
Indicação das pessoas que podem ser participantes, beneficiárias e contribuintes do fundo; f.
Valor do património inicial do fundo, discriminando os bens que a este ficam adstritos; g.
Objectivo do fundo e respectivo plano ou planos de pensões a financiar; h. Regras de
administração do fundo e representação dos associados; i. Condições em que se opera a
transferência de gestão do fundo para outra entidade gestora ou do depósito dos títulos ou
outros O fundo de pensões fechado é constituido somente pelos trabalhadores de uma
entidade empregadora. Dado que há toda uma necessidade de o fundo de pensões possuir um
nome, então é uma entidade autónoma, devendo haver denominação de funções. A pensão,
quando é constituida para beneficiar a alguem (pensionista) a longo prazo pode equipar-se a
uma modalidade de um seguro de vida. As pensões constituem encargo para a reforma para
entidade patronal, podendo representar: 1. Salários e contribuições correspondentes; 2.
Custos a curto prazo; 3. Responsabilidade a longo prazo; a. Por benefício pos-emprego; b. Por
cessação de emprego. Também, por outro lado, o fundo de pensões respeita as seguintes
obrigações: 1. Legais – na situação em que o trabalhador, na sua qualidade de participante,
desconta do seu salário na ordem de 3%, sendo a empresa, como assciado que é, contribui
com 4%, totalizando 7% para o INSS. 2. Contratuais – tratando de acordos celebrados para a
constituição de reforma, havendo vinculação entre trabalhadores e o patronato. 3.
Constitutivas – surgem da iniciativa da própria entidade empregadora, daí ser uma obrigação
constitutiva. Todas estas situações resultam em poupanças que podem ser feitas
voluntariamente ou por intermédio da entidade empregadora, a partir de: • Depósitos a prazo;
• Plando de pensões; • Fundos de pensões. Fundo de pensões corresponde a capitalização de
poupança, constituindo, por isso, património resultante de descontos. Enquanto que, Plano de
pensões corresponde ao programa financiado por fundo de pensões. O plano de pensões tem
por fim último benefícios definidos , responsabilidade dos trabalhadores, planos contributivos,
como é o exemplo 3% para o INSS. O Fundo de pensões representa, assim, um património, na
medida em que, constitui um conjunto de recursos alocados para um determinado fim
(exemplo: a reforma). É um fundo autónomo em todas as suas vertentes, nomeadamente,
perante: • Entidade que constitui; • Os demais recursos ou participações das entidades
constituintes; • À contabilidade; • Fins ou recursos financeiros. Planos de pensões provém de
fundos de pensões, sendo nestes precisos termos, a relação existente entre ambos é que o
fundo de pensões é um meio de financiamento de planos de pensões. Há aqui, uma relação de
complementaridade. Portanto, os planos de pensões criam as condições em que as pensões
são constituídas ou pagas. Planos de pensões podem assumir duas vertentes, conforme acima
nos referimos, contributiva, quando é apenas financiado pelo associado e não contributiva,
quando a responsabilidade é inteiramente do associado (entidade empregadora). As pensões
são garantias que são accionadas no período de inactividade, pelo que, qualquer pessoa,
querendo, pode delas se beneficiar como: a) Reformado do Estado b) Por inscrição no INSS c)
Através do seguro de vida d) Adesão ao plano de pensões aberto e) Por obrigações de tesouro.
O fundo de pensões fechados podem ser de natureza de um só associado ou de mais, tendo
em consideração a actividade profissional dos participantes e ou associados. O fundo de
pensões caracteriza-se no facto de existir uma entidade gestora, seus participantes não
estarem previamente identificados. Quando a entidade gestora cria o fundo, os participantes
adquirem as prestações e daí, por via do sinal verifica-se a constituição do fundo de pensões.
Os fundos de pensões fechados têm capitais aparentemente reduzidos dado ao facto de
reduzido número de participantes expostos no mesmo tipo de risco e a sede social não pode
estar do território nacional, como acontece com as sucursais. Pois é na sede onde se operam
todas as correspondências. Nos termos do artigo 23 do Decreto nº25/2009, de 17 de Agosto,
estabelece o contrato de gestão do fundo de pensões. Tanto no contrato de gestão como no
contrato constitutivo os elementos são de caracter obrigatório, conforme preve o nº 2 do
mesmo preceito legal. Os fundos de pensões abertos previstos no artigo 25 do Decreto
nº25/2009, de 17 de Agosto, constituem-se no dia da entrega da primeira contribuição,
efectuada nos termos do respectivo regulamento de gestão. Os fundos de pensões são de
natureza facultativa em relação ao fundo de pensões obrigatório (INSS), daí serem
complementares. O capital social, para além de que deve estar integralmente realizado, é
intangível e constitui activo da entidade. São os recursos financeiros constitutivos dessa
sociedade e serve de garangtia para os terceiros. O capital social, em caso de insolvência, é
chamado a pagar os credores da sociedade. É uma forma a partir da qual se pode medir a
estabilidade da sociedade. Ou seja, o capital social do fundo de pensões é um elemento
essencial que confere a robustez e confiança perante cliente ou terceiros. É nestes termos que:
• A entidade gestora do fundo de pensões deve facultar todas as informações necessárias aos
participantes. • Os depósitoas dos particiantes são numerados, pelo que, a entidade gestora
do fundo não deve quebrar a expectativa jurídica destes participantes. • A entidade gestora do
fundo de pensões, no seu processo de investimento para multiplicação do fundo, deve olhar
para os aspectos inerentes à dispersão do risco. Os regulamentos de fundos de pensões só
entram em vigor depois de autorizados pelo ISSM – Instituto de Supervisão de Seguros de
Moçambique. A adesão colectiva prevista no artigo 26, numa única adesão podem coexistir
vários trabalhadores ou participantes. A constituição do fundo de pensões aberto pode
resultar da subscrição massiva dos participantes. Entidades Gestoras do Fundo de Pensões –
artigo 35 Podem ser entidades gestoras de fundos de pensões as sociedades anónimas que se
constituem para efeitos de gestão de fundos de pensões, ou seguradoras autorizadas a exercer
a sua actividade no ramo “vida”. A razão de sociedade anónima é o facto de ser necessário
maior disponibilização de fundos ou capital, sendo este o garante da confiança dos credores. E
é por isso que as entidades gestoras de fundos de pensões são sociedades anónimas, dada a
capacidade de mobilização de fundos. O artigo 41 faz referência dos requisitos para a
constituição de uma sociedade gestora de fundo de pensões. A questão de oportunidade de
que se refere o mesmo artigo 41, prende-se no facto de existência de possibilidade de o
trabalhador se beneficiar do sistema complementar de reforma. Já a conveniência tem a ver
não só com a oportunidade, mas também a flexibilidade e /ou concretização dos fundos e
pagamento de pensões, logo que reunidas as necessárias condições . As entidades de gestaão
de fundos de pensões devem pautar pela exclusividade para o necessário afastamento do
desvio de aplicação, e permitir a maior eficácia e eficiência dos negócios, de modo que
produza resultados almejados (alínea b)).
Actividade Seguradora em Moçambique

Actividade Seguradora

Oexercício regular dos actos relativos à aceitação e cumprimento de contratos de seguros,


resseguro, micro-seguro e operações de seguro[1], bem como a prática de actos e contratos
conexos ou complementares daqueles, nomeadamente, os respeitantes a salvados,
reedificação e reparação de prédios e de veículos, manutenção de postos clínicos e aplicação
de provisões, reservas e capitais.

Entidades habilitadas ao Exercício da actividade

Nos termos dos artigos 2 e 13 RJS, são sociedades anónimas e sociedades mútuas, com sede
social na República de Moçambique e têm por objecto social, conforme previsto no artigo 1 do
referido diploma legal, o exercício da actividade seguradora, incluindo o resseguro, micro-
seguro e mediação de seguro.

A denominação das entidades habilitadas ao exercício da actividade seguradora deve obedecer


ao previsto no artigo 3 RJS, ou seja, conforme a sua natureza e objecto deve constar qualquer
das expressões seguradora, companhia de seguros, resseguradora, sociedade mútua de
seguros, mútua de seguros, micro-seguro, ou outras da qual resulte inequivocamente que o
seu objecto é o exercício da actividade seguradora, a nível do seguro directo, resseguro ou
micro-seguro.

Tais entidades, depois de previamente autorizadas, nos termos do artigo 4 RJS, ou seja, pelo
Ministro que superintende a área das Finanças e sob parecer do órgão supervisor, ISSM –
Instituto de Supervisão de Seguros, exceptuando os mediadores, cujo regime se encontra no
artigo 45 e seguintes, são:

Seguradoras – entidades constituídas sob a forma de sociedade anónima ou sociedade mútua,


ou uma sucursal de sociedade estrangeira, que, autorizada a explorar a actividade seguradora
em Moçambique, assume o risco transferido de um tomador de seguro; inclui, igualmente, o
exercício da actividade de resseguro.

Micro-Seguradoras: entidades que têm por objecto social exclusivo a exploração da actividade
seguradora restrita, operando na área do micro-seguro.

Micro-seguro – actividade que consiste na assunção de riscos, essencialmente, em operações


de reduzida e média dimensão, visando a protecção da população de baixa renda contra riscos
específicos, em troca de pagamentos regulares de prémios proporcionais à probabilidade e
custos do risco envolvido.

Mútuas de seguro: entidades constituídas por pessoas singulares e/ou colectivas que
pretendam garantir, segundo regras ou técnicas de seguro, a cobertura de riscos comuns.

Mediação de seguros: actividade profissional que consiste no exercício regular prospecção de


mercado ou de actos tendentes à realização contratos e operações de seguro, bem como a
prestação de assistência aos mesmos contratos já celebrados.
Dentro da actividade de mediação, encontramos as seguintes classes ou categorias de
mediadores, conforme refere o nº 1 do artigo 46 RJS:

Corretagem de seguros: mediação de seguros que consiste no estabelecimento de ligação


entre tomadores de seguro, segurados e as seguradoras, em que o respectivo mediador tem a
liberdade de escolha e preparação dos contratos, presta a assistência e realiza estudos de
consultorias ou emite pareceres técnicos sobre seguros.

Portanto, o corretor de seguros (nº 2 do artigo 46) é um mediador que se constitui sob a forma
de sociedade comercial, que, nos termos do Regime Jurídico de Seguros, aprovado pelo
Decreto-lei nº 1/2010, de 31 de Dezembro, se encontra devidamente autorizado para o
exercício da corretagem de seguro e desenvolve a sua actividade de forma independente em
nome e no interesse legítimo dos respectivos tomadores de seguro e seguradoras. Este
mediador recomenda livremente ao tomador de seguro, de acordo com os critérios de
conveniência deste, os contratos a celebrar e as seguradoras em que melhor podem ser
colocados.

Agentes de Seguros, (nº 3 do artigo 46): é também um mediador que pode ser pessoa singular
ou sociedade comercial, que, em nome e representação da seguradora ou do corretor que
houver designado, seja autorizado nos termos do Regime Jurídico de Seguros, aprovado pelo
Decreto-lei nº 1/2010, de 31 de Dezembro, a fazer prospecção e desenvolver toda actividade
tendente a realização de contratos de seguro, prestando inclusivamente a necessária
assistência.

Promotores de seguros (nº 4 do artigo 46): exercem sua actividade por conta de uma empresa
de seguros, que o designa após a frequência, com aproveitamento, de um curso de formação
em seguros, ficando aqueles sob exclusiva orientação e responsabilidade desta na promoção
de celebração de contratos e operações de seguros da referida seguradora.

Nota: As entidades habilitadas ao exercício da actividade seguradora estão sujeitas um regime


sancionatório, o qual prevê que, o não cumprimento do estabelecimento no capítulo das
infracções baseado nos artigos 50 e seguintes do RJS, é passível de sanções aplicáveis à
actividade seguradora, com as necessárias adaptações.

Contrato de Seguro

O Contrato de Seguro tem por âmbito a definição das garantias, riscos cobertos e riscos
excluídos.

Na verdade, o Contrato de Seguro é um acordo pelo qual a seguradora ou Micro-Seguradoras


se obriga, em contrapartida do pagamento de um prémio e para o caso de se produzir um o
evento cuja verificação é objecto de cobertura, a indemnizar, nos termos e dentro dos limites
convencionados, o dano produzido ao segurado ou a satisfazer um capital, uma renda ou
outras prestações nele previstas.

a. Sujeitos

Conforme indica o artigo 79 RJS, as partes contratantes são a Seguradora e o tomador do


seguro, o segurado e o beneficiário partes interessadas, aos quais cabe exercer os direitos e
cumprir obrigações que derivam e são explicitados no respectivo contrato de seguro.
b. Regulação

O contrato de seguro é regulado pelas disposições do RJS (art.80), cujas normas têm caracter
imperativo, salvo disposição em sentido diverso que, nos termos legais e no âmbito da
autonomia privada possam ser consideradas.

c. Enquadramento do Contrato Seguro

Contrato de Seguro: tem por âmbito a definição das garantias, riscos cobertos e riscos
excluídos.

Na verdade, o Contrato de Seguro é um acordo pelo qual a seguradora ou micro-seguradora se


obriga, em contrapartida do pagamento de um prémio e para o caso de se produzir um o
evento cuja verificação é objecto de cobertura, a indemnizar, nos termos e dentro dos limites
convencionados, o dano produzido ao segurado ou a satisfazer um capital, uma renda ou
outras prestações nele previstas.

Tipos de Seguro

Nos termos do nº 1 do artigo 81, o seguro, atendendo à natureza do risco coberto, é


classificado num dos seguintes tipos:

Seguro de danos - aquele em que o sinistro decorre da verificação de um dano patrimonial,


sendo indemnizado nos termos e nos limites acordados no contrato de seguro; e

Seguro de pessoas – aquele em que o risco é associado à vida humana, sendo o sinistro
derivado de acidentes pessoas, de doença ou de morte da pessoa segura, pagando a
seguradora as prestações convencionadas ou indemnizatórias contratualmente estipuladas.

No entanto e segundo o nº 2 do mesmo artigo, a tipologia baseada no risco não prejudica a


existência de outras classificações legalmente estabelecidas ou por via de regulamentos com
base nos ramos de seguro e na duração normal dos contratos, designadamente a prevista nas
condições de acessos e de exercício da actividade seguradora, em Moçambique.

Formação do contrato de Seguro

Partes contratantes:

a. Seguradora,

Nos termos do nº 1 do artigo 82 RJS, deve estar devidamente autorizada a exercer a sua
actividade no território da república de Moçambique, nos termos da legislação que regula as
condições de acesso e exercício da actividade seguradora.

Os nºs 2 e 3 do mesmo preceito legal indicam que, a seguradora só pode aceitar a cobertura
de riscos que estejam incluídos nos ramos de seguro para cuja exploração tenha obtido a
necessária autorização; e deve cumprir pontualmente as obrigações contratualmente
assumidas, pautando a actuação por elevados padrões de cuidado e de diligência.
Entidades não autorizadas

Entretanto e conforme prevê o artigo 83 RJS, é proibido o exercício da actividade seguradora


por entidades que para tal não estejam autorizadas, sob pena de nulidade dos actos
praticados.

Contudo, poderão ser aplicadas outras sanções às entidades que celebrem naquelas
condições, contratos objectivamente identificáveis como contratos de seguro, ficando
vinculadas ao cumprimento das obrigações que deles decorriam caso o negócio fosse
considerado válido, salvo havendo má-fé da contraparte.

b. Tomador do seguro

Conforme estabelece o artigo 84 RJS:

o tomador de seguro deve ter capacidade para o acto, podendo, se necessário, ser
devidamente representado;

o seguro pode ser contratado por conta própria ou por conta de outrem;

as posições de tomador de seguro e de segurado podem coincidir na mesma pessoa;

no silencio das partes, o tomador do seguro é o próprio segurado;

o tomador do seguro deve agir com lealdade, prestando as informações legal ou


contratualmente exigidas e não agravando dolosamente o risco assumido pela seguradora. Ou
seja, deve agir de boa-fé, nos termos previstos no artigo 86 em conjugação com o nº 2 do
artigo 762º CC, in fine.

O contrato de seguro orienta-se por 4 princípios fundamentais, nomeadamente, princípio da


Boa-fé, Autonomia privada, interesse segurável e protecção do consumidor e proibição de
prática discriminatória,

Celebração do Contrato de Seguro

Observadas todas as circunstâncias relativas informação pré-contratual, no âmbito do dever


do dever de informação das partes, previsto nos termos do artigo 90 e seguintes do RJS, bem
como da declaração inicial do risco (artigo 95), cabe a vez a celebração do contrato de seguro.

Esta celebração é precedida da disponibilização de toda informação, designadamente, a


constante dos artigos 91 e 92, em conjugação com o previsto no artigo 231, todos do RJS,
dando de:

Denominação ou firma e estatuto legal da seguradora;

Natureza e amplitude do risco que se propõe segurar;

Limitações de coberturas;

O valor do prémio por período de cobertura;

Modalidades de pagamento e consequências da falta de pagamento;


Regime de agravamentos e de bónus que podem ser aplicados ao contrato;

Valor do capital mínimo a segurar nos seguros obrigatórios;

Duração do contrato, renovação e modalidades de cessação;

Regime de transmissão;

Apreciação das reclamações feitas no âmbito do contrato, incluindo a referência à


possibilidade de intervenção da entidade de supervisão da actividade seguradora, sem prejuízo
do recurso aos tribunais; e

Autonomia das partes para, com excepção dos seguros obrigatórios em que é sempre aplicável
a lei moçambicana, escolher, nos termos do RJS, a lei aplicável ao contrato, com a indicação
daquela que a seguradora propõe que seja escolhida.

Relativamente às sucursais de seguradoras estrangeiras, o artigo 92 RJS prevê que o tomador


do seguro que pretenda celebrar contrato de seguro com aquelas deve delas obter
informação, antes de assumirem qualquer obrigação ou compromisso, o país da sua sede
social e respectivo domicílio.

Tal informação deve constar, ainda, em toda a documentação que seja fornecida ao tomador
do seguro, com relevância opara o contrato a celebrar.

Por outro lado e no que respeita à matéria de apresentação de informações acima referidas, as
mesmas elencadas nos artigos 91 e 92 RJS, devem, de acordo com o artigo 93, devem ser
prestadas por escrito, de forma clara e em língua portuguesa, antes de o tomador do seguro se
vincular.

Nestes termos, a entidade supervisora tem a faculdade de fixar regras quanto ao suporte das
informações a prestar ao tomador do seguro, devendo a proposta de seguro conter uma
menção comprovativa de que as informações que a seguradora deve prestar foram dadas a
conhecer ao do seguro.

Em caso incumprimento do dever de informação por parte da seguradora, confere ao tomador


do seguro o direito de resolução do contrato, salvo se essa falta não possa, razoavelmente, ser
considerada susceptível de afectar a decisão de contratar da mesma contraparte ou haja sido
accionada a cobertura por terceiro.

O direito de resolução acima referido deve ser exercido no prazo de 30 (trinta) dias, após a
recepção da apólice de seguro, tendo a cessação efeito retroactivo e o tomador do seguro
direito à devolução da totalidade do prémio pago.

Para todos efeitos, a medida acima é aplicável quando as condições da apólice não estejam em
conformidade com as informações prestadas antes da celebração do contrato de seguro.

Relativamente ao tomador do seguro pesa sobre si o dever de informação, principalmente na


declaração inicial do risco. Aliás, assim prevê o artigo 95 RJS, na medida em que, além das
informações relativas à sua própria identificação e da observância do disposto no nº 6 do
artigo 84 do mesmo dispositivo legal, cabe em especial ao tomador do seguro ou ao segurado,
antes da celebração do contrato, declarar com exactidão todas as circunstâncias que conheça
e razoavelmente deva por ter significativas para a apreciação do risco pela seguradora.
O dever de informação não se esgota no preenchimento, ainda que completo, do questionário
constante de impresso eventualmente fornecido pela seguradora, mas tudo quanto possa
contribui para o melhor esclarecimento do risco, factor essencial para o apuramento do
prémio.

Entretanto, havendo má-fé do tomador do seguro ou do segurado, a seguradora que tenha


aceite o contrato não pode invocar, em seu favor, as circunstâncias como:

Omissão de resposta à pergunta contemplada no questionário;

Respostas imprecisas às questões formuladas no questionário em termos genéricos;

Incoerência ou contradição que resultem evidentes nas respostas ao questionário; e

De algum facto que o seu representante, aquando da celebração do contrato, saiba ser
inexacto ou, tendo sido omisso, conheça.

Assim sendo, fica a cargo do tomador do seguro ou do segurado o ónus da prova quanto à
exactidão e plenitude das informações prestadas, pelo que, havendo incumprimento doloso do
dever de informação, por parte deste, determina a nulidade do contrato, tendo a seguradora
direito ao correspondente prémio de seguro, conforme atesta o artigo 96 em conjugação com
o nº 1 do artigo 95, todos do RJS.

Se o incumprimento do dever de informação a que se refere o nº 1 do artigo 95 for devido à


negligência, a seguradora pode, no prazo de 60 (sessenta) dias a contar da data em que tiver
conhecimento:

Propor ao tomador do seguro uma alteração do contrato, fixando um prazo não inferior a 30
(trinta) dias para o envio da aceitação ou, se previsto, da contraproposta;

Fazer cessar o contrato, demonstrando que em caso algum celebraria contrato para cobertura
de riscos relacionados com o facto omitido ou declarado inexactamente.

Para todos efeitos, o contrato só poderá cessar quinze dias após ter terminado o prazo
referido na alínea a) acima, enquanto não houver alguma resposta do tomador do seguro,
manifestando pretensão contrária, sendo que, nesta situação o prémio de seguro é devolvido
ao tomador do seguro na proporção do período não decorrido de cobertura do risco.

Ocorrendo algum sinistro antes da alteração ou da cessação do contrato, nos termos acima
indicados, há que atender às seguintes regras:
A seguradora determina o prémio que fixaria no momento da celebração do contrato, caso
tivesse conhecido o facto omitido ou declarado inexactamente, estabelecendo uma proporção
idêntica entre esse prémio e aquele que foi pago;

A seguradora fica obrigada a pagar a indemnização correspondente ao sinistro, proporção


idêntica à calculada nos termos nas condições acima referidas, salvo se, a seguradora,
demonstrando que em caso algum teria celebrado o contrato se tivesse conhecido o facto
omitido ou declarado inexactamente, daí não ficaria obrigada a efectuar a prestação e
devolveria o prémio integral que tivesse sido pago correspondente à anuidade da verificação
do sinistro.

A celebração do contrato de seguro inicia com a apresentação de proposta do tomador do


seguro, nos termos previstos no artigo 98 RJS, a partir da qual aquele formula a sua intenção,
apresentando todos os elementos necessários para uma correcta apreciação do risco a segurar
e que possa influir as condições contratuais ou na própria existência do contrato, tendo em
conta ao dever de informação e no âmbito de declaração do risco inicial, previsto no artigo 90
e no nº 2 do artigo 95, todos do RJS.

Contudo, recebida a proposta de seguro, em caso de necessidade a seguradora tem a


faculdade de solicitar alguma informação adicional, como descreve o artigo 99. mas, havendo
silêncio das partes, tal acto corresponderá à desistência da proposta, quando o proponente
não satisfaça os pedidos da seguradora, aliás, assim atesta o artigo 100 e adianta considerando
aceite e o contrato celebrado nos termos propostos, se a seguradora nada disser no prazo de
15 dias a contar da data da recepção de proposta ou, se for o caso, dos elementos e
informações adicionais a que se refere o artigo 99.

Assim, a produção de efeitos, ou seja, o início do seguro, sem prejuízo do previsto no nº 2 do


artigo 100 e no artigo 131, salvo clausula em contrário, o contrato de seguro produz efeitos a
partir das zero horas do dia seguinte ao da aceitação, pela seguradora, da proposta do
tomador do seguro – artigo 101.

Estando em produção todos efeitos, o contrato deve ser reduzido a escrito e constar de um
instrumento próprio designado apólice de seguro, como refere o artigo 101, quanto a forma e,
quanto ao conteúdo, apresentar-se-á conforme o previsto no artigo 103.

Durante o período de execução do contrato de seguro, o risco, nos termos do artigo 108,
afigura-se como sendo o elemento determinante do objecto do contrato do seguro, pelo que,
deve ser aleatório, real e lícito.
A inexistência inicial do risco determina a nulidade do contrato de seguro, devendo-se aplicar
as regras abaixo mencionadas e nos termos do artigo 109, quanto ao prémio que haja sido
pago pelo tomador de seguro:

Se houver boa-fé das partes contratantes, a seguradora devolve o valor do prémio, deduzidas
as despesas necessárias à celebração do contrato que comprovadamente não tenham sido
recuperadas; e

Se houver má-fé do tomador do seguro ou do segurado, a seguradora de boa-fé tem o direito


ao prémio.

Na mesma linha de pensamento, a extinção do risco, na vigência do contrato de seguro,


produz automática e imediatamente a cessação deste, por caducidade, havendo lugar a
estorno do prémio nos termos e condições do artigo 156.

Mas, por outro lado, entende-se que há extinção do risco, nomeadamente, no caso de morte
da pessoa segura, perda total do bem seguro ou da cessação da actividade que constituía
objecto de seguro.

No entanto, prevê-se a exclusão de determinadas coberturas no contrato de seguro, como


descreve o artigo 110, designadamente, dos riscos derivados de guerra, insurreição ou
terrorismo.

Ao longo da vigência do contrato de seguro, o tomador do seguro ou, for o caso, o segurado
têm o dever de, nos oito dias subsequentes ao seu conhecimento, comunicar à seguradora
todos os factos ou circunstâncias susceptíveis de determinar um agravamento ou redução do
risco. E sempre que tal se verificar, a seguradora tem a faculdade de, no prazo de quinze dias,
optar pela redução proporcional da garantia ou pela apresentação de novas condições,
podendo o tomador do seguro contrapor à apresentação de novas condições a redução
proporcional da garantia ou, em qualquer caso, a cessação do contrato – artigos 111 e 114.

Duração do Contrato de Seguro

Se durante a vigência do contrato se detectarem omissão ou a inexactidão da comunicação,


concorrendo para o agravamento do risco, conforme refere o nº 1 do artigo 111, dá à
seguradora a faculdade de resolver o contrato ou, em alternativa, aplicar o disposto do nº 2 do
mesmo artigo.

No entanto, o nº 2 do artigo 112 apazigua a situação ao permitir que, o tomador de seguro que
tiver agido de boa-fé, pode evitar a resolução do contrato, mediante solicitação à seguradora
da proposta de novas condições, devendo, em caso de aceitá-las, assumir ainda o pagamento
de todas as despesas ocasionadas pela sua actuação.

Na falta de estipulação das partes, o contrato de seguro vigora pelo período de um ano,
conforme atesta o artigo 115, porém, não havendo outra convenção, o artigo 116 esclarece
que, as renovações podem ser automáticas e sucessivamente, no período estipulado, por
novos períodos de um ano.

Em suma, a duração do contrato de seguro é o período de tempo durante o qual estão


cobertos os riscos nele indicados, sendo esta decidida pelas partes.

No entanto o contrato de seguro pode cessar os seus efeitos por:

Revogação – na situação em que as partes podem concordar em cessar os efeitos do contrato


de seguro a qualquer momento;

Caducidade – quando o contrato de seguro chega ao final do seu período de vigência, excepto
se for automaticamente prorrogado porque as partes assim o decidiram;
Resolução – ocorrendo quando o contrato de seguro cessa por iniciativa de uma das partes.
Havendo justa causa, qualquer uma das partes pode cessar o contrato por livre resolução, a
qualquer momento.

Transmissão do Contrato de Seguro

Nos termos do artigo 117 e sem prejuízo do disposto em matéria do seguro de vida, o tomador
do seguro tem a faculdade de transmitir a sua posição contratual nos termos gerais, sem
necessidade de consentimento do segurado. Aqui, é preciso trazer ao de cima o entendimento
de o tomador de seguro é aquele que contrata com a seguradora, obrigando-se no pagamento
do respectivo prémio, enquanto o segurado é a pessoa no interesse da qual se faz o seguro.

Portanto, havendo transmissão do bem seguro e coincidindo na mesma pessoa, o tomador do


seguro e o segurado, o contrato de seguro transmite-se para o novo titular, mas a
transferência só produz efeitos depois de notificada a seguradora.

No caso de transmissão de transmissão do bem seguro por parte do segurado devidamente


identificado, transmite-se a posição para o novo segurado. Ou seja, por qualquer razão
justificável nos termos dos nºs 1 a 5 do artigo acima referido, o contrato de seguro operará
com os efeitos para os quais se pretende, aliás, é o caso previsto no artigo 118, quando se
refere da morte do tomador do seguro.

Prémio de Seguro

No artigo 120 e seguintes encontramos o regime do prémio de seguro, sua determinação e


pagamento.

Salvo disposição legal em sentido diverso, o montante do prémio e as regras sobre o cálculo e
determinação do prémio de seguro são estipulados no contrário de seguro, ao abrigo da
liberdade contratual, tendo em conta que, as regras sobre o cálculo e a determinação do
prémio de seguro devem respeitar os princípios da técnica seguradora.
O prémio de seguro deve ser pago pela forma e no local estabelecidos no contrato de seguro
ou, no seu silêncio, no estabelecimento da seguradora onde o contrato se tenha celebrado,
atingindo, assim a sua plena eficácia, conforme o previsto no artigo 128, não descurando, no
entanto, os aspectos relativos ao pagamento do prémio de seguro por cheque e a falta de
cobrança do mesmo, por falta imputável à seguradora na data da sua apresentação no
estabelecimento bancário, equivalendo à falta de pagamento, conforme estabelecem os nºs 4
e 5 do artigo 120.

O prémio de seguro tem carácter unitário, conforme refere o artigo 121, pelo que, anulação ou
resolução nos termos legais e regulamentares, suscitando, em muitas vezes o estorno previsto
nos termos do artigo 122, como sendo a devolução do prémio de seguro correspondente ao
período não decorrido.

Já que o prémio de materializa eficácia do contrato de seguro, quando a seguradora aceita a


proposta do tomador do seguro ou segurado. Normalmente, a seguradora confirma que
aceitou a proposta através de emissão da apólice ou de certificado de seguro.

Distribuição do Risco Seguro

O risco assumido por uma seguradora pode ser por esta distribuído por outras seguradoras ou
resseguradoras através de prática de duas modalidade prevista nos termos do artigo 170,
nomeadamente, co-seguro ou resseguro.

Co-Seguro
O co-seguro tem o seu regime baseado no artigo 171 e seguintes e é admitido em todos os
ramos ou modalidades de seguro relativamente a contrato que, pela sua natureza e
importância justifiquem a intervenção de várias seguradoras.

No entanto, o contrato em regime de co-seguro é titulado por uma apólice única, emitida pela
seguradora líder e na qual deve figurar a quota-parte de risco ou parte percentual do capital
assumida por cada uma das co-seguradoras, sendo esse o limite das sua correspondentes
responsabilidades individuais.

Funções da co-seguradora líder

À seguradora, ou melhor, a co-seguradora líder do contrato celebrado em regime de co-seguro


são atribuídas as funções de:

Receber do tomador do seguro a declaração do risco objecto do seguro, bem como as


declarações posteriores de agravamento ou de redução de mesmo risco;

Fazer análise do risco e estabelecer as condições do seguro e a respectiva tarifação;

Emitir a apólice de seguro correspondente à totalidade do risco ou capital assumidos;

Proceder à cobrança dos prémios, emitindo os respectivos recibos;

Desenvolver, sempre que necessário, acções legalmente previstas face ao não pagamento de
um recibo de prémio;

Receber as participações de sinistro e proceder à sua regularização; e

Aceitar ou propor a resolução do contrato, conforme as circunstâncias.

Para cada contrato celebrado em regime de co-seguro deve ser estabelecido entre as
respectivas co-seguradoras um acordo que define as relações entre todas e entre cada uma e a
líder, do qual devem, sem prejuízo das funções desta, constar:

Valor da taxa de gestão, se as funções do líder forem remuneradas;

Forma de transmissão de informações e de prestação de contas pelo líder a cada uma das co-
seguradoras; e

Regime de pagamento de sinistros.

Considerando que a relação existente entre a co-seguradora líder e as restantes é uma relação
jurídica-contratual, estabelecendo direitos e obrigações, aquela poderá ser civilmente
responsável perante as outras pelas perdas e danos decorrentes do não cumprimento das
funções que lhe forem atribuídas.
Resumindo e parafraseando Pedro Romano Martinez, na sua obra Direito dos Seguros, pag. 52,
no co-seguro há uma assunção conjunta de um risco por várias empresas de seguro,
denominadas co-seguradoras entre as quais uma é líder.

Adianta aquele autor que, neste contrato de seguro, uma das partes (seguradora) é colectiva,
pois é composta por várias empresas de seguros em regime de parciariedade. Não há
solidariedade, pois cada seguradora assume uma parcela do mesmo risco, num contrato único
titulado por uma só apólice.

Resseguro

O resseguro é o contrato pelo qual uma seguradora faz segurar, por sua vez, parte do risco que
assume, sendo seu regime baseado no artigo 178 e seguintes.

Portanto, o resseguro é um meio que, à semelhança do co-seguro, as seguradoras encontram


uma forma económica e financeira que através dele passam a fazer o alívio de carga relativa ao
risco que assumem. Existem riscos que, pela sua dimensão as seguradoras assumem de forma
directa e integral, mas pode acontecer que, dada a grandeza do próprio risco haja necessidade
de sua dispersão pelas outras seguradoras que, em caso de sinistro estas responderão na
proporção de suas responsabilidades.

O instituto do resseguro, diversamente da do co-seguro, permite a internacionalização do


negócio do seguro, observando-se nele:

A repartição do risco;

Ampla distribuição do risco;

A forma cómoda e flexível na aceitação do risco e, por consequência, rápida aceitação do


sinistro e rápido pagamento de indemnização;

Princípio do fortalecimento da protecção do tomador do seguro;

Protecção contra acumulação do risco;

Evitar danos graves em sinistros de perdas, proporcionando a rápida resolução de sinistros;


Crescimento das seguradoras sob ponto de vista de conhecimentos/formação e solidariedade
na assunção do risco e estabilidade do resultado.

O resseguro pode ser feito em forma de TRATADO, designação de um contrato efectuado


entre uma seguradora cedente e uma resseguradora, para providenciar colocação automática
de excedente da RETENÇÃO da seguradora. Ou seja, Tratado de resseguro efectuado por
convenção, no qual a resseguradora aceita, sem opção, resseguros oferecidos pela seguradora
dentro do escopo dos termos do TRATADO.

Importa recordar que a relação, no seguro directo, é simplesmente entre o tomador do seguro
e a seguradora. As concessões existentes entre a seguradora e as resseguradoras dizem
respeito somente a estas duas entidades, ficando de fora o tomador do seguro.

Tipos de tratados de resseguro

Facultativo

O aspecto facultativo tem a ver com a aceitação ou não do risco no momento da sua cedência.
Por outro lado, pode-se dar o caso de, na seguradora aceitante o risco ser uma exclusão, esta
receberá e passará para uma resseguradora especializada;

Obrigatório

Essa obrigatoriedade deve surgir entre duas entidades (seguradoras e resseguradora) a partir
de uma pré-convenção. Ex.: determinado tipo de risco e a partir de um determinado valor, a
parte do excedente deve ser repassado para resseguradora.
Misto

Engloba as duas modalidades, ou seja, dentro do mesmo valor e risco há aquele que deve ser
facultativamente passada para a resseguradora e a outra que, depois de uma pré-convenção,
há obrigatoriedade do resseguro.

[1] Operações de seguro são aquelas que, não revestindo a tipicidade de própria de um
contrato de seguro, são exploradas segundo princípios de capitalização e podem estar sob
gestão de uma seguradora, designadamente, as operações de capitalização e gestão de fundos
de pensões que, regra geral, se associam no ramo Vida.

AS MAIS FREQUENTES QUESTÕES SOBRE FUNDO DE PENSÕES

1. O que é um fundo de pensões?


Um fundo de pensões é um património autónomo que se destina exclusivamente ao
FINANCIAMENTO de um ou mais planos de pensões.

Quais são os principais intervenientes nos fundos de pensões?

Os principais intervenientes num fundo de pensões são:

i. Associado: entidade cujos planos de pensões são financiados por um fundo de


pensões.

ii. Beneficiário: pessoa cuja situação pessoal ou profissional determina a definição


dos direitos previstos no plano de pensões, independentemente de ser ou não participante
para o fundo.

Beneficiário: pessoa com direito aos benefícios fixados no plano de pensões,


independentemente de ter ou não sido participante.

iii. Participante: pessoa que contribui para o fundo ou entidade que contribui para o
fundo em nome e a favor do participante.

iv. Aderente: pessoa ou entidade que adere a um fundo de pensões aberto.


v. Entidade gestora: entidade que gere o fundo de pensões; pode ser uma sociedade
constituída exclusivamente para esse fim (sociedade gestora de fundos de pensões) ou uma
empresa de seguros do ramo Vida.

Para além dos acima mencionados, existem ainda outros intervenientes, como, por exemplo, o
depositário, o actuário responsável ou as entidades comercializadoras (que podem ou não
coincidir com as entidades gestoras).

2. Que tipos de fundos de pensões existem?

Um fundo de pensões pode ser:

i. Fundo de Pensões Fechado: quando disser respeito apenas a um associado ou,


envolvendo vários associados, se existir um vínculo empresarial, associativo, profissional ou
social entre eles e for necessário o seu acordo para a entrada de novos associados no fundo.

ii. Fundo de Pensões Aberto: quando a adesão ao fundo depender unicamente de


aceitação pela entidade gestora, não sendo necessário qualquer vínculo entre os diferentes
aderentes e participantes; a adesão pode ser individual ou colectiva.

3. O que significa autonomia patrimonial?

O património dos fundos de pensões destina-se exclusivamente ao cumprimento dos planos


de pensões e seus encargos. Não pode ser usado para outros fins nem responde por outras
obrigações, nomeadamente dos associados, aderentes, participantes, entidades gestoras e
depositários. Quando um fundo de pensões financia mais do que um plano de pensões, deve
estar claramente identificada a quota-parte do património que se destina a cada plano.

4. Os fundos de pensões podem ser extintos?


Os fundos de pensões podem ser extintos, com autorização prévia do Instituto de Supervisão
de Seguro de Moçambique, nas seguintes situações:

quando já cumpriram o seu objectivo;

quando já não existam participantes nem beneficiários;

quando o associado não pagar as contribuições necessárias para cumprir o FINANCIAMENTO


mínimo obrigatório do plano de pensões.

5. O que são planos de pensões?

Um plano de pensões é um programa que define as condições para receber uma pensão por:

reforma por velhice;

reforma por invalidez;

pré-reforma;

reforma antecipada;

sobrevivência.

O plano de pensões define:

as pensões a que os beneficiários podem ter direito;

as condições para receber uma pensão;

a forma como é calculado o seu valor.

6. Que tipos de planos de pensões existem?


Dependendo das garantias estipuladas, os planos de pensões podem ser:

Planos de benefício definido: quando os benefícios estão definidos previamente e as


contribuições para o fundo são calculadas de forma a garantir o pagamento daqueles
benefícios.

Planos de contribuição definida: quando as contribuições estão definidas previamente e os


benefícios vão depender do valor das contribuições entregues e dos rendimentos acumulados.

Planos mistos: quando se combinam características dos planos de benefício definido e de


contribuição definida.

Quanto à forma de FINANCIAMENTO, os planos de pensões podem classificar-se em:

Planos contributivos: quando estão previstas contribuições dos participantes.

Planos não contributivos: quando as contribuições são apenas efectuadas pelo associado.

7. Como são financiados os planos de pensões?

Os fundos de pensões fechados ou as adesões colectivas a fundos de pensões abertos podem


financiar planos de pensões de benefício definido, de contribuição definida ou mistos.

A adesão individual a fundos de pensões abertos só pode financiar planos de pensões de


contribuição definida.

8. O que são direitos adquiridos?


Considera-se que existem direitos adquiridos quando os participantes mantêm o direito aos
benefícios do plano de pensões, independentemente de continuarem ou não vinculados ao
associado (ou seja, o plano de pensões pode prever que o trabalhador que seja participante de
um fundo de pensões mantém o direito aos benefícios, mesmo que deixe de trabalhar para a
empresa associada do fundo).

9. O que é a portabilidade dos benefícios?

Nos planos com direitos adquiridos, os participantes que deixem de estar vinculados ao
associado (por exemplo, se mudarem de emprego) podem transferir o valor a que têm direito
para outro fundo de pensões. A essa possibilidade de transferência dá-se o nome de
“portabilidade”.

Nos planos contributivos, os participantes que deixem de estar vinculados ao associado podem
igualmente transferir para outro fundo de pensões o valor acumulado relativo às contribuições
que fizeram.

10. Os contratos e regulamentos de fundos de pensões podem ser alterados?

Podem ser feitas alterações, desde que não impliquem redução das pensões que já estejam a
ser pagas nem dos direitos adquiridos, se existirem. Qualquer alteração depende da
autorização prévia do Ministro que superintende a área das Finanças e é divulgada
publicamente no Boletim da República.

11. Como são pagos os benefícios dos planos de pensões?


Geralmente os benefícios são pagos através de uma pensão vitalícia (pensão que é paga
enquanto o beneficiário for vivo) mas, se tal estiver previsto no plano de pensões, o
beneficiário pode optar por:

Receber outro tipo de renda (por exemplo, uma pensão paga apenas durante um determinado
número de anos);

Receber de uma só vez parte do valor total da pensão a que tem direito (remição parcial em
capital). No entanto, o beneficiário só pode receber em capital até um terço do valor total da
pensão a que tem direito. Se o valor da renda mensal atribuída ao beneficiário for inferior a
10% do salário mínimo nacional que estiver em vigor, a entidade gestora, o associado e o
beneficiário podem fazer um acordo para que o pagamento da pensão seja feito de uma só vez
(remição total em capital)

12. É possível pedir o reembolso das contribuições nos planos contributivos?

Sim. Nos planos contributivos é possível aos beneficiários pedir o reembolso do valor
acumulado relativo às contribuições efectuadas pelos associados:

i. nas situações de pré-reforma,

ii. reforma antecipada,

iii. reforma por velhice,

iv. reforma por invalidez e ainda,

v. em caso de morte;

vi. em caso de desemprego de longa duração;

vii. em caso de doença grave ou incapacidade permanente para o trabalho.


O significado exacto de desemprego de longa duração e doença grave ou incapacidade
permanente para o trabalho está definido na legislação aplicável aos planos poupança-reforma
(PPR). O reembolso das contribuições poderá ser feito sob a forma de renda, capital ou
qualquer combinação destes dois tipos.

13. O que é a comissão de acompanhamento do plano de pensões?

No caso de fundos de pensões fechados e de adesões colectivas a fundos de pensões abertos


que abranjam mais de 100 participantes, beneficiários ou ambos, o cumprimento do plano de
pensões e a gestão do fundo de pensões são verificados por uma comissão de
acompanhamento do plano de pensões. A comissão de acompanhamento é constituída por
representantes do associado e dos participantes e beneficiários. Os representantes dos
participantes e beneficiários devem ser, pelo menos, um terço dos membros da comissão.

14. Quais são as funções da comissão de acompanhamento do plano de pensões?

A comissão de acompanhamento tem, nomeadamente, as seguintes funções:

Verificar o cumprimento da política de investimento e de financiamento do fundo; dos deveres


de informação a prestar aos participantes e beneficiários pela entidade gestora e pelo
associado;

Pronunciar-se sobre as alterações relevantes aos contratos;


A extinção do fundo de pensões;

A nomeação do actuário responsável e do revisor oficial de contas. Formular propostas,


sempre que considere oportuno.

A entidade gestora disponibiliza à comissão de acompanhamento toda a documentação que


esta solicite, necessária ao exercício das suas funções. Em especial, a entidade gestora envia
anualmente à comissão de acompanhamento cópia do relatório e contas anuais do fundo de
pensões, bem como dos relatórios do actuário responsável e do revisor oficial de contas.

15. Quem pode comercializar as unidades de participação dos fundos de pensões abertos?

As unidades de participação dos fundos de pensões abertos apenas podem ser comercializadas
pelas suas entidades gestoras e por mediadores de seguros do ramo Vida registados no ISSM -
Instituto de Supervisão de Seguro de Moçambique.

16. Que informações devem constar do regulamento de gestão de fundos de pensões


abertos?

O regulamento de gestão tem que conter, entre outros:


a identificação completa do fundo;

o valor e a forma de cálculo das unidades de participação;

a política de investimento do fundo;

a remuneração máxima da entidade gestora;

as comissões de emissão e de reembolso;

o rendimento mínimo garantido, se existente, e a respectiva duração;

as causas e os processos de extinção do fundo;

os direitos, obrigações e funções da entidade gestora;

a indicação das funções mais importantes do provedor dos participantes e beneficiários para
as adesões individuais e respectivo regulamento.

17. Como é feita a adesão individual a fundos de pensões abertos?

A adesão individual a um fundo de pensões aberto faz-se através da compra de unidades de


participação pelo contribuinte (subscrição). No momento da compra das primeiras unidades
de participação, deve ser celebrado entre o contribuinte e a entidade gestora um contrato de
adesão individual ao fundo.

18. Que informações devem constar do contrato de adesão individual a um fundo de pensões
aberto?

No contrato deverão constar as obrigações e deveres das partes, nomeadamente: as condições


em que serão pagos os benefícios; as condições de transferência de unidades de participação
de um participante para outro fundo de pensões e eventuais penalizações; as comissões que
serão cobradas.
19. Se mudar de ideias, o contribuinte pode desistir do contrato?

Nos primeiros 30 dias, o contribuinte que não seja pessoa colectiva é livre de desistir do
contrato (renúncia). Para tal, terá que informar a entidade gestora dessa intenção por carta
registada enviada para a sua sede social, no prazo de 30 dias a contar da data da adesão ao
fundo de pensões aberto.

20. O que acontece quando o contribuinte desiste do contrato?

Com a desistência, o contrato de adesão individual termina, com efeito à data em que foi
celebrado. É devolvido ao contribuinte:

o valor das contribuições por ele pagas, nos casos em que a entidade gestora assumiu o risco
de investimento;

o valor das unidades de participação à data da devolução (que pode ser igual, superior ou
inferior às contribuições pagas, nos casos em que o contribuinte assumiu o risco de
investimento). Para além da comissão de emissão a pagar à entidade gestora e de eventuais
custos de desinvestimento que revertem para o fundo, o contribuinte não tem de pagar
qualquer indemnização.

21. Qual o destino dos custos suportados pelo consumidor, pela desistência do contrato?
Houve cobrança de uma comissão de emissão e não existem outros custos de desinvestimento
suportados pela entidade gestora. A entidade gestora tem direito ao valor da comissão de
emissão.

Houve cobrança de uma comissão de emissão e existem outros custos de desinvestimento


suportados pela entidade gestora. A entidade gestora tem direito ao valor da comissão de
emissão, revertendo para o fundo o restante valor correspondente a outros custos de
desinvestimento. Não houve cobrança de comissão de emissão. A totalidade do valor
referente a custos de desinvestimento reverterá para o fundo.

22. Que informações devem ser prestadas, durante o contrato, aos participantes que
aderiram individualmente a fundos de pensões abertos?

Anualmente, a entidade gestora deve informar os participantes sobre, entre outros:

a evolução e a situação da sua conta individual (ou seja, os movimentos e o saldo);

a taxa de rendibilidade anual do fundo;

a forma e o local onde se pode aceder ao relatório e contas anuais do fundo;

alterações que existam ao regulamento de gestão ou às normas aplicáveis;

alterações respeitantes ao provedor e respectivos contactos.


Quando lhe for solicitado, a entidade gestora terá de facultar aos participantes todas as
informações necessárias para compreenderem o plano de pensões e o regulamento de gestão

23. Como é feita a adesão colectiva a fundos de pensões abertos?

A adesão colectiva a um fundo de pensões aberto faz-se através da compra de unidades de


participação pelos associados (subscrição).No momento da compra das primeiras unidades de
participação, deve ser celebrado um contrato de adesão ao fundo entre cada associado, ou
grupo de associados, e a entidade gestora.

24. Que informações devem ser prestadas aos participantes de adesões colectivas a fundos
de pensões abertos, no início do contrato?

Por lei, a entidade gestora deve entregar aos participantes um documento que indique, entre
outros elementos:

a identificação do fundo de pensões e as principais características do plano;

as condições de atribuição dos benefícios;

a informação sobre a existência ou não de direitos adquiridos, portabilidade e respectivos


custos;

os direitos e as obrigações das partes;

o tipo de riscos associados ao plano de pensões e a forma como estão repartidos;

as comissões cobradas aos participantes (se se tratar de um plano contributivo).


Deve, também:

entregar cópias do plano de pensões e do regulamento de gestão, ou indicar a forma e o local


onde estão acessíveis;

discriminar a informação que será enviada aos participantes e à comissão de


acompanhamento e com que frequência. Por acordo prévio entre o associado e a entidade
gestora, estas informações podem ser prestadas pelo associado ou pela comissão de
acompanhamento, apesar da responsabilidade ser sempre da entidade gestora.

Que informações devem constar do contrato de adesão colectiva a um fundo de pensões


aberto?

Os principais elementos a constar do contrato são:

a identificação do fundo, dos associados e da entidade gestora;

os planos de pensões a financiar; as condições de atribuição das pensões;

os direitos dos participantes e beneficiários;

o número de unidades de participação adquiridas;

as condições de transferência e penalizações;

as remunerações e comissões.

25. Que informações devem ser prestadas, ao longo do contrato, aos participantes de
adesões colectivas a fundos de pensões abertos?
Anualmente, a entidade gestora deve enviar aos contribuintes e, a pedido, aos demais
participantes, informação sobre, entre outros: os seus direitos, tendo em conta o tipo de
plano, a situação financeira do fundo e a sua rendibilidade; como obter o relatório e contas
anuais do fundo; as alterações ao plano de pensões, ao regulamento de gestão ou às normas
aplicáveis ao fundo.

A entidade gestora deve ainda informar os participantes sobre as seguintes alterações, no


prazo máximo de 45 dias a contar da data em que ocorreram:

alteração das regras do plano de pensões;

aumento das comissões e alterações importantes da política de investimento (no caso de


planos contributivos);

transferência da gestão do fundo de pensões para outra entidade gestora;

transferência da adesão colectiva para outro fundo de pensões.

Quando lhe for pedido, a entidade gestora deve facultar aos participantes:
ü todas as informações necessárias para compreenderem o regulamento de gestão e o plano
de pensões;

informação sobre o valor a que teriam direito se a relação de trabalho com o associado
terminasse e quais as possibilidades de transferir esse valor para outro fundo de pensões;
informação sobre o valor previsto para a sua pensão de reforma (nos planos de contribuição
definida);

cópia do relatório e contas anuais do fundo de pensões.

Por acordo prévio entre o associado e a entidade gestora, estas informações podem ser
prestadas pelo associado ou pela comissão de acompanhamento, apesar de a responsabilidade
ser sempre da entidade gestora.

26. Que informações devem ser prestadas aos beneficiários de adesões colectivas a fundos
de pensões abertos?

Quando estão preenchidas as condições para receber os benefícios, a entidade gestora


informa os beneficiários, de forma clara e esclarecedora, sobre os benefícios a que têm direito
e como estes podem ser pagos. A entidade gestora deve ainda informar os beneficiários que
recebam a pensão directamente do fundo sobre as seguintes alterações, no prazo máximo de
30 dias a contar da data em que ocorreram:
alteração das regras do plano de pensões;

transferência da gestão do fundo de pensões para outra entidade gestora;

transferência da adesão colectiva para outro fundo de pensões.

Quando lhe for solicitado, a entidade gestora facultará aos beneficiários a política de
investimento do fundo e o relatório e contas anuais.

27. Que informações devem ser prestadas aos participantes de fundos de pensões fechados,
no início do contrato?

Por lei, a entidade gestora deve entregar aos participantes de um fundo de pensões fechado
um documento que indique, entre outros elementos:

a identificação do fundo de pensões e as principais características do plano por ele financiado;


as condições de atribuição dos benefícios;

a informação sobre a existência ou não de direitos adquiridos, portabilidade e respectivos


custos;

os direitos e as obrigações das partes;

o tipo de riscos associados aos planos de pensões e a forma como estão repartidos;
as comissões cobradas aos participantes (se se tratar de um plano contributivo).

Deve, também:

entregar cópias do plano de pensões e do documento com a política de investimento ou


indicar a forma e o local onde estão acessíveis;

indicar a informação que será enviada aos participantes e à comissão de acompanhamento e


com que frequência.

Por acordo prévio entre o associado e a entidade gestora, estas informações podem ser
prestadas pelo associado ou pela comissão de acompanhamento, apesar de a responsabilidade
ser sempre da entidade gestora.

28. Que informações devem ser prestadas, ao longo do contrato, aos participantes de fundos
de pensões fechados?

Anualmente, a entidade gestora deve enviar aos contribuintes e, a pedido, aos demais
participantes informação sobre, entre outros:

os seus direitos, tendo em conta o tipo de plano, a situação financeira do fundo e a sua
rendibilidade; como obter o relatório e contas anuais do fundo;

as alterações ao plano de pensões, à política de investimento ou às normas aplicáveis ao


fundo.

A entidade gestora deve ainda informar os participantes sobre as seguintes alterações, no


prazo máximo de 45 dias a contar da data em que ocorreram:

alteração das regras do plano de pensões;


aumento das comissões e alterações importantes da política de investimento (no caso de
planos contributivos);

transferência da gestão do fundo de pensões para outra entidade gestora.

Quando lhe for pedido, a entidade gestora deve facultar aos participantes:

odas as informações necessárias para compreenderem o plano de pensões e a política de


investimento;

informação sobre o valor a que teriam direito se a relação de trabalho com o associado
terminasse e quais as possibilidades de transferir esse valor para outro fundo de pensões;

informação sobre o valor previsto para a sua pensão de reforma (nos planos de contribuição
definida);

cópia do relatório e contas anuais do fundo de pensões.

Por acordo prévio entre o associado e a entidade gestora, estas informações podem ser
prestadas pelo associado ou pela comissão de acompanhamento, apesar de a responsabilidade
ser sempre da entidade gestora.

29. Que informações devem ser prestadas aos beneficiários de fundos de pensões fechados?

Quando estão preenchidas as condições para receber os benefícios, a entidade gestora


informa os beneficiários, de forma clara e esclarecedora, sobre os benefícios a que têm direito
e como estes podem ser pagos. A entidade gestora deve ainda informar os beneficiários que
recebam a pensão directamente do fundo sobre as seguintes alterações, no prazo máximo de
30 dias a contar da data em que ocorreram:
alteração das regras do plano de pensões;

transferência da gestão do fundo de pensões para outra entidade gestora.

Quando lhe for solicitado, a entidade gestora facultará aos beneficiários a política de
investimento do fundo e o relatório e contas anuais.

30. Quais as funções da entidade gestora?

As funções da entidade gestora são definidas por lei. Como representante legal do fundo e
responsável pela sua boa administração e gestão, compete-lhe, por exemplo:

avaliar as responsabilidades do fundo, ou seja, os valores que o fundo tem de cobrir;

seleccionar e negociar os investimentos que devem fazer parte do património do fundo, de


acordo com a política definida;

representar os associados, participantes, contribuintes e beneficiários no exercício dos seus


direitos; cobrar as contribuições;

garantir os pagamentos devidos aos beneficiários.

31. Quais os deveres gerais de actuação das entidades gestoras?

As entidades gestoras devem, nomeadamente:


agir de modo independente e no interesse exclusivo dos associados, participantes e
beneficiários;

demonstrar elevada diligência e competência profissional;

fornecer em tempo útil a informação exigida pela lei;

evitar situações de conflito de interesses.

Quais as competências do provedor dos participantes e beneficiários para as adesões


individuais aos fundos de pensões abertos?

Cada fundo de pensões aberto que admita adesões individuais tem obrigatoriamente um
provedor, ou seja, um perito independente de reconhecido prestígio e idoneidade, que analisa
as reclamações apresentadas por participantes e beneficiários ou seus representantes. O
provedor analisa, no prazo máximo de dois meses, as reclamações que lhe são apresentadas
pelos participantes e beneficiários do fundo de pensões.

O provedor deve comunicar ao reclamante, por escrito, os resultados da análise da reclamação


e incluir, caso existam, as recomendações que decida fazer à entidade gestora. Deve, também,
dar conhecimento à entidade gestora do resultado dessa apreciação. A entidade gestora deve,
no prazo máximo de dois meses, informar o provedor se aceitou ou não as recomendações por
ele feitas e o provedor deve transmitir essa informação, por escrito, ao reclamante. As
recomendações são divulgadas, anualmente e constam do registo do ISSM.

Os participantes e beneficiários podem solicitar ao ISSM informação sobre os procedimentos


que regulam a actividade do provedor.

32. A quem compete a supervisão dos fundos de pensões?


A supervisão da gestão de fundos de pensões é da competência do Instituto de Supervisão de
Seguros de Moçambique (ISSM), abrangendo os fundos de pensões e as respectivas entidades
gestoras. A supervisão é efectuada quer através da análise da informação enviada pelas
entidades gestoras, quer da realização de acções de inspecção nas instalações das entidades
gestoras e comercializadoras.

33. Quais as normas aplicáveis à publicidade feita aos fundos de pensões?

Para protecção dos interesses dos contribuintes, participantes e beneficiários, a publicidade


efectuada pelas entidades gestoras está sujeita à lei geral e a regulamentação específica. Do
regime legal, destacam-se as seguintes regras:

É proibida a publicidade que quantifique resultados futuros baseados em estimativas da


entidade gestora, salvo se indicar claramente e de forma realçada que se trata de uma
simulação.

Nos documentos destinados ao público e na publicidade a fundos de pensões abertos, deve


indicar-se claramente que o valor das unidades de participação varia de acordo com a
evolução do valor dos activos do fundo de pensões.

Devem também especificar se é garantido um rendimento mínimo.

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