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Ação civil pública contra jetons irregulares para vereadores

Ação civil pública por atos de improbidade administrativa causados por


vereadores contra os cofres da Câmara Municipal, cumulada com danos morais
e multa civil. A ação obstou o pagamento de parcela indenizatória que os
vereadores recebiam por participação em reuniões tidas como extraordinárias.

Elaborado por: Ariovaldo Tovani.


Colaboração enviada por: Ariovaldo Tovani, promotor de Justiça da Curadoria
do Patrimônio Público da Comarca de Guaxupé (MG).

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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito a quem esta competir por


distribuição - Comarca de Guaxupé / MG:

"Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos


direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o
ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da
ação penal cabível" (Constituição Federal, artigo 37, parágrafo 4º)

O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, através da Curadoria do


Patrimônio Público, forte nos ensinamentos da Constituição Federal (artigos
15, V; 37, § 4º e 129, III), que dá concreção à Lei Federal nº 8.429/92 (lei
inibidora dos atos de improbidade administrativa), respeitosamente vem a esse
H. Juízo para propor, pelo rito ordinário, a vertente

AÇÃO CIVIL DE REPARAÇÃO DE DANOS POR ATOS DE


IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA CAUSADOS EM DESFAVOR DOS
COFRES DA CÂMARA MUNICIPAL DE GUAXUPÉ/MG, com pedidos,
ainda, para condenação por dano moral e expedição de medidas liminares
visando obstar os pagamentos e tornar indisponíveis os bens particulares do
réus para garantia de futura execução,

em face das pessoas abaixo identificadas:

1 - xxxx, cccc, que para citação pode ser localizada na rua zzzz;

2 - xxxxxxx, cccc, que pode ser citado na rua zzzzzz;


3 - xxxxx, cccc, que para citação pode ser localizado na Av. zzz;

4 - xxxxxx, ccccc, que pode ser citado na rua zzzzzz;

5 - xxxxxx, ccc, que para citação pode ser localizado na Av.zzz;

6 - xxxxxxxxxx, ccccc, que pode ser citado na rua zzzzzz;

7 - xxxxxxxxxx, ccccc, que pode ser citado na Av. zzzzzz;

8 - xxxxxxx, ccccc, que pode ser citada na Av. zzzzz;

9 - xxxxxx, ccc, que para citação pode ser localizada na rua zzz;

10 - xxxxxxxx, cccc, que pode ser citado na rua zzzzzzz;

11 - xxxxx, ccc, que para citação pode ser localizado na rua zzz;

12 - xxxxxxx, cccc, que pode ser citada na rua zzzzzz;

13 - xxxxxxxxxx, cccccc, que pode ser citado na rua zzzzzz; e

14 - xxxxxxxx, ccccc, que pode ser citado na rua zzzzzz;

tudo em razão dos motivos fáticos e jurídicos adiante descritos e bem


fundamentados:

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Entretanto, antes de alinhavar os pontos que dão azo à presente


demanda, urge esclarecer que:

A)- O cccc xxxxxxx não ostenta a condição de sujeito passivo desta eis
que, ao contrário de seus pares, se recusa a receber qualquer verba que tenha
conteúdo indenizatório por presença em reuniões tidas pelos Edis como
extraordinárias (fls.85/87).

B)- Para o manejo da vertente reparatória a legitimidade ativa do


Ministério Público é pacífica e decorre do interesse público na punição,
reparação e prevenção de atos que a lei considera como improbidade
administrativa pois praticados contra o Erário público.

Nessa esteira, prescreve o artigo 17 da Lei Federal nº 8.429/92 que "A


ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo Ministério
Público..."
Ou, "...incumbe, ainda, ao Ministério Público: promover o inquérito civil
e a ação civil pública, na forma da lei: para a anulação ou declaração de
nulidade de atos lesivos ao patrimônio público ou à moralidade administrativa
do Estado ou Município, de suas administrações indiretas ou fundacionais ou
de entidades privadas de que participem" (Lei 8.625/93, art. 25, IV, "b" ).

Doutrina e jurisprudência não discrepam e reconhecem a legitimidade do


Ministério Público para o manejo de ação que tenha por escopo a proteção do
patrimônio público. Nesse sentido:

"...no sistema anterior, a tutela jurisdicional do patrimônio público


somente era possível mediante ação popular, cuja legitimação ativa era e é do
cidadão (art. 5º LXXIII) . O MP podia assumir a titularidade da ação popular
apenas na hipótese de desistência pelo autor (LAP, art. 9º) . A Constituição
Federal, no art. 129, III, conferiu legitimidade ao Ministério Público para
instaurar IC e ajuizar ACP na defesa do patrimônio público e social,
melhorando o sistema de proteção judicial do patrimônio público, que é uma
espécie de interesse difuso . O amplo conceito de patrimônio público é dado
pela LAP, art. 1º, "caput" e § 1º" (CPC Comentado, Nelson Nery Júnior e Rosa
Maria Nery, 1994, RT, p. 1018).

"Processual Civil – Ação Civil Pública – Defesa do Patrimônio Público


– Ministério Público – legitimidade ativa – inteligência do art. 129, III, da
CF/88, c. c. art. 1º da Lei 7.347/85" (STJ - REsp 31.547-9/SP – Min. Adhemar
Maciel) .

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Feitas as observações supra, urge expressar que o inquérito civil anexo


(registrado sob nº 12/99), instaurado com apoio nas matérias jornalísticas de
fls.04/21 e abaixo-assinado de fls.22/29 (numeração do MP), demonstra à
saciedade que os agentes políticos ora demandados, com olhos vesgos aos
Princípios da Legalidade e da Moralidade, estão obrando em causa própria e
com abuso de poder pois, dolosamente escoltados numa unida e interna
conspiração para interpretação gananciosa tanto do parágrafo 7º do artigo 57
da Carta Magna, com a redação que lhe emprestou a Emenda Constitucional nº
19, de 04/06/98, como da Lei Municipal nº 1.437/99, encontraram uma
fórmula de enriquecimento ilícito às custas do Erário público municipal vez
que, mês a mês, desde 08/03/99, ao argumento enganoso de que as sessões
legislativas realizadas além daquelas previstas no Regimento Interno da
Câmara Municipal devem ser indenizadas, estão recebendo os vencimentos
mensais acrescidos de parcela indenizatória equivalente a 46% dos subsídios
(ver fls.55/84), fato que, além de ilegal pois aos arrepio da lei que eles mesmos
aprovaram, é reconhecidamente imoral.
Com efeito: Informa o parágrafo 7º do artigo 57 da Lei Maior, com a
redação da Emenda Constitucional nº 19, de 04/06/98, que "Na sessão
legislativa extraordinária, o Congresso Nacional somente deliberará sobre
matéria para a qual foi convocado, vedado o pagamento de parcela
indenizatória em valor superior ao do subsídio mensal".

De nada adiantou a sociedade soltar brados de irresignação - "Vereador


ganhar R$ 400 em 15 minutos é imoral, diz xxxx" (fls.06); "Labéu com o
dinheiro do povo" (fls.13); "Eu como cidadão recuso-me a aceitar que o meu
dinheiro seja roubado para manter veleidades de abutres" (fls.18 - trecho
grifado) - pois a maioria dos vereadores - alguns já conluiados para uma futura
ganância e insensíveis aos reclamos da população -, sustentados pelo texto
constitucional acima transcrito, primeiro aprovaram mudança no artigo 66 da
Lei Orgânica Municipal para dar legalidade ao recebimento de parcela
indenizatória por reunião extraordinária realizada (proposta de Emenda às
fls.31) para, depois, aprovarem e, à inércia do Prefeito Municipal, eles mesmos
promulgarem a Lei Municipal nº 1.437, de 12 de julho de 1999, com efeitos
retroativos para 08 de março de 1999, cuja finalidade foi dispor sobre a fixação
dos valores a serem pagos para cada Edil em decorrência de sua participação
nas tais sessões extraordinárias da Casa (conferir em fls.37).

Referida lei municipal trouxe, no artigo 1º, que: "De acordo com a
Emenda nº 1 de 08/03/99 da Lei Orgânica Municipal, os vereadores farão jus
de parcela indenizatória proporcionalmente no valor de 46% (quarenta e seis
por cento) dos subsídios mensal de vereador" (fls.37 - copiado como escrito,
inclusive com os erros de português).

Por outro lado, o artigo 2º da mencionada lei enfocou que "Esta Lei
entrará em vigor na data de sua publicação, retroagindo seu efeito a 08/03/99,
revogando-se as disposições em contrário".

Assim explanado, os vereadores de Guaxupé/MG garantiram, para si


mesmos, que as reuniões extraordinárias realizadas seriam compensadas
financeiramente em 46% de seus subsídios.

Insta argumentar que alguns dos vereadores integrantes do polo passivo


desta até que votaram contra essa horrorosa situação mas, derrotados em
plenário, optaram, como os demais, pelo recebimento das tais extraordinárias
(sic) ilegalmente hospedadas nos documentos de fls.55/84, inclusive deixando
de lado aquele sentimento de revolta demonstrado por ocasião da votação, à
exceção, como dito acima, do vereador Fernando Pasqua, que se recusa ao
recebimento.

Na prática, porém, reputa-se fácil enxergar que toda a operação


enganosa e gananciosa montada pelos Edis municipais tinha como endereço
certo o recebimento ilegal de parcela indenizatória pelas esparsas reuniões
legislativas acontecidas mensalmente em dias outros que não as duas
quinzenais já previstas no Regimento Interno da Câmara Municipal, o que de
regra ocorre por convocação do Presidente da Casa para continuação de uma
discussão não terminada na sessão anterior ou mesmo para os primeiros passos
e estudos sobre um projeto mais intrincado, daí a ilegalidade e imoralidade
suso apontada posto que reuniões dessa natureza não se confundem com as
extraordinárias que o texto constitucional (art. 57, § 7º, CF) autoriza o
pagamento.

É que, se por um lado a Lei Municipal nº 1.437/99 tomou beirada de


assento no texto constitucional vigente, de outro lado não se descuida que as
reuniões extraordinárias geradoras do direito ao recebimento de parcela
indenizatória são aquelas sessões convocadas no período de recesso legislativo,
ou seja, os Edis são chamados nos períodos de 1º a 31 de julho ou 15 de
dezembro a 31 de janeiro de cada ano (art. 104 do Regimento Interno da
Câmara - fls.88) para debates sobre matéria urgente e de interesse público
relevante que não pode esperar a volta dos períodos normais de trabalho, o que
acontece a partir de 1º de fevereiro a 30 de junho e de 1º de agosto a 14 de
dezembro.

Tal afirmação exige traçar alguns comentários acerca da correta


interpretação do § 7º do artigo 57 da Carta Magna.

A Emenda Constitucional nº 19/98, que Celso Antônio Bandeira de


Mello denomina Emendão (Curso de Direito Administrativo, Malheiros, 11ª
edição, 1999, p.07), alterou profundamente vários textos da Carta Republicana,
dentre eles o inciso VI do artigo 29 que dita novas regras para cravar os
vencimentos dos agentes políticos.

Senão vejamos: "subsídios dos Vereadores fixados por lei de iniciativa


da Câmara Municipal, em razão de, no máximo, setenta e cinco por cento
daquele estabelecido, em espécie, para os Deputados Estaduais, observado o
que dispõem os arts. 39, § 4º, 57, § 7º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;"

Observa-se, pois, que a fixação do subsídio (nova nomenclatura para a


remuneração dos vereadores) exige lei de iniciativa da Câmara Municipal,
respeitadas as regras doutros dispositivos da Lei Maior, dentre elas as do
parágrafo 4º do artigo 39, de seguinte teor: "O membro de Poder, o detentor de
mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e
Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela
única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio,
verba de representação ou outra espécie remuneratória, obedecido, em
qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI".
Da exegese dos dois textos soberanos alhures reproduzidos deflui que,
enquanto o primeiro, porque menciona o artigo 57, § 7º, autoriza o pagamento
de parcela indenizatória decorrente de sessão legislativa extraordinária, o
segundo veda expressamente que o subsídio seja acrescido de gratificação,
adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie
remuneratória, emergindo daí, com hialina clareza já que na Constituição
Federal não existem letras mortas, que a indenização consentida no art. 57, §
7º, é aquela que diz respeito às sessões extraordinárias realizadas no período de
recesso legislativo.

E outro não poderia ser o entendimento supra eis que a regra


constitucional permissiva do pagamento foi editada para o Congresso
Nacional, cujos Parlamentares se reúnem diariamente, com folgas nos dias não
úteis e no período de recesso legislativo (art. 57, da CF). Opiniões em
contrário, data maxima venia, levaria ao absurdo de se permitir que Deputados
Federais e Senadores, objetivando maior ganho mensal originário de falsas
reuniões extraordinárias, fizessem alterações no Regimento Interno de suas
Casas Legislativas e diminuíssem, para menos, o número de reuniões
ordinárias semanais.

No concernente à indenização oriunda de sessão legislativa


extraordinária, os Vereadores Municipais devem receber o mesmo tratamento
dado aos Parlamentares Federais, sem qualquer distinção, ou seja, como os
integrantes do Congresso Nacional os Edis locais serão indenizados apenas e
tão somente quando participarem de sessão extraordinária realizada no período
de recesso legislativo.

Doutrina Mayr Godoy (A Câmara Municipal, 4ª edição, LEUD, 1995,


p.62) que "O funcionamento das Câmaras Municipais, agora, por imposição
constitucional, obedece às sessões legislativas anuais ordinárias, em número de
quatro, que formam a legislatura para a qual são eleitos os Vereadores. Fora da
sessão legislativa ordinária, nos recessos, as Câmaras podem ainda se reunir, se
convocadas extraordinariamente. Num, e noutro caso, o funcionamento se
opera em sessões que podem ser ordinárias ou extraordinárias.

O Congresso Nacional tem seu período ordinário de sessões de 15 de


fevereiro a 30 de junho e de 1º de agosto a 15 de dezembro. Essa disposição
constitucional é perfeitamente cabível a todas as Assembléias Legislativas,
como as Câmaras Municipais, o que significa dizer que as Câmaras podem e
devem adaptar seus Regimentos Internos a essa disposição.

[...]

O período ordinário de sessões, bi-partido pelo recesso do mês de julho,


vai de 15 de fevereiro a 15 de dezembro.
[...]

Cada legislatura tem quatro sessões legislativas ordinárias e tantos


períodos extraordinários quantos vierem a ser convocados nos recessos do seu
lapso de tempo de duração". (os grifos não constam do original)

Noutra passagem, informa referido Jurista (Ob. cit., p.64/65) que "A
falta de distinção entre "sessão legislativa ordinária" e "sessão ordinária" em
levado a vários equívocos, dentre os quais, há de se ressaltar o referente do
direito de convocação da Câmara pelo Prefeito. Inúmeras Leis Orgânicas de
Municípios, sem precisão terminológica, levam ao absurdo de permitir que o
Executivo convoque o Legislativo, para uma "sessão extraordinária", em plena
"sessão legislativa ordinária". Isto é uma violação dos princípios legislativos.
Se a Câmara está em período ordinário de sessões, isto é, não está em recesso,
não há que ser convocada: ela está no curso normal de sessões.

[...]

No correr da "sessão legislativa", no primeiro ou no segundo período, o


Prefeito não pode convocar a Câmara, porque esta se encontra em período
ordinário de sessões. Só nos períodos de recesso que esta oportunidade se lhe é
aberta, de convocá-la extraordinariamente, como, igualmente, ao Presidente ou
a requerimento da maioria dos Vereadores.

As sessões da Câmara são numeradas, ordinariamente, a partir da


primeira de cada sessão legislativa, separadamente, as ordinárias e as
extraordinárias. Quando ocorre convocação extraordinária, só admissível
durante os recessos, as sessões que vierem a ser realizadas tomarão número
ordinal seguinte ao último do período ordinário precedente, seguindo sessões
ordinárias e sessões extraordinárias, com sua própria série de números. (grifei)

Em arremate, ensina o percuciente doutrinador (Ob. cit., p.70) que


"Dentro da simetria imposta pela aplicação constitucional, as Câmaras
Municipais devem reunir-se de 15 de fevereiro a 15 de dezembro, com o
recesso intermediário de 1º a 30 de junho e o outro, ao final da sessão
legislativa ordinária, de 16 de dezembro a 14 de fevereiro.

Qualquer outra reunião fora desse período exige convocação


extraordinária.

O funcionamento regular das Câmaras Municipais no mesmo período do


Congresso Nacional é bastante para vencer o volume de trabalho decorrente da
sua normal atividade, pelo que os recessos devem ser observados no âmbito
local, para cumprirem idêntica finalidade dos demais Legislativos".
Ante as considerações supra, não se usa de lupa para enxergar que as
tantas vezes citadas reuniões extraordinárias que conferem direito ao
pagamento, conforme elencado no parágrafo 7º do artigo 57 da Lei Maior, são
aquelas realizadas durante o período de recesso parlamentar, mediante
convocação tanto do Prefeito Municipal como do Presidente da Câmara ou,
ainda, pela maioria absoluta dos Vereadores. Insta acrescentar que a
convocação encontra-se atrelada à existência de uma disciplina relevante a
exigir deliberação urgente.

Nessa esteira, qualquer chamada dos Edis para comparecimento em


reuniões outras que não as quinzenais designadas de antemão no Regimento
Interno da Câmara Municipal não poderão ser indenizadas posto que essas
convocações, diante do texto constitucional vigente, já integram o subsídio
percebido mensalmente. Lado outro, na forma do parágrafo 7º do artigo 57 da
Carta Magna, c/c o inteiro teor da Lei Municipal nº 1.437/99, os vereadores
terão direito ao recebimento de indenização quando convocados no período de
recesso legislativo.

Com apoio, pois, nos recibos de pagamento de fls.55/84, reputa-se fácil


entender que os agentes políticos em comento estão recebendo, ilegalmente e
às expensas do Erário público, parcela indenizatória decorrente da presença em
sessões legislativas que a lei não autoriza o pagamento, fato que, além de
ilegal, também é imoral.

Assim explanado, dispõe o artigo 37, caput, da Constituição Federal que


"A administração púbica direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência...". (grifos
meus)

Ora, o recebimento de numerário não autorizado em lei ofende os


Princípios da Legalidade e da Moralidade disciplinados no texto constitucional
acima disposto, bem assim nos artigos 4º e 11 da Lei nº 8.429/92, daí ser visto
como ato de improbidade administrativa.

Com efeito: "Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são


obrigados a velar pala estrita observância dos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhe são
afetos". (artigo 4º da Lei nº 8.429/92 - grifou-se)

Ou, "Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os


princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os
deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às
instituições...". (artigo 11 da Lei nº 8.429/92 - grifou-se).
Resultou ofendido o Princípio da Legalidade pois "O administrador
público está, em toda a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da
lei, e às exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob
pena de praticar ato inválido e expor-se à responsabilidade disciplinar, civil e
criminal, conforme o caso.

A eficácia de toda atividade administrativa está condicionada ao


atendimento da lei.

Na Administração Pública, não há liberdade nem vontade pessoal.


Enquanto na administração particular é lícito fazer tudo que a lei não proíbe,
na Administração Pública só é permitido fazer o que a lei autoriza. A lei para o
particular, significa "pode fazer assim"; para o administrador público significa
"deve fazer assim" (Direito Administrativo Brasileiro, RT, 1990, p.78/79).

Em comentários ao artigo 11 da Lei Federal nº 8.429/92, ensina Marcelo


Figueiredo (Probidade Administrativa, Malheiros, 1995, p.60) que "O
dispositivo determina e "define" hipóteses onde considera violados os
princípios da administração pública. Assim, comete atentado à probidade
administrativa todo e qualquer agente público ou equiparado que, por ação ou
omissão (conduta positiva ou negativa), afronte, viole, cometa atentados aos
deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade". (grifou-se)

Celso Antônio Bandeira de Mello, citado por Marcelo Figueiredo (Ob.


cit., p.59), ensina que "Violar um princípio é muito mais grave do que violar
uma norma isolada, porque as conseqüências do ataque são, sem dúvida, muito
maiores, devido à generalidade e raio de ação dos princípios".

Sobre a moralidade administrativa disserta Hely Lopes Meirelles (Ob.


cit., p.78/79): "Além de atender à legalidade, o ato do administrador público
deve conformar-se com a moralidade e a finalidade administrativas para dar
plena legitimidade à sua atuação. Administração legítima só é aquela que se
reveste de legalidade e probidade administrativa, no sentido de que, tanto
atende às exigências da lei, como se conforma com os preceitos da instituição
pública".

Hely Lopes Meirelles (Ob. cit., p.79), agora citando Hauriou, se


manifestou no sentido de que "... O agente administrativo, como ser humano
dotado de capacidade de atuar, deve, necessariamente, distinguir o bem do
mal, o honesto do desonesto. E, ao atuar, não poderá desprezar o ético de sua
conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e
o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas
também o honesto e o desonesto. Por considerações de direito e de moral, o ato
administrativo não terá que obedecer somente à lei jurídica, mas também à lei
ética da própria instituição, porque nem tudo que é legal é honesto, conforme
já proclamavam os romanos: nom omne quod licet honestum est"...".
Destarte, "A probidade é corolário do princípio da moralidade
administrativa" (Marcelo Figueiredo, ob. cit., p.22)

Noutro aspecto, pelo recebimento de numerário não autorizado em lei,


importando enriquecimento sem causa, os Vereadores em questão, além de
infringirem princípios constitucionais, transgrediram outras normas insertas na
Lei Federal nº 8.429/92, verbis:

Art. 9º. Constitui ato de improbidade administrativa importando


enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida
em razão do exercício de cargo, mandato, função ou emprego, ou atividade nas
entidades mencionadas no artigo 1º desta Lei, e notadamente:

Marcelo Figueiredo (Ob. cit., p.37/38) ensina que "...infringe a norma


todo agente que obtenha, receba, perceba, direta ou indiretamente, um
"interesse" que afronte o padrão jurídico da probidade administrativa, tal como
encartada na Constituição Federal e nas leis. Contudo, o legislador não
pretendeu esgotar o rol das variadas formas que o enriquecimento ilícito pode
assumir. O rol de condutas da lei é exemplificativo. Há outras formas de "obter
vantagens patrimoniais indevidas". Assim, o favoritismo, a intenção de
privilegiar "x", "y" ou "z", todas são condutas albergadas na lei".

(Art. 9º) XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens,


rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades
mencionadas no art. 1º desta Lei;

"As rendas públicas também integram o conceito de patrimônio para o


fim de proteção legal. Não importa se entradas provisórias ou definitivas
(receitas), se originárias, derivadas ou transferidas, ou se créditos públicos.
Todas submetem-se ao regime legal, não podendo o administrador dispor das
mesmas ao seu talante e alvedrio. O patrimônio público pertence às entidades
ou pessoas jurídicas de direito público ou privado (estatais ou paraestatais),
não se confundindo com o patrimônio de seus eventuais diretores, presidentes
ou gestores" (Marcelo Figueiredo, ob. cit., p.47)

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao


erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda
patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou
haveres das entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente:

Doutrinam Marino Pazzaglini Filho, Márcio Fernando Elias Rosa e


Waldo Fazzio Júnior (Improbidade Administrativa, Atlas, 1996, p. 70) que:

"Em todas as espécies do art. 10, o agente público realiza condutas que
ensejam o enriquecimento ilícito de terceiro, pessoa física ou jurídica. Não é
preocupação do legislador, neste dispositivo, o eventual proveito obtido pelo
agente público, direta ou indiretamente, mas tão somente seu agir ou não agir
em benefício de outrem, contra o erário. É da subversão da atividade funcional
que trata, quer dizer, do agente público que, inobservando o dever de zelar e
proteger o erário, assiste ou colabora para que terceiro se beneficie, a dano dos
cofres públicos".

Sem contar que especificamente a cccc xxxxxx, DD. vvvv da Câmara


Municipal local, está, de per si, infringindo as disposições contidas no artigo
10, inciso XI, da lei federal citada, por "liberar verba pública sem a estrita
observância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua
aplicação irregular".

Até porque, "Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou


omissão, dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á o integral
ressarcimento do dano" (Lei nº 8.429/92, art.5º).

É sábia a lição de Marcelo Figueiredo (Ob. cit., p.31) no sentido de que


"O patrimônio público deve ser protegido de quaisquer lesões ou ameaças de
lesões; há uma série de instrumentos constitucionais e legais aptos à sua
defesa. O conceito de "patrimônio público", para esse efeito, é o mais amplo
possível, abarcando, inclusive, aquele empregado na forma do parágrafo único
do art. 1º da lei comentada"

O fundamento constitucional da punição aos ímprobos encontra-se


alocado no artigo 37, parágrafo 4º, da Constituição Federal, onde é visto que os
atos de improbidade administrativa "importarão a suspensão dos direitos
políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o
ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da
ação penal cabível".

A punição aos ímprobos está positivada no artigo 12 e incisos da Lei nº


8.429/92, que abaixo se transcreve:

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas,


previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade
sujeito às seguintes cominações:

(Art. 12) I - na hipótese do art. 9º, perda dos bens ou valores acrescidos
ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando houver,
perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos,
pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e
proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou
incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez
anos.
(Art. 12) II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, se
houver, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se
concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos
políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o
valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber
benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda
que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo
de cinco anos.

(Art. 12) III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano,


perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos,
pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida
pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios
ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três
anos.

Nota-se que os agentes políticos demandados infringiram mais de uma


regra inserta na Lei Federal nº 8.429/92. Nesse caso, com apoio em Fábio
Medina Osório (Fábio Medina Osório, Improbidade Administrativa, Síntese,
1997, p.170), reputa-se fácil a dosagem das penas pois "No caso de a um
mesmo fato corresponderem várias normas jurídicas, o melhor caminho é a
escolha da norma mais grave, a qual haverá de absorver as demais.

Parece-nos que o melhor caminho, aqui, é o tratamento diferenciado do


concurso de ilícitos, importando-se, nesse passo, as lições do direito penal, até
porque, no campo sancionatório, semelhante procedimento não prejudicaria os
autores da improbidade, mostrando-se tal solução plausível e respaldada no
ordenamento jurídico"

Sobre as sanções, "Decorre de expressa previsão constitucional a


necessidade de suspensão dos direitos políticos (arts.15, inciso V, e 37, § 4º,
CF), não havendo margem de liberdade para que o juiz opte pela não
suspensão dos direitos políticos daqueles que são condenados por improbidade
administrativa" (Fábio Medina Osório, ob. cit., p.173)

Já "O pagamento de multa civil é sanção prevista invariavelmente para


qualquer espécie de improbidade administrativa, o que se ajusta à idéia de que
tal prática acarreta, por força constitucional, indisponibilidade de bens (art. 37,
§ 4º, CF)" (Fábio Medina Osório, ob. cit., p.175)

A meu talante, porque o parágrafo único do artigo 12 suso transcrito


anota que "Na fixação das penas previstas nesta Lei o juiz levará em conta a
extensão do dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo
agente", entendo que, dentre as penalidades previstas no referido artigo 12 e
incisos da Lei Federal nº 8.429/92, justifica-se plenamente a aplicação da
implantada no inciso III, que prevê ressarcimento integral do dano, perda da
função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos,
pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida
pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios
ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três
anos.

Ingressando na seara da multa civil, sugere-se - com apoio na lição supra


de Fábio Medina Osório - sua aplicação no patamar máximo de trinta (30)
vezes o valor da remuneração mensal de cada agente político, respeitado o
patamar mínimo de vinte (20) vezes.

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Da responsabilidade dos agentes políticos por danos morais à coletividade:

Preliminarmente, escreveu Hely Lopes Meirelles que "Sendo a Câmara


um órgão despatrimonializado, todas as vantagens e encargos de ordem
pecuniária, decorrentes do julgado, reverterão à Fazenda Municipal, ou serão
por esta suportados" (Direito Municipal Brasileiro, Malheiros, 6ª edição, 1993,
p.445), razão pela qual o ganho advindo da condenação por dano moral há que
ser revertido em benefício dos cofres da Fazenda Pública Municipal de
Guaxupé/MG.

Feitas as necessárias considerações acima, resta evidente concluir que os


fatos descritos nesta não acarretaram somente danos de natureza patrimonial.
Deles decorreram, também, um dano de natureza difusa, abstrata, resultante da
grave ofensa perpetrada pelos agentes políticos demandados face à não
observância da moralidade pública que obrigatoriamente deve nortear a
conduta daqueles que tem o "dever público para com a coletividade que o
elegeu como seu representante e que, por isso mesmo, o quer atuante em
defesa dos interesses coletivos" (Hely Lopes Meirelles, Direito Municipal
Brasileiro, Malheiros, 6ª edição, 1993, p.448).

Nessa linha de raciocínio, se antes a dignidade da comunidade


guaxupeana já estava abalada apenas com a notícia de que os Edis locais
haviam aprovado uma lei municipal para receberem verba indenizatória
decorrente de presença em reuniões extraordinárias, agora o choque é ainda
maior pois ficou demonstrado alhures que os agentes políticos em comento
estão recebendo 46% (quarenta e seis por cento) a mais em seus contracheques
por algo que não lhes é devido.
Os documentos de fls.04/21 (matérias jornalísticas) e 22/29 (abaixo-
assinado) mostram a insatisfação da comunidade.

Inolvidável, pois, a reparabilidade do dano moral, cuja tese vem sendo


construída ao longo dos anos, apontando irreversível tendência legislativa,
doutrinária e jurisprudencial.

De fato, vários dispositivos do Código Civil enumeram, de maneira


casuística, hipóteses em que o dano não patrimonial é reparável (sem excluir
outras, por certo, tendo em vista as regras gerais dos artigos 159 e 1553). É o
caso do artigo 1.543, que impõe pagamento do valor de afeição da coisa que
não mais pode ser restituída ao dono, e também do artigo 1.547, parágrafo
único, que manda indenizar o prejuízo imaterial de quem foi ofendido por
injúria ou calúnia. Outros dispositivos dessa natureza, invocados pela doutrina,
são os artigos 1.537, 1.538, 1.548, 1.549 e 1.550. (V. Caio Mário da Silva
Pereira (Instituições de Direito Civil, vol. II, 1986, p.233); Yussef Said Cahali
(Dano e Indenização, RT, 1980, p. 41/109)

Leis posteriores ao Código Civil também previram hipóteses de


ressarcimento por danos morais causados.

Prevista na Lei Maior (art. 5º, V e X), a reparação dos danos morais é
aceita sem reservas, sendo também isenta de dúvidas sua cumulatividade com
a indenização resultante de prejuízos patrimoniais, conforme estagnado na
Súmula 37 do STJ: "São cumuláveis as indenizações por dano material e dano
moral oriundos do mesmo fato".

Nessa caminhada, importa deixar consignado que os prejuízos de ordem


moral, decorrentes dos atos de improbidade administrativa praticados pelos
Vereadores supra identificados, enquanto não obstados, estão sendo
experimentados não só pela própria Administração Pública mas, de maneira
difusa, por toda a coletividade.

E nem poderia ser diferente eis que "...no exercício do mandato, o


vereador deve atender aos preceitos regimentais e às praxes parlamentares, que
impõem padrões legais de conduta e mínimos éticos de compostura e decoro
funcionais, que geram encargos, deveres, sanções, prerrogativas e direitos de
caráter político ou jurídico; aqueles (políticos) só são controlados pela própria
corporação legislativa; estes (jurídicos) são invocáveis também perante o
Judiciário, que lhes dará a proteção ou a sanção devida a todo direito
individual e subjetivo" (Hely Lopes Meirelles, Direito Municipal Brasileiro,
Malheiros, 6ª edição, 1993, p.450)

Importante lembrar que o adjetivo moral, como indica sua própria


etimologia (moralis - relativo a costumes), também significa "relativo ao
domínio espiritual, em oposição a físico ou material" (De Plácido e Silva,
Vocabulário Jurídico, Forense, 1975, vol. III, p.1037). Assim, a expressão
dano moral aplica-se aos prejuízos causados a bens de natureza incorpórea,
imaterial, não se restringindo, pois, à ofensa apenas aos valores subjetivos
individuais.

Óbvio concluir que o raciocínio é aplicável ao Município, enquanto


pessoa jurídica de direito público, pois "A pessoa jurídica pública ou privada,
os sindicatos, as autarquias, podem propor ação de responsabilidade, tanto
fundada no direito material como no prejuízo moral" (José de Aguiar Dias, Da
Responsabilidade Civil, Forense, vol. 2, 1994, p.937). De fato, como autêntica
personificação dos valores éticos da polis, o Município também é portador de
uma imagem e reputação a zelar, que nada mais é do que a projeção da
honorabilidade e dignidade cívica de todos os cidadãos que o compõem,
considerados em seu conjunto.

Com sobras de razão, pois, que o legislador constituinte estabeleceu a


moralidade como um dos princípios regentes de toda a atividade estatal,
inserindo-o na cabeça do artigo 37 da Constituição Federal e, hoje, dissipando
qualquer dúvidas, prevalece manso e pacífico o entendimento anotado na
Súmula 227, do STJ, a expressar que "A pessoa jurídica pode sofrer dano
moral".

Porque a Administração Pública é um ente abstrato, que representa


politicamente a sociedade, constituída por todos e cada um dos cidadãos, são
esses, na verdade, os titulares dos valores morais personificados naquela. Mais
exato, então, será falar em prejuízo difuso à toda coletividade, que, in casu, é
representada pelo Município.

O Professor Limongi França (Artigo publicado na Revista dos Tribunais,


vol. 631, p.29 e seguintes) expressa claro a possibilidade da reparação de
prejuízos morais difusos, causados a um número indeterminado de pessoas, ao
definir o dano moral como "aquele que, direta ou indiretamente, a pessoa física
ou jurídica, bem assim a coletividade, sofre no aspecto não econômico de seus
bens jurídicos".

Em arremate, acima se demonstrou que nosso sistema de direito positivo


contempla, sem nenhuma restrição válida, a reparação por danos morais
impostos à coletividade, mormente no caso vertente em que se comprovou os
atos de improbidade administrativa praticados pelos agentes políticos
colocados no polo passivo da lide, cujas ações feriram profundamente o
sentimento de cidadania de toda a população guaxupeana e revelaram
completo descaso à vontade popular, fundamento básico do poder estatal (art.
2º, CF).
Partindo do princípio que todo cidadão tem direito subjetivo a um
governo honesto, não se descuida que o mandato outorgado aos Vereadores em
comento pressupõe que estes se pautem por absoluta retidão de conduta,
caracterizada por probidade, zelo e rigor no desempenho do munus público que
a comunidade lhes conferiu. A inobservância desses elementos deveres
deslustra as responsabilidades que lhes foram confiadas e gera na coletividade
sentimentos de abandono, insegurança e descrédito. Em suma, a ninguém
ocorreria negar, em casos tais como os dos autos, o enorme e autêntico
desapontamento de toda a população, frustrados que foram nas suas justas
expectativas por uma Edilidade pautada pelo estrito respeito aos princípios da
moralidade e legalidade, conforme exigido no caput do artigo 37 da Lei Maior,
que disciplina esse País e este sofrido Município.

É preciso fazer cessar esse círculo vicioso, em que a prática reiterada de


atos de improbidade, sempre sem adequada punição, gera um sentimento
popular de desalento nas instituições, levando a um afrouxamento dos meios
de controle e fiscalização dos governantes e serve de incentivo à prática de
novos atos ímprobos.

Provocada a lesão, de qualquer natureza, surge o dever de indenizar. É o


que preceitua o artigo 159 do Código Civil.

E, embora os danos ora tratados sejam de natureza imaterial, sua


reparação haverá de ser feita em dinheiro, "porque este é o denominador
comum dos valores, e é nesta espécie que se estima o desequilíbrio sofrido
pelo lesado" (Caio Mário da Silva Pereira, ob. cit., p.130).

Por outro lado, se é verdade que não é simples a tarefa de fixar o


quantum necessário à indenização por prejuízos morais, não menos verdade
que essa dificuldade, além de não ser motivo para deixar irreparado o dano, é
perfeitamente vencível, lembrando-se que, nessa matéria, "a estimativa
pecuniária não é fundamental" (Antonio Chaves, citado por Caio Mário,
Responsabilidade Civil, Forense, 1997, p.55), pois o mais importante,
certamente, é que "nenhuma violação de direito fique impune" (Caio Mário da
Silva Pereira, ob. cit., p.55).

De tudo, resulta certo que, se a indenização por dano moral não pode ser
fonte de enriquecimento para a vítima, tampouco pode ser inexpressiva ao
ponto de sugerir impunidade.

Noutro aspecto, as regras de experiência comum e a observação do que


ordinariamente acontece - critérios de análise admitidos pela lei (Código de
Processo Civil, artigo 335) - autorizam afirmar que os prejuízos éticos e morais
decorrentes de uma conduta ilícita, podem ser maiores do que sua repercussão
patrimonial pois, como in casu, o grande número de pessoas ofendidas -
correspondente a toda coletividade guaxupeana - é fator que exaspera a
responsabilidade dos demandados e deverá ser considerado, na sentença, para
fixação do pretium doloris.

O raciocínio supra permite atribuir o valor de 30 (trinta) salários


mínimos como suficientes para atenuar os danos morais suportados pela
comunidade guaxupeana, lançados para cada Edil.

Com efeito: O valor sugerido para cada vereador a título de condenação


por dano moral é justo quando se sabe que o Ministro Marco Aurélio, do STF,
no RE 172.720-9/RJ, num simples extravio de mala em viagem determinou o
pagamento de US$ 5.000,00 (cinco mil dólares) a título de dano moral, sem
prejuízo do dano material.

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As liminares mencionadas no preâmbulo:

1ª)- Fácil enxergar que o Erário público municipal está suportando


pagamentos não autorizados em lei devido enganosa interpretação tanto do
parágrafo 7º do artigo 57 da Carta Magna, com a redação que lhe emprestou a
Emenda Constitucional nº 19, de 04/06/98, como da Lei Municipal nº
1.437/99, fórmula essa encontrada pelos agentes políticos demandados para
fins de enriquecimento ilícito.

Assim, urge necessário expedir ordem liminar, inaudita altera parte,


endereçada à DD. vvvvvvv da Câmara Municipal, cccccc xxxxxx, para que,
enquanto não julgada definitivamente a pendenga posta à apreciação judicial,
se abstenha de efetuar pagamentos rotulados de reuniões extraordinárias
realizadas, exceto nas convocações durante o recesso legislativo.

Como segunda opção Vossa Excelência poderia determinar que as tais


parcelas indenizatórias, ao invés de obstadas na Casa Legislativa, sejam
depositadas em conta bancária à ordem judicial, muito embora essa prática não
é das mais recomendáveis posto que o dinheiro, continuando em poder da
Câmara Municipal, poderá ter outro destino, com possibilidades até de um
melhor aproveitamento.

2ª)- A segunda liminar pleiteada diz respeito à indisponibilidade dos


bens móveis e imóveis dos agentes demandados para garantia de futura ação
executória pois, em casos tais, face a lentidão da Justiça nas Instâncias
Superiores, mormente no vertente caso onde por certo os vencidos baterão nas
portas do STF, corre-se o risco de não se encontrar bens que garantam a
execução do quantum que será apontado na sentença como sendo apto ao
ressarcimento.
Foi por essa razão que o legislador inseriu na Constituição Federal (art.
37, § 4º) e na Lei nº 8.429/93 (art. 7º e parágrafo único) a possibilidade do
Poder Judiciário tornar indisponíveis os bens do particular cuja ação ou
omissão tenha sido maléfica à administração direta, indireta ou fundacional de
qualquer dos Poderes, entre eles os da Câmara Municipal de Guaxupé/MG (art.
1º, Lei 8.429/92).

Para o sustento das duas liminares suplicadas, encontram-se presentes os


requisitos legais exigidos, quais sejam: O fumus boni juris decorrente da
demonstração cristalina de que os Vereadores ocupantes do polo passivo desta
estão obrando em causa própria devido conspiração interna armada para
interpretação enganosa e gananciosa dos textos legais acima mencionados e,
não interceptados a tempo, os cofres municipais continuarão arcando com
despesas não autorizadas sob o título de parcela indenizatória, equivalente a
46% dos subsídios mensais de cada Vereador, conforme demonstrativos
juntados às fls. 55/84; enquanto o periculum in mora emerge claro face os
passos lentos com que a Justiça cuida dos casos que envolvem improbidade
administrativa, em especial quando envolve a figura de agentes políticos ou de
pessoas influentes na sociedade brasileira.

Demais disso, o deferimento das liminares não trará dano de espécie


alguma para os requeridos vez que, quanto à primeira, apenas obstará os
pagamentos até final decisão, enquanto a segunda trata-se apenas de uma
medida acauteladora que colocará seus bens particulares em indisponibilidade
para garantia de futura execução. Ad argumentandum, garantida a execução, o
excesso deverá ser liberado do gravame e até mesmo ser apreciado um
requerimento para alienação ou troca de alguns dos bens gravados.

O perigo crescerá caso negadas as liminares, tanto para obstar futuros


pagamentos como para indisponibilizar bens garantidores de uma posterior
execução. É que melhor prevenir do que remediar, ou seja, muito melhor evitar
que o dinheiro continue saindo dos cofres públicos, do que fazê-lo retornar,
levando-se em conta, ainda, o tempo gasto até decisão final em ações dessa
natureza e a possibilidade até de uma insolvência que torne a devolução mera
ilusão.

Fumus boni juris, - no dizer de Enrico Tulio Liebmam, é "a provável


existência do direito a ser tutelado" (Manual de Direito Processual Civil, vol.5,
p.92) em razão do flagrante desrespeito às normas legais trazidas à colação,
enquanto o periculum in mora, representando a "demonstração de inocuidade
da tutela jurisdicional principal face a sua não imediatidade"(autor e obra
acima citados) surge expressa pois, não garantida ao menos parte de uma
futura execução, ao final da demanda certamente não serão localizados bens
que a garantam.
A título de argumentação final, a presente busca decisão condenatória
visando devolução dos valores mencionados nos documentos de fls.55/84, sob
a descrição reunião extraordinária, aos quais serão acrescidos os valores já
recebidos pelos agentes políticos até supressão dos pagamentos resultante do
cumprimento da primeira das liminares supracitadas. A título de multa civil
busca-se condenação no patamar máximo de trinta (30) vezes o valor da
remuneração mensal de cada agente político, respeitado o patamar mínimo de
vinte (20) vezes, e, a título de dano moral pleiteia-se o equivalente a 30 (trinta)
salários mínimos lançados para cada Edil, visto esses como suficientes para
atenuar os danos morais suportados pela comunidade guaxupeana.

Tudo definido, requer-se:

1 - Como pedido imediato e Inaudita altera parte, a concessão das


medidas liminares supra fundamentadas, a primeira endereçada à DD.
Presidente da Câmara Municipal de Guaxupé/MG, Vereadora Olga Maria
Gamero, para que cesse, de imediato, todos os pagamentos referendados sob a
descrição reuniões extraordinárias, excetuando-se aqueles decorrentes de
convocação durante o período de recesso legislativo (1º a 31 de julho e 15 de
dezembro a 31 de janeiro), e a segunda para tornar indisponíveis os bens
móveis e imóveis dos agentes políticos demandados para garantia de futura
execução, cuja ordem para cumprimento deverá ser endereçada ao Cartório de
Registro de Imóveis desta comarca e à Delegacia Regional de Segurança
Pública, tudo para que façam as anotações e comunicações de praxe;

2 - Cumprida as liminares acima, que os requeridos sejam citados para


oferta de defesa, pena de revelia e confissão;

3 - A citação do Município e da Câmara Municipal de Guaxupé/MG,


aquele na pessoa de seu representante e esta na pessoa de um Curador
nomeado, para, querendo, nos termos do art. 17, § 3º, da Lei 8.429/92, virem
integrar a lide, suprindo as falhas e omissões desta;

3.1 – Fala-se na nomeação de um Curador tendo em vista a possibilidade


de um conflito de interesses entre a Câmara Municipal, vista como ente sem
personalidade jurídica mas com direitos e interesses a defender, e os agentes
políticos que a representam, mormente sua Presidente, responsável pelos
pagamentos indevidos;

4 - Pronunciamento jurisdicional definitivo para reconhecer que as


reuniões extraordinárias aptas ao pagamento de parcela indenizatória,
conforme elencado no parágrafo 7º do artigo 57 da Constituição Federal, c/c o
inteiro teor da Lei Municipal nº 1.437/99, são aquelas realizadas durante o
período de recesso parlamentar citados no artigo 104 do Regimento Interno da
Câmara Municipal (fls.88);
5 - Pronunciamento jurisdicional definitivo com o fito de reconhecer que
os pagamentos realizados até a presente data ofendem os princípios da
legalidade, da moralidade e das demais regras alhures mencionadas, todas
inseridas na Lei Federal nº 8.429/92, que as tipifica como atos de improbidade
administrativa;

6 - Pronunciamento jurisdicional definitivo de cunho condenatório para


determinar que cada um dos requeridos devolva, para os cofres da Câmara
Municipal, os valores citados nos documentos de fls.55/84 sob a descrição
reunião extraordinária, aos quais serão acrescidos outros valores recebidos sob
a mesma rubrica até que a liminar supracitada determine a supressão dos
pagamentos, que serão corrigidos monetariamente para a época do pagamento.
Para a apuração desse quantum, antes da sentença final a DD. Presidente da
Câmara Municipal deverá trazer para os autos todos os documentos
demonstrativos dos pagamentos e que o inquérito civil não carreou.

7 - Pronunciamento condenatório para lançar, a cada um dos requeridos,


a multa civil mostrada no artigo12, III, da Lei Federal nº 8.429/92, que, como
sugerido acima, pode ser aplicada no patamar máximo de trinta (30) vezes o
valor da remuneração mensal de cada agente político, respeitado o patamar
mínimo de vinte (20) vezes;

8 - A procedência do pedido indenizatório por danos morais causados


pelos requeridos à comunidade guaxupeana, levando-os a arcarem,
individualmente e em prol do Município de Guaxupé/MG, com o pagamento
de 30 (trinta) salários mínimos, que hoje perfazem, para cada um, a soma de
R$ 4.080,00 (quatro mil e oitenta reais);

9 - Pronunciamento condenatório para lançar a todos os requeridos as


demais penalidades insertas no artigo 12, III, da Lei 8.429/92, como a perda da
função pública; a suspensão de seus direitos políticos e a proibição de
contratarem com o poder público, prazos de lei;

10 - A produção de todas as prova cabíveis, mormente o depoimento


pessoal dos requeridos e a juntada de outros documentos;

11 - Conseqüente condenação dos demandados nos ônus inerentes à


sucumbência, devidamente rateados;

12 - À causa confere-se o valor de R$ 480.000,00 (quatrocentos e oitenta


mil reais), que, até o momento, resulta da somatória entre a devolução do
numerário ilicitamente recebido (fls.55/84) mais a multa civil e mais o pedido
de indenização por dano moral.

Guaxupé, 26 de outubro de 1999.


Ariovaldo Tovani
Promotor de Justiça - Curador do Patrimônio Público

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