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E GÊNEROS NA BNCC
Jacqueline P. Barbosa
(IEL/UNICAMP)
Roxane Rojo
(IEL/UNICAMP)
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GÊNEROS DE TEXTO/DISCURSO: NOVAS PRÁTICAS E DESAFIOS
GÊNEROS DE TEXTO/DISCURSO: NOVAS PRÁTICAS E DESAFIOS
postulam a consideração desses elementos à luz das condições perspectiva crítica, inclusiva, não-adaptativa, que inclui a compreensão
de produção. A segunda mudança paradigmática diz respeito das razões das desigualdades sociais e de estigmas sociais, culturais,
à concepção de currículo. Não se trata mais de propor objetos étnicos, de gênero, de orientação sexual, dentre outros, e comprometido
de ensino a partir do que a ciência de referência determina ou
com a transformação da realidade. Por mais que, por conta dos conflitos
do que a tradição das disciplinas consagrou, mas de pensar nas
mundiais contemporâneos, sobretudo os bélicos, e do avanço do estado
necessidades de aprendizagem colocadas pelas práticas sociais
1
de direito, se possa observar uma (aparente) zona de intersecção entre
e por condições para delas participar.
gem (obJe�tvos de aprendizagem, expectativa de aprendizagem, direitos A BNCC é, claro, atravessada por essa disputa, tendo sido produzida
de �prend1zagem, habilidades/competências), ainda que celebrado por ao longo de dois governos: iniciada no Governo Dilma e finalizada, pós
muitos educadores, não representa um uníssono. A leitura das necessi golpe parlamentar, no Governo Temer. A consideração dos direitos de
dades de aprendizagem colocadas depende de pelo menos duas outras aprendizagem/expectativas de aprendizagem, que figura até a segunda
iefinições: pro�eto ed�cativo e concepção do objeto, no caso, língua/ versão do documento, cedeu lugar às habilidades e competências.
e .l'.tn� vo, a lv11 do dos ultraconservadores. Retrocedendo a urna conccpção tradicional e ;,nf·
a década de 1990 no Brasil: primeiro, se definiram os descritores e as
v�ca ( e cu:rfcu 1o, pr�vê o tolhimento da liberdade d • expressão, ti proibição dr, tratamentn
�sc!11erda é dominnnte na escola e devo ser combatido e de que certos assuntos são de lórum prevê a possibilidade de subversão dessa relação, mas isso só ocorrerá
��•.mt �1,vc;1<101 ser uarudos ".º âmbito lamlllar, ,\ priuctpal rcssonâu in dessa J)�rspectiva , 0
p���f � ;)cln .n�! tido, que, n.111.cs de querer. expurgar do escola as ideologias (como se isso fosse
efetivamente se a apropriação do documento levar em conta os eixos
. ss ' e , preren e �unm11r que e sua seja hcgomõnicu. abe destacar o papel desses u JóS
estruturantes das habilidades - as práticas de linguagem contextualizadas
��nn�cllrvod�1.·csl11a rctã1mda du ON • , de CJU(1lt1m:r menção á iguuldadc de gêuero iclelllid�d ! d�
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a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), ensino, sobretudo de Língua estrangeira. Mas trata-se de considerar as
Já as habilidades, elas expressam as aprendizagens essenciais que racionais, convocam responsabilidade social, envolvendo uma
ética (valores).
devem ser asseguradas aos alunos nos diferentes contextos escolares
sendo compostas por: ' Max Weber vai distinguir esferas de atividade/ação/atuação
(. . . )
Note-se que o processo cognitivo não vale por si só, mas sempre Assim sendo, os gêneros de discurso servem ao funcionamento
supõe conhecimentos e é contextualizado. das suas esferas de origem, com suas éticas específicas: íntima,
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nimento, científica, acadêmica, escolar e assim por diante. Básica, de 2 0 1 3 - e com as contribuições da pesquisa acadêmica e de
(ROJO, 2014, pp. 1 0 8 - 1 0 9 ) currículos estaduais, levando em conta fundamentos básicos do ensino das
Isso significa que as habilidades estão (ou devem estar) também com uma formação voltada a possibilitar uma participação mais plena
relacionadas a atividades, gêneros, ética e valores e a alguma perspectiva do jovem em formação nas diferentes práticas sociais que envolvem o
de intervenção na realidade. uso das linguagens e/ou são por elas constituídas.
Por essa razão, a leitura da BNCC não pode se restringir aos qua
Como indicam as DCNEM,
dros de habilidades nem tampouco partir deles, sob o risco de operar o
Além de uma seleção criteriosa de sabe
reducionismo comentado anteriormente. Tampouco se deve construir,
res, em termos de quantidade, pertinência e
de forma descontextualizada, independente das atividades da esfera, um
relevância, e de sua equilibrada distribuição ao
quadro de gênero por ano, procedimento que serve antes à objetificação
longo dos tempos de organização escolar, vale
do gênero, seu afastamento das práticas e sua redução à forma, já tão
possibilitar ao estudante as condições para o
questionada por autores como Fiorin (2006), Faraco (2009) , Brait e
desenvolvimento da capacidade de busca autô
Pistori (2012), Barbosa (2012 e 2 0 1 9 , no prelo).
noma do conhecimento e formas de garantir sua
Deriva daí a necessidade de refletir sobre os letramentos e gêneros
apropriação. Isso significa ter acesso a diversas
contemplados nos campos de atuação considerados pela BNCC.
fontes, d e condições para buscar e analisar
Antes, porém, cabe uma contextualização do documento em relação novas r eferências e novos conhecimentos, de
às práticas de linguagem contemporâneas, que vão apontar para a ne adquirir as habilidades mínimas necessárias à
cessidade de consideração dos novos e multiletramentos. Por seu caráter utilização adequada das novas tecnologias da
interdisciplinar, será considerada aqui a parte do documento destinada ao informação e da comunicação, assim como de
Ensino Médio, que supõe continuidades e aprofundamentos em relação d ominar rocedimentos básicos de investigação
p
ao Ensino Fundamental, nível esse que também será considerado de e d e produção de c onhecimentos c ientíficos. É
A BNCC da Área de Linguagens e suas Tecnologias busca con tos. (BRASIL, 2 0 1 3 , p .181, nfase adicionada)
ê
constituídas no Ensino Médio, em diálogo com um conjunto de docu Dess e m odo, a rea de
Á L ngui agens e suas Tecnologias toma a
mentos e orientações oficiais - tais como a Lei nº 1 3 . 4 1 5 , de 02/2017, seu cargo a c onstrução de conhecimentos de/sobre diversas linguagens
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com práticas de linguagem situadas, nas diferentes esferas/campos de formulação e avaliação de propostas e tomada de decisões
No Ensino Fundamental, a BNCC busca "garantir aos estudantes a adotada no Ensino Fundamental, a pesquisa e a produção
ampliação das práticas de linguagem e dos repertórios, a diversificação colaborativa precisam ser o modo privilegiado de tratar os
482), através das práticas de linguagem em campos de atuação diversos, e estéticos que permeiam essas decisões devem se tornar foco
vinculados com o enriquecimento cultural próprio, as práticas cidadãs, das atividades pedagógicas.
o trabalho e a continuação dos estudos. Gradativamente para alguns e já Para isso, é fundamental que sejam garantidas aos estudantes
do Ensino Médio, já poderão votar e entrarão em novas categorias de devem ser orientadas para a criação e o encontro com o inu
classificação etária, tanto em programas culturais como em aspectos sitado, com vistas a ampliar os horizontes éticos e estéticos
valores da sociedade democrática e do estado de direito. Exi enunciados nas diferentes semioses - visuais (imagens estáticas e em
gem ainda possibilitar aos estudantes condições tanto para o movimento), sonoras, verbais (oral e escrita), corporais/gestuais/cênicas.
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em diferentes modalidades (oral, escrita) combinam-se com textos visuais A primeira geração da Internet (Web 1 . 0 ) principalmente dava in
também em diferentes modalidades (imagens estáticas e em movimento), formação unidirecional (de um para muitos), como na cultura impressa
sonoros (modais, tonais, seriais)? e corporais/gestuais/cênicos. ou de massa. Com o aparecimento de sites de rede social, como Orkut e
Facebook, a Web tomou-se cada vez mais interativa. Nesta chamada Web
O cinema talvez tenha sido a primeira mídia a combinar em textos
2 . 0 (segunda geração da rede mundial de computadores), são principal
complexos, progressivamente, todos esses sistemas de signos (corporali
mente os usuários que produzem conteúdos em pastagens e publicações,
dade/gesto em cena com imagem em movimento, música, fala e legenda/
em redes sociais interativas como Facebook, Twitter, Tumblr, Google+,
créditos escritos), processo esse que foi intensificado de muitas e novas
na Wikipedia, em redes de mídia como You'Iube, Flickr, Instagram etc.
maneiras no mundo digital.
desses recursos, como também é determinante para uma apren mente nas redes sociais. Hoje, cogita-se a Web 4.0 que, segundo alguns
dizagem significativa e autônoma pelos estudantes. estudiosos, será como um gigantesco sistema operacional inteligente e
Além disso, sua utilização facilita o diálogo com e sobre o mundo dos indivíduos e das coisas, utilizando os dados disponíveis, instantâneos
globalizado e transcultural e põe em cena as mestiçagens linguísticas, ou históricos, para propor ou suportar a tomada de decisão, com base
culturais, étnicas e sociais, características deste início de século. num complexo sistema de inteligência artificial, que operará com base
impresso (ou da palavra escrita), que deve continuar tendo centralidade gens ou scmioscs são consideradas práticas de multiletramentos, na mcd.1da em que exigem
digital que operam a partir de uma nova mentalidade, regida por uma ética diferente."
9 Segundo a Wikipedio, "ethos, na Sociologia, é uma espécie de síntese dos costumes de _um
6 povo. O termo indica, de maneira geral, os traços característicos de um grupo, do ponto de vista
Alguns a�tor�s va_Jem-se do t:nno "multimodalidade" para designar esse fenómeno.
7 social e cultural, que o diferencia de outros. Seria assim, um valor de identidade social. f:thos
De �aneira s11n�ht1cada, � musica modal privilegia o ritmo; a tonal, a melodia e a harmonia e
que significa o modo de ser, o caráter. Isso indica o comportamento do homem dando ongcm
a sena! descontrn] esses sistemas anteriores, por meio de tecnologias cletrônicas e digitais.
a palavra ética." (Disponível cm: http://pt.wikipcdia.org/wiki/Ethos. Acesso cm: 2 1 / 0 7 / 2 0 1 4 . )
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ações, procedimentos e atividades (curtir, comentar, redistri (que deve ser explorado pela escola), não é rara a profusão de discursos
buir, compartilhar, taguear, seguir/ser seguido, remixar, curar, de ódio e de notícias falsas (as fake news ), que intensificam o fenômeno
de construção de sentidos. que grande parte dos jovens participam de alguma forma das práticas da
Merece destaque o fato de que, ao alterar o fluxo de comunica cultura digital que o fazem de forma ética, estética e crítica.
permitem que todos sejam produtores em potencial, imbricando várias temporalidades: do passado, na medida em que é responsável por
mais ainda as práticas de leitura e produção (e de consumo ensinar o patrimônio humano em termos de conhecimentos construídos
e circulação/recepção ). Não só é possível para qualquer um (sendo que parte considerável de informações relativas a esses conhe
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Dessa forma, considerar as culturas juvenis na escola não é só intra-área como com as outras áreas de conhecimento. Deste modo, a
aco�her e dialogar com as diferentes grupalidades ou identidades ju área, na medida em que se volta para as práticas de linguagens em cir
vems, compreendendo suas manifestações nos diferentes espaços da culação na vida social, propõe que os campos de atuação social sejam
1 1 •
es��la, suas marcas corporais, seus discursos e estéticas próprios, suas um dos seus principais eixos organizadores Como vimos, as esferas
pr�h�as da cultura corporal, suas produções nas diferentes linguagens ou campos de atividade humana ou de circulação dos discursos - já que
artísticas, mas também as formas de expressão e práticas socioculturais toda atividade humana, seja qual for sua materialidade, se entretece
q�e atravessam essas várias grupalidades. Nesse sentido, alguns dos como enunciados e discursos - são a instância organizadora da produ
discursos e enunciados, ações, procedimentos e atividades já menciona ção, circulação, recepção dos textos/discursos na vida social e por isso
dos são também considerados na BNCC, além daqueles que transitam, apresentam-se como um organizador potente também para as reflexões
por exemplo, no universo dos games, na cultura de fãs e nas formas e aprendizagens escolares sobre eles.
de participação juvenis.
críticas, integra todos os componentes da Área de Linguagens e suas lnglcs», provavclmcmc ,, ;cja pura os componcntcs Art • e l:duc,1ção Fisi�t e ,1 vislumbre de
po. sibllidades de pràtlcas que articulem saberes e pcrspcctivas dos diferentes componentes
Tecnologias. Para todas as linguagens, trata-se de possibilitar a partici ou que possam ensejar pràticas Inter ou transdisciplinarcs demanda o d cs c n v ul v i m c n io (l sssu
pr posi\:ilo gcuérlca, novas ubordagons tcôrlco-rnctodolôgicas, discussões com ()S pro fossares,
pação em práticas de produção e recepção de discursos que sempre se
ações de lorrnução, dentre o u t ra s neccssldades. Em rclm)ílo 1
) 111·1Iculaçíl(1 dcsahcres e perspcc
pautam pelas considerações do contexto de produção articulado com tivas dos diferentes componentes no contexto da csferujornullstico-mldiática, pode-se dar lui
O
ao .1011111li.smo cultural, ao que u _grande mídin não comcmpla cm termos nrtlsücos 1.1 e u l t u ra i s
funcionamento das semioses nos enunciados/produções, cuja análise (e �s ruzões disso) e ; eventual neeessldade ou posslbltidud • de divulgações dus produções
artisticas e cuhurals locais cm publicações variadas zines, k•gs, podcasts, playllsts eic.>,
deve se reverter para o incremento das situações de uso. Ou seja, os
.:is prá!iCHS cs p o rt i v as privllcglndns pelu rnldla ( i nclus iv e com relação i\ desigualdade entre
c?mponentes se integram na medida em que trabalham com práticas e géneros, cm termos de cobertura (e ünanciarncnto). os padrões corpornis vcículaüos, uos
de sentidos de circulação social, por meio da formação de leitores/pro de p o l l t i ca pública ou de garmuías legais (CHmpn da v i da pública), Em relação no campo etc
ntuação dn vida p ú b l i c a , cahcrin nindn reivindicar espaços pi1111 práticas ·sn< rtlvas e tlü cultura
dutores de textos (produsuários'") na perspectiva dos multiletramentos corporal, cq11ipt11110111os.:: espaços culturais bem como o participação ela comunidade na sun
, . '
gcstilo, cnrudoria e orga11i7.açl10. 11 uure t1ulm., p'os�ihilill11dt:S. No entupo artlstico; 111.!m ele outras
em p�aticas de recepção e produção de sentidos nas diferentes linguagens
articulações possíveis na linhu do destacado 1111s ouuos c:11111:111s. a ccnsidci 1çi!o dn · diferent ·s
em diversos campos de atuação. mnrlalidadcs Artísticas reclama cm especial 11n, tratamento intcrdisciplinur nu ahordngcm dns
s ó cl o hlstoricarnerue constiruídns. Asstm, por excrnp]o, 11111 e pcttlculo de Pina Uauch pode ser
cm ação.
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tempos dados para lazer, práticas das culturas corporais, práticas cul
2. CAMPOS DE ATUAÇÃO, LETRAMENTOS E GÉNEROS
ENSINO FUNDAMENTAL
contemplados. A consideração de áreas e focos de interesses e afinidades
ENSINO MÉDIO
Anos iniciais Anos finais dos jovens abre espaço para que se possa ter em conta diversas práticas
Campo das práticas de estudo Campo das práticas de Campo das práticas de rentes letramentos. Novos e multiletramentos são também considerados
Campo jornalístico-mi- Campo j o r n a l í s t i c o - m i - campo artístico literário. Ao mesmo tempo, os letramentos valorizados
diático diático
são também contemplados nas situações de reflexão e discussão sobre
Campo da vida pública
Campo de atuação a vida Campo de atuação a vida a condição juvenil, sobre o trabalho na contemporaneidade, numa zona
pública pública
de intersecção com os campos da vida pública, jornalístico midiático e
de seus campos de interesses, afinidades, antipatias, angústias, temores Para além dos letramentos valorizados que atravessam práticas
etc., que possibilite uma ampliação de referências e experiências cultu institucionalizadas de participação, a BNCC prevê que outras formas de
rais diversas e do conhecimento sobre si, tendo em vista a coletividade participação sejam consideradas:
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problemática ou promover uma reflexão/ação, posicionando dados e divulgação/socialização dos resultados. Aqui, tanto os g�neros
se em relação a essas produções e manifestações. (BRASIL, considerados para leitura/consulta como para produção são ampha�os.
2 0 1 8 , p. 5 1 4 )
Para além dos gêneros já consagrados relacionados à divulgação cien
Assim, ao lado de gêneros já consagrados na escola, como debate e enciclopédia, reportagem, texto didático etc. - são considerados tambem
projeto de intervenção social, formas de participação digital são conside videoaula relato multimidiático de campo, documentário, infográfico,
' " ,..,
radas e gêneros como political remix e meme são sugeridos. Afinal, um cartografia animada, vlogs e podcasts de diferentes naturezas, gene�os
cartaz com palavras de ordem em uma manifestação contra a exploração multissemióticos, textos hipermidiáticos, que suponham colaboraçao,
capitalista não deixa de expressar um ponto de vista relevante sobre a próprios da cultura digital e das culturas juvenis" (BRASIL, 2 0 1 8 , P· 1 4 1 ).
3. Campo das práticas de estudo e pesquisa: Abrange a pesquisa, Como resultado de um trabalho de pesquisa sobre produções
sobre as linguagens, a construção do conhecimento científico e para o possa/tenha que existir, as habilidades mobilizadas estariam
desenvolvimento de uma autonomia relativa aos processos de aprendi mais ligadas à síntese e percepção das potencialidades e for
zagem (por vezes referida como "aprender a aprender") . mas de construir sentido das diferentes linguagens. Ambas
procedimentos de pesquisa. Ganham destaque a progressão das apren sentidos a um gif o meme. Da mesma forma que fazer uma
dizagens relativas às práticas de pesquisa: recorte do problema/questão comunicação oral adequada e saber produzir gifs e memes
2011 nos P.LJA llg:1dus fl<I mo i111c11lo Occupy Wa/1 Street: "The zombie had emerge as onc
ol' mnuy key syrnhols ui' thc Occupy movcmeru -standing in for 'undcad corporations' that
werc sucking Lhe lifcblood ol'thc 99 percent, s 1111 ss exccutives who had lost thcir humanity
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de investigação da área e para o entendimento de que os co que mais demandas traga para escola atualmente. Em tempos em que a
nhecimentos sobre as línguas e as linguagens são construções desinformação é uma ameaça à democracia e em que a imprensa sofre
outras variedades devem ter espaço e devem ser legitimadas. focam a relação dos gêneros com atividades e características da esfera,
A perspectiva de abordagem do português brasileiro também supondo a análise dos agentes, diferentes interesses, conflitos e questões
' London Group-· GN LJ vai ressaltar a importância da consideração dos diferentes letramentos:
possibilitar acesso e aos conhecimentos e ao patrimônio imaterial, por
"The role ofpcdagogy is to develop an epistcmology ofpluralism that providcs access with�ut
outro, acabam por ignorar (e, em muitos casos, silenciar) muitas vozes '3. pcoplc having to crase or lcav_c bchind �i�c�ent subjecrivitics" (�NL, 2000, p . 1 8 ) . Para ale1_1�
das questões que dizem respeito às subjet ividades, a ep1stemolo?ia do pl�ral1smo, no q�c �1z
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a sites de curadoria que atestam a fidedignidade do relato dos relacionados aos novos e multiletramentos são contemplados e a condição
(fake news
de analista, de crítico, de editor ou articulista, de booktuber,
14
A propósitodus/uke11ew�·. seu traramento rwdc se dor 1 1 0 iimbito da , ·ploraçilu do gôn�ro m)I[ ia, de vlogger (vlogueiro) etc., como forma de compreender as
ºº."� cleslaqu� pum a qucsl?o da fldedlgnidade da infonnaçã ou pode se dar, de íorma 1nab
condições de produção que envolvem a circulação desses textos
c1�1l1ca, o partir da sua �on 1dcrn�'Yo como ur.n outro gcni.:ro do dis mrso. Alguns pesquisadores
vem ;_1po111amlo para a incoerência da d1:nommaçlio.fnke new.l': SC l: •:1i1k1/', não pode ser "news ':
objetivo: desacreditar/desmoralizar/prejudicar alguém, alguma instituição ou partido, confundir
�� é lals,1, níl.n pode. ser notfcia . Outros destucam que noueíns lulsas cxlstinun lesde sempre.
ou víralizar desinformação para fazer preponderar sua narrativa dos fatos ou enfraquecer o
la certo que 11n1lrccL�Ocs e Inverdades sempre forom publicadas por várias razões - folia de:
adversário; conteúdo temático: relatos de inverdades tidas corno ocorridas, cm função de certos
Hpt_iro lil'. adequadn de ratos, ãnsiu de dar a notlcía primeiro, (listorçõcs/cxagerns por ·onta do
interesses; construção composicional e estilo próximos da notícia, por se pretender passar por
esld� de 11nprc:J.':"ª (�cnsaciormlista) etc. Mas esse bomburdcio de nou ·ia� thlsns que virallza cm
verdade, ainda que, cm alguns casos, as diferenças em relação à diagramação/cdição, denunciem
11111 rnmo untes írnposstvcl é um l e u ômcno recente. Nesse sentido, é CfLtC podemos íular de um
a falsidade do texto.
11ov11 género, (!UI! surg • cm (lc1c1mirmclas condições de produção do oa111po-<llsput::i adrr.i<la
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Note-se que a referência às praticas sociais é feita de forma direta - culturais de seu tempo (BRASIL, 2 0 1 8 , p. 525).
com os gêneros para além da exploração da sua construção composicional da vida humana e social dos romances, a dimensão política e
e de sua marcas linguísticas: é preciso, por exemplo, trabalhar com técni social de textos da literatura marginal e da periferia etc.) para
cas básicas de apuração de fatos, o que também contribui para fomentar experimentar os diferentes ângulos de apreensão do indivíduo
Novamente aqui, trata-se de contemplar tanto os letramentos tra diversas e exercer mais plenamente seu "direito à litera tura"-, mas a
etc.), minicontos, nanocontos, best-sellers, literaturas juvenis Além disso, para além das rodas de conversas e produções de textos
brasileira e estrangeira, incluindo entre elas a literatura africana valorizados, como resenhas, práticas contemporâneas de compartilha
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possível, comentários de ordem estética e afetiva e justifican different subjectivities" (COPE e KALANTZIS, 2000, p . 1 8 ) . Para além
�o su_as apreciações, escrevendo comentários e resenhas para das questões que dizem respeito às subjetividades, a "epistemologia do
Jornais, blogs e redes sociais e utilizando formas de expressão pluralismo", considerando a exploração da multimodalidade e da diver
(BRASIL, 2 0 1 8 , p. 157). dos gêneros tradicionalmente considerados pela escola é deixar de lado
hteranos e artísticos, playlists comentadas, fanzines, e-zines das práticas de linguagens (e letramentos) nos campos de atuação, de
(BRASIL, 2 0 1 8 , p. 526).
ferentes tipos) para a consideração dos gêneros relacionados às práticas
currículos locais.
16 Analisando a crítica que Mcdvcdcv faz aos formalistas relativa à redução do gênero a seus
aspcctos formais, afirmando que isso os impedia de apreender o real significado do gêncro,
Faraco (2009), sempre destacando que os gêneros não podem ser abstraídos da SLLa esfera
Ao destacar o papel da Pedagogia dos Multiletramentos Grupo
O
de circulação, vai considerar que "desse modo os gêncros constituem agregados de meios de
de Nova Londres vai, em outros termos, ressaltar a impo�ância da orientação coletiva frente à realidade; constituem, cm outros termos, meios de conhecimento
(pp. J 3 0 - 1 3 1 ).
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ÜÊNEROS DE TEXTO/DISCURSO: NOVAS PRÁTICAS E DESAFIOS
vislumbrando novos caminhos. ln: BARBOSA, J. P.; ROVAI, C. Géneros do discurso em: 09/04/2019.
Círculo.Alfa, rev. iingulst. (Seio José Rio Preto), São Paulo, v. 56, n. 2, p . 3 7 1 -4 0 1 , dez.
1 1 1 4 . Campinas, 2 0 1 4 .
JENKINS, H. Youth Voice, Media, and Poli ti cal Engagement: lntroducing the Core
Concepts. ln: JENKINS, H. et al. By Any Media Necessary: The new Youth Activism.
Parábola Editorial, 2 0 1 3 . P . 1 3 - 3 6 .
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