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DA ALMA
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Sumário
Cap. 1 | A arte vale mais que a guerra 3
Antes da batalha, o cinema 5
A sinfonia dos famintos 12
Engenheiros da Alma 20
Cap. 2 | Apeirokalia 21
Cap. 5 | Conclusão 41
Cap. 1
A arte
vale Mais
que a guerra
4
Antes da
batalha,
o cinema
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Projections of America
7
Uma das histórias mais marcantes da
Segunda Guerra Mundial foi quando
o Exército americano, preocupado
com a entrada dos EUA na guerra, se
aproximou de grandes artistas de ci-
nema para viabilizar um grande pro-
jeto de produções cinematográficas. A
ideia era produzir filmes sobre os EUA
que seriam exportados para a Europa
antes da entrada dos americanos no
continente. Os filmes contariam his-
tórias sobre a cultura americana, so-
bre a liberdade, sobre os valores de
seus povos, e ajudaria a sensibilizar e
contextualizar o povo europeu que já
estava bastante fragilizado pela guer-
ra. O projeto foi encabeçado pelo pro-
dutor e roteirista americano Robert
Riskin. A história desses filmes está
documentada no filme Projections of
America (2014) que conta toda epopeia
de generais e produtores para con-
seguir realizar esses filmes a tempo.
Em uma grande empreitada patrióti-
ca, artistas e militares se uniram para
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dar cabo a um dos projetos de guerra
mais peculiares e importantes da his-
tória da humanidade.
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Robert Riskin e
outros produtores
da série de filmes
Projections of America
10
Criados por cineastas politicamen-
te engajados que, enquanto lutavam
contra a tirania no exterior, queriam
também mudar fundamentalmente a
própria América.
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A SINFONIA
DOS
FAMINTOS
13
Não há comida. Já existem
casos de pessoas se
alimentando de animais que
encontram na rua. Algumas
histórias remotas apontam a
possibilidade de canibalismo.
No meio da desumanidade
e do caos, do barulho de
sirenes e bombas, ao longe
ouvimos um som inesperado
e melancólico. Não é mais o
som de explosões e gritos, é o
som vagaroso de um violino.
Ele está sendo afinado.
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Um minuto após sua afinação, ou-
vimos o som de mais quatro instru-
mentos de corda sendo afinados em
conjunto. É a tradicional afinação de
instrumentos que precede os con-
certos sinfônicos. São os músicos da
orquestra de São Petesburgo se pre-
parando para executar uma nova
composição de Dimitri Shostakovich,
junto de seu compositor que estava no
local. A plateia está repleta de famin-
tos esperando para ouvir execução da
obra. A sociedade russa ansiava por
algo que pudesse reconfortar suas
almas mais do que reconfortar seus
corpos. Mais do que ajuda humanitá-
ria, o que eles precisavam era de uma
sinfonia. E foi isso que Shostakovitch
ofereceu ao seu povo.
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“Estavam todos
famintos, mas
estavam todos
vestidos de
gravata
borboleta.”
— Jason Caffrey
jornalista da BBC que publicou
uma matéria sobre o episódio
Foto de Amy Humphries
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A execução da Sétima Sinfonia de
Shostakovich foi um desses aconteci-
mentos que colocam em perspectiva
nossas escolhas pessoais. Os músicos
da orquestra executaram a sinfonia
tendo se alimentado somente de al-
gumas porções de arroz há semanas.
Suas roupas não cabiam mais em seus
corpos mirrados. A situação da plateia
era a mesma e ainda assim eles opta-
ram por estar juntos nesse momento
cultuando a beleza da música. A cena
toda pode ser resumida na constata-
ção de Ksenia Matus, uma das russas
que estava na plateia:
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“Uma garota saiu da plateia
e foi até o palco com um
punhado de flores.
Ela deu as flores ao maestro.
Você consegue imaginar
flores novinhas em uma
cidade em barricadas?
Foi um momento
inexplicavelmente alegre.”
Foto de Annie Spratt
A
sos próprios
arte temcorpos. Acontecimentos
esse poder de moldar
históricos
a almagrandiosos e nobres
humana. Ela como
é capaz de
esses que descrevemos
alimentar algo para alémsão possíveis
dos nos-
somente quando
sos próprios temos
corpos. a consciên-
Acontecimentos
cia do papel
históricos primordial
grandiosos da arte
e nobres em
como
nossas vidas.
esses que Isso nos leva
descrevemos são apossíveis
pensar:
com
somente o tipo detemos
qual quando conteúdo estamos
a consciên-
nos alimentando?
cia do Qual tipo
papel primordial de arte
da arte em
estamos consumindo
nossas vidas. Isso noscom
levanossas fa-
a pensar:
mílias
com quale amigos?
o tipo deQuem são os
conteúdo enge-
estamos
nheiros da nossa alma?
nos alimentando? Qual tipo de arte
estamos consumindo com nossas fa-
mílias e amigos? Quem são os enge-
nheiros da nossa alma?
Apeirokalia
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“O teatro e a poesia também podem
abrir as almas a um influxo do alto.
À música — a certas músicas — não
se pode negar o poder de gerar efeito
semelhante. A simples contemplação
da natureza, um acaso providencial,
ou mesmo, nas almas sensíveis, certos
estados de arrebatamento amoroso,
quando associados a um forte apelo
moral (lembrem-se de Raskolnikov
diante de Sônia, em Crime e Castigo),
podem colocar a alma numa espécie
de êxtase que a liberte da caverna e da
apeirokalia.”
— Olavo de Carvalho
Foto de Allef Vinicius
25
“De todas as artes, o cinema é para
nós a mais importante.” Claro que ele
estava usando do cinema como fer-
ramenta na condução de uma revo-
lução, porém não se deve desprezar
a percepção que o tirano teve da arte
cinematográfica.
26
Cap. 3
Arte e
civilidade
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Eu atribuo essa dificuldade que o bra-
sileiro tem de lidar com a diferença à
baixíssima experiência que temos da
arte e da beleza. A arte trata funda-
mentalmente de diferenças formais.
As esculturas por exemplo se diferen-
ciam menos pela matéria de que são
constituídas do que pela forma que
foram construídas. Uma escultura
de Apolo pode ser feita de bronze, de
mármore ou de madeira e mesmo as-
sim terá poucas diferenças em termos
de representação simbólica. Ou seja,
a matéria, o conteúdo de que são fei-
tas as obras de arte é praticamente o
mesmo, o que as diferencia é a forma
como a matéria é modelada. O mesmo
vale para a pintura, cinema, arquitetu-
ra, música, etc. Basta pensar quantas
músicas diferentes foram compostas
até hoje somente com a escala penta-
tônica. As diferenças materiais não
comprometem tanto o resultado final
de uma obra. Esse resultado é deter-
minado pela sua concepção formal.
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Foto de Sarah Shaffer
30
O indivíduo que consome arte com-
preende que existem infinitas manei-
ras de representar a beleza utilizando
a mesma matéria. Ou seja, dentro do
campo da beleza, existem inúmeras
formas de representar o que é subli-
me.
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Santa Teresinha diz que um jardim
seria feio se todas as flores fossem
iguais. É preciso que exista diferen-
tes formas de expressão do bem para
que haja beleza e harmonia na socie-
dade. Mas o que notamos na maneira
como os brasileiros agem entre si é
que não há essa percepção. A ideia de
que grupos com interesse em comum
podem e devem agir de maneira dife-
rente para conquistar objetivos seme-
lhantes é inimaginável para nós. Isso
não acontece somente entre católicos.
Essa dificuldade de percepção está
espalhada por todos os meios. Dentro
de empresas isso é extremamente co-
mum. Mesmo sendo evidente que o
objetivo de uma empresa deveria ser
o mesmo para todos os funcionários
e colaboradores, muitas vezes vemos
a formação de pequenos grupos in-
ternos que criticam cegamente um ao
outro.
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“Jesus aceitou instruir-me a respeito
desse mistério, pôs diante dos
meus olhos o livro da natureza, e
compreendi que todas as flores que
Ele criou são belas, que o brilho da
rosa e a alvura do lírio não impedem
o perfume da pequena violeta ou
a simplicidade encantadora da
margarida… Compreendi que se
todas as florzinhas quisessem ser
rosas a natureza perderia seu adorno
primaveril, os campos não seriam
mais salpicados de florzinhas…
Assim é no mundo das almas, o
jardim de Jesus.”
— Santa Teresinha
do Menino Jesus
Foto de Maja Petric
34
Cap. 4
Toda arte
pode ser
uma catedral
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35
O escritor e conferencista francês
Fabrice Hadjadj conta um epi-
sódio de sua vida que nos abre para
as possibilidades transcendentais da
arte. Conta o escritor que ao cami-
nhar na rua com um amigo ateu, eles
discutiam sobre a existência de Deus.
Passaram em frente a uma catedral e
Hadjadj ofereceu para que seu amigo
entrasse na igreja e contemplasse a
arquitetura do prédio. O amigo acei-
tou e entrou na catedral enquanto o
escritor esperava do lado de fora. Ao
voltar de dentro da catedral o amigo
de Hadjadj o olhou e disse: “eu creio”.
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É uma representação tão poderosa
que levou o arquiteto inglês Augustus
Pugin a dedicar toda sua vida para ten-
tar restaurar esse estilo no século XIX
na Inglaterra. Pugin acreditava que a
arquitetura gótica era a única capaz
de nos fazer lembrar da verdadeira
sacralidade de um templo. Todo estilo
neogótico que surgiu na Inglaterra foi
uma invenção de Pugin ao tentar res-
gatar o estilo medieval. Não nos resta
dúvidas de que o contato com uma ca-
tedral é decididamente curativo.
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“Se conseguíssemos
compreender a arte
gótica, seríamos
irresistivelmente
levados de volta à
verdade” — Rodin
Foto de Valentin B. Kremer
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No período medieval, a igreja era ponto de en-
contro e de discussão para todos os habitantes
locais. Não podemos dizer algo parecido do nos-
so entretenimento hoje? Quantas de nossas con-
versas são pautadas pelo que vemos e ouvimos
na televisão e na internet? E o que estamos ven-
do e sobre o que estamos conversando? Essa são
perguntas pertinentes que todos nós devemos
nos fazer. Esse pequeno livro é um convite a uma
profunda reflexão sobre o tipo de conteúdo que
estamos consumindo.
compatilhe essa página marcando a @lumine.tv
40
Cap. 5
conclusão
41
É notável que a maior parte das pla-
taformas de conteúdo e canais de
entretenimento não oferecem bons
conteúdos para um público preocu-
pado com valores espirituais e cultu-
rais tradicionais. Seja por afinidades
ideológicas escusas, desconhecimen-
to ou até mesmo desprezo, os atuais
canais de conteúdo negligenciam es-
ses temas e não oferecem produtos
de qualidade para quem compartilha
desses valores. O fato é que essas pro-
duções já existem e ainda há espaço
para criar muitas outras. Porém, até
hoje não houve uma iniciativa focada
na criação de novas produções artísti-
cas e no resgate de filmes e séries que
tratam dos mesmos temas. É nessa
lacuna que a Lumine irá atuar, crian-
do novas produções e dando um novo
enfoque a produções já realizadas que
dividam desses valores.
42
Por isso, quero fazer um convite para você.
43
Nós queremos que a Lumine seja uma alter-
nativa para todas pessoas que entendem a
importância de moldar a nossa alma com o
melhor conteúdo disponível. E queremos te
convidar a ser um dos primeiros membros
fundadores desse movimento de renovação
cultural. Por isso é muito importante que
essa mensagem chegue ao maior número de
pessoas possível. Podemos contar com você?
TEXTO
Matheus Bazzo
FOTOS — EXCETO INDICADAS COM LEGENDA
Matheus Bazzo
DIREÇÃO DE ARTE
Vicente Pessôa
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