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ANO VI Nº 16 - JAN / FEV / MAR 2017

ISSN 2359-0688
Novos Rumos
da Educação
Física Escolar
A MP 746/2016, assim como a PEC
55/2016, podem modificar a educação
no Brasil. Diante das propostas de
reforma do Ensino Médio e de
congelamento dos gastos públicos, a
Educação Física Escolar têm grandes
desafios pela frente, buscando
alternativas para fortalecer o esporte e
para reforçar o seu protagonismo entre
as outras disciplinas

INCLUSÃO SOCIAL GINÁSTICA LABORAL FISCALIZAÇÃO


Projeto resgata crianças CREF2/RS comemora 50 academias irregulares
carentes através do Dia da Ginástica Laboral fechadas em todo Estado
futebol em Porto Alegre na Assembleia Legislativa e novos recordes em 2016
EDITORIAL
EXPEDIENTE
SUMÁRIO
DIRETORIA
Presidente Carmen Rosane Masson 04 PERFIL
1º Vice-Presidente Lauro Ubirajara Barboza de Aguiar
2º Vice-Presidente Leomar Tesche FISCALIZAÇÃO 07
1ª Secretária Débora Rios Garcia
2ª Secretário Carlos Ernani Olendzki de Macedo 09 FUTEBOL SOCIAL
1ª Tesoureira Sonia Maria Waengertner
2ª Tesoureira Ana Maria Haas CAPA 11
COMISSÃO EDITORIAL
Alexandre Scherer CREF 000021-G/RS 15 GINÁSTICA LABORAL
Leomar Tesche CREF 000129-G/RS
Magale Konrath CREF 000378-G/RS
ESPORTE NA ESCOLA 17
CONSELHEIROS
Alessandro de Azambuja Gamboa CREF 001534-G/RS
19 ACESSIBILIDADE
Alexandre Moura Greco CREF 004204-G/RS
Ana Maria Haas CREF 004563-G/RS
ENSAIO 20
Carlos Ernani Olendzki de Macedo CREF 01262-G/RS
Carmen Rosane Masson CREF 001910-G/RS
24 JURÍDICO
Cláudia Ramos Lucchese CREF 002358-G/RS
Clery Quinhones de Lima CREF 000297-G/RS
NOTAS 26
Débora Rios Garcia CREF 002202-G/RS
Eduardo Merino CREF 004493-G/RS
Eliana Alves Flores CREF 002649-G/RS EDITORIAL
Felipe Gomes Martinez CREF 003930-G/RS

E
João Guilherme de Souza Queiroga CREF 000839-G/RS m meio a tantos escândalos de corrupção, 2016 certamente ficará
Lauro Ubirajara Barboza de Aguiar CREF 002782-G/RS marcado como um ano de grande instabilidade e de mudanças para a
Leila de Almeida Castillo Iabel CREF 000113-G/RS política nacional. Os nossos parlamentares, que trouxeram para discussão
Leomar Tesche CREF 000129-G/RS
algumas medidas importantes para frear a crise econômica que assola atualmente
Luciane Volpato Citadin CREF 000100-G/RS
Marcia Rohr da Cruz CREF 007542-G/RS
o país, também apresentaram algumas propostas polêmicas, que muito se
Miryam Peraça Fattah Brauch CREF 006834-G/RS relacionam com o cotidiano dos profissionais de Educação Física e que agregam
Rosa Maria Marin Pacheco CREF 000059-G/RS consequências gravíssimas para o futuro da nossa sociedade.
Sonia Maria Waengertner CREF 007781-G/RS

Jornalista Responsável Paulo Finatto Jr. MTE 16215 A MP 746/2016 e a PEC 55/2016, que sinalizaram a reforma do Ensino Médio e a
Colaboração Marcelo Ghignatti MTB 4807 exclusão da Educação Física como uma de suas disciplinas obrigatórias, assim
Projeto Gráfico e Diagramação Júlia Carvalho e
Liziane do Espírito Santo Soares
como a delimitação dos gastos públicos pelos próximos 20 anos, ainda circulam
Direção Geral Elenice Sacchi de Freitas pela nossa área cheias de dúvidas e de imprecisões. O que se sabe, pelo menos por
Capa: Foto: Pressfoto / Freepik enquanto, é que a ausência da nossa disciplina teria efeitos negativos no
Impressão Global Print Editora Gráfica Ltda.
Tiragem 5.000 exemplares desenvolvimento humano das nossas crianças, sem mencionar todos os prejuízos
ISSN 2359-0688 ocasionados pelo seu consequente sedentarismo.

Os artigos assinados são de responsabilidade Além de trazer para o debate os desdobramentos destas duas medidas e as
de seus autores, não expressando
necessariamente a opinião do CREF2/RS implicações que ainda trarão para o dia a dia dos profissionais de Educação Física,
sobretudo para aqueles que atuam no âmbito escolar, o CREF2/RS em Revista
Conselho Regional de Educação Física 2ª Região
Rua Coronel Genuíno, 421 conj. 401 - Centro também aborda nesta edição a acessibilidade das academias e a importância dos
Porto Alegre/RS - CEP 90010-350
projetos sociais, que têm tirado diversas crianças de situações de vulnerabilidade
CREF Serra
Rua Antônio Ribeiro Mendes, 1849 - Pio X através do esporte. Os exemplos da Fit Academia e do técnico de futsal Marco
Caxias do Sul/RS - CEP 95032-600
Aurélio Iorio servem de inspiração para outras tantas empresas e profissionais que
contato@crefrs.org.br • www.crefrs.org.br
https://www.facebook.com/crefrs atuam no Rio Grande do Sul. Boa leitura!

02 CREF2/RS em Revista
PALAVRA DA PRESIDENTE

A REFORMA DO ENSINO MÉDIO


E OS DESAFIOS

O
ano está apenas começando e nós do caso é o Sindicato dos Profissionais de Educação
CREF2/RS já estamos engajados em Física do Rio Grande do Sul (SINPEF/RS). O
diversas lutas. Quando achamos que CREF2/RS é um órgão fiscalizador, que tem a
Carmen Masson é formada
vencemos uma, aparece uma outra surpresa função de orientar o exercício da profissão e de
em Educação Física pelo IPA,
desagradável. Depois que fizemos um lobby em garantir que a sociedade seja atendida por
com especialização em Gi-
cima dos parlamentares para garantirmos a verdadeiros profissionais de Educação Física. Para
nástica de Academia e em
Condicionamento Físico. obrigatoriedade da Educação Física escolar, um isto, também participamos das discussões e da
Mestre em Ciências da detalhe na lei sancionada pelo Presidente nos construção de políticas públicas. Já ao SINPEF/RS
Saúde – Saúde Coletiva e deixou mais uma vez preocupados. No texto, a cabe toda a discussão trabalhista, que envolve
Mestre d'Armas (Esgrima) Educação Física foi garantida não como discipli- piso salarial, funcionário e empregador.
pela EsEFex, foi a primeira na, mas como uma atividade, o que significa que
aluna mulher e a primeira pode ser desenvolvida dentro de outros conteú- Muitas são as lutas que temos pela frente, mas
colocada do curso. Como a-
dos, sem a garantia de que seja ministrada por um dependemos só de nós, profissionais de
tleta da esgrima, conquistou
profissional de Educação Física devidamente Educação Física, para fortalecer a nossa profissão.
diversos títulos nacionais e
habilitado. Lá vamos nós de novo! O CREF2/RS, Recebemos muitas denúncias de irregularidades
internacionais com a Seleção
Brasileira. Foi também pro- assim como todo Sistema CONFEF/CREFs, está e a Fiscalização do CREF2/RS tem feito o que
fessora estadual, técnica de lutando para reverter isto também. pode, basta ver a reportagem sobre os recordes
esgrima do Grêmio Náutico do Departamento de Fiscalização e Orientação
União e da Sogipa, consulto- Outro desafio nosso, atualmente, é a proliferação (DEFOR) que publicamos nesta revista.
ra do Ministério do Esporte, de cursos de Ensino a Distância (EAD), que Atualmente são 497 municípios no Rio Grande do
professora da UFRGS e coor- invadiram todas as áreas do conhecimento. Nós Sul e, nem mesmo se tivéssemos 497 fiscais
denadora da Secretaria de
estamos atuando, junto aos demais Conselhos conseguiríamos dar conta de tudo. O dia que
Esportes de Porto Alegre e
Profissionais da Saúde, para tentar impedir que conseguirmos ser como o Conselho de Medicina,
da Brigada Militar. Na Prefei-
sejam autorizadas Graduações na modalidade que tem somente dois fiscais, que não saem da
tura, idealizou e implantou o
programa Caminhadas Ori- EAD na nossa área. Sabemos da dificuldade para sede porque não precisam, já que todo médico é
entadas, premiado interna- revertemos esta situação, principalmente porque um fiscal em potencial, nenhuma outra pessoa
cionalmente. Defensora da já há instituições de ensino autorizadas pelo MEC trabalharia ilegalmente na nossa profissão.
atividade física voltada para a ofertar este tipo de modalidade, mas se Precisamos nos posicionar, nos especializarmos
a saúde, está atualmente na conseguirmos aumentar a exigência e as cada vez mais, ocuparmos nossos espaços,
luta para incluir a Educação qualificações das estruturas para a manutenção valorizar a nossa área e não permitir que leigos
Física nos conselhos munici-
destes cursos, a partir de uma carga horária tomem o nosso lugar, pois somente assim, unidos
pais e estaduais de Saúde.
presencial, já será uma vitória. e fortes, poderemos nos orgulharmos de dizer
que somos profissionais de Educação Física.
Além destes, ainda temos o problema que é o
desconhecimento que alguns profissionais de Bom 2017 para todos e que venham novos
Educação Física têm a respeito da função da desafios!
Conselho e do trabalho que desempenhamos
diariamente. Muitos nos procuram cobrando por
Carmen Masson
funções que cabem aos sindicatos, que no nosso Presidente CREF2/RS

CREF2/RS em Revista 03
PERFIL

VIRGÍNIA

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL


WOLFFENBÜTTEL
Na escola de um dos bairros mais violentos de
Porto Alegre, Virgínia Wolffenbüttel coordena o
projeto Jovens Talentos e mostra que há um novo
caminho para a Educação Física escolar através do
incentivo ao esporte e da valorização dos alunos

A
realidade das crianças que ainda no Ensino Fundamental e continuei delas. Tanto é que até hoje eu faço peso e
estudam na Escola Estadual jogando no Ensino Médio, tanto na escola altura, algo que a maioria dos outros
Mariz e Barros, localizada na Vila como no clube Gondoleiros. A treinadora professores já não faz mais, por considerar
Safira, uma das regiões mais pobres e da nossa equipe era maravilhosa e por importante a noção do crescimento dos
violentas de Porto Alegre, começou a ser causa dela eu quis ser técnica também”, alunos que posso ter assim”, acrescenta.
mudada em 2010, com a chegada de conta. “Os dois professores que tive, nessa
Virgínia Wolffenbüttel (CREF 000055- época, gostavam muito de mim, mas ESCOLA PÚBLICA
G/RS). Com mais de 30 anos de experiên- exigiam bastante durante as aulas, eram
cia, a professora de Educação Física, que verdadeiros disciplinadores. O jeito deles Depois de muito tempo nos mesmos
por muito tempo atuou na pré-escola do me colocou nos eixos e foi importante para lugares, Virgínia se colocou diante de um
Grêmio Náutico União e em outras creches que eu aprendesse a me organizar para os grande desafio profissional, em 2000.
da cidade, iniciou a sua carreira na rede treinos e para a escola”. Após ser aprovada no concurso para
pública de ensino diante de muitos desa- professora do Estado, ela foi apresentada à
fios, mas com a certeza de que a sua Já na faculdade de Educação Física, o Escola Mariz e Barros, que precisava de um
dedicação e o seu empenho na busca por plano inicialmente traçado por Virgínia professor de Educação Física na época. “A
alternativas, aliado ao carinho pelos não ocorreu como planejado. A professora, moça que me atendeu na Secretaria de
alunos e ao amor pela profissão, poderiam em vez de se dedicar à carreira de Educação disse que era uma escola
modificar o dia a dia dos estudantes que treinadora esportiva, começou a trabalhar maravilhosa, com um prédio recém-inau-
viviam sem perspectivas para o futuro. na Educação Infantil e até mesmo numa gurado, na zona norte de Porto Alegre. Ela
academia. “Na maioria das vezes, não é disse que eu ia adorar”, relembra. “Como
Os resultados conquistados pelo projeto possível ter uma continuidade com o aluno era fácil para chegar, bastava um ônibus,
Jovens Talentos, coordenado pela profes- só de musculação. Ele entra na academia acabei aceitando a indicação do Mariz e
sora nos últimos 15 anos e que já acumula em outubro, quer perder a barriga até o Barros pela localização mesmo. A maior
diversos títulos municipais e estaduais, verão, e depois que volta da praia dificuldade foi sair de uma escola parti-
precisa ser contextualizado pela trajetória abandona a atividade física”, conta. “Na cular de classe média alta, que era o União,
de Virgínia, desde a sua época de escola, diferente disto, há um acompanha- e ir para a rede estadual, em uma zona
estudante, para ser compreendido da mento de verdade, eu consigo trabalhar conhecida pela violência e pelo tráfico de
melhor forma possível. “Fui atleta de vôlei com as crianças vendo o desenvolvimento drogas. Eu precisei primeiro entender o

04 CREF2/RS em Revista
mundo da Vila Safira para depois trazer as para todos, com certeza, mas também comunidade”, contextualiza Virgínia. “O
crianças para perto de mim”. precisamos confiar que tudo pode dar handebol foi fácil de introduzir e não
certo. Eu acho que, atualmente, muitos houve nenhuma resistência com o projeto,
Mesmo diante da pobreza e da violência professores deixa- dos alunos ou da direção.
que assola a região, Virgínia revela que ram de acreditar na “O nosso trabalho não é Com o tempo, as crianças
não foi chocante o seu primeiro dia de força transformado- ainda aprenderam que
trabalho no Mariz e Barros. “Sou bem ra da Educação
só pelo dinheiro que o para participar do Jovens
adaptável, mas obviamente tem gente que Física. Nós não Governador nos paga, Talentos é preciso ter
se assusta e muitas pessoas que entraram podemos esperar
mas pelo aluno que está disciplina. Isto criou a
comigo acabaram não ficando na escola”, que o Governador cultura de um novo
esclarece. “Lembro que quando comecei acredite no nosso ali na nossa frente“ comportamento dentro
uma outra professora saiu de lá porque trabalho se nós da escola”, comemora.
estava com síndrome do pânico, se mesmos não valorizamos a nossa
traumatizou com a realidade da Vila Safira profissão”, critica. A iniciativa de formar uma equipe foi 100%
e via um bandido a cada esquina. Eu, ao dela. “Eu costumo dizer que não almoço há
contrário, sempre fui muito confiante e JOVENS TALENTOS 14 anos, mas faço assim porque gosto”. O
acabei me apaixonando rápido pelas projeto, que no primeiro ano já contava
pessoas da comunidade. Não demorou Com o intuito de oferecer algo a mais para com a participação de 40 alunos, começou
muito e já estava pensando: ”o que posso as crianças do Mariz e Barros, Virgínia a precisar da atenção da professora tam-
fazer para mudar esse lugar?”. conseguiu, finalmente, realizar o sonho de bém para além dos treinos, que ocorrem
treinar a sua própria equipe esportiva, já quatro vezes por semana. “A procura pela
Os quase 20 anos de atuação no Mariz e em 2002, dois anos após a sua entrada na equipe sempre foi muito grande e eu tive
Barros têm revelado para a professora que escola. Atenta a realidade da comunidade, que conciliar o Jovens Talentos com a mi-
ainda há uma descrença com a Educação a escolha mais adequada foi a formação de nha própria vida. Eu digo que sou casada
Física escolar. “Na época que comecei na um time de handebol, primeiramente com o projeto, porque passo muito tempo
escola, tinha colegas que me chamaram de masculino. “O esporte interessou pelo seu pensando nas competições, nos treinos e
louca por aceitar ir para uma comunidade conjunto de regras rígidas, já que trabalho na preparação física dos alunos. A dedi-
tão pobre e violenta, como a Vila Safira. O em um local de bastante violência. O cação é integral, sou apaixonada pelo time
que os profissionais de Educação Física se futebol, infelizmente, não impõe os e a responsabilidade não pesa para mim”.
esquecem, muitas vezes, é que trabalha- mesmos limites e com o handebol eu ainda
mos com pessoas, não com lugares”, consigo trabalhar com mais gente ao Os resultados mais expressivos não
explica. “A violência é um grande medo mesmo tempo e com menos recursos do demoraram muito para aparecer e a
que aqueles que são exigidos pelo vôlei”. dedicação dos alunos pode ser dimensio-
nada pelas medalhas que foram conquis-
O handebol, que já vinha funcionando tadas, nos níveis municipal e regional. “O
bem nas aulas de Educação Física e em melhor caminho para incentivar o esporte
pequenos torneios internos, passou a na escola é dar mais condições para os
ganhar um horário de treino fixo e à parte, professores desenvolverem as suas ideias.
sempre ao meio dia. “Em 2004, participa- Quero fazer mais coisa, mas não tenho
mos do nosso primeiro Jogos Escolares do tempo, já que são 40 horas de aula por
Rio Grande do Sul (JERGS), mas perdemos semana e onze turmas me esperando
de lavada. Mesmo assim, a experiência foi quase todo dia”, conta Virgínia. “Gostaria
muito boa, porque começamos a entender que os meus colegas de profissão, que
o mundo das competições e eu também atuam em outras escolas da cidade, se
percebi que os alunos conseguiam mesmo envolvessem mais com os estudantes. O
controlar em quadra a raiva que eles que percebo é que os professores,
traziam do dia a dia conturbado da sobretudo os mais jovens, não querem

CREF2/RS em Revista 05
PERFIL
participar muito das aulas”, critica. “O que A busca por alternativas, para além do atrás, cresceram e hoje são adultos
eu posso fazer pelo mundo sem esperar esporte competitivo, também ocorre nas responsáveis, que trabalham e que
nada em troca? O que eu posso fazer pelo aulas de Educação Física ministradas pela conseguem se manter em um mesmo
mundo que não seja somente por professora. “Os benefícios proporcionados emprego por um bom tempo”.
dinheiro? O problema é que as pessoas só pela Educação Física só aparecem quando
buscam aquilo que dá as crianças se O futuro da Educação Física escolar, como
algum retorno, ninguém “ Na escola, há um envolvem 100% defende Virgínia, muito depende dos
mais se doa para o bem acompanhamento de com as atividades professores, que precisam compreender
de outro ser humano”. e porque o meu que todos representam um instrumento de
verdade, consigo trabalhar esforço é para não transformação. “O nosso trabalho não é só
FUTURO com as crianças vendo o t e r u m a a u l a pelo dinheiro que o Governador nos dá,
sempre igual. mas pelo aluno que está ali na nossa
Apesar da falta de desenvolvimento delas“ Tento trabalhar o frente. A maioria ainda só se preocupa com
incentivo que o esporte máximo as pos- o contracheque baixo e com o 13º salário
tem no Brasil e das propostas à Educação sibilidades, saio catando pneu pela Vila que às vezes não vem. Eu até consigo dar
que vieram com a MP 746/2016 e com a Safira, cabo de vassoura e busco todos os uma boa aula sem bola, mas não posso
PEC 55/2016, Virgínia acredita que a recursos possíveis”, conta. “Eu tinha fazer isto sem valorizar o ser humano que
Educação Física escolar pode continuar alunos revoltados e explosivos que se está comigo”, salienta. “O que me motiva a
desempenhando o seu papel transforma- tornaram outras pessoas depois de continuar acordando cedo, mesmo depois
dor, com grande eficiência, no futuro. “O frequentarem as aulas de Educação Física. de 30 anos de trabalho, é o convite para
desafio que os profissionais de Educação Acredito que os professores, de uma ser madrinha de casamento que recebi de
Física têm pela frente é continuar mesmo maneira geral, precisam conversar mais uma aluna, tempos atrás, e chegar no
sem uma valorização salarial por parte do com os seus alunos, para entender as primeiro dia de aula e ver aquele bando de
Governo e sem os materiais adequados dificuldades de cada um e para perceber criança querendo me agarrar. Os profissio-
para as aulas”, relata. “O caminho é que os problemas de casa quase sempre nais de Educação Física precisam gostar de
manter a crença nas crianças e seguir em refletem na escola”, revela. gente, pois só assim o nosso trabalho pode
frente, se dedicando cada vez mais, dar certo”, reflete Virgínia. “Não podemos
mesmo diante das dificuldades. Impossível Com a proximidade e a amizade construída ir para a escola com raiva. Todos aqueles
o Brasil não melhorar se a gente estiver com os alunos ao longo do tempo, Virgínia que querem um mundo melhor precisam
trabalhando para que isto ocorra. No Mariz consegue notar uma mudança também no começar a fazê-lo ainda hoje, não adianta
e Barros, por exemplo, sei que quando as comprometimento com as outras pensarmos como será daqui 50 anos se a
crianças estão comigo elas não estão na disciplinas e com a grade bastante rígida gente não trabalha com aqueles que serão
rua se envolvendo com a criminalidade ou de horários do Jovens Talentos. “As adultos lá no futuro”.
com as drogas”, relata. crianças, que pouco
respeitavam os
Outro problema enfrentado pelos jovens professores, chegavam
atletas de Virgínia é que não há a cultura sempre atrasados. Com
do handebol em Porto Alegre. “Muitos dos o nosso projeto, todos
meninos já foram convidados para jogar estão no horário, nunca
por outros clubes, de outras cidades, mas esquecem um docu-
acabaram não indo porque é longe ou mento de identidade
porque não têm dinheiro para a passagem, para as competições e
até mesmo quando é no Rio Grande do Sul. ainda andam com as
A maioria precisa trabalhar e aqui na mochilas bem organiza-
capital não existem muitas oportunidades das. Os nossos ex-
para quem deixa a escola e quer continuar atletas que eram
jogando handebol”. aplicados assim, anos

06 CREF2/RS em Revista
FISCALIZAÇÃO

FISCALIZAÇÃO BATE NOVOS


RECORDES EM 2016
As ações de fiscalização do CREF2/RS,
realizadas durante o ano passado,
impediram o funcionamento de diversos
estabelecimentos irregulares e superaram
todas as marcas anteriores

A
intensa movimentação dos correta de atendimento, dividindo de ao contrário das demais, foi orientar os
agentes fiscais do CREF2/RS, maneira clara as competências e as alunos que participavam de cursos de
durante todo o ano de 2016, atribuições de cada uma destas profissões formação e esclarecer para o público
resultou em um novo recorde para o envolvidas. presente que as atividades fitness somente
Departamento de Fiscalização e podem ser ministradas por profissionais
Orientação (DEFOR). O número de O DEFOR, ao longo do último ano de habilitados – bacharéis em Educação Física
academias fechadas, que chegou à marca trabalho, também atendeu mais de mil com registro no Sistema CONFEF/CREFs.
de 50 estabelecimentos em todo o Estado, denúncias e autuou cerca de 700 de Para Fernanda, a presença do Conselho em
atingiu praticamente o dobro do que foi pessoas – muitas delas por exercício ilegal atividades deste tipo também é muito
feito em 2015, quando impossibilitou o da profissão, por estarem fora da área de válida, pois permite uma aproximação aos
funcionamento de pouco mais de 20 atuação, por não possuírem um Termo de acadêmicos, podendo esclarecer todas as
empresas irregulares. Sem registro no Compromisso de Estágio válido ou por não dúvidas que eles têm sobre a atuação
Conselho e sem a presença de um cumprirem corretamente as atribuições de profissional. “Muitos estudantes não
profissional devidamente habilitado no Responsável Técnico (RT). Para a coorde- sabem que existe um órgão fiscalizador,
local no momento da visita, as academias nadora do DEFOR, Fernanda Rodrigues que cobra a Lei e que tem o intuito de só
só puderam voltar a atender quando (CREF 009604-G/RS), todo o esforço do permitir que profissionais capacitados
regularizaram a sua situação. Conselho em inibir os maus profissionais estejam no mercado”, salienta.
tem sido muito recompensador. “A agenda
Com cerca de 200 visitas realizadas a cada de fiscalização nos desafia cotidianamen- OBRIGAÇÕES DO
mês, em média, a Fiscalização do CREF2/RS te. Mas, mesmo assim, contabilizamos RESPONSÁVEL TÉCNICO
contou ainda com a parceria do Conselho muito avanços em 2016, coibindo
Regional de Nutricionistas (CRN-2), do irregularidades e dando agilidade às As academias, assim como as escolinhas
Conselho Regional de Fisioterapia e punições das empresas que não oferecem desportivas e as demais empresas que
Terapia Ocupacional (Crefito5), do Procon- serviços adequados à sociedade”, atuam no segmento das atividades físicas,
RS, da Polícia Civil, da Vigilância Sanitária e comentou. precisam ter, obrigatoriamente, um
do Ministério Público. As ações reforçadas profissional de Educação Física assumindo
e conjuntas, feitas em diversos estabeleci- Além das ações mencionadas, os agentes o cargo de Responsável Técnico (RT). Como
mentos de todo o Rio Grande do Sul, do DEFOR também compareceram a também esclarece Fernanda, são exata-
serviram para verificar o funcionamento de eventos relacionados, de maneira geral, à mente estas pessoas que responderão
várias empresas e para orientar a maneira Educação Física. O objetivo destas visitas, tecnicamente e eticamente pelas ativida-

CREF2/RS em Revista 07
FISCALIZAÇÃO
des que são desenvolvidas nestes locais. estar habituados com todas as questões Criminais (DEIC) e por técnicos da
“Os proprietários certamente possuem a relacionadas ao dia a dia de trabalho, Companhia Estadual de Energia Elétrica
sua parcela de responsabilidade, mas identificando erros e corrigindo-os (CEEE), que identificaram as irregularida-
sempre será o RT o primeiro a responder ao imediatamente, para que o serviço des. As academias tinham uma ligação
consumidor, à Justiça e ao Conselho. O prestado nunca sofra prejuízo”, encerra. direta do poste na via pública, de modo
entendimento da importância e do alcance que boa parte da energia consumida era
desta função é imprescindível para que os CREF2/RS E POLÍCIA CIVIL desviada da concessionária. A CEEE estima
profissionais de Educação Física, assim JUNTOS NA OPERAÇÃO BLECAUTE que estes estabelecimentos tenham dado
como futuramente os estudantes, a um grande prejuízo aos cofres públicos
exerçam com plena consciência das suas Em outubro e novembro, duas ações funcionando desta forma.
atribuições”. realizadas em conjunto pelo Conselho e
pela Delegacia de Repressão aos Crimes O delegado Alexandre Fleck, coordenador
De uma maneira geral, o Responsável Contra o Patrimônio de Concessionárias e da Operação Blecaute, frisou que os
Técnico assume a responsabilidade sobre Serviços Delegados (DRCP), da Polícia prejuízos causados por estes estabeleci-
a segurança e qualidade dos equipamen- Civil, fecharam quatro academias que mentos são arcados por toda a população.
tos, do espaço físico, das condições de funcionavam de maneira irregular, em “Além disto, esta conduta acarreta também
higiene, da regularidade dos estagiários e Porto Alegre. Os estabelecimentos, numa concorrência desleal, pois uma
de todo o corpo técnico, coordenando e localizados no bairro Rubem Berta e Cristo academia que funciona de maneira correta
zelando pelo mais correto andamento do Redentor, praticavam furto de energia não consegue competir com aquela que se
trabalho. “Em todas as nossas visitas, elétrica e não contavam com um profissio- vê livre do custo da energia”, complemen-
explicamos que o RT deve estar a par das nal habilitado no local ministrando as tou. Os proprietários das quatro academias
disposições do Código de Ética da nossa atividades. foram presos em flagrante, pela prática de
profissão, bem como da legislação e das crime de furto qualificado, com pena de
resoluções do Conselho Federal. Por causa Os agentes fiscais do CREF2/RS estiveram dois a oito anos de reclusão. O CREF2/RS e
da extrema importância desta função, os acompanhados por policiais do a Polícia Civil voltarão a realizar fiscaliza-
profissionais de Educação Física precisam Departamento Estadual de Investigações ções conjuntas em breve.

AÇÕES DE FISCALIZAÇÃO DO CREF2/RS ENTRE 2014 E 2016

2014 2015 2016


Registro após fiscalização - Profissionais 234 256 283
Registro após fiscalização - Empresas 188 329 288
Processos de fiscalização abertos 92 229 378
Termos de Cooperação assinados 58 70 285
Processos encaminhados para Ação Civil Pública 11 61 84
Aplicação de multa 0 0 54
Visitas 2570 2074 2459
Cidades visitadas 256 216 274
Atuação por exercício ilegal 1090 345 406
Autuação de empresa sem profissional presente 382 352 425
Autuação de RT descumprindo funções 40 35 174
Autuação de profissional fora da área de atuação 118 73 105
Notificações 1424 1239 1333
Denúncias 736 1253 1051

08 CREF2/RS em Revista
FUTEBOL SOCIAL

OPORTUNIDADES

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL


PELO FUTSAL
Aproximando as crianças carentes do esporte, o
trabalho da Associação Atlético Futebol Clube
tem modificado a realidade de diversas
comunidades de Porto Alegre

O
bairro Jardim Carvalho costuma moradores da região, atualmente está mais afastados da zona sul, até os novos
aparecer com certa frequência espalhado por alguns outros lugares da lugares cedidos para os treinos. “No ano
nos jornais e na televisão, muito cidade, mas é do Jardim Carvalho que a passado, desistimos de utilizar o Ara-
por causa dos crimes associados ao tráfico maioria dos nossos alunos vêm”, conta. rigbóia, apesar da sua boa infraestrutura,
de drogas que ocorrem na zona leste de porque sentimos a grande dificuldade que
Porto Alegre. A comunidade local, Com cerca que 30 participantes em 2017, os nossos alunos tinham para chegar lá. Os
habituada a enfrentar os grandes desafios divididos entre a equipe masculina e femi- mais pequenos, além de precisarem dos
impostos pela violência cotidiana, tem nina, Iorio acredita que o Esporte e Lazer pais para se deslocarem até o treinamento,
aprendido a conviver também com os bons na Comunidade já atendeu mais de 150 às vezes precisavam pegar dois ônibus até
exemplos, principalmente nos últimos crianças desde que começou a atuar o Jardim Botânico. Como não temos um
anos. A Associação Atlético Futebol Clube oficialmente no bairro. “A Prefeitura, com o local próprio da AAFC e nem o apoio de
(AAFC), comandada por Marco Aurélio tempo e com a minha insistência, começou alguma empresa para o transporte, não
Iorio (CREF 021919-P/RS), atua no local a ceder alguns locais para a realização dos poderíamos comprometer a continuidade
desde 2010, buscando tirar as crianças nossos treinamentos, já que as quadras ao do nosso trabalho por causa disso. Eu já
carentes da região da sua situação de ar livre que utilizávamos eram um proble- tive, inclusive, que pagar passagem da
vulnerabilidade através do esporte. ma nos dias de chuva”, revela. “Assim, nós volta de muitos alunos do meu próprio
passamos a frequentar o espaço coberto bolso para que eles não desistissem do
Iorio, que desde o final dos anos 80 ensina do Parque Ararigbóia, no Jardim Botânico, esporte”, revela.
o futsal para crianças e adolescentes de e até mesmo o Tesourinha e o Ginásio da
dez a 15 anos de idade, conta que o seu Brigada, em uma zona mais central da FORA DE QUADRA
projeto, já registrado na Prefeitura e cidade, com mais alternativas de mobilida-
intitulado Esporte e Lazer na Comunidade, de. As nossas atividades foram expandidas Além da ampliação dos treinos em quadra,
cresceu muito nos últimos tempos, mesmo agregando crianças carentes de outros Iorio conta que o crescimento do projeto
que a sua realidade ainda esteja associada bairros, o que ampliou o trabalho e também se dá por causa do papel de olhei-
à situação de pobreza do bairro onde também as nossas deficiências”. ro que vem desempenhando em outros
surgiu. “Antes da AAFC, eu aproveitava as bairros da cidade. “Eu vou aos campinhos
quadras externas e a praça em frente a O problema ocasionado pelo crescimento de outras comunidades, como a Vila Cru-
escola da comunidade para os treinamen- do projeto, como aponta Iorio, foi que zeiro. Eu entro lá, converso com as crianças
tos dos meninos e das meninas que se algumas crianças tiveram que abandoná- que têm mais potencial e depois procuro
interessavam pelo futebol. O projeto, lo por não terem dinheiro para se deslocar os pais, explicando para eles o trabalho da
inicialmente atrelado ao dia a dia dos do Jardim Carvalho, ou de outros bairros AAFC na formação de novos jogadores”,

CREF2/RS em Revista 09
FUTEBOL SOCIAL
explica. “O problema, sobretudo nos momento, são pequenas. Às vezes a gente que não têm dinheiro para pagar os 80
últimos meses, é que às vezes preciso ganha o apoio de alguém que banca um reais de mensalidade das escolinhas”,
entrar em zonas de risco, sendo até mesmo ônibus para uma competição no litoral, por explica. ”A demanda é muito grande e,
abordado por traficantes”. exemplo, mas ainda quero os alunos do inevitavelmente, a gente pode perder
projeto com uma cesta algum talento por culpa inteiramente
Com as aulas ocorrendo,
“Vivemos a situação básica e com o suporte de nossa. As crianças que pegam gosto pelo
em grande parte, nos de um dia ter um uma academia e de um futebol sempre acabam levando um amigo
sábados e nos domingos, preparador físico”, conta. para treinar junto, que também não pode
Iorio ainda precisa se
lugar para treinar e ser deixado de lado”, acrescenta.
preocupar com a elabora- no outro não“ Apesar das dificuldades, os
ção de um cronograma de benefícios proporcionados A AFFC, além de sua busca por um local
atividades que não gere conflito com as pela vivência do esporte são imensuráveis próprio para os seus treinos, também está
exigências escolares de cada um dos no dia a dia das crianças da AAFC. “Os pais aberta para a participação de voluntários,
alunos. “Nas férias, até conseguimos me relatam que as notas melhoram na sobretudo de profissionais de Educação
reforçar os treinamentos, criando uma escola e que a relação dentro de casa Física que tenham interesse pelo fustal e
preparação específica para algum também”, revela Iorio. “As crianças pela preparação física. “O esporte pode
campeonato. Como temos crianças que aprendem comigo, em longo prazo, que mudar a vida das pessoas e a gente
vêm de colégios distintos e que precisam precisam de disciplina e de comprometi- percebe que o futebol está ajudando
chegar às aulas de formas e em horários mento com o treinamento, pois só assim bastante as crianças neste processo, pois
diferentes, nunca temos a certeza de que poderão ter uma chance num grande clube os pais são unânimes em nos relatar como
teremos todo o nosso time junto no final da do Brasil ou do exterior. A gente explica todos melhoram depois que vieram treinar
tarde de uma quarta-feira qualquer, por que a exigência é grande e dá como com a gente”, menciona. “O futebol é o
exemplo”. Por isto, o relacionamento do exemplo o Lincoln, do Grêmio, que foi um esporte mais popular do Brasil e ainda
treinador com os pais é fundamental para dos nossos alunos e está aí, sendo pode crescer mais. Para isto, a CBF poderia
a assiduidade da turma. “Eu falo sempre convocado e fazendo gol por todas as determinar que uma porcentagem da
com as crianças sobre os dias e horários de Seleções de base do Brasil”. receita dos clubes com a televisão e com a
treino, mas ligo também para os pais, para renda dos jogos fosse destinada às ONG's e
reforçar. Às vezes, até consigo facilitar a No momento, Iorio acredita que a AFFC aos projetos que trabalham com o esporte
locomoção deles, contando que um outro tem dois ou três alunos com um grande de maneira social. No mundo em que
menino da mesma rua vai também, na potencial de repetir os passos de Lincoln, vivemos atualmente, a minha maior
expectativa que eles dividam uma carona mas salienta que os grandes clubes da recompensa é saber que estamos
ou coisa assim”. cidade precisam investir mais em projetos ajudando bastante gente e incentivando
sociais que buscam revelar talentos para o uma vida diferente para todos, longe do
Se a dinâmica montada por Iorio tem futebol. “O Inter até tem um trabalho crime e das drogas”, finaliza.
funcionado incrivelmente bem fora das próprio, mas todas as
quadras, a falta de um espaço próprio é o crianças carentes do
próximo desafio para que a AAFC continue interior e com um futuro
crescendo. “Mesmo com o suporte da no esporte enfrentam
Prefeitura cedendo os ginásios, vivemos grandes obstáculos para
uma terrível situação, de um dia ter lugar se manter treinando e
para treinar e no outro não. No momento, estudando longe de casa.
estamos na busca de alguma parceria para Os clubes, no meu enten-
viabilizar a construção do nosso próprio dimento, não parecem
espaço, para que as crianças não descu- estar muito preparados
bram só no dia se o treino será perto ou para absorver a maioria
longe das casas delas”, adianta. “As das crianças que vêm de
contribuições que temos recebido, até o comunidades carentes e

10 CREF2/RS em Revista
CAPA

HORA DE REPENSAR A

FOTO: PORTAL DA EDUCAÇÃO FÍSICA


EDUCAÇÃO FÍSICA
Aprovadas na Câmara e no Senado, a MP
746/2016 e a PEC 55/2016 representam um
grande desafio para a Educação Física, que
precisa buscar alternativas para fortalecer o seu
protagonismo no ambiente escolar

O
ano de 2016 foi atribulado para para aprofundar o tema, repleto de formação dos estudantes de todo o Brasil”,
a política nacional. Além dos indagações e de possíveis saídas. O opina.
escândalos de corrupção consenso, entretanto, é que chegou a hora
investigados pela Operação Lava Jato e do de repensar a Educação Física e de propor Como salienta Francisco de Menezes (CREF
impeachment da presidente Dilma avanços, mesmo diante das dificuldades, 000075-G/RS), docente do curso de
Rousseff, os parlamentares brasileiros para que a disciplina continue ganhando Educação Física da Feevale e também
também trouxeram para discussão força e os profissionais protagonismo onde integrante da Comissão de Educação Física
propostas polêmicas, supostamente atuam. Escolar do CREF2/RS, uma “nova”
necessárias para que o país saia da crise. A Educação precisa ser criada no Brasil, mas
reforma da previdência e a atualização da MUDANÇAS PARA O BEM E PARA O MAL na contramão da MP 746/2016, que
carga tributária muito estiveram em pauta buscou a exclusão de algumas disciplinas,
nos últimos meses, mas foi a MP 746/2016 A MP 746/2016, assim como a PEC como a Educação Física, da grade
e a PEC 55/2016 que ganharam a atenção 55/2016, podem modificar a educação no curricular. “O Ensino Médio tem que passar
total dos profissionais de Educação Física, Brasil, alterando a proposta pedagógica por mudanças que busquem melhorar a
por propor mudanças radicais à área, do Ensino Médio e delimitando os sua qualidade. No entanto, qualquer
sobretudo àquilo que se relaciona com o investimentos públicos nesta área no país. alteração deve ser amplamente debatida,
ambiente escolar. Para Marcia da Cruz (CREF 007542-G/RS), pois estamos tratando do principal alicerce
secretária de Esporte e Lazer de Caxias do do desenvolvimento humano”, comple-
Com o intuito de debater as consequências Sul e integrante da Comissão de Educação menta Leandro Gregoletto (CREF 008755-
que envolvem a MP do Ensino Médio, que Física Escolar do CREF2/RS, as mudanças G/RS), professor da rede municipal de
foi aprovada na Câmera e no Senado, e a indicadas pelo Governo Federal podem ser Caxias do Sul e ex-coordenador dos Jogos
PEC do Teto dos Gastos Públicos, que foi encaradas por muitos enfoques. “O que se Escolares do município. “A tentativa de
transformada em Emenda Constitucional percebe, no entanto, é que as alterações retirar a Educação Física do currículo
no final do ano passado, o CREF2/RS em propostas à Educação Básica e ao escolar era uma grande falha do projeto
Revista reúne aqui diversos profissionais Ensino Médio não demonstraram inicial, pois a disciplina é essencial para a
que atuam em escolas, pesquisadores e o objetivo de resolver as lacunas construção de várias habilidades físicas e
docentes universitários de todo o Estado que a Educação Física tem deixado na motoras”.

CREF2/RS em Revista 11
CAPA
Além dos problemas que envolvem a MP de reforma do Ensino Médio deveria, em pensáveis em todas as fases da vida
746/2016, a proposta de restruturação do primeiro lugar, tornar imprescindível a escolar”, complementa Miryam.
Ensino Médio, como salienta Miryam presença do profissional de Educação
Brauch (CREF 006834- Física em todas as Além disto, no atual modelo pedagógico
G/RS), presidente da
“A falta de valorização séries”, avalia Matheus adotado pela maioria dos professores de
Comissão de Educação Arena (CREF 013941- Educação Física, o aluno inicia a sexta série
Física Escolar do por parte da G/RS), professor do do Ensino Fundamental e vai até o terceiro
CREF2/RS, também não Colégio Santa Catarina, ano do Ensino Médio realizando as
comunidade escolar
pareceu muito ajustada de Novo Hamburgo, e mesmas atividades durante as aulas – o
com a ideia do congela- com a nossa disciplina técnico de handebol da que precisa ser, da mesma forma,
mento dos investimentos LHH/GUSCH. “As dis- modificado. “Há espaço para muitas
ainda é muito
públicos com a Educação, cussões sobre a possível ideias, mas também necessitamos de
propostos pela PEC perceptível“ retirada da Educação apoio e de condições para desenvolver
55/2016. A Base Nacional Física do currículo esco- ações coordenadas com as Confederações,
Comum Curricular (BNCC), que vem sendo lar nos tiraram da zona de conforto. Para com os Ministérios e com a direção das
construída pelo Ministério da Educação avançar, temos que nos mobilizar para escolas”, sugere José Luís Dalla Costa
com a colaboração de profissionais das agregar qualidade ao nosso trabalho, (CREF 003711-G/RS), pesquisador e
mais diversas áreas do conhecimento, perguntando para a comunidade: 'qual é professor do curso de Educação Física da
também revela a existência de um novo Educação Física vocês querem?'. Apenas URI Erechim. “A Confederação Brasileira de
caminho para a Educação Física, mas com desta forma poderemos construir uma Voleibol, por exemplo, poderia incentivar o
investimentos cada vez maiores.“Durante disciplina atual e capaz de trazer reais desenvolvimento desta modalidade,
as discussões da BNCC, percebemos que o benefícios à vida dos alunos”, acrescenta fornecendo conhecimento técnico, e o
Ensino Médio estava sem identidade, por Queiroga. Ministério do Esporte com infraestrutura,
isto foi criada uma proposta para que as materiais e equipamentos para as
comunidades escolares possam construir o Para Ivan Carlos Bagnara (CREF 005610- escolas”, explica.
seu próprio projeto pedagógico, atenden- G/RS), docente da Faculdade IDEAU e
do as habilidades e competências doutorando em Educação nas Ciências De uma maneira geral, não há grandes
necessárias e de interesse dos alunos. pela UNIJUÍ, a Educação Física também diferenças entre o trabalho que é desen-
Mas, para que a PEC 55 sirva realmente tem o desafio de construir um novo volvido nas escolas públicas e nos colégios
para superar a crise, é necessário que a “saber” acerca do “fazer”, diante daquilo particulares. “As aulas de Educação Física,
medida atinja a todos, do Executivo ao que foi proposto pela MP 746/2016. “Nós na maioria das cidades do Rio Grande do
Judiciário, ou será só mais um obstáculo fomos alçados à condição de um compo- Sul, não demonstraram sofrer uma
para as nossas vidas”, acrescenta João nente curricular pela legislação, mas em alteração significativa entre o que se vê na
Guilherme Queiroga (CREF 000839-G/RS), grande medida
também integrante da Comissão de ainda não assu-
Educação Física Escolar do CREF2/RS. mimos esta con-
dição. No meu
SAÍDAS E ALTERNATIVAS ponto de vista, é
preciso mudar a
Apesar das suas falhas, a MP 746/2016, de nossa 'forma de
certa forma, foi importante ao trazer para o ser'”, considera. “A
debate a necessidade de se buscar mudança deve
caminhos alternativos para que a começar pelo
FOTO: SHUTTERSTOCK

Educação Física Escolar continue crescen- reconhecimento


do, mesmo diante de uma limitação do da nossa disci-
investimento público. “Em vez de restringir plina e do nosso
a obrigatoriedade da disciplina, a proposta papel como indis-

12 CREF2/RS em Revista
rede pública e na rede privada. Isto considero estarrecedor ”, continua nivelamento deveria ser pelo alto, não por
porque, no nosso Estado, é muito comum Bagnara. “A saída é que precisamos baixo, como é feito atualmente”, analisa.
ter o mesmo profissional atuando nos dois estudar profundamente o que significa ser Neste mesmo sentido, também existem os
locais”, revela Marcia. Como salienta professor e devemos servir de ferramenta desafios impostos pelo cotidiano escolar,
Gregoletto, as especificidades acabam para que o aluno construa a sua corporei- que acabam levando a reflexão sobre a
ficando por conta da estrutura física das dade, exercite a criatividade e a sua Educação Física escolar para além da sala
escolas e da realidade social dos alunos. liberdade. Os profes- de aula. “Nós ainda
sores têm que ter “A mudança deve precisamos construir
Se há escolas particulares sem uma boa tolerância, compreen- um currículo escolar
começar pelo
estrutura para aula de Educação Física e são, empatia e traba- com níveis de complexi-
colégios públicos que fogem do senso lhar pela inclusão”, reconhecimento da dade crescentes ao
comum e não estão sucateados, Queiroga finaliza Queiroga.
nossa disciplina como longo dos anos es-
conta que a rede pública e a rede privada colares. O professor de
acabam se tornando dois mundos APOIO NECESSÁRIO indispensável, em todas Educação Física deveria
paralelos por causa das condições de
fases da vida escolar“ desenvolver isto com o
trabalho, que muito dizem respeito à carga A tramitação da MP suporte das outras
horária dos professores e até mesmo aos 746/2016 também disciplinas, mas parti-
salários incompatíveis. “O que tenho visto evidenciou que o empenho dos professo- cipando como protagonista da mesma
é que a escola particular tem oferecido aos res, infelizmente, ainda é muito pouco forma que os outros. As dificuldades
professores melhores remunerações e uma valorizado pelo Governo Estadual e exigem grande envolvimento, estudo e
burocratização menor de todo o processo Federal. “Os profissionais de Educação capacidade de trabalhar em equipe”.
de ensino, o que acaba permitindo Física não são plenamente reconhecidos
agilidade nas decisões que precisam ser como indispensáveis ao desenvolvimento A conclusão é que o ensino não precisa de
tomadas. As escolas públicas até conse- humano, o que precisa ser modificado, a mudanças, como aquelas propostas pela
guem dar conta de uma boa quantidade de partir da excelência do nosso trabalho. MP 746/2016, mas necessita – antes de
tarefas, mas não podemos ignorar o fato Quase que diariamente temos que provar a qualquer outra coisa – de um novo
de que as suas condições financeiras nossa importância”, avalia Laerte comportamento dos seus profissionais. “A
diferem muito da realidade dos colégios Camargo (CREF 002084-G/RS), professor Educação Física escolar é obrigatória
particulares, o que seria bom se fosse de Educação Física da Escola Municipal desde a década de 40 e quem não tem
diferente”, reflete Bagnara. Salzano Vieira da Cunha, de Porto Alegre. justificado a sua importância ao longo dos
“A falta de reconhecimento da nossa anos são os próprios professores”, critica
Como a conjuntura econômica da disciplina, por parte da comunidade Menezes. “Nós resistimos às reuniões
Educação não foi repensada pela MP escolar, também é muito perceptível, pedagógicas, não damos atenção ao
746/2016, muito menos pela PEC devido às crenças errôneas que pairam planejamento e o nosso aluno passa nove
55/2016, cabe aos profissionais de sobre a nossa área. Além disto, há casos anos fazendo a mesma coisa durante as
Educação Física adotarem um novo perfil que a desvalorização se dá devido ao aulas. A Educação Física, só se for
diante destas adversidades, que deverão desleixo dos professores, que não trabalhada com excelência, terá o
persistir por um longo período. “Com demonstram através do seu trabalho a reconhecimento do Governo e a garantia
comprometimento, é possível fazer um importância e os valores primordiais da sua presença em todos os níveis
bom trabalho. O problema, para mim, é da nossa profissão”, complementa escolares”, acrescenta. “A realidade
que o professor de Educação Física se Gregoletto. instável vivida no âmbito político e
acomoda rapidamente”, analisa Menezes. educacional, provocada pelo descompas-
Além disto, as escolas não cobram do Para Dalla Costa, os profissionais de so entre os gestores e a nossa sociedade,
professor um planejamento. “No nosso Educação Física também deveriam buscar está abrindo, mesmo diante da crise, as
caso, constantemente ouvimos que dar um modelo de atuação que incentive o melhores oportunidades para a valoriza-
aula de Educação Física é fácil, que não bom aluno. “O estudante abaixo da média ção da Educação Física nos seus mais
temos conteúdos para ensinar, o que deveria ser motivado a praticar mais. O amplos aspectos”, finaliza Miryam.

CREF2/RS em Revista 13
CAPA

MP 746/2016 RECEBEU MAIS DE 500 EMENDAS PARLAMENTARES

C
om o anúncio da MP 476/2016, a respeito da

FOTO: AGÊNCIA BRASIL


em setembro do ano passado, o necessidade da
Sistema CONFEF/CREFs começou Educação Física con-
a se mobilizar junto aos parlamentares e tinuar como um
aos profissionais da área para barrar a componente cur-
exclusão da Educação Física como uma das ricular obrigatório
disciplinas obrigatórias da grade curricular no Ensino Médio. O
do Ensino Médio. As ações, realizadas em ato, organizado pela
Brasília e também no Rio Grande do Sul, Frente Parlamentar
incluíram visitas aos gabinetes de Mista do Esporte, foi
deputados e senadores, participações em feito em novembro,
audiências públicas e até mesmo um às vésperas da
encontro com o ministro da Educação José votação da MP na Câmara, e reuniu uma aprovou, em dezembro, algumas das
Mendonça Filho. A atuação do Sistema grande quantidade de profissionais de alterações propostas, como o retorno das
CONFEF/CREFs surtiu efeito e, antes de Educação Física contrários à mudança e disciplinas da Educação Física e de Artes
seguir para análise da sua respectiva interessados em participar desta luta. aos componentes curriculares obrigatórios
Comissão Mista, a MP 746/2016 recebeu do Ensino Médio. “O meu voto é pela
568 emendas, de 93 parlamentares “A Educação Física é um componente permanência da Educação Física como
diferentes, com a obrigatoriedade da essencial, que precisa de um currículo matéria curricular obrigatória. Mesmo que
Educação Física presente em grande parte mínimo. No Rio Grande do Sul, temos um acredite que o Ensino Médio precise de
das mudanças sugeridas. projeto, em tramitação na Assembleia, uma reforma que modernize a sua prática
para assegurar a obrigatoriedade da pedagógica, tenho a convicção que
Em Porto Alegre, uma audiência pública, disciplina em todos os anos escolares. O devemos avançar com a Educação Física,
realizada Câmara Municipal e com a exemplo que temos aqui, ao contrário da ofertando a disciplina a todos aos
presença da presidente do CREF2/RS MP, será levado para todo o Brasil”, estudantes de todas as idades”, declarou
Carmen Masson (CREF 001910-G/RS) e de declarou Carmen, durante a audiência. Picciani.
diferentes entidades ligadas à educação e “Quem tem um ritmo de vida ativo
ao esporte, debateu o assunto e levou para consegue prevenir diversas doenças. Por A MP 746/2016, que tramitou como um
Brasília, através do deputado João Derly, isto, a Educação Física precisa ser Projeto de Lei de Conversão (PLC 34/2016),
um documento para ser distribuído entre obrigatória e sua carga horária ampliada, ainda seguiu para análise dos plenários da
os parlamentares a fim de conscientizá-los assim como a presença do profissional de Câmara e do Senado Federal antes de ser
Educação Física concluída, com a assinatura do presidente
garantida nestes Michel Temer, no começo de 2017.
espaços”.
O Sistema CONFEF/CREFs permanece
Também com o apoio atento ao andamento da proposta e segue
do ministro do Espor- convocando os profissionais de todo o
te Leonardo Picciani Brasil a entrarem em contato com os
e do ex-ministro da parlamentares dos seus respectivos
Educação Renato Estados para reforçar a importância da
Janine, a Comissão Educação Física e para defender a
Mista responsável permanência da disciplina na grade
Audiência pública realizada na Câmara de Vereadores de Porto Alegre pela MP 746/2016 curricular de todas as escolas.

14 CREF2/RS em Revista
GINÁSTICA LABORAL

A EDUCAÇÃO FÍSICA E A SAÚDE


DO TRABALHADOR
CREF2/RS comemora Dia Estadual de
Ginástica Laboral com evento na
Assembleia e com lançamento de um
livro sobre o tema

O
CREF2/RS, através da sua 004976-G/PR) e pelo presidente da PJ/RS), empresa que atua desde 1990 no
Câmara Técnica de Ginástica Câmara Técnica de Ginástica Laboral e mercado da Ginástica Laboral, antes da
Laboral e Atividade Física na Atividade Física na Empresa do CREF2/RS palestra do Conselheiro do CREF9/PR.
Empresa, realizou, no dia 22 de novembro, Lauro Aguiar (CREF 002782-G/RS). “O
o evento Ginástica Laboral, Atividade Conselho está nesta luta há bastante A INSERÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Física na Empresa e o Trabalho Seguro. O tempo, buscando unir pessoas para
encontro, que teve o apoio do Tribunal expandir a Ginástica Laboral. O profissio- Autor de diversos livros sobre o tema,
Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT4), nal de Educação Física já ocupa o protago- Tschoeke abordou em sua palestra a
marcou a comemoração do Dia Estadual nismo e a conquista deste espaço possui maioria das questões relacionadas à
da Ginástica Laboral e serviu para uma representatividade muito grande”, atuação do profissional de Educação Física
consolidar a atuação do profissional de declarou Carmen. na promoção da saúde do trabalhador.
Educação Física como protagonista nas “Depois da folha de pagamento, o
atividades de prevenção da saúde do Para Sanvincente, os avanços da Ginástica segundo maior gasto das empresas são
trabalhador. Laboral podem ser dimensionados com os com os planos de saúde. A solicitação de
programas de trabalho seguro que existem assistência está sendo cada vez maior e as
O evento, que ainda contou com o atualmente nas empresas e pela cultura da pessoas estão recorrendo em massa aos
lançamento do livro “Ginástica Laboral: prevenção de acidentes. “O CREF2/RS, há planos, fazendo exames mais complexos e
Prerrogativa do Profissional de Educação um bom tempo, tem conseguido uma onerando as operadoras. No fim desta
Física” e com a entrega do Prêmio de interação com a sociedade para a conta, é próprio trabalhador – lá na outra
Reconhecimento à Prestação de Serviço de consolidação deste projeto. Investir em ponta – que têm que pagar por estes
Ginástica Laboral e Atividade Física na prevenção ao invés de tratamento é o custos”, contextualizou Tschoeke, já na
Empresa, teve a sua mesa de abertura primeiro passo para que se tenha uma abertura da apresentação.
composta pela presidente do CREF2/RS sociedade com mais saúde”, analisou o
Carmen Masson (CREF 001910-G/RS), pelo Desembargador. Na sequência, o Prêmio Embora muitas pessoas tentem relacionar
desembargador do TRT4 Raul Sanvicente, de Reconhecimento à Prestação de Serviço os avanços tecnológicos com o sedentaris-
pelo analista de promoção da saúde do de Ginástica Laboral e Atividade Física na mo no ambiente de trabalho, o
SESI Adriano Silva (CREF 010854-G/RS), Empresa foi entregue à SER – Saúde, Conselheiro do CREF9/PR destacou que
pelo conselheiro Rony Tschoeke (CREF Educação e Reabilitação (CREF 000034- todos os hábitos podem ser mudados. “Por

CREF2/RS em Revista 15
GINÁSTICA LABORAL
que as pessoas não fazem atividade física diferença para quem quer viver bem”. do site do CONFEF (www.confef.org.br),
regularmente? A resposta, invariavelmen- teve a contribuição de diversos autores,
te, é a falta de tempo, o que é compreensí- Para que isto ocorra, o Conselheiro do entre eles o presidente da Câmara Técnica
vel se as pessoas não afirmassem que CREF9/PR ponderou que os profissionais de Ginástica Laboral e Atividade Física na
assistem TV de 12 a 14 horas por semana”, de Educação Física que atuam na Ginástica Empresa do CREF2/RS Lauro Aguiar.
analisa. “Se formos pensar nas três Laboral têm que ser um pouco mais
revoluções industriais, podemos constatar sedutores no seu marketing, transforman- O livro, além de abordar o protagonismo
que houve mudanças significativas no do a atividade física não em uma obriga- dos profissionais de Educação Física
comportamento humano ao longo desse ção, mas em uma vontade. “Falta brasileiros no contexto histórico da
tempo. Na era da Revolução Digital, as engajamento, já que, nos Estados Unidos, Ginástica Laboral, define conceitos,
nossas vidas ainda sofrerão modificações. 79% das empresas disponibilizam este estipula os benefícios e delimita compe-
O Fórum Econômico de Davos, muito tipo de atividade aos seus trabalhadores – tências e responsabilidades de quem atua
atento a esta realidade, tem incluído a e na América Latina são apenas 49% delas. na área. “Esta obra foi escrita por seis
temática da qualidade de vida nos seus O que podemos concluir é que ainda temos Conselhos, com o objetivo de fazer parte
debates, desde 2010”, complementou o um segmento muito grande para explorar, do dia a dia de todos os profissionais de
palestrante. capacitando os indivíduos para gerencia- Educação Física”, explicou Aguiar, durante
rem o seu próprio estilo de vida. Os o evento. “Nele, apresentamos a proposta
Diante destas perspectivas, Tschoeke foi empregadores têm a responsabilidade de da Ginástica Laboral para promover a
enfático ao afirmar que a Ginástica Laboral assegurar a saúde e a segurança no local qualidade de vida do trabalhador e para
tem um papel muito importante no atual de trabalho e cabe ao profissional de conscientizar empregados e empregado-
momento em que vivemos, sobretudo por Educação Física o estímulo para que estes res da sua importância e das suas
tudo aquilo que ela proporciona ao hábitos sejam transformados em uma vantagens, inclusive para as empresas”,
trabalhador. “O desafio dos profissionais filosofia de vida saudável”, concluiu. complementou.
de Educação Física é ensiná-los a serem
fisicamente ativos. Nós temos que unir as O LIVRO
nossas forças em uma estratégia interdisci-
plinar de promoção de saúde”, ressaltou, Organizado pelo presidente
lembrando que em 2005 a Conferência do CREF9/PR Antônio Branco
Internacional sobre Promoção da Saúde, (CREF 000009-G/PR), o livro
realizada em Bangkok, afirmava que o “Ginástica Laboral: Prer-
setor privado tem a responsabilidade de rogativa do Profissional de
assegurar a saúde dos seus empregados. Educação Física” foi lançado
“A Ginástica Laboral, infelizmente, não é a durante o evento. A obra,
solução de todos os nossos problemas, disponível para download
mas pode ser muito relevante e fazer a gratuito na aba “publicações” Obra disponível na íntegra no site do CONFEF - www.confef.org.br

SAÚDE, EDUCAÇÃO E REABILITAÇÃO


A SER – Serviço de Educação e Reabilitação iniciou as suas Dirigida por Marco Aurélio Scharcow (CREF 002463-G/RS) e
atividades em agosto de 1990, como um consultório de Tony Izaguirre (CREF 002462-G/RS), a SER tem em seu quadro
fisioterapia e ginástica terapêutica. Com uma equipe composta de profissionais Aida Marques (CREF 022620-G/RS), Cristiano
por fisioterapeutas e profissionais de Educação Física, o Porcher (CREF 013463-G/RS), Dirceu dos Santos (CREF 13169-
objetivo inicial da empresa era a reabilitação física de pacientes G/RS), Ellen de Oliveira (CREF 014282-G/RS), Lisa Gonçalves
com problemas ósteo-articulares e musculares, de coluna e (CREF 016772-G/RS), Luciane Domingues (CREF 021402-G/RS),
tendinites. Em 1996, começou a atuar com Ginástica Laboral e Luís Henrique Nunes (CREF 012519-G/RS), Luiz Waengertner
Ergonomia, ganhando destaque em todo o Rio Grande do Sul (CREF 007697-G/RS), Neiva Schuster (CREF 01115-G/RS),
por desenvolver programas para a qualidade de vida do Roberto Ferreira (CREF 020889-G/RS) e Wayne Feil Wong (CREF
trabalhador. 019387-G/RS).

16 CREF2/RS em Revista
ESPORTE NA ESCOLA

DIVERSIFICANDO

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL


MODALIDADES
As aulas de Educação Física da Escola
Municipal Vila Nova, de Igrejinha, têm
aproximado as crianças de esportes poucos
conhecidos no Brasil, como o hóquei indoor

A
vontade de ampliar o número de tchoukball, o ultimate frisbee e o hóquei uma estrutura para atender estudantes de
modalidades esportivas nas funcionavam”, conta. “Nós conseguimos outras escolas também”.
aulas de Educação Física levou nos apropriar dos jogos e das suas
Diego Model (CREF 017263-G/RS) a respectivas regras, mas faltavam os Os benefícios proporcionados pelo projeto
pesquisar alternativas para diversificar as materiais para que pudéssemos praticar ainda podem ser vistos para além das
atividades desenvolvidas pelos alunos da estas modalidades. Como o interesse dos vitórias dentro de quadra. Como Model
Escola Municipal Vila Nova, de Igrejinha. O alunos não diminuiu diante das dificulda- destaca, o aumento da frequência escolar
professor, que atua nas turmas do quarto des, tivemos que correr atrás”, revela. e a consequente melhora no desempenho
ao nono ano do Ensino Fundamental, em sala de aula são muito perceptíveis até
desde 2010 vem fazendo um trabalho Com o apoio da CBHG, foi montado uma hoje. “Os maiores ganhos, sem dúvida,
pioneiro em todo o Brasil, ao aproximar os escolinha de hóquei no contraturno das aconteceram em fatores psicossociais:
estudantes do hóquei indoor, um dos aulas na Vila Nova e elaborado um projeto responsabilidade, companheirismo,
esportes sem grande destaque no nosso mais amplo. A doação de oito tacos por respeito às diferenças, liderança, trabalho
país. A presença de modalidades diferenci- parte da Confederação – mais os dois em equipe, integridade e comunicação”,
adas, além de proporcionar um maior adquiridos por Model com dinheiro do seu enumera.
desenvolvimento motor às crianças, tem próprio bolso – foram o ponto de partida
tornado o aprendizado através da para o que hóquei indoor tivesse as suas Na sua opinião, modalidades “diferen-
Educação Física ainda mais lúdico. primeiras aulas comandadas pelo tes”, como o hóquei indoor, podem ser
professor, já em 2010. “A nossa iniciativa, implementadas por qualquer profissi-
Inspirado por um curso de formação desde o começo, foi de grande sucesso. As onal de Educação Física? O que é
realizado na Confederação Brasileira de atividades iniciaram com cerca de 20 importante para desenvolver este tipo
Hóquei sobre Grama (CBHG) em 2009, alunos e muitos tiveram que ficar numa de esporte no ambiente escolar?
Model começou a pesquisar várias outras lista de espera, já que não tínhamos O que observamos é que em boa parte das
modalidades, com objetivo de trazê-las material para todo mundo participar”, escolas faltam instalações e materiais
para dentro das escolas em que atua. conta. “Com o passar o tempo, fomos adequados para que os profissionais de
“Depois de muito tempo trabalhando só crescendo e os alunos passaram a Educação Física possam desenvolver as
com futebol, vôlei e handebol, senti a participar também de competições, com atividades esportivas da melhor maneira
necessidade de diversificar as aulas de bons resultados. Em 2012, conquistaram o possível. Isto dificulta o trabalho, mas acho
Educação Física e, com a ajuda dos alunos, primeiro lugar no Campeonato Brasileiro que nada impede que os professores
fui ver como o croquet, o manbol, o sub-17 feminino e um ano depois já havia diversifiquem as suas aulas, mesmo que

CREF2/RS em Revista 17
ESPORTE NA ESCOLA
aproveitando os esportes “diferentes” de aprendizagem. É preciso ter coragem, de cursos, livros, vídeos na Internet e da
forma adaptada, com os alunos auxiliando porque nem sempre se tem clareza de troca de experiências com os outros
na construção de métodos. No caso do quais atividades e conteúdos devem ser profissionais da área, podemos nos
hóquei, por exemplo, o abordados e de quais inspirar para modificar a realidade da
professor e os estudantes “Com ideias próprias, metodologias precisam nossa escola. Anos atrás, por exemplo, eu
poderiam realizar ser utilizadas. Por isto, queria fazer badminton com os meus
pesquisas sobre a
podemos nos inspirar acredito que o profissio- alunos, mas não tínhamos raquetes. Foi aí
modalidade, assistir a para modificar a nal não pode ter medo de que eu vi que um colega havia feito o
vídeos, criar os seus errar, mesmo que muitas equipamento com arame velho de cerca e
próprios tacos com
realidade da nossa vezes as suas escolhas com meia-calça. Mais ou menos neste
materiais alternativos e escola“ não deem certo, por mesmo caminho, outro colega me contou
discutir sobre toda a causa de uma certa que fez os tacos de hóquei indoor com
viabilidade deste tipo de esporte na dificuldade em vencer a insegurança em canos de PVC.
escola. relação aos conteúdos que não foram
vivenciados anteriormente na escola ou na A MP 746/2016, assim como a PEC
Quais são os benefícios proporciona- faculdade. O professor ainda tem que se 55/2016, podem modificar a educação
dos pelo hóquei aos alunos, principal- preparar para vencer a resistência inicial no Brasil. Para você, quais serão os
mente se comparado com as outras dos alunos diante a conteúdos diferentes. novos rumos da Educação Física
modalidades mais populares nas aulas Nestes casos, é importante que os diante destas perspectivas?
de Educação Física, como o vôlei e o estudantes entendam a Educação Física Tenho dificuldade em prever os rumos que
futebol? não só como uma recreação, mas como a Educação Física seguirá com as medidas
O hóquei exige uma movimentação uma aula cheia de conhecimento e de aprovadas na Câmara e no Senado. Não há
intensa de todos os seus jogadores e possibilidades. dúvidas de que estas propostas
requer o uso simultâneo dos membros desvalorizam a precarizam ainda mais a
inferiores e superiores, o que ajuda muito Num ambiente em que não há a Educação Física escolar, que é muito
no desenvolvimento da coordenação possibilidade de diversificar as aulas carente de infraestrutura. Para mim,
motora. Além disto, também podemos de Educação Física, como os professo- deveríamos estar discutindo formas de
trabalhar questões como disciplina, res podem estimular o gosto das qualificar e de ampliar o acesso de crianças
cuidado com a integridade dos colegas e a crianças pela atividade física e pelo e de jovens às práticas esportivas, não o
violência, um tema tão presente nas esporte? Existem caminhos alternati- contrário, em um cenário que a nossa
escolas atualmente. Outros pontos vos? disciplina e todos os benefícios
importantes são o desenvolvimento do Nós temos a tendência de usar estas proporcionados pelos profissionais de
espírito esportivo, da autodescoberta e da situações adversas para justificar aulas Educação Física não fazem mais parte do
autoafirmação, da solidariedade e do pouco atrativas ou para excluir certos dia a dia dos estudantes.
respeito. O hóquei é muito bom também conteúdos da
no desenvolvimento de virtudes educacio- Educação Física.
nais, como o fair-play e o respeito às Acredito que sempre
regras. existem possibilida-
des para variar as
Quais são as dicas mais valiosas que aulas. A falta de
você pode deixar para quem quer espaço e de material é
diversificar as aulas de Educação o que muitas vezes
Física na escola e não sabe muito bem “empurra” o pro-
como fazer isso? fessor para criar
O professor precisa, primeiramente, se alternativas. Às
reconhecer como o principal responsável vezes, com ideias
pela organização das situações de próprias ou através

18 CREF2/RS em Revista
ACESSIBILIDADE

ATIVIDADE FÍSICA
PARA TODOS
As alternativas de acessibilidade, ainda escassas na
maioria dos estabelecimentos do ramo fitness do
Estado, tem garantido à Fit Academia um público fiel
e comprometido com os exercícios

O
s benefícios proporcionados peciais no primeiro piso, rampa na entrada “Mesmo que hoje eles já consigam fazer
pela atividade física, principal- e um elevador interno. O projeto de aces- isto, nós incentivamos o uso do elevador,
mente para o público da terceira sibilidade elaborado pela arquiteta, justamente para evitar qualquer problema,
idade, são imensos. Os idosos, que podem pioneiro no Estado, tem sido fundamental muito por causa do desgaste que as aulas
controlar ou mesmo prevenir doenças com para que a Fit tenha tanta aderência e sempre proporcionam. Para a saúde delas,
a adoção de um programa de exercícios assiduidade dos seus alunos. “Nós temos a acessibilidade foi um avanço muito
regular, muitas vezes acabam deixando de depoimentos de pessoas que trocaram de grande e nós percebemos como isto facilita
frequentar uma academia por falta de uma academia por causa destas facilidades. Há o dia a dia delas na academia”.
infraestrutura adequada. Com a proposta quem só faça atividade física hoje porque o
de atender este público específico, a Fit nosso espaço dá as condições necessárias, O pioneirismo da Fit neste segmento, no
Academia (CREF 002825-PJ/RS) iniciou as com um atendimento diferenciado”, entanto, não é comemorado por Cristina
suas atividades em Porto Alegre, no final explica Cristina. “Para ter ideia, um dos como uma estratégia de marketing bem-
de 2014, chamando a atenção dos profis- nossos alunos mais idosos teve um AVC, sucedida. “Mesmo que a gente nunca
sionais de Educação Física que lá atuam tempos atrás, e agora está usando um tenha visto uma academia assim antes,
pela sua acessibilidade. “Independente da andador. Ele ainda vem normalmente, mas idealizamos este projeto como uma
legislação, nós sempre tivemos a preocu- talvez não pudesse continuar se estivesse prioridade, por entender que a acessibili-
pação de ser um local que pudesse receber numa outra academia, sem um elevador dade é uma necessidade básica”, conta. “O
este público, mais idoso ou com problema como o nosso”. investimento para ter um elevador, por
de movimentação”, explica Cristina Azeve- exemplo, foi muito alto, mas não nos
do, arquiteta e proprietária da academia. Com três alunos que utilizam todas as arrependemos de nada. No futuro, a nossa
“Como a nossa sala de pilates fica no alternativas de acessibilidade da acade- ideia é abrir outras unidades, todas com os
terceiro andar, não poderíamos fazer com mia, que ainda incluem equipamentos de mesmos recursos. Como proprietária de
que os alunos subissem tanta escada. A musculação ajustáveis para cadeirantes, a academia, não posso excluir um público
acessibilidade é também para todos Fit possui também uma aula especial para que certamente precisa de mim e que pode
aqueles utilizam a atividade física como a terceira idade, chamada Circuito 60+. ser eu ou alguém da minha família
tratamento ou como recuperação física”. Nesta turma, os alunos têm até 80 anos e o amanhã”, encerra.
elevador acaba sendo essencial para que a
FIT ACADEMIA
A antiga loja comercial precisou ser total- atividade ocorra. “Muitas destas pessoas,
mente remodelada antes de virar uma quando chegaram aqui pela primeira vez, Rua Dr. Florêncio Ygartua, 64 - Bairro
Moinhos de Vento - Porto Alegre/RS
academia, ganhando um banheiro exclu- não tinham a mínima condição física de Site: www.fitacademia.esp.br
sivo para portadores de necessidades es- subir uma escada”, revela Cristina.

CREF2/RS em Revista 19
ENSAIO

BULLYING NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA:


A PERCEPÇÃO DOS ALUNOS
NO ENSINO MÉDIO
José Antônio Vianna Adaptação do artigo originalmente publicado na Revista Ensaio:
CREF 001273-G/RJ Avaliação e Políticas Públicas em Educação, V. 23, N. 86, de 2015

Silvana de Souza
CREF 004085-G/SP
no Ensino Médio, do bullying nas aulas de das alunas era satisfatória. No entanto, os
Katarina Pereira dos Reis Educação Física escolar? autores verificaram que a discriminação
CREF 015714-G/RJ
por parte dos meninos era um dos fatores
CONTEXTO HISTÓRICO que contribuíam para a não participação

N
o ambiente escolar, as aulas de de algumas jovens; porém, ainda assim,
Educação Física são considera- Muitos são os estudiosos em buscam da gostavam das aulas.
das atraentes e prazerosas. No compreensão do fenômeno do gênero com
entanto, existem casos em que os alunos foco no aprimoramento da qualidade da O bullying compreende todas as atitudes
resistem em participar das atividades Educação Física na escola (DAÓLIO, 1995; agressivas, intencionais e repetidas, que
propostas. Supõe-se que um dos fatores da SARAIVA, 1999). Todavia, entre os ocorrem sem motivação evidente,
resistência das alunas pode ser devido ao diversos obstáculos enfrentados para o adotadas por um ou mais estudante contra
bullying por parte do gênero masculino. desenvolvimento da disciplina, há outro(s), causando dor e angústia, sendo
Todavia, há na literatura autores que inúmeros questionamentos e posiciona- executadas dentro de uma relação
acreditam que as aulas mistas são um mentos em relação à separação das turmas desigual de poder. Essa assimetria de
amplo espaço para a aceitação e o desen- de Educação Física. Alguns pensadores se poder associada ao bullying pode ser
volvimento da pluralidade cultural (CHAR- posicionam de modo favorável, acreditan- consequência da diferença de idade,
LES, 2010), em que se defende o direito de do que assim é possível melhorar o nível tamanho, desenvolvimento físico ou
todos, independentemente de cor, etnia, das atividades. Outros pensam que a emocional, ou do maior apoio dos demais
religião, gênero, idade, entre outros. separação por sexo estaria favorecendo estudantes (LOPES; SAAVEDRA, 2004). Os
ainda mais atitudes sexistas (ABREU, comportamentos agressivos que ocorrem
Nessa perspectiva, é papel de pesquisado- 1995; SARAIVA, 1999). nas escolas e que são tradicionalmente
res e professores da área encontrar admitidos como naturais, sendo habitual-
alternativas para a não exclusão, além de Segundo Chrispino e Santos (2011), o mente ignorados ou não valorizados, tanto
repensar a prática pedagógica tornando-a conflito escolar é decorrente da democrati- por educadores quanto pelos pais, são
acessível a todos os alunos, fazendo com zação da escola, que passou a receber classificados como bullying escolar.
que entendam os direitos individuais e indivíduos de diferentes origens, valores e
coletivos e possam assumir atitudes e culturas. Delgado, Paranhos e Vianna METODOLOGIA
comportamentos de aceitação e respeito (2010) procuraram identificar os fatores
mútuo. A ocorrência do bullying na que levam à não participação das alunas A presente investigação se caracteriza por
sociedade contemporânea motivam o do Ensino Médio nas aulas de Educação ser um estudo transversal, descritivo e
investimento em investigações para a Física escolar. Os autores levantaram exploratório. A amostra escolhida de
compreensão dessa temática nas aulas de informações sobre o relacionamento entre forma intencional envolveu alunos do
Educação Física escolar, com o propó- alunos e professores e obtiveram como Ensino Médio em uma escola pública no
sito de solucionar a seguinte ques- resultado que, ao contrário do que é Rio de Janeiro, que ao longo de sua traje-
tão: qual a percepção dos alunos, encontrado na literatura, a participação tória escolar participaram de aulas de Edu-

20 CREF2/RS em Revista
cação Física (EF) mistas e aulas separadas to de ocorrência de bullying nas aulas. A meninos e 81,2% das meninas.
por sexo. Todos os sujeitos participavam soma da percepção de que o bullying
regularmente das aulas duas vezes por ocorre raramente (34,7%) com a percep- Enquanto 69,2% dos alunos acreditam
semana, no período diurno. A escola, ção daqueles que se manifestaram inde- que o bullying ocorre com maior frequên-
situada em bairro de classe média, reúne cisos em sua ocorrência – o que pode ser cia em aulas separadas por sexo, 60,9%
indivíduos de diferentes classes sociais. interpretado que o bullying tenha ocorrido das alunas afirmam que o mesmo ocorre
– corresponde a 71,4% das respostas. mais em aulas mistas.
Como instrumento de coleta de dados para
a pesquisa, utilizou-se um questionário A prática do bullying parece ser mais Na opinião dos participantes, a prática
semiestruturado, dirigido aos alunos frequente na percepção dos meninos – mais comum do bullying ocorre através de
participantes, contendo questões abertas 11,4% dos entrevistados do sexo agressões verbais (75,4%), seguidas das
e fechadas, elaboradas especificamente masculino indicaram que ocorre com agressões emocionais (18,4%) e das agres-
para este estudo, respeitando a capacida- frequência –, enquanto apenas uma aluna sões físicas (6,2%). Segundo os entrevista-
de de verbalização do respondente. O indicou que o bullying ocorre sempre. Em dos, na maioria das vezes, a agressão nas
questionário autoadministrado foi respon- contrapartida, 34,5% dos meninos e aulas de EF se refere principalmente às
dido por 26 sujeitos do sexo masculino e 47,8% das meninas informaram que nunca habilidades dos que sofrem bullying (40%
23 do feminino, entre 17 e 19 anos. foram alvo ou perceberam a ocorrência de dos meninos e 45% das meninas). Próprio
Solicitou-se aos participantes que respon- bullying nas aulas de EF. da adolescência, quando a reconstrução
dessem às questões com base em suas da autoimagem corporal exerce grande
experiências vividas no ambiente escolar. No presente estudo, 83,7% dos pesquisa- pressão, a aparência ou a aceitação
dos, em ambos os grupos, afirmaram que aparece como aspecto relevante na opini-
Para análise dos resultados, foi utilizada a nunca deixaram de participar das aulas de ão de meninos (35,5%) e meninas (37,5%).
estatística descritiva para o levantamento EF por terem sofrido bullying – 84,6% dos
de categorias, que permitiram a interpreta- meninos e 82,6% das meninas. No Sem muita diferença entre as opiniões de
ção dos dados e a comparação com a conjunto de investigados, 15,4% dos meninos (20%) e meninas (19,8%), entre
revisão literária. A instituição de ensino alunos e 17,4% das alunas revelaram que as forma mais comuns de agressão encon-
recebeu um Termo de Informação à ele próprio ou algum colega já deixou de tradas estão as ofensas verbais. Os grupos
Instituição, pelo qual tomou conhecimento participar das aulas devido ao bullying. se diferenciam mais na percepção das a-
das condições da realização da pesquisa. O gressões físicas (7,6% dos meninos e 2,8%
presente estudo também atendeu às Os investigados identificaram o sexo mas- das meninas), da difamação (5,7% dos me-
normas para a realização de pesquisa com culino como uma das características predo- ninos e 10,4% das meninas) e da exclusão
seres humanos, Resolução 196/96, do minantes do agressor – 95% dos meninos dos vitimizados de atividades escolares
Conselho Nacional de Saúde. e 79% das meninas. A totalidade das (7,6% dos meninos e 11,3% das meninas).
meninas e 90% dos meninos indicaram
RESULTADOS também que esse indivíduo tende a ser o A descrição dos principais motivos que le-
mais forte quando comparado ao viti- vam um aluno a praticar o bullying foi
A maioria dos pesquisados (81,6%) relatou mizado. O tamanho (altura) aparece como marcada pela percepção masculina de que
preferir aulas de EF com a participação um fator favorável ao agressor, enquanto a há sentido de superioridade e prepotência
conjunta de meninos e meninas (77% dos vítima tende a ser menor. A maioria dos do agressor (dez respondentes), seguidas
alunos e 87% das alunas), embora 23% meninos (71,4%) e das meninas (83,3%) do sentimento de insegurança ou pela bus-
dos meninos preferissem aulas separadas afirmou que o praticante é maior do que o ca de autoafirmação (seis entrevistados):
por sexo, enquanto 13% das meninas agredido. Na percepção dos entrevistados, uma pessoa que cause dano, seja
manifestaram a mesma preferência. os agressores são sujeitos com mais idade emocional ou físico a outra e se sente bem
Questionados sobre a frequência com que do que os vitimizados – 95% dos meninos com isso, normalmente o faz por querer se
o entrevistado ou algum colega já havia e 100% das meninas. O agressor é mostrar, aparecer para alguém. Nesse
sido alvo de bullying, 38,8% dos sujeitos percebido pelos entrevistados como o mau colégio particularmente, existe um grupo
afirmaram que nunca tiveram conhecimen- aluno, opinião partilhada por 75% dos que idolatra a política de quanto mais

CREF2/RS em Revista 21
ENSAIO
babaca, mais descolada se é tais atitudes. nas de que o bullying ocorre em aulas investigados sobre os motivos que levam à
Influenciam os mais novos, por exemplo, a separadas por sexo, enquanto as jovens prática do bullying e suas sugestões dos
praticar o bullying (Masculino 24). sustentam que as aulas mistas são mais procedimentos a serem adotados pelo
propícias ao bullying. Na opinião dos professor para prevenir a sua ocorrência
A noção de desajuste social devido à for- investigados, a agressão nas aulas de EF é aparecem impregnadas da construção
mação pessoal e social inadequada surge provocada principalmente devido à pouca cultural que reconhece o poder do
também na fala dos entrevistados, que habilidade motora (percepção de 40% dos professor como um agente da instituição
abordaram tanto a opressão exercida meninos e 45% das meninas). escolar responsável pela estruturação de
pelos pais quanto a “falta de educação” direitos e obrigações, nesse contexto.
que deveria ser ministrada no ambiente As habilidades motoras exigidas em
familiar. Diferente da percepção masculi- alguns esportes foram relatadas por Sob a perspectiva de Weber (1981), o
na, a opinião das jovens estabeleceu a alunas como motivos para a evasão nas poder pode se manifestar na possibilidade
insegurança e o desejo de autoafirmação aulas de EF no Ensino Médio (BETTI; LIZ, de um ator social estar na posição de
como motivos predominantes para a práti- 2003; DUARTE; MOURÃO, 2007). Apesar facultar a outro sujeito atender à sua von-
ca do bullying (oito respostas), enquanto o de permitirem a expressão de desejos e tade, mesmo contra resistência. O profes-
sentimento de superioridade e a prepotên- aprenderem a negociar participações no sor detém a autoridade que é uma moda-
cia foram citados por cinco entrevistadas. espaço masculino, em aulas mistas, as lidade de poder legitimada socialmente e
meninas com habilidades motoras menos exerce a dominação racional sobre os
DISCUSSÃO desenvolvidas ficam mais expostas às alunos no ambiente escolar.
avaliações e críticas; portanto, mais
Os sujeitos pesquisados vivenciaram aulas suscetíveis a chacotas, ofensas e humilha- Porém, há de se observar que o papel do
mistas no primeiro segmento do Ensino ções. A análise do contexto sociocultural professor pode gerar efeitos tanto
Fundamental e aulas com separação dos dos educandos é essencial no planejamen- positivos – quando atua como agente
por sexo, a partir do segundo segmento to da intervenção pedagógica com foco na mediador e favorece o reconhecimento do
até o Ensino Médio. Não foram identifica- diminuição da violência escolar. outro por meio do diálogo restaurador
das, na percepção dos investigados, atitu- (GROSSI; SANTOS, 2012) – quanto
des sexistas decorrentes desta separação, As práticas do bullying foram observadas negativos – quando o mesmo passa a ser
como sugerem investigações de Abreu nesta investigação – humilhar, isolar e agente do bullying. Os alunos legitimam a
(1995), Saraiva (1999). Ao que tudo indica, excluir foram as ações percebidas pelos dominação exercida pelo professor,
a aceitação e convivência harmoniosa de investigados. Assim como em Pereira, Silva atribuindo a esse agente a influência
sujeitos de ambos os gêneros no espaço e Nunes (2009), ambos os grupos corretiva mediante o emprego de
escolar com respeito às singularidades perceberam a agressão verbal como punições, por meio da força e da manipula-
(CHARLES, 2010) tem alcançado os seus predominante na prática do bullying, ção – mais presente na fala dos meninos –
objetivos entre os participantes no estudo seguida da agressão física. A percepção de ou a influência persuasiva por meio de
ao considerar que a maioria dos sujeitos que a agressão revela a insegurança do argumentos que façam perceber que
prefere aulas com a participação conjunta praticante de bullying encontra eco na algumas condutas são adequadas e outras
entre meninos e meninas (81,6%). pesquisa de Gutierrez et al. (2012), na qual não são – a preferência feminina.
os autores verificaram que os agressores
Os dados coletados sustentam as são conscientes de que o bullying é Sob esta perspectiva, se propõe entender
investigações de Pereira, Silva e Nunes incorreto, é considerado socialmente como que os professores, como autoridades no
(2009), entre outros autores que apontam maldade, censurável, injusto e impróprio; ambiente escolar, são capazes de controlar
a ocorrência de bullying no ambiente no entanto, justificam que a sua ação é os subordinados, ao moldar os interesses
escolar. As diferenças de habilidades mais um meio de autodefesa. segundo os quais tanto ele quanto os
motoras entre os alunos e as alunas, decor- alunos devem agir. Essa forma organizada
entes das diferenças individuais e das o- Se as relações entre o agressor e a vítima de influência persuasiva funciona face ao
portunidades de socialização distintas, do bullying podem ser tomadas como comprometimento, à lealdade e à
parecem explicar as percepções masculi- relações assimétricas de poder, a fala dos confiança no ambiente da escola. Assim,

22 CREF2/RS em Revista
os investigados parecem recorrer ao poder CONCLUSÕES Em contraposição ao poder do agressor
institucionalizado para se contrapor às sobre a vítima do bullying, os investigados
manifestações de ressentimentos, A avaliação do contexto escolar pode destacam a dominação e o poder
hostilidade ou retração de indivíduos que lançar luz sobre as políticas e a pedagogia legitimado socialmente ao professor e à
se comportam fora das normas, possivel- de combate ao bullying. Na opinião dos instituição escolar, que devem lançar mão
mente como uma resistência ao poder estudantes, o bullying ocorre com pouca dos modos restritivo e discursivo para a
institucionalizado. Galvão et al. (2010) frequência e é um motivo para que apenas definição de direitos e obrigações, e o
chamam a atenção ao fato de que regras a minoria dos alunos deixe de participar controle dos indivíduos desviantes.
impostas pela instituição escolar, sem das aulas. Os vitimizados correspondem a Propõe-se investigar as racionalizações
coerência em sua aplicação, também são sujeitos que são importunados por dos alunos praticantes de bullying e dos
fatores de deterioração do ambiente indivíduos que se valem do seu maior alunos vitimizados para ampliar e
escolar. Há de se buscar alternativas que tamanho e força. O agressor é tido como aprofundar o tema em pauta. A percepção
aliem liderança, competência técnica e um estudante que não tem bom desempe- de escolares do professor como praticante
compromisso da equipe escolar. nho escolar, que se considera superior ou de bullying também merece ser mais bem
deseja se afirmar sobre os demais. investigada.
Deve-se cuidar para que, na ansiedade de
controlar os desvios no contexto escolar, a A suspeita de que as aulas separadas por PUBLIQUE SEU ENSAIO
rotulação do sujeito praticante de bullying sexo podem estimular atitudes sexistas, O CREF2/RS em Revista abre espaço para
(realizada pela comunidade escolar) não não foi confirmada – apesar de as jovens que os profissionais registrados contri-
contribua para moldar os alunos segundo informarem que a prática do bullying é buam com a seção Ensaio Científico. Você
a imagem construída por outros. Um efeito mais frequente em aulas mistas. Os dados pode encaminhar seu ensaio ou resumo
inesperado resultante da identificação levantados parecem sustentar a hipótese estendido, de até três páginas, em fonte
pública do praticante pode ser a exclusão, de que a habilidade motora inferior de tamanho 12 e com espaçamento simples,
o isolamento e outras atitudes antissociais algumas meninas, quando comparada às para publicação, respeitando as seguintes
temáticas e prazos: Câncer (15 de maio). O
que não contribuirão em nada para a habilidades de meninos, em aulas mistas,
e-mail para envio é contato@crefrs.org.br
transformação e a reintegração desse pode motivar “zoações” e ofensas verbais
e todos os artigos recebidos serão
indivíduo. Passaria, então, a se cometer o frequentes, que levam a constrangimentos
avaliados pela Comissão Editorial.
bullying às avessas. e sofrimento emocional.

REFERÊNCIAS DAÓLIO, J. Da cultura do corpo. GUTIERREZ, R. et al. A study of mental


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ABREU, G. Análise das percepções de ages 10 to 16 through the SCAN Bullying
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CREF2/RS em Revista 23
JURÍDICO

OS RUMOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR


DIANTE DA MP 746/2016
E DA PEC 55/2016
Patrícia Hoffmann do Santos
Assessora Jurídica CREF2/RS
OAB/RS 63.595

O
CREF2/RS, juntamente com o original a Educação Física do currículo do despesas primárias de cada um dos três
CONFEF e outros CREFs, vem Ensino Médio. Diante de várias manifesta- Poderes, do Ministério Público e da
discutindo os rumos da ções contrárias, bem como o posiciona- Defensoria Pública da União. Ou seja, foi
Educação Física escolar em nosso país. Por mento do Sistema CONFEF/CREFs contra o estabelecido por vinte anos que cada um
muito tempo a discussão pairou sobre a texto, foi emitido parecer pelo Congresso dos Poderes terá que respeitar um teto
obrigatoriedade de haver um profissional Nacional se posicionando no sentido de para suas despesas. Embora o Governo
de Educação Física registrado ministrando retomar a obrigatoriedade do ensino da tenha se manifestado no sentido de que
a disciplina nas escolas do Brasil. Porém, Educação Física e da arte como componen- não haverá cortes na educação, o mero
diante das últimas decisões políticas, o tes curriculares do Ensino Médio. Tal congelamento dos gastos, que serão
debate se ampliou acerca da importância posicionamento teve como fundamento a corrigidos somente pela inflação, acaba
da Educação Física no currículo escolar. importância destas à formação do jovem, e gerando o receio de que haverá redução de
o quanto é essencial e eficaz a saúde dos investimentos em todas as áreas, visto o
No tocante à qualidade de vida e à jovens a atividade física. deficit em que se apresentam as contas
promoção da saúde, não há qualquer públicas atualmente.
dúvida do quanto a prática esportiva é O novo texto foi aprovado pela Comissão
essencial no combate e na prevenção de Mista de Deputados e Senadores em 30 de Cabe referir que a PEC 55/2016 já foi apro-
inúmeras doenças. Entretanto, os novembro de 2016. Com a aprovação da vada com o intuito de limitar o crescimento
interesses dos governantes e suas políticas Medida Provisória nº 746/2016, a das despesas do Governo, sob o argumen-
públicas nem sempre retratam esta disciplina da Educação Física se tornará to de que isso ajudará a recuperar a
realidade. Diante disto, cabe aos profissio- optativa no último ano do Ensino Médio, o economia do país. Porém, existe uma
nais de Educação Física se unirem aos que ainda é prejudicial ao jovem, na corrente contrária que refere que tal limite
Conselhos Profissionais de seus Estados medida em que o último ano é de suma é prejudicial porque, mesmo que o país se
para reivindicar a sua valorização. importância, visto o enfrentamento do recupere, os gastos do Governo estarão
ENEM e vestibulares ao final do mesmo – o limitados por duas décadas.
Conscientes de seu papel, o CONFEF, que gera estresse e poderia ser amenizado
juntamente com os Conselhos Regionais, com a prática esportiva. A PEC previu tratamento diferenciado
pressionaram os congressistas para tanto para a área da saúde como da
garantir a manutenção da Educação Física Outro tema muito importante e polêmico educação, na medida em que somente
como componente curricular obrigatório para os profissionais de Educação Física foi passarão a obedecer ao limite a partir de
no Ensino Médio. Isto porque, inicialmen- a aprovação da PEC 55/2016, também 2018. Pelo texto, o piso para os dois
te, a Medida Provisória nº 746/2016, que conhecida como a PEC do Teto dos Gastos setores passa a obedecer ao limite de
instituiu a política de fomento à implemen- Públicos. Esta instituiu o novo Regime despesas ligado à inflação a partir de
tação de escolas de Ensino Médio em Fiscal no âmbito dos Orçamentos Fiscal e 2018. Atualmente, a Constituição espe-
tempo integral, alterando alguns da Seguridade Social da União, que cifica um percentual mínimo da arrecada-
dispositivos da Lei de Diretrizes e Bases – vigorará por 20 exercícios financeiros, ção que deve ser destinado para esses
LDB (9.394/96), retirava no seu texto existindo limites individualizados para as setores. Em relação à educação, o piso

24 CREF2/RS em Revista
constitucional foi mantido em 18% da mento em infraestrutura que garanta a se unam ao CREF2/RS e ao CONFEF na luta
arrecadação de impostos. De 2018 em qualidade do ensino. Os professores já pela valorização profissional, debatendo,
diante, o valor executado no ano anterior lutam por melhores condições de salário e auxiliando na fiscalização e apontando
será corrigido pelo IPCA, até 2036. de remuneração, além de muitos Estados e soluções e estratégias para garantir
municípios estarem parcelando os salários qualidade no ensino da disciplina e
O regime valerá para o Orçamento Fiscal e de seus servidores. Assim, é imprescindível consequentemente qualidade de vida aos
da Seguridade Social e para todos os que os profissionais de Educação Física alunos e à sociedade.
órgãos e Poderes da República. Dentro de
um mesmo Poder, haverá limites para cada ENVIE SUA PERGUNTA
por órgão, como por exemplo, para a O CREF2/RS em Revista abre espaço para que os leitores enviem questões sobre a
Defensoria, o Tribunal de Contas da União, Educação Física e o Conselho. Envie sua pergunta para contato@crefrs.org.br, que as
entre outros, alegando assim haver maior mais dúvidas mais frequentes serão publicadas aqui nesta seção. No site do CREF2/RS,
controle e organização dos gastos. você encontra uma página com mais perguntas e respostas, na aba ”Fale Conosco”.
Segundo a proposta, o órgão que
desrespeitar seu teto ficará impedido de,
no ano seguinte, dar aumento salarial, PERGUNTAS FREQUENTES
contratar pessoal, criar novas despesas
QUAL É A DIFERENÇA ENTRE REGISTRO DE PESSOA FÍSICA E JURÍDICA?
ou conceder incentivos fiscais, no caso
do Executivo. Dúvidas relativas aos tipos de registro são comuns. A Lei Federal Nº 9.696/98 dispõe
sobre a regulamentação da profissão de Educação Física e cria os respectivos
Porém, aqueles contrários à medida Conselho Federal e Regionais e a Lei Federal Nº 6.839/80 coloca a obrigatoriedade do
entendem que, mesmo que a economia registro de empresa nas entidades fiscalizadora do exercício da profissão.
volte a crescer, o Estado já vai ter decidido
O registro da Pessoa Física está vinculado ao CPF e habilita o profissional a exercer a
congelar a aplicação de recursos em
atividade dentro da habilitação em que foi comprovada. Licenciados têm permissão
setores considerados críticos e que já não para atuar na Educação Básica, formada pela educação infantil, Ensino Fundamental e
atendem a população como deveriam – e Médio, enquanto bacharéis estão habilitados para atuar no âmbito das academias, da
muito menos no nível dos países desenvol- ginástica laboral, dos clubes e como personal trainer, entre outros. Além dessas duas
vidos. Se a economia crescer, e o teto categorias, existem ainda os registros de provisionados: pessoas que comprovaram
seguir corrigido apenas de acordo com a pelo menos três anos de atuação antes da data da regulamentação da profissão,
inflação e. na prática, o investido nestas obtendo permissão do Conselho para atuar em uma modalidade específica. A Cédula
áreas vai ser menor em termos de de Identidade Profissional do CREF2/RS identifica a categoria em que ele está
porcentagem do PIB (Produto interno Bruto habilitado a trabalhar.
– toda a riqueza produzida pelo país). O
Já o registro de Pessoa Jurídica deve ser obtido por todos os estabelecimentos
investimento em educação pública é tido prestadores de serviços na área de atividades físicas, desportivas ou similares. Este
como um dos motores para diminuir a registro está vinculado ao CNPJ e deve ser solicitado pelo seu representante legal.
desigualdade brasileira, desta forma Proprietários de uma Pessoa Jurídica relacionada à Educação Física não precisam
entendem que a população mais pobre, possuir registro de Pessoa Física, desde que não ministrem aulas ou orientem alunos.
que depende do sistema público de saúde No entanto, todas empresas devem manter em tempo integral no seu
e de educação, tendem a ser mais estabelecimento um profissional de Educação Física registrado no Conselho, com
prejudicados com o congelamento dos habilitação em bacharelado. O Certificado de Funcionamento é o documento que
gastos do Governo do que as classes mais identifica o registro de uma Pessoa Jurídica e seu responsável técnico.
abastadas.
Outro item importante é que o pagamento da anuidade de um tipo de registro não
exclui o outro pagamento. Como possuem objetivos diferentes, o profissional que for
Havendo menos investimentos na proprietário de uma empresa de serviços de atividade física e atuar na área terá que
educação, isso repercutirá na atuação do manter em dia suas obrigações estatutárias como Pessoa Física e Pessoa Jurídica. Em
profissional da educação junto às escolas caso de dúvida, entre em contato com o Conselho.
públicas, visto que já é escasso o investi-

CREF2/RS em Revista 25
NOTAS
ARRASTÃO DA SAÚDE NO LITORAL
A orla de Tramandaí recebeu, no dia 28 de janeiro, mais uma edição do Arrastão da Saúde,
ação realizada pela Câmara da Saúde do Fórum dos Conselhos Profissionais do Rio Grande
do Sul (Fórum-RS). A caminhada, que contou com a presença do vice-presidente Lauro
Aguiar (CREF 002782-G/RS) representando os profissionais de Educação Física e a
distribuição de diversos materiais informativos, teve o objetivo de incentivar a promoção da
saúde e esclarecer a população quanto à importância dos Conselhos Profissionais na defesa
da sociedade. “O Arrastão da Saúde pode representar um incentivo para que todos adotem
hábitos mais saudáveis”, defendeu Aguiar.

ASSOCIAÇÃO DE APOIO AOS OPERADOS BARIÁTRICOS


A presidente Carmen Masson (CREF 001910-G/RS) recebeu a visita da Associação Brasileira
de Apoio aos Operados Bariátricos (ABAOB), representada pela vice-presidente Jussara
Tessele e pela assessora Thaiana Lima. O encontro, além de servir para a apresentação de
balanço das atividades realizadas em 2016, reiterou a parceria da instituição com o
CREF2/RS. Segundo Jussara, a objetivo da ABAOB é engajar pessoas com sobrepeso e
aquelas que realizaram cirurgia bariátrica em programas de atividades físicas e nutricionais.
“O trabalho realizado é fundamental no combate da obesidade, que assola todo o Brasil. O
Conselho é um aliado nesta luta pela promoção da saúde”, avaliou Carmen.

HOMENAGEM NA CÂMARA DE DEPUTADOS


A presidente Carmen Masson foi condecorada pela Câmara de Deputados, no final de dezembro,
com a Honraria Manoel José Gomes Tubino. A homenagem, destinada aos profissionais de
Educação Física que mais se destacaram em 2016, também foi entregue a Alberto Molnar (CREF
016178-G/RS), gerente de esportes da Sogipa; Everton Deiques (CREF 008538-G/RS), delegado
da FIEP/RS; e ao ex-conselheiro federal Professor Garcia (CREF 000002-G/RS). “Esta homenagem
é ampla, pois reconhece todos aqueles que lutaram e continuam batalhando pela Educação
Física na grade curricular escolar”, declarou o deputado federal João Derly durante a cerimônia.

GINÁSTICA LABORAL NO 32º CONGRESSO DA FIEP


O vice-presidente do CREF2/RS Lauro Aguiar foi um dos palestrantes do 32º Congresso
Internacional de Educação Física – FIEP, realizado em janeiro, em Foz do Iguaçu. A sua
apresentação, intitulada ”Integração dos países da América Latina na Promoção da Saúde
através da Educação Física no Trabalho”, abordou o contexto da Ginástica Laboral na América
Latina e a produção científica, ainda pouco difundida sobre a área. “O valor da Ginástica
Laboral, que não pode ser confundida com os outros projetos de qualidade de vida do
trabalhador, reforça a importância do profissional de Educação Física para que os resultados
positivos sejam alcançados”, declarou.

ENTREGA DE CÉDULA EM FORMATURAS


Com o intuito de agilizar o procedimento de registro de recém-formados, o CREF2/RS está
entregando a Cédula de Identidade Profissional (CIP) durante as formaturas. A solicitação,
que tem que ser feita pela faculdade com 30 dias de antecedência à cerimônia, precisa
contemplar pelo menos cinco alunos. A Comissão de Formatura necessita providenciar a
documentação dos alunos, que deve ser enviada igualmente 30 dias antes: requerimento de
registro (disponível no site do CREF2/RS), cópia autenticada do RG/CPF, duas fotos 3x4 iguais,
comprovante original do pagamento da taxa de inscrição do CONFEF (obtida no site do
CREF2/RS) e cópia do comprovante de residência. Para a solenidade, o CREF2/RS enviará um
Conselheiro para a entrega das CIPs. Mais informações pelo telefone (51) 3288-0200.

26 CREF2/RS em Revista
2017

Fique atento!
Em 2017, o CREF2/RS estará em sua região

O CREF2/RS visita o interior do Rio Grande do Sul


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